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Abstract— This paper presents the traffic characterization em estudo. Finalmente, as conclusões e trabalhos futuros são
of a VoIP system based on data collected from a brazilian apresentados na seção VI.
carrier with more than 10.000 active users. The resulting model
updates existing models and can be applied to capacity planning II. S ISTEMAS VOI P: CONCEITOS B ÁSICOS
and scientific research to workload generation for VoIP system
simulation. Um sistema Voip é caracterizado pelo transporte da voz
através de uma infra-estrutura baseada em IP (rede IP).
I. I NTRODUÇ ÃO Usualmente se refere à conversão da voz tradicional (sinal
analógico) em sinais digitais a serem transportados em pacotes
A utilização de sistemas transmitindo Voz sobre IP (Voice IP. Esta conversão conhecida como codificação da voz pode ser
over IP, VoIP) tende a alterar o perfil de uso das redes de realizada diretamente no próprio aparelho telefônico (telefonia
telecomunicações. Atualmente o uso de sistemas VoIP está em IP), no PABX ou em gateways especı́ficos antes de serem
seu estado inicial - no entanto, as operadoras que oferecem encaminhados para roteadores IP.
serviços baseados em VoIP têm experimentado um grande Vários algoritmos têm sido padronizados para codificação
crescimento de demanda por estes serviços. de voz com taxas de bit variando desde 5,3kb/s to 64kb/s
Um dos problemas a serem enfrentados na implementação [2] [3]. Um codec (de Coder-Decoder) é um dispositivo ou
de novas tecnologias é o correto dimensionamento do sistema. programa capaz de realizar a codificação e a decodificação de
Já é conhecido que o tráfego gerado por sistemas VoIP não voz em fluxo de dados. Seus componentes usuais são amos-
possui as mesmas caracterı́sticas apresentadas pelo sistema tragem da voz, conversão analógica para digital, codificação,
de telefonia convencional. Modelos modernos [1] indicam encapsulamento, transmissão, decodificação, armazenamento e
que o tráfego de sistemas VoIP pode ser modelado através ajuste do atraso (play out). Exemplos de codecs são o G.711,
de um modelo ON-OFF onde os perı́odos ON e OFF são G.729 e G.723 [4]. Os dispositivos que operam com Voz
caracterizados por distribuições de cauda pesada. sobre IP devem suportar no mı́nimo o codec ITU G.711, que
Este trabalho apresenta a caracterização de tráfego VoIP é a especificação da técnica PCM (Pulse Code Modulation).
amostrado em uma grande operadora de telecomunicações No entanto, os dispositivos podem implementar codecs mais
no Brasil contando com aproximadamente 10.000 usuários complexos, com possı́vel impacto no perfil de tráfego gerado.
ativos. Esta caracterização do tráfego se fez a nı́vel de pacotes, Os codecs que apresentam melhores taxas de compressão
utilizando aproximadamente 90 segundos de tráfego. tendem a utilizar pacotes maiores transmitidos a intervalos de
O estudo apresentado analisa os dados obtidos do sistema tempo maiores se comparados ao G.711. A escolha do codec
real, identifica os principais codecs em uso e realiza a mo- é do cliente.
delagem do tráfego no nı́vel de pacotes. É importante citar Um protocolo amplamente utilizado para troca de
que a maioria dos artigos encontrados baseia-se em análise sinalização de telefonia é o SIP (Session Initiation Protocol)
de dados de sistemas VoIP operando em Universidades ou em [5]. Ele estabelece, modifica e finaliza chamadas telefônicas
empresas - diferentemente do nosso universo de usuários, o através do protocolo IP e atuando na camada de aplicação.
que torna os resultados aqui apresentados ainda mais impor- Criado originalmente por Henning Shulzrinne (Columbia Uni-
tantes. Não é de conhecimento dos autores nenhum trabalho versity) e Mark Handlery (UCL) em 1996, é um padrão da
anterior caracterizando um sistema VoIP em uso no Brasil. Internet Engineering Task Force (IETF).
As caracterı́sticas aqui reveladas configuram-se como dados O SIP foi projetado para interagir com outros protocolos da
importantes para análise de desempenho e pesquisas cientı́ficas Internet, funcionando como um mecanismo de estabelecimento
sobre sistemas VoIP. de sessão, iniciando, modificando e terminando a sessão
Este artigo está estruturado como a seguir. A seção II independente do tipo de mı́dia ou aplicação que será usada
introduz o conceitos básicos sobre sistemas VoIP. A seção III na chamada; uma chamada pode utilizar diferentes tipos de
mostra um resumo com trabalhos anteriores sobre o tema. dados, incluindo áudio e vı́deo. O protocolo caracteriza-se por
A IV descreve o conjunto de dados em estudo, e a seção V ser simples, flexı́vel, estável, de não depender do protocolo
apresenta a modelagem de diversas métricas de desempenho de transporte e de ser baseado em texto. Uma vez iniciada
TABELA I
a conferência, a voz será codificada/decodificada utilizando
S UM ÁRIO COLETA DE DADOS
um algoritmo (codec) e transmitida através do protocolo RTP
(Real Time Protocol[6]). Tempo total Quantidade de pacotes Tamanho do arquivo
92,8 segundos 2.420.654 315.073.656 bytes
III. M ODELAGEM DE TR ÁFEGO VO IP
A voz humana pode ser modelada como uma seqüência de
perı́odos de atividade e silêncio, conhecida como padrão ON- • Intervalo entre pacotes dos fluxos RTP de voz;
OFF, primeiramente descrito por [7] e ainda utilizada para • Tamanho do pacote dos fluxos RTP de voz;
modelagem de tráfego na rede de telefonia fixa. Neste tipo de • Codec utilizado pelos fluxos RTP.
rede, usualmente, os perı́odos ON e OFF são modelados por O item V-A a seguir introduz conceitos fundamentais, que
distribuições de decaimento exponencial. Em redes de pacotes, serão utilizados na avaliação das métricas citadas acima.
a modelagem de tráfego usualmente utiliza distribuições de
probabilidade para prever a chegada de pacotes e o tamanho A. Conceitos Fundamentais
dos mesmos. Para entendimento dos resultados da análise dos dados
Trabalhos recentes [8] [9] relatam uma nova alternativa obtidos fazem se necessários os conceitos relacionados a
para caracterização do tráfego gerado pelos codecs G.729 Processo com dependência de longa duração ou Long Range
e G.723 não baseada no modelo ON-OFF. Outros trabalhos Dependence (LRD).
realizados sobre redes de serviço diferenciado também mos- Um Processo com dependência de longa duração ou Long
tram que a caracterização de tráfego diverge daquela utilizada Range Dependence (LRD) é o fenômeno que ocorre quando
para rede de telefonia convencional; em [10] é reportado o observações de um evento são significantemente correlaciona-
comportamento de cauda pesada para os perı́odos ON/OFF e das com observações muito distantes no tempo. Este fenômeno
em [11] é reportado a aderência à distribuição de Weibull, é de particular interesse na modelagem de tráfego, uma vez
que possui decaimento semi-exponencial. [12] considera o que pesquisas comprovaram que o tráfego em redes modernas
uso da distribuição de Pareto e modelos multi-fractais para de comunicação freqüentemente apresenta LRD [17].
reproduzir e caracterizar o tráfego VoIP. Investigações em Em um processo LRD a função de auto-correlação ρk (ou
[13] de uma rede GPRS (General Packet Radio) utilizando ACF, Auto-Correlation Function decai para zero lentamente
G.729 sugere que o perı́odo OFF pode ser modelado por em função do deslocamento (ou Lag) k. Seja Xt , t = 1, 2, . . .,
uma distribuição de Weibull, enquanto [14] argumenta que um processo estacionário de segunda ordem, se existe uma
a distribuição Lognormal pode pode ser utilizada para ambos constante c tal que γk ∼ c/k α , 0 < α < 1, então o processo
os perı́odos ON e OFF. [15] analisa o tráfego VoIP no nı́vel possui LRD.
de pacotes, utilizando os codecs G.723 e G729 e reporta a O termo auto-similar descreve a geometria de objetos em
distribuição de Pareto para os perı́odos ON-OFF e também que uma pequena parte quando expandida se parece com o
para o intervalo entre pacotes. todo [18]. Muitos objetos encontrados na natureza apresentam
IV. C ONJUNTO DE DADOS UTILIZADO caracterı́sticas auto-similares (ou fractais aproximados). Pode-
se citar como exemplo a estrutura geométrica de nuvens,
O conjunto de dados em estudo refere-se ao tráfego coletado montanhas e árvores.
em uma grande operadora de telecomunicações brasileira. A Um processo será auto-similar do ponto de vista estocástico
operadora fornece um serviço de Voz sobre IP utilizando se ele mantém caracterı́sticas estocásticas sobre uma certa
o protocolo SIP. A rede analisada possuı́a aproximadamente faixa de escalas, de modo a satisfazer a relação dada pela
10.000 usuários na época da coleta do tráfego. Equação 1. Processos auto-similares apresentam LRD [1].
Em termos gerais, a rede de acesso é formada de enlaces
ADSL (Assymmetric Digital Subscriber Line). O tráfego VoIP
Xmt ∼
=d mH Xt , m > 0 (1)
gerado pelos usuários é direcionado para uma rede Ethernet
não congestionada. Os usuários enviam solicitações ao Call Hurst foi um famoso hidrólogo interessado no Egito e no
Server conectado à rede Ethernet. O tráfego da porta do switch rio Nilo que mostrou em 1951 que o nı́vel do rio Nilo é uma
Ethernet onde está conectado o Call Server foi espelhado em seqüência LRD. Por razões históricas, o parâmetro de Hurst
uma porta onde foi configurado o analisador de protocolos H = 1 − α/2 é utilizado para representar a auto-similaridade.
Open Source Wireshark [16] e os dados coletados. Um processo com memória longa apresenta auto-similaridade
Os dados foram coletados em 4 de maio de 2006, durante assintótica de segunda ordem.
um perı́odo de 92.8 segundos no momento de maior tráfego. Processo com memória de curta duração ou Short Range
A Tabela I mostra um sumário dos dados coletados. Dependence (SRD) indica o fenômeno onde a observação
corrente não é correlacionada com observações muito antigas.
V. M ODELAGEM DO TR ÁFEGO
Para um processo SRD, a função de auto-correlação decai
rapidamente para zero.
A partir da amostra coletada, foram analisados: O valor H = 12 é o limite entre a LRD e a SRD. Processos
• Protocolos utilizados; com 12 < H < 1 são LRD, enquanto processos com 0 < H <
TABELA II
0.0020
Intervalo entre Pacotes (segundos)
P ROTOCOLOS ENCONTRADOS
0.0010
SIP 39.998 1,65
Outros 159.215 6,57
TABELA III
0.0000
S UM ÁRIO DE ESTAT ÍSTICAS SOBRE O INTERVALO ENTRE PACOTES RTP
( SEGUNDOS )
0 2000 4000 6000 8000 10000
Min. 1o Q Mediana Média 3o Q. Max. Var. Amostra
0.00 8.0e-06 2.30e-05 4.187e-05 5.0e-05 6.649e-03 4.768e-09
Fig. 2. Série temporal representando os intervalos entre pacotes RTP
1 TABELA IV
2 são SRD. O efeito da LRD será maior quando H estiver
PAR ÂMETRO DE H URST PARA OS INTERVALOS ENTRE PACOTES
próximo a 1.
1.0
1.0
1.0
1.0
0.8
0.8
0.8
0.8
0.6
0.6
0.6
0.6
ACF
ACF
ACF
ACF
0.4
0.4
0.4
0.4
0.2
0.2
0.2
0.2
0.0
0.0
0.0
0.0
0 30 60 0 30 0 20 40 0 15 30
TABELA VI
PAR ÂMETRO DE H URST PARA O TAMANHO DOS PACOTES
1000000
Fig. 3. Histograma do tamanho do pacote dos fluxos RTP Codec Número de pacotes %
G.729 1.563.402 70.37%
G.711 500.423 22.52%
iLBC 148.262 6.67%
Outros 7.504 0.33%
1.0
0.8
0.6
H ' 0.56.
0.2
VII. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a GVT pela disponibilização dos
dados utilizados no estudo realizado.
R EFER ÊNCIAS
[1] W. Willinger and K. Park. Self-similar network traffic and performance
evaluation. John Wiley & Sons, New York, 1st edition, 2000.
[2] A.Tyagi, H. De Meer, and J.K.Muppala. VoIP support on differentiated
services using expedited forwarding. In ICON 2000. IEEE International
Conference on Networks 2000, pages 574–580, February.
[3] R.V.Cox. Three new speech coders from the itu cover a range of
applications. Communications Magazine, IEEE, 35(9):40–47, September
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[4] ITU-T. Recommendation G.711. pulse code modulation (PCM) of voice
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[5] J. Rosenberg, H. Schulzrinne, G. Camarillo, A. Johnston, J. Peterson,
R. Sparks, M. Handley, and E. Schooler. Sip: Session initiation protocol,
2002.
[6] H. Schulzrinne, S. Casner, R. Frederick, and V. Jacobson. STD 64:
RTP: A transport protocol for real-time applications, July 2003. See
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[8] A.Estepa, R.Estepa, and J.Vozmediano. Packetization and silence
influence on voip traffic profile. In Lecture Notes on Computer Science,
Multimedia Interactive Protocols and Systems MIPS 2003, 2003.
[9] A.Estepa, R.Estepa, and J.Vozmediano. A new approach for voip traffic
characterization. IEEE Communications Letters, 8(10), October 2004.
[10] W.Jiang and H.Schulzrinne. Analysis of on-off patterns in voip and
their effect on voice traffic aggregation. In Proceedings of 9th IEEE
International Conference on Computer Communication Networks, 2000.