Você está na página 1de 9

CENTRO DE ESTUDOS PRESBITERIANO

DISCIPLINA: METODOLOGIA EXEGÉTICA DO ANTIGO TESTAMENTO.

TURMA: EAD – SPFB – PATOS – PB.

Prof. Rev. João França.

AULA: 03 – EXEGESE: DEFINIÇÃO E HISTÓRIA.

I - Definição de Exegese:

A primeira realidade que se precisa compreender é a conceitualização do termo


“Exegese”. O termo pode ser compreendido a partir da língua hebraica, no uso da
palavra vr:*d, (derash) que tem uma gama de significados entre os quais temos: “tirar
informações, indagar, procurar, buscar, preocupar-se, examinar, inquirir, pesquisar,
exigir; ansiar”1; este verbo quando se encontra no niphal tem o sentido de “deixar-se ser
interrogado, ou deixar-se ser procurado”.

No uso deste verbo no niphal somos informados que uma clarificação do seu
sentido encontra-se naquilo que é conhecido como construção de tolerância e tem sido
definida com propriedade como:

aquela [construção] que combina a noção reflexiva com a noção de


permissão. O sujeito permite que um agente implícito produza sobre ele a
ação indicada pelo verbo: ‘X (sujeito) se permite ser Y (verbo).’ Se uma voz
passiva do sujeito é um não-voluntário e na reflexiva o sujeito é voluntário,
então na tolerativa o sujeito é meio voluntário. O hebraico muitas vezes usa o
Niphal em tais construções. Uma tradução passiva desses tipos de Niphal
muitas vezes é possível; [...] O Niphal de tolerância muitas vezes envolve o
elemento de eficácia: o que o sujeito permite acontecer realmente pode ser
realizado. Deste modo Paul Joüon comenta vr:d>ni I como ‘deixar-se ser
interrogado’ e isto tão eficazmente que praticamente signifca ‘responder’
(quando se fala de Deus); [...]2

Alguém já definiu exegese sob os seguintes termos:

O termo deriva-se da palavra grega evxh,ghsij (exegesis), que tanto pode


significar apresentação, descrição ou narração como explicação e
interpretação. Quando se fala de exegese bíblica, entende-se o termo sempre
no segundo sentido aludido, ou seja, como explicação / interpretação.
Exegese é, pois, o trabalho de explicação de um ou mais textos bíblicos3

1
SCHWANTES, Milton. vrD In: Dicionário Hebraico-Português & Aramaico-Português. São
Leopoldo: Sinodal e Vozes, 2003, p.51.
2
WALTKER, Bruce K; O’CONNOR, E M. Introdução à Sintaxa do Hebraico Bíblico. São Paulo:
Cultura Cristã, 2006 ,p.389-390
3
WEGNER, Une. Exegese do Novo Testamento – Manual de Metodologia, São Leopoldo: Sinodal;
São Paulo: Paulus, 1998, p.11 – ênfase dele
Nestas definições aprendemos algo muito importante sobe a exegese seu valor e
importância para o conhecimento da vontade revelada de Deus nas Escrituras Sagradas.

II – A TEOLOGIA EXEGÉTICA NA HISTÓRIA:

Estudar a história da exegese é uma das atitudes primeiras que qualquer


estudioso e intérprete bíblico deve fazer; isto porque, “o benefício mais obvio é que o
intérprete pode evitar alguns dos excessos que foram associados a certas tradições
exegéticas.” Então estudar a história da exegese bíblica é saudável porque nos ajuda a
evitar os erros do passado, mas “da mesma forma, o inverso também é verdadeiro: tal
estudo pode ser um guia para os métodos que provaram seu valor e foram testados ao
longo do tempo”4 Para nossos propósitos aqui neste breve estudo vamos considerar os
cincos estágios da história da exegese cristã sobre o Antigo Testamento.

2.1 - A Era Apostólica.

Compreendemos a Era Apostólica como o primeiro século da era cristã. O que


prendemos oferecer aqui é o uso interpretativo e exegético que o Novo Testamento faz
do Antigo. Neste período a exegese rabínica era dominante, o primeiro tipo de exegese
rabínica foi o midrashim. O termo como tal vem da raiz darash que significa
“investigar, averiguar”5 e assim surgiu o método de exegese desse período. Três
principais sistemas hermenêuticos foram deselvovidos na literatura Rabínica: as setes
famosas regras básicas de Hillel (c. 30 a.C – 9 d.C); as trezes regras do Rabi Ishmael
(60-121 d.C), o qual serviu como principal instrumento no desenvolvimento do método
Midrastico de exposição dos textos Halákio (leis religiosos e civis); e as trinta e duas
regras do Rabi Eliezer ( c.2 d.C), as quais forma usadas na interpretação de textos
Haggadot (homilias populares).6Walter Kaiser em outra obra nos lembra que a “exegese
que tratava de assuntos históricos ou dogmáticos era chamada de midrash de Hagadot.
Esse tipo de intepretação era mais ilustrado, prático e mesclado” com várias alegorias,
lendas e histórias da Bíblia, pois, “era basicamente uma visão homilética do estudo da
Bíblia”, já aquilo que consideramos exegese “tratava de questões legais e era chamada

4
KAISER JR, Walter C. Toward An Exegetical Theology – Biblical Exegesis for Preaching &
Theaching. Grand Rapids: Baker Academic, 1981, p.52 – minha tradução.
5
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus Intérpretes. São Paulo: Cultura cristã, 2004, p.51.
6
KAISER JR, Walter C. Toward An Exegetical Theology – Biblical Exegesis for Preaching &
Theaching. Grand Rapids: Baker Academic, 1981, p.52-53 – minha tradução.
Midrash de Halaka [...] procurava aplicar a lei por analogia e pela combinação de textos
em casos excepcionais para os quais não havia nenhuma sanção na lei de Moisés”7

2.2 - A Era Patrística:

Neste período a exegese bíblica se resume a duas escolas de interpretação


bíblica. A conhecida escola de “Alexandria” versus a escola de “Antioquia”.
Consideremos resumidamente estas duas escolas:

(a) A Escola de Alexandria:

Para esta escola de interpretação as Escrituras deveriam ser interpretadas


alegoricamente.8 Trata-se de uma das escolas mais antigas de interpretação.9 O pai dessa
escola de interpretação foi Clemente de Alexandria, ele “acreditava que as Escrituras
ocultavam seu verdadeiro significado a fim de que fossemos inquiridores, e também
porque não é bom que todos a entendam”10. Virkler lembra-nos que Clemente de
Alexandria “ desenvolveu a teoria de que cinco sentidos estão ligados à Escritura
(histórico, doutrinário, profético, filosófico, e místico), com as mais profundas riquezas
disponíveis somente aos que entendem os sentidos mais profundos.”11 O principio da
alegorização se difundiu neste período que era quase impossível um escritor deste
tempo não interpretar valendo-se dessa escola.

O conceito “de que a verdade se encontra alegoricamente oculta além da letra e


da realidade visível”12 era dominante nesta escola interpretativa, ou seja, o sentido
natural e simples da passagem não era considerado a verdade clara. Vejamos um
exemplo da interpretação alegórica de Gênesis 22.1-4 em Clemente de Alexandria:

Quando, no terceiro dia, Abraão chegou ao lugar que Deus lhe havia
indicado, erguendo os olhos, viu o lugar à distância. O primeiro dia é aquele
constituído pela visão de coisas boas; o segundo é o melhor desejo da alma;
no terceiro a mente percebe coisas espirituais, sendo os olhos do
entendimento abertos pelo Mestre que ressuscitou no terceiro dia. Os três dias
podem ser o mistério do selo (batismo) no qual cremos realmente em Deus.
É, por consequência, à distância que ele percebe o lugar. Porque o reino de

7
KAISER JR, WALTER C; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Ed.
Cultura Cristã, 2009, p.204.
8
KAISER JR, Walter. C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura
Cristã, 2009, p.211.
9
ANGLADA, Paulo Roberto Batista. Introdução à Hermenêutica Reformada. Ananindeua: Knox,
2006 ,p.27.
10
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p. 44.
11
Idem.
12
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p.51
Deus é difícil de atingir, o qual Platão chama de reino de ideias, havendo
aprendido de Moisés que se tratava de um lugar que continha todas as coisas
universalmente. Mas Abraão corretamente o vê à distância, em virtude de
estar ele nos domínios da geração, e ele é imediatamente iniciado pelo anjo.
Por esse motivo diz o apóstolo: "Porque agora vemos como em espelho,
obscuramente, então veremos face a face", mediante aquelas exclusivas
aplicações puras e incorpóreas do intelecto.13

O maior expoente da escola de interpretação alegórica foi Orígenes. Ele “é o


membro mais destacado da escola Alexandrina, e é ele quem afirma de forma mais
completa e adequada os princípios da alegorização cristã”1414. Ele sustentava a ideia de
que cada parte da Escritura é alegórica. Ele entendia que o sentido literal é “valioso,
mas algumas vezes obscurece o sentido primário, que é o espiritual. O literal é para os
iniciantes, mas o espiritual é para os maduros na fé.”15

(b) – A Escola de Antioquia.

Havia uma escola que se fazia oposição ao alegorismo alexandrino que ficou
conhecida como Escola de Antioquia. O verdadeiro fundador desta escola foi
provavelmente Luciano de Samosata. Outras acham que fora o Presbítero Diodoro o
fundador da famosa escola. Entretanto, há dois fundamentais representantes desta escola
de interpretação: Theodoro de Mopsuéstia e João Crisóstomo. Virkler sumariza para nós
a distinção entre as duas escolas de forma bastante lacônica:

Teodoro de Mopsuéstía (c. 350—428), defendiam com o maior zelo o


princípio da interpretação histórico-gramatical, isto é, que um texto deve ser
interpretado segundo as regras da gramática e os fatos da história. Evitavam a
exegese dogmática, asseverando que uma interpretação deve ser justificada
por um estudo de seu contexto gramático e histórico, e não por um apelo à
autoridade. Criticavam os alegoristas por lançarem dúvida na historicidade de
muita coisa do Antigo Testamento16

2.3 – Era da Idade Média:

Kaiser lembra-nos que neste período “muitos membros do clero, sem falar nos
leigos, eram ignorantes até mesmo sobre o que a Bíblia dizia”17. Neste tempo “A
interpretação foi amarrada pela tradição, e o que se destacava era o método alegórico.”18
A perspectiva hermenêutica da quadriga “dominou a interpretação bíblica no período da

13
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p. 44.
14
GRANT, Robert.; TRACY, David. A Short History of the Interpretation of the Bible USA: Fortress
Ress,1984, p.56
15
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p.132.
16
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p. 46.
17
KAISER JR, Walter. C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura
Cristã, 2009, p.215.
18
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987
Idade Média. Alguns, como Boaventura, teólogo católico franciscano do século 13”
chegou “a defender que havia sete níveis sentido em cada passagem” 19Neste período
temos um grande apoio aos dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana. Temos o
proeminente teólogo como Hugo de São Vítor que dizia que primeiramente se deveria
aprender no que se deve acreditar, e, então, depois procurar na Bíblia tal
ensino20.Virkler ressalta um ponto importante sobre a Hermenêutica medieval que
devemos levar em consideração:

Embora predominasse o método quádruplo de interpretação, outros tipos de


exegese ainda estavam sendo desenvolvidos. No decorrer do último período
medieval, os cabalistas na Europa e na Palestina continuaram na tradição do
primitivo misticismo judaico. Levaram a prática do "letrismo" ao ridículo.
Acreditavam que cada letra, e até mesmo cada possível transposição ou
substituição de letras, tinha significação sobrenatural. Na tentativa de
desvendar mistérios divinos, recorreram aos seguintes métodos: substituir
uma palavra bíblica por outra que tinha o mesmo valor numérico; acrescentar
ao texto por considerar cada letra de uma palavra como a letra inicial de
outras; substituir novas palavras num texto por algumas letras das palavras
primitivas.21

Mas, foi com o Tomás de Aquino que o sentido literal voltou ao cenário dos
estudos da interpretação na chamada Idade Média. 22Para Aquino o sentido literal servia
de “base para todos os outros sentidos das Escrituras”23. Entretanto, foi com Nicolau de
Lira, um estudioso judeu convertido ao cristianismo, que desenvolveu a prática de
consulta aos originais, buscando a intenção do sentido literal do texto, foi a obra deste
erudito que deu ímpeto a Martinho Lutero no processo de Reforma da Igreja.24

2.4 – A Época da Reforma:

Este período a exegese passou a ser melhor desenvolvida e aplicada como um


recurso importantíssimo na interpretação bíblica. Walter C. Kaiser Jr nos lembra uma
ponto interessante:

Fora o Renascimento com sua nova ênfase sobre o retorno as línguas


originais da Escritura vem a gramática e o léxico hebraico de Johann
Reuchlin e a primeira edição crítica do Novo Testamento Grego de Eramus
(1516 d.C). Em parte, eles estabeleceram as bases para a chegada de

19
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus Intérpretes – Uma Breve História da Interpretação.
São Paulo: Cultura Cristão, 2004, p. 150.
20
KAISER JR, Walter. C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura
Cristã, 2009, p.215.
21
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p. 47.
22
KAISER JR, Walter. C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura
Cristã, 2009, p.215.
23
Idem.
24
Idem.
Martinho Lutero e João Calvino. Eramus foi estimulado por John Colet
(1467-1519) para aplicar às Escrituras a nova ênfase humanística na
abordagem histórica e filológica. Retornando da Itália para palestrar na
Inglaterra sobre Romanos e 1 Coríntios foi muito influenciado com essa nova
abordagem fazendo uma completa rejeição da exegese mística e alegórica dos
escolásticos. Em 1498, Eranus assistiu as suas palestras e o resto se tornou
história.25

(a) Martinho Lutero e a interpretação:

Martinho Lutero “nasceu no dia 10 de novembro de 1483 na pequena cidade de


Eislebn. Seu pai, de origem camponesa livre, emigrou de muito longe para essa cidade”
também somos informados que o seu pai era minerador “e que chegou a ficar
consideravelmente rico”.26Lutero fora destinado ao direito, este era o plano de seu pai,
mas “voltou-se para o mosteiro, no qual, após muitas lutas, desenvolveu uma nova
compreensão de Deus, da fé e da igreja”.27 Lutero eclodiu a Reforma Protestante
quando afixou as suas teses na igreja de Wittemberg; a sua série de estudos teológicos
na Carta de Paulo aos romanos o levou para a doutrina do Sola Fide – somente a fé.
Juntamente com seus ataques as indulgências o levaram para Leipzig em Julho de
1519.28

Lutero “acreditava que a fé e a iluminação do Espírito eram requisitos


indispensáveis ao intérprete da Bíblia. Ele asseverava que a Bíblia devia ser vista com
olhos inteiramente distintos daqueles com os quais vemos outras produções literárias.”29
O reformador alemão, por sua vez, faz uma tradução da Bíblia para o vernáculo, esta foi
uma das grandes contribuições de Lutero à interpretação bíblica.30Martinho Lutero
“rejeitou o método alegórico de interpretação da Escritura, chamando-o de "sujeira",
"escória", e "um monte de trapos obsoletos"3115 Para ele “uma interpretação adequada
da Escritura deve proceder de uma compreensão literal do texto.”32

(b) João Calvino o Exegeta da Reforma:

Existe um personagem na Reforma Protestante que tem instigado a muitos


debates entre os eruditos em história, filosofia, educação e homilética – João Calvino
certamente é o homem que é querido por uns e odiado por outros. Um escritor captou
bem esta concepção quando escreveu:

25
KAISER JR, Walter C. Toward An Exegetical Theology – Biblical Exegesis for Preaching &
Theaching. Grand Rapids: Baker Academic, 1981, p.60 – minha tradução
26
CAIRNS, Eearle. E. O Cristianismo através
dos Séculos – Uma História da Igreja Cristã. Tradução: Israel Belo de Azevedo; Valdemar Kroker.
São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 259.
27
GEORGE, Thimothy. Teologia dos Reformadores. Tradução: Gérson Dudus; Valéria Fontana. São
Paulo: Vida Nova, 1994, p. 53.
28
Ibid, p.81.
29
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p.48.
30
KAISER JR, Walter. C.; SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica.São Paulo: Cultura
Cristã, 2009, p.216
31
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p.48.
32
Idem.
Poucas pessoas na história do cristianismo têm sido tão supremamente
estimadas ou tão mesquinhamente desprezadas quanto João Calvino. A
maioria dos cristãos, dentre os qual grande parte dos protestantes, conhece
apenas dois aspectos a respeito dele: acreditava na predestinação e ordenou
que Serveto fosse queimado vivo. Desses dois fatos, ambos verdadeiros,
emerge a caricatura usual de Calvino como o grande inquisidor do
protestantismo, o tirano cruel de Genebra, uma figura rabugenta, rancorosa e
completamente desumana.33

João Calvino nasceu em Noyon, na Província da Picardia, na França, na fronteira


dos Países Baixos, em 1509. Seu pai, Gerard Cauvin, era advogado que trabalhou para o
cônego desta cidade, e sua mãe, Jeanne de La Franc, era uma mulher muito piedosa.
Batizado na tradição católica teve como padrinho Jean Vatine, cônego da Catedral em
Noyon. Foi enviado para estudar Teologia em Paris, onde estudou latim e humanidades
no Collège de la Marche e teologia no Collège de Montaigu, 34. Ele era conhecido como
“O professor de Sagradas Letras”35 Um mestre singular, um grande pregador. Era um
homem dedicado aos estudos, e muitos no seu tempo “o tinham já em admiração, pela
erudição e zelo que nele se percebiam”36 A conversão de Calvino se deu em 1533,
prova.

Timothy George lembra-nos que “Calvino acreditava que a Bíblia era a ‘escola
do Espírito Santo’. Seus escritores foram instrumentos, órgãos, amanuenses do Espírito
Santo.”37O próprio Calvino ensina, comentando Salmo 19.7, que a Palavra de Deus
revelava o pleno conhecimento de Deus: “o salmista agora se volve para os judeus, a
quem Deus havia comunicado um conhecimento mais pleno por meio de sua
palavra”.38Hermisten Maia nos lembra que Calvino era versátil em sua interpretação
devido a sua “acuidade hermenêutica e exegética”39 Virkler nos lembra:
"A Escritura interpreta a Escritura" era uma sentença predileta de Calvino, a
qual aludia à importância que ele dava ao estudo do contexto, da gramática,
das palavras, e de passagens paralelas, emlugar de trazer para o texto o
significado do próprio intérprete. Numa famosa sentença ele declarou que "a
primeira tarefa de um intérprete é deixar que o autor diga o que ele de fato
diz, em vez de atribuir-lhe o que pensa que ele deva dizer"40

33
GEROGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. Tradução: Gérson Dudus e Valéria Fontana. São
Paulo: Editora Vida Nova, 1994, p.167.
34
FERREIRA, Wilson de Castro. Calvino: Vida, Influência e Teologia, São Paulo: Luz Para o
Caminho,1998, p. 41.
35
HALSEMA, Thea B. Von. João Calvino Era Assim. São Paulo: Editora Os Puritanos, 2009, p.68.
36
BEZA, Theodoro de. A Vida e a Morte de João Calvino. Tradução: Waldyr Carvalho Luz. São Paulo:
Editora Luz para o Caminho, 2006, p.11.
37
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. Tradução: Gérson Dudus e Valéria Fontana. São
Paulo: Editora Vida Nova, 1994, p.167; “Por que a Escritura é a escola do Espírito Santo na qual nada
tem deixado coisa alguma que não seja necessária e útil conhecer, nem muito menos se ensina mais do
que é necessário saber.” (CALVINO, Juan. Instiución de La Religión Cristiana. Tradução: Cipriano de
Valera. Barcelona:1999, Livro III, Capítulo 21, seção 3.)
38
CALVINO, João. Comentário sobre o Livro de Salmos, Volume 1. Tradução: Valter Graciano
Martins, São Paulo: Editora Fiel, 2009, p.379.
39
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. A Inspiração e Inerrância das Escrituras – Uma Perspectiva
Reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p. 118.
40
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Vida, 1987, p.49
Até os dias atuais o mestre de Genebra continua a ser considerado o exegeta por
excelência, atribui-se a ele o desenvolvimento do método histórico-gramático.

2.5 – A Era da Pós-Reforma.

Walter C. Kaiser Jr mais uma vez é claro ao informar que dois movimentos
foram significativos para a história da exegese no século 17. Estes dois movimentos
foram: O pietismo e o racionalismo41; ao estudar estes dois movimentos temos uma
visão ampla do papel da exegese na história da igreja, pois, quando se ignora sua
importância se abre margem para ideias extremas.

(a) O Pietismo:

O pietismo foi uma espécie de protesto contra o dogmatismo e o


institucionalismo dominante na escolástica protestante; e seus líderes como Philip Jacob
Spencer e Augustus Hermann Francke. Mas, este movimento teve uma valiosíssima
contribuição para exegese através de John Albert Bengel (1687-1752). Ele foi o
primeiro a classificar os manuscritos do Novo Testamento Grego em famílias,
baseando-se em suas semelhanças. Seu comentário, Gnomon of the New Testament
(1742), é um modelo de sua combinação de raízes históricas, explicação das figuras de
linguagem (um glossário com explicações com aproximadamente cem figuras de
linguagem e os termos relacionados aparece no índice), com sugestões de aplicação
prática.42

(b) O Racionalismo:

O liberalismo é o desdobramento lógico do racionalismo. Dentro deste processo


deu-se autonomia a razão em detrimento da revelação. Desenvolveu-se um método
próprio de interpretação das Escrituras conhecido como Método Histórico-Crítico. Vale
salientar que este procedimento hermenêutico e exegético “legou à igreja uma Bíblia
que deixou de ser Palavra de Deus para ser tornar testemunho de fé do povo de Israel e
da Igreja primitiva”43

Neste método interpretativo encontramos as seguintes características:

41
KAISER JR, Walter C. Toward An Exegetical Theology – Biblical Exegesis for Preaching &
Theaching. Grand Rapids: Baker Academic, 1981, p.61 – minha tradução
42
Ibid, p.62.
43
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus Intérpretes – Uma Breve História da Interpretação.
São Paulo: Cultura Cristão, 2004, p. 194.
1. Racionalismo: Onde a razão “substitui a revelação como fonte de autoridade. O
sobrenatural é rejeitado e a razão é estabelecida como critério supremo da verdade”44.

2. Historicismo: As Escrituras não são “o registro inspirado da revelação divina, mas o


registro histórico das ideias e aspirações religiosas humanas”45.

3. Objetivismo: A Bíblia deve estuda sem pressupostos dogmáticos e teológicos.


Barton diz que está a é acusação, pois, no inicio desta escola a “busca objetiva e
cientifica da verdade por parte de um estudioso imparcial é algo falho e já está
desacreditada” pois, até o próprio Barton reconhece que “ninguém é realmente
‘imparcial’ cada um tem um interesse pessoal”46 na interpretação.

Conclusão:

Neste estudo oferecemos para o aluno uma definição lacônica do que venha a ser
exegese Bíblica, pois, a busca pelo sentido real que o texto apresenta deve levar em
consideração essa importante disciplina para os estudos bíblicos.

Também oferecemos um breve apanhado histórico nós ofereceremos uma visão


lacônica da exegese e interpretação bíblica que se desenvolveu através de seus
principais representantes e expoentes; o objetivo foi deixar o aluno consciente de que o
seu processo interpretativo e exegético não é um vácuo no escuro, mas pode ser reflexo
de correntes e pressuposições teológicas e filosóficas que foram se construindo ao longo
do tempo.

44
ANGLADA, Paulo Roberto Batista. Introdução à Hermenêutica Reformada. Ananindeua: Knox
Publicações, 2006, p.54
45
Idem.
46
BARTON, John. Historical-critical approaches. In: BARTON, John (ed). Biblical Interpretation.
Cambridge, United Kingdom: Cambridge University Press, 1998, p.12-13
.

Você também pode gostar