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FACULDADE ARAGUAIA

Disciplina: Fisiologia Vegetal


Professor: Marcos Paulo
Acadêmico: Hermínio Pereira

RELATÓRIO DE SEMINÁRIO: FISIOLOGIA DA GERMINAÇÃO

 Os estágios do desenvolvimento das plantas e a germinação de


sementes

A vida de uma planta se inicia com a fecundação do óvulo e passa


basicamente por três fases, a embriogênese, o desenvolvimento juvenil e a fase
madura. A embriogênese inicia-se com a fecundação do óvulo, e a principal
característica da planta nessa fase é que ela permanece ligada, é nutrida e
protegida pela planta-mãe. Durante a embriogênese é produzida uma plântula
com potencial para atingir a maturidade e com alguns recursos que lhe permitem
se estabelecer e iniciar o crescimento juvenil. O recurso mais importante é uma
reserva nutricional para suprir as necessidades da planta nos primeiros dias após
a germinação, em que a planta jovem ainda é incapaz de fotossíntese. As
principais substâncias de reserva são os polissacarídeos, as proteínas e os
lipídeos.
Essas substâncias são armazenadas em grandes quantidades em órgãos
próprios, como os cotilédones ou o endosperma, e são digeridas no final da
germinação, sendo produzidas, principalmente, a sacarose, a glutamina e a
asparagina, as quais são transportadas até os meristes mas, onde são usadas
para iniciar a formação do corpo da planta, fornecendo a estrutura de carbono,
o nitrogênio (no caso da glutamina e da asparagina) e a energia para a
construção, representada pelo trifosfato de adenosina (ATP), que é um dos
produtos da digestão das substâncias de reserva.
Há outros recursos desenvolvidos durante a embriogênese, como
estruturas de facilitação da dispersão (por exemplo: uma polpa comestível
envolvendo a semente, asas, ou ganchos), mecanismos de sobrevivência a
períodos com condições climáticas adversas (os principais mecanismos são
associados com a redução do teor de água das sementes), mecanismos de
percepção das condições ambientais (luz e temperatura), e defesas contra
ataques de herbívoros e patógenos (morfológicos e químicos).
A formação desses recursos depende das condições ecofisiológicas da
planta-mãe. Qualquer limitação ambiental imposta ao seu desenvolvimento
reflete na qualidade e/ou na quantidade das sementes produzidas. A qualidade
das sementes, por sua vez, refletirá no desenvolvimento juvenil da planta,
principalmente nos estádios iniciais do crescimento, e sob condições de
estresse. Durante a embriogênese, as sementes são impedidas de germinarem
quando ainda ligadas à planta mãe. No início do seu desenvolvimento o embrião
é incapaz de germinar, mesmo se for removido da planta-mãe e cultivado invitro
em meio de cultura adequado. Quando o embrião já está histodiferenciado, com
órgãos e meristemas formados, o que ocorre após cerca de 50 a 70% do período
de embriogênese, ele se torna capaz de germinar, ou seja, ele adquire
competência para responder aos fatores ambientais que controlam a
germinação. Os dois principais fatores que impedem a germinação durante a
embriogênese são o ácido abscísico (ABA) e a alta concentração de solutos, que
provoca a diminuição da disponibilidade de água.
O final da embriogênese é marcado pelo acúmulo de reservas orgânicas
insolúveis, pela paralisação do crescimento/desenvolvimento do embrião e pela
desidratação da semente. É interessante observar que o início do
desenvolvimento juvenil é marcado pela retomada do crescimento do embrião
após a sua reidratação, e pela solubilização das reservas armazenadas. Um
ponto importante desse raciocínio é que, em algum momento entre o final da
embriogênese e a protrusão da radícula ocorre uma alteração importante da
programação celular que leva à transição entre esses dois padrões distintos de
desenvolvimento.
Essa inversão da programação celular parece ocorrer em pelo menos
duas etapas, a primeira durante a desidratação das sementes, ao final da
embriogênese, quando os mecanismos de acumulação de reservas e de
crescimento do embrião são paralisados. Após a desidratação, se uma semente
é removida da planta-mãe e colocada em um meio de cultura nutritiva, ela não
retoma seu padrão de acumulação de reservas, mas dispara a germinação
desde que as condições sejam favoráveis, ou seja, a semente está determinada
(programada) a germinar, mas assume uma condição de latência, esperando as
condições ambientais adequadas.
Durante o período inicial entre a liberação das sementes pela planta-mãe
e a germinação, a planta normalmente não está presa ao solo. É potencialmente
móvel, e essa mobilidade é importante para que a semente seja afastada da
planta-mãe e atinja novos nichos ambientais. Essa movimentação da semente
ocorre principalmente logo após a liberação, quando são acionados os
mecanismos de facilitação da dispersão desenvolvidos durante a embriogênese,
como, por exemplo, as asas e flutuadores nas sementes e os anexos carnosos
atrativos de animais dispersores, como as frutas.
Ao entrar em contato com um substrato úmido, há o início da entrada de
água na semente, desde que o tegumento seja permeável. A absorção de uma
quantidade mínima de água é a primeira e principal condição necessária para
que a germinação ocorra. Assim, considera-se que a embebição marca o início
da germinação. Porém esse fenômeno é puramente físico, e mesmo sementes
mortas absorvem água. Os primeiros eventos metabólicos se iniciam após o
início da embebição, como os mecanismos de respiração aeróbia.
É possível que sementes com bom suprimento de água não germinem,
em função de temperaturas muito baixas ou muito altas; da presença, da
ausência ou do espectro da luz incidente; e de outros fatores ambientais, como
a presença de substâncias inibidoras ou estimuladoras dissolvidas na água de
hidratação. Também é comum a presença de mecanismos internos às sementes
que impedem a germinação mesmo sob temperatura adequada e boa
disponibilidade de água, chamados de mecanismos de dormência, com as
funções principais de distribuir a germinação no tempo e/ou de só permitir a
germinação quando forem detectadas condições ambientais favoráveis ao
crescimento da planta jovem.
Em outros casos ocorre um padrão bianual de desenvolvimento. A
embriogênese ocorre durante uma época favorável, e as sementes são
dispersas perto do início da época desfavorável, e permanecem sem germinar
até o início da fase favorável do ano seguinte, permanecendo dormentes nesse
intervalo. Como sementes ortodoxas, as plantas podem sob reviver por longos
períodos com pouco dano, e reiniciar o pro cesso de crescimento no início do
próximo período favorável, cerca de nove ou dez meses a pós a dispersão. Para
que a germinação ocorra em uma época favorável, é importante que a semente
característica desses ambientes apresente mecanismos que permitam a
identificação das condições ambientais e da época do ano, e impeçam a
germinação sob condições inadequadas ao estabelecimento da planta
(dormência).
A sobrevivência da semente durante esses longos períodos depende da
existência de estruturas de proteção. Dois fatores são fundamentais, a presença
de mecanismos de proteção contra os predadores e os baixos níveis de
hidratação alcançados pelas sementes ortodoxas.
Quando as sementes são dispersas, seu teor de água é relativamente
baixo, sendo que as sementes ortodoxas podem atingir teores menores do que
10% após a dispersão. Algumas espécies também possuem sementes com
tegumentos impermeáveis e mecanismos de eliminação de água. Nessas
condições a atividade metabólica das sementes é muito baixa o que lhe permite
sobreviver por longo tempo em condições bastante desfavoráveis, com
temperaturas excessivamente baixas, indisponibilidade de água, e mesmo
exposição ao fogo.
O final da germinação é difícil de ser identificado, pois não existem
marcadores bioquímicos utilizáveis. O único fenômeno claramente observável é
a retomada do crescimento do embrião, marcada pela protrusão da radícula ou
outro órgão. Esse evento indica que a germinação já terminou, ainda que não
informe quando. A protrusão da radícula é bastante útil como marcador, pois é
facilmente observável mesmo a olho nu, para a maioria das espécies. Pode
ocorrer, porém, a protrusão da radícula por alguns milímetros mesmo em
sementes mortas, devido à reidratação dos tecidos.

 Principais fatores externos que interferem na germinação

Temperatura:

A vida ocorre tipicamente entre temperaturas acima de zero graus Celsius


e abaixo de 100 C. A maioria das espécies não resiste a temperaturas acima de
50 C. Essa dependência de uma faixa adequada de temperatura ocorre porque
a vida depende do funcionamento de proteínas, que só ocorre em uma faixa
estreita de temperaturas. Cada proteína tem uma temperatura ótima de
funcionamento. Quando a temperatura é muito baixa, a atividade é pequena, e
aumenta com o aumento da temperatura até um ótimo. Após esse limite, a
atividade da proteína cai de novo, em virtude da degradação da sua estrutura.
No caso da germinação, que envolve a atividade de várias proteínas, a
temperatura ótima vai refletir a temperatura mínima, a ótima, e a temperatura
máxima de cada proteína.
A germinação de sementes ocorre apenas sob uma faixa de temperatura
que é característica da espécie, do seu nível de dormência e do seu vigor. A
faixa de temperatura para germinação da maioria das sementes se situa
aproximadamente entre 15 e 30 C, mesmo para plantas de climas frios, assim a
germinação só pode ocorrer, nessas regiões, do final da primavera até o fim do
verão.

Potencial Hídrico:

O potencial hídrico é formado por quatro componentes, que refletem os


fatores que afetam a disponibilidade de água. Eles são o potencial gravitacional,
o potencial de pressão, o potencial osmótico e o potencial matricial. O potencial
hídrico é calculado pela soma dos componentes. Alguns são positivos e outros
negativos. A unidade mais usada para potencial hídrico é o MegaPascal (MPa).
Um MPa corresponde a 10 bar e a 100 metros de coluna de água, m.c.a., essa
última unidade, ainda que menos usada do que o MPa e o bar, dá uma boa noção
das forças envolvidas, pois é fácil imaginar a energia contida em uma coluna de
água com 100 metros de altura, por exemplo.

Oxigênio:

Para a maioria das espécies, as sementes não germinam em ambientes


sem oxigênio, e a baixa disponibilidade de oxigênio inibe o crescimento pós-
germinativo do embrião (Figura 7). As espécies são classificadas em dois tipos
quanto à dependência de oxigênio para a germinação. As sementes do tipo I,
em sua maioria ricas em reservas lipídicas como a alface, o girassol, o rabanete,
o repolho, o linho e a soja têm germinação inibida quando a concentração de
oxigênio é reduzida para cerca de 2%. As sementes do tipo II são compostas, na
maior parte, por espécies ricas em amido (ervilha) e por monocotiledôneas
(arroz, milho, trigo, sorgo). As sementes do tipo II podem germinar em
atmosferas com menos de 1% de oxigênio. Sob condições hipóxicas, a produção
de energia pelas células cai mais em sementes ricas em lipídeos do que em
sementes amiláceas, possivelmente por uma taxa de fermentação mais alta em
sementes amiláceas.

Respiração:

O processo de germinação gera muitas enzimas e hormônios


responsáveis pelo crescimento. Isso resulta na quebra de moléculas e na
produção de açúcares consumidos na respiração e no crescimento. Além disso,
o processo, com a liberação do gás carbônico, diminui o peso da semente.

 Fatores Internos

Inibidores de Germinação:

O inibidor hormonal mais conhecido, e provavelmente o único, é o ácido


abscísico (AAb). Sua localização nas sementes é bastante variável. Os
tegumentos podem atuar no bloqueio à germinação pelo fornecimento de
inibidores. Muitas barreiras são impostas pelos envoltórios das sementes ao
embrião e, para que este os penetre, é necessário haver uma certa pressão de
crescimento. A habilidade de crescer do eixo embrionário está relacionada, entre
outros fatores, com a diminuição da concentração de inibidores na semente e/ou
com o aumento da concentração nos tecidos de agentes promotores da
germinação.

Promotores de Germinação:
Tratamentos com certas substâncias químicas e pré-resfriamento têm
sido eficazes na promoção da germinação de algumas espécies. Além das
giberelinas, outras substâncias têm mostrado resultados similares sobre a
germinação de várias espécies. É possível que a atividade das citocininas,
durante a germinação, esteja relacionada com o crescimento da radícula. É
provável que haja interação das citocininas, giberelinas, inibidores,
germinação/dormência, sendo a germinação o resultado do balanço existente
entre eles. A concentração e a duração do tratamento dependem da espécie a
ser tratada, e a principal vantagem desses compostos químicos é a facilidade de
utilização e a rapidez na obtenção de resultados. Embora tenham sido
observadas mudanças nos níveis de promotores do crescimento (giberelinas e
citocininas) e inibidores (AAb) nas sementes, o papel dessas substâncias na
germinação ainda é motivo de controvérsia.

 Avaliação da qualidade morfológica das sementes

A qualidade fisiológica das sementes é influenciada diretamente pelo


genótipo, sendo máxima por ocasião da maturidade. A partir deste momento,
alterações degenerativas começam a ocorrer, de modo que a qualidade
fisiológica pode ser mantida ou decrescer, dependendo das 12 condições do
ambiente no período que antecede a colheita, dos cuidados durante a colheita,
secagem, beneficiamento e das condições de armazenamento. Partindo do
princípio de que o uso de sementes de alta qualidade é fundamental para a
instalação de uma cultura e sendo o teste de germinação o único indicativo oficial
da qualidade fisiológica, mencionam algumas limitações apresentadas por este
teste, que comprometem a avaliação da qualidade das sementes. Desta forma,
pesquisadores têm procurado utilizar testes de vigor para confirmar a real
qualidade das sementes. Além do mais, as empresas produtoras e as instituições
oficiais têm incluído esses testes em programas internos de controle de
qualidade e/ou para garantia da qualidade das sementes destinadas à
comercialização.
Um teste de vigor deve ser rápido, de fácil execução, não exigir
equipamentos complexos, sendo também de baixo custo, devendo ser
igualmente aplicável para determinar o vigor ora de uma semente como de um
lote delas e com eficiência para detectar tanto pequenas como grandes
diferenças de vigor. A instalação de uma cultura geralmente é efetuada com base
nos resultados do teste de germinação, realizado rotineiramente em laboratórios
de análise de sementes.
Sua condução segue instruções detalhadas apresentadas nas Regras
para Análise de Sementes, editadas em diversos países, dentre os quais o Brasil
(BRASIL, 1992), os testes de vigor de uso mais comum para espécies florestais
é o índice de velocidade de germinação (IVG). Este teste baseia-se no princípio
de que os lotes que apresentam maior velocidade de germinação das sementes
são os mais vigorosos, ou seja, há uma relação direta entre a velocidade de
germinação e o vigor das sementes. O teste pode ser estabelecido
conjuntamente com o teste de germinação, obedecendo as prescrições e as
recomendações contidas nas regras para análise de sementes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Ministério da Agricultura. Regras para análise de sementes. Brasília:


SNDA, DNPV, 1992. 365 p.

DROMBROSKI, J. L. D. Germinação de sementes. Mossoró: Universidade


Federal do Semi-Árido, 2007.

FAVARIN, J. L. Fisiologia da germinação, formação de mudas, propagação


e plantio de café. Piracicaba: USP/Esalq, 2016. Disponível em:
https://social.stoa.usp.br/articles/0046/7752/2a_aula-Fisiologia_germina__o-
mudas-propaga__o-16.pdf. Acesso em: 03 de dez de 2017.

MORAES, J. V. Morfologia e germinação de sementes de Poecilanthe


parviflora Bentham (Fabaceae – Faboideae). Jabuticabal: Universidade
Estadual Paulista, 2007.

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