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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA - CCT


GEOGRAFIA - LICENCIATURA
DISCIPLINA: GEOGRAFIA DO BRASIL
PROFESSOR (A): GLAUCIANA ALVES TELES

O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ESPAÇO BRASILEIRO

Alexandre Anselmo de Sousa1

RESENHA DE: MOREIRA, Ruy. As fases e vetores da formação espacial brasileira:


hegemonias e conflitos. In:_____. A formação espacial brasileira: uma contribuição crítica
à geografia do Brasil. Rio de Janeiro: Consequência, 2012. p. 9-27.

Ruy Moreira é um geógrafo brasileiro, que possui Doutorado em Geografia


Humana pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua produção acadêmica se
desenvolve nas áreas de teoria, método, epistemologia, sociedade e espaço. É professor
permanente do curso de Pós-graduação em Geografia da UFF e da FFP-UERJ.

No texto “As fases e vetores da formação espacial brasileira”, o autor desenvolve


o contexto histórico e as dinâmicas ocorridas nesses períodos que foram fundamentais para
formação do espaço brasileiro. Sua análise é dividida em cinco fases: os vetores fundacionais,
os ciclos de assentamento, a implantação do arranjo capitalista, a redesconcentração e
privatização da gestão do espaço e as novas sociabilidades e as instituições de regulação da
complexidade.

Na primeira fase, os vetores fundacionais que são elencados no texto tratam da


conquista e expansão do território brasileiro através do bandeiritismo e do desenvolvimento
da pecuária a partir da criação de gado. O bandeiritismo tinha o objetivo de explorar o
território em busca de metais preciosos, como também de aprisionamento dos índios para

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Graduando do curso de Geografia-Licenciatura da Universidade Estadual do Ceará – Campus do Itaperi.
Novembro 2015. E-mail: alexandre.anselmo@gmail.com
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venda como escravos. Durante esse processo, deixavam um rastro de destruição das
comunidades indígenas e de novos núcleos que começariam a delinear o surgimento de
futuras cidades.

A criação de gado foi outro ponto importante descrito por Moreira (2012), onde
ocorre uma expansão da atividade a partir do litoral da zona da mata com sentido para o
interior. Pernambuco é o ponto de apoio dessa dinâmica. Esses dois movimentos contribuíram
para a quebra do Tratado de Tordesilhas e consequentemente uma reconfiguração do domínio
português sobre as terras brasileiras.

A segunda fase refere-se aos ciclos de assentamento. Esses ciclos são períodos
econômicos que contribuíram para as intensas modificações do espaço. O primeiro ciclo é o
do pau-brasil, sendo a extração desse recurso o fator motivador das primeiras ocupações do
território. Posteriormente, foi estabelecido o ciclo da cana-de-açúcar, onde houve uma maior
ocupação da zona da mata nordestina com expansão para a mata atlântica, onde a prática desta
atividade estabeleceu no Brasil uma consolidada sociedade agrária e mercantil.

O ciclo da mineração se caracteriza pela ocupação mais intensa do interior, e com


isso migrando também o centro de importância que anteriormente era estabelecido apenas na
área litorânea. Essa situação se manteve até o final do século XVIII. Apesar de ser um ciclo
mais curto, foi importante por dois motivos: para a expansão da pecuária e o surgimento de
uma vida urbana.

Essa expansão da pecuária deu origem ao ciclo do gado, onde nesse tempo
ocorreu a migração de rebanhos do Nordeste e do Sul para o planalto central-mineiro,
motivados pelo mercado que surgiu nessa região por conta da mineração. Este ciclo
contribuiu para a ampliação e definição das terras da colônia, que foram resguardadas pelo
Tratado de Madri.

Em seguida, houve o ciclo da borracha. Este ciclo teve sua área de atuação na
região do vale do Amazonas, contribuindo para as modificações da economia regional que
anteriormente era ligada com o ciclo das drogas do sertão, como também influenciando uma
onda de imigrações para essa região, principalmente de pessoas vindo do sertão nordestino
que sofriam com os efeitos da seca.
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O último ciclo de assentamento é a época do café. Esse momento perdurou até


meados do século XX, sendo o planalto de São Paulo sua principal área de atuação. Esse ciclo
é importante devido ele ter se desenvolvido em meio a importantes mudanças políticas,
econômicas e sociais: a independência do Brasil, a abolição da escravidão, o surgimento da
república e a disseminação do sistema capitalista. Esses fatos foram determinantes para o
processo posterior de urbanização e industrialização do Brasil.

Moreira (2012) expõe que todo esse contexto causou também alterações
profundas no âmbito social, referente aos inúmeros conflitos das populações locais e menos
privilegiadas contra a escravidão, a grande concentração de terras pelos latifúndios e pelo
modelo econômico monocultor excludente. Essas resistências realizadas pelas comunidades
se tornaram uma tentativa de contraponto ao modelo de sociedade que estava se estabelecendo
no país.

Na terceira fase denominada “A implantação do arranjo capitalista”, o autor trata


das estratégias que serão utilizadas no processo de industrialização e desenvolvimento do
país. Num primeiro momento, ainda se utiliza as bases de organização herdadas dos ciclos
anteriores, para posteriormente se realizar uma organização mais sistematizada que possa
futuramente assimilar o crescimento industrial. Nesse período já se delineia a diferenciação de
áreas, onde o arranjo espacial tem importante influência nesse fenômeno.

A partir dos anos 1950, a indústria já desenvolvida interfere com maior


intensidade na formação do espaço brasileiro, centralizando a sua influência de comando nas
cidades, proporcionando uma nova divisão territorial do trabalho em função da relação
industrial-mercantil, com a centralização do poder em São Paulo. Essas intensas mudanças
contribuíram para substituição de uma economia regional para uma de atuação nacional, como
também um desenvolvimento desigual no país, onde a cidade se torna melhor estruturada e
exerce seu domínio sobre o campo.

A inércia normativa e fiscalizadora do Estado e o reordenamento urbano motivado


por este modelo de desenvolvimento entram diretamente em choque com as comunidades e
arranjos espaciais tradicionais. Como consequência, temos uma maior fragilização desses
espaços, em alguns casos chegando até a extinção. Os conflitos existentes na atualidade no
âmbito rural e urbano são alternativas de luta por uma realidade que seja mais equitativa no
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que diz respeito ao direito à terra, à moradia e a um emprego que proporcione a essas pessoas
melhores condições de vida.

Em relação à quarta fase “A redesconcentração e privatização da gestão do


espaço”, Moreira (2012) expõe uma nova dinâmica de reorganização espacial, através das
estratégias de modernização da agricultura, a desconcentração industrial e a destituição do
Estado no que tange ao controle do espaço, onde este se torna privatizado. A mecanização da
agricultura e a parceria com o setor industrial contribuíram para a expansão da sojicultura no
cerrado, sendo este o marco inicial da reestruturação.

A desconcentração industrial com a redistribuição de polos industriais para as


áreas periféricas de regiões com a produção agrícola e pastoril já modernizada e a
privatização de empresas estatais ligadas ao ramo de infraestrutura, irão contribuir para um
novo ordenamento territorial que amplia as relações de comércio e a redistribuição da
população. A privatização da gestão do espaço e a prática da especulação imobiliária
seguindo a dinâmica de mercado irão potencializar os conflitos ambientais em escala
nacional.

Na quinta e última fase “As novas sociabilidades e as instituições de regulação da


complexidade”, o autor informa que estas dinâmicas ocorridas foram importantes para o
surgimento da parceria público-privada na gestão do território, onde o Estado promove a
infraestrutura necessária para as empresas privadas se estabelecerem e posteriormente
exercerem sua lucratividade cumulativa.

A fragmentação do poder federal através da criação das agências de regulação


contribuiu para uma pseudo fiscalização dos principais setores da economia, devido suas
atenções estarem voltadas apenas para a questão da rentabilidade, desta forma potencializando
a desigualdade social no país. Moreira (2012) afirma que há também um movimento popular
que se destaca e se torna um contraponto desse modelo de organização que funciona pela
lógica do capital.

De acordo com o autor, a compreensão da atualidade pode ser feita através de três
perspectivas: o complexo agroindustrial, que demonstra a fusão da indústria, agricultura,
tecnologia e serviços; o complexo empresarial, de domínio no ambiente urbano que possui
uma nova configuração acumulativa de funções de produção, revenda e financiamento; e a
economia dos setores populares, onde se destaca pelo modo de produção mercantil simples.
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O estudo realizado por Moreira (2012) é de suma importância para


compreendermos o contexto histórico da formação espacial brasileira. É equivocada e
insuficiente uma análise que não contemple a compreensão do passado, onde este pode servir
como exemplo para que possamos seguir caminhos mais justos e desenvolver projetos que
beneficiem a sociedade brasileira em sua totalidade.

O texto é indicado para estudantes de Geografia e demais interessados sobre as características da formação do
espaço brasileiro.

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