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INTRODUÇÃO
Há muitos anos existe na sociedade brasileira uma discussão sobre o que deve ou não ser assistido na
IMPLEMENTAÇÃO DE UM BLOQUEADOR DE CONTEÚDO PARA TV televisão por crianças e adolescentes. Aos poucos, essas discussões foram evidenciando a importância de se
DIGITAL regulamentar a classificação dos programas de televisão para favorecer uma melhor educação aos indivíduos
dessas faixas etárias. Assim, a classificação daquilo que é transmitido nos veículos de comunicação começou
Gabriel de Souza LEITÃO (1); Vicente Ferreira LUCENA Jr (2) a ser exigida por documentos como a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
(1) Universidade Federal do Amazonas, Av. Gen. Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 3000, Campus Universitário, baseado nesses documentos o governo passou a determinar portarias que regulam a programação da TV
CETELI. Bairro Coroado I. CEP 69077-000, 3305-4495, e-mail: gabriel.leitao@gmail.com, (2) Universidade Federal aberta (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2007a).
do Amazonas, e-mail: vicente@ufam.edu.br A tecnologia da televisão analógica, atualmente difundida no Brasil, não possibilita a criação de
recursos de interatividade ou de controle apropriado do conteúdo que é recebido através do sinal de TV. Por
esse motivo, a exibição dos programas televisivos acabou sendo vinculada às diferentes faixas de horários de
RESUMO
acordo com a classificação etária destes programas. Essa foi a maneira que as autoridades civis encontraram
Este artigo apresenta um software de bloqueio de conteúdo para TV Digital desenvolvido com base na norma de auxiliar os pais no controle do que pode ou não ser visto pelos filhos na televisão (MATTEDI, 2009).
NBR15604:2007 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) que define tanto as características Com o advento da Televisão Digital surgiu a possibilidade de uma maior interação entre os telespectadores e
obrigatórias e optativas desses sistemas, assim como os dados mais relevantes a serem utilizados na o que é transmitido pelas emissoras. Essa nova realidade abriu caminho para o envio de dados mais
classificação de conteúdo. O bloqueador codificado utiliza algumas das informações provenientes do TS específicos acerca da grade de programação e dentre as informações adicionais a serem enviadas, existem as
(Transport Stream) que foram previamente armazenadas em um arquivo no formato XML e se encontram relativas à classificação indicativa dos programas.
disponíveis para serem acessadas pela aplicação. As informações guardadas são relativas à origem (código
Neste artigo são apresentados um referencial teórico, a norma brasileira utilizada e o modo como foi
do país) e à classificação indicativa (idade e descrição objetiva do conteúdo) do programa a ser exibido e
implementado um bloqueador automático e personalizado de conteúdo para TV Digital que pretende auxiliar
estão presentes em algumas das tabelas do SI (Service Information) que possuem informações detalhadas
na classificação e no controle do que é assistido na televisão, a fim de proteger as crianças e adolescentes de
sobre os serviços disponíveis aos usuários e são fornecidas pelas emissoras do sinal de televisão no carrossel
conteúdos inadequados para a sua formação humana, psicológica e social.
de dados. O software apresentado neste artigo possui um sistema de autenticação (nome, senha) que utiliza
um teclado virtual e ainda biometria através de leitura da impressão digital, que permite personalizar e
automatizar o bloqueio do conteúdo a ser exibido pela televisão. A utilização de um ou outro método de 2. TV DIGITAL E INTERATIVA
acesso ao sistema fica a critério do telespectador. O desenvolvimento desta aplicação pretende, através do
controle de conteúdo, auxiliar de forma mais eficiente os pais ou responsáveis por crianças e adolescentes na
formação psicológica e social desses indivíduos.
2.1. Início da TV Digital
No fim da década de 80, nos Estados Unidos, foram iniciadas pesquisas com a finalidade de definir novos
Palavras-chave: algoritmo, bloqueio de conteúdo, televisão digital. conceitos para os serviços de televisão. Decidiu-se pelo desenvolvimento de um padrão de televisão
americano totalmente digital e como fruto dessa iniciativa surgiu o ATSC (Advanced Television Systems
Committee) que deu foco à transmissão em alta definição em detrimento ao suporte de serviços de
interatividade e mobilidade. Os europeus iniciaram o desenvolvimento de um sistema digital de televisão
apenas no ano de 1993, esse sistema ficou conhecido como padrão DVB (Digital Vídeo Broadcasting) e
enfatizou principalmente a interatividade. Apenas em 1997, os japoneses começaram a implementar um
padrão próprio - que mais tarde seria adotado pelo Brasil - o ISDB (Integrated Services Digital
Broadcasting), mas que possui o melhor dos dois padrões anteriores agregando outras funcionalidades como
a recepção móvel e portátil (Fernandes, 2004).
2.3. Difusão de Dados, Serviços, Informações de Serviço e Identificadores de Pacote A Figura 3 mostra as tabelas PAT (Program Association Table) e PMT (Program Map Table)
vinculadas a um PID proveniente de um fluxo elementar (MONTEZ, 2005). A PAT indica os valores de PID
A TV Digital possibilitou o envio e processamento de qualquer tipo de informação. Dá-se o nome de dos TS (Transport Streams) para cada serviço do multiplexador. Enquanto a PMT identifica e indica a
datacasting quando uma transmissão de dados está acoplada a um fluxo de vídeo e áudio (Becker, 2004). localização das transmissões que compõe cada serviço e da referência de hora do programa (PCR) para cada
Um datacasting pode ser classificado de três modos distintos de acordo com o seu grau de acoplamento serviço (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2007b).
(Becker, 2004), (MONTEZ, 2005):
1. Fortemente acoplado: ocorre quando os dados são temporalmente acoplados ao áudio e ao vídeo. Existem ainda alguns descritores do SI (Service Information) que são vinculados a essas tabelas e
Uma informação é disponibilizada somente durante a transmissão de um fluxo de vídeo ou áudio detalham as informações dos serviços das mesmas. O descritor utilizado nesse trabalho é o Parental Rating
específicos. Descriptor (Descritor de Classificação Indicativa) que se encontra na PMT e será detalhado na Seção 3
(Normatização sobre Classificação Indicativa).
2. Fracamente acoplado: os dados relacionam-se ao conteúdo de áudio e vídeo, mas sem estar
completamente sincronizados. Desse modo o acesso aos dados se torna mais flexível e pode ocorrer
no momento em que o telespectador achar mais apropriado.
3. Desacoplado: nessa classificação o fluxo de dados é completamente independente do fluxo de áudio
e vídeo.
2.6. Xlet
O Xlet é uma aplicação que necessita de controle através de um gerador de interfaces, portanto, existem
ferramentas que possibilitam controlar os estados e ações do mesmo. Possui um ciclo de vida com quatro Figura 5a:Classificação por Idade Figura 5b: Descrição Objetiva do Conteúdo
estados: loaded, paused, started e destroyed. Um Xlet deve implementar a interface javax.tv.xlet.xlet, cujos
métodos são ativados para sinalizar mudanças de estado na aplicação (Fernandes, 2004).
− Loaded: este estado é disparado uma única vez, indica que a classe foi carregada. 4. IMPLEMENTAÇÃO DO BLOQUEADOR
− Paused: neste estado ele está pronto para ser iniciado imediatamente.
− Started: indica que a aplicação pode ser iniciada. O software apresentado neste artigo utiliza um sistema de contas de usuário. Nesse sistema, as informações
− Destroyed: neste estado a aplicação é destruída, aqui termina o ciclo de vida do Xlet. sobre as restrições de classificação indicativa de cada usuário são comparadas ao conteúdo do descritor de
processos do serviço solicitado para ser exibido na televisão.
Através do Java TV é possível controlar o Xlet, alterando seus estados, iniciando aplicações,
interrompendo (pause), destruindo ou dando continuidade à execução. 4.1. Sobre os Perfis de Usuários
3. NORMATIZAÇÃO SOBRE CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA As contas de todos os usuários estão armazenadas em um arquivo no formato XML (Figura 6). Esse arquivo
possui informações pessoais do usuário tais como: nome, idade, tipo, senha, tipo_bloqueio, conteudo e id
A norma brasileira (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2007a), aborda os pontos (número de identificação). Os campos nome, senha e id são utilizados para possibilitar o acesso à televisão,
essenciais a respeito do controle de acesso ao conteúdo que poderá ser exibido na televisão, definindo desde este último é um dos responsáveis pela integração com a interface de login por impressão digital (será
um conceito de classificação indicativa até os parâmetros e o modo como deve ser implementado o bloqueio. exposta na Seção 4.2). Os campos idade, tipo_bloqueio e conteudo auxiliam na classificação do conteúdo a
Através desta mesma norma, toma-se conhecimento da obrigatoriedade da implementação de dispositivos de ser exibido (Seção 4.4), onde o tipo_bloqueio informa se o usuário é restrito com relação apenas à idade ou à
bloqueio de programação classificados por idade ou conteúdo. O documento também determina a semântica dos idade e conteúdo. Caso a restrição seja por idade e conteúdo o campo conteudo informará o tipo de conteúdo
descritores, modo de classificação por idade, descrição de conteúdos e configuração do receptor. que não poderá ser exibido.
Conforme dito na Seção 2.3, as informações utilizadas na aplicação de bloqueio deverão ser obtidas Existem dois tipos de perfil: usuário Administrador e usuário Restrito. O perfil de Administrador
a partir do descritor de classificação indicativa (parental rating descriptor) e este deve estar presente desde o tem acesso total aos recursos de gerenciamento do sistema de bloqueio de conteúdo, isso significa que pode
primeiro ciclo da PMT no carrossel de dados (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, criar novos perfis, editar, excluir ou exibir perfis existentes (Figura 7a). O perfil de usuário Restrito permite
assistir à televisão conforme as restrições de bloqueio existentes no próprio perfil (caso o usuário tente
acessar o Menu irá visualizar a Tela de Logoff). Inicialmente, o receptor vem configurado com um usuário O leitor utilizado na implementação deste projeto foi o “Leitor de Impressão Digital
Administrador padrão e a partir dele os outros perfis podem ser criados ou modificados, entretanto, se o Fingerprint Reader” (Figura 8b) da Microsoft que possui interfaces de desenvolvimento para
usuário não deseja utilizar o sistema de “Bloqueio de conteúdo” deve manter inalterada a configuração do auxiliar na criação de aplicações para o mesmo. Foi codificado um programa em Visual Basic (a
usuário padrão. partir de exemplos disponibilizados pelo fabricante) para fazer o cadastro e o reconhecimento da
impressão digital dos usuários do sistema. O aplicativo funciona em dois modos:
1. Inserção da digital;
2. Identificação da digital.
Figura 6: Exemplo dos Campos no Arquivo XML com Informações dos Usuários
Conforme apresentado na Seção 3, a norma brasileira propõe dois tipos de bloqueio: “por idade” ou
“por idade e conteúdo”, mas obriga o fabricante a implementar apenas um deles (ficando a escolha a critério
do mesmo). No bloqueador apresentado neste artigo foram codificados os dois tipos, e caso o modo de
bloqueio escolhido seja “por idade e conteúdo” uma nova opção surgirá requisitando o tipo de conteúdo a ser
bloqueado (Figura 7b).
Figura 8a: Tela de Login Figura 8b: Leitor de Impressão Digital
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Algumas dificuldades iniciais, como os problemas com o difusor de sinal de televisão, impossibilitaram o
uso da API JavaTV de forma plena e não permitiram que fosse possível acessar as informações dos
descritores diretamente no Transport Stream, mas a simulação do TS através dos arquivos XML possibilitou
Figura 9: Exemplo de Arquivo XML com Informações do TS que o trabalho fosse concluído. Dessa forma, pode-se considerar que o projeto teve seu objetivo principal
concluído - a implementação de um bloqueio de conteúdo alcançado.
4.4. Sobre o Bloqueio do Conteúdo Obviamente, alguns aspectos da implementação não esgotam todas as possibilidades, por isso ainda
há melhorias a serem feitas como a inserção de um sistema biométrico que torne o reconhecimento e o
No sistema apresentado neste artigo, foram implementadas as duas opções de bloqueio da norma brasileira acesso dos usuários mais automático do que atualmente. Esse sistema pode ser implementado através de
(Seção 4.1), pois assim o usuário final é quem poderá escolher a alternativa que mais lhe convém. reconhecimento de outros padrões corporais, além da impressão digital utilizada neste trabalho, como:
estatura, face ou olhos. Esses padrões devem estimar a idade das pessoas que estão assistindo televisão sem
Conforme antecipado na Seção 4.2, depois de efetuado o login por parte de um dos usuários necessidade de recursos como login e senha.
cadastrados, o receptor ficará esperando que um canal seja selecionado. Dependendo do conteúdo a ser
exibido no canal selecionado e das configurações de perfil do usuário, ocorrerá ou não o bloqueio do
6. REFERÊNCIAS
conteúdo.
No bloqueio por “idade”, o Set-top Box compara a informação obtida a partir do campo rating (bits ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15604:2007 : Televisão digital terrestre –
b0 a b3) com as informações do perfil do usuário, se a idade do usuário for menor que a da classificação Receptores. Versão corrigida: Abril, 2008. Rio de Janeiro, 2007a.
indicativa, então o conteúdo será bloqueado (Figura 10).
________. NBR 15603-1:2007 : Televisão digital terrestre – Multiplexação e serviços de informação (SI).
Parte 1: SI do sistema de radiodifusão. Rio de Janeiro, 2007b
________. NBR 15603-2:2007 : Televisão digital terrestre – Multiplexação e serviços de informação (SI).
Parte 2: Estrutura de dados e definições da informação básica de SI. Versão corrigida: Abril, 2008. Rio de
Janeiro, 2007c
FERNANDES, J.; LEMOS, G.; SILVEIRA, G. E. Introdução à Televisão Digital Interativa: Arquitetura,
Protocolos, Padrões e Práticas. In: Jornada de Atualização em Informática do Congresso da Sociedade
Brasileira de Computação (JAI-SBC). Salvador/BA. Agosto de 2004.
MATTEDI, J. C. Entenda a nova portaria de classificação indicativa para os programas de TV. Agência
Brasil – Empresa Brasil de Comunicações, 13/02/2007. Disponível em:
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/02/13/materia.2007-02-13.9225391469/view.
Acessado em: Abril, 2009.
MONTEZ, C.; BECKER, V. TV Digital Interativa: conceitos, desafios e perspectivas para o Brasil.
Florianópolis: Ed. da UFSC, 2005. 2a edição.