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música popular
brasileira, parte 2 –
Contexto histórico
A música é uma das diversas manifestações culturais de um povo.
Nela se expressam muitos pontos relevantes de uma determinada
localidade, seja um vilarejo ou um país. Abordei no artigo A pior
geração da música popular brasileira algumas observações
minhas sobre a atual condição da geração de músicos dos
gêneros funk e sertanejo universitário. O tópico recebeu muitas
visitas e fiquei inspirado a fazer outro, parte dois,
complementando aquele.
O Brasil sofreu um golpe militar em 1964 e muitas músicas, a
partir de então foram censuradas, pois peitavam o poder militar.
Não quero aqui entrar nas profundezas dos porquês que
causaram o golpe, mas uma coisa é certa: vários artistas, se não
for a totalidade deles, abraçaram o socialismo como ideologia
política (economia e social por tabela também). Quem nunca
ouviu as famosas músicas de Geraldo Vandré, Pra não dizer que
não falei das flores (aqui) ou de Chico Buarque, Cálice (aqui)? A
primeira é um hino convocando o povo brasileiro a lutar contra o
regime militar, armado ou não. A segunda é um trocadilho infame
muito bem construído. Não afirmo que os artistas tinham uma
carteirinha de um partido ou de um movimento, mas sim que o
ambiente vivido os fez pelo menos simpatizarem com o
socialismo, pois essa ideologia era a inimiga do militarismo.
Portanto, o momento da época era esse: de um lado o socialismo,
uma ideologia crescente no mundo inteiro tendo como fonte
principal a extinta União Soviética e Cuba como antena
repetidora na América Latina. No outro canto os militares tachados
de elite direitista, conservadora e religiosa. Logo, o cenário
musical era inspirado nesse confronto. As duas músicas citadas
anteriormente são clássicos que perduram até hoje.
Vem então a segunda geração de músicos inspirados por esse
confronto (mas não tão forte): o rock nacional dos anos 1980,
encabeçados por Cazuza e Legião Urbana. O carioca cantou:
Brasil! Mostra tua cara, Quero ver quem paga, Pra gente ficar
assim Brasil! Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia
em mim. (veja aqui). Renato Russo cantou (cito novamente) “Que
pais é esse?” (veja aqui). Nesse momento o Brasil vivia uma fase
de transição: da ditadura militar para a democracia plena. Depois
de mais de vinte anos de poder concentrado nas mãos dos
militares, fica muito difícil manter o ego sob controle e evitar
desmandos de todo tipo. Não é a toa que esse é a uma das
maiores propostas da democracia: o rodízio do poder para não
haver concentração dele. Essas músicas retratam o país entregue
à democracia: aos frangalhos.
A democracia se instala. Cazuza e Renato Russo morrem do
mesmo mal e com eles se vão as inspirações para canções dos
males do Brasil. Paralamas do Sucesso, Capital Inicial e Ira!
ainda tentam dar um gás nesse rebeldia, mas são poucos os
surtos. As canções politizadas arrebatadoras de públicos dão
lugar às hilárias dos Mamonas Assassinas. Vejo neles uma
espécie de marco da música brasileira nos anos 1990. Músicas
engraçadas, de ritmo envolvente e infantis não tinham nenhum
outra idéia a não ser divertir as multidões. A “qualidade política”
nas músicas decaiu desde então e um dos últimos cantores que
abordaram o tema foi Gabriel, O Pensador com “Até Quando?”
(aqui), mas mesmo assim feio de coisas do tipo “a polícia matou o
estudante” ou “você tem muita greve pra fazer”.
A pergunta que não calar então é? Por que a música brasileira
vive o péssimo momento de hoje? Não havendo mais aquele
velho confronto ideológico e com o socialismo vencendo, as
inspirações acabaram. Resta agora somente se manter no poder.
E para ficar nele é preciso acalmar as massas para que elas não
vejam os enormes desmandos que agora são feitos pelo
socialismo.
O que pouca gente percebe é que aquele socialismo abraçado lá
nos anos 1960 e 1970 pelos artistas trazia consigo outros ventos,
dentre eles o materialismo, corrente filosófica que dá valor
somente ao material ou àquilo que é perceptível aos cinco
sentidos humanos. Do materialismo extraímos duas coisas que
são muito perceptíveis aos nossos sentidos: bens materiais e
sexo. Com a democracia instalada a força-motriz do socialismo,
que é a luta de classes, terminou. Não há mais pelo o que lutar.
O poder foi conquistado. Dos anos 1970 para cá, há uma maior
oferta de empregos e mais tecnologia, o que favorece um maior
conforto às pessoas. Então para que elas não vejam os vários
desmandos, domesticam-se as massas através de sexo e bens
materiais. E é nisso que começamos achar uma resposta para a
nossa pergunta.
A música sendo um reflexo da sociedade cantará aquilo que a
sociedade vive. Se não vivemos mais um confronto ideológico de
militares contra socialistas, se possuímos uma maior oferta de
emprego e tecnologia, se estamos alienados pelo poder
dominante para que não vejamos as diversas irregularidades,
naturalmente cantaremos músicas sobre sexo e bens materiais.
Nisso encontro uma resposta de porque alguém fica feliz em
receber uma herança do pai e agora pode comprar um Camaro
amarelo para poder transar com aquela garota que esnobava o
cantor quanto ele tinha apenas uma simples motocicleta. Nisso
encontro uma resposta do porque alguém canta Ai se eu te pego,
se eu te pego, se eu te pego ou Chego cheio de maldade, quero
ouvir você gemer. A inspiração para a música é (em boa parte)
sexo e bens materiais, pois é isso o que (boa parte) das pessoas
almejam quando agora vivendo nesse “zona de conforto (ou
comodismo)”, sem as lutas de classes.
Não incluo aqui em maiores pormenores os benefícios da
educação, pois é ela quem liberta o ser humano da ignorância.
Todos nós sabemos que a educação no Brasil vai de mal a pior,
se incluirmos essa variante no processo a coisa só piora. Retira-
se a intelectualidade humana, restam somente os instintos
primitivos, tais como caçar os alimentos, comer, beber, defecar e
transar. Não precisamos caçar, dispomos de dinheiro para obter
alimentos e bens materiais, esses que por consequência
agradarão os parceiros(as) na hora de impressionar e conseguir
uma transa. É uma visão fria, mas é assim que eles veem as
coisas, pois não dão valor ao que é espiritual.
Então concluímos porque a música brasileira vive esse horrendo
momento de musicas que exaltam sexo e bens materiais: é
porque estamos alienados pela cultura superior, que um dia
venceu uma batalha ideológica, que não quer que vejamos os
diversos desmandos em nosso país e que atiça em nossos corpos
sentimentos primitivos: sexo e bens (materiais no caso). Se
vivemos esse ciclo, naturalmente os artistas cantores exaltaram
aquilo que nós vivenciamos. E esse ciclo auto se sustenta.
A próxima pergunta é: para aonde estamos indo? Continuaremos
na roda de bens materiais e sexo? Será que o ser humano não
estrará em conflito consigo mesmo no momento em que se
esvaziar totalmente da essência humana, como já dizia Tomás de
Aquino? É clichê, mas serve para o caso: quem viver verá.
Aqueles que desejam sair dessa redoma viciosa procurem na
filosofia os grandes pensadores que exaltaram a alma humana.
Procurem o Salvador.
Atividade
01. Sobre qual país você acha que a música esta fala? Teriam outros países
assim?
02.
03. Levando-se em conta a corrupção na Política Brasileira qual é a sua
análise ou interpretação para a música?
que tipo de sujeira você acha que a música “Que país é
03- A
esse” se refere?
04- Interprete o trecho dam música:
“Na morte o meu descanso,
Mas o sangue anda solto
Manchando os papéis e documentos fiéis’
Ao descanso do patrão”
5) Releia o seguinte trecho da música:
“Terceiro mundo, se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão”
a) Elabore um parágrafo, que trate dos problemas desse país
em desenvolvimento, apontando algumas soluções.
FIM
Bom galera, vimos, com a análise de “Que país é este”, de que forma
tanto a letra como a música compõem um ambiente de esperança
perdida, de miséria, de revolta, por meio de suas guitarras
estridentes, de sua bateria insistente que marca o bate-estaca do
rock, do vocal agressivo e de colocações irônicas e sarcásticas. E que o
Brasil das canções de Renato Russo, em especial as do terceiro disco,
é representado como uma falácia total da esperança, ao contrário do
que o artista procurava passar ao público nas entrevistas e nos shows.