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Jean-Paul Brodeur
O sociólogo Dominique Monjardet afirma, pouco à pesquisa. Esse fechamento é ainda maior
com toda razão, que é preferível elaborar uma soci- pelo imperativo de assegurar a “segurança nacio-
ologia da força pública do que uma simples socio- nal” de um país, como é o caso do exército e dos
logia da polícia (1996, p. 8). Nessa perspectiva, serviços de informação. O mesmo não acontece
uma comparação entre o uso da força pelo apare- tão intensamente com a polícia.
lho policial e militar pode contribuir tanto para o Um outro obstáculo reside na dificuldade
desenvolvimento de uma teoria dos usos sociais e de se fazer esse tipo de pesquisa a partir de um
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debate, redigindo um estudo comparativo dos di- em que ele opere.6 É, em parte, para projetar sobre
versos aspectos do funcionamento da polícia e do uma tela mais ampla a tensão entre a definição da
exército canadenses para aquela comissão (Brodeur, polícia pelo seu recurso à violência física e o dis-
1997). Nosso estudo enfocou as modalidades di- curso dos reformadores sobre a brandura das no-
ferenciadas de prestação de contas do exército e vas modalidades de policiamento, que nos propu-
da polícia, cujos resultados parciais são apresen- semos comparar a polícia com o exército. O exér-
tados aqui. cito constitui, com efeito, o tipo ideal do aparelho
Este texto exploratório está dividido em duas violento. Nós quisemos, então, examinar em que
partes. Na primeira, contrastamos a polícia e o exér- medida o perfil da polícia pode ser delineado por
cito em cinco pontos dos seus respectivos funcio- meio da comparação com o do exército. Apresen-
namentos: o poder de fogo, o contexto da inter- tamos os primeiros resultados dessa comparação
venção, o ethos, o regulamento e a devida agrupados em cinco temas.
responsabilização. A segunda esboça uma tipologia
das organizações que utilizam a violência física, a
simples polaridade polícia-exército nos parecen- PODER DE FOGO
do insuficiente. A título de conclusão, apresenta-
mos nossa avaliação de algumas tendências atuais As considerações sobre a polícia exageram
em matéria de uso da força. o fato de que os policiais são armados, desconhe-
cendo que a força da polícia é somente o reverso
do desarmamento das pessoas, contra quem essa
O CONTRASTE ENTRE A POLÍCIA E O EXÉR- força se exerce mais freqüentemente. Com efeito,
CITO comparado ao do exército, o poder de fogo da po-
lícia é desprezível. A conseqüência desse fraco
O ponto de partida desta pesquisa é a defi- poder de fogo é que a polícia deve bater em retira-
nição de polícia proposta pelo sociólogo america- da e ceder lugar ao exército, a partir do momento
no Egon Bittner, segundo o qual a polícia é “um em que ela entra em confronto, por exemplo, com
mecanismo de distribuição de uma força coerciti- grupos paramilitares. No início dos anos noventa,
va não negociável, colocada a serviço de uma com- confrontos entre elementos armados da nação au-
preensão intuitiva das exigências de uma situa- tóctone dos Mohawks e a Surêté du Québec (polí-
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Regis, no estado de Nova York), podem-se acres- assegura, em teoria, o sucesso da polícia. Isso é o
centar os campos de exercício das milícias pode- que explica o fato de que uma derrota da polícia,
rosamente armadas da extrema direita, nos Esta- em um confronto armado, seja vista pela opinião
dos Unidos e em muitas áreas do planeta domina- pública como uma anomalia, ou, até mesmo, um
das pelo crime organizado. A crença de que o Es- escândalo.
tado de Direito cobre o território efetivamente poli- A polícia, por sua vez, está tão habituada a
ciado constitui uma grande ilusão. fazer prevalecer sua força, que nunca aprendeu a
lidar com situações onde encontra resistência. No
momento em que ela estima ter de enfrentar opo-
CONTEXTO DE INTERVENÇÃO nentes mais fortes, ela bate em retirada e permane-
ce por muito tempo intimidada, como aconteceu
Com exceção das operações internacionais nos já citados confrontos com os grupos autócto-
de manutenção da paz e das operações internas de nes do Quebec e de outras regiões do Canadá.
manutenção da ordem, um exército intervém no Entretanto, quando os policiais se recuperam da
contexto de uma guerra, quer ela seja declarada, surpresa inicial e passam a ter certeza de vencer a
ou não. Uma das características da guerra reside resistência encontrada, eles perdem,
na incerteza de sua saída. Sendo a guerra a arte freqüentemente, o controle do comportamento e
incontrolada do pior, este pode sempre fazer su- vingam-se, de maneira selvagem, daqueles que lhes
cumbir um dos protagonistas do confronto, ainda opuseram resistência. Todos os países conhecem
que ele estime gozar da superioridade numérica e esses tipos de incidentes deploráveis, que provo-
bélica em campo. Além disso, o objetivo das ope- cam uma emoção profunda na opinião pública.7
rações militares é o de obter uma vitória decisiva Em resumo, salvo conflitos de fraca inten-
sobre o adversário, definida como o inimigo a ser sidade (a guerrilha), o exército intervém sobre uma
abatido ou aniquilado. linha de frente relativamente bem delimitada. O
O caso da polícia é diferente. Primeiramen- mesmo não acontece com a polícia, que intervém
te, é muito pouco freqüente que ela constitua um em pontos disseminados de todo um território.
dos protagonistas imediatos de um conflito. Na Em segundo lugar, os beligerantes de um conflito
maioria das vezes, ela se interpõe entre duas ou armado estão em uniforme e, dessa forma, reco-
muitas partes, cujo confronto precede sua inter- nhecem-se uns aos outros. Nas operações da po-
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polícia para justificar uma força que excedia, cla- des de enquadrar o exercício dos poderes gozados
ramente, o patamar do mínimo requerido. pela polícia são maiores do que as que regulam os
O árduo projeto de caracterizar o ethos mili- conflitos militares. Não somente as “leis da guer-
tar não poderia se realizar sem se levar em conta as ra” são de um laconismo que se aproxima do si-
variações consideráveis desse conceito no curso lêncio, mas a maior parte de seus imperativos,
da história (Keegan, 1993). Além disso, é impossí- mesmo os mais elementares – a proteção dos ci-
vel tratar do ethos militar sob o olhar, ao mesmo vis, o tratamento humanitário dos prisioneiros de
tempo, da utilização das armas convencionais e guerra, a imunidade dos locais onde são tratados
das armas de destruição massiva, dado que a no- os feridos –, foram e continuam sendo sistemati-
ção de força máxima se confunde, quando se in- camente desrespeitados. Apesar das tentativas de
clui a arma nuclear, com a da força terminal. Há, construção de um direito penal internacional, as
no entanto, uma constante da história militar que perseguições empreendidas contra autores de cri-
se acentuou progressivamente na segunda metade mes contra a humanidade são apenas o tênue véu
do século que terminou. A ofensiva militar obede- do direito do vencedor. As potências da OTAN
ce a uma lógica segundo a qual o objetivo das ope- demonizaram o sérvio Milosevic, acusado de cri-
rações é subjugar o adversário, a fim de vencê-lo o mes contra a humanidade pelo Tribunal Penal In-
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ternacional, mas não incomodaram o croata Fran- rejeitou essa recomendação, por considerá-la o
co Tudjman, que praticou a limpeza étnica contra equivalente à sua colocação sob tutela. A pressão
os sérvios. foi tão forte, que a criação desse Conselho perma-
nente de controle não foi incluída na reforma poli-
cial do Quebec, em 1999.
RESPONSABILIZAÇÃO O problema mais agudo, em matéria de
responsabilização policial, é a resistência dos po-
A obrigação de prestar contas ou liciais contra o que eles consideram ser a prolifera-
responsabilização (accountability) é uma noção ção indevida de controles. O sinal mais
complexa, que não podemos aprofundar aqui. Va- preocupante dessa rebelião foi uma campanha sem
mos nos contentar em precisar o essencial da lógi- precedentes no Canadá, de tele-marketing, promo-
ca da prestação de contas: essa lógica implica que vida pela Associação de Policiais de Toronto, vi-
a instância à qual se deve prestar contas seja exte- sando a arrecadar fundos para lutar contra os can-
rior a si mesma. Quem só tem de prestar contas a didatos municipais que não atendessem aos seus
si mesmo não tem de prestar contas a ninguém. interesses (Eng, 2000, p. A15).
A despeito das críticas sobre a falta de vigor Com as Forças Armadas, que constituem
na cobrança da prestação de contas das suas ações, um universo relativamente fechado, paralelo à vida
a polícia é responsabilizada em várias instâncias pública, a situação é diferente, porquanto quase
exteriores a ela, como os tribunais, os magistrados todos os aspectos da vida de um militar estão sob
que lhe dão autorizações judiciais, a Defensoria a sua tutela. Dois exemplos mostram, de forma
Pública, os promotores e a imprensa, para não fa- marcante, o caráter fechado da vida militar. Ape-
lar das autoridades políticas – o elo mais fraco da sar de a pena de morte ter sido abolida no Canadá
malha da prestação de contas. em 1976, nas Forças Armadas isso só aconteceu
10
Até aqui, a principal tentativa para subme- 1999, sem que a maioria dos canadenses fosse
ter a força policial do Quebec a um controle exter- informada do fato. Segundo exemplo: a liberdade
no sistemático foi feita pela comissão de investiga- de imprensa pára na porta das casernas, sobretu-
ção da Sûretë, ou polícia do Quebec, presidida do quando os militares estão em campanha, pois,
pelo antigo juiz Lawrence Poitras. A Comissão nesse caso, o exército dispõe, por questões de se-
Poitras recomendou, em 1998, a criação de um gurança, do direito de censurar a imprensa. Essa
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jovem oficial negro do 1º comando do Regimento sem tipos ideais ou puros, à semelhança da situa-
Aerotransportado do Canadá, chamado a depor ção existente a partir do século XIX, na Europa e
sobre abusos cometidos na Somália (Brodeur, 1997, na América Norte, quando a polícia foi reinventada
p. 152 et seq.). Respondendo às questões da co- para substituir o exército na manutenção da or-
missão sobre abusos e atos racistas praticados con- dem interna. Contudo existem tendências atuais
tra ele pelos colegas de regimento, esse oficial de- de mestiçagem desses modelos, cujas variantes
clarou vinte vezes que não se lembrava de nada do apresentamos a seguir.
que tinha ocorrido durante a sessão de iniciação, Para caracterizar essas variantes, usaremos
quando ele foi forçado a andar de joelhos, e afir- dois pares de traços para definir os aparelhos que
mou nove vezes não ter “idéia alguma” da respos- utilizam a força. A definição desses traços é a mes-
ta a dar às questões do presidente da Comissão. ma que usamos nas nossas análises anteriores. O
Mesmo entre os policiais, seria difícil encontrar primeiro par é constituído pelos ethos e o segun-
testemunhas tão recalcitrantes em se reconhecer do pelo poder de fogo dos aparelhos policial e mi-
em uma fita de vídeo. litar.
As sanções exercidas pelos policiais contra Podemos, então, a partir desses dois pares
seus colegas que quebram a lei do silêncio são de de traços, distinguir dois tipos homogêneos e dois
natureza informal. A essa pressão oficiosa, o exér- tipos híbridos de organização: 1) o tipo homogê-
cito acrescenta sanções oficiais. Um oficial do Re- neo de polícia, que combina ethos policial com
gimento Aerotransportado, que tinha acabado de poder de fogo policial: 2) o tipo homogêneo de
publicar um livro crítico sobre sua experiência na Forças Armadas, que combina o ethos e o poder
Somália e que estava disposto a colaborar com a de fogo militares; 3) o tipo híbrido de polícia, a
Comissão Létourneau, foi vítima de pressões da polícia militarizada, que combina o ethos militar
poderosa justiça militar. Essa, finalmente, conse- com um poder de fogo policial; 4) o tipo híbrido
guiu calá-lo (Purnelle, 1996). Excessos representado pelas forças internacionais de manu-
institucionais semelhantes são, por definição, des- tenção da paz, que aliam o ethos policial com um
conhecidos dentro da polícia, que não possui ju- poder de fogo militar.
risdição penal paralela. Após discutir os traços dessas quatro vari-
Para concluir, lembramos que o Ministério antes, nos concentraremos nas duas variantes hí-
da Defesa rejeitou as recomendações da Comissão bridas.
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países anglo-saxões, onde não há escolas de ofici- outro, os grupos de oposição armados, que se lan-
ais nem acesso lateral, só existindo os quadros de çaram na guerrilha e na perpetração de atentados
carreira. Observa-se, em segundo lugar, uma in- definidos como “terroristas”. Vale salientar que essa
certeza profunda no que tange ao papel dos ofici- variante não se limita aos países em via de transi-
ais dentro da polícia. Enquanto que o papel deles ção democrática, como testemunham os casos do
é claro no exército e consiste em conduzir os ho- País Basco e da Irlanda do Norte.12 No segundo
mens ao combate, os oficiais do corpo da polícia exemplo, o pessoal da polícia depende do mesmo
exercem um conjunto variado de funções de ges- Ministério do Exército. Ainda que ele não seja
tão e de disciplina que não lhes conferem, junto constituído por militares, ele compartilha muitos
aos seus subordinados, o prestígio que os oficiais aspectos das suas tradições e da sua cultura pro-
militares competentes gozam junto às suas tropas. fissional (podemos citar aqui o caso da Gendarmeria
francesa, ou da Guarda Civil Espanhola). No últi-
mo caso, aquele dos comandos especiais para con-
O exército trolar as multidões (comandos táticos) e para in-
tervir em situações de crise (unidades do tipo
Com o fim da guerra fria os aparelhos mili- SWAT), o pessoal é da polícia é submetido a um
tares dos dois lados da antiga Cortina de Ferro treinamento do tipo militar, cuja responsabilidade
perderam o inimigo principal e constitutivo da sua fica, ademais, a cargo de soldados profissionais.
legitimidade. Eles estão, portanto, desde então, à Os modos de intervenção e as táticas empregadas
procura de um novo papel, que leva a questionar por essas unidades são, igualmente, de tipo mili-
o ethos da força máxima ou a função de matar. De tar.
acordo com as entrevistas que fizemos junto aos Ainda que a polícia militarizada disponha
oficiais das Forças Canadenses, não parece que a de um armamento mais pesado do que o da sim-
reavaliação da missão das Forças Armadas se ori- ples polícia, esse armamento continua muito dis-
ente nessa direção. Os oficiais pensam que a ma- tante do poder de fogo do exército – não se recor-
nutenção dos valores guerreiros no seio da tropa é re, por exemplo, à artilharia e aos tanques de guer-
o meio essencial de exercer sobre ela um controle. ra – e sua parte mais visível se limita aos equipa-
Segundo esses oficiais, se a hierarquia tentasse mentos de proteção (colete antibalas, capacete com
desativar os mitos da luta até a morte, esses seriam visor e escudo). Ë quase seguro afirmar que algu-
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ciam a uma unidade de elite contra a delinqüência que, ao que parece, no caso atual de Kosovo, con-
de rua, cuja divisa melodramática é “nós somos tinuam sem o devido alento. As razões desse des-
donos da noite”. Acusados de homicídio de se- crédito comprovam, à primeira vista, a grande di-
gundo grau, todos eles foram liberados. ficuldade de se unir o ethos militar ao ethos poli-
A tendência atual é a criação de unidades cial e de se substituir o segundo pelo primeiro.
de polícia intensiva que aplicam políticas de tole- Por sua vez, no caso da missão de paz canadense
rância zero, que operam sem uniforme e são in- na Somália, o seu fracasso foi causado pela inca-
compatíveis com o ethos policial. Da maneira como pacidade das tropas, exaltadas pelo ethos militar,
é aplicada atualmente, a “tolerância zero” expres- de adotar uma postura policial. Assim, os pára-
sa, na verdade, uma desproporção entre a força de quedistas do Regimento Aerotransportado
reação policial e a gravidade da transgressão que regrediram a um estádio anterior ao ethos militar,
deslancha essa reação. o da licença para brutalizar as populações civis
que lhes foram confiadas. Traumatizados por esse
excesso, amplamente coberto pela imprensa, as
Forças internacionais de manutenção da paz tropas mobilizadas para as operações subseqüen-
tes substituíram, em especial em Ruanda e na an-
As forças de manutenção da paz são tiga Iugoslávia, o ethos da força mínima pelo ethos
engajadas em operações internacionais de polícia, de espera passiva, permitindo que o imperdoável
zelando pela aplicação e respeito de acordos de ocorresse, sem intervir.
cessar-fogo entre as partes beligerantes. Elas são Uma segunda lição que aprendemos, prin-
constituídas por militares que obedecem a regras cipalmente dos acontecimentos da Somália, decor-
de engajamento, exprimindo, em grande parte, um re da falta de uma doutrina do uso da força que
ethos da força mínima. Ainda que elas não sejam oriente essas missões. As regras de participação
plenamente equipadas, as forças de manutenção no combate, no momento da operação na Somália,
da paz dispõem de um armamento militar – por foram denunciadas por uma Comissão de investi-
exemplo, tanques de guerra – que é muito mais gação da ONU, devido ao seu caráter por demais
pesado do que o da polícia. lacunar (Brodeur, 1997, p. 201 et seq.). É quase
Hoje, sob o olhar frio das estatísticas, há seguro afirmar que elas eram incomparavelmente
um contingente cada vez maior de soldados dedi- mais elaboradas do que as regras lacônicas sobre a
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cados às missões de manutenção da paz, apesar força necessária que servem de baliza obscura para
de elas terem perdido um pouco do seu prestígio os corpos policiais, no seu mau uso da força.
a partir de 1990, após o fracasso da operação na Temos uma necessidade premente de uma
Somália, do genocídio em Ruanda e da limpeza doutrina do uso da força que não esteja limitada à
étnica na antiga Iugoslávia. Nesses dois últimos polícia e que não emane somente dela. As análises
casos, os massacres foram perpetrados sob o olhar comparativas que precedem nos mostram que, a
impotente dos “Capacetes Azuis”. Ali, a OTAN despeito das suas lacunas, a polícia é mais come-
não se enganou, preferindo atacar a Sérvia de dida no uso da força do que o Exército, seja devi-
Milosevic, em vez de realizar uma operação do ao seu ethos, seja por falta de meios. Esse re-
derrisória de manutenção da paz no Kosovo. Após sultado, evidentemente, não apresenta nada de
a expulsão das forças sérvias desse território, po- surpreendente nem de vergonhoso para o Exérci-
voado principalmente por albaneses, as chances to, mas nos convida à circunspecção com respeito
de sucesso das operações de manutenção da paz a uma definição da polícia fundada exclusivamen-
são discutíveis. te no uso da força. Constatamos, igualmente, que,
Várias lições podem ser aprendidas dessa no âmbito da transparência e da responsabilização,
falta de fôlego das missões de manutenção da paz a polícia é consideravelmente mais aberta que o
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