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Oliveira Vianna - O Idealismo Da Constituição PDF
Oliveira Vianna - O Idealismo Da Constituição PDF
OLIVEIRA VIANNA
OBRAS DO AUCTOR:
o IDE-ALISMO
DA
CONSTITUiÇÃO
Populações meridionaes do .
Paulo, 1922. Brasil - 2.> edição, São
Pequenos
- estudos d e P syeologia 50 . l
O . Sao Paulo ,. 1923 cta - 2.> edi çao,
-
idealismo na .I -
Republica ; S_evo uçao política do Império e da
p
E votação do' ao aulo, 1922.
O povo brazileiro S-
occaso do Im nerlo S- - ao Paulo, 1923.
I - ao Paulo, 1926.
1927
EDIÇÃO DE
TERRA DE SOL
RIO DE 'JANEIRO
PREFACIO
[ 9 r
o IDEALISMO DA CONSTITVIÇÃO
PREFACIO
[ 1.0 ]
[ 11 ]
o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO PREFACIO
[14} l 15 l
.... - -
o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
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o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
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O. IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
O IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
atirar pedras no governo, colhidos de sur- o trace mais distinctivo dessa mentali-
presa para a grave missão de estadistas, dade: era a crença no poder das formulas
tiveram que improvisar ás pressas um pro- scriptas. Para esses sonhadores, pôr em
gramma de construcção. Preoccupados, des- letra de forma uma idéa era, de si mesma,
de 70, em fazer opposição ao poder (como realisal-a. Escrever no papel uma Consti-
se costuma fazer opposição entre nós), elles luição era Iazel-a para logo cousa viva e
realmente não haviam pensado nisto até ucluante: as palavras tinham o poder magí-
14 de Novembro. de 89 e, quando,' a 16 uo de dar realidade e corpo ás ídéas por
do mesmo mez e anno, foram forçados r-llas representadas.
a pensar nisto, sentiram-se visivelmente em- Dizia Ihering que ninguém pode 1110-
ba-raçados. ver ,uma roda lendo apenas diante della
Elles se haviam contentado até então 11111' estudo sobre a theoria do movimento.
com um vago programma de aspirações va- ()s republicanos historicos, especialmente os
gas formulado em phrases vagas: os « irn- I'ollsliluintes. de 91, dir-se-hiam que estavam
rnortaes principios»,o «regimen da opi- l'IHlvencidos justamente do contrario dis-
- e que, pelo simples poder das formu-
nião», a «soberania do povo», a «organisa- 111
ção federativa», o «principio da liberdade», I I' escri ptasvn ão só era possível mover-se
a «democracia», a «repuhlica», etc. O ma- 11111:1 roda, c~:no mesmo mover-se uma na-
uif'esto de 70 é um magnifico exemplo desse I' I1 inleira;·:·.
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rem-se devotado mais aos males desta ul- " 1:1 ideologia era uma mistura um
tima especie do que aos males da primeira II IltI 1IIII'I'U'lional e, por isso mesmo, hete-
cathegoria. Excellentes traductores de ma- I I1III til) dcmocracismo francez, do lihe-
les estranhos; pessimn s 'interpretes dos nos- I ti 111"111I 'Z e do federalismo americano.
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o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
Tinha os seus crentes e também tinha os n~~t~ \ desillusão. Os mais fortemeITte de-
seus fanaticos: o que não parecia ter eram sílludidos foram precisamente os mais ar-
os seus scepticos e os seus negadores. Por clentesevangelisadores do novo cred~. Os
aquella epoca, a" crença nas virtudes do Christos da Nova Revelação foram Justa-
Liberalismo, do Federalismo e da Democra- mente os que mais alto fizeram resôar o
cracia era tão profunda como a dos fei- refrão do seu desanimo. - Mão era esta a
ticeiros nas virtudes dos seus esconjuros e ttcpublica dos meus sonhos! di~iam, sue-
das suas mandingas: a mais leve expressão I umbidos e cheics de melancolia.
de duvida sobre a excellencia destas formu- I-louve, portanto, uma força estranha,
las politicas acarretaria para o dissidente 11111 radar o cculto , que transmudou o ouro
as agruras da lapidação ; quando menos, dll idealidade mais pura no chumbo vil
elle soffreria a dôr de se ver alcunhado dl1 mais triste realidade? Sim, houve. Esse
de «retrogrado» - offensa tremenda para 1111'101' foi: 1.0 - o momento l~istorico; 2.0
aquelles tempos. Os que se aggrupavam 11 própria nação.
em" torno dos" chamados «propagandistas»
esperavam as bemaventuranças da Republi-
ca, da Democracia e da Federação no mes-
mo estado de exaltação mistica com que os
camponezes, que acompanhavam Jesús
pelas estradas da Galiléa, esperavam" o
«reino de Deus».
Veio a Republica. Veio a Democracia.
Veio a Federação. E para logo se levantou
um sussurro de desapontamento do seio
da turba fanatlzada - e esse desapontamen-
to se accentuou, com o tempo, numa perrna-
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não realisar o grande ideal de 70, mas sim- impressas ao argumento mais poderoso e
plesmente viver. E todos pareciam dizer .rebôante dos canhões da força' armada.
como, Caliban: «- Eu devo comer o meu , Está claro que, num ambiente destes,
jantar». Ou, mais syntheticamente: - Eu tão trepidante e perigoso, Aríel, isto é, a
deoo comer. Em virtude das condições ex- ,Constituição, não podia sentir-se bem -
cepcionaes do momento, «comer» fez-se as- e só lhe restava alar-se no ar subtil. O ideal
sim o imperativo, cathegorico das novas ins- inspirado r dos homens deixára de ser
tituições em ensaio, um verdadeiro dever, aquella bona libido patrice çratiiicandi, de
que todos - uma boa parte dos «hístorí- Sallustio, e passára a ser apenas o aoarus
COs»;os «post-hístortcos» na sua totalidade uenier horaciano.
e, mesmo, alguns «pre-histor icos» - cum-
priram, como o negro personagem shakes-
peareano, gostosamente.
Os que conseguiam, dest' arte, alcando-
rar-se nos postos officiaes ou electívos viam
nelles logicamente uma situação definitiva
e vitalícia - e a defendiam, por todos os
meios, contra o assalto dos novos invasores.
Estes, premidos tambem pela força do mes-
mo imperativo cathegorico, disputavam as
situações do 'poder com a aspera aggressí-
vidade dos escaladores de trincheiras. E,
para estes, como para aquelles, todos os
meios pareciam bons: da fraude desabalada
á illegalidade manifesta e ao esbulho clamo-
raso; da fuzilaria das diatribes e calumnias
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o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
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,/
I
successo. Esta causa existe e é, como já , cias anglo-saxonias, mas tambem nas dou-
assignaJamos, o desaccordo ~ntre o idealis-
; mo da Constituição e a realidade nacional. I '
. .trinas individualistas do convencionalismo
Jrancez. O suffragio que ella estabelece é,
Realmente, todo o systema politico en- .por isso, o suftragio individual e não o
genhado na Constituição assenta-se sobre I suftragio de classe: cada cidadão, conside-
um certo numero de presumpções, .que, en- r
rado individualmente, se presume possuir
tre nós, não tem, nem pode ter, nenhuma r
a irubependencia bastante e a competencia
objectividade possivel. São presumpções de necessaria para eleger com criterio e cons-
natureza meramente especulativa, inteira- [ ciencia os dirigentes eventuaes da nação,
mente fóra das condições reaes da nossa I isto é, os executores da «vontade do povo».
vida collectiva. h
O conjunclo dessas opiniões individuaes
Tomemos, por exemplo, a primeira forma a massa rnagestosa da «Opinião de-
dellas - porque fundamental: a presump- mocratica», que elege os governos, que di-
ção da existencia aqui dessa cousa que, nos
rige os govern os, que appl aude os gover-
povos de raça saxonia principalmente, se nos, quando hnns, e que lambem condemna
li chama «opinião publica». Todo o rnechanis- os governos, quando rnáus, isto é, quando
mo do regimen estabelecido na Constituição desobedienles á dita Opinião.
gira em torno dessa presumpção central. O, Esta opinião deve revelar-se, porém,
que alli se institue é, com effeito, o regimen atravez dos Partidos. Para os ideologos re-
democratico; portanto, um regimen que de- publicanos, os partidos politicos, á maneira
riva da «vontade do, Povo Soberano», ma- ingleza, são. a forma mais legitima, sinão
nifestada pela «Opinião Publica».
a unica, da manifestação do Povo Sobera-
Dahí, essa instituição basilar: o suf- no. Dahi o empenho, sinão a mania, de to-
fragio universal. Neste ponto, aliás, a nossa dos elles em organisar partidos políticos
ideologia constitucional não se inspira ape- estáveis, com os seus imponentes directo-
nas no magnífico espectaculo das democra- rios centraes, com os seus menos imponen-
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tes directorios estaduaes, com os seus ainda dessa opimao derrrocratica. Dahi a el.ecti-
menos imponentes directorios municipaes vidade e a periodicidade, não só da Ca-
ou districtaes, corôado tudo isto por gran- mar a, como tambem do Senado. Dahi a
diosos programmas de idéas e reformas eleição directa e popular do presidente da
perfeitamente liberaes, democraticas e re- Republica. Dahi os curtos. mandatos presi-
publicanas. denciaes. Dahi o seli-qooertuneni local, aS-l
Por esse meio, os milhões de opiniões segurado pela autonomia dos Estados e
individuaes, sequiosas de se revelarem, se lambem pela autonomia dos municípios.
agglutinarlam em grandes massas, em dous São tudo outras tantas valvulas por onde
ou tres grandes grupos, representando dous [oiepode manifestar e exteriorisar-se a' von-
ou tres grandes partidos, E ter iamos, por- tade livre, a opinião consciente e soberana
tanto, estabelecido, o pleno regimen da opi- do Povo, ou, pelo menos, dos Partidos.
nião - á maneira do que acontece na Corno se vê, os republicanos da Cons-
America do Norte e na Inglaterra. Com liluinte construír-am um regimen politico
essa Opinião Publica, assim partidariamen- hnseado no presupposto da opinião publica
te arregirnentada, poderiamos desde então urgnnísada, arregimentada e militante. Ora,
fruir, com tran quillidade e orgulho justifí- 1'.'la opinião. não existia, e ainda não exis-
cado, todas as benraventuranças do regimen li', entre nós: logo, ao mechanismo ideali-
do povo pelo povo, a Democracia em sum- "do pelos legisladores de 91 faltava o so-
ma, a Republica na sua luminosa pureza 1'.'0 il spirador do seu dynamísmo. Dahi a
e formosura. 1111 r allen cia.
Contando com isto é que os constituin-
tes de 91, segundo, aliás, as inspirações
dos evangelístas de 70, estabeleceram no
seu Codigo Fundamental varias prescrip-
ções tendentes a facilitar a livre expressão
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O 'IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
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substituem-no por um outro da sua con- social e política dto povo - é que asse-
f'ian ça e inspiração. guram á democracia ingleza esta surpre-
O «regimen da opinião» na Inglaterra hendente vitalidade, que faz a admiração e
não resulta, pois, exclusivam ente do facto tambem o desespero de todos os povos não
dos cidadãos inglezes terem a prerogatíva saxonico s do mundo.
de escolher, pelo direito do voto, os repre- Ora, entre nós nada disso acontece ~
sentantes do Poder; mesmo sem o direito a simples concessão do suffragio a todos
do voto, essa. poderosa solidariedade de os cidadãos não bastaria para criar aqui
classes, esse espirito popular, militante e .stas condições que constituem o ambiente
infatigavel, acabaria por obrigar, pela sim- 11:1 democracia ingleza.
ples força moral da sua opinião, os deten- Não existe solidariedade de classe. Não
tores do Poder e a classe propriamente 11 I nenhuma classe entre nós realmente
politica a consideral-o, a ouvil-o e a atten- tll'Wlnisada, excep~o a classe armada. Essas
del-o. O regimen da opinião pre-existe á
ruudes classes populares - que são os
prerogativa eleitoral - e a sua razão de 1111-\ 'principaes da elaboração da opi-
ser está nestes dous attributos intransfe- I1 (j liritanica - não tem aqui organisação
riveis do cidadão inglez: a sua indole activa "I 11111:1, ou tem uma organisação rudimen-
e combativa (a açqressioe oitalitq, de Whit- 1111, ,'0111 efficiencia apreciavel sobre os
man), por um lado; por outro, o espirito de 111' os do Poder, dada a enorme disper-
solidariedade, o sentimento instinctivo do 11 d('rnographica do paiz: - e são a
interesse oollectivo, aquillo que van Dyke I I I I' Ilgricola, a classe industrial, a classe
chama - lhe spirit of cormnori order and Illjllllll'ITial, a classe operaria. Todas essas
social cooperation, Estes dous attributos- I I I viv m em estado de semi-conscien-
um de natureza biologica, porque se prende I d" xou propríos direitos edos seus pro-
ao temperamento da raça; outro de natu- I I ul rr 'SSCS, e de absoluta inconsciencia
reza moral, porque se prende á formação 1111 pl'opria força. São classes dissocia-
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o IDEALISMO DA CONSTITUiÇÃO
o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
das, de typo amorpho e inorganico, em es- mento 'da maioria. De modo que falta aqui
tado de desintegração profunda. Quando, terreno propicio a esses brilhantes movi-
porventura, algumas fracções dell as se or- . mentos em pról do' bem collectivo, de que
ganisarn aqui ou alli (Centros Industriaes são tão Ierteis os grupos anglo-saxonios.
Sociedades Agrícolas, Associações Opera~ Esta ausencia de sentimentos dos inte-
rias, etc.) ainda assim esses pequenos nu- resses geraes é que explica o insuccesso
cleos de solidariedade profissional não tem de todas aquellas instituições sociaes, em
espír-ito militante, nem poder eleitoral pro- que não ha em' jogo o interesse pessoal
prio, nem influencia directa sobre os 01'- dos cooperadores. O serviço do Jury, por
gãos do Poder (1). I templo: ninguem entre nós o' presta oorn
interessadamente são typos excepcionaes, '''111 nunca, porém, por um impulso su-
cujos esforços se perdem no meio da in- 1" I 111' de civismo" por um movimento ~s-
differença, ou da ínercia, ou do retrahí- 11111/1111'0 da sua consciencia - parao firo
" 1IIII.'Iiluir os orgãos do governo político
I 111', Ilude. Ir ás urnas, como servir no
(1) vide adeante:- O poder da opinião e as
fontes da opinião. " xercer qualquer cargo não re-
(2) víde - Poputações Meridionaes, capo IX. 1/111 IlIdol• mas benefico á collectividade,
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o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
um certo modo, gratos a estes clans poli- O grande problema não está em des-
ticantes: pelo menos, elles nos prestam o lr'ull-as ; está em educal-as, em disciplinal-
serviço de organisar essa cousa essencial /I', rn reduzir-lhes a capacidade de fazer
e que, entretanto, o Povo, o nosso Povo, II m al e augmentar-lhes a capacidade de
pela sua inaptidão democratica, se mostra Im.(~"o bem. Todo o mal, de que as accu-
incapaz de organisar: o quadro dos poderes 111110', provém de que ellas actuam, por
publioos do paiz. /I xim dizer, no vácuo - sem o correctivo
Porque é natural que se pergunte: - 1111 11 ompressão disciplinada de uma at-
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o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
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o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
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o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO O IDEALISM~ DA CONSTITUiÇÃO
da consciencia robusta e clara dos seus vernos nacionaes: governos patrióticos. El-
proprios interesses, e o esclarece, e o pro- lles assim se mostram, não propriamente
voca" e o inquieta, com a frequencia dos por um movimento espontaneo da sua aln:a,
seus r'eclamos, corn a constancia das suas por um impulso generoso do seu cor~çao
suggestões, com a impertinel1cia mesma das ele patriotas; mas, porque são cornpellídos
suas ameaças,
a isto pior essa incoercivel e irresistivel
Os governos alli não tem propriamente pressure [rom iuitliout da opinião organi-
um pr.ogramma seu, brotado da sua mente
sada e militante.
como Minerva da mente de Zeus: são ape~
Entre nós nada disso se vê. Não ha
nas meros executores, vão realisar pro-
aqui nem organisação de classes, n~m or-
grammas já elaborados cá fóra, na im-
prensa, nos comícios, nas cathedras nos ganisação da opinião: a unica orgamsação,
livros, pela acção dos grandes partidos e que os presidentes encontram em torn~ .de
das grandes solidariedades de classes: as si, cercando-os, sllggestionando-os, exigin-
ligas, as associações, <J.S syndicatos. do, impondo, são os clans facciosos, que os
Não é, pois, o silencio o que se faz elegem. Estes é que acabam dom.inando.-os
em torno de cada governo. Nenhuma clas- inteiramente e reduzindo-os, por fim, a SIm-
se alli espera, muda e queda, a soUicitude ples instrumentos dos seus interesses e am-
paternal do Poder. Ao contrario disto, to- bições. Eis porque o «governo do p?v~~,
das pedem, todas exigem': em sumrna _ idealisado pelos sonhadores da Cousutuin-
t.odas. querem dirigir o Poder. E' isto o que te, se torna aqui apenas o governo das co-
constItue a democracia ingleza. Nisto é que teries politicantes.
está o que os inglezes chamam - «go- Não culpemos, pois, os detentores do
verno da opinião», Poder. Elles são apenas as victimas das.
Comprehende-se então porque ha alli proprias circumstancias, em que .actuam:
governos devotados á causa publica, go- no meio do silencio geral do paiz, nada
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"O IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
o IDEALISMO DA CONSTITU~ÇÃO
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o IDULlSMO o... CONSTlTUJÇÃO
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o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
o IDEALlS, o DA CONSTITUIÇÃO
ou antes, a illusão delles, está na convicção da nossa população rural são compostos-e-
em que todos elles vivem - de que uma devido á nossa organísação economica e
reforma poliiica só é possivel por meios á nossa legislação, civil - de pariás, sem
politicos. Elles não concebem que haja ou- terra, sem lar, sem justiça e sem direitos,
tros meios capazes de modificar as condi- todos dependentes inteiramente dos grandes
ções da vida política de uma sociedade si- senhores terrítortaes ; de modo que - mes-
não a modificação das suas instituições de mo quando tivessem consciencia dos seus
direito publico. direitos polítícos (e, realmente, não têm ... )
Ora - para o nosso caso, por exern- e quizessem exercel-os de um modo auto-
plo - a verdade é que as reformas políti- nomo - não poderiam Iazel-o. B isto por-
cas, isto é, as reformas constitucionaes, se- que qualquer vell eidade de independencia
rão apenas auxiliares de outras reformas da parte desses pariás seria punida com a
uraror-es, de caracter social e economico, expulsão. ou o despejo immediato pelo gran-
que deveremos realisar, se quizermos es- de senhor de terras. O grosso de nossa
tabelecer aqui o «regimen democratico», o massa eleitoral não tem, portanto, indepeti-
«regírnen da opinião», o «regimen do gover- dencia de opinião. Ora, os meios mais ef-
no do povo pelo povo». Pode-se dizer mes- ficazes para assegurar essa independencia
mo que o estabelecimento deste regimen po- não serão, por certo, o «suffragio univer-
lítico em nosso povo é antes de tudo um sal», nem a «eleição directa», nem o «voto
problema social e economico - e só secun- secreto», nem o. «selj-çouernment local»:
dariamente um problema político e constí- mas sim outros meios, de natureza econo-
tucional. mica e social: o estabelecimento da «pe-
Um exemplo bastará para esclarecer quena propriedade»; um systema de «ar-
este ponto. - O grosso do nosso eleitorado, rendamentos a longo prazo» ou um «re-
come sabemos, está no campo e é formado gimen de earacter emphyteutíco»: a diffu-
pela nossa população rural. Ora, os 9/10 ão do «espíríto corporatívo» e das «ins-
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'O . ~DEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
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OPINIÃO g GOVERNO
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o IDEALISMO DA CONSTITUiÇÃO OPINIÃO E GOVERNO
nas, mesmo sem o voto, um grupo poderoso (em estado hibernante, esperando <O 1110-
de interesses, fortemente congregados, re- m~to para brotar, a semente .ou a gem-
presentando uma massa de auasi cinco mi- m Ia de um systemazinho eleitoral. Cada
lhões de homens, conseguiu' - pela forca li 1 tem o ,;seu - chocadinho, mimadinho,
exclusiva da sua solidariedade - impôr tr tadinho. E: de vel-os, bracejantes, ar-
a sua opinião ao poder organizado. dentes, gritarem a plenos pulmões: Or-
Donde se póde concluir que o voto ga tzetnos o volo! Saneemos o uotol
não é condição essencial para que a opi- .M alizemoso voto! E ficam nisto,
nião popular se possa manifestar e - o e I mitam-se a isto, e não sáem disto. Entre-
que é mais - írnpôr-se, ou fazer-se ou- talo, nenhum delles se lembra de gritar
vida e attendida. Eu avançarei mesmo que a lavra justa, a palavra verdadeira, aquil-
não seria absurdo imaginar-se a possibili- 1, rue devia ser gritado aos quatro cantos
dadede uma perfeita democracia funccío- paiz: Organizemos ia opiniãol
nando sem eleições ... Porque isto é que é o essencial.' De-
Os nossos políticos e publicístas, em .ocracia é o governo da opinião. Ora, não
grande maioria, parece que não pensam as- preciso genio para reconhecermos que o
sim. Para eIles tudo numa democracia re- te é apenas uma forma porque a opinião
side no Violo, depende do voto, resolve-se o povo se revela e se impõe ao Poder;
pelo ViOtO.Ha cem annos, não têm feito ou- as, não a f.orma unica, e nem sempre a
tra coisa senão organizar o voto, preparar o elhor forma, <ou a forma mais efficiente.
vot-o e ... corromper o voto. São votomanos, a muitas outras modalidades de expressão
votólatras e votóparos. Todas as vezes que a opinião popular, isto é, muitos outros'
pensam no problema da democracia, a pri- meios pelos quaes a opinião popular se
meíra idéa que lhes acode é o voto, (e mostra capaz de forçar o Poder a obe-
parece que não lhes acóde mais nada). decel-a.
Dentro da cabeça de cada um, ha sempre, N a Inglaterra grande numero de reíor-
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)
I
o IDEALISMO. DA Co.NSTITUIÇÃo.
OPINIÃO. E Go.VERNo.
mas são realizadas sem nenhuma previa o mais bello caso daquillo que os políticos
manifestação eleitoral, apenas por sirrf les inglezes chamam a - pressure [rom uii-
acção cornpressiva, exerci da pela opin ão tiiout, a pressão. vinda do povo, a força
publica sobre o Parlamento. I
coercitiva da opinião popular, obrigando,
Em nossa historia temos tambem b 1- forçando, coagindo os detentores do Poder
los exemplos disto. Direi mesmo que os a obedecel-a.
nossos maiores movimentos de opiniã _ Mes :o agora, nós estamos vendo o
como o movimento abolicionista, por ex rn- governo, e não recuar, pelo menos revelar
plo - fizeram a sua carreira e imp ze- espirito de transigencia e mostrar-se pro-
ram-se ao Poder extra-eleitoralmente' , ue- penso a ouvir os reclamosda opinião, dean-
ro dizer: fóra da manifestação das ur as, te do movimento, aliás informe e inorga-
independentemente dellas.
nico, das nossas classes, productor-as contra
Realmente, o triumpho do movimen o imposto da renda. Se este movimento to-
abolicionista foi um legitimo triumpho
miar corpo e vencer (e' vencerá se houver
opinião publica; mas, esta opiniã« publi persistencia e solidariedade das classes
triumphou, não porque, por meio da f interessadas), estaremos deante de um
mosa «manifestação das urnas», eleges novo caso de pressure [rotti toitbouê, bôa á
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o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
f
O PODER DA OPINIÃO
E' AS FONTES DA OPINIÃO
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o
,
PODEH DA OPINIÃO
E AS FONTES DA OPINIÃO
. [ 93 ]
o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO O PODER DA OPINIÃO
[ 96 J [ 97 ]
o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
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1
I
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o PAPEL POLITICO
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DAS CLASSES ECONOMICAS
[ 101 ]
O PAPEL POLITICO DAS CLASSES ECONOMICAS
o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
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I
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o IDEALISMO DA CONSTiTUIÇÃO O PAPEL POLITiCO DAS CLASSES ECONOM.ICAS
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o IDEALISMO DA CONSTITUiÇÃO O 1"APEL POLITICO DAS CLASSES ECONOMICAS
veruo com os orgãos representativos' dos Os homens de governo, que querem fazer
gruudes interesses sociaes. Estes interesses administração e não politica, não encon-
sociaes, que, até então, se entendiam com o tram nelles nenhuma fonte segura e sadia
poder por interrnedio do Parlamento, dos de orientação, capaz de norteal-os na ges-
«mandatários do POVO», como se .dizia (e tão dos negócios publicos.
penso que ainda se diz ... ); estes Interesses Esta decadencia dos parlamentos e a
agora já passam a procurar o proprio Po- crescente ímportancía das delegações de
der, a debater, frente a frente com elle classes nos conselhos do governo 'têm a sua
num ambiente de perfeita cordialidade os explicação na propria estructura das socie-
seus direitos, a expor as suas necessidades dades modernas. O advento da grande in-
a suggerir-lhe os seus planos de acção, corn dustria. IOS modernos processos Je negocies,
Um! conhecimento de causa que nenhum dos as grandes concentrações cornmerciaes, a
c?amados «representantes do POVO» pode- crescente industrialização do trabalho agri-
na, em caso algum, possuir. cola, elc., deram aos interesses cClonomicos,
Os homens de Eslado, verdadeiramente que são os interesses vilaes da soclcdadc,
e?lpenhados em realizar a prosperidade na- uma complexidade tal de organização e de
Cl~nal, em .corresponder confiança,
á do technica que elles se tornaram, por isso mcs-
p31Z, em deixar de si alguma causa perdu- mo, logicamente, fóra do alcance das cor-
ravel e fecunda, encontram nestas delega- por ações puramente políticas, cujos elemen-
ções de classes,que, em torno delles, se tos ,componentes só conhecem bem' o mane-
v ão organizando a mais preciosa font~ de jo dos interesses eleitoraes e só têm real-
inspirações á sua actividade adruiuistrativa. mente contacto com os meios partidarios.
Os parlamentos vão sendo insensivelmente O que devemos desejar é que as nossas
P?SloS de lado e não sei si seria exaggerado classes sociaes, não só as economicas como
dizer que se estão tornando nrogressi va- todas as outras, comprehendam essas rea-
mente um apparelho inutii e dispendioso. lidades do nosso tempo e, a exemplo do
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o IDEALISMO DA CONSn:!-IlçÃO
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ORGANISAÇAO DEMOCRATICA
DAS CLASSES ECONOMICAS
I
t
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I
i,
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a IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
..
OROANIZAÇÃO DAS CLASSt:S ECONOMICAS
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'O IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
o IDEALISMO DA CONSTITUIÇÃO
immensamente superior ao da sua missão
politica.
que~ram gravitar em torno de programm'as Eu não. quero, discutir aqui se é ou
e nao em lorno de nesso as, serão sempre não é possivel levar as nossas classes eco-
puras creações artificiaes e, por isso, nom'icas á pratica da solidariedade . Direi
ephemeras. Todas as 110SS2S tentativas de apenas que, se esta solidariedade puder um'
organização partidaria têm fracassado jus- dia ser conseguída, poderemos esperar tran-
tamente porque Ines tem faltado, .sempre quillos o advento da Democracia no Bra-
esta trama viva das organizações .de elas- sil. Mas direi também que, se não fôr pos-
se, que é a base anatomica, o tecido cellu- sível realizar esta solidariedade, é preciso
lar dos grandes organismos partidarios in que renunciemos então a esperança de as-
glezes e americanos. sistirmos o advento da Democracia no Bra-
O 3.0 item do programma democrati- sil. Porque a pedra de toque da possihilida-
co deveria ser redigido assim, de uma ma- de do governo do povo pelo povo em nosso
neira compendiosa, mas muito mais pr oxi- paiz (é este tambem um dos pontos do
ma da verdade do que a primeira: programma do novo Partido), está nisto:
-~ «3.° Pugnar, por iodos os meios ca- na capacidade das nossas classes producto-
pazes de convicção e arrasiamento, junto r as de organizarem-se economicamente.
a Lavouras 'o Conunercio e a Industria Sem isto, o melhor é contentarmo-nos
para que estas classes productoras realizem com o que está: - oom o governo do povo
o • mais_. rapidamente possioel a sua oroa- por olygarchias broncas, que todos os es-
;:J
nizaçao economica e profissional, de mo- pir itos capazes de idealidade deverão pu-
do Cl poderem exercer a influencia a que gnar para transformar em olygarchias es-
têm direito, pela sua importancia, nos nego- clarecidas.
cias publicas».
O Partido Democratico ficaria assim
com uma missão social, cujo. exito seria I
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