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TBOP

A fundamental característica da TBOP (Terapia Breve de Orientação Psicanalítica)


é fato de que ela trabalha com um foco definido e um tempo limitado. O setting
fundamenta-se na técnica tradicional, standart, porém com características próprias
quanto aos procedimentos.

• Fundamentos básicos e o problema dos limites

• Entrevista inicial e a determinação do foco

• Hipótese psicodinâmica

• Manejo clínico

• Análise dos resultados e término da terapia

FUNDAMENTOS BÁSICOS E O PROBLEMA DOS LIMITES

Segundo Gillieron (2004), “o fator determinante da natureza de cada intervenção terapêutica


deve ser principalmente a apreciação do tratamento mais adequado às necessidades específicas
de cada paciente.

Nos fundamentos de forma geral segue-se a perspectiva da terapia “standard “ com diferenças
em alguns procedimentos.

a) O analista deve estar atento a conduzir o discurso do paciente dentro dos limites do foco
pré acordado entre ambos na entrevista inicial. Na terapia standard o discurso poderá receber
contribuições da técnica ativa, aqui na TPOP praticamente deve-se utilizar a técnica para garantir
o foco e buscar informações que agilizem o processo. A livre associação é permitida dentro do
foco.

b) Quanto às interpretações (utilizadas com cuidado), devem ser dadas aquelas que têm a ver
com o foco , buscadas na transferência e na extra-transferência. Autores, como Braier (2000)
afirmam que o recurso da extra-transferência serve de suporte na garantia da interpretação,
porém quanto mais a interpretação for direcionada à transferência maior eficácia
proporcionará . Destaca-se também que o analista deve ter a capacidade de compreender o
paciente e ter segurança na sua interpretação, bem como capacidade de organizar um plano
terapêutico circunscrito.

c) A base teórica do analista, na TBOP, exige capacidade de raciocínio mais rápido visto que não
há tanto tempo disponível para inferir a transferência e fazer a interpretação . Aconselha-se
que o analista iniciante na TBOP se utilize da base teórica Freudiana ,isto é que “ os problemas
psicológicos do paciente e os conflitos subjacentes, que devem ser resolvidos ao longo da
psicoterapia, devem ser de natureza edipiana ou triangular. Isso implica que as dificuldades
encontradas pelo paciente tenham surgido durante a sua infância e comportem um amor pelo
genitor do mesmo sexo, que o impede de entrar em competição com ele, na busca do afeto do
genitor de sexo oposto. As queixas que disso resultam são apresentadas, pelo paciente, como
dificuldades interpessoais bem delimitadas, ou como sintomas bem específicos"
(LOWENKRON,2006).
d) Outra diferença entre as duas terapias é que na TPOP o “insight” se dá na terapia mas a
“elaboração “ acontece fora da terapia podendo se alongar por dois a três anos .Por que
teoricamente o “insight” é um instante em que surge uma compreensão onde “tudo muda”,
ou “a perspectiva muda”, ou “tudo se re-encaixa”. Já a “elaboração” é o tempo que o psiquismo
precisa para se “readaptar” e pode demorar horas, dias ou anos, independente se está ou não
ainda no processo de análise.

e) Alexandre Escaples postula que a terapia é breve mas o acolhimento não ! Isto quer indicar
que empatia , compaixão , dedicação devem estar presentes com a mesma intensidade que
na terapia tradicional . Em ambas o paciente precisa se sentir acolhido, respeitado e ouvido na
sua condição de sofredor como se a sua frente houvesse uma testemunha das experiências de
sofrimento que vem enfrentando.

ENTREVISTA INICIAL E DETERMINAÇÃO DO FOCO

As entrevistas

Uma boa entrevista inicial é garantia de grande parte do sucesso do tratamento ,


lembrando que “entrevista inicial “ não significa que deva ser feita completamente na
primeira sessão. Não se trata de um interrogatório monótono e técnico, mas de uma escuta
(BERGERET , 2006). O paciente deve ser deixado à vontade, inicialmente, para falar de seu
sofrimento, e aos poucos direciona-lo dentro do foco. A duração pode ir de alguns minutos (mas
podendo-se repetir as entrevistas, quando a angústia é muito acentuada e parece insuperável)
há uma hora, mas não convém jamais ultrapassar esse limite.

Não se pode esquecer a importância, para o analista, de observar, além do conteúdo


falado, o modo de expressão verbal, o nível de evolução afetiva, o grau de adaptação às
realidades, a densidade do discurso, a flexibilidade ou rigidez da atitude, os silêncios, entre
outros.

Após este primeiro contato o analista procura investigar o que não foi dito
espontaneamente e que precisa saber, sem todavia submeter o paciente a questões invasivas e
constrangedoras logo na primeira sessão.

Pouco a pouco, enquanto se desenvolve essa entrevista (ou em entrevistas sucessivas),


o sujeito não vai mais poder jogar com a situação de maneira a mascarar seu personagem
profundo. Se todas as precauções requeridas são respeitadas pelo analista, o paciente “ vai
achar-se progressiva e automaticamente levado a viver aqui seu modo de relação, com suas
angústias e frustrações, suas cóleras e reivindicações. A estrutura profunda não pode senão pôr-
se lentamente em evidência, diante daquele que sabe esperar, escutar, não impor nada, aceitar
tudo sem reação seletiva (ibidem).

Os estudos (BRAIER , 2000) apontam que as principais finalidades de tais entrevistas


são:

. O estabelecimento da relação terapêutica;

. A elaboração da história clínica;


. A avaliação diagnóstica e prognóstica;

. A devolução diagnóstico-prognóstica;

. O contrato sobre metas terapêuticas e duração do tratamento;

. A explicitação do método de trabalho e a fixação das demais normas contratuais.

Quanto ao número de entrevistas a se realizar é variável em cada caso, na medida do


que for necessário para atingir os fins enunciados

O entrevistador, na TBOP assume conscientemente um papel ativo, dirigindo os diversos


momentos das entrevistas em função dos objetivos desta fase do procedimento,
essencialmente diagnóstica e contratual. Formulará perguntas, fornecerá informações.

Crise

Durante as primeiras sessões, é importante estabelecer se o cliente está, ou não, em


crise. As etapas e os acontecimentos da vida, potencialmente geradores de crise, como
adolescência, meia idade, casamento, separação, desemprego, promoção etc. não levam
obrigatoriamente a pessoa à crise. Estar angustiado ou deprimido não é sinônimo de crise. A
crise20, aqui entendida como ruptura de sentido de vida, produz um corte na subjetividade do
sujeito, um contato privilegiado com seus conteúdos inconscientes.

O sujeito em crise questiona seus valores, suas relações afetivas, seus hábitos. Para
saber se há crise, é preciso conhecer o estilo de vida do paciente e, para tanto, perguntas sobre
sua maneira de viver são necessárias: como é seu cotidiano, seu trabalho e sua vida conjugal,
quem são seus amigos e quais são seus interesses, suas leituras e suas preferências musicais, o
que vê no cinema e na televisão, por exemplo. Na crise21, muitos desses itens são questionados
porque seu sentido de vida se modifica.

O sujeito em crise vai exigir uma PB mais longa, que o auxilie em sua travessia. Uma PB
de um ano, nesses casos, pode ser indicada. Considerando que a maioria das psicoterapias não
chega a um ano de vida, este espaço de tempo parecer razoável.

Muitas pessoas chegam à consulta à beira da crise e cabe ao terapeuta avaliar se há


condições para atravessá-la, levando-se em conta a motivação para mudança, a força do ego e
a capacidade de insight. Em casos graves, restaurar o equilíbrio anterior será mais prudente.

O foco e sua determinação

Na psicoterapia breve o foco indica a direção e o fio condutor do trabalho


psicoterapêutico. É o sinal indicativo para a terapia. O conflito focal contém um conflito pré-
consciente e superficial que explica a maior parte do material clínico. “Em princípio, o foco não
deveria apenas permitir uma compreensão psicológica da situação desencadeadora, mas
deveria também incluir os acontecimentos traumáticos da biografia do sujeito que fazem com
que a dificuldade interna atual surja como repetição de um conflito infantil. É preciso ressaltar
que os detalhes e as raízes biográficas dos distúrbios geralmente só se esclarecem durante a
terapia breve ou já no seu final.” (GILLIERON ,2004)
Depois de estabelecer o foco , é importante conhecer qual a interpretação que o
paciente dá a seus sintomas. Quase todos os pacientes criam, para si mesmos, uma explicação
sobre a origem de seus problemas. Essa concepção pessoal esclarece consideravelmente o
analista a respeito do grau da capacidade de introspecção e de defesa do conflito inconsciente.

Gillieron (2004) nos orienta que embora a formulação precoce do foco, feita já nas
primeiras entrevistas, seja decisiva na psicoterapia breve, a formulação interior é
constantemente completada, tornando-se precisa e ampliada durante o tratamento. Aspectos
menos claros no começo ganham importância posteriormente.

HIPÓTESES PSICODINÂMICAS

A(s) hipótese(s) psicodinâmica(s) se referem a elaboração do psicanalista a respeito do


que pode estar acontecendo com o paciente , a respeito do que lhe está causando sofrimento
. É a teoria do analista sobre o conflito psíquico de seu paciente. Para elaborar sua hipótese
psicodinâmica o analista deve estar atento às seguintes questões : qual o desejo que está
reprimido e que não consegue ser realizado ; qual a ansiedade envolvida; onde está a objeto
bom e o objeto mau ; qual a verdade que não consegue ser conhecida ou sustentada; qual é
o padrão de repetição; existe algo que não foi dito e por que. O analista percorre os pontos
levantados na entrevista e é bom que fique atento à contratransferência como sinal de alerta e
de comunicação. Tanto quanto a determinação do foco, a hipótese psicodinâmica também vai
sofrendo confirmações, modificações, acréscimos e negações. Com a prática, porém a escuta
analítica se aperfeiçoa e a hipótese sofre menos possibilidades de alterações. O MANEJO
CLINICO do terapeuta deve ter presente a seguintes considerações técnicas indicadas por
Gillieron (2004):

- chegar a uma hipótese psicodinâmica, com base nos sinais percebidos na história do paciente
durante as entrevistas que explique a natureza do problema psicológico;

- esboçar, para cada paciente, os critérios que permitam atingir um resultado satisfatório do
tratamento;

- manter-se sempre dentro de um "foco" terapêutico;

- utilizar confrontações, esclarecimentos e questões que provoquem ansiedade (DEPENDENDO


DO PACIENTE) para motivar a introspecção do mesmo;

- examinar a transferência positiva preponderante, para criticar os laços transferenciais


parentais precoces, durante a primeira parte da terapia, de modo a criar uma atmosfera onde
possam instaurar-se uma aprendizagem e uma experiência emocional corretiva;

- evitar ativamente traços de caráter como a dependência, a tendência passiva, a tendência de


agir impulsivamente, usadas defensivamente pelo paciente para evitar a angústia;

- ensinar sistematicamente as técnicas de resolução de problemas, as quais o paciente deve


aprender;

- terminar precocemente a terapia, logo após a obtenção de sinais claros de resolução atual do
problema psicológico inicialmente definido (Depende de cada caso)

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS E TÉRMINO DA TERAPIA

A Avaliação
A avaliação dos resultados terapêuticos nas terapias breves tem por finalidade
primordial verificar se estão sendo cumpridos os objetivos fixados. (BRAIER, 2000).

É mediante a avaliação dos resultados que será possível recolocar a situação do paciente
e determinar os passos a serem seguidos a partir desse momento.

Braier (2000) destaca a conveniência de que a tarefa avaliatória não fique


exclusivamente a cargo do terapeuta, mas que haja participação ativa do paciente. Isso
permitirá que a apreciação dos resultados seja enriquecida e possa na maioria das vezes
aproximar-se mais da realidade A avaliação conjunta deixa no paciente a impressão de que se
levou a cabo uma tarefa em comum, a qual tem assim um encerramento cuidadoso, planejado,
no qual se aprecia sua opinião. Este último passo inclui a confirmação, por parte do paciente, de
suas impressões a respeito dos progressos obtidos, sendo estas ratificadas pelo julgamento do
terapeuta, criando-lhe uma sensação de reasseguramento.

A avaliação é, dentro do possível, anunciada e ajustada de antemão com o paciente ao


efetuar-se o contrato terapêutico; explica-se quais são seus motivos, como se fará e quais serão
as datas de realização das entrevistas de avaliação .

O término

“Apesar de tristes por terminarem um processo que lhes deu segurança e uma relação
com alguém que lhes é querido, eles invariavelmente chegam a um ponto onde a conclusão
lógica é a de que pouco mais resta a fazer.”(GILLIERON , 2004).

Existem duas atitudes relativas ao fim de uma terapia breve: ou se estabelece desde o
princípio um número definido de sessões, ou se deixa em aberto desde o início a duração do
tratamento sem determinar um final para o mesmo. No final da terapia, autores aconselham
fazer, conforme citado anteriormente, com o paciente, um balanço do que foi e do que não foi
conseguido. Em geral, é útil para o paciente chamar-lhe a atenção para a possibilidade de
recaídas depois da terapia. Em que em toda evolução existem fases regressivas. A cura é um
movimento de idas e vindas em que existem fases com características próprias de dificuldades
de superação, situações mais difíceis de serem enfrentadas, aparentando comportamentos
desorganizados ou de piora. É como se o paciente, nessas regressões, se refugiasse em períodos
anteriores onde se sentia mais seguro e confortável (MALDONADO ,2002).

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