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Analise da Montagem em “Tarnation” de Jonathan Caouette 2003

Introdução

O filme Tarnation, documentário biográfico lançado no ano 2003 nos Estados


Unidos, dirigido por Jonathan Caouette, conta a Historia de Renee uma mulher que de
forma muito trágica enfrentou enormes problemas desde sua infância , de abusos
sexuais, passando por tratamentos de eletro choque completamente equivocados, até
uma overdose de Litium.

A história se dá construída com vários materiais de arquivo, gravações sonoras,


fotos, legendas, intertítulos e também imagens novas e ficcionais.

Inicialmente vamos conhecendo Jonathan no presente, que recobra a memória


do sofrimento de sua mãe e seu próprio, quando foram separados, sua adoção pelos
avós, sua adolescência, ocupações, sexualidade e drogas, a alta de sua mãe Renee.

Renee é freqüentemente reinternada, sua mãe, avô de Jonathan tempos após um


AVC falece, Jonathan não quer mais morar em Huston, tem ambições em Nova Iorque e
se muda. Após anos precisará voltar pois sua mãe teve uma overdose.

Ele então vai tentar restabelecer vínculos afetivos, com a mãe, o pai que até
então não conhecia, tentará reconstituir a história da mãe por ela mesma e pelo avô.
Mexer no passado foi um trágico catalisador de emoções inúteis mas fetichiosas para o
filme. Após a morte do seu avô Jonathan tenta ficar definitivamente com sua mãe.

Pensar as estratégias e escolhas de montagem em um filme como Tarnation é um


desafiador exercício de analise, pois como poderia imagens tão heterogenias contar uma
história, construir uma unidade. Imagens que em muito não foram feitas para serem
montadas, imagens caseiras, as quais ainda que objetivassem algo não era a consciência
de ser montada num filme décadas depois.

A montagem então é o que transforma a força dessas imagens em potencia, as


dando significado fluxo e transformador onde a diversidade material das imagens deixa
de ser um problema para ser parte da solução de como contar essa historia, quanto maior
a heterogenia mais índices na imagem poderiam ser combinados.
Por um narrador “imparcial” em terceira pessoa, através de legendas e
intertítulos que reforçam e complementam as imagens, conhecemos logo um segundo
importante personagem, Jonathan. Percebemos instantaneamente sua fundamental
importância, já que é ele quem filma praticamente todo o tempo, e apesar de não ficar
evidenciado no filme que ele também foi quem lidou com as imagens, pois só nos
créditos finais confirmamos isso, começamos a desconfiar que o filme é biográfico...
mesmo assim acreditamos que Jonathan como personagem o o próprio materialidade
das imagens talvés jamais pudesse ser destituído seu caráter biográfico mesmo que
dirigido e editado por outras pessoas.

Usos da Montagem e suas Instâncias de significação

A abertura do filme possuí uma importância capital para constituição do filme e


sustentação de sua tese, que julgo ser contar uma história melodramática com material
caseiro aos moldes do melodrama. Seguindo a narrativa clássica do cinema ficcional no
que se refere a constituição de curvas dramáticas, apresentação de personagens,
abordagem de conflitos, é extraordinária a forma como Tarnation da conta dessa
apropriação formal da ficção dentro do documentário e a abertura exemplifica bem essa
sagacidade no filme.

Conduzida por uma musica envolvente e dramática a seqüência documental de


abertura estabelece logo nos dois primeiro planos uma pequena dicotomia. O primeiro
mostra em imagem de cores fortes e saturada Renee cantando sorridente uma música de
igreja e na segunda se inicia a trilha sonora suave e sombria, em câmera lenta ela
inquieta de um lado para o outro com os cabelos atrapalhados e comportamento gestual
obsessivo, ela toca o rosto, seu nome aparece na tela.

Segue na abertura a apresentação das personagens por créditos e imagens em


câmera lenta das mesmas, peculiar verificar algumas imagens dessa abertura irão se
repetir, constituindo assim claramente como um flash forward. O nome do filme aparece
com um fundo preto e riscos que rasgam a tela, um suave barulho de chuva se soma na
significação de que esses riscos são chuva.

As rápidas imagens de estrada pela janela de um veículo, antecedidas ou


sucedidas por estas imagens em câmera lenta acentuam a ansiedade dessa abertura, a
saturação das cores vai se afirmando num constante como qualidade estética
unificadora. Tradicional em documentários e na linguagem de vídeo clipe os jamp cuts
já se naturalizam nestes primeiros minutos como artifício de ritmo e constituição de
pequenas elipses. A heterogenia das imagens de Renee aumenta com o correr da
abertura trabalhando a memória do expectador para aquela que é a protagonista do
filme.

Após essa sintética apresentação creditada das personagens um plano de uma


névoa atravessando a escuridão e a cartela dizendo “Nova Iorque, Março de 2002” avisa
o espectador, juntamente com uma trilha de suspense, que agora é pra valer, o filme vai
começar. Didaticamente constitui pela cartela a conscientização do tempo fazendo
possível e claro a montagem por flash forward.

Tipos e Funções Dramática

O filme, como já mencionado se constitui de uma enorme heterogenia de


imagens, onde basicamente identificamos quatro tipos, o primeiro são imagens
documentais “caseiras conscientes”, o segundo são imagens documentais “caseiras
inconscientes”, o terceiro tipo são de imagens fotográficas de arquivo pessoal, e o
quarto de imagens ficcionais. A montagem se vale inescrupulosamente da misturas
destas com a obstinada finalidade de contar uma história eloqüente do ponto de vista
retórico e constitutivo do gênero melodramático.

Sendo assim seguiremos por analisar as funções dramáticas momentos


importantes do filme, respiros, curvas dramáticas, narratividade, discurso e desnarração
tentando localizar o quatro tipos de imagens proposto acima e investigando como essas
imagens através da montagem estabelece tal discurso.

E cena em que Jonathan recebe a notícia que sua mãe teve um overdose de
Litium, começa pelo que chamamos de “imagens documentais caseiras conscientes”,
são imagens voyer em que umas denunciam mais que as outras e que como conjunto
montado não deixam duvidas, como quanto Jonathan no banho olha para dentro da
câmera a colocando seguida de um plano dele no espelho, dotando a imagem anterior,
por mais que ele olhe dentro da câmera, de um caratês de Plano Ponto de Vista, e mexe
na mesma

(Aprofundar Tipos e funções dramáticas)


Análise Plano a Plano

A análise se dará dos 00:13:50 ao 00:18:51 a que julgamos reunir de forma


sintética as principais estratégias e tipos de imagens existentes na heterogenia do filme.

P1 – Plano Americano de duas crianças (um garoto e uma criança menor) num quarto a
câmera se move é há um bebe deitado.

P2 – Garoto dança para a câmera em Plano Médio.

P3 – Close de outra criança intimidade, câmera move enquadrando esta criança menor e
o outro Garoto maior, mostra ele a abraçando e tentando interagir.

P4 – Rosto da Criança menor.

P5 – Rosto de criança chorando, plano Ponto de Vista de um adulto que estende a mão
para que o garoto se levante.

P6 – Foto de Jonathan criança usando uma peruca.

P7 – Foto de Jonathan criança usando um chapéu de sol feminino.

P8 – Foto de Renee Jovem

P9 – Foto de Mulher de pé no gramado em frente a uma casa.

P10 – Foto de uma jovem num quintal gramado.

P11 – Foto p&b de uma mulher em frente a um sofá.

P11 – Foto em Primeiro Plano de Renee, cabelos ao vento olhar tênue no horizonte, um
efeito multiplica essas fotos repetidamente na tela em zoom out.

P12 (foto de cabine), 13(tela preta),14 (imagem de ficção), 15 (foto da Avó) – Duas
fotos p&b em primeiro plano, lado a lado, piscam intercaladas com uma tela preta
(P13), uma delas bem conservada em que Renee tampa os ouvidos de Jonathan e
fazendo um semblante espantado, a outra amassada, rasgada, assim como a primeira ao
que parece ser uma cabine de fotos, ela sorri e Jonathan também. O piscar intercalado
com o preto e que tinha sido catalisado por um som de maquina fotográfica, tem o preto
substituído por uma imagem em movimento bastante dramática (P14) de uma mulher
atrás de um vidro com o que parece ser chuva caindo sobre ela, a mulher esta
desesperada, a montagem então intercala ainda um 15º plano que é uma foto da avó,
fazendo com estes 4 planos diferente uma rítmica com a trilha sonora.

P16 – Foto do Bebe Jonathan.

P17 – Foto do Avô com Jonathan.

P18 – Imagem de Renee, as cores e o efeito de espelhamento levanto desconfiança


sobre o caráter fotográfico, podendo ser um frame de vídeo ou uma foto
performadamente alterada. Um elemento de continuidade é estabelecido com esta, as
imagens anteriores e as seqüentes deste momento, onde as imagens “fotográficas” tem
um filtro e efeito de movimento das ranhuras de uma película antiga, manipulada
digitalmente.

P19 – Foto Bebê Jonathan sentado no chão.

P20 – Foto Bebê Jonathan acaricia rosto do avô.

P21 – Foto de Renee com Jonathan no colo.

P22 – Quatro fotos repetidas dos avos na tela e efeito de Zoom In até que apena uma
ocupe toda a tela.

P23 – Foto de Bebê Jonathan ficando de pé.

P24 – Foto de Bebê Jonathan dentro de um berço, sorrindo.

P25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42 43 – Foto de Bebê
Jonathan deitado numa cama, a partir desta foto os outros planos se aceleração podendo
inclusive ser apena um quadro da montagem. P26 – Foto de Bebê Jonathan sentado. P27
– Foto de Bebê Jonathan come papinha. P28 – Foto de Bebê Jonathan sentado no
carrinho, P29 – Foto de estúdio de Bebê Jonathan gargalhando. P30 – Foto de estúdio
de Bebê Jonathan gargalhando e segurando um telefone. P31 – Foto de Bebê Jonathan
sentado em um pano por cima da grama. P32 – mesma foto anterior de um ângulo e
enquadramento diferente. P33 – Foto de Bebê Jonathan agora um pouco maior sentado
na grama. P34 – Foto de Bebê Jonathan um pouco maior de pé. P35 – Foto não
identificável, mas parece uma criança de vestido. P36 – Foto não identificável, mas
parece um homem com uma criança no colo. P37 – Foto não identificável de uma
criança sentada. P38 – Foto não identificável de uma mulher e uma criança. P39 – Foto
não identificável de uma criança. P40, 41, 42 e 43 – Fotos muito abstratas. A montagem
trabalha esquematizando as imagens vezes multiplicadas na tela com efeito de zoom in
ou zoom out, vezes usa somente a imagem ocupando toda a tela, vezes trabalha com
saturação de cor e distorções tudo isso ritmado ao som do tic-tac de um relógio e uma
gravação distorcida, invertida, repedida de um som “qualquer” de alguém falando.

P44- Foto de Bebê Jonathan ainda maior e de cabelos grandes.

P45, 46, 47 – Cartela de fundo preto com os títulos “Renee permaneceu no Hospital
Estadual de Austin de 1977 a 1980, acompanhado de ruídos super baixos, quase silêncio
total.

P48 – Primeiríssimo Plano de uma boca em que é colocado uma espécie de “protetor
dos dentes” para “tratamentos de choque”, a imagem acontece em câmera lenta e ainda
sob quase total silêncio.

P49, 50, 51, 52, 53,54 – Foto de rosto de René acontece fade out to withe. P50 - Foto de
Renee com seu bebê no colo, esta imagem vai se distorcendo e saturando as cores, os
sons também são distorcidos e a lógica rítmica com a trilha se mantém. P51 – Plano de
detalhe da boca com o “protetor de dentes” e a pessoa tremendo. A montagem reveza
entre estes planos. P 52 – Mais fotos de cabine de Renee e seu filho Jonathan. P 53 –
Imagem não identificada em espelhamento. P 54 – Idem P12. A imagem acelera,
intercalando também estes últimos planos, fade to black.

P55 – Primeiro Plano de Jonathan adolescente, vestido de mulher, ele conta em primeira
pessoa uma trágica história de violência domestica. Corte seco para preto.

Considerações Finais

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