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Djalmaquandooamor Veioaterra PDF
Djalmaquandooamor Veioaterra PDF
DJALMA ARGOLO
© Copyright 1997
Fundação Lar Harmonia
Rua Dep. Paulo Jackson, 560 – Piatã
41650-020 – Salvador – Bahia – Brasil
distribuidora@larharmonia.org.br
(71) 3375-1570 e 3286-7796
Impresso no Brasil
ISBN 978-85-86492-23-5
Argollo, Djalma.
Quando o amor veio à terra. – Salvador:
Fundação Lar Harmonia, 2007
224 p.
CDU – 133.7
CDD – 133.9
2. A Anunciação ..................................................... 35
6. A Circuncisão ..................................................... 65
8. A Despedida ....................................................... 77
Prefácio
Jesus é o maior fenômeno da História. Com menos
de três anos de atividade missionária, sua influência foi,
e continua sendo, decisiva no desenvolvimento social da
humanidade. Alguns espíritas parecem desconhecer que
é por causa dele que a humanidade passou por radical
inflexão evolucionária em seu processo histórico.
Historiadores imaginam que a hegemonia de Roma foi
destruída pelas invasões bárbaras, mas se esquecem que,
na sua maioria, os bárbaros já haviam se convertido ao
Cristianismo por causa dos esforços missionários de
hereges, como os novacianos, arianos e outros.
Mais ainda, foi Jesus quem desencadeou o único
movimento de renovação social que tem direito ao título
de revolução em toda a história da humanidade. Todos os
movimentos que os historiadores louvam em seus tratados
foram, até hoje, meras maquiagens sociais que mudaram
apenas aspectos superficiais da sociedade sem atingir o
ponto fundamental – o Homem. Por isso, ainda não se
conseguiu uma sociedade justa em todos os sentidos. Que
o homem deve ser o objeto principal de qualquer
movimento transformador, é uma derivação lógica da
própria definição durkheimiana da sociedade como sendo
a síntese dos indivíduos que a compõem. Ora, observando-
se os problemas da sociedade humana contemporânea,
{ {
9
{ {
10
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2 ed. 1860. Tradução Djalma Motta
Argollo. Salvador-Bahia: Fundação Lar Harmonia, 2007. p.421-2.
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13
3 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2 ed. 1860. Tradução Djalma Motta
Argollo. Salvador-Bahia: Fundação Lar Harmonia, 2007. p. 366. (Questão 913).
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4 Mt 26, 52.mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
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18
7 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2 ed. 1860. Tradução Djalma Motta
Argollo. Salvador-Bahia: Fundação Lar Harmonia, 2007. p.367 (Questão 917).
8 Negar esse caráter da Doutrina Espírita, sob o argumento de que é muita
pretensão, é de um simplismo tão grande que não merece maior atenção.
9 Mt 13, 33.
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13 KARDEC, Allan. O espiritismo em sua mais simples expressão. In: __. Iniciação
espírita. Tradução Joaquim da Silva Sampaio Lobo e Cairbar Schutel. 12 ed.
Sobradinho-DF: Edicel, 1990. p.27-8.
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15 KARDEC, Allan. O que é o espiritismo. 12ed. Sobradinho – DF: Edicel, 1990, p. 100.
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16 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 2 ed. 1860. Tradução Djalma Motta
Argollo. Salvador-Bahia: Fundação Lar Harmonia, 2007. p.328. (Questão 799).
17 Ibid., p.273 (Questão 625).
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27
18 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 2ed. 1860. Tradução Djalma Motta
Argollo. Salvador-Bahia: Fundação Lar Harmonia, 2007, p. 273 (Comentário
à Questão 625).
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29
{ 1
A Visão de Zacarias
Zacarias 19
, de pé no Hekal 20, em frente ao
Debir21, diante do Altar dos Perfumes, coberto de lâminas
de ouro batido, aprontara-se para derramar a taça de ouro
com o perfume que a família Abtinai, possuidora do
monopólio de produção e fornecimento, preparava com
catorze substâncias aromáticas escolhidas e manipuladas
de acordo com métodos tradicionais. Ele estava sozinho.
Os demais sacerdotes já se haviam retirado para o
vestíbulo, tomando posição diante do Altar dos Sacrifícios,
rezando a Deus pela vinda do Messias, junto com o povo
que se aglomerava nos pátios e adros do Templo de
Jerusalém, cuja construção fora iniciada por Herodes, o
Grande, em 19 a.C., e que só terminaria em 66 d.C., às
vésperas do levante contra o domínio romano e de sua
conseqüente destruição.
Durante o reinado de Davi, os sacerdotes foram
divididos em vinte e quatro classes, dentre os que eram
descendentes de dois filhos de Aarão, Eleazar e Itamar, já
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31
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32
23 Deus é plenitude.
24 Salmos 119, 137.
25 Em hebraico Yohanan ou Yehohanan: Iahweh é propício
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33
26 Lc 1, 13-17.
27 Lc 1, 18.
28 Homem de Deus ou Deus mostrou-se forte.
29 Lc 1, 19-25.
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{ 2
A Anunciação 30
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34 História das origens do cristianismo. Porto: Lelo, s.d., p. 25. Vida de Jesus,
Livro 1.
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37 Lc 1, 28.
38 Lc 1, 30-33.
39 Lc 1, 34.
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39
40 Lc 1, 35.
41 Lc 1, 36-38.
{ {
40
{ 3
Visitando Isabel
Maria estava perplexa com o que acabara de
acontecer. Fora tudo tão repentino e extraordinário. Sentia,
bem no imo d’alma, que era absolutamente real o que
vira e ouvira. Todavia, a razão lhe colocava algumas
questões ponderosas: ela, apesar do compromisso com
José, não havia convivido maritalmente com ele, o que
só aconteceria dentro de dois meses; uma gravidez trans-
cendente? Seria tal coisa possível? No mesmo instante,
como se uma voz lhe falasse diretamente no íntimo,
recordou-se da história de Sara, a mulher de Abraão, o
patriarca maior do seu povo. Ela era muito idosa e já havia
perdido o costume das mulheres. Mensageiros do Senhor
disseram a Abraão que ela lhe daria um filho, e o fato se
cumpriu dando origem ao povo Hebreu. Aliás, como povo
escolhido por Deus, Ele nunca deixara de participar de
sua história com prêmios e castigos. Sofriam então o
castigo da dominação romana, como outrora a de outros
povos.
Mas contrapôs-se consigo mesma. Sara tinha
marido, e ela não. O Mensageiro de Deus lhe revelara
que Isabel estava grávida, e que isto serviria de sinal
comprobatório do que dissera. Como saber se era real?
Não havia um meio de, com ela, comunicar-se, pois vivia
em Aim Karim, nas bordas do Deserto da Judéia. Só lhe
{ {
41
{ {
42
42 Lc 1, 42-45.
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43
43 Lc 1, 46-55.
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44
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45
44 Lc 1, 59-63.
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46
e na sombra da morte,
para guiar nossos passos
no caminho da paz 45.
45 Lc 1, 67-79.
{ {
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{ 4
Momento Difícil 46
Maria chegou a Nazaré uma semana antes do
dia marcado para a consolidação dos laços esponsalícios
com José. Todos a receberam com as naturais efusões de
júbilo, após o período de ausência. José, dentre todos, era
o mais alegre, pois o seu afeto pela Rosa Mística era real
e profundo.
Naquela noite, a pedido de Maria, os dois saíram a
conversar, sentando-se em algumas pedras que ficavam à
margem do monte em que a cidade se situava, faceando
uma queda abrupta, de onde, um dia, os nazarenos
buscariam despencar Jesus por lhes ter revelado ser o
Messias, de acordo com os textos do profeta Isaías47.
O coração da jovem batia um tanto descompassado,
apesar de, nas circunstâncias, manter uma tranqüilidade
inusitada. Desde a volta de Aim Karim, vivera pensando
naquele momento. Não podia imaginar como seria a
reação do noivo ao tomar conhecimento da sua gravidez;
não obstante, seria impossível retardar o assunto, pois o
ventre começava a dilatar. Em Israel, esse era um assunto
profundamente grave, e a lei previa pena de morte por
apedrejamento para a mulher infiel. Ela, contudo, trazia a
consciência em paz pela realidade de sua inocência. A
46 Sobre o conteúdo deste capítulo, ver nota 31.
47 Ver Lc 4, 14-30.
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51
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51 Mt 1, 24.
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{ 5
“Nasceu-vos
Hoje um Salvador” 52
52 Lc 2, 11.
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55
53 Mt 5, 14.
54 Mt 5, 16.
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56 Lc 2, 8-20.
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{ 6
A Circuncisão
Naquele dia, o Templo estava praticamente vazio.
Poucas pessoas conversavam no pórtico de Salomão e
somente dois sacrifícios tinham sido solicitados aos sacer-
dotes; mesmo assim só se realizariam no fim da tarde.
Quando José e Maria chegaram, Jesus dormia
tranqüilamente nos braços dela. Atraíram poucos olhares
curiosos, até mesmo porque o casal de pombas que adqui-
riram no pórtico denunciava que não eram pessoas ricas.
Quando atravessavam o átrio dos gentios em direção
ao local onde se praticava a circuncisão, foram abordados
por um homem idoso, cujos olhos desfocados como se
contemplassem paisagens ou acontecimentos invisíveis
apresentavam o estado alterado de consciência que carac-
teriza o transe mediúnico. Estendendo as mãos, tomou a
criança dos braços da mãe, que, surpresa, não esboçou
nenhuma reação.
Com lágrimas a escorrer pela face emurchecida pelos
anos, ele levantou os olhos para o alto, orando:
Agora, Senhor, despede em paz o teu servo, segundo
a tua palavra, pois os meus olhos viram a tua salva-
ção, a qual tu preparaste diante da face de todos os
povos: luz para revelação aos gentios e para a glória
do teu povo de Israel.57
57 Lc 2, 29-32.
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65
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66
58 Dt 18, 15-19.
59 Lc 2, 34-35.
{ {
67
60 Lc 2, 36-37.
{ {
68
{ 7
Entre os Doutores
Sob a lua cheia daquele mês de Nisã, José, sentado
no banco rústico, fitava o horizonte distante para os lados
do Genesaré, onde diminutos, fugazes, cambiantes e
esparsos pontos luminosos indicavam a localização de
moradias nos altos platôs da Gaulonítida. De dentro da
casa, ampla, mas simples, vinha aquela mistura de apelos,
gritos, risadas e correrias das crianças menores e, a interva-
los, a voz de Maria ralhando com um e com outro, bus-
cando acabar com a confusão doméstica que se formava
no instante em que era dada a ordem de irem todos para a
cama. Seus lábios esboçaram um sorriso de satisfação.
Deus o abençoara com uma prole numerosa e sadia, com
uma mulher bonita, virtuosa e trabalhadora. Nisso, a bela
voz do seu filho mais velho se fez ouvir, chamando a mãe
para lhe dar qualquer coisa.
Como se fora movida por um impulso mágico, sua
memória fê-lo recordar-se dos acontecimentos da viagem
que fizera, anos atrás, a Jerusalém, com sua mulher e seus
filhos para celebrar a Páscoa, como fazia todos os anos, e
comemorar o fato do seu primogênito ter se tornado um
Bar-Mitzvá 61. Ele, como qualquer pai judeu, ficara
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65 Salmo 112.
66 O haroset era feito com figos, tâmaras, uvas passas, maçãs e amêndoas,
temperados com vinagre.
67 Salmos 113-117.
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{ 8
A Despedida
A aurora surgia no horizonte pelos lados do Monte
Carmelo, fazendo esmaecer o brilho das estrelas na
promessa ridente de um novo dia primaveril naquele final
do mês de Adar.
Pelo Caminho do Mar, pelo Caminho Real, pelo
Caminho do Norte, pelo Caminho de Damasco e demais
estradas da Palestina, as caravanas já haviam recomeçado
seu andar lento, cujo ritmo era marcado pelo caminhar
dos animais carregados, na eterna faina de atender às
necessidades reais ou imaginárias dos seus usuários.
Nazaré, engastada na vertente da colina onde
repousa serena e bucólica, também desperta para os
labores de um novo dia. Suas casas simples e humildes
deixam escapar a dissonância onomatopaica dos seus
habitantes a se prepararem para as tarefas monotonamente
recorrentes do cotidiano.
A brisa fresca da manhã transporta a umidade do
orvalho noturno que, à semelhança de pingentes de cristal,
perolam a superfície das folhas, flores e ervas, e ativam o
cheiro forte de terra umedecida.
À distância, escuta-se o balido das ovelhas como a
chamar seus pastores para conduzi-las às regiões mais
baixas, onde as esperam os campos cobertos de gramíneas
variadas.
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{ 9
Elias Retorna
C
orria o ano de 28. Deitado sobre a pele de camelo
estendida no chão, que lhe servia de cama, João se
preparava para começar sua rotina diária, repetida há quase
tantos anos quanto sua própria idade, que era no momento
trinta e cinco anos. Sim, começara os exercícios espiri-
tuais, jejum, oração, estudo das Sagradas Escrituras e
trabalho árduo, aos seis anos de idade quando o Pai o
colocara na comunidade ascética dos Filhos da Luz, nas
imediações do Mar Morto.
Antes de se levantar para realizar as abluções rituais,
já recitara o Schemá Yitzrael – Ouve, ó Israel. O Senhor
teu Deus é Um só. Amarás o Senhor teu Deus de todo o
teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente
–, obrigação de todo judeu do sexo masculino, pela manhã
e pela tarde. Às mulheres, era proibido, sob severas
ameaças, fazê-lo.
Antes de se erguer para executar as obrigações
habituais, o filho de Zacarias meditava no sonho que tivera
aquela noite. Vira-se como o profeta Elias, a exorar fogo
do céu para consumir a vítima colocada sobre um
improvisado altar de pedra, sobre o qual ainda derramara
água para tornar o feito mais notável. Ainda escutava os
gritos de assombro e admiração da multidão, bem como
as súplicas de misericórdia e piedade dos sacerdotes de
Baal, vencidos, que tinham suas cabeças cortadas nas
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70 Lc 1, 76-77.
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{ 10
O Início da Nova Era
João havia terminado de aplicar o ritual da imersão
em um grupo de novos adeptos, quando uma sensação
inusitada o instou a se voltar e olhar para a margem, onde
a multidão se demorava expectante. Seus olhos pousaram
sobre um homem, cuja figura o destacava da aglomeração.
Era alto, tinha cabelos longos – denunciando o Nazireu,
olhos castanho-claros como os cabelos e a barba, que,
bem delineada, terminava em duas pontas sob o mento.
Sua pele amorenada pela exposição constante ao sol da
Palestina deixava entrever o azul das veias sob a epiderme.
Todo o seu ser exsudava tal magnetismo pessoal que as
pessoas em torno se afastaram, reverentes e curiosas.
Assim que os seus olhos se encontraram, o desco-
nhecido tirou a túnica e a capa, ficando semi-desnudo, e
se dirigiu ao encontro do Batista na clara intenção de ser
por ele mergulhado nas águas do Jordão. No mesmo
momento, o Precursor ouviu, mediunicamente, a voz de
seu pai, que lhe sussurrava aos ouvidos: Eis o Enviado do
Senhor.
Quando Jesus chegou junto a ele, João inclinou
levemente a cabeça, baixando os olhos, e disse:
– Por que vens a mim para a imersão? Ela é um
símbolo para os que estão manchados pelos erros. Tu,
porém, és puro. Eu é que deveria ser mergulhado por ti,
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73 Jo 1,
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74 Jo 1, 43.
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76 Jo 1, 43.
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77 Jo 1, 45.
78 Jo 1, 46.
79 Jo 1, 46.
80 Jo 1, 47.
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81 Jo 1, 48.
82 Jo 1, 48.
83 Jo 1, 49.
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Eu o Sou...”
O Sol, atingindo o zênite, derramava sobre a
paisagem a ardência dos seus raios inclementes.
Fatigado da viagem que os levava de volta para a
Galiléia, Jesus decidira parar ali, no poço que a tradição
atribuía ao patriarca Jacó, em pleno coração do território
samaritano.
O Mestre preferira o caminho mais rápido, em vez
do normalmente usado, que passava pela Transjordânia e
evitava contatos com os impuros samaritanos, porque
tinha pressa em chegar à região do Lago de Genesaré.
Quanto mais se afastasse, juntamente com seus
discípulos, das proximidades do local onde João, O Que
Mergulha, exercia o seu mister de despertar a consciência
religiosa do Povo de Israel, melhor. As imperfeições
humanas tendentes a criar exclusivismos doentios em
torno de suas crenças e ídolos ameaçavam a harmonia do
trabalho de difusão do Reino de Deus entre ele e o seu
precursor.
É claro que os dois tinham plena consciência das
respectivas funções, mas seus seguidores principiavam
uma esdrúxula disputa sobre a primazia dos seus
respectivos líderes. A cúpula dominante, através do partido
dos fariseus, tentava aproveitar-se desses sentimentos
negativos para intrigar, insuflando a discórdia e a cizânia,
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84 Jo 3, 26-32.
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85 Jo 4, 7.
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86 Jo 4, 9.
87 Jo 4, 10.
88 Jo 4, 11-12.
89 Jo 4, 13-14.
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90 Jo 4, 15.
91 Jo 4, 16.
92 Jo 4, 17.
93 Jo 4, 17-18.
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94 Jo 4, 19-20.
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99 Jo 4, 27.
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O Dia Inesquecível
Aquele foi o dia em que tudo começou.
Estava em meu sítio recém-adquirido, perto do lago
que os Judeus chamam presunçosamente de Mar da
Galiléia. Localizava-se perto da pequena enseada de El-
Tabga, a cerca de um tiro de flecha de pequena aglome-
ração de pescadores, dos quais comprávamos os saborosos
peixes fáceis de apanhar nas águas piscosas do belo lago,
cuja forma lembra uma cítara. Dizem os entendidos na
história dos Judeus que, nos tempos heróicos dos seus
ancestrais, seu nome era justamente esse, que na lingua-
gem deles se chama Quineret.
Meu nome é Marco Túlio Scipião e, como se pode
ver, como se isto tivesse valor, descendo de linhagens
ilustres do patriciado romano. A verdade é que, desde esse
dia sobre o qual escrevo agora, considero essas coisas,
bem como tudo aquilo de que meus conterrâneos se
orgulham, como lixo, usando a expressão preferida do
meu irmão e concidadão de nascimento Paulo, judeu da
cidade de Tarso, a importante cidade da Cilícia, o qual,
ontem, foi juntar-se ao nosso querido Mestre nas Regiões
da Eterna Luz. Dentre em breve, espero que não demore
muito, seguirei o mesmo caminho, dado o duvidoso
privilégio, que me é conferido pela cidadania romana, de
morrer pelo gládio. Mas, como costumava afirmar aquele
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101 Mt 5, 3-12.
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{ 13
Fenômenos Notáveis
ONilo azul corria mansamente, como há milhares
de anos, criando, às suas margens, uma estreita faixa de
terra fértil roubada à aridez do deserto que se estendia a
uma distância pequena de suas margens. No terraço
ensombrado de sua residência luxuosa, onde estava
prostrado num coxim forrado de tecido caro e recheado
de penas, que o tornavam macio, Âmen-Ra agonizava
lentamente, vitimado por insidiosa moléstia que lhe
devorava as entranhas aos poucos, provocando dores
agudas e terríveis, mal anestesiadas pelas infusões dos
médicos que enxameavam em sua casa, aproveitando a
oportunidade de cuidar de um doente tão rico e generoso.
Sabendo-se perto de ser levado pelos embalsamado-
res a fim de ser preparado para a caminhada para o Oeste,
expulsara os médicos à sua volta, fazendo-se transportar
para o terraço a fim de ver, pela última vez, com os olhos
físicos, a silhueta do Deus Benfeitor e suas águas brilhan-
tes de sol.
O neto querido, que nunca o abandonava, sentava-
se rente, segurando-lhe a mão emurchecida e fria.
– Seneribe, amado neto, estou sendo chamado ao
tribunal da eternidade a fim de prestar contas dos atos da
minha vida...
– Não fale assim, avô. Replicou o moço, interrom-
pendo o ancião com um gesto de ternura e os olhos aflitos.
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121
102 Mc 2, 5.
103 Mc 2, 8-9.
104 Mc 2, 10-11.
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105 Mc 5, 41.
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{ 14
Resgate Interrompido
Artabanes despertou numa paisagem diferente,
repleta de névoa estranha. Adivinhava-se a luz do Sol pela
difusa claridade que saturava o ambiente. Perto dele, uma
árvore mirrada, quase sem folhas, estendia galhos secos
e crestados em direção aos céus, ou melhor, onde deveria
sê-lo, pois não se podia enxergar uma réstia do azul cerúleo
uma vez que a paisagem em volta cobria-se com a densa
e mal cheirosa neblina, um extenso e contínuo véu de
nuvens.
Olhando-se, percebeu-se cheio de cortes, por onde
manava sangue espesso e abundante. No mesmo momen-
to, a memória se abriu, e tudo lhe voltou de jato à lembran-
ça, enquanto uma onda de dor percorria-lhe todo o corpo,
fazendo-o rebolcar-se pelo chão lamacento. Sim, fora
vítima da traição pérfida de Fasate, o amigo em quem
depositava toda a confiança. Via, ainda, o falso a se encos-
tar contra a parede de um muro na rua dos tecelões, na
parte comercial de Susa, a magnífica capital do Império
Persa, enquanto ele era atacado pela súcia de malfeitores.
Ainda se ouvia gritando o nome do amigo, pedindo
socorro. Como oficial de Dario, rei dos Persas, era acostu-
mado à luta, pois fora arduamente treinado para o combate,
e já participara de várias missões em satrápias diversas,
principalmente nas fronteiras do Império. Certamente, se
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108 Mc 5, 1-20.
{ {
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{ 15
Histórias que Transformam
A lua cheia envolvia todo o Oásis em prata e,
mais adiante, sua luz se refletia, aqui e ali, em pequeninos
cristais, misturados com a areia que se amontoava em
simétricas dunas construídas pelos ventos.
As tendas armadas num hemiciclo, os camelos um
pouco distantes, os servos a se movimentarem, atendendo
seus serviços, formavam a babélica mistura de sons e
movimentos, dando um colorido especial à cena.
Após a refeição, os negociantes e viajantes agrega-
dos à caravana espalhavam-se em pequenos grupos ao
redor da fogueira, descansando da caminhada do dia e
espancando o frio do deserto que começava a descer sobre
a ilha de fertilidade, em meio ao mar de areia.
Um pouco isolado, um homem de meia idade lia
um pergaminho com muito interesse. Aproximou-se dele,
então, um moço, no auge dos seus trinta anos, dizendo:
– Tarik, o sábio, aumenta o seu saber!
– A cultura vem dos livros, mas o saber da vida,
amigo Marued.
– Mais uma de tuas frases, que é alimento para a
mente. Mas, dize-me Tarik, o que lês com tão grande
interesse?
– São umas anotações que fiz das lições que ouvi
de um Mestre da Sabedoria, junto com outras que copiei.
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Alimentando
Almas e Corpos
S
imão Barjonas estava sentado num banco rústico
em casa de Ananias, situada no bairro dos vendedores de
azeite, na cidade de Damasco. Desde que chegara à cidade
milenar, fugindo da perseguição de Herodes Agripa I, o
antigo pescador evitava se expor em público, e apenas
uma seleta assembléia de cristãos, ao todo cinco pessoas,
fora os moradores da casa, reuniam-se para escutar-lhe
as lembranças de palavras e episódios da vida de Jesus.
Os olhos do Filho de Betsaida brilhavam ao calor
das lembranças, enquanto a voz lhe traía a emoção
provocada pelas cenas que a memória liberava. Recordo-
me perfeitamente – dizia ele – do dia em que o Mestre
nos reuniu, a nós que fazíamos parte dos doze que ele
escolheu para o acompanharmos em todos os momentos,
e disse que era chegado o momento de partilharmos do
seu trabalho de difusão da Boa Nova do Reino de Deus.
Dividiu-nos em seis grupos de dois, designando para cada
dupla uma região da Terra Santa, onde deveríamos pregar
a Palavra, bem como atender os doentes, curando-os de
seus males. Eu e João ficamos juntos, cabendo-nos a
região ao norte de Jerusalém, compreendendo as cidades
{ {
147
114 Mc 6, 10-11.
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148
{ {
149
115 Mc 6, 31.
116 Mc 6, 34.
{ {
150
117 Mc 6, 35-36.
118 Mc 6, 37.
119 Denário era uma moeda romana, cunhada em prata, que trazia a efígie do
imperador com uma inscrição. Valia uma dracma. Era a diária de um trabalhador
nas vinhas. Quando havia carestia, era esse o valor de uma medida de trigo ou
três de cevada.
120 Mc 6, 37.
121 Mc 6, 38.
122 Mc 6, 38.
123 Mc 6, 40.
{ {
151
124 Mc 6, 41 a 44.
125 Hoje, com o nome de Sarafand, cidade situada na costa do Mediterrâneo, a 15
km de Sidon.
126 Ver 1 Rs, 17.
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153
{ 17
Na Calada da Noite
L
ázaro estava sentado com Jesus no jardim de sua
casa em Betânia. Alguns dos discípulos haviam ficado
em Jerusalém, em casa de Maria Marcos, enquanto os
que tinham vindo até ali com o Mestre já estavam dormin-
do, cansados das andanças do dia. Com o seu anfitrião,
Jesus aguardava um visitante que viria de Jerusalém,
trazido por João, a fim de ter consigo uma entrevista.
A primeira vigília já ia a meio quando chamaram
no portão de entrada. Era João, acompanhado do esperado
visitante.
O recém-chegado foi apresentado como Nicodemos,
membro da facção dos fariseus e de alguma projeção no
Sinédrio. O seu nome, de origem grega, denunciava um
judeu oriundo da diáspora, e de fato seu pai morara em
Éfeso, onde comerciava com vinho, e ali ele havia nascido.
Mais importante do que ser um Vencedor do Povo127 é ser
vencedor de si mesmo, disse Jesus ao visitante, à guisa
de saudação, enquanto lhe dava o ósculo de boas vindas.
Depois de Nicodemos ter recebido o tratamento que
era dispensado aos hóspedes, iniciou a conversa, motivo
da visita: “– Rabi, sabemos que vens da parte de Deus
como um Mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que
fazes se Deus não estiver com ele”128.
127 Nicodemos, em grego, significa Vencedor do Povo.
128 Jo 3, 2.
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{ {
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{ {
157
133 Jo 3, 6-7.
134 Jo 3, 8.
135 Jo 3, 9.
136 Jo 3, 9.
{ {
158
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159
{ 18
Uma Sessão
Espírita no Tabor
137 Ver Encontro com Jesus, Djalma Argollo. Salvador–Bahia: Fundação Lar
Harmonia, 2005.
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141 Mt 17, 9.
142 Mt 17, 10.
143 Mt 17, 11-12.
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{ 19
Expulsão dos
Vendilhões do Templo
C
aio Valério ao seu amigo muito querido Tércio.
Saudações.
Exoro aos deuses muitas felicidades para tua amada
Níobe, que, além da aparência bela das ninfas, possui a
nobreza de Juno, bem como para teus diletos filhos
Ascânio e Pulquéria.
Aproveitando o Correio Imperial, que parte hoje
ainda para Roma, envio-te um ligeiro resumo dos
acontecimentos desde a minha chegada a este território
do nosso Império.
A viagem foi muito agradável. De Óstia até o porto
de Cesaréia Marítima, o mar esteve calmo como um
espelho líquido, coisa bastante incomum nesta época do
ano.
Fiquei hospedado no palácio do Procurador, que
tinha partido para Jerusalém, principal cidade da Judéia,
como sabes.
Dois dias depois, fui conduzido por uma escolta
de legionários até aquela cidade, que fervilhava de gente.
Soube, depois, que eles comemoram várias festas
religiosas, mas esta que encontrei em preparação é a
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171
144 Jo 3, 16.
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{ 20
A Última Semana
As ondas do Mar Egeu, à distância, quebravam-
se na praia em miríades de espumas em recorrência
monótona, enquanto o sol da tarde caminhava lentamente
em direção ao ocaso.
A primavera enfeitava de flores a paisagem, fazendo
a alegria das abelhas, que zumbiam alegremente na faina
de colher o néctar, indispensável para a produção de mel
em suas colméias. Os passarinhos pipilavam por entre os
galhos das árvores frondosas do sítio à beira mar e também
saltitavam nervosos pela grama do solo, perto do grupo
que se sentava em semicírculo debaixo de antigo carvalho
de ampla copa, em cujo tronco se recostava o Apóstolo
João, com seu rosto sereno e olhos mansos. Apesar da
idade avançada, que as rugas acentuadas demonstravam,
sua voz fluía doce e calma, rememorando passagens da
vida do amado Rabi Galileu.
Naquele momento, falava sobre a última semana
do Mestre entre os homens:
Depois que Jesus fez Lázaro sair do sepulcro,
devolvendo-lhe a vida, os principais do Sinédrio se
reuniram em conselho para estudar um meio de se livrarem
dele. Tomando a palavra, Anás disse, conforme me relatou
depois Nicodemos, que era também discípulo, mas de
maneira oculta: “Que faremos? Esse homem realiza
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175
{ {
176
148 Jo 12, 5.
149 Jo 12, 7.
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{ 21
A Traição
Era um sentimento de remorso gigantesco,
indescritível. Judas parecia carregar um vulcão em feroz
erupção na intimidade da consciência. Em aterrador
monoideísmo, a frase se repetia em seu pensamento,
queimando e dilacerando os delicados tecidos mentais:
Matei o Messias! Sou um réprobo sem remissão.
Alucinado, fechava-se à influência dos Espíritos
Amigos que procuravam ajudá-lo, tornando-se um mero
joguete nas mãos de cruéis obsessores, que se divertiam
em lhe aguçar o complexo de culpa, sugerindo-lhe a idéia
nefanda do autocídio. Na verdade, todas as falanges das
trevas vibravam de alegria com a prisão e sofrimentos de
Jesus, para o que muito contribuíram, e inspiravam seus
algozes a serem extremamente cruéis com ele. Seria a
lição definitiva para todos os que ousassem desafiar-lhes
o poder. Exultavam só de imaginar que, com aquela
façanha, estariam perpetuando sua influência sobre a
Humanidade, mantendo indefinidamente seu império
sobre ela. Daquele momento em diante, imaginavam
loucamente, seriam os senhores incontestes do Planeta
Terra para todo o sempre.
Desde que tomaram conhecimento da encarnação
de Jesus, movimentaram-se para eliminá-lo. Herodes foi
o primeiro instrumento de que se utilizaram, sendo co-
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{ 22
Trevas Densas
Era noite alta quando Marued entrou em Jerusalém
pela porta das ovelhas, depois de ter acampado nas
imediações. A cidade, às vésperas da festa tradicional da
Páscoa, estava cheia de pessoas de todas as partes do
mundo, a grande maioria Judeus que vinham comer o
Cordeiro Pascal, que só podia ser preparado na Cidade
Santa. Notou logo que se passava algo diferente; a guarda
estava reforçada, tendo os soldados romanos revistado-o
minuciosamente, inquirindo-o sobre sua procedência e o
que viera fazer. Tudo explicado, deixaram-no passar.
Já dentro dos muros, verificou que havia inusitado
trânsito de pessoas pelas ruas, coisa inabitual àquela hora
da noite. Fez parar um dos passantes, perguntando-lhe o
que estava acontecendo. O homem o olhou intrigado, e
Marued esclareceu:
– Amigo, acabo de chegar e estou estranhando ver
tanta gente na rua a essa hora.
– Acabam de prender o Nazareno, que se diz o
Messias.
A notícia causou surpresa a Marued, que perguntou:
– Jesus de Nazaré?
O judeu o olhou desconfiado:
– És por acaso seu discípulo?
– Não, todavia já ouvi falar dele.
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Replicou Pilatos:
– Porventura sou eu judeu? O teu povo e os principais
sacerdotes entregaram-te a mim; que fizeste?
Respondeu Jesus:
– O meu reino não é deste mundo; se o meu reino
fosse deste mundo, pelejariam os meus servos para
que eu não fosse entregue aos judeus; entretanto, o
meu reino não é daqui.
Perguntou-lhe Pilatos:
– Logo, tu és rei?
Respondeu-lhe Jesus:
– Tu dizes que sou rei. Para isso nasci, e para isso vim
ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo
aquele que é da verdade ouve a minha voz.
Perguntou-lhe Pilatos:
– Que é a verdade?163
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197
164 Barrabás é uma transliteração grega do aramaico Bar Abba, que significa Filho
do Pai. Quanto ao prenome Jesus, aparece em vários manuscritos antigos, tendo
sido retirado depois, na opinião de muitos críticos, por parecer uma blasfêmia
aos olhos dos cristãos posteriores.
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165 Jo 19, 3.
166 Jo 19, 4.
{ {
200
– Cru...ci...fi...ca-o... cru...ci...fi..ca-o...
Agora, o Procurador tinha o rosto crispado de raiva
e, erguendo a mão num gesto de silêncio, esperou que a
multidão se calasse, e disse com a voz transtornada pela
fúria íntima: “– Tomai-o, vós, e o crucificai, porque eu
nenhum crime acho nele” 167.
Apanhados de surpresa, os principais dos sacerdotes
e doutores da lei se entreolhavam espantados, sem saber
o que dizer, pois só os romanos podiam aplicar a pena
capital, com poucas exceções. Se tomassem a justiça nas
suas mãos, sem a chancela do Governador romano,
poderiam ser acusados de iniqüidade, pois o Juiz máximo
declarava a inocência do réu.
Marued, que acompanhava o duelo singular com o
coração opresso oscilando entre a esperança e o receio,
viu, mais uma vez, Asaf, que parecia intermediário de
todas as forças do mal, brandir os punhos cerrados em
direção à sacada e gritar: “– Nós temos uma lei, e, segundo
esta lei, ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus168.
No que foi seguido dos gritos de aprovação dos líderes
religiosos ali aglutinados.
O Procurador se fez lívido. Retirou-se do lugar onde
estava e, aproximando-se de Jesus, falou-lhe nitidamente
desorientado:
– De onde és tu?
Mas Jesus não lhe deu resposta. Disse-lhe, então,
Pilatos:
– Não me respondes? Não sabes que tenho poder para
te soltar e poder para te crucificar?
Respondeu-lhe Jesus:
167 Jo 19, 6.
168 Jo 19, 7.
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{ 23
Madrugada de Luz
Maria de Magdala chegara cedo à frente do
sepulcro. Dos olhos inchados já não escorriam lágrimas.
Seus movimentos se faziam de forma automática, mecâ-
nica, e ela os percebia, bem como ao corpo, como algo
distante que lhe não pertencesse.
Em sua mente, num movimento perpétuo, as
terríveis cenas que culminaram na crucificação se repe-
tiam. A memória reproduzia fielmente todas as particulari-
dades do dantesco episódio. Acompanhara-o, desde o
momento em que o cortejo macabro deixara a Fortaleza
Antonia com um homem carregando a trave horizontal
da cruz. Seu coração quase explodira de dor quando o
vira desfigurado e sangrento pelas sevícias passadas. As
outras mulheres que estavam com ela sofriam da mesma
dor. Tinha vontade de se aproximar, de verberar contra a
situação, de arrebatá-lo daquela situação terrível, mas era
uma simples mulher de uma sociedade em que as mulheres
não tinham quase nenhum direito. Junto com suas
companheiras, seguira tudo de longe, chorando sem parar.
Quando o prenderam à cruz, sentira como se os cravos se
cravassem em sua alma. Vivera-lhe toda a agonia.
Havia algum tempo que ele estava crucificado,
quando Maria, sua mãe, chegara. Sua dor era tão
formidável que ela parecia estar em transe. Mesmo os
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{ 24
Os Felizes Galileus
Corria o ano 60 quando Clódio desencarnou. Foi
um momento de profunda emoção e de magnífica demons-
tração de Fé. Apenas dois meses haviam transcorrido do
aviso público de sua desencarnação, dado pelo Espírito
do Apóstolo Tiago em reunião pública, através da
mediunidade do próprio Clódio.
Durante a semana final, o fundador da Casa de Jesus
foi tomado de febre súbita, tendo de guardar o leito forçado
pelos companheiros, pois queria continuar exercendo suas
tarefas a todo transe.
Flávio Marcelo assumiu a direção dos serviços para
a qual já vinha sendo preparado como assistente de Clódio,
a fim de substituí-lo definitivamente quando da sua
desencarnação, conforme a ordem de Jesus.
O ex-centurião, pois já havia se desligado do
exército romano, evoluía rapidamente no conhecimento
e prática dos ensinos do Mestre. Dia e noite, ficava
cuidando dos enfermos com todo carinho, pensando
feridas, impondo as mãos sobre todos, assistindo os que
desencarnavam. Nos momentos de rápido descanso, era
visto em seu quarto, lendo e meditando. Dormia muito
pouco, pois a oração se tornara um exercício mental
contínuo, que aprendera a executar com fervor, e no qual
hauria revitalização e paz. Quando instado a repousar
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179 Mc. 8, 33. Passa para trás Adversário, pois não cuidas das coisas que são de
Deus, mas das coisas que são dos homens.
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{ 25
Betânia:
o Último Encontro
F
oi um momento inesquecível!
Com essas palavras, Lissandro começou a narrativa
que Paulo de Tarso lhe pedira para fazer à comunidade
cristã de Tessalônica, reunida na casa de Jasão. Eram
pouco mais de vinte pessoas que o verbo inflamado do
Apóstolo das Gentes atraíra para as luzes do Evangelho.
Encontrava-me hospedado em casa de Lázaro há
três dias, atendendo à curta missiva que enviara à minha
residência na Peréia, cidade que fica além do Jordão, na
região denominada de Decápolis. Nela, dizia apenas que
os fiéis seguidores do Rabi Nazareno estavam sendo
convocados para uma reunião urgente na cidade onde
morava.
Atendi prestamente porque queria inteirar-me das
ocorrências que davam conta de que Jesus havia
ressuscitado e aparecera a vários de seus discípulos.
Soubera que, na Galiléia, ele havia se mostrado em plena
luz do dia a mais de quinhentos discípulos.
Não havia em meu coração qualquer dúvida quanto
ao fato, pois, quem era capaz de restituir a visão a um
cego de nascença, como fizera comigo, e trazido meu
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Posfácio
Leitor amigo. As páginas que acabas de ler são
fruto de um entranhado amor ao Mestre e Senhor de todos
nós. O Espírito que as inspirou, Mnêmio Túlio, transmite
profunda afetividade pela figura excelsa de Jesus,
arrebatando-me aos mais altos cimos da emoção. Auguro
que também possas ter vivido momentos semelhantes
durante sua leitura. Todavia, o mais importante não é se
emocionar com a vida do Rabi Galileu, mas procurar viver
a Boa Nova que ele nos trouxe.
Assim procedendo, estaremos realizando nossa
parte na imensa tarefa da implantação do Reino de Deus
entre nós. Afinal, já deveríamos estar cansados de viver
uma longa erraticidade de descaminhos e inconseqüências,
através de vidas sucessivas, correndo atrás das mesmas
ilusões, cultivando os mesmos sentimentos conflituosos
e alimentando as mesmas ambições espúrias, para terminar
inevitavelmente nos braços espinhosos da dor, bebendo
na taça de fel de amarguras reiteradas e chorando lágrimas
ardentes de remorsos cruéis. É preciso dar um basta nessa
jornada sem rumo e sem objetivo real.
O Espiritismo, abençoada oportunidade de reeduca-
ção espiritual, revive os ideais evangélicos do Cristianismo
Primitivo através das línguas de fogo do Pentecostes
Universal, que são os Espíritos. Esses, por meio da
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231
{ {
232
Sugestões Bibliográficas
ALAND, Kurt et al. The greek new testament. 2 ed. Stuttgart: United
Bible Societies, 1968.
ALAND, Kurt et al. The greek new testament. Introdução em castelhano
e dicionário. 3 ed. Stuttgart: United Bible Societies. 1975.
ANDRÉ LUIZ. Entre a terra e o céu. Psicografado por Francisco
Cândido Xavier. 13 ed. Brasília: FEB, 1990.
ANDRÉ LUIZ. Mecanismos da mediunidade. Psicografado por
Francisco Cândido Xavier. 13 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1983.
ANDRÉ LUIZ. Nos domínios da mediunidade. Psicografado por
Francisco Cândido Xavier. 13 ed. Brasília: FEB, 1984.
ANDRÉ LUIZ. Nosso lar. Psicografado por Francisco Cândido Xavier.
35 ed. Brasília: FEB, 1988.
ANDRÉ LUIZ. Obreiros da vida eterna. Psicografado por Francisco
Cândido Xavier. 17 ed. Brasília: FEB, 1984.
ANDRÉ LUIZ. Os mensageiros. Psicografado por Francisco Cândido
Xavier. 17 ed. Brasília: FEB, 1984.
ARGOLLO, Djalma Motta. Encontro com Jesus. Salvador-Bahia:
Fundação Lar Harmonia, 2005.
ARGOLLO, Djalma Motta. O novo testamento: um enfoque espírita.
São Paulo: Mnêmio Túlio, 1994.
ARGOLLO, Djalma Motta. O sermão do monte. São Paulo: Mnêmio
Túlio, 1993.
ARGOLLO, Djalma Motta. Possibilidades evolutivas. São Paulo:
Mnêmio Túlio, 1994.
{ {
233
{ {
234
Filosofia e
Espiritualidade
– Uma
abordagem
Psicológica
Adenáuer
Novaes
14 x 21cm |
Psicologia e 240 páginas
Mediunidade ISBN 85-
Adenáuer Novaes 86492-15-9
14 x 21cm | 172
páginas Nesse livro,
ISBN 85-86492-11-6 o autor analisa a
evolução do pensamento da
Este trabalho tenta estabelecer uma ponte entre o humanidade, trazido pelos mais diversos
espiritual e o psicológico, apresentando a pensadores, sob uma perspectiva psicológica e
mediunidade como uma faculdade que deve ser espiritual. Encontram-se referências filosóficas
utilizada pelo ser humano nas diversas atividades da de temas constantes em O Livro dos Espíritos.
vida. A mediunidade é um dos instrumentos de que O psiquismo humano é considerado como
dispõe a mente humana para o acesso ao instrumento flexível e moldável às idéias
inconsciente, permitindo que a realização pessoal se coletivas que nortearam o pensamento em
dê com a inserção do espiritual. várias épocas.