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Fundamentos

de Economia
Fundamentos
de Economia
Erico Michels
Ney Oliveira
Sandro Wollenhaupt
Conselho Editorial EAD
Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) Andrea Eick
Mara Lúcia Machado André Loureiro Chaves
Astomiro Romais Cátia Duizith

Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade
dos autores a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia
autorização da Editora da ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº .610/98 e punido pelo Artigo 184
do Código Penal.

Erico Michels é mestre em Gestão de Negócios pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales (Uces-
Argentina) e bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É
professor nos cursos de Ciências Econômicas e Superiores de Tecnologia em Gestão da Universidade Luterana
do Brasil (ULBRA).
Ney Oliveira está cursando doutorado pela Universitat de les Iles Balears (UIB-Espanha), é especialista em
Administração de Marketing pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e bacharel em Ciências
Econômicas também pela Unisinos. É professor nos cursos de Ciências Econômicas e Superiores de Tecnologia
em Gestão da ULBRA.
Sandro Wollenhaupt é mestre em Administração pela Universidade Fernando Pessoa de Portugal/Universidade
do Vale do Itajaí (Univali) e bacharel em Ciências Econômicas pela Unisinos. É professor dos cursos de Ciências
Econômicas e Superiores de Tecnologia em Gestão da ULBRA.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M623f Michels, Erico.


Fundamentos da economia / Erico Michels, Ney Oliveira, Sandro
Wollenhaupt. – Canoas : Ed. ULBRA, 2011.
136 p.

1. Economia. 2. Ciência econômica. I. Oliveira, Ney. II. Wollenhaupt,


Sandro. I. Título.

CDU 330

Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero - ULBRA/Canoas

ISBN 978-85-7528-363-9
Projeto Gráfico: Humberto G. Schwert Dados técnicos do livro
Editoração: Rodrigo Saldanha de Abreu Fontes: Minion Pro, Officina Sans
Capa: Juliano Dall’Agnol Papel: offset 90g (miolo) e supremo 240g (capa)
Medidas: 15x22cm
Coordenação de Prod. Gráfica: Edison Wolf
Impressão: Gráfica da ULBRA
Março/2011
Sumário
Apresentação............................................................... 7

1 | Fundamentos de Ciência Econômica ................................ 9


2 | A demanda, a oferta, o mercado e as suas estruturas....... 25

3 | Teoria da produção e dos custos de produção.................. 35

4 | Macroeconomia.......................................................... 45

5 | Introdução à economia monetária................................. 55

6 | Inflação e seus reflexos na economia............................ 69

7 | O mercado de câmbio.................................................. 83

8 | Economia internacional............................................... 95

9 | Crescimento e desenvolvimento econômico...................107

10 | Sistema Financeiro Nacional e mercado de capitais.........121

Referências..............................................................131
Apresentação
Seja bem-vindo. Estamos iniciando nossos trabalhos e, nos próximos meses,
ficaremos constantemente em contato. A distância será apenas aparente, pois
estaremos, na verdade, ligados através da tecnologia que a modernidade nos
proporciona. Nós, enquanto seres pensantes e bem informados, não podemos
abrir mão das inovações que o século XXI nos apresenta.
Imagine-se fazendo uma viagem turística pela cidade onde você mora. Você
já conhece tudo, já viu tudo que qualquer guia local possa lhe mostrar. Que
novidades poderão existir em locais que percorremos diariamente? Em prédios
que vimos serem construídos? Em ruas das quais conhecemos cada buraco?
Experimente fazer tal viagem sem essa ideia preconcebida e você verá coisas
que nunca viu, apaixonar-se-á por paisagens que nunca antes havia observado.
Em sua própria cidade. Verá ângulos novos de paisagens. Paisagens há muito
conhecidas.
Convidamos você a fazer uma viagem de observação pelo mundo da
economia. Essa viagem não será muito diferente do que viajar por sua própria
cidade. Afinal, todos nós lemos, ouvimos, vivemos o dia a dia e nos sentimos
envolvidos por economia.
Nossa incursão por essa ciência pretende ser a mais aprazível possível.
Esta disciplina não pretende ser um curso de alta especialização, e sim um
aprendizado novo sobre aquilo que já vivemos, mas às vezes não temos tempo
8 Apresentação

de observar. Na verdade, talvez nunca tenhamos parado para pensar que, ao


viver e conviver com nossos amigos, nossa família, nossos negócios, sejamos
protagonistas de algo que também é ciência.
A disciplina à qual você está sendo apresentado tem o objetivo de mostrar
informações e instrumentos para que você possa, mais facilmente, identificar os
fatos econômicos e compreender o funcionamento das economias de mercado,
do ponto de vista da ciência econômica. Ao final, esperamos que você, além de
ter gosto pelos temas da economia, possa melhor compreender os principais
aspectos da realidade econômica e conhecer os mercados de bens e de serviços,
de trabalho, monetário, cambial, internacional e que saiba relacionar essa teoria
à sua área de interesse e de atuação profissional.
1
Fundamentos de Ciência Econômica
Este capítulo tem como objetivo apresentar a compreensão das características
básicas da Ciência Econômica, destacando o seu objeto de estudo e mostrando
uma breve retrospectiva de seus principais pensadores.
Sugerimos que o aluno utilize este material estudando os temas na ordem
proposta, uma vez que eles são apresentados do mais simples ao mais complexo,
visando à construção gradual de seu conhecimento.

1.1 Conceito, objeto e método


da Ciência Econômica
Etimologicamente, a palavra economia vem do grego oikos (casa) e nomos
(norma, lei). Seria a ADMINISTRAÇÃO DA CASA, que pode ser generalizada
como ADMINISTRAÇÃO DA COISA PÚBLICA. Economia pode ser definida
como a ciência social que estuda a maneira pela qual os homens decidem
empregar recursos escassos, a fim de produzir diferentes bens e serviços e atender
às necessidades de consumo.
Assim, é uma ciência social, já que objetiva atender às necessidades humanas.
Mas depende de restrições físicas, devido à escassez de recursos ou de fatores
de produção (mão de obra, capital, terra, matéria-prima). Podemos dizer que
o objeto de estudo da ciência econômica é a questão da escassez, ou seja, como
“economizar” recursos.
10 Fundamentos de Ciência Econômica

A escassez surge devido às necessidades humanas ilimitadas e à restrição


física de recursos. Afinal, o crescimento populacional renova as necessidades
biológicas; o contínuo desejo de elevação do padrão de vida e a evolução
tecnológica fazem com que surjam “novas” necessidades (computador, freezer,
DVD, automóvel). Nenhum país, pobre ou rico, dispõe de todos os recursos
produtivos para satisfazer às necessidades da população. O Japão, por exemplo,
precisa importar a maior parte das matérias-primas que utiliza.
Se não houvesse escassez de recursos, ou seja, se todos os bens fossem
abundantes (bens livres), não haveria a necessidade de estudarmos questões
como inflação, crescimento econômico, déficit no balanço de pagamentos,
desemprego, pois esses problemas simplesmente não existiriam (e, obviamente,
nem a necessidade de estudar economia).
Todas as sociedades (sejam economias de mercado, sejam centralizadas) são
obrigadas a fazer opções, escolhas entre alternativas, uma vez que os recursos
não são abundantes. Elas são obrigadas a fazer escolhas sobre O QUE E
QUANTO, COMO E PARA QUEM (que são os PROBLEMAS ECONÔMICOS
FUNDAMENTAIS de toda e qualquer economia) produzir:
• O QUE E QUANTO PRODUZIR – A sociedade deve decidir se produz
mais bens de consumo ou bens de capital ou, como num exemplo
clássico: quer produzir mais canhões ou mais manteiga? Em que
quantidade? Os recursos devem ser dirigidos para a produção de mais
bens de consumo ou de bens de capital? No fundo, trata-se de uma
decisão que extrapola a esfera puramente econômica. Em economias de
mercado, o que e quanto produzir é sinalizado pelos consumidores (o
que é chamado de soberania do consumidor). Em economias planificadas
ou centralizadas – tipo cubana e, até recentemente, soviética – a decisão
é tomada por um órgão central de planejamento.
• COMO PRODUZIR – Trata-se de uma questão de eficiência produtiva:
serão utilizados métodos de produção de capital intensivos? Ou de
mão de obra intensivos? Ou de terra intensivos? Isso depende da
disponibilidade de recursos de cada país.
Fundamentos de Ciência Econômica 11

• PARA QUEM PRODUZIR – A sociedade deve decidir quais os setores


que serão beneficiados na distribuição do produto: trabalhadores,
capitalistas ou proprietários da terra? Agricultura ou indústria?
Mercado interno ou mercado externo? Região sul ou norte? Ou seja,
trata-se de decidir como será distribuída a renda gerada pela atividade
econômica.

Uma das áreas da economia que busca analisar as melhores formas de


responder a essas perguntas é a teoria macroeconômica. A macroeconomia
trata da evolução da economia como um todo, analisando a determinação e
o comportamento dos grandes agregados, como renda e produto nacionais,
investimento, poupança e consumo agregados, nível geral de preços, emprego
e desemprego, estoque de moeda e taxas de juros, balanço de pagamentos e
taxa de câmbio.
Ao estudar e procurar relacionar os grandes agregados, a macroeconomia
negligencia o comportamento das unidades econômicas individuais, tais
como famílias e firmas, fixação de preços nos mercados específicos, efeitos
de oligopólios em mercados individuais, etc. Essas são preocupações da
microeconomia. A macroeconomia trata os mercados de forma global. Por
exemplo: no mercado de bens e serviços agrega produtos agrícolas, industriais e
serviços de transporte; no mercado de trabalho, não se preocupa com diferenças
na qualificação, sexo, idade, origem da força de trabalho.
O custo dessa abstração é que os pormenores omitidos são, muitas vezes,
importantes. Quando tomamos apenas o nível da taxa de juros, por exemplo,
não são destacadas devidamente as diferenças entre os vários tipos de aplicações
financeiras.
A abstração, porém, tem a vantagem de permitir estabelecer relações
entre grandes agregados e proporcionar melhor compreensão de algumas das
interações mais relevantes da economia, estabelecidas entre os mercados de bens
e serviços, de trabalho e de ativos financeiros e não financeiros.
12 Fundamentos de Ciência Econômica

Entretanto, apesar do aparente contraste, não há um conflito básico entre


a micro e a macroeconomia, dado que o conjunto da Economia é a soma de
seus mercados individuais. A diferença é, primordialmente, uma questão de
ênfase, de enfoque. Ao estudar a determinação de preços numa única indústria,
na microeconomia, consideram-se constantes os preços das outras indústrias
(a hipótese de coeteris paribus). Na macroeconomia, estuda-se o nível geral
de preços, ignorando as mudanças de preços relativos de bens das diferentes
indústrias.
A teoria macroeconômica propriamente dita preocupa-se mais com questões
conjunturais, de curto prazo. Especificamente, preocupa-se com a questão
do desemprego (entendido como a diferença entre a produção efetivamente
realizada e a produção potencial da economia, quando todos os recursos estejam
totalmente empregados) e com a estabilização do nível geral de preços.
A parte da teoria econômica que estuda o comportamento dos grandes
agregados ao longo do tempo é denominada teoria do crescimento econômico
(SOLOW, 2000). Seu enfoque é um pouco diferenciado, preocupando-se com
questões como progresso tecnológico e política industrial, que envolvem políticas
de longo prazo.

Método na Ciência Econômica


Quanto ao método em economia, três aspectos devem ser levados em
consideração:
• como a análise dos fenômenos decorrentes do comportamento humano
é complexa, a economia utiliza hipóteses simplificadoras para explicar
os fenômenos que estuda;
• a Ciência Econômica preferencialmente relaciona duas variáveis para
explicar um fato econômico (por exemplo: a relação existente entre o
preço e o consumo de um bem);
• frequentemente, você se deparará com a chamada análise marginal.
Diferente do que o nome possa sugerir, essa forma de analisar os fatos
econômicos busca relacionar as variáveis segundo o seu incremento
(crescimento, aumento) relacionado a um aumento unitário de outra
variável. Por exemplo: quanto aumentará o custo total de uma empresa
Fundamentos de Ciência Econômica 13

se aumentar a produção em uma unidade de produto? Esse será o custo


marginal da produção daquela unidade a mais. Entretanto, ainda é cedo
para aprofundar esse tema; retornaremos a ele mais adiante.

Ainda sobre a metodologia própria da ciência econômica e sobre os seus


métodos de investigação, é necessário distinguir dois grandes compartimentos
da economia: a economia positiva e a economia normativa.
A economia positiva, de acordo com Vasconcellos (2006), ocupa-se de
analisar os atos e os fatos sociais tal qual eles ocorrem, sem utilizar juízos
de valor. Na prática, a economia positiva estuda os fatos sociais, observa-os
sistematicamente (segundo metodologia própria das ciências sociais), e dessa
análise e descrição, cientificamente elaborada, são formulados os princípios
gerais, as leis da economia, as teorias e os modelos econômicos. Deduzem-se
ou são induzidas as teorias econômicas, os princípios econômicos, as leis da
economia, os modelos econômicos. Com certeza, você já ouviu falar muitas vezes
de duas leis da economia: a lei da oferta e a lei da procura. Essas são duas entre
outras tantas leis e princípios que compõem a economia positiva. Todas as leis, os
princípios, os modelos e as teorias precisam ser analisados permanentemente e
confrontados com a realidade, para verificação de sua validade e atualização.
Por outro lado, a economia normativa se ocupa de utilizar princípios, leis
e teorias para produzir modificações e propor um direcionamento ao curso
natural da economia: são as políticas econômicas. A economia normativa está
fortemente vinculada à política, à ideologia e ao sistema de valores.
Os compartimentos da economia estão resumidos no quadro a seguir.

Quadro 1 – Compartimentos da economia


Análise dos fatos do dia a dia com a metodologia das
ECONOMIA POSITIVA ciências sociais; criação da teoria econômica; análise
econômica.
Proposição de políticas econômicas; avaliação dos
ECONOMIA NORMATIVA
resultados do ponto de vista político vigente.
Fonte: VASCONCELLOS, 2006.
14 Fundamentos de Ciência Econômica

Exemplificando: as políticas econômicas sempre buscarão alcançar um


objetivo social específico que é debelar a inflação, distribuir melhor a renda,
desenvolver uma região ou todo o país e promover o crescimento ou o
desenvolvimento de um setor da economia.

1.2 Síntese do pensamento econômico


A história do pensamento econômico pode ser analisada desde as correntes
filosóficas da Idade Antiga, como ocorreu na Grécia e em Roma, até as ideias
contemporâneas modernas.
Nessa evolução, surgiram ideias e sistemas conflitantes, que iam do
liberalismo total até o intervencionismo completo. Entretanto, notava-se um
objetivo essencial: a construção de uma ciência que pudesse ajudar os homens
na solução de um problema econômico fundamental, a conciliação entre escassez
de recursos e necessidades crescentes.

Fisiocracia
Tratava-se de uma doutrina da ordem natural – o universo era regido por
leis naturais, imutáveis e universais desejadas pela providência divina para a
felicidade dos homens. Os fisiocratas, ao acreditarem em uma ordem natural que
regula os fenômenos econômicos, aceitavam que a vida econômica se organiza e
reorganiza de modo automático, com suas próprias forças, e, portanto, negavam
a intervenção do Estado na economia.
Com os fisiocratas, é iniciado o desenvolvimento das explicações para
os fenômenos econômicos. Para eles, somente a terra e tudo o que viesse da
natureza era considerado fator econômico produtivo. As atividades agrícolas e
extrativas eram consideradas economicamente produtivas – o produto líquido
decorria da terra e sobre ele produzia-se um excedente da riqueza criada
sobre a riqueza consumida. É possível dizer que a fisiocracia foi uma doutrina
organicista e naturalista, que recebeu influência do racionalismo do século
XVIII. Muitos consideram as teorias de Quesnay (1983) meras extensões da
doutrina escolástica, embora não deixem de reconhecer a natureza científica
e analítica de sua obra. Em Quesnay, formulam-se os princípios da filosofia
social utilitarista (hedonismo), que se destaca com o quadro econômico, uma
Fundamentos de Ciência Econômica 15

representação simplificada do fluxo de despesas e dos bens entre as diferentes


classes sociais. Nessa época, surgiram as máquinas e, com elas, o sistema
industrial capitalista.

Escola clássica
De cunho liberal, desenvolveu-se entre o fim do século XVIII e o início do
século XIX. O marco inicial está relacionado a Adam Smith e a David Ricardo.
Para esses autores, as leis naturais da vida econômica têm como princípio
regulador a livre concorrência exercida pelos agentes econômicos. Concorrência
que leva à divisão do trabalho, alavancando a produção, enquanto a natureza
seria o fator originário. O corpo analítico da escola clássica tem quatro princípios
dominantes: liberdade de empresa, existência da propriedade privada, liberdade
de conjunto e liberdade de troca. Nesse princípio repousa e se fundamenta a lei
da oferta de mercado.

Adam Smith (1723-1790)


É o apologista da nascente classe industrial e oponente aos privilégios e
proteção concedidos pelo Estado no mercantilismo. Não acreditava na “ordem
natural” dos negócios. Confiava no egoísmo natural dos homens e na harmonia
de seus interesses. Afirmava que todo esforço individual na procura do melhor
leva naturalmente à preferência pelo emprego mais vantajoso para a sociedade.
Adam Smith enfatizava o mercado como regulador da divisão do trabalho, fazia
distinção entre valor de uso e valor de troca e admitia que só neste último há
interesse econômico. O valor, para Smith, era distinto do preço; o trabalho era
a medida do valor. Ele analisou a distribuição da renda entre salário, lucro e
renda da terra. Smith acreditava que a concorrência levaria ao desenvolvimento
econômico e que os benefícios dele decorrentes seriam partilhados por todos.

Thomas Robert Malthus (1766-1834)


Com destaque na terminologia teórica e por ter colocado a Economia em
sólidas bases empíricas, Malthus ficou famoso com a lei da população. Mostrou,
através dessa lei, que a população fora de controle cresce a taxas geométricas,
16 Fundamentos de Ciência Econômica

enquanto os meios de subsistência crescem a taxas aritméticas. Seu pessimismo


é criticado por não ter vislumbrado o progresso técnico e as técnicas de controle
de natalidade.

David Ricardo (1772-1823)


Mais formal que Smith e Malthus, David Ricardo construiu um sistema
abstrato cujas conclusões decorrem dos axiomas. Esse autor desenvolveu um
importante estudo sobre a renda diferencial da terra e sobre o futuro do sistema
capitalista. O ouro passou a ter significado importante na política econômica.
No início, a Espanha detinha a liderança da posse desse material. Os demais
países, não tão bem-sucedidos nesse aspecto, procuravam uma compensação
através de políticas econômicas que tornassem seus balanços de pagamento
favoráveis, para que, por meio dos excedentes ou superávits, comprassem o ouro
espanhol. Foi assim que floresceu uma indústria altamente regulamentada de
bens exportáveis que podia garantir, também, a demanda interna.
Esse pensamento econômico existiu entre 1450 e 1750, constituindo-se em um
regime de nacionalismo econômico, vale repetir, com centralização da questão
da riqueza como fim principal do Estado. Ele emerge de um processo crescente
de urbanização, do surgimento das cidades e, portanto, da ampliação espacial
do comércio. Dentro desse pensamento, operam-se grandes transformações
sociais, econômicas e políticas:
• INTELECTUAIS – renascimento artístico;
• RELIGIOSAS – reforma de Calvino e dos anglo-saxões, dando grande
ênfase ao individualismo; o trabalho era enaltecido, o juro era aceito, e
o lucro, encorajado;
• POLÍTICAS – aparecimento do Estado moderno;
• GEOGRÁFICAS – grandes descobertas – Cabral, Colombo, Magalhães
e outros navegadores;
• ECONÔMICAS – todos os conceitos referentes ao balanço comercial,
às importações e às exportações de bens, assim como as transações
com ouro e prata e todos os conceitos econômicos ligados às transações
externas – seguro, frete, política de preços, deslocamento da importância
Fundamentos de Ciência Econômica 17

econômica do Mediterrâneo, regulamentação disciplinadora da


indústria e do comércio para propiciar aos países um saldo positivo no
balanço de pagamento.

Escola socialista – Karl Marx (1818-1883)


O socialismo constituiu um movimento de reação contra os males do
liberalismo, principalmente pela consideração do trabalho como uma
mercadoria e, portanto, sujeito às leis do mercado. Os socialistas pretendiam
substituir a ordem social baseada na liberdade individual, na propriedade
privada e na liberdade contratual por uma outra ordem, fundamentada na
propriedade coletivizada dos meios de produção. Essa escola pretendia corrigir
as desigualdades econômicas, dentro de formulações igualitárias, em função
das necessidades comuns. Entre os movimentos e as teorias socialistas que se
opuseram ao individualismo e se desenvolveram com doutrinas e programas de
reformas bem diferentes, podemos destacar as seguintes correntes:

Socialismo de cátedra (1872)


Surgiu na Alemanha, era vertente do socialismo e pretendia, mesmo
conservando a propriedade privada, regular a distribuição de riqueza e promover
reformas de caráter econômico e social. O Estado entraria como cooperador, e
não como absorvente, como se pretendia, no quadro geral do socialismo.

Socialismo científico, histórico ou marxismo


Deve-se a Karl Marx a fundação do socialismo científico, que se tornou a mais
importante corrente socialista. Marx se opôs aos processos analíticos clássicos,
bem como às suas conclusões, e criticou Malthus com base nos diversos estágios
e modos de produção. Sua análise considera o significado da dinâmica interna do
processo histórico e as suas leis econômicas peculiares. Marx alterou a análise de
valor, embora tenha se servido dos componentes teóricos da teoria do valor do
trabalho de David Ricardo. Foi com Marx que apareceram os conceitos de mais-
valia, capital variável, capital constante, exército de reserva. O teórico analisou,
também, o processo de decrescimento da taxa de lucro decorrente da acumulação
18 Fundamentos de Ciência Econômica

do capital, da distribuição da renda e das crises do sistema capitalista. Devido à


sua importância, veremos quais foram as bases filosóficas e a interpretação dos
conceitos econômicos dessa abordagem teórica socialista.

Bases filosóficas do socialismo científico


Marx partiu das ideias de Hegel, servindo-se do conceito de movimento
dialético, que vai da tese à antítese (negação da tese) e que, num terceiro termo,
chega, pelo choque recíproco dos dois primeiros, à síntese (negação da negação).
Recusa o idealismo de Hegel – “não é a consciência que determina a vida, mas
a vida que determina a consciência”. É pelo homem que se explica a história,
este se apresenta como uma vítima – a teoria da alienação, na qual o homem
projetou para fora de si a melhor parte dele mesmo e criou Deus.
É necessário, dizia Marx, que o homem retome para si o que lhe pertence.
O trabalhador aliena sua própria substância no produto que realiza e do qual
o empregador se apropria. Desse modo, o produto é o homem desintegrado. É
preciso proceder à reintegração. Marx estuda o homem total e faz dele o rei do
universo, como negação de toda transcendência.

Materialismo histórico e a luta de classes


Marx distingue na história a INFRAESTRUTURA, que é a técnica, as condições
materiais de produção, a realidade econômica; e a SUPERESTRUTURA, que
é a ideia, a cultura, o direito, a moral, a religião. A superestrutura comanda a
infraestrutura. As formas jurídicas da sociedade são sucessivas e necessariamente
dirigidas pela evolução material das técnicas. A técnica de uma época concede
a uma classe social uma posição vantajosa e a outra classe uma situação
desvantajosa. Isso significa que há sempre uma classe dominante e uma classe
dominada. O poder é da classe dominante, mas apenas provisoriamente, pois o
processo dialético da negação a levará, um dia, ao desterro. Essa é a ilustração
da ideologia do senhor e do escravo, dos capitalistas e dos proletários.
Fundamentos de Ciência Econômica 19

O valor do trabalho e a mais-valia


É a teoria das mercadorias, isto é, dos objetos produzidos pelo trabalho para
a venda:
• o valor das coisas é determinado pela quantidade de trabalho de
qualidade média necessária para produzi-las;
• o valor da força de trabalho é determinado pela quantidade de trabalho
necessário para produzir os alimentos e outros itens necessários
à subsistência do operário, durante uma jornada de seis horas de
trabalho:
• o empregador pagará ao operário um salário correspondente a essas
seis horas de trabalho para ter o direito de utilizá-las no processo de
produção, mas o empregador fará o operário trabalhar mais de seis
horas, durante oito horas, por exemplo;
• venderá as mercadorias produzidas pelo trabalhador a um preço
equivalente a oito horas de trabalho;
• o operário forneceu duas horas de trabalho não pagas, que são
apropriadas pelo empregador, constituindo um produto líquido que
Karl Marx chamou de mais-valia;
• a mais-valia constitui a exploração capitalista. O proletariado recebe
um salário menor que o valor das mercadorias produzidas; esse salário
é insuficiente para comprá-las;
• considerando ser a classe trabalhadora o mais importante conjunto de
consumidores, apareceriam, inevitavelmente, as crises de superprodução
ou de subconsumo.

A proletarização e a tese catastrófica da subversão


Segundo as ideias de Marx, o avanço do capitalismo provocará a
transformação fatal que o arruinará. Nesse processo, o número de proletários
crescerá continuamente, e as empresas se tornarão cada vez maiores e menos
numerosas. No momento em que todos se tornarem proletários, a luta de classes
chegará ao fim. A revolução se realizará por si mesma. Marx aconselhava não só
20 Fundamentos de Ciência Econômica

que se ficasse à espera do desenlace, como concitava a que os trabalhadores se


antecipassem, o que é atestado pelo seu brado: “Proletários de todos os países,
uni-vos”.
Karl Marx estruturou, assim, as bases do pensamento socialista do século
XIX. Foi um revolucionário, e sua obra O Capital promoveu grande impacto
e enormes modificações na ordem econômica de várias nações. A legislação
trabalhista e os sindicatos, entre outros, foram contribuições pós-marxistas.

Escola marginalista ou neoclássica


A partir de 1870 até 1929, a análise econômica seria enriquecida com o
desenvolvimento da teoria do marginalismo ou neoclassicismo. Esse conjunto
de estudos procurou integrar a teoria do valor à teoria dos custos de produção
realizada pelos clássicos. Desenvolveu a explicação da alocação dos recursos
com o auxílio da análise marginal e ofereceu argumentos para o entendimento
da formação dos preços dos fatores de produção e dos bens econômicos finais.
Conforme a análise do marginalismo, o homem econômico é racional, isto é,
suas ações são intencionais e sistemáticas, é calculador e está empenhado em
comparar seus gastos marginais com seus respectivos benefícios.

Escola keynesiana ou revolução keynesiana


John Maynard Keynes (1883-1946) é o expoente máximo do pensamento
econômico que revolucionou todo o conteúdo teórico dessa ciência. A análise de
Keynes voltou-se, principalmente, para problemas da estabilidade a curto prazo.
Nesse sentido, procurou determinar as causas das flutuações econômicas dadas
pelos níveis da renda nacional e do emprego nos países industrializados. Para
levar avante esse objetivo, passou a considerar os grandes agregados no curto
prazo, procurando contestar a condenação marxista do capitalismo. Dizia que
um capitalismo não regulado, sem intervenção, mostra-se incompatível com a
manutenção do pleno emprego e da estabilidade econômica.
Keynes integrou os setores reais (de gasto) ao setor monetário, analisou a taxa
de juros (determinada pela oferta de moeda e pela preferência pela liquidez), o
Fundamentos de Ciência Econômica 21

consumo e a poupança, ambos dependentes da renda, os efeitos multiplicadores


do investimento no nível da renda nacional; atribuiu papel ativo à política fiscal
– de gastos e de impostos, defendendo a adoção de uma política deficitária do
governo como um meio seguro para tirar o sistema econômico da depressão a
curto prazo; mas era contrário aos controles monetários, pois não considerava
a moeda um instrumento ativo. Na época de Keynes, dizia-se que a economia
estava em recessão porque a renda era insuficiente para comprar a produção
nacional.
A análise de Keynes é criticada por ser parcial, e não geral, como alegava
na sua obra Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, pois limitava à análise
o subemprego de curto prazo, faltando integrar sua análise à complexidade da
microeconomia; além disso, não aplicou sua teoria à explicação do funcionamento
das economias dos países menos desenvolvidos.
Mas não se pode negar o papel importante dos estudos de Keynes no
desenvolvimento da aferição e da medida das atividades econômicas em seu
conjunto, de modo agregado – como as contas nacionais ou contabilidade
nacional –, e na explicação para os modelos agregados e suas verificações
empíricas através da econometria, que faz a interação entre a teoria econômica,
a matemática e a estatística.

Contribuições contemporâneas
Após os trabalhos de Keynes, houve um intenso desenvolvimento de estudos
e a análise de assuntos ligados à renda, ao emprego e à moeda. São exemplos o
modelo do multiplicador atribuído a Paul A. Samuelson; o modelo da taxa de
juros de John R. Hicks; as hipóteses de renda permanente de Milton Friedman;
a interação entre a micro e a macroeconomia, a teoria neoclássica moderna das
expectativas racionais e os aprofundamentos nas teorias dinâmicas de longo
prazo realizados por Joan Robinson, Roy F. Harrod, Evsey Domar, John Hícks,
Nicholas Kaldor, Kenneth Arrow, Samuelson, Solow e muitos outros.
Na evolução sucinta dessas contribuições, convém alertar que o
intervencionismo na economia, proposto por Keynes, tinha sentido restrito
e não pode ser entendido da mesma maneira que o dirigismo estatal e
22 Fundamentos de Ciência Econômica

generalizado adotado nos países do bloco socialista soviético – o Estado é apenas


complementador, e nunca substituto da iniciativa privada.
Em síntese, as teorias desenvolvidas durante o século XVIII cuidaram da
explicação da formação da riqueza; as do século XIX, da distribuição da riqueza
e, modernamente, teorias com um duplo objetivo estão se desenvolvendo de um
lado para explicar as flutuações da atividade econômica, seu desenvolvimento
dentro de um quadro de estabilidade e, de outro, investigar a repartição da
riqueza ou o problema de equidade.

Ponto final
Este capítulo explicou o que é economia como ciência, seu objeto de estudo,
seus problemas econômicos fundamentais, seu método de abordagem da
realidade e uma síntese do pensamento econômico. Se você compreendeu tais
conceitos, está preparado para continuar seu estudo.

Indicação cultural
FUSFELD, D. R. A era do economista. São Paulo: Saraiva, 2001.
É um retrato fiel da evolução da economia, apresentando desde o surgimento
da economia de mercado até seus avanços mais recentes. No texto há uma linha
do tempo em cada página, situando os principais fatos e economistas de cada
período. É um livro completo que traz a história do pensamento econômico de
uma forma simples e direta.
Fundamentos de Ciência Econômica 23

Atividades
1) Quando surge a escassez, segundo a ótica econômica?
2) Por que a economia é uma ciência social?
3) Quais são as diferenças entre a economia positiva e a economia
normativa?

Gabarito:
As respostas das questões são encontradas no texto do capítulo.
2

A demanda, a oferta, o mercado


e as suas estruturas
Este capítulo tem como objetivo a compreensão do comportamento da
demanda e da oferta e de como esses agentes realizam suas trocas no mercado,
sob o enfoque da teoria econômica.

2.1 Demanda, oferta e equilíbrio de mercado


A seguir, descreveremos esses importantes temas da ciência econômica.

Demanda
Demanda ou procura é a quantidade de bens ou serviços que os agentes
econômicos estão dispostos e aptos a consumir num determinado momento,
num determinado mercado por diferentes fatores determinantes, considerando-
se que:
• BENS: podem ser estocados;
• AGENTES ECONÔMICOS: constituídos por famílias, empresas e
governo;
• REQUISITOS BÁSICOS DA DEMANDA:
DISPOSTOS – ter vontade, querer;
26 A demanda, a oferta, o mercado e as suas estruturas

APTOS – ter aptidão de compra; poder comprar. Se esses dois requisitos


estiverem presentes (disposição e aptidão), temos uma demanda
real ou efetiva. Se, no máximo, um desses requisitos estiver presente,
temos, então, uma demanda potencial (pode não ter nenhum desses
requisitos).
• NUM DETERMINADO MOMENTO E NUM DETERMINADO
MERCADO: em cada momento, nossas vontades mudam nosso
comportamento;
• OS FATORES DETERMINANTES DA DEMANDA SÃO: preço do
próprio bem/serviço; preço de outros bens/serviços; gosto; preferência;
renda e número de consumidores.

As quantidades demandadas serão tanto maiores quanto menores forem


os preços ou vice-versa. Quanto mais caro, menos se compra. Essa é a LEI DA
DEMANDA.

Oferta
Oferta é a quantidade de bens e serviços que um ou mais agentes econômicos
estão habilitados e interessados em colocar num certo momento, num certo
mercado, por diferentes fatores determinantes.
Os FATORES DETERMINANTES da oferta são: o preço do próprio bem; a
tecnologia; os impostos; a taxa de juros; os fatores da natureza (tudo que pode
ocorrer, em termos climáticos).
Quanto maior for o preço de um bem, maior será a quantidade ofertada
deste. Do mesmo modo, quanto menor for o preço de um bem, menor será a
quantidade ofertada. Em outras palavras, há uma relação direta entre o preço
de um bem e a quantidade ofertada. Essa é a LEI DA OFERTA.

O mercado e as suas estruturas


Nossa leitura buscará, agora, o entendimento de algo que parece complicado,
mas que é o aspecto da economia que mais interfere em nossa vida diária:
o funcionamento do mercado. E o que é o mercado? Rossetti (2002) afirma
A demanda, a oferta, o mercado e as suas estruturas 27

que “em sua acepção primitiva, a palavra mercado dizia respeito a um lugar
determinado onde os agentes econômicos realizavam suas transações”. Para
Passos e Nogami (2003), mercado “é um local ou contexto em que compradores
(o lado da demanda) e vendedores (o lado da oferta) de bens, serviços ou recursos
estabelecem contato e realizam transações”. É nesse mercado que funcionam as
duas leis mais conhecidas da ciência econômica: a lei da procura e a lei da oferta.
É também no mercado que se formam os preços dos bens e dos serviços, que
utilizamos para viver e satisfazer às nossas necessidades.

Formação de preços
Preço é a expressão monetária do valor de bens e serviços que utilizamos para
satisfazer às nossas necessidades. Existe, na teoria econômica, uma distinção
entre preço de mercado ou simplesmente preço e preço natural ou apenas valor.
O que determina o preço não é o que determina o valor. A explicação do valor de
troca das mercadorias tem duas grandes correntes dentro da ciência econômica:
a teoria clássica do valor-trabalho e a teoria neoclássica do valor-utilidade.
Essa disputa teórica em torno da determinação do valor entrou na história do
pensamento econômico e se manteve por um longo período.
Quem apresentou uma solução para o problema foi um economista inglês
do século XX, Alfred Marshall (1982). De acordo com Marshall, o valor de troca
é determinado, a curto prazo, subjetivamente pela utilidade e escassez relativa
(pelo lado da demanda) e, a longo prazo, objetivamente pelos custos de produção
(pelo lado da oferta). Depois disso, os debates acerca da origem do valor foram
deixados de lado e pouco tem sido discutido sobre o assunto.
Os preços de mercado oscilam conforme as variações da oferta e da procura
(demanda é sinônimo de procura, e passaremos a utilizar indistintamente uma ou
outra denominação). Nas economias de mercado, o papel dos preços é de orientar
a alocação (direcionamento) dos recursos de produção, funcionando como um
indicador ou índice de escassez. Os preços são um mecanismo de orientação
das atividades econômicas; isto é, dos fluxos da produção e da renda. E, nesse
sentido, os preços podem ser também definidos como um índice de conversão
de um fluxo real (de bens e de serviços) em nominal (de valores monetários).
28 A demanda, a oferta, o mercado e as suas estruturas

Importância do mercado no sistema econômico


O mercado, através do sistema de preços, aloca os escassos recursos para
produzir uma certa quantidade de bens ou serviços, que correspondem a um
nível de satisfação das necessidades das pessoas – nível ou padrão de vida,
considerando-se que:
• SISTEMA DE PREÇOS: é o conjunto de preços dos bens, serviços e
fatores de produção de um sistema de preços;
• ALOCAÇÃO DE RECURSOS: é a forma como os fatores de produção
são organizados pelo mercado, para que produzam bens e serviços que
atendam às necessidades das pessoas;
• PADRÃO DE VIDA: é o nível de satisfação alcançado pelas pessoas
que fazem parte de um sistema econômico, quando consomem bens e
serviços por ele produzidos.

Equilíbrio de mercado
Quando se fala em equilíbrio, a ideia que nos vem imediatamente à cabeça
é de um balanceamento de forças. Quando se transfere essa noção de equilíbrio
para a análise do mercado, o balanceamento de forças ocorre entre as forças
básicas do mercado, a oferta e a procura. Dessa forma, pode-se dizer que o
mercado está em equilíbrio quando o preço pelo qual os vendedores pretendem
vender uma quantidade do produto é exatamente igual ao preço pelo qual
os compradores pretendem comprar essa mesma quantidade do produto.
Colocando em um gráfico (Figura 1) a representação das curvas de oferta e de
procura, podemos visualizar o equilíbrio de mercado. Esse equilíbrio é definido
pelo ponto A, determinado pela interseção das duas curvas.
A demanda, a oferta, o mercado e as suas estruturas 29

Preço
Oferta

Demanda

Q Quantidade
Figura 1 – Gráfico do equilíbrio de mercado
Fonte: adaptado de Vasconcellos; Garcia, 2006.

2.2 Estruturas de mercado


As diferentes estruturas de mercado estão alicerçadas em três variáveis
principais:
• número de empresas produtoras que atuam no mercado;
• diferenciação do produto ou serviço;
• existência de barreiras como forma de limitar a entrada de novas
empresas.

As estruturas de mercado classificam-se, basicamente, em: concorrência


perfeita, monopólio, oligopólio e concorrência monopolística. Vejamos a seguir
as características de cada uma delas.

Concorrência pura ou concorrência perfeita


É um mercado com vários vendedores e compradores, de forma que cada
agente econômico isolado não tem condições de afetar o preço de mercado. O
30 A demanda, a oferta, o mercado e as suas estruturas

produto é homogêneo em todas as empresas. Não há diferenças de embalagem


e qualidade.
É um mercado em que não há barreiras à entrada e à saída, tanto de
compradores como de vendedores.
Regido pelo princípio da racionalidade, os agentes agem racionalmente (é o
chamado princípio da racionalidade ou do homo economicus). As organizações
sempre maximizam seu lucro, e os consumidores maximizam sua satisfação.
Há transparência de mercado e compradores e vendedores têm acesso a
toda informação relevante, sem custos, isto é, conhecem preços, qualidade e
custos.

Monopólio
Uma única empresa produz um bem ou um serviço sem substitutos próximos
e apresenta barreiras à entrada de empresas concorrentes. O produto ou o serviço
não é idêntico e não há possibilidade de ser substituído por outros.

Oligopólio
Um número reduzido de firmas opera no setor. Os bens ou os serviços são
substitutos perfeitos entre si e o consumidor sabe perfeitamente quem produziu.
Essa estrutura apresenta barreiras à entrada e à saída de novas firmas.

Concorrência monopolística
Várias empresas produzem dado bem ou serviço, sendo que cada uma
produz um bem ou um serviço diferenciado, mas com substitutos próximos. A
diferenciação nos produtos pode se dar via:
• características físicas, como, por exemplo, a composição química;
• promoção de vendas, propaganda, atendimento, brindes;
• manutenção;
• embalagem;
A demanda, a oferta, o mercado e as suas estruturas 31

• Cada empresa tem um relativo poder sobre os preços, visto que os


produtos ou serviços são diferenciados.

Quadro 2 – Resumo das estruturas de mercado

ACESSO DE NOVAS
OBJETIVO DA NÚMERO DE TIPO DE
ESTRUTURA EMPRESAS AO
EMPRESA FIRMA PRODUTO
MERCADO

Concorrência Maximização Não existem


Infinitas Homogêneo
perfeita de lucros barreiras

Maximização
Monopólio Uma Único Existem barreiras
de lucros

Concorrência Maximização Não existem


Muitas Diferenciado
monopolística de lucros barreiras

Poucas Homogêneo
Maximização
Oligopólio dominam um ou Existem barreiras
de lucros
mercado diferenciado

Fonte: adaptado de Rossetti, 2002.

Formas de organização
Há outras formas de organização das empresas no mercado, que serão
descritas a seguir:
32 A demanda, a oferta, o mercado e as suas estruturas

Monopsônio
Situação de mercado em que há apenas um comprador de um produto,
geralmente matéria-prima. Modelo raro de mercado, em que as condições são
determinadas pelo comprador, mesmo que haja vários vendedores. Normalmente
é representado por estatais, como o caso da empresa que se instala em uma
determinada cidade do interior e, por ser a única, torna-se demandante exclusiva
da mão de obra local e das cidades próximas, e, consequentemente, fixa os
salários em patamares baixos.

Oligopsônio
Tipo de estrutura de mercado em que poucas empresas, de grande porte, são
compradoras de determinados produtos, geralmente matéria-prima ou produtos
primários. Representado pelas indústrias alimentícias e seus fornecedores. Ex.:
em cada cidade existem dois ou três que adquirem a maior parte do leite de
inúmeros produtores rurais locais.

Truste
Uma das formas mais agressivas de controle oligopolístico de mercado é
aquela denominada truste (termo proveniente da palavra inglesa trust, que
significa “confiar, depositar confiança em”). O truste consiste num acordo entre
diversas empresas que passam a ser administradas por uma nova empresa ou
grupo financeiro. Essa empresa ou grupo passa a ter controle absoluto sobre as
empresas anteriores, que perdem sua independência e parte de sua autonomia
administrativa. Dessa forma, o truste passa a ser o único produtor e vendedor
de determinado bem no mercado, eliminando progressivamente os demais
concorrentes, absorvendo-os ou incorporando-os e, assim, controlando
totalmente o preço do bem ou bens que produz. Embora o Estado imponha
severas leis para impedir a formação de trustes, eles continuam operando e se
expandindo através de várias manobras.
A demanda, a oferta, o mercado e as suas estruturas 33

“Joint venture”
Basicamente, uma joint venture representa a associação de duas
ou mais empresas a fim de criar ou desenvolver uma atividade
econômica. Embora essas empresas busquem, com essa associação,
um ganho, esse ganho nem sempre se apresenta como o mesmo para
cada uma delas, pois, enquanto uma visa o lucro, outra pode estar
em busca de novas tecnologias e outra visa apenas e tão somente
assegurar sua presença em um determinado mercado, inúmeras
outras motivações podendo existir ainda para cada partícipe do
empreendimento conjunto. (TAVOLARO, 2007)

“Holding”
É uma forma de oligopólio na qual é criada uma empresa para
administrar um grupo delas que se uniu com o intuito de promover
o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços. Na
holding, essa empresa criada para administrar possui a maioria
das ações das empresas componentes de determinado grupo.
Essa forma de administração é muito praticada pelas grandes
corporações. (O QUE SIGNIFICA..., 2007)

Pudemos observar como a demanda, a oferta, o mercado e as suas estruturas


realizam suas trocas no mercado, sob o enfoque da teoria econômica, lembrando
que os tópicos foram abordados do mais elementar ao mais abstruso.

Ponto final
Neste capítulo, vimos como a oferta e a demanda determinam os preços,
a importância do mercado para o sistema econômico e as características das
estruturas concorrenciais nas quais as empresas competem entre si. Se você
compreendeu tais conceitos, está preparado para continuar seu estudo.
34 A demanda, a oferta, o mercado e as suas estruturas

Indicação cultural
MANSFIELD, E.; YOHE, G. Microeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006.
A obra mostra a teoria microeconômica de um modo claro e instigante
por meio de inúmeros exemplos atuais. Apresenta ainda os conceitos mais
recentes, ainda pouco explorados em livros. Entre eles estão: o papel do risco
e da incerteza na economia atual, a formulação de leilões, a função do seguro,
o poder do risco moral, os incentivos de mercado na formulação de políticas,
entre vários outros assuntos.

Atividades
1) Quais são os requisitos básicos da demanda?
2) Qual a importância do mercado para o sistema econômico?
3) As diferentes estruturas de mercado estão condicionadas por três
variáveis principais. Quais são elas?

Gabarito:
As respostas das questões são encontradas no texto do capítulo.
3

Teoria da produção e dos custos


de produção
Este capítulo tem como finalidade analisar as principais variáveis que
devem ser levadas em consideração para a produção de bens e serviços. O
que analisaremos é o comportamento da empresa quando ela desenvolve sua
atividade produtiva, sob o enfoque de sua produção (em termos de unidades
físicas) e de seus respectivos custos (em termos monetários).

3.1 Teoria da produção


Uma empresa é a unidade básica de produção em um sistema econômico. Ela
contrata recursos produtivos, transforma-os em bens e serviços e os coloca ou à
disposição de outras empresas, no caso de bens intermediários, ou à disposição
dos consumidores, no caso de bens de consumo.
Podemos definir produção da seguinte forma: é o processo pelo qual uma
empresa transforma os fatores de produção adquiridos em produtos ou serviços
para a venda no mercado. A empresa compra fatores de produção (matérias-
primas e insumos), combina-os segundo um processo de produção escolhido
e vende o produto final no mercado. A produção pode ser classificada como
(PASSOS; NOGAMI, 2003):
36 Teoria da produção e dos custos de produção

• produção de bens materiais (alimentos, remédios, máquinas);


• produção de serviços (transporte, diversão, etc.).

O processo de produção pode ser de mão de obra intensiva, de capital


intensivo ou de terra intensivo, dependendo do fator de produção utilizado em
maior quantidade, relativamente aos demais.
A escolha do processo de produção depende de sua eficiência. Esta pode
ser (TROSTER, 2002):
• EFICIÊNCIA TÉCNICA: entre diversos processos produtivos para obter
uma determinada quantidade de produto, é mais eficiente tecnicamente
aquele que utilizar menores quantidades de fatores de produção;
• EFICIÊNCIA ECONÔMICA: entre diversos processos produtivos para
se obter uma determinada quantidade de produto, é mais eficiente
economicamente aquele que o realizar com menor custo.

Se especificarmos as diversas quantidades de cada fator que a empresa


utiliza para alcançar determinadas quantidades de produto, teremos a função de
produção. Ao analisar uma função de produção, verificaremos que, ao aumentar
ou diminuir a quantidade produzida de um determinado produto (variar a
produção), a quantidade utilizada de alguns fatores não muda (máquinas,
instalações, ferramentas, administração), enquanto a quantidade utilizada de
outros fatores muda proporcionalmente à produção (matéria-prima, mão de
obra). Os primeiros são os fatores de produção fixos (cujas quantidades não
mudam), e os segundos são os fatores de produção variáveis (cujas quantidades
mudam).
À medida que se aumenta a quantidade de utilização de um fator variável,
aumenta a quantidade de produto total que se obtém. A partir dessa afirmação,
podemos concluir dois conceitos importantes: a PRODUTIVIDADE MÉDIA
e a PRODUTIVIDADE MARGINAL do fator variável. A produtividade média
do fator variável é o quociente da quantidade total produzida pela quantidade
utilizada do fator variável. A produtividade marginal do fator variável é a variação
do produto total decorrente da variação de uma unidade no fator variável.
Para que servem esses conceitos, na prática? Servem para saber se cada fator
Teoria da produção e dos custos de produção 37

(insumo) que se utiliza na produção está trazendo um resultado (produtividade


média) satisfatório. Servem para saber se o último fator utilizado (produtividade
marginal) também está produzindo resultado satisfatório, para o produto
específico que analisamos.
Quando se aumenta a quantidade de utilização de um fator variável,
eleva-se a quantidade de produto total obtido, mas não de maneira uniforme
e permanente. Isso se deve à LEI DOS RENDIMENTOS DECRESCENTES
(PINDYCK; RUBINFELD, 2006). Essa lei pode ser assim explicada: mantendo-
se inalterada a quantidade de fatores fixos e incrementando um fator variável
em iguais quantidades, a quantidade de produto total obtido aumentará, mas a
partir de certo ponto os acréscimos no produto total serão cada vez menores.
Se insistirmos no incremento do fator variável, o produto – após alcançar um
valor máximo – poderá até decrescer. A tabela 1 ilustra os conceitos apresentados
anteriormente.

Tabela 1 – Produção de trigo com apenas um fator de produção variável


(mão de obra)

Produtividade
Mão de obra
Terra (fator Produção Produção média marginal da mão de
(fator variável
fixo em total (em da mão de obra obra (em toneladas)
em milhares de
hectares) toneladas) (em toneladas) (5) =
trabalhadores)
1 3 (4) = (3) : (2)
2 Variação em (3)
Variação em (2)

10 1 6 6,0 6
10 2 14 7,0 8
10 3 24 8,0 10
10 4 32 8,0 8
10 5 38 7,6 6
10 6 42 7,0 4
10 7 44 6,2 2
10 8 44 5,4 0
10 9 42 4,6 -2
Fonte: Vasconcellos, 2007.
38 Teoria da produção e dos custos de produção

3.2 Teoria dos custos de produção


Uma empresa sempre procurará obter o máximo de produção com a
utilização de um mínimo de fatores (insumos). Perseguindo ambos os objetivos,
obterá o melhor resultado possível (lucro) para garantir a remuneração aos
acionistas e à própria sobrevivência da firma.

Custos totais de produção


Os custos totais de produção de uma empresa, no curto prazo, podem ser
classificados em dois tipos: custos fixos totais (CFT) e custos variáveis totais
(CVT). Assim, CT = CFT + CVT.
Os custos fixos totais são aqueles representados pelos insumos que
independem das quantidades produzidas. São gastos com os fatores de produção
fixos, como: aluguel, máquinas, administração superior da organização, etc.
Os custos variáveis totais são aqueles representados pelos insumos (fatores)
variáveis, cujo nível de utilização depende das quantidades produzidas. São os
gastos com matérias-primas, mão de obra variável, impostos sobre a produção
e vendas, comissões sobre vendas etc.

Tabela 2 – Custos de produção (em valores monetários)

QUANTIDADE CUSTO CUSTO CUSTO


CUSTO FIXO CUSTO TOTAL
PRODUZIDA VARIÁVEL MÉDIO MARGINAL

0 100 0 100,00 – –
10 100 50,00 150,00 15,00 5,00
20 100 80,00 180,00 9,00 3,00
30 100 100,00 200,00 6,67 2,00
40 100 110,00 210,00 5.25 1,00
50 100 130,00 230,00 3,83 2,00
60 100 160,00 260,00 4,33 3,00
70 100 200,00 300,00 4,28 4,00
80 100 250,00 350,00 4,37 5,00
Fonte: Rossetti, 2002.
Teoria da produção e dos custos de produção 39

Além do conceito de custo total, existe também o custo médio, que é


o quociente do custo total pela quantidade total produzida, e o CUSTO
MARGINAL, que é a variação do custo total decorrente da variação de uma
unidade na produção. Esses conceitos podem ser observados na tabela 2.
Como calculamos:
1. os custos fixos e variáveis são enunciados do problema (são os resultados
da observação do processo produtivo);
2. o custo total é a soma do custo fixo e do custo variável;
3. o custo médio é a divisão do custo total pela respectiva quantidade
produzida;
4. o custo marginal é obtido dividindo a diferença de custo total pela
diferença da quantidade produzida, a cada intervalo de produção.
(Exemplo: ao produzir 40 unidades de produto, o custo total foi de R$
210,00; ao produzir 50 unidades, o custo total foi de R$ 230,00; assim
CMg = (230,00 – 210,00) / (50 – 40) = 20,00 / 10 = 2,00.)

Como uma empresa terá lucro máximo? Ela terá lucro sempre que vender
uma unidade de produto a um preço unitário maior que o seu custo unitário de
produção. Enquanto houver esse lucro, a empresa poderá prosseguir aumentando
sua produção e vendas, mesmo que seus custos médios e marginais estejam
crescendo. A maximização dos lucros ocorre quando a receita marginal é igual
ao custo marginal.
No longo prazo, a teoria da produção considera que todos os custos sejam
variáveis, inexistindo custos fixos. Dessa forma, toda a análise que fizemos até
aqui se refere ao curto prazo.
Outra questão importante a destacar é a visão diferenciada que existe entre
a ótica de análise dos economistas e aquela dos contadores sobre custos de
produção. Os custos contábeis, ou explícitos, são aqueles que ocorrem mediante
dispêndio monetário e são registrados na contabilidade.
Os custos considerados na análise econômica incluem, além daqueles
considerados pelos contadores, os custos implícitos ou de oportunidade.
Representam os custos que as empresas têm com o uso dos insumos de sua
propriedade e pelos quais elas não têm dispêndio monetário. Seus valores podem
40 Teoria da produção e dos custos de produção

ser estimados através de avaliação do valor de pagamento que deles se obteria


se utilizados, no mercado, no melhor uso alternativo.

Externalidades
Na análise econômica é preciso, ainda, considerar, as externalidades. Estas
são os custos ou as receitas obtidas ou imputadas pela empresa à sociedade ou
a outras empresas. As externalidades podem ser positivas ou negativas. Serão
positivas quando uma empresa gerar benefícios a outra, sem receber pagamentos
em troca. Exemplos de externalidades positivas são as empresas tradicionais que
treinam sua mão de obra e acabam gerando novas empresas que absorvem a mão
de obra treinada, sem participar em seu custo. As externalidades serão negativas
quando a atividade de uma empresa gerar custos para outras empresas, sem
que aquelas paguem a estas o custo proporcionado. Exemplo de externalidade
negativa é a poluição que uma empresa produz em um bairro ou em uma cidade,
contaminando a água, o ar ou o solo.

3.3 Função de produção


Qualquer unidade produtora, ao produzir bens e serviços, tem custos com
a utilização de fatores, insumos ou matérias-primas. Ao vender esses bens ou
serviços, a empresa obterá um certo volume de receitas. A diferença entre os
custos e as receitas se denomina lucro econômico.
A função de produção de uma empresa é a relação das quantidades fixas
e variáveis de fatores que são utilizados no decorrer do processo produtivo.
Sabe-se que as empresas possuem diferentes produtividades. Esta varia de
acordo com a eficiência econômica e deve ser entendida como a relação entre
a quantidade produzida de um determinado bem e o fator utilizado. A lei dos
rendimentos decrescentes indica que o aumento na utilização de um fator de
produção implica acréscimos cada vez menores nos rendimentos gerados por
essa mesma produção. Isso decorre precisamente da produtividade do fator, que
diminui enquanto aumenta a sua utilização e, consequentemente, a sua escassez,
sendo os últimos menos produtivos.
Teoria da produção e dos custos de produção 41

Quadro 3 – Resumo dos conceitos vistos neste capítulo


TERMO CONCEITO
Função de produção P = f(aFP1 + bFP2 + + ... + zFPn)
Produtividade média Pme = (produção total) / (quantidade de fator variável)
Pmg = (acréscimo de produto total) / (acréscimo de fator
Produtividade marginal
variável)
Custo total CT = custo fixo (CFT) + custo variável (CVT)
Custo médio Cme = (custo total) / (quantidade produzida)
Cmg = (acréscimo de custo total) / (acréscimo da
Custo marginal
quantidade produzida)
RT = preço de venda x quantidade vendida ou quantidade
Receita total
produzida
Lucro total LT = RT (receita total) – CT (custo total)

Ponto final
A teoria da produção e dos custos de produção é fundamental para a
administração de empresas e para o entendimento do comportamento do
produtor no mercado. Essa teoria permite analisar a formação do custo dos bens
e serviços, cujo valor final viabiliza ou inviabiliza a permanência do produtor
no mercado do produto.
Para o administrador, a análise da composição dos custos proporciona a
possibilidade de interferir no processo produtivo no sentido de minimizá-lo e
tornar o produto mais competitivo.

Indicação cultural
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Tradução de: Eleutério
Prado. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
Esse manual completo apresenta os conceitos básicos e aprofunda todos
os aspectos importantes do estudo da microeconomia: mercado e preços;
produtores, consumidores e mercados competitivos; estrutura de mercado e
42 Teoria da produção e dos custos de produção

estratégia competitiva; informação, falhas de mercado e o papel do governo.


Uma série de exercícios e questões para revisão completa cada capítulo, tornando
mais compreensível a teoria.

Atividades
1) Uma fábrica de implementos agrícolas apresenta a seguinte estrutura
de custos para a produção de diferentes quantidades de produto:

QUANTIDADE
PREÇO DE VENDA CUSTO FIXO CUSTO VARIÁVEL
PRODUZIDA/
(R$) (R$) (R$)
MÊS
20 50.000,00 308.000,00 150.000,00
30 42.000,00 308.000,00 170.000,00
40 39.000,00 308.000,00 190.000,00
50 36.000,00 308.000,00 210.000,00
60 33.000,00 308.000,00 230.000,00

Determine o custo total, o custo médio, o custo marginal, a receita total


e o lucro total em cada nível de produção.

2) Uma fábrica de sapatos masculinos apresenta a seguinte estrutura de


recursos físicos. Determine sua produtividade média da mão de obra
e sua produtividade marginal.
Teoria da produção e dos custos de produção 43

Produtividade
Mão de Produção
Capacidade Produtividade marginal da mão
obra (fator total (em
de produção média da mão de de obra
variável de pares de
diária obra (5) =
trabalhadores) sapatos)
1 (4) = (3) : (2)
2 3 Variação em (3)
Variação em (2)

300 10 80
300 15 95
300 20 115
300 25 132
300 30 129
300 35 108
300 40 97

Gabarito:
1)

QUANT. CUSTO CUSTO CUSTO RECEITA LUCRO


PRODUZIDA TOTAL MÉDIO MARGINAL TOTAL TOTAL

20 458.000 22.900 - 1.000.000 542.000


30 478.000 15.933 2.000 1.260.000 782.000
50 498.000 12.450 2.000 1.560.000 1.062.000
50 518.000 10.360 2.000 1.800.000 1.282.000
60 538.000 8.966 2.000 1.980.000 1.442.000
44 Teoria da produção e dos custos de produção

2) A forma de cálculo está clara no cabeçalho: a produtividade média da


mão de obra calcula-se dividindo a produção total (coluna 3) pelas
quantidades de mão de obra respectivas (coluna 2); da mesma forma,
a coluna 5.
4

Macroeconomia
Ao final deste capítulo, o aluno deverá ser capaz de analisar as metas de política
macroeconômica, identificar os instrumentos da política macroeconômica,
descrever a estrutura de análise da macroeconomia e identificar as principais
medidas da atividade econômica propostas pela contabilidade nacional. Todos
esses assuntos serão abordados a seguir.

4.1 Fundamentos de macroeconomia


Como está nossa leitura? Esperamos que você esteja reconhecendo sua
empresa, seu banco, suas decisões econômicas nesse “passeio” pela economia.
Também esperamos que você esteja conseguindo relacionar sua rotina diária com
os aspectos teóricos que já repassamos juntos. Até agora procuramos observar
as relações entre os agentes (atores) econômicos: as necessidades humanas, a
limitada disponibilidade de recursos (fatores de produção) para satisfazê-las, o
processo produtivo, a demanda, a oferta e a formação de preços no mercado.
Agora iremos abrir um pouco o leque de nossa observação. Tentaremos
analisar as políticas econômicas governamentais, o comportamento da economia
como um todo, o bem-estar que as pessoas almejam como resultado da atividade
econômica.
Vejamos alguns conceitos básicos. Enquanto a teoria microeconômica
explica a composição e a alocação da produção total, a teoria macroeconômica
46 Macroeconomia

busca explicar as flutuações do nível de atividade econômica, do nível da


produção global. O termo micro indica apenas a decomposição de variáveis
macroeconômicas, como consumo, poupança e investimento.
A macroeconomia estuda a economia em seu conjunto, analisando as
variáveis de maneira agregada, e não isolada, como a microeconomia. São
típicas variáveis de interesse da análise macroeconômica: a renda e o produto,
o nível de preços, o emprego e o desemprego, a moeda e o câmbio, o balanço
de pagamentos, a taxa de juros (VASCONCELLOS, 2004).
Quando se estuda e promove relacionamentos entre as variáveis econômicas
agregadas, a macroeconomia não leva em consideração o comportamento das
unidades econômicas individuais e dos mercados específicos, análise típica da
microeconomia. Ao estudar o nível geral de preços, a macroeconomia não se
ocupa da formação dos preços de um produto especificamente. Ao analisar o
mercado, ocupa-se do seu conjunto, esquecendo de aspectos particulares de um
setor ou de uma indústria (VASCONCELLOS, 2004).
A macroeconomia ocupa-se em analisar o curto prazo, especialmente no
que se refere à maximização do produto e à minimização do desemprego de
fatores produtivos e à inflação. Quando se estuda questões de longo prazo, a
análise macroeconômica denomina-se teoria do desenvolvimento e crescimento
econômico (PASSOS; NOGAMI, 2003).
Os métodos de análise básicos, no estudo da determinação de preços e
quantidades são (VASCONCELLOS, 2004):
• análise do equilíbrio parcial – estuda-se um mercado isoladamente,
não levando em consideração as possíveis interferências dos demais
mercados.
• análise do equilíbrio geral – considera-se a interdependência de todos os
mercados e os preços dos bens se formam em um mercado influenciado
pelo conjunto dos seus bens e dos demais mercados e pelos preços de
todos os insumos da economia.

Metas de política macroeconômica


Ao estabelecer políticas macroeconômicas, os governos sempre têm como
meta alcançar um ou mais dos objetivos que serão apresentados na sequência.
Macroeconomia 47

• ALTO NÍVEL DE EMPREGO – Ao contrário do pensamento liberal


clássico, desde a contribuição de Keynes (1985) à teoria econômica,
hoje se aceita a intervenção do Estado, mesmo em regimes capitalistas,
no sentido de maximizar a obtenção de produção global na economia.
Com a existência de corporações cada vez mais poderosas (sindicatos
patronais e de empregados, associações corporativas), o mercado não
se regula, como se propunha nas teorias clássicas. E o desemprego é
uma das principais preocupações das políticas macroeconômicas.
• ESTABILIDADE DE PREÇOS – O que se analisa, nesse quesito, não
é o preço de cada bem do mercado. Interessa à macroeconomia o
nível geral de preços. Sua desestabilização denomina-se inflação e se
caracteriza pelo aumento continuado e geral de todos os preços. Esse
desajuste influencia negativamente a distribuição de renda, o balanço
de pagamentos e as expectativas dos agentes econômicos (indivíduos
e empresas). A tentativa, especialmente em países não desenvolvidos,
de alcançar elevados níveis de produção e emprego costuma produzir
níveis aceitáveis de inflação.
• DISTRIBUIÇÃO EQUITATIVA DA RENDA – A utilização dos
fatores de produção determina sua remuneração (renda). Em uma
economia na qual há desequilíbrio de forças e há fatores de produção
desempregados (trabalho, capital, recursos naturais), a remuneração
de cada um deles não proporciona uma distribuição socialmente justa
da renda. No Brasil, durante o período denominado milagre econômico
(1967 a 1973), praticava-se uma política macroeconômica de priorizar
o crescimento para, depois, promover a distribuição. O período se
caracterizou por uma alta taxa de concentração de renda, com reflexos
ainda não completamente removidos da economia brasileira.
• CRESCIMENTO ECONÔMICO – Havendo desemprego (ociosidade
de fatores de produção), a economia poderá crescer se a ociosidade
for reduzida. Se, ao contrário, os fatores estiverem muito próximos do
pleno emprego, somente o aumento dos recursos disponíveis (maior
número de fatores, como: trabalhadores, capital ou recursos naturais)
ou um avanço tecnológico que promova maior produtividade aos
fatores provocará crescimento econômico. Importante é o crescimento
líquido do produto, ou seja: o produto deverá crescer mais do que
48 Macroeconomia

cresce a população que utiliza essa produção. O indicador para medir


tal característica é a renda nacional per capita ou o produto nacional
per capita.

Instrumentos de política macroeconômica


Para obter os resultados apontados nas metas e nos objetivos de produzir
mais, sem desemprego e com estabilidade de preços, os principais instrumentos
de políticas macroeconômicas são definidos a seguir.
• POLÍTICA FISCAL – Diz respeito ao orçamento dos diversos níveis
de governo (federal, estaduais e municipais), ou seja, são os gastos
e as receitas dos governos. É um poderoso instrumento de política
macroeconômica, se considerarmos que no Brasil a carga fiscal (soma
de todos os orçamentos governamentais) representa mais do que um
terço de tudo o que é produzido no país.
• POLÍTICA MONETÁRIA – Refere-se ao controle do governo sobre
a oferta monetária, ou seja, sobre a quantidade de moeda e de títulos
públicos em circulação no mercado.
• POLÍTICA CAMBIAL – Diz respeito ao controle e à utilização de
instrumentos para estabilização da taxa de câmbio, enquanto as políticas
de relações econômicas externas referem-se ao comércio internacional,
ao incentivo às exportações e ao controle das importações do país.
• POLÍTICAS DE RENDAS – Referem-se à intervenção do governo
na formação da renda dos agentes econômicos. Intervenção que
favorecerá ou não determinados proprietários de fatores de produção
em detrimento de outros (mão de obra, capital, recursos naturais e
capacidade empresarial) (ROSSETTI, 2002).

Estrutura de análise macroeconômica


Tradicionalmente, a estrutura básica do modelo macroeconômico compõe-
se de cinco mercados.
• MERCADO DE BENS E SERVIÇOS – O produto nacional é o principal
medidor do mercado de bens e serviços. Indica a quantidade destes que
Macroeconomia 49

uma economia produziu em determinado período de tempo, geralmente


um ano. Reflete o nível de atividades dessa economia, representada pelos
quatro agentes macroeconômicos: consumidores, empresas, governo e
setor externo.
• MERCADO DE TRABALHO – O mercado de trabalho reflete o nível
de utilização geral da força de trabalho, independente do setor e da
qualificação de seus componentes. São relevantes, nesse mercado, a
taxa salarial e o nível de desemprego.
• MERCADO MONETÁRIO – Para dar consequência às transações de
um mercado, há necessidade de moeda para a circulação dos bens e
serviços. O Banco Central (Bacen) ocupa-se em equilibrar a oferta e a
demanda desse mercado, de modo a não prejudicar as transações nem
a desvalorizar a moeda.
• MERCADO DE TÍTULOS – Existem agentes macroeconômicos
superavitários e agentes deficitários. Os agentes superavitários (gastam
menos do que sua renda) emprestam moeda para os agentes deficitários
e, assim, constitui-se o mercado de títulos.
• MERCADO DE DIVISAS – A exemplo do mercado de títulos,
quando se trata de transações entre residentes de um país (indivíduos
e empresas) e residentes de outro, há necessidade de moedas distintas,
constituindo-se o mercado de divisas (VASCONCELLOS, 2004).

Contabilidade nacional é o registro contábil da atividade produtiva de


um país, em um dado período de tempo (geralmente um ano). No Brasil, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realiza essa tarefa, segundo
metodologia e padronização internacional (ROSSETTI, 2002).

Conceitos básicos da macroeconomia


A seguir apresentamos alguns conceitos da macroeconomia (FEIJÓ,
2001).
• VALOR ADICIONADO – É a soma dos preços dos bens e dos serviços
finais produzidos numa economia em certo período. Representa a
diferença entre o valor das vendas e o valor de insumos e matérias-
50 Macroeconomia

primas utilizados no processo de produção. Isso significa que não são


computadas no valor adicionado os bens intermediários (insumos e
matérias-primas) utilizados pelas empresas.
• PRODUTO NACIONAL – É a medida dos valores adicionados pelas
empresas aos bens elaborados e aos serviços prestados, em toda a
economia nacional.
• RENDA NACIONAL – É a soma das remunerações pagas aos fatores de
produção utilizados pelas empresas. Representa a soma dos pagamentos
de salário, juros, aluguel/arrendamento e lucros no país, em dado
período de tempo.

As principais medidas da atividade econômica


(FEIJÓ, 2001)
Entre as variáveis macroeconômicas mais significativas estão o valor bruto
da produção, o produto interno bruto, a renda nacional, etc., cujos conceitos
estão enunciados a seguir.
O VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO (VBP) é a soma dos preços de bens
e serviços produzidos numa economia em determinado período – preços
versus quantidades produzidas. Posto que no VBP não há distinção entre bens
intermediários e bens finais, essa medida superestima o valor da produção
social, ao contabilizar o valor dos bens intermediários tantas vezes quanto estes
entrarem na elaboração do produto final.
Os BENS INTERMEDIÁRIOS são aqueles destinados à utilização
intermediária, que entram na composição de outros bens, enquanto os bens
de utilização final se destinam ao consumo final e desaparecem com a sua
utilização. Exemplos: o pão é bem de utilização final; a farinha que foi utilizada
na produção do pão é um bem intermediário.
O PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) é a soma dos preços dos bens e
serviços finais produzidos numa economia em certo período – preços versus
quantidades produzidas. Equação fundamental do produto:
Macroeconomia 51

Produto interno bruto = consumo + investimento + exportações - importações

A RENDA NACIONAL (RN) é a soma das remunerações de fatores


empregados nas atividades produtivas, inclusive os fluxos de pagamentos aos
fatores de propriedade de não residentes no país, tais como salários, lucros, juros,
dividendos, aluguéis e royalties pela utilização de uma marca ou tecnologia.
A DEMANDA INTERNA BRUTA (DIB) é a soma dos gastos em consumo
interno dos setores público (governo) e privado (empresas e famílias) e das
despesas de investimento interno bruto fixo das empresas e da variação dos
estoques.
A DEMANDA FINAL TOTAL inclui os gastos em consumo e em
investimento, além das exportações (vendas ao exterior) realizadas pelo país
no período.
A OFERTA FINAL TOTAL (OFT) é a soma do produto interno bruto da
economia e das importações (compras ao exterior) no período. A oferta final
total representa a disponibilidade bruta total da economia em determinado
período.

As precauções na elaboração do cálculo do produto


Seguem, abaixo, as principais precauções que devem ser observadas na
elaboração do cálculo do produto.
• Evitar a “dupla contagem” das mercadorias. Medir o valor agregado pelas
empresas aos bens elaborados e aos serviços prestados, somando-se
assim apenas o valor dos bens de utilização final.
• Desconsiderar as variações que os preços sofrem devido à inflação.
Isto é, o valor do produto deve ser medido em termos reais. Enquanto
o produto real mede o valor do produto a preços constantes, ou
deflacionado, o produto nominal mede o valor do produto a preços
correntes, ou inflacionado. Para tanto, deve-se utilizar aqui os “números
índices”, para deflacionar e/ou inflacionar duas séries estatísticas, de
preços e quantidades, que permite obter as medidas real e nominal
52 Macroeconomia

do produto. Observação: deflacionar o produto significa transformar


valores nominais, ou a preços correntes, em valores reais, ou a preços
constantes, enquanto inflacionar o produto significa transformar valores
reais, ou a preços constantes, em valores nominais, ou a preços correntes.
Para inflacionar e/ou deflacionar o valor do produto, utilizam-se os
números índices de Laspeyres (IPC) e Paasche (deflator da renda), um
superestimando os preços, e o outro, as quantidades.
• Desconsiderar as transações de mercadorias produzidas em exercícios
anteriores que, mesmo não tendo sido vendidas ou mantidas em
estoques, já foram consideradas na elaboração do cálculo do produto
antecedente. Nesse caso, aplica-se o conceito de investimento, e o valor
dos estoques é contabilizado acrescentando-se ou diminuindo-se ao
valor do investimento interno bruto fixo das empresas, tendo em vista
o acréscimo ou decréscimo dos estoques no período em consideração.
Também devem ser desconsideradas as transferências do governo
ao setor privado da economia, pois são transações não produtivas
(DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2003).

Esses procedimentos são fundamentais para fazer o cálculo do produto.

Ponto final
A macroeconomia proporciona ao gestor público os instrumentos para
analisar os cenários econômicos e propor medidas para maximizar o bem-estar
momentâneo dos cidadãos e das empresas (curto prazo) e para incentivar o
crescimento e o desenvolvimento da economia (longo prazo). O entendimento
dos fundamentos macroeconômicos e de suas aplicações (metas e políticas) é
uma das melhores maneiras de entender as medidas econômicas adotadas pelos
governos em suas políticas que afetam o dia a dia dos cidadãos: taxas de juros,
câmbio, impostos, investimentos públicos.
Macroeconomia 53

Indicação cultural
SACHS, J. D.; LARRAIN, F. B. Macroeconomia: em uma economia global.
Tradução de Sara R. Gedanke. São Paulo: Makron Books, 2000.
Esse livro aborda a teoria macroeconômica associada aos aspectos
internacionais e à economia global. Contempla os conceitos básicos da
macroeconomia e aprofunda as variáveis importantes do estudo macroeconômico
como: determinação do produto, investimento, poupança, setor governamental,
economia monetária, câmbio, inflação, crescimento e mercados financeiros.

Atividades
1) O que são políticas macroeconômicas e quais são seus principais
objetivos?
2) Quais são os principais instrumentos de política econômica?
3) Pesquise, em sites da internet, o PIB do Brasil, da Argentina e de algum
outro país que lhe chame a atenção em um período de dois anos recentes.
Pesquise, para os mesmos países, a população residente e calcule o
PIB per capita (PIB dividido pela população respectiva). Analise os
resultados e comente-os. Observe que, para poder comparar variáveis
de países diferentes, deve-se utilizar a mesma moeda, de preferência o
dólar norte-americano (US$).

Gabarito:
1 e 2) As respostas podem ser encontradas no próprio texto do livro.
Procure entender bem o conceito de política econômica e identificar
os instrumentos que o gestor macroeconômico tem para gerir a
economia.
3) As respostas devem ser obtidas através de pesquisa na internet. Utilize
sites de economia, como: www.bcb.gov.br, www.ibge.gov.br, www.fee.
tche.br.
5

Introdução à economia monetária


Este capítulo tem a finalidade de levar você a conhecer o papel da moeda
em um sistema econômico, os principais conceitos, os agregados monetários e
as inter-relações entre oferta e demanda de moeda.

5.1 Moeda – conceitos, funções


e sua circulação na economia
A moeda é um objeto de aceitação geral, utilizado na troca de bens e serviços,
e sua aceitação é garantida por lei.
Vejamos, a seguir, as principais funções da moeda.
• MEIO OU INSTRUMENTO DE TROCA – Num sistema econômico
baseado na especialização e na divisão do trabalho, é imprescindível
que exista um instrumento que facilite as trocas de mercadorias. Se
não houvesse esse instrumento, as transações teriam de ser diretas
(economia de trocas), trocando-se bens com bens. Isso exigiria DUPLA
COINCIDÊNCIA DE DESEJOS (um criador de galinhas que desejasse
comprar roupas deveria encontrar um alfaiate que desejasse comer
galinhas). Ademais, ocorreria um problema de INDIVISIBILIDADE (se
um fabricante de canoas quisesse tomar um cafezinho, como ele faria?).
Acrescente a isso o fato de que se perderia muito tempo para viabilizar
56 Introdução à economia monetária

essas trocas diretas. A moeda permite que as trocas sejam indiretas e


supera essas dificuldades.
• UNIDADE DE MEDIDA (ou unidade de conta) – A moeda serve para
comparar e agregar o valor de mercadorias diferentes: podemos somar
um caminhão com uma bola de futebol. Ela serve como medida do valor
de troca das mercadorias, sendo que o preço de um bem é a expressão
monetária do valor de troca desse bem: se uma maçã vale $ 500,00 e
uma banana $ 50,00, uma maçã pode ser trocada por dez bananas.
• RESERVA DE VALOR – A moeda representa um direito que seu
possuidor tem sobre outras mercadorias. Ela pode ser guardada para
uso posterior, pelo que serve como reserva de valor. A moeda serve de
reserva de valor para uma pessoa, mas não para a sociedade como um
todo (falácia ou sofisma da composição); o que vale para o indivíduo
não vale para a sociedade, pois o que determina a riqueza de um país
é a sua produção global, e não o montante de moeda existente.

No passado, toda moeda, ou papel-moeda, era lastreada em ouro (MOEDA


LASTREADA). Com o desenvolvimento do comércio internacional, não foi
mais possível fazer a conversão de moeda em ouro. Hoje, temos a MOEDA
FIDUCIÁRIA (de fidúcia, confiança), sem lastro, e sua aceitação é garantida por
lei. Com a passagem do padrão-ouro para o fiduciário, a moeda deixou de ser
função do estoque de ouro, o que dá às autoridades monetárias maior capacidade
de afetar a quantidade de moeda de acordo com as necessidades do país.
A oferta de moeda é sinônimo de meios de pagamento, o que representa
o estoque de moeda disponível para uso da coletividade (setor privado não
bancário) a qualquer momento. Objetiva-se, com esse conceito, medir a liquidez
do setor privado produtivo, excetuando-se o setor bancário.
O saldo dos meios de pagamento é composto pelo saldo da moeda em
poder do público (PP) mais o saldo dos depósitos à vista (DV). Assim, M =
PP + DV
O saldo de moeda em poder do público (ou moeda manual) é obtido
retirando da moeda emitida o caixa das autoridades monetárias e o caixa dos
bancos comerciais.
Introdução à economia monetária 57

Moeda emitida menos caixa das autoridades monetárias


= moeda em circulação (ou meio circulante)
menos caixa dos bancos comerciais
= moeda em poder do público

Os depósitos à vista ou em conta corrente também são chamados de


moeda escritural, moeda bancária ou, ainda, moeda contábil, já que podem ser
movimentados por simples contabilização bancária. Representam cerca de 75%
do total de meios de pagamento. O dinheiro com os bancos (no caixa) e com
o governo não é considerado meio de pagamento, pois visa medir liquidez do
setor produtivo privado.
Na verdade, existem, na literatura econômica, várias formas de conceituar
moeda. O conceito mais utilizado é o que acabamos de definir e é chamado
de M1, que é o total de moeda que não rende juros e é de liquidez imediata
(moeda com o público, mais depósitos à vista). Mas, dependendo do objetivo,
são utilizados os conceitos de M2, M3 e M4, que incluem ativos financeiros que
rendem juros e são de alta liquidez (embora não imediata).

M2 = M1 + títulos públicos federais, estaduais e municipais


em poder do público, fundos do mercado monetário (fundos
de aplicações financeiras e de renda fixa de curto prazo, e
depósitos especiais remunerados).

M3 = M2 + depósitos em cadernetas de poupança.


M4 = M3 + depósitos a prazo e títulos privados (letras de
câmbio e imobiliárias).

Esses ativos que rendem juros são também chamados de haveres não
monetários ou quase-moeda, sendo que M1 é chamado de haver monetário.
Em processos inflacionários, a relação entre M1 e M4 costuma diminuir,
pois as pessoas procuram ficar com pouca moeda que não rende juros (M1) e
58 Introdução à economia monetária

utilizá-la em aplicações financeiras. Isso é chamado de desmonetização. Quando


a inflação diminui, a relação entre M1 e M4 aumenta (monetização).
Posto isso, o conceito de moeda utilizado é o tradicional (M1). Deve ser
esclarecido que cheque não é considerado moeda e que depósito à vista não é
o mesmo que caixa dos bancos comerciais.
O cheque é apenas uma ordem de transferência. Se uma pessoa saca seu
dinheiro no banco, não diminui os meios de pagamento, pois apenas transfere
depósitos à vista para moeda com o público. No caso de um depósito em cheque,
apenas transferiu depósitos à vista de uma conta para outra.
Os depósitos à vista não devem ser confundidos com o caixa dos bancos
comerciais. Embora contabilmente um depósito em dinheiro aumente, num
primeiro momento, o caixa dos bancos, este utilizará os recursos em seu caixa
para outras transações, o que diferencia os saldos das duas contas.

“Criação” e “destruição” de moeda


Ocorre criação ou destruição de moeda quando se altera o saldo dos meios
de pagamento, no conceito M1 (moeda com o público + depósitos à vista).
Corresponde a uma queda ou aumento da oferta de moeda disponível.
Exemplos:
a) Banco Central troca dólares dos exportadores por reais: criação de
moeda (ou de meios de pagamento);
b) Banco Central vende dólares aos importadores, recebendo reais em
troca: destruição de moeda;
c) Empréstimo dos bancos comerciais ao setor privado: criação de
moeda;
d) Resgate de um empréstimo bancário: destruição de moeda;
e) Depósito à vista: apenas transfere moeda do público para depósitos à
vista; não há criação nem destruição de moeda;
f) Saque através de cheque: como vimos, trata-se apenas de uma
transferência de moeda escritural para moeda em poder público;
Introdução à economia monetária 59

g) Uma pessoa que efetua um depósito a longo prazo destrói moeda,


pois depósito a prazo não é considerado meio de pagamento no
conceito M1.

A oferta de moeda pode ser dividida em oferta de moeda pelo Banco


Central e oferta de moeda pelos bancos comerciais. Deve-se observar que os
intermediários financeiros do tipo banco de investimentos, sociedades de crédito
e financiamento, chamados de intermediários financeiros não bancários, não são
autorizados a manter depósitos e apenas transferem dinheiro dos emprestadores
para os tomadores, não criando moeda. Os bancos comerciais, por sua vez, têm
carta patente, o que lhes permite manter depósitos do público e emprestar uma
quantia superior às suas reservas monetárias (ou seja, podem emprestar parte
de suas obrigações, que são os depósitos à vista).

Oferta de moeda pelo Banco Central


O objetivo do Banco Central é regular a moeda e o crédito em níveis
compatíveis com o crescimento do produto, ou seja, manter a liquidez do
sistema econômico.
Segundo Mellagi (MELLAGI FILHO; ISHIKAWA, 2003, p.118), dentre as
muitas funções do Banco Central do Brasil, podemos citar:
• banco emissor: é o responsável e tem o monopólio das emissões de
moeda;
• banco dos bancos: é o órgão em que os bancos depositam e ao
qual transferem fundos de um banco para outro (pela câmara de
compensação de cheques). Além disso, o Bacen também empresta aos
bancos (redesconto bancário);
• banco do governo: é o canal que o governo tem para implementar a
política monetária. Grande parte dos fundos do governo é depositada no
Banco Central. De outra parte, quando o governo necessita de recursos,
normalmente emite títulos (obrigações) e os vende ao público via Banco
Central;
• banco depositário das reservas internacionais.
60 Introdução à economia monetária

No Brasil, devido à estrutura híbrida do Bacen, uma parte das suas funções
é executada pelo Banco do Brasil. Assim, a câmara de compensação de cheques
fica no Banco do Brasil. Além disso, o Bacen não recebe depósitos do governo,
quem o faz é o Banco do Brasil. No fundo, o Bacen é um órgão normativo
(sujeito ao Conselho Monetário Nacional) e o Banco do Brasil é um órgão
executivo. O Banco do Brasil, além de executar essas funções, funciona como
típico banco comercial, o que gerou alguns problemas de controle de política
monetária no Brasil.
Os bancos comerciais também podem alterar a oferta de moeda, por terem
uma carta patente que lhes permite emprestar mais do que têm em depósitos.
A utilização generalizada de cheques faz com que a maior parte do volume de
moeda do sistema permaneça no sistema bancário, gerando o chamado float,
sendo que apenas uma pequena parcela desse total é representada por saques de
numerário. Dessa forma, apesar de não poder emitir moeda, o banco comercial
cria meios de pagamento, pelo fato de poder fazer promessas de pagamento
com os recursos depositados pelos seus clientes. Isso cria um mecanismo
multiplicador dos saldos monetários, como veremos a seguir.

Mecanismo multiplicador da oferta de moeda


O sistema bancário pode criar moeda num valor múltiplo de uma injeção
monetária inicial. Vejamos como isso ocorre, através de um exemplo.
Suponha que exista um único banco na economia. A razão dos depósitos
que os bancos devem manter, como reserva compulsória, é 20% e o depósito
inicial nesse banco é de R$ 100,00. Dos R$ 100,00, R$ 20,00 são destinados para
reservas e empresta R$ 80,00. Esses R$ 80,00 retornam ao banco na forma de
novo depósito; desses, R$ 16,00 viram reservas e R$ 64,00 são reemprestados.
Estes voltam como depósito e reinicia-se o ciclo. Percebe-se que os R$ 100,00
iniciais de depósitos multiplicaram-se, gerando uma sequência de depósitos
nos valores: R$ 80,00; R$ 64,00; R$ 51,20; R$ 40,96. Essa sequência constitui
uma progressão geométrica decrescente de razão 0,8, que corresponde à fração
livre dos depósitos bancários, isto é, o depósito adicional menos as reservas
que devem ser compostas (1 menos a porcentagem de reservas obrigatórias:
1 - 0,2 = 0,8).
Introdução à economia monetária 61

Para avaliarmos o total de depósitos do banco, a partir do depósito inicial,


basta realizarmos a soma dos termos da progressão geométrica com razão
menor que 1.

a1
S.P.G = -q
1
Onde:
S.P.G. = soma dos termos de uma progressão geométrica
a1 = primeiro termo da progressão geométrica
q = razão da P.G
Note-se que, no exemplo acima, teríamos:
D = R$ 100,00/1 - 0,8 = R$ 500,00

Ou seja, um depósito inicial de R$ 100,00 gerou um total de depósitos no


banco de R$ 500,00, isto é, foi multiplicado por 5. Como (1 - 0,8) é exatamente a
parcela de reservas compulsórias exigidas pelo Bacen, isto é, 0,2 (20%, notamos
que o MULTIPLICADOR BANCÁRIO CORRESPONDE AO INVERSO DA
TAXA DE RESERVAS. Assim, quanto menor o recolhimento compulsório,
maior o poder de multiplicação dos bancos. Portanto, a determinação do nível
de depósitos compulsórios dos bancos é uma forma de o Bacen controlar a
oferta de moeda bancária.
O valor do multiplicador depende também, além da taxa de reservas dos
bancos, da TAXA DE RETENÇÃO DO PÚBLICO, que é a razão entre a moeda
que fica nas mãos do público (e não depositada nos bancos) e o saldo dos
depósitos à vista. Se o público, por algum motivo, decide aumentar a quantidade
de moeda em seu poder e deixar menos moeda nos bancos, diminui a capacidade
de os bancos emprestarem e, portanto, o volume de meios de pagamento. Ou
seja, os bancos terão menos dinheiro para aplicar em empréstimos.
Existem vários tipos de multiplicadores monetários. Por exemplo: temos
o multiplicador de depósitos que se refere ao aumento múltiplo dos meios de
pagamento, derivado de um aumento nos depósitos à vista. O multiplicador mais
geral, entretanto, é o chamado MULTIPLICADOR DA BASE MONETÁRIA.
Por BASE MONETÁRIA entende-se o total de moeda com o público (PP)
mais as reservas dos bancos comerciais, isto é:
62 Introdução à economia monetária

B = PP + R

Essas reservas são o caixa dos bancos comerciais, os depósitos voluntários e os


depósitos obrigatórios. Assim, a base monetária consiste em todo o montante de
moeda nas mãos do setor privado, inclusive bancos. A base monetária representa
o estoque de moeda primária, também chamada MOEDA DE ALTA POTÊNCIA
(high power money) ou, ainda, PASSIVO MONETÁRIO DAS AUTORIDADES
MONETÁRIAS.
Por um mecanismo de multiplicação, via empréstimos bancários, essa moeda
primária dá origem ao total de meios de pagamento. Existe uma relação bastante
estável e previsível entre base monetária e meios de pagamentos, assim:

M
= m ou M = mB
B

Sendo M o saldo dos meios de pagamento, B a base monetária e m o


multiplicador da base monetária. Portanto, a diferença entre M e B, dada pela
diferença entre o total de depósitos DV e o total de reservas R, é o montante de
empréstimos bancários.
Vamos discriminar um pouco mais os parâmetros que afetam a expansão
ou a contração monetária da economia e chegar à formula de multiplicador, a
partir desses parâmetros.
Por definição:
(1) M = PP + DV
(2) B = PP + R
Onde:
PP = saldo da moeda em poder do público
DV = saldo dos depósitos à vista dos bancos comerciais
R = saldo das reservas dos bancos comerciais
Introdução à economia monetária 63

Dividindo (1) por (2) e depois dividindo tanto numerador como o


denominador por DV, temos:

PP DV
+
M pp+dv DV DV
(3) = =
B pp=R PP R
+
DV DV

PP TAXA DE RETENÇÃO DO PÚBLICO, que é a relação


C = =
DV
entre a moeda com o público e os depósitos
à vista.

R TAXA DE RESERVAS BANCÁRIAS, que é o total


R= =
DV
de encaixes e reservas em relação aos depósitos
à vista. DV

A expressão (3) pode ser assim reescrita:

M c+1 1+c
= ou M = B
B c+r c+r

1+c
sendo: m =
c+r

Dessa forma, as expansões e as contrações dos meios de pagamento


dependem de três parâmetros básicos:
• de variações na base monetária B (maior B, maior M);
• de variações na taxa de retenção do público c (maior c, menor m e,
portanto, menor M);
• de variações na taxa de reservas bancárias r (maior r, menor m e,
portanto, menor M).

Deve ser observado que as políticas monetárias não têm muito efeito sobre a
taxa de retenção do público, pelo menos a curto prazo, dado que é um parâmetro
que depende de hábitos da coletividade, como o uso de cartões de crédito. A
64 Introdução à economia monetária

atuação maior das autoridades dá-se sobre a taxa de reservas bancárias e sobre
a base monetária.

Demanda de moeda
Nesta parte, estamos interessados em saber os motivos que fazem com que
as pessoas retenham moeda, guardem moeda pela moeda, em vez de aplicá-la,
por exemplo, em títulos ou imóveis, que proporcionam rendimentos. Se existem
essas possibilidades, por que se retém moeda que não rende nada (conceito M1)?
Para tanto, precisamos de uma teoria de demanda de moeda.
Existem três motivos para demandar moeda, isto é, para reter encaixes
monetários:
• motivo transação;
• motivo precaução;
• motivo especulação (ou portfólio).

Os motivos transação e precaução já tinham sido levantados na teoria clássica,


enquanto o motivo especulação (portfólio) foi colocado por Keynes. Discutamos
essas razões para manter moeda.

Demanda de moeda por motivo de transação


As pessoas retêm moeda para efetuar pagamentos que vencem antes da data
de recebimento de sua renda, ou seja, para fazer face à diferença de datas entre
os recebimentos e os gastos diários com alimentação, transporte etc. Claramente,
a demanda de moeda por transação depende do nível de renda: quando a renda
aumenta, os gastos também aumentam, e os saldos de moeda mantidos para
harmonizar esses fluxos também devem aumentar.
Introdução à economia monetária 65

Demanda de moeda por motivo de precaução


A segunda razão para empresas e indivíduos reterem (demandarem) moeda
é a incerteza quanto às datas de recebimentos e pagamentos. Pagamentos
inesperados ou recebimentos atrasados fazem com que as pessoas retenham
uma parcela de moeda como precaução. Claramente, esses saldos monetários
(encaixes monetários) de segurança ou precaução devem depender da renda do
indivíduo ou da empresa. Quanto maior a empresa ou mais rica a pessoa, maior
a necessidade de moeda para precaução.

Demanda de moeda por motivo de especulação


(ou motivo portfólio)
As pessoas demandam moeda não apenas para satisfazer transações
correntes, mas também para especulação. A moeda não apresenta rendimentos,
mas também não apresenta riscos, especialmente quando a inflação é baixa. As
pessoas, para reduzir os riscos, podem diversificar sua carteira de títulos (seu
portfólio) em vários títulos e aplicações, inclusive guardando certa quantidade de
moeda. Assim, essa quantidade de moeda também dependerá da rentabilidade
dos títulos, ou seja, da taxa de juros. Do ponto de vista de quem retém moeda,
a taxa de juros representa o rendimento que esse indivíduo teria se comprasse
títulos. Ou seja, para quem empresta ou aplica, é um rendimento; para quem
toma emprestado, é um custo. Dessa forma, pode-se estabelecer uma relação
entre a demanda de moeda por especulação e a taxa de juros de mercado. É de
se esperar que essa relação seja inversa: quanto maior a taxa de juros que os
agentes reterão, menos moeda (que não rende juros) terão em seu poder. Assim,
quanto maior a taxa de juros, maior a compra de títulos e menor a demanda de
moeda para especulação. Todas essas operações ocorrem dentro de um ambiente
chamado sistema financeiro nacional. Ele será descrito mais adiante.
O papel da moeda em um sistema econômico é de grande importância,
como pudemos observar nos assuntos tratados, abordando essa inter-relação
entre oferta e demanda e as demais considerações.
66 Introdução à economia monetária

Ponto final
Neste capítulo, constatamos a importância dos aspectos monetários no dia
a dia de qualquer economia, explorando funções, características da unidade
monetária, bem como a sua circulação dentro de um sistema econômico, o
fenômeno da sua existência é importante face à inviabilidade do retorno ao
escambo ou às mercadorias moedas.
Também examinamos questões relacionadas à produção e ao impacto do
meio circulante para a promoção de desenvolvimento de um país. Se você
compreendeu os fundamentos aqui desenvolvidos, está apto a seguir adiante
em sua leitura.

Indicações culturais
MELLAGI FILHO, A.; ISHIKAWA, S. Mercado financeiro e de capitais. 2.ed.
São Paulo: Atlas, 2003.
As referências bibliográficas ao final desta obra apresentam capítulos
interessantes, como o livro sobre o sistema financeiro nacional de Mellagi
Filho.

ROSSETTI, J. P. Introdução à economia. 20.ed. São Paulo: Atlas, 2000.


O autor apresenta o funcionamento do mercado financeiro, suas subdivisões,
bem como as instituições que o formam, dedicando espaço para o mercado
de capitais. Outra obra interessante é de Rossetti. Há um capítulo exclusivo
sobre a moeda, seu surgimento, funções e características. Para aprofundar
seus conhecimentos sobre esse tema, você pode realizar estudos sobre o meio
circulante no Brasil. Recomendamos o site do Banco Central do Brasil http://
www.bc.gov.br. Há outras referências interessantes sobre esse assunto nas
bibliografias que desenvolvem o tema “economia monetária”.
Introdução à economia monetária 67

Atividades
1) Quais as funções da moeda?
2) As pessoas demandam moeda por três razões. Quais são elas?
3) Descreva o processo de criação e destruição de moeda.
4) Para controle do volume de moeda em circulação na economia, os
governos implementam a chamada política monetária. Que ferramentas
compõem a política monetária?

Gabarito:
1) Meio ou instrumento de troca; unidade de medida e reserva de valor.
2) Motivo de transação; motivo precaução e motivo especulação.
3) A resposta desta questão deverá seguir a linha de raciocínio do efeito
multiplicador dos meios de pagamentos, representando um aumento
ou redução da quantidade de moeda em circulação.
- Emissão de moeda.
- Reservas obrigatórias.
- Operações de mercado aberto.
- Política de redesconto.
- Regulamentação e controle de crédito.
6

Inflação e seus reflexos


na economia
Ao final da leitura deste capítulo, você será capaz de diferenciar os conceitos
de inflação e deflação, identificar os efeitos da inflação sobre a economia;
relacionar as suas causas e as políticas anti-inflacionárias, realizar o cálculo
da inflação e descrever os principais índices de inflação do Brasil. Todos esses
assuntos serão abordados a seguir.

6.1 Inflação
A inflação pode ser conceituada como um aumento contínuo e generalizado
no nível geral de preços. Ou seja, os movimentos inflacionários são dinâmicos
e não podem ser confundidos com altas esporádicas de preços. Devem também
ser generalizados, pois a maioria dos preços deve se elevar conjuntamente.

Distorções provocadas por altas taxas de inflação


Ao discutir o problema da inflação, deve ser observado que muitos
economistas não creem que as distorções provocadas por uma inflação suave
sejam sérias, mas há poucas dúvidas de que níveis elevados de inflação produzirão
consequências desastrosas. Os principais efeitos provocados por esse fenômeno
são relacionados abaixo (AUGUSTO, 2007).
70 Inflação e seus reflexos na economia

EFEITO SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA


– Uma das distorções mais sérias provocadas pela inflação diz
respeito à redução do poder aquisitivo das classes que dependem
de rendimentos fixos, que possuem prazos legais de reajuste (isto
é, dissídio). Nesse caso, são os assalariados que, com o passar do
tempo, vão ficando com seus orçamentos cada vez mais reduzidos,
até a chegada de um novo reajuste. Os que mais perdem são os
trabalhadores de baixa renda, que não têm condições de manter
alguma aplicação financeira, pois tudo o que ganham gastam com
sua subsistência. Percebe-se que a inflação é um imposto sobre os
mais pobres.
EFEITO SOBRE O BALANÇO DE PAGAMENTOS
– Elevadas taxas de inflação, em níveis superiores ao aumento de
preços internacionais, encarecem o produto nacional relativamente
ao produzido externamente. Assim, provocam estímulo às
importações e desestímulo às exportações, diminuindo o saldo da
balança comercial. Esse fato costuma provocar um círculo vicioso,
se o país estiver enfrentando um déficit cambial. Nessas condições,
as autoridades monetárias, na tentativa de minimizar o “déficit”,
são obrigadas a permitir desvalorização cambial, as quais depreciam
a moeda nacional e estimulam as exportações e desestimulam as
importações. Contudo, produtos essenciais, tais como petróleo e
seus derivados, tornam-se imediatamente mais caros, pressionando
os custos de produção. Ocorre, então, uma nova elevação de preços,
devido ao repasse do aumento dos custos aos preços dos produtos
finais, recomeçando o processo.
EFEITO SOBRE AS EXPECTATIVAS
– Outra distorção provocada por elevadas taxas de inflação prende-
se à formação das expectativas sobre o futuro. Particularmente, o
setor empresarial é bastante sensível a esse tipo de situação, dada a
instabilidade e a imprevisibilidade de seus lucros. O empresário fica
num compasso de espera enquanto a situação perdurar e, dificilmente,
tomará iniciativas no sentido de aumentar seus investimentos na
expansão da capacidade produtiva. Assim, a própria capacidade de
produção futura e, consequentemente, o nível de emprego é afetado
pelo processo inflacionário.
Inflação e seus reflexos na economia 71

EFEITO SOBRE O MERCADO DE CAPITAIS


– Tendo em vista o fato de que, num processo inflacionário, o valor
da moeda deteriora-se rapidamente, ocorre desestímulo à aplicação
de recursos no mercado de capitais financeiros. As aplicações em
cadernetas de poupança, títulos, devem sofrer retração. Por outro
lado, a inflação estimula a aplicação de recursos em bens de “raiz”,
como terras e imóveis, que costumam valorizar durante o processo
inflacionário. Embora alguns possam ganhar com a inflação a curto
prazo, pode-se dizer que, a longo prazo, quase ninguém ganha com
ela, porque seu processo desarticula todo o sistema econômico.
Assim, a inflação onera principalmente os trabalhadores, ao
corroer seus salários. É evidente que, com o empobrecimento dos
trabalhadores, as empresas vão vender menos e o governo arrecadará
menos.

Causas da inflação
Para propósito de análise, é útil classificarmos a inflação de acordo com
seus fatores causais. Nesse sentido, a literatura econômica costuma distinguir a
inflação provocada pelo excesso de demanda agregada (inflação de demanda)
da inflação causada por elevação de custos (inflação de custos).

Inflação de demanda
A inflação de demanda pode ser definida como o excesso de demanda
agregada em relação à produção disponível de bens e serviços. Parece claro
que a probabilidade de inflação de demanda aumenta quanto mais a economia
estiver próxima do pleno emprego de recursos. Afinal, se houver desemprego
em larga escala na economia, é de se esperar que um aumento de demanda
agregada deva corresponder a um aumento na produção de bens e serviços, pela
maior utilização de recursos antes desempregados, sem que, necessariamente,
ocorra aumento generalizado de preços. Quanto mais nos aproximamos do
pleno emprego, mais se reduz a possibilidade de expansão rápida da produção,
e a repercussão maior deve refletir sobre os preços.
72 Inflação e seus reflexos na economia

Como esse tipo de inflação está associado ao excesso de demanda agregada


e tendo em vista que, a curto prazo, a demanda é mais sensível a alterações de
política econômica que a oferta agregada (cujos ajustes normalmente se dão a
prazos relativamente longos), a política preconizada para combatê-la assenta-
se em instrumentos que provocam redução da procura agregada por bens e
serviços.

Inflação de custos
A inflação de custos pode estar relacionada à estrutura de produção, ou seja,
o nível de demanda permanece inalterado, mas os custos de certos insumos
importantes utilizados na produção de um bem aumentam e são repassados aos
preços finais dos produtos. A sua natureza geral é a seguinte: o preço de um bem
ou de um serviço tende a ser bastante relacionado a seus custos de produção.
Se o último aumenta, mais cedo ou mais tarde o preço do bem, provavelmente,
aumentará. Uma razão frequente para um aumento de custos seriam os aumentos
salariais. Um aumento das taxas de salários, entretanto, não necessariamente
significa que os custos de produzir um bem aumentaram. Se a produtividade da
mão de obra empregada aumenta na mesma proporção dos salários reais médios,
os custos unitários por unidade de produto não são afetados. Por exemplo: se
os salários reais aumentam em 10% e o produto por trabalhador aumenta na
mesma proporção, o produto aumentou tanto quanto os salários. Os custos
salariais por unidade de produto permaneceram os mesmos. Nesse sentido, não
há necessidade de aumentar os preços unitários dos produtos, quando expandir
a produção, porque os custos por unidade produzida não aumentaram.
O aumento da taxa de salários provoca inflação, se existir alguma causa
autônoma. Por exemplo: se sindicatos com mais poder de barganha são capazes
de forçar um aumento de salários em níveis acima dos índices de produtividade,
os custos de produzir bens e serviços aumentam. Se os preços de produtos finais
seguem os custos de produção, o resultado é uma inflação impulsionada pelos
custos de produção (no caso, pelo aumento de salários).
A inflação de custos também está associada ao fato de que algumas empresas
com elevado poder de monopólio ou oligopólio têm condições de levar seus
lucros acima da elevação dos custos de produção.
Inflação e seus reflexos na economia 73

Muitos economistas acreditam que o fenômeno recente da estagflação


(estagnação econômica com inflação) esteja associado a uma inflação de lucros.
A estagflação ocorre quando há paralelamente taxas significativas de inflação e
recessão econômica, com desemprego. Isso pode ser devido ao fato de que, em
períodos de queda de atividade produtiva, as empresas com poder oligopolístico
têm condições de manter suas margens de lucros sobre custos (ou mark up), ao
aumentar os preços de seu produto.
Dessa forma, o que caracteriza, na realidade, a expressão inflação de custos é
o aumento de preços devido a pressões autônomas. Em parte, essas pressões são
causadas pela circunstância de que alguns grupos econômicos, como sindicatos
e empresas oligopolistas, têm suficiente poder de barganha para forçar aumentos
de sua participação na renda nacional.
A inflação de custos também pode ser causada por aumentos autônomos nos
preços de matérias-primas básicas, os chamados choques de matérias-primas
(crise do petróleo, choques agrícolas). Normalmente, a política usual, no caso
de inflação de custos, é o controle direto de preços, o que pode ocorrer tanto
através de uma política salarial mais rígida, maior fiscalização sobre os lucros
auferidos pelos grupos oligopolistas, como pelo controle ou tabelamento de
preços dos produtos.

Outras causas: inflação inercial, inflação de expectativas


e corrente estruturalista
Além dos fatores tradicionalmente considerados como os principais
causadores do processo inflacionário no Brasil, tem-se associado esse processo
também à inércia inflacionária e às expectativas de inflação futura.
De acordo com a VISÃO INERCIALISTA, os mecanismos de indexação
formal (contratos, aluguéis, salários) e informal (reajustes de preços no
comércio, indústria, tarifas públicas) provocam a perpetuação das taxas de
inflação anteriores, que são sempre repassadas aos preços correntes. Ademais,
mesmo sem terem apresentado aumentos significativos de seus custos, muitos
setores simplesmente elevam os preços de bens e serviços pela inflação geral do
país, divulgada pelas instituições de pesquisa. Por essa razão, nos planos anti-
inflacionários incorporados depois de 1986 no Brasil, as autoridades adotaram
74 Inflação e seus reflexos na economia

o congelamento de preços e salários para tentar eliminar a chamada memória


inflacionária, ou seja, desindexar a economia. Outro recurso foi a troca da
unidade monetária, quando, durante algum tempo, coexistiram uma moeda
inflacionada (como o cruzeiro real) e uma moeda teoricamente sem inflação
(como o real), indexada ao dólar ou a uma cesta de moedas estrangeiras.
A INFLAÇÃO DE EXPECTATIVAS está associada aos aumentos de preços
provocados pelas expectativas dos agentes de que a inflação futura tende a
crescer, e eles procuram resguardar suas margens de lucro. No Brasil, esse fator
tem sido muito presente antes de mudanças de governo, com os empresários
se precavendo contra eventuais congelamentos de preços e salários, o que
tem sido uma estratégia frequente nos planos pós-86 (chamados de choques
heterodoxos).
Na América Latina, a partir da década 1950, ganhou destaque uma corrente
que pressupõe que a inflação no continente estaria associada estreitamente
a tensões de custos, causados por deficiências na estrutura econômica. É a
CORRENTE ESTRUTURALISTA. A inflação seria explicada, principalmente,
pela estrutura agrária, estrutura oligopolista de mercado e estrutura do comércio
internacional. A agricultura não responderia ao crescimento da demanda
de alimentos, devido à existência de latifúndios pouco preocupados com
questões de produtividade, o que levaria ao aumento de preços dos alimentos.
Por outro lado, grandes oligopólios têm condições de sempre manter suas
margens de lucro, repassando todos os aumentos de custos a seus preços.
Finalmente, a inflação seria provocada pelas desvalorizações cambiais que os
países subdesenvolvidos são obrigados a promover, para compensar o déficit
crônico da balança comercial, gerado pela deterioração dos termos de troca no
comércio internacional, contra esses países, por exportarem produtos primários
e importarem produtos manufaturados.
No fundo, segundo essa visão, as causas da inflação estão associadas aos
CONFLITOS DISTRIBUTIVOS, que se resumem à tentativa dos agentes
manterem ou aumentarem sua posição na distribuição do “bolo” econômico:
empresários defendendo suas margens de lucro, trabalhadores tentando manter
seus salários e o governo mantendo sua parcela através de impostos, preços e
tarifas públicas, além de poder emitir moeda a qualquer momento.
Inflação e seus reflexos na economia 75

A inflação no Brasil
De acordo com Vasconcellos (2001), as escolas de teoria econômica no Brasil
sempre estiveram integradas a outros centros de estudo de economia no mundo
inteiro. Todavia, tivemos alguns aspectos de teoria econômica com aplicações
práticas que foram muito estudados aqui, principalmente sobre a questão da
inflação. Podemos citar como exemplo a visão inercialista da inflação ou o
processo de industrialização. O maior destaque, sem dúvida, foi o debate entre
estruturalistas e monetaristas, principalmente na década de 1960.
Costuma-se associar a corrente estruturalista à Comissão Econômica para a
América Latina (Cepal), influenciada pelas ideias do economista argentino Raul
Prebisch, e a corrente monetarista à política preconizada pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI), baseada, em grande parte, nas ideias de Milton Friedman
(1978), da Universidade de Chicago.
Como dissemos, o diagnóstico estruturalista para o processo inflacionário em
países subdesenvolvidos pressupõe que a inflação está associada, estreitamente,
a tensões de custos, causadas por deficiências da estrutura econômica, a saber: a
estrutura agrária, a estrutura oligopolista de mercado e a estrutura do comércio
internacional. Hoje, os estruturalistas (ou neoestruturalistas) colocam essas
questões de forma mais abrangente, ou seja, associadas a um conflito distributivo,
que se estabelece entre os vários setores e agentes da sociedade. Segundo essa
corrente, as causas da inflação no Brasil derivam da pressão desses agentes na
defesa de sua parcela no produto da economia: os capitalistas, via margens de
lucro; o governo, via impostos e preços de tarifas públicas; e os trabalhadores,
através de seus salários. As ideias estruturalistas também estiveram associadas
à estratégia de industrialização na América Latina, através de um processo de
substituição de importações. Esse processo foi ancorado em uma política de
proteção à indústria nacional, por meio de barreiras qualitativas e quantitativas
à importação.
A visão monetarista, no tocante à questão inflacionária, apresenta um
diagnóstico que associa a inflação brasileira ao desequilíbrio crônico do setor
público. A necessidade de financiar a dívida pública leva ao aumento das
emissões e ao excesso de moeda, acima das necessidades reais da economia,
levando às elevações de preços. Os economistas dessa corrente advogam por
uma economia de mercado com menor intervenção do Estado nessa atividade.
76 Inflação e seus reflexos na economia

São os principais defensores da privatização de empresas estatais. Por essa razão,


também são conhecidos como liberais ou neoliberais.
A terceira corrente é a inercialista, segundo a qual a inflação no Brasil
estaria associada aos mecanismos de indexação, que acabam perpetuando a
inflação passada, numa espécie de inércia inflacionária. Os congelamentos de
preços e salários adotados nos planos econômicos, bem como a troca de moeda
(o cruzeiro real inflacionado foi substituído pelo real, teoricamente livre da
inflação), foram medidas adotadas justamente para tentar eliminar a “memória”
inflacionária.
Em grande medida, e talvez com mais intensidade no Brasil, o debate entre as
várias correntes de pensamento econômico sempre esteve associado ao próprio
debate político, o qual representa os interesses de segmentos representativos da
sociedade: trabalhadores em geral, funcionários públicos, corporações estatais,
indústriais, ruralistas, etc.
O quadro a seguir procura sintetizar a discussão recente sobre inflação no
Brasil.

Quadro 4 – Inflação no Brasil e as correntes econômicas


POLÍTICAS ANTI-
CORRENTE CAUSAS PRINCIPAIS
INFLACIONÁRIAS
Ajuste fiscal (para reduzir o déficit
Desequilíbrio do setor e a dívida pública, via reforma
público (o déficit e a dívida fiscal, privatização); controle
Liberais ou
pública provocam descontrole monetário (juros e moeda);
neoliberais
monetário, causando inflação liberalização do comércio exterior
de demanda). (abertura comercial e valorização
cambial).
Desindexação (para apagar
”memória ou inércia inflacionária”,
Indexação generalizada via congelamento de preços,
Inercialistas
(formal e informal). salários e tarifas. Planos Cruzado,
Bresser – ou troca de moeda –
Plano Real).
Inflação e seus reflexos na economia 77

POLÍTICAS ANTI-
CORRENTE CAUSAS PRINCIPAIS
INFLACIONÁRIAS
Conflitos distributivos
(pressões de margens de
lucro, pressões salariais, Controle de preços de oligopólios;
Estruturalistas
pressões de tarifas e preços reformas estruturais.
públicos provocam inflação
de custos).
Fonte: Vasconcellos, 2001, p.341.

Para que se possam identificar as causas da inflação, é necessário,


primeiramente, medi-la. Essa medição dá-se através de uma ferramenta da
estatística chamada número índice.

6.2 Medida da inflação – números índices


Um número índice é um número abstrato que sintetiza grandezas de
diferentes espécies em um único valor, que permite fazer comparação no tempo e
no espaço. Mediante o emprego do número índice, podemos comparar os custos
de alimentação ou de vida em uma determinada região, num dado período de
tempo, com os de uma época anterior ou, ainda, a produção de determinado
produto durante um determinado ano em uma dada região.
Embora os números índices sejam utilizados, principalmente, nos negócios e
na economia, podem ser utilizados em outros campos do conhecimento, como
na área da educação, podemos utilizar números índices para comparar o grau
de inteligência dos estudantes.
A construção de um número índice exige a consideração dos seguintes
pontos:
• DEFINIÇÃO DA BASE – Consiste em especificar se o índice a ser
elaborado é para preço, quantidade ou valor, em delimitar a área
geográfica à qual se refere, em estabelecer a sua periodicidade, em
selecionar a fórmula, em identificar os dados necessários e suficientes
para a construção.
78 Inflação e seus reflexos na economia

• FIXAÇÃO DA BASE – A fixação da base no tempo e no espaço depende


da finalidade do índice. Entretanto, como regra geral, aconselha-se que
a escolha deva recair sobre um período ou espaço geográfico que possa
ser encarado como normal, ou seja, no qual não se tenham manifestado
perturbações excessivas no comportamento do fenômeno estudado.
• OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES – É a maneira pela qual os dados
devem ser coletados (senso ou amostragem); será determinado tendo
em vista o menor custo, a maior precisão e a máxima oportunidade.

Um índice de preços pode ser de três tipos, descritos na sequência.

Índice relativo de preços


Quando queremos analisar a variação do preço de um só bem, basta expressar
tal variação em termos percentuais.
Notação utilizada:

I = índice;
P = preço;
o = época-base, básica ou época de referência;
t = época atual, época dada, época a ser comparada;
Pt = preço do artigo na época atual (dada);
Po = preço do artigo na época-base.
Fórmula utilizada: Po,t = pt . 100 - 100
po

Exemplo: um artigo foi adquirido por R$ 2.000 em 2003 e por R$ 2.500 no


ano seguinte. Calcular o relativo de preço em 2004, com base em 2003 e dar a
interpretação.
2.500
Cálculo: Po,t = · 100 - 100
2.000

Po,t = 25%
Inflação e seus reflexos na economia 79

INTERPRETAÇÃO: o preço teve um acréscimo de 25% na relação


2003/2004.

Índice relativo de quantidade


Quando desejamos analisar a variação na quantidade de um produto em
termos percentuais:

Notação utilizada:
qt = quantidade de um produto na época atual;
qo = quantidade desse mesmo produto na época-base.
q
Fórmula utilizada: qo,t = q t · 100 - 100
o

Exemplo: um vendedor de automóveis vendeu 400 veículos em 2004, contra


600 em 2005. Calcular o relativo de quantidade em 2005, com base em 2004.
Dar a interpretação.
600
Cálculo: qo,t = · 100 - 100
400
q o,t = 50 %
INTERPRETAÇÃO: a quantidade de veículos vendidos teve um aumento
de 50% na relação 2004/2005.

Índice relativo de valor


Quando pretendemos analisar a variação no valor de um único bem, basta
expressar a variação em percentuais, obtendo o que denominamos relativo do
valor:
80 Inflação e seus reflexos na economia

Notação utilizada:
Pt = preço do artigo na época atual;
Po = preço do artigo na época-base;
qt = quantidade de um produto na época atual;
qo = quantidade desse mesmo produto na época-base;
Vt = valor do artigo na época atual;
Vo = valor do artigo na época-base.
v
Fórmula utilizada: Vo,t = v t 100 - 100
o

Exemplo: uma empresa vendeu, em 1996, 12.000 unidades de um artigo, ao


preço unitário de R$ 500. Em 1997, vendeu 15.000 unidades do mesmo artigo
ao preço de R$ 600. Com base em 1996, calcule o relativo de valor em 1997.
Cálculo:
Vo = Po · qo (500 · 12.000) = 6.000.000
Vt = Pt · qt (600 · 15.000) = 9.000.000
9.000.000
Vot = · 100 - 100 = 50%
6.000.000

Ponto final
Neste capítulo, continuamos nossa fundamentação sobre economia,
explorando o fenômeno da inflação e os seus reflexos no sistema econômico.
Também examinamos questões relacionadas à medição da inflação. Se você
compreendeu os fundamentos aqui desenvolvidos, está apto a seguir adiante
em sua leitura.

Indicação cultural
LOPES, J. do C.; ROSSETTI, J. P. Economia monetária: livro-texto. São Paulo:
Atlas, 2005.
A obra trata dos objetivos e instrumentos da política monetária, avaliando
sua eficácia e implicações. Discute também as principais teorias da inflação,
com ênfase especial para o caso brasileiro.
Inflação e seus reflexos na economia 81

Atividades
1) Se todos os preços subirem, pode-se ter certeza de que houve inflação?
Marque a alternativa correta.
a) Sim, contanto que a taxa de juros real não se altere.
b) Sim, contanto que a renda de equilíbrio esteja abaixo da renda de
pleno emprego.
c) Sim, contanto que a taxa de juros não se altere.
d) Sim, contanto que esse aumento faça parte de alta persistente no
nível geral de preços.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

2) Caracterize a inflação de custos.

3) Quais são os efeitos ocasionados pela inflação?

Gabarito:
1) d
7

O mercado de câmbio
Ao final da leitura deste capítulo, você deverá ser capaz de relacionar taxa
de câmbio com exportações e importações, diferenciar os sistemas de taxas de
câmbio, e identificar as relações existentes entre a taxa de câmbio e a inflação.
Todos esses assuntos serão abordados a seguir.

7.1 O comércio internacional


e o mercado de divisas
O mercado de câmbio ou divisas permite, por exemplo, que as empresas
brasileiras importem produtos dos Estados Unidos pagando em reais e que
seus fornecedores comprem os bens em sua própria moeda nacional, isto é,
dólares.
A principal diferença entre o comércio nacional e o internacional é que,
dentro de um país, o intercâmbio se realiza com a mesma moeda, enquanto no
comércio internacional cada país tem sua própria moeda. A heterogeneidade
de moedas dos diferentes países torna mais complexas as relações econômicas
internacionais, pois surge o problema da troca entre eles.
Uma empresa que oferece bens e serviços a outros países requererá que se lhe
pague na moeda de seu próprio país. Assim, uma empresa brasileira que vende
seus produtos nos Estados Unidos desejará ser paga em reais, enquanto uma
84 O mercado de câmbio

empresa norte-americana que vende ao Brasil pedirá o pagamento em dólares.


Consequentemente, os compradores nos mercados internacionais necessitam
obter moedas dos países dos quais desejam comprar bens e serviços. Portanto,
um sistema desenvolvido de comércio internacional somente pode funcionar
se existe um mercado em que uma moeda pode ser trocada por outra. Esse é o
papel atribuído ao mercado de divisas ou de câmbio.
A taxa de câmbio é o preço de uma moeda expresso em outra. Ela se
expressa como o número de unidades da moeda nacional por unidade de
moeda estrangeira. Por exemplo, se a taxa de câmbio do real frente ao dólar é
10, entregam-se 10 reais para se obter um dólar.
Quando o preço em reais de uma unidade de moeda estrangeira sobe,
por exemplo, se passa de 8 reais/dólar a 10 reais/dólar, dizemos que o real
desvalorizou-se. Pelo contrário, quando a taxa baixa, dizemos que o real
valorizou-se.
Uma desvalorização da moeda nacional faz com que nossos bens sejam
mais baratos no exterior e com que os bens estrangeiros fiquem mais caros no
mercado nacional. Portanto, cria-se uma tendência para elevar as exportações
e para reduzir as importações.

7.2 O sistema de taxas de câmbio


O sistema de taxas de câmbio classifica-se de duas formas:
• taxas de câmbio flexíveis ou livremente flutuantes;
• taxas de câmbio fixas.

Vamos analisar cada uma delas a seguir.


O mercado de câmbio 85

As taxas de câmbio flexíveis ou livremente flutuantes


Para analisar as taxas de câmbio flexíveis, devemos estudar o funcionamento
do mercado livre da taxa de câmbio.
Em um mercado livre, a taxa de câmbio será determinada pelas forças da
oferta e da demanda. Nessas circunstâncias, diz-se que a taxa de câmbio é
FLEXÍVEL ou FLUTUANTE.
Para analisar como se forma a taxa de câmbio, lembre de que a moeda
nacional, o real, e a estrangeira (que geralmente vamos supor sendo o dólar)
são necessárias para que haja transações econômicas entre um país e outro.
A demanda por reais – ou, o que é o mesmo, a oferta de dólares, se formos
determinar a taxa de câmbio do dólar – é feita pelos exportadores nacionais
que recebem dólares em troca de mercadorias e desejam reais, assim como os
turistas e os investidores norte-americanos no Brasil, que têm de converter em
reais seus dólares para materializar seus gastos e investimentos.
A oferta de reais ou, o que é o mesmo, a demanda de dólares corresponderá
aos importadores nacionais, assim como aos turistas e aos investidores brasileiros
nos Estados Unidos, que necessitam trocar seus reais por dólares para adquirir
as mercadorias norte-americanas e realizar seus investimentos. Para todas essas
atividades, os brasileiros têm de obter dólares. Para isso existem as instituições
financeiras, que compraram dólares no mercado de câmbio e os entregarão
por reais.
Os importadores, os turistas nacionais que vão ao exterior e os investidores
brasileiros no resto do mundo têm de obter moeda estrangeira para pagar suas
faturas em outros países, o que constitui a demanda de divisas (dólares).
No mercado de divisas, a demanda de dólares, derivada das importações
nacionais e dos investimentos brasileiros no exterior, e a oferta de dólares
procedente das exportações brasileiras e dos investimentos estrangeiros no
Brasil determinam, conjuntamente, a taxa de câmbio.
86 O mercado de câmbio

Em um sistema de taxas de câmbio livremente flutuantes, a taxa de câmbio


é determinada mediante o jogo da oferta e da procura de divisas em relação à
moeda nacional no mercado de câmbio. Se a uma taxa de câmbio de 1,20 reais/
dólar a oferta de dólares é superior à demanda de dólares, há um superávit
de divisas, isto é, um excesso de entradas de exportações e demais transações
anteriormente citadas sobre os gastos com importações, de forma que a taxa
de câmbio do real frente ao dólar, ou seja, o número de reais necessários para
comprar um dólar tenderá a diminuir, isto é, a valorizar-se, até o ponto em
que a oferta e a demanda se equilibrem. Se a taxa de câmbio é inferior à de
equilíbrio – por exemplo, 0,80 reais/dólar –, o gasto com importações e demais
transações é maior que as receitas por exportações, e acontecerá um excesso de
demanda de divisas. Isso provocará uma elevação na taxa de câmbio, ou seja,
uma desvalorização do real, e o equilíbrio será restabelecido.
Ao traçar as curvas de oferta e de demanda de divisas, supõe-se que
permaneçam constantes uma série de fatores que realmente incidem sobre o
mercado de divisas. A alteração de alguns desses fatores suporá o deslocamento
das curvas analisadas. Desse modo, se, por exemplo, o PIB brasileiro aumentar, a
quantidade demandada de importações a uma taxa de câmbio dada aumentará.
Quando as exportações brasileiras de bens e serviços aumentam (por um
aumento nos preços norte-americanos) ou se aumentam os investimentos norte-
americanos no Brasil, por uma elevação da taxa de juros brasileira, a oferta de
dólares aumentará. Isso ocasionará um deslocamento da oferta de dólares para
a direita, e o valor do real irá se elevar em relação ao dólar, já que será necessário
entregar menos reais para obter um dólar.
Uma taxa de câmbio totalmente flexível ajusta, portanto, o balanço de
pagamentos automaticamente, igualando a demanda e a oferta de divisas por
operações autônomas com o exterior, tornando desnecessária a intervenção do
Banco Central para restabelecer o equilíbrio externo.
O mercado de câmbio 87

As vantagens do sistema de taxas de câmbio flexíveis


Teoricamente, o sistema de taxas de câmbio flexíveis corrigirá,
automaticamente, qualquer tendência de gerar déficit ou superávit no balanço
de pagamentos. A sequência lógica que o processo seguirá é a seguinte:
• inicialmente, o balanço de pagamentos da economia brasileira está em
equilíbrio;
• suponhamos que aconteça um aumento na demanda por importações
e o balanço de pagamentos brasileiro incorra em um déficit;
• o aumento nas importações implicará um aumento na demanda por
dólares no mercado de câmbio;
• o real ficará depreciado em relação ao dólar, o que fará com que as
importações fiquem mais caras, e as exportações, mais baratas;
• a troca nos preços relativos das exportações e das importações fará
aumentar o volume das exportações e reduzir o volume das importações,
fazendo com que o balanço de pagamentos alcance o equilíbrio.

Limitações do sistema de taxas de câmbio flexíveis


Na prática, o mecanismo esboçado pode não funcionar. Também podem
surgir problemas com a sensibilidade (elasticidade-preço) da demanda das
exportações e das importações. Em outras palavras, se o balanço de pagamentos
apresenta um déficit e o real se desvaloriza, as exportações podem não aumentar
o suficiente e as importações não se reduzirem de maneira apreciável. Uma
complicação adicional pode surgir pelo fato de a desvalorização do real aumentar
o preço das importações, o que, além de incidir sobre o custo de vida, pode afetar
os custos de produção de muitas empresas, influindo, desse modo, negativamente
sobre os preços das exportações.
88 O mercado de câmbio

Outro inconveniente do sistema de taxa de câmbio flexível é que se gera uma


grande incerteza nas relações internacionais. Suponhamos que um empresário
brasileiro importe material dos Estados Unidos para produzir computadores.
Se o pagamento for feito em dólares num prazo de seis meses, o empresário
brasileiro não poderá determinar de modo preciso seus custos de produção, pois
isso dependerá da taxa de câmbio no transcorrer do período.
A presença de especuladores também pode dificultar o processo de ajuste.
Eles comprarão uma moeda (real) quando supuserem que seu valor aumentará,
e iniciarão processos de venda quando esperarem que o valor do real se reduza.
Suponha que a taxa de câmbio real/dólar é de 100. Se o especulador espera
que o real se desvalorize, procurará obter vantagem da informação que tem
e, por exemplo, trocará 1.000.000 de reais por 10.000 dólares. Quando o real
desvalorizar e, por exemplo, a taxa de câmbio for de 130 reais/dólar, os 10.000
dólares serão convertidos de novo em reais, que agora serão 1.300.000 reais,
obtendo, na operação, um lucro de 300.000 reais.

Os sistemas de taxas de câmbio fixas: o padrão-ouro


Uma vez estudadas as principais características flexíveis do sistema de taxa
de câmbio, estudaremos os sistemas de taxas de câmbio fixas. Sob o sistema
de câmbio fixo, a taxa de câmbio cai ligada a uma determinada mercadoria
(historicamente o ouro) ou a uma determinada moeda. Numa perspectiva
histórica, o protótipo do sistema de câmbio fixo foi o padrão-ouro puro. Para
aderir a esse sistema, todo país tinha de aceitar as regras abaixo descritas.
• Estabelecer uma relação fixa entre sua moeda e o ouro. Tal relação era
denominada valor paritário ou preço oficial. As autoridades econômicas
deviam estar dispostas a trocar ouro por moeda e a fazer o inverso.
• As autoridades econômicas deveriam manter a convertibilidade do
ouro, comprando e vendendo a moeda nacional em troca de ouro ao
preço oficial. Dessa forma, qualquer residente nacional ou estrangeiro
poderia ir ao Banco Central e converter dinheiro fiduciário (papel-
moeda e cheque) em ouro.
• O governo deveria seguir uma política respaldada no valor do ouro,
cobrindo 100%. Assim, o Banco Central tinha de ter ouro num valor
O mercado de câmbio 89

igual, pelo menos, à quantidade de dinheiro que havia em circulação.


O Banco Central, então, só criava dinheiro quando comprava ouro do
público e destruía dinheiro quando vendia ouro ao público.

O mecanismo de ajuste
O sistema de padrão-ouro clássico não só se encarrega de manter estáveis as
taxas de câmbio, mas também equilibradas as relações comerciais internacionais.
Assim, quando um país tinha um superávit com o exterior – isto é, exportava
mais do que importava –, recebia mais ouro do que tinha de pagar, de forma que
suas reservas aumentavam e isso aumentaria a quantidade de dinheiro. Dessa
forma, a demanda agregada aumentaria, e os preços também. Com um nível
mais elevado de preços, o país seria menos competitivo em nível internacional, e
suas exportações diminuiriam e, pelo contrário, suas importações aumentariam
até que alcançassem o equilíbrio. O inverso aconteceria num país com déficit
em suas relações com o exterior, pois haveria uma saída de ouro.
O padrão-ouro clássico é um regime de taxa de câmbio fixa. O valor da moeda
nacional define-se em relação ao ouro, e o Banco Central compra e vende ouro
em quantidades ilimitadas a esse preço. As entradas de ouro provocam uma
expansão monetária, e as saídas, uma destruição do dinheiro.
Assim, mantendo fixa a taxa de câmbio, elimina-se o desequilíbrio nas
relações internacionais. Para isso, só se exigia que as importações e as exportações
fossem sensíveis às variações dos preços e que o banco central estivesse disposto
a aumentar ou diminuir a quantidade de dinheiro, quando a quantidade de ouro
aumentasse ou diminuísse.

Inconvenientes do padrão-ouro
O padrão-ouro clássico apresentava uma série de inconvenientes, e entre
eles cabe destacar os seguintes:
• tendia a formar fortes oscilações na atividade econômica e no nível
de preços, o que poderia ir contra os objetivos internos de política
econômica. Além disso, preços e salários internos poderiam ser
90 O mercado de câmbio

rígidos para baixo, o que não garantia o equilíbrio do balanço de


pagamentos;
• os países com superávit em suas relações econômicas com o exterior
podiam tomar medidas que tendiam a cancelar o efeito do fluxo de ouro
sobre a quantidade de dinheiro. As autoridades monetárias poderiam
vender títulos no mercado e reduzir os estoques de dinheiro na mesma
quantidade em que as reservas de ouro aumentariam. Isto é, o Banco
Central tem capacidade de “esterilizar” seus fluxos de ouro e, assim,
combater os aumentos no nível de preços, impedindo, desse modo, o
funcionamento do mecanismo de ajuste;
• um Banco Central esteriliza os efeitos produzidos pelas perdas (ganhos)
de ouro na oferta monetária quando realiza operações de mercado
aberto que compensem as variações da quantidade de ouro, impedindo
que se altere a oferta monetária;
• o sistema era muito sensível a uma crise de confiança, pois se centrava
sobre uma base relativamente pequena de ouro e sempre corria o perigo
de um esgotamento das reservas de ouro disponíveis. Além disso, a
produção de ouro não podia aumentar em função da necessidade de
liquidez do comércio internacional.

Até 1914, os problemas mencionados impulsionaram uma certa modificação


do padrão-ouro puro. Além do ouro, os países começaram a manter reservas em
forma de divisas das nações ricas que se vinculavam ao ouro, fundamentalmente
a libra esterlina. Posteriormente, a grande depressão de 1929 forçou alguns países
a restringirem bruscamente seu comércio e a fazerem acordos bilaterais com
outros países, de forma que o padrão-ouro modificado praticamente deixou
de funcionar.

Taxa de câmbio e inflação


Para analisar as relações entre câmbio e inflação, inicialmente veremos como
a política cambial afeta as taxas de inflação e depois inverteremos a questão, isto
é, como a taxa de inflação afeta o câmbio.
O mercado de câmbio 91

Valorização cambial e inflação


Com uma valorização (apreciação) cambial, a moeda nacional (real) fica mais
forte relativamente às moedas estrangeiras. Os brasileiros passam a importar
mais, e aumenta a competição do produto importado com os produtos nacionais.
Os empresários brasileiros são desestimulados a elevar o preço de seus produtos
e são obrigados a manter os preços em níveis competitivos. Ou seja, a valorização
cambial permite “ancorar” os preços internos e reduzir a taxa de inflação (daí
deriva o termo âncora cambial).
A partir de 1994, no Plano Real, a valorização cambial foi um instrumento
bem-sucedido no sentido de controlar a inflação, que tinha atingido cerca
de 50% no mês de junho daquele ano. Outro efeito positivo dessa política foi
a elevação dos índices de produtividade, devido à modernização do parque
produtivo nacional proporcionado pelas importações de bens de capital, o
que levou à redução de custos de produção e, consequentemente, dos preços,
beneficiando os consumidores com produtos de melhor qualidade, a preços
relativamente mais baixos.
Contudo, a política de valorização cambial pode apresentar algumas
desvantagens (como ocorreu no Brasil). Os setores nacionais que estiverem
despreparados para a competição externa podem sofrer grande queda em
suas vendas, com o consequente aumento do desemprego nesses setores.
Os exportadores também são prejudicados, porque, com a moeda nacional
valorizada, nossos produtos ficam relativamente mais caros para o comprador
estrangeiro. Com as importações tendendo a crescer mais que as exportações,
pode ocorrer um déficit na balança comercial, com a consequente saída de
divisas do país. Para manter suas reservas cambiais, o país se vê na contingência
de buscar recursos no exterior, aumentando sua dependência ou vulnerabilidade
externa.

Desvalorização cambial e inflação


A desvalorização cambial tem efeito contrário ao descrito anteriormente:
os produtos importados ficam mais caros, em termos de reais. Evidentemente,
92 O mercado de câmbio

diminuirão as importações de muitos produtos, mas os bens essenciais, como


petróleo e trigo, que o Brasil importa muito, terão seu preço aumentado (em
reais, não em dólar), provocando aumento dos custos de produção, que serão
repassados aos preços dos produtos finais, gerando inflação – a chamada inflação
de custos.
O efeito da desvalorização cambial sobre a taxa de inflação é denominado
passthrough.

Ponto final
Neste capítulo, exploramos os mecanismos de funcionamento do câmbio
e discutimos a sua influência no índice de inflação. Assim você será capaz
de relacionar a influência da taxa de câmbio nas exportações e importações,
diferenciar os sistemas de taxas de câmbio fixo e flutuante e identificar as relações
existentes entre a taxa de câmbio e a inflação.

Indicação cultural
SEGRE, G. Manual prático de comércio exterior. São Paulo: Atlas, 2007.
O livro oferece uma visão global e prática do comércio internacional, suas
formas, envolvimento e implicações, dentro do ambiente profissional e de
aprendizado acadêmico. Os capítulos dispostos na obra abordam perspectiva,
discernimento, compreensão e desenvolvimento das habilidades necessárias
à gestão por excelência, e estão assim discriminados: introdução ao comércio
internacional, definições básicas, incoterms, moeda e câmbio, logística
internacional, contabilidade de comércio exterior, regimes aduaneiros, negociação
internacional e princípios básicos de direito do comércio internacional.
O mercado de câmbio 93

Atividades
1) Defina taxa de câmbio.
2) Diferencie os conceitos de câmbio fixo e de câmbio flutuante.
3) Qual é a influência do câmbio sobre a balança comercial de um país?

Gabarito:
As respostas das questões são encontradas no texto do capítulo.
8

Economia internacional
Ao final da leitura deste capítulo, você deverá ser capaz de relacionar os
níveis de integração dos blocos econômicos, diferenciar as teorias de comércio
internacional, identificar os principais blocos econômicos existentes e quais são
seus países-membros.
Todos os temas serão abordados a seguir.

8.1 Teorias de comércio internacional


O mercantilismo surgiu como o primeiro conjunto de ideias que procurava
explicar o funcionamento do comércio entre os países, enfatizando que as
nações deveriam privilegiar o comércio e principalmente as exportações para a
acumulação de metais. Segundo o mercantilismo, os estados nacionais deveriam
(BORTOTO, 2004):
• possuir um exército numeroso (tendo como pressuposto o crescimento
populacional);
• intensificar as atividades de comércio;
• acumular divisas (metais preciosos), ou seja, buscar o metalismo;
• defender interesses internos;
96 Economia internacional

• conquistar maior participação no comércio internacional, por meio do


aumento das exportações;
• enfatizar as atividades de comércio e manufatura.

Teoria das vantagens absolutas


De acordo com Adam Smith (1999), uma das condições necessárias para a
ocorrência de comércio entre duas nações é a existência de algum produto para o
qual houvesse uma vantagem absoluta na produção, ou seja, essa nação deveria,
necessariamente, ter condições de produção mais favoráveis que as do país para
o qual se pretenda exportar. Como o valor das mercadorias seria determinado
pelo tempo de trabalho necessário para produzi-las, pode-se afirmar que o
determinante, para Smith, é o custo da mercadoria em termos de mão de obra.
Desse modo, é necessário comparar o custo de produção entre duas nações de
tal forma que só seja possível o comércio se ocorrerem diferenças significativas
entre os valores. Considera-se, nesse caso, o coeficiente técnico, ou seja, a relação
entre o número de horas de trabalho em função da quantidade produtiva:

L
I =
P

Onde:
I = coeficiente técnico de produção;
L = horas de trabalho;
P = produto (quantidade produzida).
Economia internacional 97

Quadro 5 – Hipótese de produção de calçados e carne no Brasil e na Argentina

PRODUÇÃO DE CALÇADOS PRODUÇÃO DE CARNE

Horas de mão de obra (L)

Horas de mão de obra (L)


Coeficiente técnico (L/P)

Coeficiente técnico (L/P)


Produção de carne (P)
Produção (P)
País

Brasil 400 250 1,6 600 250 2,4

Argentina 600 250 2,4 400 250 1,6

Fonte: Carmo; Mariano, 2006.

O exemplo apresentado no quadro 5 indica que o Brasil tem coeficiente


técnico de produção de calçados melhor (1,6) do que a Argentina (2,4). Em
contrapartida, a Argentina tem coeficiente técnico de produção de carne melhor
(1,6) do que o Brasil (2,4). Dessa forma, o Brasil apresenta vantagem absoluta
na produção de calçados em relação à Argentina, e a Argentina, na produção
de carne em relação ao Brasil.
Segundo a teoria das vantagens absolutas, cada país deverá se especializar
na produção daquele bem ou serviço em que apresenta vantagem absoluta
e exportá-lo, abdicando da produção do bem ou serviço em que apresenta
desvantagem, importando-o.
98 Economia internacional

Quadro 6 – Hipótese de especialização de calçados e carne no Brasil e na Argentina

PRODUÇÃO DE CALÇADOS PRODUÇÃO DE CARNE

Horas de mão de obra (L)

Horas de mão de obra (L)


Coeficiente técnico (I)

Coeficiente técnico (I)

Produção P = L/I
Produção P= L/I
País

Brasil 1.000 1,6 625 0 2,4 0

Argentina 0 2,4 0 1.000 2,0 500

Fonte: Carmo; Mariano, 2006.

No quadro 6, desenvolve-se essa hipótese, considerando-se que cada um dos


dois países dispõe de mil horas de mão de obra para a produção de calçados e
de carne. Se cada país se especializar e alocar toda a mão de obra ao produto
em que tem vantagem absoluta, a soma das produções de ambos os países será
maior do que as produções de Brasil e Argentina, se cada país for autossuficiente
em produção e consumo de calçados e de carne.
Desse modo, somando o resultado da produção do Brasil e da Argentina,
teríamos uma produção superior à verificada inicialmente, ou seja, a economia
aumentaria a sua capacidade produtiva como um todo, elevando, por
consequência, o bem-estar da sociedade.
Economia internacional 99

Teoria das vantagens comparativas


O princípio das vantagens comparativas explica o motivo pelo qual dois países
comercializam entre si, mesmo quando um deles detém vantagem absoluta na
produção de dois bens. Se um país tiver vantagem relativa para um bem, deve
se especializar na produção daquela mercadoria em que é relativamente mais
eficiente (com custo relativamente menor), exportando-a. Por outro lado, esse
mesmo país deve deixar de produzir e importar aqueles bens com produção de
custo relativamente maior (com produção relativamente menos eficiente).
A teoria das vantagens comparativas foi formulada por David Ricardo (1982),
em 1817, como uma evolução da teoria das vantagens absolutas. Da mesma forma
como aquela teoria, recomenda que cada país produza os bens e serviços em que
tem vantagem comparativa e os exporte, deixando de produzir bens e serviços
em que é relativamente menos eficiente. Como resultado, a produção global será
maior do que se cada país for autossuficiente, aumentando as possibilidades de
consumo e de bem-estar do conjunto dos residentes em ambos os países.

Escola neoclássica
Apontando as limitações da escola clássica, essa teoria argumenta que, no
âmbito do comércio internacional, não basta identificar os custos de produção
(em termos de mão de obra) para verificar se a nação possuirá vantagens no
comércio internacional. Segundo essa teoria, os países exportam um produto
disponível em detrimento daquele em que há escassez. Desse modo, o processo
de troca entre duas nações deve observar o fato de que os países sempre tendem a
exportar mercadorias provenientes de seus recursos produtivos mais abundantes
e a importar bens cujos recursos sejam mais escassos (CARVALHO; SILVA,
2004).

8.2 Relações econômicas internacionais


Atualmente, pelo menos do ponto de vista econômico, o mundo se apresenta
crescentemente interligado, seja por fluxos comerciais, seja por fluxos financeiros.
De modo geral, as relações econômicas internacionais têm posição fundamental
para a maioria dos países, inclusive o Brasil. A partir dessa constatação, o
100 Economia internacional

estudo da chamada economia internacional, como um ramo específico da teoria


econômica, ganhou destaque.
Cada vez mais os países estão interligados e interdependentes. O comércio
entre as nações mais do que duplicou nos últimos 30 anos. Atualmente, acima
de um terço de tudo que é produzido no mundo é comercializado entre nações.
Ou seja, é crescente a parcela da produção mundial que não é consumida no
país de origem.
Quais são os fatores que determinam as trocas internacionais? São vários
os motivos que promovem a expansão do comércio para além das fronteiras de
cada país. Entre outros, podem ser citados:
• diferenças de dotação de recursos naturais: diferentes países detêm
diferenciadas reservas de recursos naturais, o que favorece as trocas
(petróleo, minerais, solos);
• assimetria em atributos construídos: cada país desenvolve de modo
diferenciado sua tecnologia, que proporciona diferentes oportunidades
de comercialização dos produtos dela decorrentes (remédios, softwares,
engenharia);
• qualificação dos fatores de produção: cada país pode ter vantagens na
produção, em decorrência de mão de obra melhor qualificada ou em
razão de melhor ter desenvolvido determinados fatores de produção;
• relações entre fatores de produção: há fatores de produção que se
complementam e favorecem o intercâmbio entre países.

E quais são as vantagens do intercâmbio internacional? Existem vantagens


para os consumidores e para os produtores. Os consumidores, com a ampliação
da oferta, têm a oportunidade de dispor de maior diversidade de produtos. Os
produtores, por sua vez, terão possibilidades de ampliação do mercado, buscando
compradores com abrangência internacional. Com essa ampliação, os produtores
terão oportunidade de especializar-se e beneficiar-se das vantagens da produção
em escalas maiores.
Economia internacional 101

O processo de globalização
O processo de globalização é a consequência do incremento das relações
econômicas internacionais. Os países se organizam em blocos de integração,
para facilitar o comércio entre si e para enfrentar a concorrência internacional
de forma mais competitiva.
A globalização exige dos países algumas condições para ingresso nesse
“clube de negociantes internacionais”. A primeira delas é integrar-se econômica
e politicamente. A integração implica negociações permanentes, participação
nos tratados e acordos mundiais sobre o tema e adaptação às tendências
comerciais, que se alteram com velocidade crescente. Outra condição é a
abertura às empresas transnacionais, que são responsáveis pela maioria das
transações do comércio internacional. Os países precisam, também, investir
em tecnologias que favoreçam a inter-relação mundial, como: transportes,
comunicações e transmissão de dados. Ainda precisam eliminar barreiras
comerciais protecionistas e liberalizar suas economias.
As consequências da integração são alterações das regras de convivência
internas de cada país. Uma delas é a convergência das relações jurídicas
internas, que tenderão a um modelo mais homogêneo entre todos os países.
Por conseguinte, haverá influência externa crescente sobre cada país, com o
surgimento de organizações multilaterais, acordos entre governos, implementação
de empresas transnacionais. Em suma, haverá redução de atributos de soberania
nacional, que se consolidarão através de acordos de interdependência.
Do ponto de vista macroeconômico, a integração produzirá o aumento
do comércio internacional, relacionando-se com a produção interna (PIB)
de cada país, provocará a homogeneização crescente dos fatores de produção
e dos produtos, tendendo à equalização dos custos dos fatores. A influência
dos investimentos externos aumentará, e estes serão cada vez mais atraídos
para infraestrutura e para áreas de tecnologia, em vez de serem dirigidos para
exploração de recursos naturais. As nações se tornarão cada vez menos autônomas
no campo econômico, dependendo de fluxos financeiros internacionais de
controle reduzido.
Do ponto de vista microeconômico, as empresas tenderão a ter escalas
maiores, podendo operar com custos mais reduzidos e com maiores condições
de competir.
102 Economia internacional

Níveis de integração
Existem diversas classificações de níveis de integração entre países. As que
apresentaremos são das mais tradicionais e, como as demais, indicam níveis
crescentes de integração.
• ZONA OU ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO (exemplos: Nafta, Alca):
acordo entre países que busca a eliminação de tarifas no comércio entre
os signatários.
• UNIÃO TARIFÁRIA OU ADUANEIRA (exemplo: Mercosul): além da
eliminação de tarifas no comércio entre os países signatários, o acordo
busca obter a mesma política tarifária para com o resto do mundo
(terceiros países).
• MERCADO COMUM: além das características anteriores, o acordo
busca obter a coordenação de políticas monetária, cambial, fiscal,
previdenciária e tributária, além da harmonização de legislação,
liberdade de circulação de produtos e de fatores de produção;
deverão inexistir fronteiras alfandegárias. A única diferença entre os
mercados dos diversos países será a distância e o consequente custo do
transporte.
• UNIÃO ECONÔMICA E MONETÁRIA (exemplo: União Europeia):
os países ficam quase sem autonomia, adotam uma moeda única, têm
políticas macroeconômicas comuns e banco central único. As políticas
são regionais, e não mais nacionais.

Blocos econômicos
Na economia internacional, temos alguns países que formam os blocos
econômicos, como, por exemplo, Alca, Mercosul, Nafta, EU, Aladi, que serão
tratados a seguir.

Alca – Área de Livre Comércio das Américas


A Área de Livre Comércio das Américas (Alca) foi idealizada pelos Estados
Unidos, em 1994, durante a realização da Cúpula das Américas. Com o objetivo
Economia internacional 103

de eliminar as barreiras alfandegárias entre os 34 países americanos, exceto


Cuba, e formar uma área de livre comércio para as Américas, até o final de 2005.
Posteriormente, esse prazo foi dilatado e, atualmente, não existem condições
favoráveis à sua implementação, mesmo no Congresso norte-americano. Se
implantada, a Alca tornar-se-á um dos maiores blocos comerciais do mundo.
São PAÍSES-MEMBROS da ALCA: Antigua e Barbuda, Argentina, Bahamas,
Barbados, Belize, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Dominica,
El Salvador, Equador, Estados Unidos da América, Granada, Guatemala, Guiana,
Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República
Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Neves, São Vicente e Granadinas,
Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela.

Mercosul – Mercado Comum do Sul


O Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi criado, oficialmente, em 1991,
pelo Tratado de Assunção. É formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai,
além dos países associados Bolívia e Chile, estando em fase de discussão o
ingresso da Venezuela. O Mercosul tem como princípios básicos estabelecer
uma união aduaneira – área de livre circulação de bens, serviços, mãos de obra
e capital –, assim como a liberação gradativa de tarifas alfandegárias e restrições
tarifárias.
Os grandes países desse bloco são Brasil e Argentina, tanto por sua área quanto
por seu maior contingente populacional e desenvolvimento econômico.

Nafta – Acordo de Livre Comércio da América do Norte


O Nafta foi instituído em 1992 e conta, em seus membros, com os
Estados Unidos da América, México e Canadá, como simples área de livre
comércio. O acordo prevê apenas a eliminação das barreiras legais e das tarifas
alfandegárias.
104 Economia internacional

EU – União Europeia
A União Europeia é a materialização do mais elevado estágio da integração
econômica entre nações. O processo teve seu início na Comunidade Econômica
Europeia (CEE), fundada em 1957 pelo Tratado de Roma, e teve adesão gradativa
das nações europeias. Em 1992, foi assinado, em Maastricht (Holanda), o Tratado
da União Europeia, que deu a configuração da união econômica e monetária.
Em 1999, foi adotada pelos países signatários a moeda escritural única, o euro,
que passou a circular como papel-moeda apenas no ano de 2002.
São PAÍSES-MEMBROS da EU: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre,
Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia,
Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polônia,
Portugal, Reino Unido, República Tcheca e Suécia.1

Aladi – Associação Latino-Americana de Integração


A Aladi substituiu a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (Alac),
com o objetivo de criar um mercado comum latino-americano. Não conflita com
o Mercosul, por pretender ter alcance regional e ser praticado através de acordos
parciais, celebrados em prazo longo. Inicialmente não contemplava Cuba, que,
recentemente, se associou a esse grupo de países.
São PAÍSES-MEMBROS da Aladi: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,
Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.

Ponto final
Com a tendência de os mercados se globalizarem, a economia internacional
deixou de ser uma referência teórica distante para cada cidadão, tornando-se
uma variável que influencia sua vida diária. Ao contrário de poucas décadas
atrás, qualquer cidadão brasileiro hoje está familiarizado com bens oriundos
do exterior, tanto de produtos sofisticados quanto populares, desde automóveis
e equipamentos de grande porte até pequenos objetos de decoração. Assim

|| 1 Dinamarca, Reino Unido e Suécia são países que não aderiram ao Euro.
Economia internacional 105

também é com a produção nacional, em cujo processo se envolvem brasileiros


em grande número e das mais variadas profissões: operários, administradores,
projetistas, vendedores.

Indicação cultural
CARVALHO, M. A.; SILVA, C. R. L. Economia internacional. São Paulo:
Saraiva, 2004.
Excelente manual para estudo de economia internacional e integração
econômica. Relaciona a teoria à realidade brasileira, apresentando os principais
modelos do comércio internacional, a teoria da política comercial, o balanço
de pagamentos e os aspectos mais relevantes da economia internacional
contemporânea.

Atividades
1) Quais são os níveis de integração comercial e econômica?
2) Qual, na sua opinião, é o nível de integração do Mercosul. Fundamente
sua resposta.
3) Quais são as principais barreiras para a implementação da Alca? Para
responder a essa pergunta você deverá realizar pesquisa na internet.

Gabarito:
As respostas deverão ser obtidas através da leitura do capítulo. Trata-se de
identificar quais são os níveis de integração (Área de Livre Comércio, União
Aduaneira, etc.) que existem e relacioná-los com a situação do Mercosul e com
a Alca. Procure artigos sobre o tema, na internet.
9

Crescimento e desenvolvimento
econômico
Ao final da leitura deste capítulo, você deverá ser capaz de diferenciar
os conceitos de crescimento e desenvolvimento econômico, e identificar os
principais indicadores de desenvolvimento econômico. Todos esses temas serão
abordados a seguir.

9.1 Conceitos fundamentais


Num primeiro momento, somos levados a acreditar que desenvolvimento
econômico é o mesmo que crescimento econômico. Então, como saber o que
é desenvolvimento? O desenvolvimento corresponde à participação social no
resultado do crescimento. Quando decorrente de crescimento, a população
obtém melhorias no padrão de vida ou participa distributivamente do
resultado desse crescimento e ocorre o desenvolvimento. Portanto, podemos
simplificar afirmando que crescimento econômico é um fator quantitativo e
desenvolvimento econômico é qualitativo.
O desenvolvimento econômico é um processo de mudança estrutural de
longo prazo num sistema econômico. Decorrente do aumento dos recursos
disponíveis e/ou de sua melhor utilização, tendo como resultado o aumento da
renda per capita real e os níveis de consumo e bem-estar da coletividade. É a
soma de crescimento, industrialização com mudanças estruturais, especialmente
108 Crescimento e desenvolvimento econômico

no setor externo e agrícola, e com melhoria na distribuição da renda pessoal e


regional acompanhada do aumento do nível de emprego.
Embora a mensuração do produto gerado em um país, especialmente o PIB
(Produto Interno Bruto) e mais recentemente o PIB per capita (PIB dividido pela
população do país), seja frequentemente mencionada, especialmente na mídia,
como medidora do desenvolvimento, esses dados estatísticos são medidas de
crescimento de uma nação. Compõem o conjunto de indicadores que revelam
o nível de desenvolvimento de um país, mas não completam tal conceito. Só
pode ser considerado desenvolvido o país que obtiver crescimento econômico
associado ao aumento do bem-estar de seus cidadãos, através da diminuição
de suas desigualdades na repartição da riqueza, da redução dos níveis de
desemprego, da melhoria geral da qualidade de vida em atributos como nutrição,
saúde, moradia e transporte.

Fatores que influenciam o desenvolvimento econômico


Os principais fatores que influenciam o desenvolvimento econômico são
apresentados abaixo.
• A QUALIDADE E A QUANTIDADE DOS RECURSOS PRODUTIVOS
DISPONÍVEIS – Sempre que citamos os recursos produtivos, estamos
nos referindo à força de trabalho, ao capital e à matéria-prima. A
qualificação desses recursos representa os níveis de formação escolar da
mão de obra, determinado pela média de anos frequentados nas escolas,
a capacidade tecnológica do capital existente, se de formação interna ou
externa, e a diversidade, quantidade e qualidade das matérias-primas
existentes num sistema econômico.
• As CONDIÇÕES POLÍTICAS E SOCIAIS: A ESTABILIDADE
POLÍTICA E INSTITUCIONAL – Entendemos que as condições
políticas e sociais são as instituições políticas (partidos políticos) que
legislam em favor da população, e não em favor de segmentos da
sociedade. Partindo desse aspecto, que podemos chamar de maturidade
e consciência política, a população conquistará melhorias na estrutura
social e política, devido a um maior policiamento do comportamento
de seus legisladores eleitos.
Crescimento e desenvolvimento econômico 109

• D I NA M I S M O D O S AG E N T E S E C O N Ô M I C O S , Q U E
PROPORCIONAM EFICIÊNCIA ORGANIZACIONAL – Sempre
que a estrutura das organizações que estimulam o funcionamento das
atividades produtivas possuir dinâmica e agilidade no seu processo,
isso possibilitará que mais unidades produtivas surjam no mercado,
aumentando os níveis de emprego e qualidade de vida. Essa dinâmica
pode ser representada pelas decisões do Banco Central do Brasil,
agilizando o funcionamento do sistema financeiro, propiciando
agilidade no processo tributário, ou seja, menos burocracia.

Consequências do desenvolvimento
As consequências do desenvolvimento são muitas, de importância
fundamental e almejadas por todos. Como evidência dessa afirmação,
podemos relembrar da campanha para a Presidência da República em que a
mais importante proposta dos candidatos era a promoção do desenvolvimento
econômico.
Para melhor entender o desenvolvimento e suas consequências, temos
de partir do parâmetro comparativo, ou seja, desenvolvido pressupõe,
necessariamente, a existência do não desenvolvido (subdesenvolvido). Então,
por que desejar as consequências do desenvolvimento? A resposta é simples: o
desenvolvimento trará melhorias no padrão de vida da população.
Essas consequências possuem caráter temporário, decorrente da natureza
do processo econômico, que são as necessidades ilimitadas da população,
representadas pela criação de novas necessidades quando anteriores já
foram atingidas. Esse aspecto torna o governo permanentemente refém das
necessidades da população. Entra governo, sai governo, a população considera
vitórias já atingidas como direito conquistado e reivindica novas necessidades.
E assim tem sido através dos tempos. A seguir, apresentamos uma síntese dos
principais efeitos do desenvolvimento econômico:
ALTERAÇÕES NO PROCESSO PRODUTIVO – As alterações no processo
produtivo, decorrente do desenvolvimento econômico, significam melhorias
tecnológicas, bem como sistemas produtivos menos complexos, ágeis e com
maior produtividade. Essa mudança no processo produtivo promove, em
110 Crescimento e desenvolvimento econômico

cadeia, o estímulo ao investimento no capital produtivo, desencadeando mais


investimentos em formação de capital e assim sucessivamente.
ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DO CONSUMO DA SOCIEDADE – Em
continuidade da evolução do desenvolvimento econômico associado às conquistas
do padrão de vida da sociedade corresponde, também, a melhorias do processo
distributivo da renda total gerada no sistema econômico. Com a evolução da
renda, certamente a população modificará seu padrão de consumo, buscando
produtos de maior complexidade e alteração dos bens e serviços consumidos
até então. Como exemplo, podemos citar: “A pirâmide das necessidades ou a
teoria da hierarquia de necessidades de Maslow” (Figura 2).

Necessidades de
autorrealização

Necessidades
de autoestima

Necessidades
sociais (afeto)

Necessidades
de segurança

Necessidades
fisiológicas

Figura 2 – Pirâmide das Necessidades de Maslow


Fonte: Maslow, 2000.

Essa pirâmide, criada por Abraham Maslow, demonstra, claramente, que


sua base é constituída pelas necessidades básicas de sobrevivência (alimentação,
segurança, habitação, etc.) e em seu topo está a necessidade de status, passando
por várias outras intermediárias. Interpretando: partindo do princípio de que
as necessidades básicas da sociedade foram atingidas, esse grupo reivindicará
melhores condições de lazer, por exemplo. Sendo esse processo contínuo e
interminável.
Crescimento e desenvolvimento econômico 111

• CRESCENTE INTERDEPENDÊNCIA SETORIAL NA ECONOMIA –


Decorrente do desenvolvimento da economia e motivado pelo avanço
tecnológico e melhorias na formação de mão de obra, a economia
passa a possuir maior dependência dos setores entre si. Considerando
a verticalização e a horizontalização do processo produtivo, vamos
constatar que a interdependência dos setores torna-se maior devido ao
processo produtivo ter consolidado as atividades em todos os níveis.
Significa que atividades produtivas, que inicialmente não existiam
internamente, passam a existir a partir do desenvolvimento.
• EM RELAÇÃO AO SETOR EXTERNO – O desenvolvimento permite
ganhos de escala, aumenta a capacidade de importar e possui um efeito
multiplicador sobre a economia. Podemos iniciar a interpretação do
impacto do desenvolvimento de uma economia sobre o setor externo,
considerando que as melhorias tecnológicas obtidas atribuirão mais
produtividade ao setor produtivo, o qual, por sua vez, terá maior
competitividade no mercado globalizado. Em consequência disso,
serão obtidos mais recursos de exportação, o que significa, na realidade,
importação de empregos e mais reservas cambiais, possibilitando a
importação de bens de capital ou promovendo o desenvolvimento
tecnológico interno e, assim, ocasionando o efeito multiplicador sobre
o setor produtivo da economia.

Principais indicadores de desenvolvimento


Como dito anteriormente, a macroeconomia é o compartimento de ciência
econômica que trata da economia como um todo, das questões agregativas.
Pergunta-se, então: como saber se um sistema econômico está crescendo ou se
desenvolvendo? E com que parâmetros medimos esse resultado?
Como estamos tratando de análises comparativas entre regiões de um país,
entre países ou blocos econômicos, será necessário usar padrões universais
de medida. Podemos citar: uma mesma moeda universal, o mesmo período
temporal, os mesmos parâmetros e índices. Caso contrário, compararemos
indicadores que não mostrarão os mesmos dados e, portanto, causando aferições
errôneas.
112 Crescimento e desenvolvimento econômico

Indicadores econômicos
A seguir, vamos tratar dos diversos indicadores usados para medir a economia
de um país.

Renda per capita


Na realidade, esse é o indicador de desenvolvimento mais utilizado
mundialmente. A renda per capita, que significa renda por pessoa ou habitante, é
obtida pela divisão do produto interno bruto pela população, da qual obteremos
a renda média por habitante de um país. Sem dúvida alguma esse é um indicador
de crescimento econômico, porém não é um indicador de desenvolvimento
confiável. Por quê? A resposta é simples, porque é um valor médio. Se a renda
per capita aumenta, significa que a riqueza produzida num sistema econômico
cresce em velocidade superior ao crescimento demográfico da população. Isso
significa crescimento econômico, porém não desenvolvimento. Para ocorrer
desenvolvimento, é preciso haver participação da população na renda gerada
e acesso à aquisição e à evolução na estrutura de consumo. Comprovando essa
afirmação, um sistema econômico pode estar aumentando seu produto interno
bruto e apresentar altos índices de concentração de renda. Em outras palavras:
a população não teria acesso a essa renda e, consequentemente, não usufruiria
dos benefícios do aumento de renda.

Pauta de importações e de exportações


Os países desenvolvidos e subdesenvolvidos apresentam diferentes e distintas
estruturas de importações e exportações. Castro e Lessa (1992) afirmam: “Para
sabermos o grau de desenvolvimento de um país, basta analisar a estrutura dos
produtos de suas importações. Quanto mais elaborados forem os produtos,
menos desenvolvido ele é e vice-versa”. Dessa afirmação decorrerá toda a nossa
análise da pauta das importações e exportações de um sistema econômico. À
medida que um sistema se desenvolve, acontece uma evolução tecnológica
do parque produtivo interno e melhorias na qualificação da mão de obra. Em
Crescimento e desenvolvimento econômico 113

consequência, obtém ganhos de produtividade e competitividade no mercado


globalizado, passando, portanto, a exportar produtos elaborados (com mais valor
agregado) e, consequentemente, a importar empregos. Por outro lado, passa a
importar produtos em sua forma mais bruta (matéria-prima) a preços menores
com menos valor agregado, decorrendo disso a modificação da pauta das
importações de produtos acabados para forma bruta, bem como as exportações
da forma bruta, modificando-a para a forma elaborada.

Estrutura da produção e do emprego


Nesse indicador é demonstrado o padrão da estrutura de produção e do
emprego, ou seja, com o desenvolvimento, a estrutura de produção se altera, e
essas modificações ocorrem na proporção em que o desenvolvimento evolui.
Podemos, então, afirmar que em um país subdesenvolvido a estrutura de produção
está direcionada à atividade primária, com baixa utilização de tecnologia, indo
ao desenvolvimento com larga utilização de tecnologia. Consequentemente, a
estrutura do emprego segue o mesmo raciocínio, estabelecendo uma relação de
causa e efeito. Como a atividade produtiva está fundamentada no setor primário
(agricultura, extrativismo e pesca), a exigência de mão de obra qualificada
praticamente não existe. Por outro lado, no decorrer do desenvolvimento, a
tecnologia usada aumenta, e, em consequência do direcionamento da produção
para o setor secundário (transformação), a exigência da qualificação da mão
de obra aumenta. Concluindo, quanto menos desenvolvido for um sistema
econômico, mais a estrutura de produção e emprego estará fundamentada na
atividade primária e, ao contrário, com o desenvolvimento evoluindo, ocorrerá
o direcionamento para a industrialização.

Indicadores demográficos
A seguir, descreveremos os indicadores demográficos que investigam as
populações humanas sob uma perspectiva quantitativa.
114 Crescimento e desenvolvimento econômico

Taxa de crescimento demográfico


Nesse indicador, saberemos que o grau de desenvolvimento de uma nação
corresponde, numa razão inversa, à taxa de crescimento populacional. Ou seja,
quanto maior for a taxa de crescimento demográfico, menos desenvolvido será
o país. Com o desenvolvimento, a formação cultural e o poder aquisitivo da
população aumentam, tornando-se esta mais consciente e responsável com a
paternidade, decorrendo uma população com uma média menor de filhos por
família. As pirâmides etárias dos países são diferentes: os subdesenvolvidos
possuem uma população jovem que caracteriza a base da pirâmide larga em
relação ao seu topo.

Estrutura etária da população


Quando a pirâmide etária de um país passa a possuir uma base não tão
significativamente grande em relação à sua altura, significa que o crescimento
demográfico diminui e a expectativa de vida da população aumenta. O aumento
da expectativa de vida da população é decorrente do crescimento da qualidade
de vida, obtido através de melhorias no acesso ao sistema de saúde, alimentação
e saneamento.

Expectativa de vida ao nascer


Quando tratamos de desenvolvimento, jamais devemos desassociar os
indicadores econômicos e seus benefícios à população. Portanto, a expectativa
de vida de um cidadão é um forte indicador de desenvolvimento de cada país. A
idade média da população brasileira na década de 1940 estava em torno de 50 a
60 anos e, hoje, está acima dos 70 anos. Pergunta-se: quais fatores contribuíram
para esse ganho de vida média conquistado pelo brasileiro? A resposta está
no desenvolvimento e significa o crescimento econômico, aumentando com
ganhos da participação da população neste, podendo ser citado o aumento
do nível de saneamento das cidades, o acesso à renda, à educação e ao lazer,
bem como a evolução tecnológica da medicina, que se reverte diretamente ao
povo. A decorrência dessas conquistas é o aumento do tempo de vida média
da população.
Crescimento e desenvolvimento econômico 115

Taxa de mortalidade infantil


É a quantidade de óbitos para cada mil nascimentos. Esse é um indicador
de desenvolvimento, pois, indiretamente, representa o acesso da população ao
acompanhamento pré-natal e obstétrico, ou seja, seu acesso ao sistema de saúde.
Quanto menor for essa taxa, mais desenvolvido será o país. Como já visto em
dados anteriores, com a evolução tecnológica da medicina e o direcionamento
de maiores recursos financeiros e humanos do governo voltados para o pré-natal
obteve-se a redução do índice de mortalidade infantil, ou seja, mais uma vez o
crescimento econômico é revertido à população.

Indicadores sociais
Agora descreveremos os indicadores sociais, que demonstram como está a
comunidade, o conjunto de cidadãos de um país.

Taxa de analfabetismo
Esse indicador é considerado social porque nos mostra em termos médios
qual a quantidade de indivíduos que não é alfabetizada em relação ao total da
população. Quanto maior for essa taxa, menor tenderá a ser o desenvolvimento
do país, e vice-versa. Qual é a relação entre o analfabetismo e o desenvolvimento
de um país? Quanto maior for o crescimento econômico, maior será a exigência
da formação dos indivíduos para acesso ao emprego. Na década de 1930, um
brasileiro estava suficientemente formado com o ensino fundamental para
o então mercado de trabalho. Hoje, a formação superior não lhe dá garantia
alguma de acesso a esse mercado.

Participação da mulher na sociedade


Uma sociedade patriarcal, muitas vezes, demonstra seu nível de
desenvolvimento. A relação igualitária da participação da mulher na sociedade
pode demonstrar o grau de desenvolvimento, ou seja, à medida que o
desenvolvimento ocorre, a sociedade, como um todo, passa a usufruir do
116 Crescimento e desenvolvimento econômico

processo participativo e decisório. Até meados da década de 1930, a mulher, no


Brasil, não tinha direito ao voto, não participava das decisões políticas. Hoje, há
governadoras comandando estados em padrão de igualdade com os homens.
Não só no processo político, mas também no mercado de trabalho tem-se
constatado que a mulher está conquistando espaço e até mesmo competindo com
os homens e, muitas vezes, superando-os. Existem empresas que têm preferência
pelas mulheres nos cargos diretivos. Isso pode ser evidenciado pela existência
de muitas mulheres chefes de família.

Inclusão social
O acesso aos benefícios obtidos via crescimento econômico, a redução de
desigualdades sociais e a participação de todos no processo político são fatores
que indicarão o grau de desenvolvimento. Como exemplo, pode-se citar a
desigualdade social existente na Índia, onde indivíduos nascem em castas sociais
e são impedidos de ter acesso a certos benefícios, sendo condenados a viver na
mesma condição até a morte.

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)


Foi criado para medir o grau de acesso da população aos benefícios obtidos
pelo crescimento econômico, ou seja, quando os indicadores de crescimento
econômico de um país estão em evolução, somente haverá desenvolvimento se a
população tiver acesso a esses benefícios. Podemos exemplificar pela distribuição
de renda, independente do valor da renda per capita, pois esta nos mostra uma
média, e não a sua distribuição. Assim, podemos citar vários outros indicadores,
como taxa de escolaridade, saneamento básico e muitos outros.

Acesso à educação
Como indicador de desenvolvimento, podemos avaliar o grau de acesso
da população aos bancos escolares e o tempo de permanência anual médio
da população na formação escolar. Nos países subdesenvolvidos, a população
deixa de frequentar a escola para trabalhar e compor a renda familiar e sua
Crescimento e desenvolvimento econômico 117

sobrevivência, ocasionando, consequentemente, baixa formação e qualificação


da mão de obra de uma nação.

Longevidade
A perspectiva de média de vida da população de um país também é um
indicador de desenvolvimento, uma vez que, quanto maior for essa expectativa,
melhor qualidade de vida tem a população, seja pelo acesso ao sistema de saúde
público ou privado, seja pelo melhor acesso à alimentação e ao saneamento
básico, o que representará evolução no padrão de vida da população como um
todo.

Distribuição de renda
A distribuição de renda é outro indicador do grau de desenvolvimento
de um país. Normalmente, a evolução da economia de uma nação é medida
pelo PIB, que é a soma de todas as riquezas produzidas por uma economia em
determinado tempo (um ano). Para obter o indicador da renda média dessa
economia, basta dividir o PIB pelo total da população. Porém, esse indicador
não nos dá as informações concretas do acesso dessa população à renda, visto
que se trata de um valor médio. O acesso da população a essa renda definirá o
grau de desenvolvimento obtido.

Ponto final
Neste capítulo, tivemos a oportunidade de descobrir a diferença entre
crescimento econômico e desenvolvimento econômico e que, para obtermos
desenvolvimento econômico, há o requisito do crescimento econômico, porém,
com o crescimento econômico não necessariamente teremos desenvolvimento.
Portanto, chegamos à conclusão de que, para um sistema econômico chegar ao
desenvolvimento, é necessária e indispensável a participação da sociedade na
riqueza gerada direta ou indiretamente.
118 Crescimento e desenvolvimento econômico

Indicações culturais
Se você quiser saber mais, pode pesquisar no Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento, disponível em: http://www.pnud.org.br/home/, onde
encontramos as informações tabuladas de forma a possibilitar a comparação
através do tempo e entre os sistemas econômicos. Recomendamos o site da
Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul – FEE http://www.
fee.tche.br, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE http://www.
ibge.gov.br e do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA http://
www.ipea.gov.br, que nos mostrarão a evolução dos indicadores econômicos e
de desenvolvimentos do Brasil bem como a participação da população medida
nos mesmos.

Atividades
1) Que diferenças existem entre crescimento e desenvolvimento
econômico?
2) Que fatores influenciam o desenvolvimento econômico e quais os seus
efeitos?
3) Descreva três indicadores de desenvolvimento econômico.
4) O que é o IDH?

Gabarito:
1) A diferença consiste em que o crescimento econômico está só no
crescimento dos resultados da atividade produtiva, ou seja, da
economia, e o desenvolvimento econômico consiste no crescimento
econômico com a participação da população neste processo. Então
podemos afirmar que, para obtermos o desenvolvimento econômico,
pressupomos o crescimento econômico, porém, se tivermos crescimento
econômico, não teremos, necessariamente, desenvolvimento.
Crescimento e desenvolvimento econômico 119

2) - A qualidade e a quantidade dos recursos produtivos disponíveis.


- As condições políticas e sociais.
- Dinamismo dos agentes econômicos.
Os seus efeitos podem ser descritos a partir da leitura e entendimento
de cada um dos itens anteriores.
3) O aluno deverá escolher cada um dos indicadores econômicos,
demográficos e sociais e descrevê-los.
4) É o índice criado para medir o grau de acesso da população aos
benefícios obtidos pelo crescimento econômico.
10

Sistema Financeiro Nacional


e mercado de capitais
Ao final da leitura deste capítulo, você deverá ser capaz de descrever a estrutura
básica do Sistema Financeiro Nacional, diferenciar o subsistema normativo do
subsistema normativo e compreender o funcionamento do mercado de capitais
e da Bolsa de Valores. Todos esses temas serão abordados a seguir.

10.1 Sistema Financeiro Nacional (SFN)


O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é de tal importância que a sua existência
e atribuições estão contempladas pela Constituição Federal de 1988. O art.
192 diz2: “O Sistema Financeiro Nacional, estruturado de forma a promover o
desenvolvimento equilibrado do país e a servir aos interesses da coletividade, será
regulado em lei complementar [...]”. O SFN está estruturado em dois subsistemas:
um “normativo” e outro “de intermediação”. A seguir eles serão descritos segundo
os autores Mellagi Filho e Ishikawa (2003, p.116) e Fortuna (2003, p.18).

|| 2 O art. 192 da Constituição Federal de 1988 pode ser encontrado em: http://www.dji.com.br/
constituicao_federal/cf192.htm.
122 Sistema Financeiro Nacional e mercado de capitais

O subsistema normativo
É constituído pelas autoridades monetárias vinculadas ao Conselho
Monetário Nacional, que se regulamentam através da normalização do
funcionamento do SFN, de acordo com a política monetária do governo. Fazem
parte do subsistema normativo: Conselho Monetário Nacional, Banco Central
e Comissão de Valores Mobiliários.

Conselho Monetário Nacional (CMN)


Órgão máximo do SFN, sua responsabilidade é a elaboração da política
monetária do Brasil e possui as seguintes atribuições:
• adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da
economia nacional e ao seu processo de desenvolvimento;
• regular o valor interno da moeda, prevenindo ou corrigindo surtos
inflacionários ou deflacionários de origem interna ou externa,
depressões econômicas e outros desequilíbrios oriundos de fenômenos
conjunturais;
• regular o valor externo da moeda e o equilíbrio no balanço de
pagamentos do país, tendo em vista a melhor utilização dos recursos
em moeda estrangeira;
• orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras públicas
e privadas, tendo em vista propiciar, nas diferentes regiões do país,
condições favoráveis ao desenvolvimento harmônico da economia
nacional;
• propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos
financeiros, com vistas à maior eficiência do sistema de pagamentos e
de mobilização de recursos;
• zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras;
• coordenar as políticas monetárias, de crédito, orçamentária, fiscal e da
dívida pública, interna e externa.
Sistema Financeiro Nacional e mercado de capitais 123

Banco Central
Autarquia do governo (segundo o dicionário Aurélio: “entidade estatal
autônoma, com patrimônio e receita próprios, criada por lei para executar, de
forma descentralizada, atividades típicas da administração pública”) criada em
31/12/1964 com a promulgação da Lei nº 4.595. O Banco Central é o órgão
fiscalizador e executor da política monetária que estabelece o elo entre o governo
(CMN) e o mercado, zelando pelo perfeito funcionamento das instituições
integrantes do SFN. Das suas atribuições podemos citar:
• emissão monetária conforme autorização do Conselho Monetário
Nacional;
• controlar e regular o meio circulante do Brasil;
• receber e controlar os depósitos compulsórios dos bancos comerciais;
• fiscalizar as instituições financeiras e administradoras de consórcios;
• realizar as operações de redesconto dos bancos comerciais;
• executar a política monetária definida pelo CMN;
• controlar e administrar o fluxo de capitais estrangeiros no Brasil.
• é o banco dos bancos;
• banqueiro do governo.

Comissão de Valores Mobiliários (CVM)


É uma autarquia federal criada pela Lei nº 6.385/76, tendo como
atribuições:
• estimular a aplicação em poupança no mercado financeiro;
• assegurar a perfeita operacionalização da Bolsa de Valores e demais
instituições financeiras;
• proteger os titulares de valores mobiliários contra emissões irregulares
que venham a prejudicar o mercado financeiro;
• fiscalizar a emissão, o registro, a distribuição e a negociação de títulos
emitidos pelas sociedades anônimas de capital aberto.
124 Sistema Financeiro Nacional e mercado de capitais

O subsistema de intermediação
É constituído pelas instituições financeiras auxiliares que dão forma ao
funcionamento do SFN e das operações financeiras das instituições públicas e
privadas, pessoas físicas ou jurídicas de um sistema econômico. As instituições
que compõem o subsistema de intermediação são: bancos comerciais, Banco
do Brasil, Caixas Econômicas, Banco de Desenvolvimento, cooperativas de
crédito, bancos de investimentos, sociedades de arrendamentos mercantis,
Sistema Financeiro da Habitação, bancos múltiplos, Bolsa de Valores e sociedades
seguradoras, descritas a seguir segundo os autores Mellagi Filho e Ishikawa
(2003, p.123) e Fortuna (2003, p.24).

Bancos comerciais
As operações básicas dos bancos comerciais são: receber depósitos e conceder
empréstimos nas suas funções comerciais. São as instituições financeiras que
mais se aproximam das necessidades do dia a dia das unidades produtivas de um
sistema econômico. Essa aproximação ocorre através de produtos e serviços por
elas disponibilizados, como desconto de títulos, duplicatas, cobranças, abertura
de contas correntes e muitas outras atividades necessárias.

Banco do Brasil
O Banco do Brasil desenvolve atividades de banco comercial, além de
ser o executor da política de crédito rural e industrial do Governo Federal
e administrar a câmara de compensação de cheques nacional, bem como o
comércio exterior do Brasil.

Caixas Econômicas
Assim como o Banco do Brasil e os bancos comerciais, as Caixas Econômicas
executam atividades dos bancos comerciais, possuem a função principal de
atendimento às pessoas físicas e têm atribuição de:
Sistema Financeiro Nacional e mercado de capitais 125

• captar economias populares sob a garantia da União;


• conceder empréstimos e financiamentos de caráter assistencial;
• operar no setor de habitação como sociedade de crédito imobiliário e
principal agente do sistema financeiro da habitação.

Bancos de desenvolvimento
São instituições financeiras controladas pelos governos estaduais que utilizam
repasses públicos para concessão de créditos para médio e longo prazos, com o
objetivo de promover o fomento às atividades econômicas no estado ou região
em que estão instalados. Atualmente, são quatro:
• Banco do Nordeste do Brasil (BNB);
• Banco da Amazônia (Basa);
• Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE);
• Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Este último, em razão da sua abrangência nacional, tem sido o mais


importante na atribuição de fomento ao desenvolvimento. Criado em 1952, é
uma empresa pública com responsabilidade de crédito no longo prazo, tendo
como atribuições:
• impulsionar o desenvolvimento econômico e social do Brasil;
• fortalecer o setor empresarial do país;
• atenuar os desequilíbrios regionais, através da criação de novos polos
de produção;
• promover o desenvolvimento integrado das atividades agrícolas,
industriais e serviços;
• estimular o crescimento e a diversificação das exportações.

Cooperativas de crédito
Basicamente, as cooperativas de crédito atuam no setor primário da economia
e têm a função de auxiliar, via concessão de crédito, protegendo os cooperados nas
126 Sistema Financeiro Nacional e mercado de capitais

suas atividades de produção, safra, comercialização e escoamento da produção.


São estruturadas sobre a mutualidade dos cooperados que as constituem.

Bancos de investimento
Os bancos de investimento são instituições com o objetivo de captar
depósitos a prazo e são especializados em operações financeiras de médio e
longo prazos.

Sociedades de arrendamento mercantil (leasing)


São sociedades de arrendamento mercantil ou locações com o direito
de o contratante arrematar o bem no final do período contratado pelo seu
valor residual. A vantagem para o mercado de operar com arrendamento é
tributária, visto que pode ser lançado como despesa na contabilidade das pessoas
jurídicas.

Sistema Financeiro da Habitação (SFH)


Foi criado com o objetivo de promover o desenvolvimento da construção de
habitações no Brasil, na década de 1960, junto do Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço (FGTS) e do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). O
fomento do desenvolvimento da habitação tinha como fonte de financiamento
principal o FGTS e SBPE, e, após a extinção do Banco Nacional da Habitação,
a gestão desse sistema foi transferida para a Caixa Econômica Federal.

Bancos múltiplos
Com a resolução nº 1524/88 do Banco Central, permitiu-se que bancos
comerciais, de investimento, sociedades de crédito imobiliário e outros
constituam uma única empresa através do processo de fusão.
Sistema Financeiro Nacional e mercado de capitais 127

Sociedades seguradoras
São instituições financeiras que possuem a finalidade de manter o
funcionamento das unidades produtivas diante das adversidades que possam
ocorrer. Sua fonte de financiamento é a mutualidade dos agentes econômicos
diante de cálculos atuariais, durante a contratação do seguro.

10.2 O mercado de capitais e a Bolsa de Valores


Nas sociedades capitalistas, o capital é escasso, o que fundamenta a gestão
econômica administrar escassos recursos para atender necessidades ilimitadas.
Diante dessa realidade, a escassez de recursos passa a ser um obstáculo ao
crescimento das empresas.
A expansão da capacidade de uma unidade produtiva pode ocorrer de várias
formas, entre as quais podem ser citadas:
• utilizar recursos financeiros próprios gerados pela própria atividade
operacional;
• utilizar recursos de terceiros obtidos no sistema financeiro, seja ele
público ou privado;
• obter recursos através da venda de parte das empresas cujo montante
é reaplicado na própria atividade.

Das alternativas citadas, a terceira é a que apresenta menor risco ao


empresário, devido ao fato de não haver a necessidade de pagamento futuro
da dívida, uma vez que a contrapartida desse recurso financeiro recebido foi a
entrega de parte da empresa.
A expansão da capacidade produtiva tem como resultado o aumento do
produto interno bruto de uma economia, que é indispensável para o crescimento
e o desenvolvimento econômico de um país. Atualmente, a venda fracionada
das empresas constitui uma importante fonte de recursos. Esse fracionamento
é possível devido à subdivisão do capital total de uma empresa em partes iguais,
que denominaremos ações, sendo conhecida como abertura de capital; em outras
palavras, significa que o(s) proprietário(s) de uma empresa fracionou(aram) seu
patrimônio e abriu(iram) parte ou total para venda no mercado.
128 Sistema Financeiro Nacional e mercado de capitais

Esse mercado é denominado mercado de capitais e se constitui por um


complexo inter-relacionamento de instituições subordinadas, direta ou
indiretamente, ao Conselho Monetário Nacional, que darão liquidez e facilidades
para a comercialização dos títulos que estão no mercado.
A abertura de capital, com oferta no mercado de parte das empresas e
compradores interessados em obtê-las, leva-nos a avaliar sua importância na
economia como um todo e podemos citar:
a. o primeiro aspecto a considerar é a captação de recursos de terceiros,
para investir nas empresas, sem a necessidade de pagamento de juros,
e sim a venda de parte da sua parte, que, invariavelmente, é minoritária
(49% ou menos);
b. o segundo é a possibilidade de disponibilizar no mercado acesso dos
poupadores à participação nos resultados das empresas com ações
lançadas no mercado;
c. dentre outros, citamos, ainda, a possibilidade de canalizar recursos
de poupança (investidores) do mercado financeiro para a atividade
produtiva da economia.

Obviamente, o sistema econômico que possuir saudável, bem estruturado


e confiável mercado de capitais pode ser considerado como um indicador de
desenvolvimento.

Bolsa de Valores
A Bolsa de Valores constitui-se em uma sociedade civil criada para facilitar a
convergência entre vendedores e compradores de ações. Essa expressão originou-
se da cidade belga de Brujas, onde se reuniam comerciantes de todas as partes
da Europa, na casa de Van der Burse, que possuía três bolsas no seu brasão, o
que originou essa expressão como mercado de negociação dessas ações.
Para o caso brasileiro, cada estado possuía a sua bolsa de valores.
Posteriormente, com o objetivo de centralizar essas operações, elas foram
extintas, sendo, desde então, todas as ações negociadas, no Brasil, através da
única bolsa existente, a Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (Bovespa).
Sistema Financeiro Nacional e mercado de capitais 129

As negociações das ações podem ocorrer de diversas formas, das quais vamos
citar três (FORTUNA, 2003, p.24).
1. MERCADO À VISTA – É a comercialização que ocorre com o
pagamento das ações compradas no ato da operação.
2. MERCADO A TERMO – É a comercialização de ações com a
modalidade de pagamento em prazo futuro, conforme acordo entre
comprador e vendedor e desde que se respeite a legislação vigente,
podendo esse prazo ser antecipado se acordado entre as partes.
3. MERCADO DE OPÇÕES – Essa modalidade de comercialização
corresponde a alternativas de venda ou de compra de uma promessa,
antes do tempo definido entre as partes.

Ponto final
Neste capítulo, tivemos a oportunidade de conhecer o funcionamento
do sistema financeiro e o mercado de capitais, e a sua relevante importância
para o funcionamento de uma economia, com seus agentes intermediários e
as alternativas de captação de recursos para incremento da produção e suas
consequências.

Indicações culturais
Recomendamos o site do Banco Central do Brasil http://www.bc.gov.br, que
nos informará todas as alterações na legislação. Há outros sites interessantes,
como o da Comissão de Valores Mobiliários (http://www.cvm.gov.br) e o da
Bolsa de Valores de São Paulo (http://www.bovespa.com.br), que abrangem
muitos outros temas referentes ao assunto aqui abordado.

Atividades
1) Descreva o subsistema normativo e o subsistema operativo do Sistema
Financeiro Nacional.
130 Sistema Financeiro Nacional e mercado de capitais

2) Nas Bolsas de Valores, as ações podem ser comercializadas de diferentes


formas, e entre elas encontramos o mercado à vista e o mercado a termo.
Diferencie-os.
3) Quais são as atribuições básicas do Conselho Monetário Nacional?
4) Qual a importância de um mercado de capitais saudável para a economia
de um país?

Gabarito:
1) O subsistema normativo é aquele que estabelece as normas para o
funcionamento do Sistema Financeiro Nacional bem como a sua
fiscalização.
O subsistema operativo é aquele que permite a operacionalização das
operações pertinentes a cada necessidade do sistema econômico.
2) A principal diferença entre o mercado à vista e o mercado a termo está
no prazo de pagamento da compra de ações.
3) As atribuições são:
- Adaptar o volume dos meios de pagamentos;
- regular o valor interno da moeda;
- regular o valor externo da moeda;
- orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras;
- propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos
financeiros;
- zelar pela liquidez e a solvência das instituições financeiras;
- coordenar a política monetária.
4) Permite que os recursos financeiros sejam investidos dentro do país sem
a desconfiança na economia, ou seja, propicia a captação de recursos
estrangeiros para serem investidos na atividade econômica do país.
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