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Aplicações com Modulações Digitais: TV Digital no

Brasil
Isadora Moreira Minich, Tarcísio Vessozi, Vinicius Anese Nicola
Universidade Federal do Pampa – Campus Alegrete
Professor Fabiano Tondello Castoldi
Disciplina de Telecomunicações
isadoraminich.aluno@unipampa.edu.br, tarcisiovessozi.aluno@unipampa.edu.br,
viniciusnicola.aluno@unipampa.edu.br

Resumo - O Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) baseia-se no padrão ISDB-T, também conhecido como padrão japonês, para
implementação da transmissão digital no Brasil. A transmissão é feita por radiodifusão terrestre com o uso da modulação COFDM-BST ( Coded
Orthogonal Frequency Division Multiplexing - Band Segmented Transmission). Esta modulação estabelece que o canal seja dividido em 13
segmentos e usa uma técnica de transmissão hierárquica, que permite que 13 segmentos sejam modulados em até 3 conjuntos de configurações
diferentes, chamadas camadas. O padrão, também, permite escolher o número total de portadores denominado de modo e o intervalo de guarda,
que se utiliza para as 3 camadas e não pode ter valores diferentes para cada uma individualmente. Cada camada pode conter vários vídeos
permitindo, assim, a multiprogramação e um único canal de 6MHz de banda. No Brasil, as emissoras das grandes redes têm utilizado em um
canal, um ou dois vídeos em alta definição e um serviço para recepção em terminais portáteis ou telefones celulares.

Palavra–chave: TV Digital, Modulação, OFDM, COFDM-BST.

Visto isso, o presente trabalho tem por objetivo apresentar


1. INTRODUCÃO a modulação BST-OFDM utilizada no Sistema Brasileiro de
Televisão Digital (SBTVD), abordando seus conceitos
A televisão é um dos meios de comunicação mais técnicos e suas vantagens e desvantagens a frente da aplicação
utilizados mundialmente e, desde sua criação, desempenha um e entre os outros padrões existentes.
papel importante a respeito à formação de opinião das pessoas.
Além disso, por razões culturais e até mesmo financeiras, a
2. DESENVOLVIMENTO
TV representa uma fonte de entretenimento para a maioria da
população. [1][2]
O início do desenvolvimento da TV Digital se deu no
Com a evolução da tecnologia, a necessidade de
Japão, em função do desenvolvimento da TV de alta definição
aperfeiçoar a qualidade de transmissão e recepção da imagem
(HDTV). O Japão foi pioneiro em programas de alta definição,
se tornou a principal motivação para a melhoria do sistema.
porém em via sistema analógico. [1]
Porém, para isso foi necessário a troca do sinal analógico para
No início dos anos 90, no Estados Unidos, iniciou-se um
o sinal digital. [2]
movimento para o desenvolvimento da TV Digital, onde
Contudo, esta mudança poderia gerar algumas
governo e emissoras viram a importância tecnológica da
consequências, como por exemplo a necessidade técnica de
mesma. O padrão adotado no país foi o ATSC (Advanced
aumentar a banda utilizada na transmissão analógica. Outro
Television System Comittee), que visa a transmissão a uma
detalhe técnico importante da sua implementação é a
taxa de 19,4 Mbps por segundo utilizando MPEG-2. A
modulação a ser empregada, já que o desempenho do sistema
modulação utilizada é a 8-VSB, considerada de fraca
depende diretamente da sua modulação. [1][2]
performance quando avaliada sob o ponto de vista de
Atualmente, existem três sistemas de TV digital que
transmissão e cobertura, já que esta modulação dificulta a
servem como parâmetros e são utilizados mundialmente para
captação dos sinais na recepção em movimento ou em locais
serem implementados ou para servir de base de estudo para
de difícil acesso. [1]
implementação de outros sistemas. O ATSC é chamado de
Na Europa, o padrão adotado foi o DVB, onde a taxa de
padrão americano, o DVB é o padrão europeu e o ISDB é o
bits enviada é alterada de acordo com as necessidades do
padrão japonês. [2]
ambiente de aplicação. Desta forma, ocorre o incremento da
No Brasil, após o decreto para implementação da TV
capacidade, qualidade e a cobertura do sistema, tornando-o
digital foram realizados testes com os três sistemas e um
mais eficaz que o sistema ATSC. Este padrão utiliza a
totalmente brasileiro. Os testes coordenados pela Sociedade
modulação COFDM para que garanta a diminuição de
Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) e a Associação
interferências por multipercurso, permitindo assim, que a rede
Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) elegeu
opere numa só frequência, mesmo em estações emissoras
o padrão japonês como o melhor sistema base a ser adotado, já
vizinhas.[1]
que o mesmo permite a transmissão de dados digitais em alta
No Japão, o padrão criado foi o ISDB (Integrated Service
definição (HDTV) ou em definição padrão (SDTV). [2]
Digital Broadcasting). Este padrão é considerado um
aperfeiçoamento do modelo europeu e adora formatos MPEG-
2 e COFDM. Contrariamente ao sistema americano, o sistema  Camada de aplicação: Executa os aplicativos
de transmissão funciona muito bem em qualquer tipo de desenvolvidos;
ambiente, sendo eficiente também para a televisão móvel.  Camada de middlerware: Permite que as aplicações
Pode-se afirmar que esta é a principal vantagem do sistema, sejam executadas independentes do hardware
visto que possibilita a convergência total das transmissões existente;
televisivas com a internet e com os telefones celulares da  Camada de compressão: Executa a compressão e
terceira geração (3G). [1] descompressão dos sinais de áudio e vídeo;
O sistema adotado no Brasil é chamado de SBTVD. Esse  Camada de transporte: Realiza operações de
padrão foi desenvolvido por um grupo de estudos coordenado multiplexação e demultiplexação dos programas de
pelo Ministério das Comunicações, liderado pela ANATEL TV;
(Agência Nacional de Telecomunicações) com o suporte  Camada de transmissão: Executa as atividades de
técnico do CPqD (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento em modulação/demodulação e
Telecomunicações) e universidades e institutos de pesquisa codificação/decodificação. [4]
brasileiro, além de associações e organizações de profissionais
de radiodifusão e fabricantes de produtos eletrônicos. [3] 2.2. TV DIGITAL NO BRASIL
O SBTVD tem suas raízes no padrão japonês ISDB-T,
que em janeiro de 2009, o grupo de trabalho Brasil-Japão para Como vistos na seção 2, o padrão brasileiro de TV digital
TV digital finalizou e publicou uma documentação é baseado no padrão japonês, chamado ISDB, ou mais
harmonizando as especificações dos padrões ISDB-T puro e precisamente, ISDB-T (Integrated Service Digital
SBTVD, resultando numa especificação chamada agora de Broadcasting Terrestrial). As características de modulação,
ISDB-T Internacional. E esse novo padrão foi proposto pelo transmissão, hierarquia, robustez a multipercursos e tudo que
Japão e Brasil para os demais países latino-americanos e para se relaciona com radiofrequência foi originado no ISDB-T. A
quaisquer outros países interessados em implantar a TV diferença entre eles se deve, principalmente, pelo emprego da
Digital. [3] compressão de vídeo MPEG-4 AVC, exibição da imagem para
dispositivos portáteis em 30 quadros por segundos, visto que
2.1. FUNCIONAMENTO DA TV DIGITAL no padrão japonês são 15 quadros por segundo, e suporte a
interatividade usando o middleware chamado Ginga, que é
A TV Digital é um sistema de radiodifusão que transmite composto pelos módulos Ginga-NCL e Ginga-J, e foi
sinais digitais em substituição aos sinais analógicos. A desenvolvido no Brasil. [5]
recepção do sinal na TV digital tem cerca de 50% de pontos
A modulação empregada no padrão ISDB-T é a
de resolução de imagem a mais, quando comparada à TV
COFDM-BST (Coded Orthogonal Frequency Division
analógica, pois a primeira permite que a integra do sinal
Multiplexing – Band segmented Transmission). O Band
transmitido pelas emissoras seja recebido pelos televisores
Segmented Transmission estabelece que o canal seja dividido
domésticos, o que não ocorre com a analógica, pois grande
em 13 segmentos e usa uma técnica chamada transmissão
parte de seu sinal é perdido pelo percurso da onda. [1]
A Figura 1 apresenta o modelo básico de referência de hierárquica. A transmissão hierárquica permite que os 13
transmissão para os padrões de TV digital. segmentos sejam modulados em até 3 conjuntos de
configurações diferentes, chamada camadas. [5]
O padrão também permite escolher o número total de
portadoras, denominado de modo, e o intervalo de guarda, que
são usados para as 3 camadas e não pode ter valores diferentes
para cada uma individualmente. [5]
A Figura 2 ilustra o sinal da modulação COFDM-BST.

Figura 1: Esquemático básico de transmissão da TV digital. [4]

Na TV digital, os sinais de som e imagem são


constituídos por uma sequência de bits, que podem ser
comprimidos com outros sinais antes de serem transmitidos.
No receptor, o conjunto de sinais é descomprimido e
convertido, desta forma, numa banda de 6MHz, que era
utilizada por apenas um canal de TV analógica, pode ser
veiculadas diversas transmissões simultâneas na TV digital,
utilizando a mesma banda. [1]
O modelo apresentado na Figura 1 é desenvolvido em
camadas, contando 5 ao total sendo elas: Figura 2: Ilustração da modulação COFDM-BST. [5]
OFDM, pois estarão separadas em frequências por um
A modulação COFDM-BST é originada da modulação múltiplo de 1/T, como é apresentado na Figura 3. [3]
OFDM-BST. Ela utiliza uma técnica de modulação de multi-
portadoras, ou seja, a transmissão de um feixe de dados é feita
em paralelo utilizando varias subportadoras correspondentes
ao mesmo canal de comunicação. Cada subportadora pode ser
modulada por esquema de modulação convencional, podendo
ser PSK ou QAM, configurados de acordo com o modo de
recepção e os dados transmitidos. [4]

Figura 5: Subportadora OFDM no domínio do tempo. [3]

Para os sistemas de TV digital no modo de transmissão


Figura 3: Conceito do sinal da modulação OFDM. [1] por radiodifusão terrestre são utilizadas as técnicas de
modulação OFDM com 2048 subportadoras (2k) ou 8192
Para que seja possível utilizar várias subportadoras em subportadoras (8k), além de operar em canais de 6,7 e 8MHz.
único canal, a modulação utiliza frequências ortogonais, o que Por serem em um grande número, essas portadoras não são
significa que as frequências utilizadas para essa função têm moduladas individualmente, isto é realizado através de um
um espaçamento frequêncial de tal forma que são alocadas em IFFT (Inverse Fast Fourier Transform) com 2048 pontos
pontos zero de cruzamento das demais subportadoras do canal. (modo 2k) ou 8192 pontos (modo 8k) que converte os dados
Desta forma, mesmo existindo uma sobreposição espectral das da entrada do domínio do tempo para o domínio da frequência.
subportadoras moduladas, é possível isolar cada uma delas das [6]
demais, como pode ser visto na Figura 2. [3] Desta forma, também é possível diminuir o custo e a
dificuldade de implementação dos sistemas de transmissão e
recepção, sendo que na recepção é utilizada a FFT (Fast
Fourier Transform) para recuperar o sinal. A frequência de
amostragem da IFFT para uso na modulação OFDM para
radiodifusão deve, necessariamente, ser 512/63 MHz
(8.126.984 Hz) considerando um desvio máximo de 0,3
Hz/MHz. [3]
Assim, para minimizar os efeitos de interferências por
multicaminhos e aumentar a robustez do sinal, são
acrescentados blocos funcionais na modulação que podem
detectar e corrigir esses problemas, logo, nos sistemas de TV
digitais a modulação é chamada COFDM-BST. [6]
O uso da modulação COFDM-BST ainda oferece a
possibilidade de criar, em uma mesma área de cobertura, uma
Figura 4: Subportadora OFDM no domínio da frequência. [3] rede de transmissores operando na mesma frequência para
cobrir áreas de sombra e permitir que toda população possa
Este espaçamento é definido pela equação ver os programas de todas as emissoras. [5]
No Brasil, as emissoras das grandes redes têm utilizado
k em um canal, um ou dois vídeos em alta definição e um
∆ f= serviço para recepção em terminais portáteis ou telefones
T
celulares. [5]
Onde T é a duração de cada símbolo e k é um inteiro Algumas desvantagens desta modulação são:
positivo igual a 1. [3]  Baixa tolerância a ruído impulsivo;
Esta ortogonalidade no domínio do tempo implica que as  Aumento da banda de guarda entre
subportadoras de um mesmo canal diferem exatamente por um subportadoras que implica no aumento direto da
número inteiro de ciclos durante um intervalo de símbolo banda a ser transmitida;
 Por outro lado, a redução da banda de guarda
implica em interferência co-canal. [1]
3. CONCLUSÃO A modulação COFDM é altamente robusta, isto porque
quando ocorre alguma interferência ou desvanecimento
Como visto, o processo de escolha da implantação de um seletivo, apenas uma pequena parte do sinal é perdido e pode
sistema de TV Digital é bem complexo, pois abrange questões ser recuperado por meio dos códigos de correção de erros.
técnicas, políticas, econômicas e geográficas. 
Outra vantagem importante do COFDM é a convergência para
a Internet e para telefonia móvel (3G).
Vale a pena ressaltar a importância de escolher uma
técnica correta de modulação para o padrão de TV Digital,
pois pode ser considerada apenas dois estados: excelente
recepção ou nenhuma recepção (não há estados
intermediários).

4. REFERÊNCIAS

[1] RODRIGUES, A. N. A. L.; GOMES, R. M. Modulação


COFDM – Uma proposta atrativa para os padrões de TV Digital
1- Introdução 3- Definição de TV Digital 4- OFDM. [s.l: s.n.].

[2] TV Digital: Conceitos e Sistemas. Disponível em:


[https://www.teleco.com.br/tutoriais/tutorialtvdconsis1/default.asp];
[3] Linhas para criação de uma emissora de TV digital.
Disponível em:
[http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/902/1/CT_COT
EL_2011_2_07.pdf];

[4] TV Digital: Padrões Existentes I. Disponível em:


[https://www.teleco.com.br/tutoriais/tutorialtvdconsis1/pagina_3.asp]
;

[5] Sistema Brasileiro de TV Digital – SBTVD/ ISDB-T.


Disponível em: [https://www.maxwell.vrac.puc-
rio.br/18929/18929_3.PDF];

[6] TV Digital II: Modos de Transmissão e Modulação. Disponível


em:
[https://www.teleco.com.br/tutoriais/tutorialtvdconsis2/pagina_4.asp]

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