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Observações Sobre o Conceito de Cidade e Urbano PDF
Observações Sobre o Conceito de Cidade e Urbano PDF
Sandra Lencioni*
RESUMO:
Rigor e método são imprescindíveis na pesquisa e exigem o exercício permanente de se fazer
opções. Quando precisamos conceituar um fato, um fenômeno ou um processo muitas dúvidas
surgem. Esse texto apresenta algumas observações gerais sobre os conceitos que auxiliam na
discussão sobre os conceitos de cidade e urbano. Na medida em que os conceitos se expressam
por meio da linguagem, discute primeiramente, as palavras cidade e urbano na língua portuguesa.
Em seguida, indaga sobre a questão de desde quando podemos falar em urbano no Brasil desta-
cando que essa resposta se situa na interpretação que se assume acerca do desenvolvimento
brasileiro. Como conclusão afirma que os conceitos e teorias são imanentes uns aos outros.
PALAVRAS-CHAVE:
Conceito; Cidade; Urbano; Palavras.
ABSTRACT:
Rigor and method are indispensable in the research and require the permanent exercise of doing
options. When we needed to consider a fact, a phenomenon or a process many questions arise.
This paper presents some general observations on the concepts that give support to the discussion
of the city and urban concepts. Insofar as the concepts are expressed through the language, it
discusses firstly the words city and urban in the portuguese language. Afterwards, it investigates
on the subject of from when we can speak in urban in Brazil detaching that that answer locates in
the interpretation that is assumed concerning the Brazilian development. As conclusion affirms that
the concepts and theories are immanent each other.
KEY WORDS:
Concept; City; Urban; Words.
exercício do pensamento sobre o real, o qual formulação e, nesse sentido, reflete certo grau
existe independentemente de pesarmos sobre de generalização. Assim, o conceito é sempre
ele. uma simplificação do real e ao mesmo tempo
uma generalização deste.
Segunda observação: o conceito é uma
forma de reflexo dos objetos. Para se construir essa generalização é
i mp re scind ív el p esq ui sar uma g rand e
O conceito não se confunde com o real, quantidade de objetos, compará-los e, ainda,
ele é um reflexo do real, uma representação do examinar os aspectos particulares e singulares
r eal. C om o el e é r ef le xo do r eal e um a que esses objetos apresentam. Esse é o ponto
representação desse, ele existe a posteriori dos de partida de qualquer conceituação. Dizendo
objetos que representa. Já os objetos do mundo de uma outra forma, verificar semelhanças,
real existem independentemente dos conceitos. d if er enças e p eculi ar id ade s do ob je to na
Mantendo o mesmo exemplo, o conceito formulação do conceito. Por exemplo, o conceito
de núm ero 4 é um a abstração e refl ete a de rua, ao qual já nos referimos, não nos remete
quantid ade d e cav alos que aquel e homem a nenhuma rua em particular, a indicar que um
possuía. conceito guarda certa independência em relação
àquilo que ele representa, dado o grau de
Terceira observação: os conceitos são ao generalização que ele requer.
mesmo tempo objetivos e subjetivos.
Isso não significa dizer que o particular
Os conceitos são objetivos pelo seu e o singul ar não são consid er ados. Pel o
conteúdo, pois estão relacionados ao real, contr ár io, a e ssênci a do ob je to se faz
r ef er id os ao r eal . Por i sso, q uanto m ai s representar no conceito e portanto, também se
conhecemos o real temos mais condições de faz presente no particular e no singular, com
formular um conceito. toda a riqueza que o particular e o singular
Mas os conceitos são, além de objetivos, possuem.
sub je ti vos p or que ex ist em no nosso Quinta observação: o conceito existe em
pensamento, na nossa consciência. O fato de movimento.
se situarem na consciência é que faz com que
os conceitos possuam uma realidade subjetiva. O conceito se modifica, se altera e se
r enov a. Para i nd icar que o conce it o te m
Quarta observação: não há identidade entre movimento e evolui, alguns autores usam mais
o conceito e o real ao qual ele se refere, porque o t er mo ‘ noção’ do q ue o pr óp ri o te rm o
nenhum conceito é capaz de conter toda a riqueza ‘conceito’, a indicar sua fluidez. O conceito tem
do real. movimento e por isso, um conceito construído
Quando conceituamos, por exemplo, rua, numa determinada época pode se alterar. Na
pensamos a rua não com todos os predicados medida em que o conceito é um reflexo do real
que ela possa ter: sinuosa, pavimentada, larga e esse real está em permanente mudança, é
ou estreita. Pensamos de maneira muito menos lógico que ele também se modifique.
rica, pensamos de um modo empobrecido perto Alg uns conce it os p od em , i nclusi ve ,
de qualquer rua que possamos descrever. derivar de outros conceitos. Esse é o caso do
Qualquer conceito reflete aquilo que é conceito atual de metrópole, que tem relação
essencial, os aspectos essenciais, as relações com o conceito de metrópole da antiguidade
essenciais, enfim, a essência do objeto, do clássica, mas que é diferente desse. Qualquer
f enôm eno ou do p roce sso. Port anto, a conceito tem, portanto, sua história. Conceitos
construção de um conceito exige um exercício novos são também formulados. Um exemplo é
d e capt ur a do que é esse nci al p ar a sua o conceito de informática. Esse conceito está
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part ida, pois as palavras, como vimos, se distintas de uma mesma cidade. Na frase: Eu
constituem na base sensorial dos conceitos. vou à cidade, o sentido é de núcleo original ou
principal de uma cidade onde se concentram as
mais importantes atividades administrativas,
2. As Palavras: cidade e urbano comerciais e financeiras. Todos esses exemplos
most ram out ros sentid os d eri vados q ue a
Por meio da fala os homens expressam palavra cidade pode ter.
suas idéias e os diferentes sentidos da palavra
cidade e urbano na língua portuguesa podem Quanto à palavra urbano, essa palavra
nos auxiliar na compreensão do conceito de é um adjetivo e serve, assim, para caracterizar
cid ad e e urb ano no Br asil . D e ante mão os se re s ou os obj et os nome ad os p el o
gostaríamos de lembrar que nossa intenção é substantivo; ou seja, serve para caracterizar o
discutir os conceitos de cidade e urbano tendo que foi nomeado. (Cunha, 1992: p.114 e 151).
com o re fe r ênci a a re ali dade b r asil ei ra. Quando d isse mos t ransport e ur bano e
Observamos, ainda, que as considerações feitas policiamento urbano, a palavra urbano qualifica
a seguir são auxiliares aos objetivos desse texto o tipo de transporte e o tipo de policiamento.
e não se situam no âmbito da lingüística, que Q uand o, p or ém , o adj et iv o que
poderia ser esperado. Acreditamos que mesmo caracteriza o substantivo se torna o termo
um a ab ord ag em si mp le s e d espr ete nsiosa principal, ele deixa de ser um adjetivo e passa
dessas palavras pode nos auxiliar na discussão a ser uma substantivação do adjetivo. É nessa
sobre os conceitos de cidade e urbano tendo condição, de substantivação do adjetivo, que a
como referência o Brasil. palavra urbano será aqui tratada. O exemplo a
Gramaticalmente a palavra cidade é um seguir pode ajudar a esclarecer.
substantivo, ou seja, uma palavra que serve Comparemos as seguintes frases: O
para nomear um objeto determinado e possui transporte urbano é caótico com a frase: O urbano
várias acepções na língua portuguesa. Pode é caótico. Na primeira frase, a palavra urbano
sig ni fi car “ ag lome ração hum ana d e ce rt a qualifica o transporte, sendo, portanto, um
importância, localizada numa área geográfica adjetivo. Porém, na segunda frase a palavra
cir cunscr i ta e q ue t e m nume rosas casas, urbano não qualifica nada, não sendo, assim,
próximas entre si, destinadas à moradia e/ou a um adjetivo. Ao contrário, a palavra urbano é
atividades culturais, mercantis, industriais, que recebe qualificação, a de caótico. Na frase
financeiras e a outras não relacionadas com a O urbano é caótico a palavra urbano se constitui
exploração direta do solo”. 2 como uma substantivação do adjetivo e é nessa
Além desse sentido o dicionário Houaiss condição que será considerada na discussão. 4
registra, também, derivações por metonímia da Em re lação à p al av ra ci dade as
palavra cidade, ou seja, decorrentes de outros metonímias não serão levadas em conta, tanto
sentidos que transcendem ao sentido semântico q uant o na p al avr a ur bano a cond ição d e
normal da palavra cidade. 3 Vejamos alguns adjetivo não foi considerado. O que importa para
exemplos de metonímia. Na frase: A cidade a discussão do conceito de cidade e urbano é o
apresenta-se segregada, o sentido é de que a sentido semântico normal da palavra cidade e
população da cidade se encontra segregada. a condição de substantivação do adjetivo na
Já na frase: A cidade reformulou seu IPTU, a palavra urbano.
palavra cidade assume o sentido de governo e
de ente da administração pública. Na frase: A Uma segunda consideração diz respeito
cidade baixa de Salvador passou por grandes à etimologia das palavras cidade e urbano na
transformações, enquanto a cidade alta se mantém língua portuguesa, que ao indicar o tempo de
a mesma, o sentido diz respeito às partes seu p ri me i ro uso, sug er e que e la e st á
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relacionada a um fato ou fenômeno que se em muito, a palavra urbano, a indicar que a idéia
apresenta, nos auxiliando a situar no tempo o de cidade precede, historicamente, à idéia de
que a palavra busca representar. Por exemplo, urbano. Esse é o ponto a reter.
o uso da palavra chester para indicar uma
Tod as e ssas conside rações sobre as
espécie de galináceo, só surgiu em português
palavras cidade e urbano apenas situam o
quando a engenharia genética criou esse tipo
e scop o de m ui t as d iscussões p ossí ve is.
de ave . A et imologi a nos per mi te , assi m,
Registramos o sentido dessas palavras porque,
relacionar, historicamente, a palavra ao que ela
com o li ng uage m , el as consti tuem a b ase
se refere.
sensorial dos conceitos.
O dicionário da língua portuguesa e
latina, de 1712 registra vários sentidos para a
palavra cidade. No entanto, nenhum para a 3. O conceito cidade e urbano tendo
palavra urbano, o que significa dizer que a idéia como referência a realidade brasileira
d e ur bano não ex isti a at é e nt ão. Ne sse
A discussão do conceito de cidade nos
dicionário as acepções da palavra cidade são
conduz a pensar na discussão de um objeto que
as se guint es: a) d e m ul ti dão d e casas
evoca várias idéias. Pensamos, por exemplo, na
distribuídas em ruas e praças, cercadas de
cidade grega, na cidade comercial da Idade
muros e habitadas por homens que vivem em
Média que fazia parte da liga Hanseática, na
sociedade e subordinação; b) de cabeça de um
cidade colonial brasileira e porque não, na São
reino ou de uma província. Esse dicionário do
Paulo de hoje. Já ao refletirmos sobre o conceito
século XVI apresenta também, as acepções da
de urbano, esse é visto mais como um fenômeno
palavra cidade acrescidas de adjetivos: cidade
d o que como ob je to. Isso é comum aos
fronteira, cidade mercantil... Todos os verbetes
adjetivos que assumem o sentido gramatical de
são em português e em latim e é importante
substantivos, precedidos, em geral, de artigo,
registrar que quando apresenta o sentido de
como é o caso de: o rural, o agrário, o informal,
“conce rnente à cid ad e”, o corr espond ente
o social, o espacial ...
apresentado em latim é Urbanus, a, um.
Tanto a cidade, como objeto, como o
Segundo o dicionário Etimológico Nova
urbano, como fenômeno, se situam no âmbito
Fronteira da Língua Portuguesa, de autoria de
das reflexões sobre o espaço e a sociedade,
Cunha (1982), a data provável do vocábulo
p oi s são p rodutos d essa r el ação; m ai s
‘cidade’ data do século XIII, sendo originária da
precisamente, são produzidos por relações
palavra latina civitas-âtis. Embora esse dicionário
sociais determinadas historicamente. É nessa
não registre a palavra urbano, apresenta o
dete rminação que a d iscussão a segui r se
vocábulo urbe, que tem o sentido de cidade e
coloca, tendo como pano de fundo, mas não
se origina da palavra latina ubs, urbis, indicando
como central, a produção da cidade e do urbano
o século XX como datação para o uso da palavra
no Brasil.
urbe na língua portuguesa. Curioso é que a
palavra suburbano e a palavra urbanidade são
usadas na língua portuguesa desde o século
XVI e que a palavra urbanista tenha antecedido 3.1 O conceito de cidade
à p al av ra ur bani sm o, já q ue a pr im ei ra, Inicialmente queremos chamar atenção
urbanista, é de 1874, enquanto que urbanismo para o seguinte afirmação: a idéia de cidade é
é do século XX. (Cunha, 1982, p. 182 e 804) clara para todos, diferentemente da idéia de
Esse pe queno ar razoado acer ca d as urbano. No entanto, o conceito de cidade é
palavras cidade e urbano na língua portuguesa obscuro. Como um conceito pode açambarcar
permite notar que a palavra cidade antecede, desde cidades pequenas, de 2.000 habitantes,
até cidades que abrigam milhões e milhões de
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habitantes? Como pode se referir a um objeto A cidade, não importando sua dimensão
que se apr esenta com caracterí sticas bem ou característica, é um produto social que se
distintas e, que por isso, exige, frequentemente, insere no âmbito da “relação do homem com o
o complemento de um adjetivo, a exemplo de: meio” – referente mais clássico da geografia.
cid ad e de f r onte ir a, ci dade g re g a, cid ad e I sso não si gni fi ca d izer, t od av ia, que
colonial, cidade medieval, cidade portuária, estabelecida essa relação tenhamos cidades.
cidade turística, cidade mineradora, cidade Não importando as variações entre cidades,
industrial? Como pode se colocar como conceito, quer espaciais ou temporais há uma i déia
o que implica em ser reflexo de um objeto - comum a todas elas, que é a de aglomeração.
segunda observação - quando esse objeto se Não é à toa, então, que a idéia de aglomeração
apresenta múltiplo e variável? se faz presente na definição da palavra cidade.
Per ei ra (2 00 1) , a p ar ti r d e um a Mas, aglomeração do que? De homens e
perspectiva sociológica, pergunta por que a de habitações, diriam uns. Estar-se-ia, então,
palavra cidade teria atravessado séculos sem trazendo para a reflexão as tendas armadas
alterações, muito embora se refira a um objeto nos desertos, as feiras de mercados de escravos,
em perpétua mudança. A resposta inspira-se os assentamentos dos sem terra ao longo das
em Norberto Elias, reside no fato de que, muitas estradas.... e tanto as outras formas errantes
ve ze s, p or não conse guir mos ex pr essar o de agrupamentos? Não. É Ratzel que chama a
m ov im ento e as m ud anças constant es, atenção para a questão da sedentarização,
mantemos a palavra e acrescentamos uma outra indicando que à cidade corresponde, sim, a idéia
para precisar o que estamos tratando. Esse é o de aglomeração, mas a de aglomeração durável.
f at o: p or não conseg uir mos ex p re ssar as (Derruaux, 1964, p. 561).
transformações constantes de algo tão mutável,
temos mantido a palavra cidade e acrescentado O conteúdo do conceito de cidade já
a ela adjetivos. É isso que permite compreender ind ica, port anto, doi s ter mos p ara sua
a presença de tantas adjetivações para falar def inição: o de aglome ração e o de
de suas caracte rísticas, funções, par tes e sed entarism o. Mas el es se apr esentam
t ransform ações: ci dad e saté li t e, cid ad e ainda insuficientes, pois um simples exemplo
horizontal, cidade verticalizada, cidade mundial, mostra a necessidade de se buscar nov os
cidade moderna, cidade administrativa, cidade elementos para a apreensão da essência do
interiorana, cidade informal e tantos mais conteúdo do objeto a se conceituar, pois se
adjetivos que possamos agregar. assim não o fosse estaríamos considerando
m ui t as al de i as d os í ndi os d o Br asil com o
As angúst ias na d i scussão sobr e o ci dade s.
conceito de cidade diminuem quando lembramos
que embora o conceito seja um reflexo do real, Pereira (2001) ao discutir a palavra
ele é infinitamente mais pobre que o real - cidade lembra que essa palavra definida no
primeira observação - e que não há identidade Dicionário Auré lio r elaciona a i déia de
entre o conceito e o real -quarta observação – pop ulação que hab ita a cid ade à de
Convém recordar que o conceito deve refletir popul ação não agr ícol a. (Pe rei ra, 20 01 p.
aquilo que é essencial, os aspectos essenciais, 2 6 1 - 2 8 4 ) . M as, a d v e r t e q u e a i d é i a d e
as relações essenciais, enfim, a essência do cidade relacionada à idéia de população não
obj et o. N esse se nt id o, r e pe ti nd o o que agrícola é inconsistente, pois existem muitas
dissemos no início desse texto, a construção de cidades com uma porcentagem significativa
um conceito exige sempre um exercício de de população de dicad a às ati vidades
captura do que é essencial ao objeto que é agrícolas, como é o caso de muitas cidades
motivo da reflexão. brasileiras onde moram os trabalhadores do
campo, os chamados bóias-frias.
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Nos idos dos anos 60 do século XX, Max cidade a população de 2.000 habitantes, esse
Derruaux considerava que embora possa haver núm er o pode ri a de f inir cid ad es em
casos de cidades com população voltada para d et er mi nados l ug ar es e num mome nt o
as atividades agrícolas, a exemplo de várias determinado, mas em outro lugar e tempo, não.
aglomerações mediterrâneas, como Mesina, Ou seja, poderia expressar aglomerações em
Palermo ou Murcia, essas apresentam aspectos relação à população total de um país ou nação,
próprios das cidades, como mercado (local de m as p od er ia não ex pr essar a i dé ia d e
trocas) e administração pública. E, para reforçar agl om er ad o em out r os l ug ar es. Um a
sua argumentação, acrescenta que uma fábrica aglomeração de 2.000 habitantes na Holanda
com alg um as casas ao seu re dor, ond e a não tem o mesmo sentido que na Índia ou na
atividade é distante de ser agrícola, nem por C hi na, paí se s com m ai s de 1 bi lhão d e
isso constitui uma cidade. habitantes.
Por tant o, o fato da agl ome ração Na conceituação de cidade, excluindo-
sedentária conter população voltada para as se, por tanto, a idéi a que neg a a
atividades do campo não compromete o sentido incorporação da população voltada às lides
d e ci dade q ue pode e st ar pr esente no d o c am p o , b e m c o m o a d e t a m a nh o d a
aglomerado. E, indica, mais uma vez, que uma pop ulação, m antém -se as id éias de
definição da palavra originária de um dicionário agl omer ado, sed entar ismo, me rcad o e
não se confunde com o seu conceito científico, adm inist ração púb lica, que pare cem
pois é usual nos dicionários a definição de cidade constit uir r efer ências im portantes na
e st ar r el aci onad a estr it ame nt e a um a conce i tuação d e ci d ad e . A e ssas id é i as é
população não agrícola. fundamental recuperar a observação Pereira
(2001) quando diz cl aramente que muitas
Uma segunda observação de Pereira
das dificuldades na compreensão do que vem
(2001) diz respeito ao tamanho da aglomeração
a ser cidade decorre do f ato d ela ser
q ue “ pare ce ocor re r com o se dução e
e nf ocada de um a p e rspe cti v a a-hi st ór i ca.
obscure ci me nt o m ai or q uando se fala d e
Menciona que a cidade depende de formas
grandes concentrações demográficas, porque
políticas e sociais e que essas são produto
nessa maneira de falar se desconsidera que o
de determinações sociais. São essas forças
tamanho da população não desvenda fenômeno
que a caract erizam e que lhe dão
nenhum e muito menos o “gigantismo” de sua
ind ivid ualid ade. Esse aut or compar a a
complexidade social”. (Pereira: 2001, p. 269).
p al av r a ci d ad e com a p al av r a p oço p ar a
Outros autores, dentre os quais Pierre George,
ilustrar que enquanto a cidade apresenta-
Max D err uaux e M anuel Castel ls, t amb ém
se agudamente variada, segundo lugares e
desconsideram o tamanho da população na
o m omento histór ico, o poço – grande
d ef inição d e ci dade . C aste ll s r ep or ta-se
bur aco, geralmente ci rcul ar e murado,
explicitamente à Pierre George dizendo que esse
cavado na terra a fim de atingir um lençol
geógrafo mostrou as contradições insuperáveis
de água subterrâneo5 - não se altera nem
d e se d ef i ni r o ur b ano pe lo em pi ri sm o
a o l o ng o d a h i s t ó r i a e n e m s e g u n d o o s
estatístico. (Castells, 2000, p. 40).
lugare s.
Q ualq ue r cri té ri o d e tam anho d a
Isso posto, a discussão sobre o conceito
p op ul ação na conce it uação d e cid ad e nos
d e ci dade , p ar a fugi r d o pe ri g o de m ai s
p ar ece pouco f rutí fe r o. A r el ação entr e o
obscurecer do que esclarecer, requer um situar
tamanho do aglomerado não se desvincula do
na história. No caso desse trabalho, requer a
tempo histórico e dos lugares e não tem sentido
incorporação da perspectiva histórica no exame
em si mesmo como definidor de cidade. Se
do conceito de cidade referido a uma sociedade
definíssemos como condição para se conceituar
e a um território específico: o Brasil.
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Notas
1
Sobre a origem dos povoados no Brasil o texto de 6
No caso da palavra urbano se apresentar como
Aroldo de Azevedo, de 1957, intitulado Embriões adjetivo, que busca caracterizar os seres ou
de Cidades é referência obrigatória. objetos, os sentidos que podemos encontrar
2 para a palavra urbano são os de qualificar o
Definição presente no Dicionário Houaiss.
que é dotado de urbanidade ou o que é afável,
3
Em Portugal, povoado significa aldeia, lugarejo ou civilizado ou cortês. Esse é o caso da seguinte
pequena localidade com pessoas, enquanto que frase: Hoje em dia os costumes urbanos estão
povoação se refere a lugar povoado, que pode corrompidos. Mas, também a palavra urbano
se referir a pequenos agregados rurais e até às po de e st ar r efe rida a o qu e é r elat iv o ou
maiores aglomerações. pertencente à cidade, ou, ainda, ao que é
4
p r ó p r io à c id a d e , c o m o n a e x p r e s s ã o
Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, saneamento urbano. E, pode, também,
re fer ido ne sse te xto sim ple sme nte co mo expressar o caráter de cidade, como na frase:
Dicionário Houaiss. Ontem houve um grande conflito urbano.
5
Além das derivações por metonímia, o dicionário 7
Em função dos objetivos que se quer, que é de
registra regionalismo, a exemplo da palavra discutir o conceito de cidade e urbano, trataremos
urbano ser usada no Estado de São Paulo com o da relação entre o conceito e o objeto. A idéia de
sentido de soldado de polícia. Mas, não nos objeto assume os sentidos de fato, fenômeno e
ateremos a discussão de regionalismos relativos processo em função da fluência do texto, já que
às palavras em exame. O dicionário Houaiss para a discussão em pauta o assolamento das
registra também, a etimologia da palavra cidade diferenças não compromete o que se intenta.
e da palavra urbano, que será a posteriori.
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