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Introdução a Televisão Digital

Article · January 2006

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Luciano Leonel Mendes


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Introdução a Televisão Digital
Luciano Leonel Mendes1, Sandro Adriano Fasolo2

Resumo  O objetivo deste artigo é apresentar uma Neste artigo também será apresentado algumas defi-
análise sobre os fundamentos e padrões utilizados para nições e fundamentos sobre os padrões de Televisão Di-
radiodifusão da Televisão Digital. É feita uma breve gital.
comparação entre os sistemas existentes, abordando os
principais aspectos que afetam na decisão do padrão a II. TELEVISÃO DIGITAL
ser adotado, passando por uma análise técnica e de mer- No início da década de 80, o Japão apresentou um sistema
cado nos principais países detentores de tecnologia de analógico de alta definição denominado de MUSE. Este
Televisão Digital da atualidade. sistema, embora complexo e dispendioso, foi comercial-
mente implementado e obteve algum sucesso no Japão,
Abstract  The main purpose of this paper is to show an mas apenas para transmissão via satélite. A largura de
analysis about the fundaments and standards used in banda requerida por este sistema inviabilizava a transmis-
Digital Television broadcasting. This analysis is realized são terrestre do sinal analógico de alta definição. As prin-
comparing the developed systems, approaching the main cipais características deste padrão estão apresentadas na
aspects which affects the decision about the standard to Tabela 1.
be adopted. The aspects analyzed in this paper involve a
technical approach and also the market in the countries Tabela 1: Características do sistema MUSE.
that develope the Digital Television technology. Característica Valor
Largura de Banda 30MHz
Palavras-chaves  ATSC, DVB-T, ISDB-T, TV Digital. Número de Linhas 1125
Número de Linhas Ativas 1035
I. INTRODUÇÃO Varredura Vertical 60Hz
Relação de Aspecto 16:9
Desde seu advento, em meados da década de 20, a televi-
são faz parte do cotidiano da sociedade, tendo uma alta
Devido ao grande ganho na qualidade da imagem com
penetração em todas as camadas da população. Especial-
relação aos padrões convencionais de TV (NTSC - Natio-
mente no caso do Brasil, onde a penetração chega a 90%
nal Television System Committee -, PAL - Phase Alterna-
dos lares [1], a televisão é um fator de formação de opini-
tion by Line - e SECAM - Sequential Couleur Avec Me-
ão muito importante. Além disso, seja por razões culturais
moire), houve um grande interesse no padrão de Televi-
ou financeiras, a televisão é uma das principais formas de
são de Alta Definição (HDTV - High Definition Televisi-
entretenimento da maior parte da população.
on), mas as dificuldades em realizar a radiodifusão ter-
A criação da Televisão Digital trouxe grandes vanta-
restre do sinal HDTV limitou o acesso a esta tecnologia.
gens com relação a televisão analógica, como qualidade
No início da década de 90, os principais centros tec-
de imagem e som, interatividade dos telespectadores e
nológicos mundiais, como EUA, Europa e Japão, já esta-
diversidade de programação. Porém, é importante salien-
vam pesquisando padrões digitais para radiodifusão ter-
tar que o processo de migração do padrão analógico para
restre de televisão. No ano de 1993, a Grande Aliança,
o padrão digital não pode afetar nenhuma camada da
formada por empresas do ramo, apresentou o padrão que
população, pois a televisão funciona como um fator de
foi adotado pelo Comitê de Sistemas de Televisão Avan-
integração nacional, fazendo com que todas as regiões do
çados (ATSC – Advanced Television Systems Committee),
país possuam interesses em comum e atuem em conjunto.
nos EUA. Neste mesmo ano, um grupo de estudo europeu
Desta forma, é importante levar em consideração os di-
denominado de ELG (European Lauching Group) definiu
versos fatores que influenciam na decisão de qual padrão
o padrão de Televisão Digital a ser utilizado na Europa.
deve ser adotado. Caso haja uma análise errônea ou a
Esse padrão foi chamado de DVB-T (Digital Video Broa-
omissão de algum desses fatores, pode ocorrer que a Te-
dcasting Terrestrial). Em 1999, o grupo japonês denomi-
levisão Digital não alcance o mesmo sucesso que sua
ado de ADTV-LAB (Advanced Digital Television Labo-
antecessora atingiu.
ratory) apresentou o padrão ISDB-T (Integrated Services
A seguir é apresentado os aspectos que serão analisa-
of Digital Broadcasting Terrestrial), que é o padrão ado-
dos neste artigo:
tado no Japão [2].
• Qualidade técnica do sistema; Todos os padrões apresentados possuem o mesmo
• Aceitação no mercado; objetivo, que é melhorar a qualidade de imagem e som,
• Relacionamento com o(s) país(es) detentor(es) da utilizando a mesma largura de faixa dos canais de TV
tecnologia; Analógica. Uma análise mais detalhada sobre cada padrão
• Necessidade da comunidade; é feita mais adiante.
• Efeitos na balança comercial.

1
Luciano Leonel Mendes, INATEL, Av. João de Camargo, 510, 37540-000, Santa Rita do Sapucaí, MG, Brazil, lucianol@inatel.br
2
Sandro Adriano Fasolo, INATEL, Av. João de Camargo, 510, 37540-000, Santa Rita do Sapucaí, MG, Brazil, sandro.fasolo@inatel.br

1
III. RESOLUÇÕES NA TELEVISÃO DIGITAL Segundo a Tabela 3, mesmo no modo SDTV há um
ganho de resolução quando comparado com os padrões
Um dos parâmetros que mais motivou o estudo e desen- analógicos. Há uma diferença entre o número de linhas
volvimento da Televisão Digital foi o ganho na definição total e o número de linhas ativas nos sistemas analógicos,
de imagem. Com as técnicas de modulações digitais asso- pois as primeiras e últimas linhas do quadro não podem
ciadas com as técnicas de compressão de vídeo, é possível ser usadas, devido ao apagamento vertical. Outro fator
transmitir um sinal digital de alta definição dentro da que degrada a resolução da televisão analógica é o fato da
largura de faixa destinada para a televisão analógica. Essa mesma utilizar o intrelaçamento de dois campos para
largura de faixa do canal varia em função do padrão ana- formar um quadro. Isso faz com que se tenha uma sobre-
lógico utilizado em cada país. No Brasil, Japão e EUA posição das linhas, reduzindo a resolução útil na recep-
utiliza-se o canal de 6MHz, mas na Europa e Ásia existem ção.
países que adotam canais de 7MHz e 8MHz [3].
Outra razão para investir na Televisão Digital é a IV. PADRÕES DIGITAIS
possibilidade de aumentar a diversidade da programação.
Por este motivo, previu-se três possíveis resoluções, con- Conforme apresentado anteriormente, foram desenvolvi-
forme mostrado na Tabela 2. dos três padrões de Televisão Digital até o momento: o
ATSC nos EUA, o DVB na Europa e o ISDB no Japão.
Tabela 2 : Resoluções da TV Digital. Nesta sessão, será apresentado uma relação das principais
Linhas Pontos por linha Relação de Aspecto características destes padrões.
SDTV 480 640 4:3 A Tabela 4 apresenta as principais características do
EDTV 720 1280 16:9 padrão ATSC [4].
HDTV 1080 1920 16:9
Tabela 4: Padrão ATSC.
O formado SDTV (Standard Definition Television) Característica
possui uma definição praticamente igual a definição obti- Modulação 8-VSB (Vestigial Side Band)
da nos padrões analógicos. Assim, o formato SDTV re- Sistema de áudio DOLBY/AC-3 (padrão proprietário)
Largura de Faixa 6MHz
quer uma menor parcela do espectro. O formato EDTV
Formatos sustentados SDTV, EDTV e HDTV
(Enhanced Definition Television) é uma opção intermedi- Taxa de símbolos 10,76 . 106 símbolos/segundo
ária entre o formato SDTV e HDTV, ou seja, possui uma Taxa de bits útil 19,28 . 106 bps
melhor definição, mas ainda não ocupa toda a banda dis-
ponível. Utilizando uma combinação dos diferentes for- O padrão ATSC foi desenvolvido principalmente
matos, é possível fazer um melhor uso do espectro, con- para atender as necessidades do formato HDTV. A técni-
forme mostrado na Figura 1. ca 8-VSB é baseada na modulação AM/VSB utilizada
para transmissão de sinais analógicos. Na modulação 8-
HDTV D VSB, existem oito níveis possíveis, onde cada nível car-
rega três bits. Desta forma, a taxa de bits total no canal
chega a 32,28 Mbps. A diferença entre a taxa total e a
EDTV SDTV D taxa útil do sistema ocorre devido ao uso de redundâncias
necessárias ao sistema, como por exemplo, códigos cor-
retores de erro e sinais de sincronismo.
SDTV SDTV SDTV SDTV D Algumas das principais características do padrão
DVB-T são apresentadas na Tabela 5.
Figura 1: Combinação de Resoluções.
Tabela 5: Padrão DVB-T.
O campo D apresentado na Figura 1 representa uma Característica
parcela do espectro de sinais destinada para a transmissão Modulação COFDM
de dados para o usuário. Pode-se utilizar estes dados para Modulação das sub-portadoras QPSK, 16QAM ou 64QAM
permitir interatividade do telespectador ou para permitir o Sistema de áudio MPEG2
acesso a Internet através do receptor de Televisão Digital. Largura de Faixa 6MHz, 7MHz ou 8MHz
Formatos sustentados SDTV, EDTV e HDTV
Neste caso, o canal reverso (canal de uplink) é feito atra-
Taxas de bits [Mbps] Mínima: 4,98 - Máxima: 31,67
vés da linha telefônica convencional. A Tabela 3 mostra
uma comparação entre o número de linhas dos principais
sistemas analógicos e os formatos existentes para Televi- A modulação COFDM (Coded Orthogonal Frequen-
são Digital. cy Division Multiplexing) [5] utilizada no DVB-T é um
sistema multiportadora, onde cada portadora é ortogonal
Tabela 3 : Comparação entre TV Analógica e Digital. com relação as demais. Cada sub-portadora pode ser mo-
Sistema Resolução Linhas Ativas
dulada utilizando QPSK, 16QAM ou 64 QAM, depen-
PAL-M 525 linhas 320 linhas dendo das condições de transmissão e da taxa de bits
PAL 625 linhas 330 linhas requerida. O uso da modulação OFDM garante uma gran-
SECAM 625 linhas 330 linhas de robustez do sistema em canais com multipercursos,
NTSC 625 linhas 330 linhas pois no OFDM existe um tempo de guarda, que permite a
SDTV 480 linhas 480 linhas sobreposição temporal entre símbolos OFDM adjacentes,
EDTV 720 linhas 720 linhas sem perdas de informação. Para isso, no entanto, é neces-
HDTV 1080 linhas 1080 linhas
sário que o tempo de guarda do sinal OFDM seja maior
2
do que a dispersão temporal introduzida pelo canal. No erro, que são capazes de corrigir os erros introduzidos
DVB-T, é previsto tempos de guarda de 1/4, 1/8, 1/16 e pelo canal, até certo limiar. Se a taxa de erro estiver abai-
1/32 do tempo de símbolo OFDM. Quanto maior o tempo xo deste limiar, o código corretor é capaz de corrigir to-
de guarda, maior será a robustez ao múltiplos percursos, dos os erros introduzidos pelo canal e não há percepção
porém há redução na taxa de transmissão. na queda da qualidade da imagem. Mas se a relação si-
A Tabela 6 apresenta as principais características do nal/ruído for baixa a ponto da taxa de erro ultrapassar a
padrão ISDB-T. capacidade de correção do código, então decodificador
passa a introduzir erros ao invés de corrigir, de modo que
Tabela 6: Padrão ISDB-T. a recepção se torna inviável e não há reprodução da ima-
Característica gem. Desta forma, na Televisão Digital, ou tem-se uma
Modulação COFDM imagem de excelente qualidade ou não se tem imagem
Modulação das sub-portadoras QPSK, DQPSK, 16QAM ou 64QAM alguma. Isto pode causar problemas de cobertura em áreas
Sistema de áudio MPEG2
de sombra ou que estão localizadas muito longe do trans-
Largura de Faixa 6MHz
Formatos sustentados SDTV, EDTV e HDTV
missor, caso o sistema não esteja bem dimensionado.
Taxas de bits [Mbps] Mínima: 4,98 – Máxima: 31,67 Multipercurso

O padrão ISDB-T foi baseado no padrão europeu Nas transmissões de radiodifusão, é comum que várias
(DVB-T), com algumas mudanças para permitir maior versões do sinal transmitido cheguem na antena de recep-
mobilidade do receptor. ção de um dado usuário, através de diferentes percursos.
Cada um destes percursos apresenta atenuação e atraso
V. CANAL DE TRANSMISSÃO diferente dos demais percursos, o que faz com que o sinal
recebido seja formado pela sobreposição das versões de
Em um sistema de transmissão sem fio, o canal de vários símbolos provenientes dos diferentes caminhos. A
transmissão introduz diversas interferências e ruídos no Figura 3 mostra o modelo de um canal com multipercur-
sinal desejado, limitando a capacidade do sistema. Para o sos.
sucesso de um dado padrão, é fundamental que o mesmo
apresente contra-medidas adequadas para que a transmis-
são seja viável. A seguir será apresentado uma breve
descrição sobre a influência dos dois principais fatores
que degradam a qualidade de um sistema de transmissão
sem fio.
Ruído Branco
O ruído branco aditivo com distribuição gaussiana
(AWGN - Aditive White Gaussian Noise) está presente
em todo o espectro de freqüências e não pode ser evitado.
A Figura 2 apresenta um modelo para canais AWGN.
s(t)
+ r(t)

n(t)
Figura 2: Canal AWGN.
α2s(t-τ2)
α0 s(t+
Através da Figura 2, pode-se definir o sinal recebido, τ0 )
r(t), como

r (t ) = s (t ) + n(t ) (1)
Receptor

onde s(t) é o sinal transmitido e n(t) é o ruído AWGN


Transmissor
α1s(t-τ1)
introduzido pelo canal.
Na transmissão analógica, o ruído branco provoca
queda na qualidade do sinal recebido, causando o apare- Figura 3: Modelo de um canal com multipercurso
cimento de “chuviscos” na imagem. Essa queda na quali-
dade da imagem ocorre gradualmente, ou seja, a medida Através da Figura 3 pode-se determinar o expressão
em que a relação entre a potência do sinal e a potência do para o sinal recebido rf (t) como
ruído presente na banda de interesse diminui, ocorre uma
N −1
diminuição na qualidade da imagem.
Nos sistemas de Televisão Digital, a informação r f (t ) = ∑α ⋅ s(t − τ )
i =0
i i (2)
transmitida no canal está na forma digital. A queda na
relação entre a potência do sinal e a potência do ruído
causa um aumento da probabilidade de erro de bit. Todos
os padrões apresentados utilizam códigos corretores de
3
onde αi e τi são, respectivamente, a atenuação e o atraso analógico para assistir os programas transmitidos no pa-
sofridos pelo i-ésimo percurso e N é o número de multi- drão digital. O uso dos Set Boxes será fundamental para o
percursos existentes no canal. início da migração do sistema analógico para o sistema
Na TV Analógica, os canais com multipercursos cri- digital. Sendo assim, será necessário que o padrão digital
am a sobreposição da imagem, causando os chamados adotado coexista com o padrão analógico durante a fase
“fantasmas”, o que prejudica a qualidade de recepção. Já de migração, que deve durar entre 10 a 15 anos após o
na TV Digital, os canais com multipercursos introduzem a início das operações do sistema digital. Para que ocorra
Interferência Intersimbólica (ISI), que é a sobreposição esta coexistência, as emissoras deverão transmitir suas
entre os bits transmitidos devido a dispersão temporal do programações em ambos os padrões (analógico e digital),
canal. A Figura 4 ilustra a ocorrência da ISI. em canais distintos. Isto implica que cada emissora terá
que duplicar sua infra-estrutura de transmissão, uma vez
1.1
que a tecnologia para transmissão de sinais analógicos
1.0
não pode ser empregada para transmitir sinais digitais. Os
.9
órgãos reguladores terão que conceder um canal extra de
.8
6MHz para cada operadora para viabilizar a habilitação
Amplitude

.7
do sistema digital, de modo que os serviços já alocados
.6

.5
não sejam interrompidos [3]. Esses órgãos também serão
.4
responsáveis pela fiscalização para certificar que as emis-
.3
soras utilizem equipamentos homologados e que obede-
.2 çam as limitações impostas para o bom funcionamento
.1 tanto do padrão digital quanto do padrão analógico.
0 Além da alocação e fiscalização do espectro de fre-
-.1
0 .5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 5.5 6 6.5 7 7.5
qüências, é importante estimular o mercado interno para
Tempo (s) que o mesmo passe a gerar a tecnologia necessária para
sustentar o desenvolvimento do sistema. Outro fator de
Figura 4: Sobreposição dos Bits Transmitidos.
grande importância é determinar metas para o aumento
A ISI causa aumento na taxa de erro de bits, diminu- progressivo da programação digital por parte das emisso-
indo o desempenho do sistema [6]. Se nenhuma contra- ras e definir metas para completar a migração, para per-
medida é tomada, a ISI pode inviabilizar a recepção. mitir o desligamento dos canais analógicos.
O padrão ATSC utiliza equalizadores no domínio do
tempo para eliminar a interferência intersimbólica do VII. TV DIGITAL NO BRASIL
sinal recebido [4]. O desempenho destes equalizadores é Em 1994, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio
fundamental para que o sistema funcione de maneira e Televisão (ABERT) e a Sociedade Brasileira de Enge-
adequada. Caso o número de percursos existentes seja nharia da Televisão (SET) iniciaram o estudo para definir
maior do que a capacidade de atuação do equalizador, a a migração da TV Analógica para a TV Digital no Brasil.
taxa de erro se torna elevada a ponto de colocar o sistema Em 1998, a ANATEL iniciou os estudos sobre o padrão a
fora de operação. ser adotado. Para fundamentar a escolha, decidiu-se reali-
Na modulação COFDM, utilizada nos padrões DVB- zar testes com os três sistemas, que foram implementados
T e ISDB-T, há um tempo de guarda entre os símbolos em 2000.
OFDM, o que torna o sistema robusto a ISI. Se o atraso Os padrões ATSC, DVB-T e ISDB-T foram submeti-
médio dos percursos existentes for menor do que o tempo dos as seguintes testes:
de guarda, não há perda de informação. Assim, a modula- • Interferência entre sinais analógicos e digitais: tem o
ção COFDM não requer equalizadores complexos para objetivo de determinar qual é a tolerância do sistema
que se tenha sucesso na recepção em canais com multi-
digital a interferências provocadas pelos canais ana-
percursos. Os equalizadores utilizados no sistema lógicos.
COFDM atuam no domínio da freqüência que utilizam
• Cobertura do sinal transmitido: visa determinar a área
portadoras de referência para minimizar as distorções
de cobertura de cada padrão, utilizando a mesma po-
introduzidas pelo canal, através de uma interpolação line-
tência de transmissão. Também analisa o desempe-
ar [5].
nho dos receptores em áreas de sombras e nas fron-
VI. ASPECTOS REGULATÓRIOS teiras de cobertura.
• Condições domésticas de recepção: analisa a quali-
A implantação do sistema de TV Digital deve ocorrer de dade de recepção em diversos ambientes domésticos,
maneira organizada, para que a comunidade em geral não utilizando antenas internas e externas, determinando
seja prejudicada e para que as operadoras não tenham o desempenho do receptor em canais normalmente
prejuízos. Inicialmente, somente as classes A e B da po- encontrados pelo receptor.
pulação terão recursos para adquirir televisores digitais. • Qualidade de recepção móvel: determina a viabilida-
As demais camadas da população irá fazer uso de conver- de e a tolerância do sistema a mobilidade do receptor.
sores (Set Boxes) ou continuará utilizando os receptores
analógico. Os Set Boxes são conversores que recebem Os resultados dos testes apresentaram que os padrões
sinais de TV Digital de um dado padrão e o convertem que utilizam a modulação COFDM obtiveram um bom
para um padrão analógico (NTSC, PAL ou SECAM), de desempenho nas mais diversas condições de recepção,
modo que o usuário ainda possa utilizar um televisor utilizando tanto antena interna quanto antena externa. O
4
padrão ISDB-T apresentou melhor desempenho que o pesquisas realizadas, o grande fator motivador para o
sistema DVB-T, pois possui maior robustez e flexibilida- telespectador aderir ao sistema de TV Digital é a alta
de quanto a mobilidade do receptor. O padrão ATSC definição. Sendo assim, o formato HDTV será vinculado
apresentou baixo desempenho para a recepção doméstica em breve.
utilizando antena interna, ou seja, canais com multiper- Na Europa, a distribuição de recepção vária muito entre
cursos onde não existe um percurso predo os diferentes países. Por exemplo, na Holanda, mais de
minante (visada direta). Outro problema apresentado 90% da população recebe sinais de televisão via cabo,
pelo padrão ATSC foi o baixo desempenho apresentado enquanto que na Espanha, mais de 90% da população
em áreas de sombra. É importante salientar que alguns utiliza recepção terrestre, através de antenas internas ou
pesquisadores descordam dos procedimentos utilizados externas. A Figura 6 mostra a média desta distribuição
nestes testes. entre os países europeus.
Devido a este perfil, o sistema DVB-T foi desenvolvido
VIII. FATORES MERCADOLÓGICOS para atender as situações típicas em praticamente toda a
A adoção do padrão não depende apenas do desem- Europa.
penho técnico. Outro fator de grande importância é o
100
comportamento do mercado nos países detentores da
tecnologia. Se existir uma grande aceitação do padrão, os 90
preços dos receptores irão recuar, tornando-se acessíveis
80
para as camadas A e B no início da implementação e,
posteriormente, também a camada C da população [2]. 70
Nos EUA, a cobertura do padrão ATSC já atinge cer- 60
ca de 64% dos lares. Embora o preço dos televisores di-
gitais ainda esteja elevado (em torno de $10.000,00), há 50
uma crescente procura pela nova tecnologia. O padrão 40
ATSC apresentou problemas para a transmissão em radi-
odifusão, pois a modulação 8-VSB se mostrou muito 30
susceptível ao multipercursos. Algumas empresas chega- 20
ram a cogitar o uso do COFDM nos EUA para a radiodi-
10
fusão, mas o FCC (Federal Communications Commissi-
on), que é o órgão do governo americano responsável pela 0
legislação das telecomunicações, não aprovou esta inicia- Satélite Terrestre Cabo
tiva. Outro fator importante a ser analisado é que a maior Figura 6: Percentual da TV Analógica na Europa.
parte da população americana recebe sinais de televisão
via cabo. Neste meio, os problemas com a ISI são mini- O padrão ISDB-T ainda não está disponível comerci-
mizados. A Figura 5 mostra essa distribuição. almente e foi adotado apenas pelo Japão, onde foi desen-
volvido. A flexibilidade deste padrão para a mobilidade
100 do receptor, permite que este padrão possa ser usado não
só para a radiodifusão de televisão, mas também para
90
outras aplicações multimídia de banda larga.
80 A Figura 7 mostra a distribuição da recepção de sinais
70
de televisão no Japão.

60 100
50 90
40 80
30 70
20 60
10 50
0 40
Satélite Terrestre Cabo
Figura 5: Percentual da TV Analógica nos EUA. 30

20
Na Europa, o país que possui maior tradição em TV
Digital é a Inglaterra. Embora apenas o formato SDTV 10
esteja sendo utilizado, o interesse das pessoas por televi- 0
sores digitais de tela grande (acima de 29”) vem crescen- Satélite Terrestre Cabo
do continuamente ao longo dos anos, provando que este Figura 7: Percentual da TV Analógica no Japão.
mercado é muito promissor para a indústria eletrônica e
para as operadoras de televisão. O DVB-T vem sendo No Brasil, a recepção de sinais terrestre abrange mais
utilizado na transmissão do formato SDTV. Mas segundo de 65% da população. O percentual que utiliza antenas

5
internas é, na média, de 20%. Por este motivo, o padrão a Existem, atualmente, três padrões estabelecidos: o
ser adotado deve apresentar bom desempenho com este ATSC (EUA), o DVB-T (Europa) e o ISDB-T (Japão).
tipo de recepção. A Para a adoção de um destes padrões, é necessário realizar
Figura 8 mostra a distribuição em cada região do uma análise minuciosa sobre os aspectos técnicos e mer-
Brasil. cadológicos de cada sistema, afim de garantir o melhor
atendimento a população.
100
90 Legenda X. REFERÊNCIAS
80
Assinatura [1] PNAD99, “Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios”, Insti-
70
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística”, 1999.
60 Aberta Via Satélite
50 [2] Cunha, J, M, “TV Digital: Desafio ou Oportunidade”, Reltório
40 Aberta Antena Interna BNDES, novembro/2002.
30 [3] Pires, J, C, “Políticas Regulatórias no Setor de Telecomunicações”,
20 Aberta Antena Externa Relatório BNDES, setembro/1999.
10
[4] ATSC Document A-54, “Guide to the Use of the ATSC Digital
0
Television Standard”, 1995.
Norte
Centro
Sudeste

Nordeste
Oeste

Sul

[5] Bahai, R; Sattzberg, B, R, Multi-Carrier Digital Communications:


Theory and Applications of OFDM, Kluwer Academic, New York,
Figura 8: Penetração da TV Analógica no Brasil. 1999.
[6] Sklar, B, Digital Communications – Fundamentals and Applicati-
A adoção do padrão a ser adotado ainda depende de ons, Prentice Hall, New Jersey, 1988.
dois importantes fatores:

• Relação com os países detentores da tecnologia.


• Investimentos e a Balança Comercial.

É importante ter boas relações comerciais com os países


detentores da tecnologia adotada, para que o fornecimento
de componentes e equipamentos necessários a implanta-
ção do sistema seja facilitada, permitindo o desenvolvi-
mento interno através da transferência de recursos e tec-
nologia. Além disso, é fundamental possuir participação
nas mudanças e adaptações que sejam realizadas no sis-
tema adotado.
Os investimentos iniciais para a implantação do padrão
será muito alto, devido a duplicação da infra-estrutura de
transmissão e duplicação dos enlaces de RF. Como não há
produção interna dos equipamentos necessários para a
transmissão e recepção, os mesmos terão que ser importa-
dos. Isso irá causar um desequilíbrio na balança comerci-
al. Para minimizar este efeito, deve-se analisar qual pa-
drão irá causar menor impacto na balança comercial. O
maior investimento será realizado pelos telespectadores,
que será a aquisição dos televisores digitais. No caso dos
receptores, o déficit causado pelos três padrões é pratica-
mente o mesmo, pois o componente de maior valor que é
a tela de plasma, é utilizado na fabricação dos televisores
dos três padrões. Portanto, é necessário investir no desen-
volvimento deste componente, para que o mesmo seja
produzido pelo mercado interno, podendo até mesmo ser
exportado para outros mercados.
IX. CONCLUSÕES
A Televisão Digital já é uma realidade e está cada
vez mais presente no dia a dia dos países desenvolvidos.
A melhora na definição da imagem e na qualidade do som
são os grande motivadores para a migração para um sis-
tema digital de televisão. Mas esta migração deve ser
realizada com acompanhamento, pois os investimentos
devem ser feitos a medida com que o mercado para a TV
Digital se expande.

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