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13/11/2017 Evento 9 - DESPADEC1

Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Paraná
13ª Vara Federal de Curitiba
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EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA CRIMINAL Nº 5002617-49.2017.4.04.7000/PR


EXCIPIENTE: MARISA LETICIA LULA DA SILVA
EXCIPIENTE: LUIZ INACIO LULA DA SILVA
EXCEPTO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

DESPACHO/DECISÃO

Exceções de incompetência 5002617-49.2017.4.04.7000, 5001441-


35.2017.4.04.7000, 5006724-39.2017.4.04.7000, 5003159-67.2017.4.04.7000

1. Trata-se de exceções de incompetência interpostas pelas Defesas


do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de Roberto Teixeira, de Branislav
Kontic e de Antônio Palocci Filho, em relação à ação penal 5063130-
17.2016.4.04.7000 e reunidas para julgamento conjunto. Alegam em síntese:

a) que os fatos narrados na denúncia ocorreram em São Paulo/SP;

b) que não há conexão com crimes havidos na Petróleo Brasileiro


S/A - Petrobrás e há uma extensão indevida da competência com base em uma
conexão elastecida;

c) que não se pretende questionar a competência da 13ª Vara Federal


de Curitiba para os crimes apurados na Operação Lavajato (Defesa de Luiz Inácio
Lula da Silva), mas que os fatos narrados na denúncia não têm relação com
eventuais crimes havidos na Petrobrás;

d) que a Petróleo Brasileiro S/A - Petrobrás é sociedade de economia


mista e crimes contra ela cometidos são de competência da Justiça Estadual;

e) que, no inquérito 2006.7000018662-8, que deu origem à


investigação, não havia igualmente conexão com processos em curso na 13ª Vara
Federal de Curitiba, tendo havido vício na distribuição originária; e

f) que não há conexão entre os crimes e que a maioria dos fatos


criminosos, bem como os mais graves, na Operação Lavajato ocorreram em São
Paulo.

Requerem a remessa da ação penal à Justiça Federal de São Paulo.

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Ouvido, o MPF manifestou-se pela improcedência das exceções.

Decido em conjunto.

2. Transcreve-se, por oportuno, a síntese da denúncia formulada na


ação penal 5063130-17.2016.4.04.7000 que foi efetuada na decisão de
recebimento (evento 4):

"Tramitam por este Juízo diversos inquéritos, ações penais e processos incidentes
relacionados à assim denominada Operação Lavajato.

Em grande síntese, na evolução das apurações, foram colhidas provas, em


cognição sumária, de um grande esquema criminoso de corrupção e lavagem de
dinheiro no âmbito da empresa Petróleo Brasileiro S/A - Petrobras cujo acionista
majoritário e controlador é a União Federal.

Grandes empreiteiras do Brasil, especificamente a OAS, Odebrecht, UTC,


Camargo Correa, Techint, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Promon, MPE,
Skanska, Queiroz Galvão, IESA, Engevix, SETAL, GDK e Galvão Engenharia,
teriam formado um cartel, através do qual, por ajuste prévio, teriam
sistematicamente frustrado as licitações da Petrobras para a contratação de
grandes obras, e pagariam sistematicamente propinas a dirigentes da empresa
estatal calculadas em percentual sobre o contrato.

O ajuste prévio entre as empreiteiras eliminava a concorrência real das licitações


e permitia que elas impussessem o seu preço na contratação, observados apenas
os limites máximos admitidos pela Petrobrás (de 20% sobre a estimativa de preço
da estatal).

Os recursos decorrentes dos contratos com a Petrobrás, que foram obtidos pelos
crimes de cartel e de ajuste de licitação crimes do art. 4º, I, da Lei nº 8.137/1990
e do art. 90 da Lei nº 8.666/1993, seriam então submetidos a condutas de
ocultação e dissimulação e utilizados para o pagamento de vantagem indevida
aos dirigentes da Petrobrás para prevenir a sua interferência no funcionamento
do cartel.

A prática, de tão comum e sistematizada, foi descrita por alguns dos envolvidos
como constituindo a 'regra do jogo'.

Receberiam propinas dirigentes da Diretoria de Abastecimento, da Diretoria de


Engenharia ou Serviços e da Diretoria Internacional, especialmente Paulo
Roberto Costa, Renato de Souza Duque, Pedro José Barusco Filho, Nestor Cuñat
Cerveró e Jorge Luiz Zelada.

Surgiram, porém, elementos probatórios de que o caso transcende a corrupção - e


lavagem decorrente - de agentes da Petrobrás, servindo o esquema criminoso
para também corromper agentes políticos e financiar, com recursos provenientes
do crime, partidos políticos.

Aos agentes e partidos políticos cabia dar sustentação à nomeação e à


permanência nos cargos da Petrobrás dos referidos Diretores. Para tanto,
recebiam remuneração periódica.

Entre as empreiteiras, os Diretores da Petrobrás e os agentes políticos, atuavam


terceiros encarregados do repasse das vantagens indevidas e da lavagem de
dinheiro, os chamados operadores.

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Nesse quadro amplo, vislumbra o MPF uma grande organização criminosa


formada em um núcleo pelos dirigentes das empreiteiras, em outro pelos
executivos de alto escalão da Petrobrás, no terceiro pelos profissionais da
lavagem e o último pelos agentes políticos que recebiam parte das propinas.

A presente ação penal tem por objeto uma fração desses crimes.

Em nova grande síntese, alega o Ministério Público Federal que o ex-Presidente


da República Luiz Inácio Lula da Silva teria participado conscientemente do
esquema criminoso, inclusive tendo ciência de que os Diretores da Petrobrás
utilizavam seus cargos para recebimento de vantagem indevida em favor de
agentes políticos e partidos políticos.

A partir dessa afirmação, alega o MPF que, como parte de acertos de propinas
destinadas a sua agremiação política em contratos da Petrobrás, o Grupo
Odebrecht teria oferecido ao Ex-Presidente vantagem indevida, de cerca de doze
milhões de reais, consubstanciada na aquisição, para utilização do Instituto Lula,
de imóvel na Rua Doutor Haberbeck Brandão, 178, São Paulo/SP, matrícula
188.853 do 14ª Registro de Imóveis de São Paulo.

A oferta teria sido aceita, muito embora, por problemas pendentes com o imóvel,
a transferência não teria sido ultimada.

Alega ainda o MPF que o ex-Presidente residiria atualmente no apartamento


122, Bloco 01, da Av. Francisco Prestes Maia, 1.501, em São Bernardo do
Campo/SP, de matrícula n.º 86.623 do 1º Registro de Imóveis de São Bernardo do
Campo/SP.

Entretanto, durante as buscas e apreensões realizadas no processo 5006617-


29.2016.4.04.7000, teria sido constatado que Luis Inácio Lula da Silva ocuparia
não apenas o apartamento 122, mas igualmente o apartamento contíguo, o de n.º
121, de matrícula 86.622 do 1º Registro de Imóveis de São Bernardo do
Campo/SP.

O referido apartamento teria sido adquirido, em 20/09/2010, por Glaucos da


Costamarques.

Segundo a denúncia, por rastreamento bancário, foi possível constatar que o


custo da aquisição, no valor de R$ 504.000,00, teria sido suportado pelo Grupo
Odebrecht.

Doutro lado, muito embora tenha sido encontrado um contrato de locação entre
Glaucos da Costa Marques e a esposa do ex-Presidente, Marisa Letícia Lula da
Silva, não teriam sido identificadas quaisquer provas documentais do efetivo
pagamento do aluguel.

Assim, o Grupo Odebrecht, como vantagem indevida, teria adquirido imóvel de


residência do ex-Presidente, utilizando pessoa interposta.

Ainda segundo a denúncia, as transações ilícitas entre o ex-Presidente e o Grupo


Odebrecht assim como os pagamentos ilícitos efetuados por este ao Partido dos
Trabalhadores estariam retratados em planilha apreendida com executivos da
Odebrecht de título "Posição Programa Especial Italiano".

Na referida planilha, estariam retratados a operação de aquisição do imóvel para


o Instituto Lula e os pagamentos relativos ao apartamento 121.

Antônio Palocci Filho e Branislav Kontic seriam responsáveis pela coordenação


dos pagamentos ilícitos ao Partido dos Trabalhadores e ao ex-Presidente.
Estariam diretamente envolvidos na negociação do imóvel.
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Demerval de Souza Gusmão Filho, da empresa DAG Construtora Ltda.,


concordou em figurar, conscientemente, como pessoa interposta na aquisição do
imóvel destinado ao Instituto Lula.

Glaucos da Costamarques, além de ter auxiliado na aquisição do imóvel


destinado ao Instituto Lula, também figurou, conscientemente, como pessoa
interposta na aquisição do imóvel residencial para o ex-Presidente.

Marisa Letícia Lula da Silva, além de beneficiária da propina consistente na


aquisição pelo Grupo Odebrecht de imóvel no qual residia, assinou o contrato de
aluguel simulado com Glaucos da Costamarques.

Roberto Teixeira, como advogado, coordenou, conscientemente, a aquisição


mediante interposta pessoa do prédio do Instituto Lula e do imóvel residencial.

Já o ex-Presidente seria o beneficiário das vantagens indevidas pagas pelo Grupo


Odebrecht, ainda durante o seu mandato, e das condutas de ocultação e
dissimulação dessas vantagens.

Imputa a denúncia aos acusados os crimes de corrupção e de lavagem de


dinheiro.

É a síntese da denúncia."

Questionam as Defesas a competência deste Juízo, alegando que os


fatos não ocorreram da forma descrita pelo MPF e que o Grupo Odebrecht não
adquiriu um prédio em favor do Instituto Lula ou o referido apartamento 12, bem
como que esses fatos não têm qualquer relação com contratos da Petrobrás.

Ocorre que estes questionamentos são próprio ao mérito e só podem


ser resolvidos no julgamento.

A tese veiculada na denúncia é a de que o ex-Presidente teria


responsabilidade criminal direta pelo esquema criminoso que vitimou a Petrobrás e
que o Grupo Odebrecht com ele manteria uma conta corrente geral de propinas
que teria entre a sua origem os contratos obtidos junto à Petobrás, tendo ela
servido ao pagamento de vantagens indevidas, na forma da aquisição de imóveis,
para o ex-Presidente.

Se essa tese é correta ou não, é uma questão de prova e que não pode
ser definida antes do julgamento da ação penal e muito menos pode ser avaliada
em exceção de incompetência.

Deve ter o Juízo, portanto, presente, na avaliação da competência, a


imputação conforme apresentada pelo Ministério Público Federal
independentemente de questões de mérito.

Estabelecido este pressuposto, a primeira conclusão é que a


competência é da Justiça Federal.

Segundo a denúncia, vantagens indevidas acertadas em contratos da


Petrobrás com o Grupo Odebrecht teriam sido direcionadas ao Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva em razão de seu cargo e inclusive enquanto ele estava no
exercício do crgo.

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Não importa que a Petrobrás seja sociedade de economia mista


quando as propinas, segundo a acusação, eram direcionadas a agente público
federal.

Fosse ainda Luiz Inácio Lula da Silva Presidente da República a


competência seria do Egrégio Supremo Tribunal Federal.

Não mais ele exercendo o mandato, a competência passa a ser da


Justiça Federal, pois, como objeto da denúncia, tem-se corrupção de agente
público federal.

Por outro lado, o crime teria sido praticado, segundo a denúncia, no


âmbito do esquema criminoso que vitimou a Petrobrás, no qual contratos da
Petrobrás com suas principais fornecedoras, como a Odebrecht, geravam
vantagens indevidas que eram repartidas entre agentes da Petrobrás e agentes e
partidos políticos.

O esquema criminoso também envolvia ajustes fraudulentos de


licitações entre as fornecedoras da Petrobrás.

É muito difícil negar, neste momento, a vinculação entre todos esses


casos que compõem o esquema criminoso que vitimou a Petrobrás.

O próprio cartel das empreiteiras e o ajuste fraudulento de licitações,


que compreendem necessariamente empreitada coletiva, teriam sua apuração
inviabilizada se houvesse a dispersão dos processos e das provas em todo o
território nacional.

Mecanismos comuns de pagamento de propina e de lavagem de


dinheiro foram utilizados nesses casos. Ilustrativamente, considerando os casos já
julgados, o profissional da lavagem Alberto Youssef intermediou o pagamento de
propinas para várias empreiteiras, como a Camargo Correa, a OAS, a Engevix, a
Galvão Engenharia e a Braskem, subsidiária da Odebrecht. De forma semelhante,
Mario Frederico de Mendonça Goes teria intermediado propinas para Pedro José
Barusco Filho e para Renato de Souza Duque não só provenientes da Andrade
Gutierrez, mas de outras empresas, como da OAS e da Carioca Engenharia.

Dirigentes da Petrobrás já condenados por corrupção passiva usaram


os mesmos mecanismos para receber propina, contas secretas mantidas no exterior,
por exemplo, o ex-Diretor Paulo Roberto Costa nelas recebeu valores da
Odebrecht e da Andrade Gutierrez, às vezes nas mesmas contas.

Enfim, os elementos de vinculação são vários e óbvios e o conjunto


probatório comum, com o que o reconhecimento da conexão e continência entre os
casos, bem como eventualmente a continuidade delitiva, com a consequente
reunião dos processos, é medida necessária para evitar dispersão de provas e
julgamentos contraditórios.

O próprio Egrégio Supremo Tribunal Federal tem sistematicamente


enviado a este Juízo processos relativos a esse esquema criminoso que vitimou a
Petrobrás em decorrência de desmembramentos de investigações perante ele
instauradas, bem como provas colhidas a respeito dele.

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Isso ocorreu, por exemplo, com as provas resultantes dos acordos de


colaboração de Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef, Nestor Cuñat Cerveró,
Ricardo Ribeiro Pessoa e os dos executivos da Andrade Gutierrez e da Odebrecht.

Diversos inquéritos ou processos envolvendo a apuração de crimes


do esquema criminoso que vitimou a Petrobrás foram objetos de desmembramento
pelo Supremo Tribunal Federal e posterior remessa a este Juízo, como v.g., ocorreu
quando do desmembramento das apurações nas Petições 5678 e 6027, com
remessa a este Juízo dos elementos probatórios em relação ao ex-Senador Jorge
Afonso Argello, o que deu origem à ação penal 5022179-78.2016.4.04.7000 na
qual foi ele condenado.

Até mesmo ações penais que têm por objeto fatos do âmbito do
esquema criminoso que vitimou a Petrobrás têm sido desmembradas e remetidas a
este Juízo para prosseguimento quanto aos destituídos de foro.

O mesmo tem ocorrido com ações penais quando há perda


supeverveniene do foro por prerrogativa de função, como ocorreu com a ação
penal proposta contra o ex-Deputado Federal Eduardo Cosentino da Cunha no
Inquérito 4146 e que, após a cassação do mantado, foi remetida a este Juízo, onde
tomou o nº 5051606-23.2016.404.7000 e na qual ele foi condenado.

Aliás, os próprios inquéritos 5003496-90.2016.404.7000, 5006597-


38.2016.404.7000 e 5054533-93.2015.404.7000, que foram instaurados para
apurar eventuais crimes do ex-Presidente, foram remetidos por este Juízo ao
Egrégio Supremo Tribunal Federal em decorrência da nomeação do investigado
como Ministro Chefe da Casa Civil, sendo supervenientemente devolvidos a este
Juízo após a perda do foro por prerrogativa de função.

Todos esses casos e exemplos indicam o posicionamento daquela


Suprema Corte de que este Juízo é competente para processar e julgar os crimes
investigados e processados no âmbito do esquema criminoso que vitimou a
Petrobrás.

Também o Superior Tribunal de Justiça tem se posicionado por


reconhecer a competência deste Juízo ainda que provisoriamente, como se verifica
na ementa do acórdão prolatado em 25/11/2014 no HC 302.604:

"PENAL. PROCESSO PENAL. CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS


IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO PRÓPRIO. OPERAÇÃO 'LAVA
JATO'. PACIENTE PRESO PREVENTIVAMENTE E DEPOIS DENUNCIADO
POR INFRAÇÃO AO ART. 2º DA LEI N. 12.850/2013; AOS ARTS. 16, 21,
PARÁGRAFO ÚNICO, E 22, CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, TODOS DA LEI
N. 7.492/1986, NA FORMA DOS ARTS. 29 E 69, AMBOS DO CÓDIGO PENAL;
BEM COMO AO ART. 1º, CAPUT, C/C O § 4º, DA LEI N. 9.613/1998, NA
FORMA DOS ARTS. 29 E 69 DO CÓDIGO PENAL. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO.

01. De ordinário, a competência para processar e julgar ação penal é do Juízo do


'lugar em que se consumar a infração ' (CPP, art. 70, caput). Será determinada,
por conexão, entre outras hipóteses, 'quando a prova de uma infração ou de
qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração '
(art. 76, inc. III).Os tribunais têm decidido que: I) 'Quando a prova de uma
infração influi direta e necessariamente na prova de outra há liame probatório
suficiente a determinar a conexão instrumental '; II) 'Em regra a questão relativa
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à existência de conexão não pode ser analisada em habeas corpus porque


demanda revolvimento do conjunto probatório, sobretudo, quando a conexão é
instrumental; todavia, quando o impetrante oferece prova pré-constituída,
dispensando dilação probatória, a análise do pedido é possível ' (HC 113.562/PR,
Min. Jane Silva, Sexta Turma, DJe de 03/08/09).

02. Ao princípio constitucional que garante o direito à liberdade de locomoção


(CR, art. 5º, LXI) se contrapõe o princípio que assegura a todos direito à
segurança (art. 5º, caput), do qual decorre, como corolário lógico, a obrigação
do Estado com a 'preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio ' (CR, art. 144).Presentes os requisitos do art. 312 do Código de
Processo Penal, a prisão preventiva não viola o princípio da presunção de
inocência. Poderá ser decretada para garantia da ordem pública - que é a
'hipótese de interpretação mais ampla e flexível na avaliação da necessidade da
prisão preventiva. Entende-se pela expressão a indispensabilidade de se manter a
ordem na sociedade, que, como regra, é abalada pela prática de um delito. Se
este for grave, de particular repercussão, com reflexos negativos e traumáticos na
vida de muitos, propiciando àqueles que tomam conhecimento da sua realização
um forte sentimento de impunidade e de insegurança, cabe ao Judiciário
determinar o recolhimento do agente ' (Guilherme de Souza Nucci). Conforme
Frederico Marques, 'desde que a permanência do réu, livre ou solto, possa dar
motivo a novos crimes, ou cause repercussão danosa e prejudicial ao meio social,
cabe ao juiz decretar a prisão preventiva como garantia da ordem pública '.

Nessa linha, o Superior Tribunal de Justiça (RHC n. 51.072, Min. Rogerio


Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe de 10/11/14) e o Supremo Tribunal Federal têm
proclamado que 'a necessidade de se interromper ou diminuir a atuação de
integrantes de organização criminosa, enquadra-se no conceito de garantia da
ordem pública, constituindo fundamentação cautelar idônea e suficiente para a
prisão preventiva' (STF, HC n. 95.024, Min. Cármen Lúcia; Primeira Turma, DJe
de 20.02.09).

03. Havendo fortes indícios da participação do investigado em 'organização


criminosa' (Lei n. 12.850/2013), em crimes de 'lavagem de capitais' (Lei n.
9.613/1998) e 'contra o sistema financeiro nacional (Lei n. 7.492/1986), todos
relacionados a fraudes em processos licitatórios das quais resultaram vultosos
prejuízos a sociedade de economia mista e, na mesma proporção, em seu
enriquecimento ilícito e de terceiros, justifica-se a decretação da prisão
preventiva como garantia da ordem pública. Não há como substituir a prisão
preventiva por outras medidas cautelares (CPP, art. 319) 'quando a segregação
encontra-se justificada na periculosidade social do denunciado, dada a
probabilidade efetiva de continuidade no cometimento da grave infração
denunciada ' (RHC n. 50.924/SP, Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe
de 23/10/2014).

04. Habeas corpus não conhecido.' (HC 302.604/PR - Rel. Min. Newton Trisotto -
5.ª Turma do STJ - un. - 25/11/2014)

Destaque-se ainda a conexão estreita da presente ação penal com os


crimes que foram objeto da ação penal 5036528-23.2015.4.04.7000 na qual foram
condenados por corrupção e lavagem de dinheiro dirigentes do Grupo Odebrech,
como Marcelo Bahia Odebrech, e agentes da Petrobrás, como Paulo Roberto Costa
e Renato de Souza Duque, isso em decorrência de acertos de propinas em
contratos da Petrobrás e que também teriam alimentado, segundo a presente
denúncia, a conta geral de propinas existente entre o Grupo Odebrecht e o
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Por outro lado, a investigação do esquema criminoso da Petrobrás,


com origem nos inquéritos 2009.7000003250-0 e 2006.7000018662-8, iniciou-se
com a apuração de crime de lavagem consumado em Londrina/PR, sujeito,
portanto, à jurisdição desta Vara.

Assim, perante este Juízo, foi distribuído o primeiro processo que


tinha como objeto crimes relacionados ao esquema criminoso da Petrobrás, esses
primeiros, aliás, consumados em Londrina/PR, tornando-o prevento para todo os
demais.

Este crime de lavagem, consumado em Londrina/PR, se submetia à


competência da 13ª Vara Federal de Curitiba, já que ela se expande para todo o
território paranaense, devido à abrangência da competência das varas de lavagens.

O fato deu origem direta à ação penal 5047229-77.2014.404.7000, na


qual figuram como acusados Carlos Habib Chater, Alberto Youssef e
subordinados, prejudicada a imputação contra José Janene pelo óbito.

Resta claro, como se verifica na própria sentença prolatada na ação


penal 5047229-77.2014.404.7000, que a competência sobre os fatos inicialmente
apurados era deste Juízo, pois produto de crimes de corrupção, especificamente
propina recebida pelo ex-deputado federal José Janene, foi, por operações de
ocultação e dissimulação, utilizada para a realização de investimentos industriais
em Londrina/PR, no que ele contou com o auxílio de Alberto Youssef e Carlos
Habib Chater condenados naquele feito. Não só este Juízo assim entendeu, mas
também a Corte de Apelação Federal que, no julgamento das apelações interpostas
contra a sentença, manteve a competência do Juízo.

Quanto à alegação de que teria havido algum vício de distribuição do


inquérito 2006.7000018662-8, e que depois originou o
inquérito 2009.7000003250-0 e a ação penal 5047229-77.2014.404.7000, ela
igualmente não procede.

Esta Vara, a 13ª Vara Federal, anteriormente 2ª Vara Federal


Criminal, foi especializada no processo e julgamento de crimes financeiros e de
lavagem de dinheiro pelo Tribunal Regional Federal pela Resolução n.º 20, de
06/05/2003, da Presidência daquela Corte.

Na condição de vara especializada, os processos criminais


relacionados ao Caso Banestado foram distribuídos a este Juízo Federal Titular
ainda em 2003.

Entre eles processos envolvendo crimes praticados por Alberto


Youssef no âmbito daquele caso.

O Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual


celebraram no âmbito desses processos acordo de colaboração premiada com
Alberto Youssef, isso nos autos 2004.7000002414-0, também distribuídos a este
Juízo.

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Como resultado, Alberto Youssef ainda foi condenado a penas


privativas de liberdade, com redução, na ação penal 2004.7000006806-4. Os
demais processos pelos quais respondia, incluindo ações penais, todos por crimes
financeiros ou por crimes de lavagem e todos distribuídos a este Juízo, já que
especializado nesses crimes, ficaram, por força do acordo, suspensos, aguardando
o decurso de 10 anos previsto no acordo.

Em 18/07/2006, foi distribuído a este Juízo, por requerimento da


autoridade policial, o processo 2006.70.00.018662-8, no qual, em representação
policial, se afirmava existirem indícios de que Alberto Youssef teria ocultado
crimes de lavagem no acordo de colaboração premiada e ainda persistiria na
prática de lavagem de dinheiro, também em violação ao acordo de colaboração
premiada, e se requisitava a instauração de procedimento criminal diverso para
apurar crimes de lavagem de dinheiro de Alberto Youssef ( v.g.: "para investigar a
participação de Alberto Youssef nos crimes de lavagem de dinheiro praticados por
Stael Fernanda, Rosa Alice e Meheidin Hussein Jennani").

A alegação de vício de distribuição não faz sentido no contexto então


vigente, já que a 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba era, em 18/07/2006, a única
especializada no processo e julgamento de crimes de lavagem de dinheiro
praticados no âmbito da Seção Judiciária do Paraná, com o que qualquer
distribuição de processo tendo por objeto crimes de lavagem seria direcionada a
este Juízo.

Ainda haveria prevenção deste Juízo em relação aos crimes


financeiros e de lavagem praticados por Alberto Youssef e que eram objeto de
ação penal já julgada e outras ações penais suspensas por conta do acordo de
colaboração premiada, já que, apontando, a autoridade policial, que haveria crimes
que ele não teria revelado ou que ele persistiria na atividade, seria, se verdadeira a
hipótese, de possível aplicação o art. 71 do CPP, estando estas atividades em
continuidade delitiva com as demais que já eram objeto de processos perante este
Juízo. Também cogitável a conexão pelo art. 76, II e III, do CPP, já que novos
crimes de lavagem de Alberto Youssef poderiam ter por objeto ocultar ganhos dos
crimes financeiros anteriores.

Agregue-se que necessária a apuração dos fatos também para


verificar se havia ou não havia quebra dos compromissos assumidos na
colaboração premiada, quando Alberto Youssef não revelou ter prestado serviços
de lavagem para José Janene e também comprometeu-se a não mais delinquir.

Por todos esses motivos, inequívoca a competência deste Juízo para o


inquérito originário 2006.70.00.018662-8.

Enfim, quanto a essas questões de incompetência do Juízo para o


inquérito originário da Operação Lavajato ou de vício de distribuição, as Defesas
repetem questões antigas, mais próprias daqueles processos do que deste, e que já
foram rejeitadas não só por este Juízo, mas também pela instância recursal, sendo
que sequer fazem sentido, como a suposta manipulação de distribuição de processo
quando a Vara, na época, era a única competente para o processo e julgamento de
crimes de lavagem de dinheiro no território paranaense.

https://eproc.jfpr.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=701503930761117020089886179589&evento=70150… 9/10
13/11/2017 Evento 9 - DESPADEC1

Portanto, a competência é da Justiça Federal, pela existência de


crimes federais, com, segundo a tese da Acusação, pagamento de vantagem
indevida ao então Presidente da Reública, e especificamente deste Juízo pela
prevenção e pela conexão e continência entre os processos que têm por objeto o
esquema criminoso que vitimou a Petrobrás investigado no âmbito da assim
denominada Operação Lavajato, entre eles a referida ação penal 5036528-
23.2015.4.04.7000, mas também outras em andamento.

3. Ante o exposto, julgo improcedentes as exceções de


incompetência.

Traslade-se cópia desta decisão para os autos da ação penal


5063130-17.2016.4.04.7000.

Exclua-se do pólo passivo e do registro o nome de Marisa Letícia


Lula da Silva, em virtude do superveniente óbito.

Intime-se o MPF e Defesas desta decisão.

Curitiba, 28 de agosto de 2017.

Documento eletrônico assinado por SÉRGIO FERNANDO MORO, Juiz Federal, na forma do artigo 1º,
inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de
2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
700003809261v15 e do código CRC d127130b.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): SÉRGIO FERNANDO MORO
Data e Hora: 28/08/2017 14:41:07

5002617-49.2017.4.04.7000 700003809261 .V15 SFM© SFM

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