Você está na página 1de 42

FACULDADE ALDEIA DE CARAPICUÍBA

NILVA BATISTA RODRIGUES TAMANAHA

A importância dos contos de fadas na educação infantil: Porque


contar histórias?

São Bernardo do Campo

2012
2

FACULDADE ALDEIA DE CARAPICUÍBA

NILVA BATISTA RODRIGUES TAMANAHA

A importância dos contos de fadas na educação infantil: Porque


contar histórias?

Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado como exigência do
curso de Pós-Graduação para a
obtenção de titulo de Especialista em
Educação Infantil sob orientação da
Professora Orientadora Amarilys
Adriana Balada Galarce.

São Bernardo do Campo

2012
3

A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NA EDUCAÇÃO


INFANTIL: POR QUE CONTAR HISTÓRIAS

NILVA BATISTA RODRIGUES TAMANAHA

APROVADA EM ____/______/_____

BANCA EXAMINADORA

Profª. AMARYLIS ADRIANA BALADA GALARCE

COODERNADOR (a)

Profº JOÃO TOMAZ DE OLIVEIRA

PROFESSOR

Profº. Ms. ________________________________

SUPLENTE
4

EPÍGRAFE

“Contos de fada não dizem às


crianças que dragões existem.
Crianças já sabem que dragões
existem. Contos de fada dizem às
crianças que dragões podem ser
mortos.”
Gilbert Chesterton
5

AGRADECIMENTOS

Primeiramente ao Pai Maior por


ter sido a força motriz em todos os
momentos de minha vida, minha luz e
meu farol. Ao meu amado esposo por
toda a força que me dá em todos os
momentos de troca e entendimento da
minha ausência, aos amigos que me
ajudaram na construção deste trabalho
indicando nomes de autores
emprestando livros em especial a
Eliade Roberto contadora de histórias
que me emprestou parte de seu
acervo, a minha amada mãe que vive
de suas memórias, aos meus filhos e
neto, aos meus professores e a todos
que acharam que esse caminho era
pesado demais para mim e não
quiseram partilha-lo comigo, dizendo
que era muito difícil, que eu não
conseguiria, essas coisa, aqui estou, só
posso dizer que eu o trilhei e não sei
onde vocês estão, mas agradeço a
força das palavras que reverti para o
meu bem.

Nilva
6

DEDICATÓRIA

Em meus estudos li que um bom contador de histórias vive de suas


memórias, que ele conta o que vive que narra o que sente até
mesmo seus medos, agradeço então a pessoa que me conta todos
os dias como é a força de vencer o medo, a dor, a angustia de
esquecer, o medo de não saber, entre panos e tapumes a história
da minha contadora vai se perdendo, vai se apagando pouco a
pouco por algo que ninguém tem explicação, pode ser um medo
pode ser... Pode ser...

Só um nome a leva de mim, um nome a apaga e só a mão que


tenho a afaga e a aproxima...

Dedico este trabalho como devo dedicar minha vida, minha história,
minha carreira e minhas vitórias a minha mãe, que está tendo sua
memória devorada pelo mal...

Mal que aos poucos a toma de mim, a leva de nós e a toma só para
ele guardando em um tempo que só os dois podem ficar no tempo
das histórias... No tempo do era uma vez.

Obrigada minha mãe.


7

Resumo

A Literatura Infantil é imprescindível na aprendizagem, contribuindo no


desenvolvimento cognitivo, físico e social. A contação de histórias é um forte
instrumento para a construção do conhecimento, sendo um dos meios mais
antigos de interação humana e por meio de histórias, temos a oportunidade de
nossos alunos se tornarem leitores assíduos e competentes linguisticamente.
Há um despertar para o mundo da leitura, aprendizagem significativa e ao
mesmo tempo prazerosa, sendo valiosa para uma vida toda. A importância dos
contos no processo de aprendizagem na infância, também é de trabalhar o
medo de forma tranqüila e equilibrada proporcionando encantamento,
comovendo e estimulando seus sentimentos, construindo e reconstruindo suas
representações; a fantasia tão necessária na busca do bem-estar; outro
benefício tão importante quanto os demais é despertar o gosto pela leitura. A
contação de histórias favorece e auxilia pedagogicamente o desenvolvimento
infantil; o aluno confia no conto, pois vem de acordo com os padrões e
princípios de seu pensamento.

Palavras-chave: Aluno, Leitura, Literatura, Histórias.


8

ABSTRACT

Children's literature is one of the most important instruments at learning and it


contributes to the cognitive, physical and social skills and development. Telling
stories is important to build knowledge, being one of the oldest ways on human
interaction and by stories and tales; we have the opportunity to let our students
with an amazing linguistics skill. There is an awakening to the reading world,
learning means at the same time something pleasurable, and something
valuable for a lifetime. The main things about telling tales and stories, and the
process of learning when they live their childhood is also to work with their fear
in a soft and balanced way. Is also enchanting, moving and stimulating their
feelings. They can build their representations; fantasy is as needed as in the
search of their well-being; another positive reaction at reading and books.
Telling stories can help children's development; the students trust in books, in
what's told them because it's an agreement to what they believe and their
thoughts.

Key words: Student, Reading, Literature and stories


9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO


INFANTIL: PORQUE CONTAR
HISTÓRIAS?............................

OBJETIVO 12
GERAL......................................................................

OBJETIVOS 13
ESPECIFICOS........................................................

METODOLOGIA DE 14
PESQUISA.................................................

CAPÍTULO I – A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE 17


FADAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL...............................

CAPITULO II – BREVE HISTÓRICO DA LITERATURA 26


INFANTIL NO
BRASIL...............................................................

CAPITULO III – HISTÓRIAS COMO AUXILIARES E 35


INCENTIVADORAS DA ALFABETIZAÇÃO E DA
LEITURA.....................

CONSIDERAÇÕES 40
FINAIS..........................................................
REFERÊNCIAS 41
BIBLIOGRÁFICAS..........................................
10

INTRODUÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


PORQUE CONTAR HISTÓRIAS?

"Se você quer que seu filho seja brilhante, conte a ele conto de fadas. Se você
o quer muito brilhante, conte a ele ainda mais contos de fadas.”

Essa frase dita por um professor soaria como uma frase dita por quem quer
criar um leitor ávido, mas quando descobrimos que o autor é alguém como
Albert Einstein devemos parar para pensar se estamos dando devido valor aos
contos de fadas na educação.

Outra frase que devemos levar em consideração quando falamos da


necessidade dos contos de fadas na educação infantil é esta:

"Contos de fada são a pura verdade: não porque nos contam que os dragões
existem, mas porque nos contam que eles podem ser vencidos."

Os contos servem para que as crianças criem alicerces sólidos com os quais
enfrentarão um arsenal de problemas emocionais e sociais em todas as outras
fases de sua vida e tudo isso se dá na educação infantil.

A importância dos contos, portanto é vital para que todos os medos sejam
suplantados e as fases superadas de forma tranquila e equilibrada criando um
individuo sadio e quiçá apto ao convívio social, embora não seja só a educação
forma que garanta esse processo e ela esteja de braços dados a todos os
contingentes que cercam a criança ela pode ao menos em sua historia escolar
garantir a tranquilidade desse percurso.

Bettelheim nos mostra que os contos são fantásticos, pois arremessam as


crianças a um mundo fabuloso e o traz de volta mostrando que sonhar é
possível, mas que não devemos sonhar o tempo todo, pois até mesmo o herói
da história volta para a realidade.
11

Regina Machado diz que longe de ser ilusão os contos falam de valores que
vão ganhando cor e significado a cada momento da contação de historia e o
ato de contar vai ganhando forma e se personificando quando a criança
consegue vislumbrar-se como viajante no fantástico.

Não devemos, porém reduzir os contos a simples estratégias de aprendizagem


já que os contos contem um conteúdo bem maior que a gramática em si eles
são mais que uma sequência narrativa, pois tem a capacidade de transformar o
ser humano.

Este trabalho foi feito numa visão qualitativa baseado em Gatti (2001) já que se
trata de seres humanos e necessita de um olhar diferenciado, não esquecendo
a diversidade das questões que serão atingidas nesta pesquisa indo do campo
histórico/pessoal perpassando pelo psicológico e atingindo outras de igual
importância como filosóficas e morais.

Baseado em Dominicé e Christine Delory-Momber (2006) o processo por nós


vivido reflete sobre nosso aprendizado e forma novas estruturas, portanto em
nosso trabalho ele deve ser levado em consideração pelos professores na hora
em que for colocado em pratica o ato de ensinar, o acuro deve ser tomado para
que não se coloque nas historias seu peso, sua moral, para que os ouvintes
possam criar seus critérios e suas ideias sob a sua ótica e sob a sua historia, já
que o que queremos é uma educação que renove e não uma que reproduza o
que já foi feito.

A pesquisa fundamentar-se-á em vários autores visto a complexidade do tema


aqui abordado e sua importância.
12

OBJETIVO GERAL
 Refletir sobre a importância da literatura e dos contos de fadas no
ideário infantil.
13

OBJETIVOS ESPECIFICOS

 Refletir sobre a importância da literatura e dos contos de fadas para a


formação de futuros leitores,
 Refletir sobre a literatura brasileira seu breve histórico antes e pós a era
Lobatiana
 Observar a literatura e os contos como incentivadores de leitura e
reconto de histórias e de própria história de vida.
14

METODOLOGIA DE PESQUISA

A pesquisa metodológica será baseada em Gatti (2001) que diz que:

“a busca da pergunta adequada da questão que não tem resposta evidente, é


que constitui o ponto de origem de uma investigação cientifica”.

Será feita também em Luna, Franco (1988) (apud Gatti, 2001), que fala que o
homem precisa sair de si e gerar conhecimento cientifico, precisa controlar a
sua subjetividade, pois não é um ser meramente especulativo.

Em Dominicé e Christine Delory-Momberg (2006), temos o nosso resgate


histórico, a nossa colcha de retalhos em primeiro plano, para que dela
possamos reconstruir o conhecimento gerando um novo, alicerçando-nos em
nossas estruturas antigas e criando novas, alçando novos e mais altos voôs.

Gatti (2004) fala do acuro que devemos ter ao tratar de seres humanos, pois
veremos o assunto qualitativamente, de forma educacional, lembrando sempre
a questão em sua diversidade de opiniões e sutileza de alcance, pois como diz
Saint Exupéry em seu livro “O Pequeno Príncipe”: O essencial é invisível aos
olhos”

Devemos sempre lembrar que as historias de vida, tanto a do aluno quando a


do professor, da família, da escola, do bairro estão inseridas no resgate
histórico no alicerce que será nosso ao reescrevermos nossa historia daqui por
diante.

Segundo Dominicé (1988):

“a história de vida é outra maneira


de considerar a educação. Já não se trata
de aproximar a educação da vida, como
nas perspectivas da educação nova ou da
pedagogia ativa, mas de considerar a vida
como o espaço de formação. A história de
vida passa pela família. É marcada pela
15

escola. Orienta-se para uma formação


profissional, e em consequência beneficia
de tempos de formação contínua. A
educação é assim feita de momentos que
só adquirem o seu sentido na história de
uma vida.” (p. 140)

Isso nos remete as historias lidas, contadas, assistidas que deveremos levar
em consideração para obtermos seja um trabalho com conteúdo, analise e
avaliação idônea.

Em Ferraroti e na leitura de seu método de seu resgate bibliográfico temos:

“o nosso sistema social encontra-se integralmente em cada um dos nossos


atos, em cada um dos nossos sonhos, delírios, obras, comportamentos. E a
história deste sistema está contida por inteiro na história da nossa vida
individual.” (Ferrarotti, 1988, p. 26)
Lemos também em Ferrarotti ainda que o método biográfico cria duas possíveis

vertentes que são: as narrativas e os relatos autobiográficos, que deverão ser

recolhidos pelo pesquisador, em forma de entrevistas, sendo que o material

secundário ficará por conte de diários, fotografias, correspondências, o autor

faz uma ressalva dizendo que devemos inverter as tendências e fazer uso das

narrativas autobiográficas, pois estas carregam por si só toda a essência do

individuo.

Por isso devemos ter em mente que:

“Não é só a riqueza objetiva do material primário que nos interessa, mas


também e, sobretudo a sua pregnância subjetiva no quadro de uma
comunicação interpessoal complexa e recíproca entre o narrador e o
observador.” (Ferroti, 1988, p. 25 apud Bueno)

Devemos ter então a relação de exteriorização e interiorização do pensamento


subjetivo, caracterizando as relações humanas como pratica de apropriações
das comunicações ditas acima e de como elas estão e se mantém.
16

Os contos de fadas e suas estruturas fornecerão o simbólico necessário para


que o imaginário cultural seja suscitado resgatando atemporalmente toda à
contemporaneidade entra os laços filiais existentes, pois as historias
perpassam as gerações atingindo cada um com a magia que o ser precisa.

Segundo Bettelheim (1980):

“Os sonhos são o resultado de


pressões internas que não
encontram alivio, de
problemas que as pessoas
bloqueiam para os quais ela
não conhece nenhuma
solução e para os quais os
sonhos não encontram
solução nenhuma. Os contos
de fadas faz o oposto: ele
projeta o alivio de todas as
pressões e não oferece forma
nenhuma de resolver os
problemas, mas promete uma
solução “feliz” para eles.”
(Bettelheim, p. 46)

Este trabalho contará além da observação de metodologia da pesquisa


bibliográfica de livros, artigos de vários autores e meios como jornais e revistas
contando ainda com outros devido à complexidade do tema.
17

CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NA EDUCAÇÃO


INFANTIL

Todas as questões começam de forma confusa, mas tudo começa com o “era
uma vez”, ao rever minha pratica pedagógica observei o quantas vezes pude
recorrer aos contos de fadas, são as fadas, as boas historias, o era uma vez
que conseguem nos colocar no aqui, nos situar no tempo e no espaço mesmo
estando “no tempo em que os animais conversavam com os humanos e todos
os animais conversavam entre si”.

Para Radino (2001, p. 135):

“Todo conto inicia em um


outro tempo e em um outro
lugar, e a criança sabe disso.
Ao iniciar um “era uma vez”, a
criança sabe que partirá em
uma viagem fantástica e que
dela retornará com um “e
viveram felizes para sempre”
ou expressões semelhante.
Esses rituais mostram que
vamos tratar de fantasia e isso
faz com que embarquem
nessa viagem e se
identifiquem com o
personagem.
Diferente do que alguns professores pensam e de algumas praticas vistas os
contos de fadas em suas versões originais tem importância sim para as
crianças, diferente também dos mitos que possuem nomes e vão buscar suas
vitorias no Olimpo nos contos de fadas todos os problemas são resolvidos na
terra, e das fabulas que trazem uma moral implícita os contos causam nas
crianças um grande alento, pois assim neles têm uma noção de que seus
problemas poderão ser resolvidos aqui também.

Em Bettelheim (1980, p. 27) lemos que:


18

“Tais temas são


vivenciados como maravilhas,
porque a criança se sente
compreendida e apreciada
bem no fundo de seus
sentimentos, esperanças e
ansiedades, sem que tudo isso
tenha que ser puxado e
investigado sob a luz austera
de uma racionalidade que
ainda está aquém dela.”

Sobre as diferenças entre mitos e contos de fadas nos apoiamos em


Bettelheim (1980) que nos diz que o uso dos contos é mais aconselhável, pois
este é menos fatalista e mais próximo da realidade infantil, pois:

“O mito é pessimista,
enquanto as historias de fadas
é otimista, mesmo que alguns
traços sejam terrivelmente
sérios. É esta diferença
decisiva que separa o conto
de fadas de outras historias
nas quais igualmente ocorrem
coisas fantásticas, que o
resultado seja feliz devido às
virtudes do herói, a sorte, ou a
interferência, de figuras
sobrenaturais”.

Para Von-Fraz (1990, p.9):

“nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado,


atingimos as estruturas básicas da psique humana através de uma exposição
do material cultural.”

Outro ponto dito por Betteheim que merece ressalva é o de que nos contos de
fadas, fadas, madrinhas, feiticeiras, bruxas, personagens tem nomes genéricos
ou permanecem sem nome, facilitando assim a projeção e a identificação.

Rubem Alves (2004), por sua vez, aponta:

“Tudo começa quando a criança fica fascinada com as coisas maravilhosas


que moram dentro do livro. Não são as letras, as sílabas e as palavras que
fascinam. É a história.”

Voltando a Betteheim (1980, p. 50) vemos que:


19

“As crises psicossociais são


enfeitadas imaginativamente, e
simbolicamente representadas
no contexto das fadas como
encontro entre fadas e bruxas,
animais ferozes ou figuras de
inteligência e astucia sobre-
humana, mas a humanidade
essencial do herói (...) é
afirmada pela lembrança de
que ele terá que morrer como
qualquer um de nós.
Quaisquer que sejam os
acontecimentos estranhos que
o herói vivencie nos contos de
fadas, eles não o tornam
sobre-humano, como ocorre
com o herói mítico, (...) ele tem
que defrontar seus medos e
suas esperanças.

Essa proximidade e essa humanização o tornam mais próximo das crianças


que torce por ele, toma seu lugar, suas dores e luta seus combates.

Sobre isso Von-Franz (1990, p.10) nos diz que:

“o conto de fada é em si mesmo, a sua melhor explicação, isto é o seu


significado esta contido na totalidade dos temas que ligam o fio da história.”

Isso também difere o conto da fábula, pois a fábula traz em seu bojo uma
moral, os contos deixa que a criança crie a moral, que vivencie o que é certo e
o que é errado, sem julgamentos apenas pelo acompanhamento dos fatos ali
descritos, pois através da historia a criança é convidada a identicar-se com um
dos elementos desenvolverem sua inteligência se sair vitorioso como ela,
mesmo que seu oponente seja forte e sempre vai ter a chance de recomeçar,
reconstruir e tentar outra vez.

Na idade pré-escolar o senso de justiça da criança esta em construção e o que


devemos mostrar é que com o amadurecimento vem à sabedoria, isso as
historias mostram de forma prazerosa e sabia, mais que mil conselhos.
20

As crianças confiam nos contos, pois eles estão de acordo com a sua visão de
mundo, mesmo para nós uma historia só ira nos convencer se estive de acordo
com nossos padrões e princípios de pensamento.

Como professoras, acreditamos que as histórias dirigidas às crianças, incluindo


os Contos de Fadas, podem proporcionar uma infância marcada pelo
encantamento. Encantamento esse que comove e estimula os sentimentos.

Ao lermos Bergmann e Bonfadini (2007), nos encontramos, pois dizem que:

Concordamos, também, com a


ideia de que através das histórias as
crianças têm a oportunidade de ampliar,
transformar e enriquecer sua própria
experiência de vida, pois ouvir e ler
histórias é penetrar num mundo
curioso, repleto de surpresas, quase
sempre muito interessante e mesmo
encantador, que diverte e ensina”.

Segundo Bettelheim (1980, p. 32) os contos diferem das outras formas literais
já que auxilia em muitas descobertas que alicerçarão em toda a vida adulta
para ele segue assim:

"Os contos de fadas, à diferença de qualquer outra forma de literatura,


dirigem a criança para a descoberta de sua identidade. Os contos de
fadas mostram que uma vida compensadora e boa está ao alcance da
pessoa, apesar das adversidades".

Para Machado (2004, p. 24) as experiências contidas em mitos e contos


coadunam na construção da historia do ser social para ela que leva na sua
bagagem todas as relações construídas ao logo das experiências
compartilhadas sendo que:

“Assim como o mito, a


lenda e a saga, o conto
maravilhoso não é só um
relatado. Traz na sua própria
natureza a possibilidade
atemporal de falar da
experiência humana como
uma aventura que todos os
seres humanos compartilham,
21

vida em cada circunstancia


histórica de acordo com as
características de cada povo.”

Em Abramovich, (2001, p.18), temos o que é necessário para contar uma


história, pois esse ato não é simplesmente ler, virar o livro e mostrar a figura,
há que se desejar uma leitura previa do texto e uma preparação mínima, pois a
intenção primeira é envolver o aluno para que ele viagem no espaço tempo:

Para contar uma história –


seja qual for – é bom saber como se
faz. Afinal, nela se descobrem
palavras novas, se entra em contato
com a música e som, a sonoridade
das frases, dos nomes... Se capta o
ritmo, a cadência do conto, fluindo
como uma canção... Ou se brinca
com a melodia dos versos, com o
acerto das rimas, com o jogo das
palavras... Contar histórias é uma
arte... e tão linda!!! É ela que
equilibra o que é ouvido com o que é
sentido, e por isso não é nem
remotamente declaração ou teatro...
Ela é o uso simples e harmônico da
voz.

Basta então tomar contato com o que será apresentado antes, pois durante a
leitura poderá haver uma grande variedade de experiências misteriosas, essas
experiências irão constituir o que a autora Regina Machado chama de “Floresta
interior” e pouco a pouco vão ordenando sua “floresta” de tal forma que a priori
todas as arvores estão à mostra, depois como o passar do tempo e a audição
dos contos ficam a mostra as “socialmente aceitas” e depois com a maturidade
e a ordenação do pensamento e da sequencia narrativa elas adquirem poder
sobre a lógica da gramática mítica e os contos de fada passam a ter propósito
artístico.

Não se deve perder de foco a imaginação e a inventividade do aluno que são


primordiais nesse processo e tão necessárias nesta geração tão bombardeada
de coisas “já prontas” onde o ideário não é muito impulsionado. Quanto mais
22

nossas crianças conseguirem resgatar a imaginação flexível, a inventividade,


mais teremos cidadãos pensantes, críticos, autônomos e capazes de mudar
algo.

A escuta e a leitura dos contos tradicionais nutre desperta, valoriza e exercita o


contato com imagens externas, abrindo possibilidades para questionamentos.
As experiências pessoais, valores, serão despertados por cada narrativa
ouvida, os desafios enfrentados por heróis e heroínas possuem valores
humanos como coragem, sinceridade, amor, justiça que sobrepõem
sentimentos como o medo, a covardia, a traição e a inveja, tudo é impossível,
encontrar o grande amor, vencer o dragão, os enigmas,os medos, mas a
inteligência, o humor são maiores, os fazem pensar, os fazem ir em frente,
descobrir que vale a pena tentar mais uma vez, provoca encantamento, riso,
lagrimas, suspense, susto, mas acima de tudo, lhes dá a certeza de que eles
também poderão vencer. Essa é a magia dos contos, das fadas tão mágicas.

No processo de ensino aprendizagem ajuda ainda a desenvolver o olhar critico


sobre suas ações sobre as ações do outro, ajuda a se colocar no lugar do
outro, a se colocar no mundo “no lugar de”, ajuda a entender nossa cultura e a
nossa função na sociedade.

Escutar histórias é um ótimo inicio para uma boa aprendizagem, pois torna o
aluno um bom ouvinte e um bom leitor, os livros abrem um caminho, uma porta
de aprendizagem e de descobertas que auxilia na compreensão do mundo,
ajudando a resolver conflitos, agradando a todos independente da idade,
classe social ou história de vida.

[...] é por meio da fantasia, da imaginação, da emoção e do ludismo que a


criança aprende a sua realidade, atribuindo-lhe um significado, veremos
que o mundo da arte é o que mais se aproxima do universo infantil, à
medida que falam a mesma linguagem simbólica e criativa (FRANTZ,
2005: p.32).
Segundo Abramovich (1993, p. 17), ler é ter as respostas para as perguntas e
encontrar ideias para solucionar questões através dos problemas que
enfrentamos – sejam eles reais ou não – vividos pelos personagens fica mais
fácil encontrar o caminho e a solução.
23

Através das historias que se pode sentir medo, tristeza, raiva, bem estar,
esperança e mais uma gama de sensações que só podem ser vivenciados por
quem ouve a história e a enxerga com os olhos do imaginário.

Os contos têm como objetivo serem orientadores inconscientes ou conscientes


para que o leitor/ouvinte possa entender a sua mente, saindo da dependência e
tornando-se independente. Esse é um dos motivos que fará com que uma
criança escolha um conto moderno, já que os finais destas histórias não
ajudam e não dão o consolo necessário para que a criança se sinta motivada a
confrontar a vida.

Em Machado (2004, p. 170), lemos que:

“Uma história pode


conter níveis de
funcionamento efetivo que só
serão percebidos ou
examinados quando certa
informação fundamental se
tenha operado em nosso
espírito. O estudo intelectual
do simbolismo seria, então,
apenas, um dos níveis de
compreensão desse material,
e não a via mais efetiva de
aproximação de seu conteúdo
mais profundo.”

Sendo assim devemos nos colocar no lugar do herói, viver a história para
compreendê-la sobre isso ainda em Machado (2004, p. 170), temos:

Faz-se necessário um
deslocamento de atenção, do
conto para o sujeito que busca
apreendê-lo, isto é, deixar de
procurar algo que está oculto
no conto enquanto forma
objetiva, continente em si
mesmo de um conhecimento a
ser decifrado, por qualquer
meio que seja. "(...) É preciso
desenvolver uma qualidade
interior para compreender que
24

a significação não está lá, no


conto, mas na forma como
este atua sobre a nossa
percepção.”

Somente quando o conto passa a ter uma valoração pessoal, intransferível,


praticamente intima em nossa historia é que encontraremos o seu real
significado.

Tolkien (apud Machado p. 171) nos esclarece o que é realmente necessário: “O


que realmente interessa é precisamente o colorido, a atmosfera, os detalhes
individuais e inclassificáveis de uma história, e acima de tudo o sentido geral
que dá vida aos ossos da trama que não podem ser dissecados.”

A origem dos contos de Fadas é a oralidade dos povos antigos e seus


povoados fantasmas, suas superstições, lendas e mitos todos de origem celta,
na época os adultos ouviam as histórias sem as crianças, desde que houvesse
pessoas dispostas a ouvir, havia sempre um contador para relatar, em qualquer
lugar, nos campos de trabalho entre um turno e outro, nas fábricas de fiar e no
meio familiar.

Simbolicamente os contos de fadas representam acontecimentos sociais e


humanos, tem valores correspondentes aos seres humanos que atravessam os
tempos, são conflitos históricos que perpassam o tempo/espaço por isso
transformam-se em clássicos.

Os heróis são sempre desafiados por alguém ser do mal, enfrentam os


obstáculos que lhe são impostos e vencem o mal, fazem parte deste mundo
reis, rainhas, fadas, princesas, príncipes, animais falantes e tantos outros seres
magníficos.

As fadas são belos seres fantásticos com poderes mágicos inclusive o de


interferir na vida das pessoas. Não tem hora nem lugar para aparecer e podem
ser do bem ou do mal.

Os contos de popularizaram com os Irmãos Grimm que estudaram, recolheram


as narrativas diretamente da memória popular, conservadas pela tradição oral,
os contos não eram historias para crianças, pois tinham enredos pesados,
25

alguns chegando a ser pornográficos, mas reescritos pelos Irmãos Grimm para
ficarem de acordo com a moral da sociedade vigente da época, estamos
falando então da sociedade alemã do século XVIII e todos os conflitos que ela
traz: sociais, econômicos e políticos.

Segundo Machado (2004, p.173):

“Os contos criados num determinado lugar e tempo ressurgem sempre


entre povos distintos de épocas variadas, repetindo-se na sua qualidade
que alguns chamam de arquetípica, variando segundo a invenção de
narradores de diferentes culturas.”
Cada conto de fadas traz um novo mundo a ser descoberto e cabe ao
professor conduzir seus alunos para essas novas aventuras e deixar a
curiosidade ganhar campo, cada texto é uma janela que se descortina com
novas possibilidades de leitura e encontros, pois ele irá tratar de amor, morte,
inveja, raiva, de acordo com o problema que está em evidencia para o leitor no
momento.

O professor seleciona os contos preferidos da turma, eles são indicados, pois


propiciam momentos de troca, para soltar a imaginação, onde o aluno pode se
colocar no lugar de herói, vencer suas batalhas e medos interiores. Os contos
tem ainda a vantagem de não aconselharem diretamente sobre o melhor
caminho a seguir, também não recomenda este ou aquele comportamento,
simplesmente promete um final feliz se conseguir superar os obstáculos, este é
o segredo do “E viveram felizes para sempre.”
26

CAPITULO II

BREVE HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL NO BRASIL

Comecemos esse capitulo com uma breve definição do que é literatura,


literatura, não é um texto dissociado da pratica pedagógica, Coelho (2000) a
define assim:

Literatura infantil é, antes de


tudo, literatura; ou melhor, á arte:
fenômeno de criatividade que
representa o mundo, o homem, a
vida, através da palavra. Funde os
sonhos e a vida prática, o imaginário
e o real, os ideais e sua
possível/impossível realização...
(COELHO, 2000, p. 9)

Em nosso caso faremos uma viagem à história recente, que é a história da


literatura infantil no Brasil que corre à margem da literatura infantil mundial, pois
enquanto o mundo já tem autores como os Irmãos Grimm e Perrout outros no
Brasil os livros surgem junto com a Imprensa Régia, no final do Século XIX, a
Literatura Infantil vem junto, mas o não se desvincula das condições históricas
o século anterior do continente europeu, onde a criança era um adulto em
miniatura, portanto os textos eram escritos para pequenos adultos.

O texto do livro Culto Cívico é um exemplo do que se considerava literatura


infantil na época:

O BRASIL
Vasto e fecundo é o Brasil
onde tudo medra e cresce excepto o
homem: disse Agassiz, o celebre viajante e
escriptor suisso.
Desmintamos o sábio
naturalista capaz de tudo, menos de sentir,
com toda a pujança, no helvetico peito, os
embates grandiosos de corações de
brasileiros.
Mostremos, e com todo o
arrojo e ufania, que não é grande somente
27

nossa Pátria pela magestade das selvas,


pela caudal impetusosa dos cursos d’agua.
Nós tambem somos grande
pelo sacro ideal que divisamos baloiçando-
se dos dois braços do Cruzeiro, esta
constelação brilhante do céu de nossa
Pátria.
Grandes, porque sacudimos
de nossos hombros o jugo portuguez;
grandes, porque libertamos uma raça
escrevisada que gemia sob o azorrague
nefando da crueldade e da injustiça;
grandes, porque derrotamos um throno
incompatível com o gênio altivo e brioso
dessa raça sul americana que vê todos os
dias, do lado do Pacifico e do Atlântico,
levantaram-se soberbas as vagas dos dois
oceanos; finalmente, porque, num repto de
enthusiasmo, arrancamos do nada, com a
omnipotencia da vontade, o vulto sublime
e grandioso da Republica!

Temos então uma literatura voltada para a manutenção do comportamento, ou


seja, uma literatura totalmente pedagógica. Por muito tempo as obras infantis
foram vistas assim, apenas com o caráter de ensinar e perpetuar bons
comportamentos, já que eram adultos a escrever para crianças em um universo
que não entendiam ou não queriam entender.

A sociedade brasileira da época passava por transformações onde se


colocavam muitas expectativas sobre a educação, às obras do final do século
XIX e inicio do século XX descreviam o Brasil e sua natureza exuberante, seu
futuro brilhante, promissor e exaltavam a pátria, no que se refere à linguagem
não havia nada que a adequasse ao público infantil e é por isso que o texto
citado anteriormente nos causa espanto por ser dirigido para crianças, mas há
fatores que devem ser levados em conta como os textos eram em sua maioria
adaptações de obras vindas da Europa, especificamente de Portugal.

Autores brasileiros como Figueiredo Pimentel e Carlos Jansen traduziram e


adaptaram clássicos de Grimm, Andersen e Perrault para o público brasileiro,
mas a literatura infantil só ganhou características próprias mesmos com a
entrada de Monteiro Lobato em cena.
28

Nascido de batismo na cidade de Taubaté, interior de São Paulo aos dezoito


dias do mês de abril, no ano de 1882, José Renato Monteiro Lobato teve seu
gosto seu gosto pela leitura aguçado pelos livros que encontrava na biblioteca
do avô o Visconde de Tremembé, era filho de José Bento Marcondes Lobato e
Olímpia Monteiro Lobato, foi alfabetizado pela mãe, seu temperamento
irrequieto veio desde a tenra idade.

“O certo em literatura é escrever com o mínimo possível de literatura. (...) a


mim me salvaram as crianças. De tanto escrever para elas, simplifiquei-me.”
(Monteiro Lobato)

Monteiro Lobato como ficou conhecido por todos foi tradutor, contista e grande
nome de nossa literatura, formou-se em direito e exerceu a função de promotor
paralelamente escrevia e fazia caricaturas para alguns jornais e revistas até se
tornar fazendeiro indo cuidar das fazendas herdadas pelo avô quando isso
aconteceu à frequência de seus textos aumentou e da coletânea de seus textos
nasce a obra Urupês. Teve quatro filhos com Maria Pureza da Natividade:
Marta, Edgar, Guilherme e Rute. Em carta ao amigo Godofredo Rangel no ano
de 1916, Lobato diz:

“Ando com várias idéias. Uma: vestir à


nacional as velhas fábulas de Esopo e La
Fontaine, tudo em prosa e mexendo nas
moralidades. Coisa para crianças. Veio-me,
diante da atenção curiosa com que meus
pequenos ouvem as fábulas que Purezinha
lhes conta. Guardam-nas de memória e vão
recontá-las aos amigos sem, entretanto,
prestarem nenhuma atenção à moralidade,
como é natural. A moralidade fica no
subconsciente para ir se revelando mais tarde,
à medida que progredimos em compreensão”

(A Barca de Gleyre 2º tomo – p. 104, apud


COELHO, 1985, p.186).
29

Em 1921 Monteiro Lobato publica sua primeira obra voltada para o público
infantil: A menina do narizinho arrebitado, onde podemos ver uma mudança na
forma de escrever e em todo seu foco e intencionalidade, juntamente com seus
personagens se tornaram conhecidos: Emilia, a boneca de pano que fala pelos
cotovelos com ideias e sentimentos, Pedrinho, que identifica o próprio autor
quando criança, Visconde de Sabugosa, a espiga de milho sabia com atitudes
de um adulto, a Cuca, que aterroriza a todos no Sítio, Saci Pererê, Dona Benta
a avó que recebe a todos, Tia Anastácia que cozinha especiarias deliciosas e
outros personagens que encantaram e encantam até hoje todos que leem a
obra O Sítio do Pica-Pau Amarelo independente da idade.

Com uma linguagem simples onde realidade e fantasia se encontram Lobato


conquista o público e lança além do livro A menina do Nariz arrebitado outras
obras como: O Saci, Fábulas do Marques de Rabicó, Noivado de Narizinho, As
caçadas de Pedrinho dentre outros, por isso é dado a ele o nome de precursor
da Literatura Infantil Brasileira.

Há outras contribuições significativas de Monteiro Lobato, no campo literário


não se pode deixar de citar Urupês, O Escândalo do Petróleo, A Barca Gleyre,
em O Escândalo do Petróleo fica mais que evidente todo o seu afã
nacionalista, pois se posiciona a favor da exploração do petróleo por empresas
brasileiras.

Fora isso Lobato tornou-se também editor, em uma época em que os livros
eram editados em Paris e Lisboa e trouxe varias inovações para o livro didático
e infantil brasileiro.

Lobato morreu em 1948 vitima de um derrame deixando uma contribuição


enorme para a nossa literatura e para a cultura.

Lobato ainda teve uma grande contribuição fora dos livros a “Turma do Sítio do
Pica-Pau Amarelo” foi para a televisão em uma versão adaptada pela escritora
Tatiana Belink e encantou a todos os que fizeram o caminho inverso, primeiro
assistiram ao seriado se encantaram, depois foram para os livros e viajaram
nas asas da imaginação.
30

A LITERATURA INFANTO/JUVENIL BRASILEIRA APÓS


MONTEIRO LOBATO

Após a influência de Monteiro Lobato a literatura infantil brasileira sofreu


grande mudança, não há lugar que a turma do Sitio do Pica-pau Amarelo não
tenha visitado não há personagem da historia que não tenha participado de
suas aventuras.

Porém poucos autores aventuraram-se como ele, e o momento político


brasileiro também proibiram as aventuras infantis.

Filho (2010) nos explica isso quando diz:

“Evidentemente, Lobato fora o precursor


de uma nova literatura destinada às crianças no
Brasil, uma literatura que ainda passaria por
inúmeras transformações, por uma ditadura
militar e por grandes mudanças na tecnologia e
na sociedade. Essas mudanças foram, de
maneira histórica e dialógica, sendo capazes de
trazer para da chamada literatura infantil a
diversidade de valores do mundo
contemporâneo, o questionamento do papel do
homem frente a um universo que se transforma a
cada dia.”

O que aconteceu foi que as crianças passaram a ter vez e voz nos textos a
partir de então em diferentes textos e contextos sociais já presentes na tão
diversificada formação da nossa sociedade essa realidade passa então para as
paginas dos livros e suas ilustrações com toda a sua cor ganham vida, suas
dificuldades reais de sobrevivência e convivência. Portanto após os anos
sessenta temos uma produção artístico-literária inteiramente infanto/juvenil
propriamente dita no sentido literal da palavra utilizando e transformando os
recursos em favor do lúdico e sendo usado como pedagógico, continua sendo
pragmático e acima de tudo libertador e cognicista.
31

Autores como: Tatiana Belinky, Sylvia Orthof, Ziraldo, Ruth Rocha, Mauricio de
Souza, Mary e Eliardo frança, Lygia Bojunga Nunes, Ganymédes José, Eva
Furnari, Elias José, Ana Maria Machado, são alguns nomes que cito como
percussores de Monteiro Lobato na literatura brasileira dando voz aos leitores.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394) promulgada em


20 de dezembro de 1996 traz consigo os Temas Transversais que devem ser
trabalhados em aula temas antes deixados de lado com ética, o meio ambiente,
a pluralidade cultural dentre outros.

Infelizmente o mercado editorial a fim de atender a nova demanda e as novas


propostas abordam os temas, mas não com um traço literário e as discussões
que deveriam enriquecer acabam caindo na mesmice ou indo para o vazio das
palavras que nada dizem.

A literatura deve permitir que o leitor crie vários diálogos com outras obras em
diferentes tempos, e vá criando na criança um olhar artístico, critico, onde ele
discuta a partir da sua realidade meios de transformá-la.

O que quero mostrar aqui é a visão que se tinha da literatura e de sua


finalidade, bem como da sua construção antes de Lobato e dos recursos que
passaram a ser agregados á ela após sua passagem, até mesmo o leitor se vê
inserido como construtor da historia narrativa, pois já se vê nas histórias, já que
estas levam em conta a pluralidade da formação cultural do povo brasileiro.

Essa visão percorre um caminho de mudanças que deve partir de nossa


postura para que seja efetivamente mudado o quadro de leitores no cenário
brasileiro
32

CAPITULO III

HISTÓRIAS COMO AUXILIARES E INCENTIVADORAS DA


ALFABETIZAÇÃO E DA LEITURA

Já foi dito várias vezes que as histórias são parte integrante no processo
educacional, mas o seu caráter pedagógico é muito mais amplo quando
paramos para ver todo o seu cabedal de conhecimentos, toda a sua extensão.

Quando se fala em educação significativa também podemos alfabetizar com e


através dos contos de fadas, mas sem esquecer, porém de todo o seu contexto
psicológico.

Aprender a ler precede o ato de aprender a escrever, quando se faz a leitura


para a criança e ela escuta com prazer e participa. Quando ela vê os símbolos
grafados, aqueles misteriosos e enigmáticos sinais tem uma vontade imensa
de poder compreendê-los, de saber um por um, pois são eles que abrem as
chaves do mundo do livro para elas e saber o significado secreto daqueles
desenhos é “ser grande” e ser grande neste contexto é ser e ter autonomia
para ler a historia que mais gosta com prazer na hora que quiser sem precisar
de mediadores, ou autorizações.

Segundo Radino (2003, p. 119) ao escutar histórias, as crianças, tem


momentos de grande prazer ao mesmo tempo em que aprendem, concentram-
se, e se respeitam, já criará o habito da leitura brincando de ler, os contos de
fadas são o primeiro contado das crianças com a literatura.

Para Machado (2004, p.29):

“O conto tradicional é um material fértil para se estudar as funções das


palavras, as organizações dos elementos que compõem as frases para criar
significações”.

Mas como já foi dito e Machado também esclarece não devemos limitar os
contos de fadas a meros instrumentos de repetição das lições com novas
caras, mas sim devemos aproveitar todo o seu potencial de criação e todas as
hipóteses de leitura e escrita que as crianças criam através e sobre eles.
33

Ainda em Machado (2004) encontramos sobre isso o seguinte:

“Acredito que a utilização mecânica de contos para identificar funções gramáticas


empobrece e desvirtua a natureza e a potencial idade poética do texto literário. Os
alunos são submetidos, nesses casos, a tarefas aborrecidas.”

Devemos então assegurar para que não se repita o que foi feito durante
séculos na educação, uma educação bancária ou uma educação que dizia
mudar os conteúdos, mas que continuava com os métodos arcaicos que em
nada contribuíam para valorizar a aquisição do conhecimento do aluno.

Para Bettelheim (1988) os adultos não notam que a alfabetização é uma típica
realização do ego, só acontece se por algum motivo e por algum tempo a
criança vivenciar a leitura como fantasia, como ato de brincar.

Quando a criança “brinca de ler” é porque gostou muito das historias


maravilhosas que a estimularam ao ponto de querer rever sem as palavras do
adulto algo que lhe dá prazer.

Bettelheim (1980, p.12) diz que:

“Os livros e cartilhas onde aprende a


ler nas escolas são destinados ao
ensino das habilidades necessárias,
independente do significado. (...) A
aquisição de habilidades inclusive a
de ler, fica destituída de valor
quando o que se aprendeu a ler não
acrescenta nada de importante à
nossa vida.”

As atividades devem ser aplicadas hoje porem com vistas no futuro, pois ela
vive o presente, mesmo tendo ansiedades sobre o futuro.

Assim, para conquistar o leitor jovem o livro deve ser cativante e identificar-se
com ele fazendo com que haja uma ponte entre o livro o leitor e o mundo
retratado, mas a preocupação é que haja equilíbrio para a validação da obra,
levando em conta o discurso estético.
34

O estímulo à leitura pode começar pelos livros contendo textos curtos com
histórias já conhecidas pelas crianças, fazendo isso estaremos oferecendo um
suporte para que a criança faça novas correspondências entre o som e a grafia
das palavras quando este movimento estiver dominado de forma natural os
alunos buscarão novos livros.

A obra deve levar o leitor à emancipação ao mesmo tempo em que cria um


ponto de contato em uma brincadeira de prender e soltar, um romance de
esconder-se e revelar-se um pouco a cada pagina virada, esconder um novo
mistério para que o leitor busque com desejo a vontade de continuar a ler e que
o solte mais e mais ampliando seus horizontes até o momento que ao findar o
livro ele diga: “já acabou? Foi tão bom”.

E nos pequenos esse processo se dará através do famoso “conta de novo”,


“aquela história que tem...”

Cavalcanti (2002) nos diz que:

“A Literatura é um dos espaços


mais significativos para que se aprenda
a caminhar com largueza e criação,
portanto uma história, quer seja conto,
lenda ou mito é sempre um “presente de
amor” que se oferece às crianças e aos
adultos também, pois a relação de
intersubjetividade entre o texto e o leitor
existirá quase sempre uma grande
possibilidade de encontrar caminhos
que nos ensinem alguns segredos da
alma e da vida.”(Cavalcanti, p,18, 2002)

Os livros servem para que possamos transcender uma fase, desenvolvendo a


nossa personalidade e não conquistando a autonomia permanecendo na
atmosfera de inocência pelo maior tempo possível.
35

Caso neguemos a validade dos contos, estaremos pulando uma etapa


importante do crescimento psicológico é preciso que o herói obtenha sua
conquista final e retome o seu lugar caso contrario o mal será uma ameaça
constante.

Sobre isso Bettelheim (1986, p.150) diz o seguinte:

“Os que baniram os


contos de fadas tradicionais e
folclóricos decidiram que,
havendo monstros numa
estória narrada a criança,
deveriam ser todos amigáveis
– mas se esqueceram do
monstro que a criança
conhece melhor e com o qual
se preocupa mais: o monstro
que ela sente ou teme ser, e
que algumas vezes a
persegue. Mantendo este
monstro dentro da criança,
sem falar dele ou escondido
no inconsciente dela, os
adultos impedem-na de
elaborar fantasias em torno da
imagem que conhecem dos
contos de fadas.”

Adultos tendem a achar que a punição do mal nos contos fará mal as crianças,
que isso as amedontra e pulam essas partes, isso é um pensamento
desnecessário, o oposto é que tem significado real e duradouro, a segurança
vem do fato de o castigo, da certeza de que o mal obteve sua punição.

Em alguns momentos a criança sente que foi injustiçada e que nada foi ou será
feito a este respeito, mas quando ela ouve ou lê os contos sabe que cedo ou
tarde algo ou alguém fará algo por ela, ou então o próprio malvado ditará a
36

própria sentença como tantas bruxas e madrastas enredaram-se em seus


próprios feitiços.

Novamente recorro a Bettelheim (1986, p.151):

“Espera-se que a
criança aceite como correta
apenas uma visão unilateral e
limitada dos adultos e da vida.
Não alimentando a imaginação
da criança, espera-se extinguir
os gigantes e ogros do conto
de fadas – isto é, se os
monstros das trevas que
residem no inconsciente – de
forma a impedir que estes
obstruam o desenvolvimento
da mente racional da criança.
Espera-se que o ego racional
reine desde o berço de forma
suprema! Pretende-se chegar
a isso não através da
conquista do ego sobre as
forças obscuras do id, mas
impedindo a criança de prestar
atenção ao seu inconsciente
ou de ouvir historias que falam
a ele. Em resumo, a criança
supostamente reprimiria suas
fantasias desagradáveis e só
teria as agradáveis.”

Isso seria conseguir criar uma criança dentro de uma bolha, ou redoma o que é
impossível contando com a nossa sociedade e com todos os avanços
tecnológicos que vivemos, para não dizer ilógico e inconcebível. Somos seres
37

sociais e não ilhas para vivermos isolados do contato social, o que dirá isolado
de nós mesmos, de nossos medos e angustias que farão com que tenhamos
um crescimento e ganho de formação pessoal indescritível.

Mas para que possamos usar a literatura como incentivadora e não como mero
instrumento pedagógico, Jobe e Souza (2002) diz que devemos começar pro
nós mesmo, mudando nossos próprios hábitos e adotando algumas atitudes
como ser um leitor visível já que:

“As crianças precisam


ver que damos valor a leitura.
Somente quando sentarmos
dentro de sala de aula,
reservando tempo para ler e
falando sobre o que estamos
lendo, é que eles
compreenderão que a leitura é
importante em nossa vida.
Professores não podem
ensinar leitura efetivamente a
menos que eles mesmos
valorizem os livros e sejam
leitores.”

Outra atitude que devemos tomar é ler literatura de qualidade em voz alta
diariamente, isso ajudará não só os estudantes que terão uma leitura de
qualidade, treinarão a audição, a atenção, interpretação oral, e terão ainda
aumento de vocabulário.

Mais um ponto a ser levado em questão é que os estudantes deverão estar


cercados de livros, deve-se levar em consideração que fora do ambiente eles já
são expostos a todo o tipo de pressão e informações, devemos oferecer então
histórias modernas, contos de fadas, poesias, historias em quadrinhos,
segundo Borges (1994, p.129) fazendo isso:
38

“Isso se justifica, primeiramente, porque cada história, cada poesia, lhe


suscitará emoções diferentes e acionará, na sua inteligência, as mais variadas
imagens e ideias.”

E ainda em Borges (1994) lemos que a arte literária tem um objetivo imediato
que é propiciar momentos de prazer e outro em longo prazo que é formar
leitores que após a idade escolar continuem e propaguem o habito da leitura
por toda a sua vida.

Com os diferentes portadores textuais desde a mais tenra idade, o sujeito terá
a oportunidade de experimentar e gostar de vários gêneros e se apropriar de
uma cultura leitora maior e mais diversificada e terá recursos para escolher
melhor o seu gênero preferido. Isso terá reflexo em outras instâncias de sua
vida, será um cidadão mais critico com poder argumentativo e com poder de
oratória melhor, com mais chances em todos os setores sociais.

Abramovich (1993, p. 138) resume nosso sentimento sobre os contos de fadas


e sobre a literatura em geral:

“Pois é só estarmos
atentos ao nosso processo
pessoal às nossas relações
com os outros e com o
mundo, à nossa memória e
aos nossos projetos, para
compreender que a fantasia é
uma das formas de ler, de
perceber, de detalhar, de
raciocinar, de sentir... o
quanto a realidade é um
impulsionador (e dos bons!!!)
para desencadear nossas
fantasias...”

Ainda em Abramovich, (1993) vemos que a leitura que deveria ser um recurso
prazeroso, uma descoberta, um encantamento, acaba assumindo um caráter
39

de dever, uma tarefa a ser cumprida, maçante, chata, com regras ortográficas,
cheias de complete, ditados, uma obrigatoriedade que tira todo o prazer de se
descobrir o que há por trás das palavras, nas entrelinhas.

O que vemos são os alunos lendo livros indicados ao invés de terem direito à
escolha, bibliotecas muitas vezes fechadas e por que não dizer mortas já que
não recebem os estudantes da escola.

A autora ainda nos alerta, segundo Abramovich (1993, p. 141):

“(...) A adoção de autores medíocres, menores, desimportantes, muitas


vezes contando histórias pra lá de desinteressantes, chatas, monótonas,
antigas, tantas vezes falando duma criança que não existe mais, de
problemas que não tocam ou sensibilizam...”
Sendo assim, cabe a nós professores mudarmos o nosso olhar para a
literatura, mudar nossa visão sobre o que e como oferecemos aos alunos,
mudar a nossa postura diante dos livros e a nossa mensagem subliminar que é
enviada sobre ler, gostar de ler e de mudança através de livros.

É preciso oferecer aos alunos histórias bem escritas, livros bem desenhados
que despertem a vontade de ler outro e mais outro e mais outro, que desperte
no aluno a vontade de contar ao amigo o que leu e assim compartilhar com
todos a história que não é mais dele, mas de todos.
40

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Temos então um desafio, seduzir o aluno para a leitura de forma que eles se
encantem e reencantem pelo prazer de ler, rejeitando a leitura por obrigação,
nem é simples instrumento didático ou paradidático, de ensino de leitura, mas
faz parte do mundo, de instrumento de leitura e descoberta de mundo.

Concordo com Bettelheim (1986), quando fala da importância se preservar as


características do conto, dando-lhe riqueza de contorno para que a criança
tenha subsídios para trabalhar seus conflitos interiores, também vejo como o
autor que mitos e contos são diferentes e devem ser apresentados para idades
diferentes em diferentes momentos e estilos diferentes de vida.

E também com Abramovich (1993) quando diz que devemos oferecer uma
literatura de qualidade que desperte o leitor que há em todos que resgate o que
Machado (2004) nos mostra um leitor que entra nos recortes da história, pois
se vê em cada quadro contado pelo narrador e se torna o próprio narrador de
sua história, pois faz parte da mesma.

As historias tornam uma só quando o ouvinte descobre que a leitura se


transforma em uma forma de combater os medos, superar os obstáculos e
vencer barreiras, ir além de si mesmo e ver o futuro com novos olhos mesmo
que por velhas palavras ditas por não sei quem, quando também passa a não
interessar, pois o efeito passa a ser a causa motriz da leitura e é um só: faz
bem.

Ler muda vidas alivia a alma e transforma mentes.


41

BIBLIOGRAFIA

ALVES, Rubem. Gaiolas ou asas: a arte do voo ou a busca da alegria de


aprender.

Disponível em: <http://pagina-de-vida.blogspot.com/2007/05/o-prazer-da-


leiturarubem-alves.html>. Acesso em: 2 nov. 2008.

AMBRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 3. ed.


São Paulo: Scipione, 1993.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro:


Paz e Terra, 1985.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. 3ª Ed, Rio de Janeiro:


Editora Zahar, 1973.

DOHME, Vânia. Atividades Lúdicas na educa

GOMES, João Roque Moreira. Culto cívico. Rio Grande: Livraria


Americana, [19__]. A grafia foi mantida como no original)

COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histórico da literatura infantil


e juvenil. São Paulo: Ática, 1991.
http://www.scielo.br/pdf/%0D/cp/n113/a04n113.pdf (visitado em 18/05/2012 as
21:30)

http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&vie
w=article&id=372&Itemid=189 (visitado em 18/05/2012 as 22:40)

http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/178_233.pdf
(visitado em 15/05/2012 as 21:30)

BERGMANN, Leila e BONFADINI, Eliete Zotti. “O medo nas histórias


infantis”.

Entrelinhas, a revista do curso de letras. Ano IV, nº01, jan/jun 2007. Acessado
em 09/07/2012 as 18:00

http://www.entrelinhas.unisinos.br/index.php?e=6&s=9&a=40

http://www.e-biografias.net/monteiro_lobato/ (vistado em 13/07/2012 a 23:12)

http://lobato.globo.com/lobato_Linha.asp#1945_1948

http://www.e-biografias.net/monteiro_lobato/
42

http://frases.netsaber.com.br/frase_4820/frase_de_monteiro_lobato

Você também pode gostar