Você está na página 1de 95

~

o
w
o::
.. Neste IivrQ denso e iconoclasta, Lenio Streck convida o
leitor a v is itar o Tribunal do Júri, mas proíbe-lhe o roteiro
l-
(/) LENIO LUIZ STRECK
~
turíst ico tra dicional: nada de cartões postais, do tipo doze ::J
...J
apóstolos - doze j urados, do qual aliás Lord Oevlin dizia, com
Q
humor, implicar um J udas a cada Júri. Antes mesmo de z
t ranspor o átrio do tribunal, vê-se o leitor concitado ao exame W
...J
da argamassa que compatibiliza e unifica os múltiplos mate-
ria is construtivos : o discurso dogmático.
[ ... ]
Quando o visitante chega à sala de audiências, vê-se convo-
cado para uma compreensão geopolítica daqueles espaços e
daqueles assentos, sobre os quais os discursos comple-
mentares (e não antagônicos, como Lenio observa) da acu-
sação e da defesa delimitam as possibilidades do veredito.
[... ]
Ainda que o contexto seja tão diferente - Foucault está pen-
sando na justiça da revolução, e Lenio, em revolução na
justiça - os dois pensamentos se encontram na insubmissão
aos rituais do poder judicial e na desconfiança dos conteú-
dos que subjazem e organizam essas formas sombrias."

Nilo Batista

liVrarl~~09ADO
DOAD
edItora
Rua Riachuelo, 1338
90010-273 - Porto Alegre - RS
FonelFax:0800-51-7522
www.doadvogado.com.br
info@doadvogado.com.br

ISBN 85-7348-180-3

Jlljljl l(111 ~m!l~


é uma obra diferenciada: de forma inter-
disciplinar, o autor faz uma abordagem
que navega pelo Direito. pela Sociolo-
gia, pela Filoso:..a e pela Antropologia.
Tema que suscila empolgantes contro-
vérsias, o Tribunal do Júri visto, nesta
quarta edição, sobre uma ótica garan-
tista, a partir da perspectiva de que o
Dir8ito deve ser um sistema de garanti-
as. Assim, no Estado Democráticú ~
Direito, o júri é examinado tendo por~­
missa a máxima de DIrei-
to mínimo na esfera penal e máximo na
esfera social. Dito de outro modo, Lenio
Streck sustenta que o direito penal e
processual penal não deve ser usado
hobbesianamente. O jurista e a socie-
dade não têm que escolher entre civili-
zação e barbárie l

Depois de exarni'ldr a crise pela qual pas-


;;a o Direito em nossa sociedade. o autor
examina of"ibunal do Júri no contexto de
um país atravessado por class •• s sociais
diferenciadas e díspares. Quem julga
quem? Quais as condições de possibili-
dades que existem para que o júri venha
a se transformar em instrumento de sobe-
rania popular? São perguntas que per-
passam constantemente a obra.

Várias propostas de modificação do júri


são apresentadas na obra. A alteração no
rito processual, a simplificação dos quesi-
tos, a ilegalidade/inconstitucionalidade do
quesito antigarantista da participação de
qualquer modo (art. 29 do CP), a tese do 1 4
direito penal do fato como obstáculo à de-
mocratização do júri, a necessidade do
alargamento da oompetênciado tribunal
Ó julg~rnento sempre por maioria
diJ'UII\,-dIJ da sala secreta,
lENIO lUIZ STRECK

S914t Streck, Lcnio Luiz


Tribun;ll do símbolos rituais / Lcniu Luiz
. c ITlCKL f\Jrto
'(1, 2001.
(ln.

fSHN

1. Tribul1,ll do Júri. L Título QUART"A EorçAo


CDU 343.195 revista e modificada

Índice a!fabético
Tribunal do Júri

Marta l\oLwrto, CRB -

DO

Porto Alegre 2001


Lenio Luiz Streck, 2001

HevisZH) de
i~nS(lne Borba

NA torneira seca
. a fillta de

do
Gravura da c'pa A porta fechado
Honoré Daul11ier: Queremos B.. rra[;ízs (mas pior: a chave por dentro)"

Palllo Paes

Direitos desta edição reservados por


Livraria do Advogado Uda.
Dedico esta obra à memória de
Rua Riachuelo, 1338 Ama Streek e Ervína Sehiífer.
90010-273 Porto Alegre RS Cada um a sua maneira,
Fone / fax: 0800-51-7522 grandes figuras.
info@doadvogado.com.br
www.doadvogado.com.br

no Brélsíl / Prinred in J3razil


Neste livro denso e iconocLlsta, Lenio Slrcck convida o leitor a
visitar o Tribunill do Júri, nlas o roteiro turístico lrildicio-
nal: nada de cartões tipo doze ilpóstOJos doze jurZlLl0s,
do aWís Lord Devlin dizia, com humor, in,plicar llm Judas a
cada Júri]. Antes mesmo de tril nspor o Zitrio do vê-se o
leitor cuncitado JO CXJnw da rgim1ilSScl que compatibilize1 llnif~ca
111(, construtivus: () discur~;o cl

especificamente sobre o motivo político: "guando


e não inspirado em credos subversivos do atual
regime social, pode ser incluído entre os motivos de relevante valor
social"2. Em outras palavras: o homicídio da UOI;:', em. defesa de um
dos pilares do regime social, constitucionalmente reconhecido (art.
SQ, inc. XXIIr, CF), será privilegiado; o homicídio do MST,
na idéia repulsiva de gue a propriedade
4º c:F) seréÍ hc9.LQ!1~io/ A propósito,
a sllperioric:faéíé-I1TêiArquica--da propriedade sobre a vida,
difusa, porém incontestavelmente expressa nas' escalas penais dos
crimes pluriofensÍvos enl que a tutela dos dois bens jllfídicos se
en trecru za 111.
Quando o visitante chega à sala de audiências, vê-se convoca-
do para uma compreensão geopolítica daqueles espaços e daqueles
assentos, sobre os quais os discursos complementares (e não anta-
como Lenio observa) da acusação e da defesa delimitam as
_._._..-_.-
}lIrlj. Londres, Stevens & Sons, 1971, 8.
Nelson. ComentlÍrios (10 1'1'1101. de ]i1l1eiro, Forense, p. 125.
lllTlil leitura antropológica popular c
do júri, entrevisto como rito de se Ainda que o contexto
consuma na pela do na justiça d<:l revolução, e
ao rol dos revolução na justiça dois se encontrilm nil
da lativídilde do corpo de jurados, costu- nsubmissão <:lOS rituais do
meiramente omitida trabéllhos mente tico-dcscriti- que e
é trahdd com
essencial do Ciri c:
rnenlc vitlcu que na Nifo Batista
consístêncí,! ria ao célr<Íter
Em seu belo texto clram;ítico sobre
do

do c\'entualmenle por ,1 m
classí' nll;di,l j
- <l ns trabéllhil( os
llwrn neolibe-
massivamente a cada dia.
O lívro se ocupa, tambéi11, é claro, dos problemas técnico-jurí-
dicos que estão na vida dos operadores: os interessados em nulida-
de do quesito vago sobre participação não se decepcionarão.
Silenciarei sobre minha única discordância, acerca dn inconstitucio-
nalidade do assistente de acusação, só concebível através de uma
idealização do Ministério Público que expurgasse definitivamente a
vítima do cenário judicial.
Se tivesse que escolher uma passagem deste livro que mais
legitimamente o rel,resentasse, não hesitaria em indicar aquela na
qual, retomando a fáb~lla da Lenio Streck menciona
um certo discurso mfstíco, que a aceitar os rituais
inerentes ao universo jurídico como necessários fi real da
idéia de . Esta passél
Foucault abriu suas reflexôes a
da forma do tribuna e
haver um tribunal
Jean Anoilh, Becket 0[/ 1/ fin!lra de Deus. Trad. de F. Midões. Lisboa, Presença, 4 Foucault, Michd. do . Trad. de Roberto Macl13do. Rio de Janeiro,
1965, p. 185. Graal, 1982, p. 39.
Notas introdutórias 17
/1. O Júri, o Processo Penal e o Direito Penal na perspectiva do Estado
Democrático de Direito. Da utilidade de uma análise garantista.
Perspectivas (deslcriminaliz,Hloras: o verso e o reverso da tutela penal. 21
2. no jurídico

um

,1 institucionalizilç;lo de um universo
42
tico do Direi to e a dificuldade
FZ1EI ,1 dos fenômenos sociais 4.5
/3. Vida e morte no Código Penal. A dogm;ítica jurídica e o bem jurídico
sob a proteção da lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
3.1. ViclJ c mor!l! nos da viclZ\ c da morte .53
secreta" do Direito Penal ou de
;;010 fi los dCSCil!ZOS" .56
do Direito PellJI e do Penill em
de Direito 60
da validade (n50 H'cCi'ção) de 62
3.3.2. A dos princípios e da
razoZlbilidade no Direito Penal . 64
3.3.3. A incCH1stituciollZllidade dZl rt'incidência 7 71
3.3.4. A (re)discussão do ,1Jc~ncr' d,l cilutr'lar no Estado Democrático
de Direito 72
4. O Tribunal do Júri - origem, e críticas . . . . 75
4.1 A do Vlri e o direito 7.5
4.1.L O L' a COllll1lOlIlmu 75
4.1.2. O na Françil 79
4.1.3. O 81
4.1.4. O iüri 11<1 84
4.2. O iúri no 86
c contras - e mitos 90
neutralidade 92
95
do Júri .. 97
e a represenl;ltividade socí:d . 98
4.6. O corpo de e o C'stabek'cimento de Ull1 de normalidade" 100
o ritual, ns atures e os iscursos 103
Júri CCH1hJ ri lua J l03
lrd!ct(irl,l no
dí~curS(lS no I l4
/5.4. O Direitu l'eni11 do au!m 1'['/5115 o Direito Penal do fato. 116
5.5. O discursu di1 ilCUS;1Ci'íO II 'J
5.6. O discurso dd dcfes;; 1 I
5.7. O il que construtures ou a
123 U i \ 1(; l!lfiJl,'rn eH f7ut? los [;1'11/0$ de lns COJll1ll1h4ndcs
dctcnh;,:'nfl el que de cicrfns ti"'cnirfls
discursivo e os resultados dos 125 secrdas pom oIJlcil/'r de III o de lo )la! uraleza los
concreta 125 rCcllllJlIldos lo COlllllilídad, c!
6.2, P.s conÍr;ldi{~õcs sociais ou
es[riúll ['II el dcl secreto soÍJre ias
entre nós" , ....... . 129 deveI! cOllluíllnl'se para
6.3. Júri, mitos e ritos ou de como os resultildos dos são de IlIs relaciolles socil7Ics entre los
de forma 132 dei sec relo ell quI' !os n:ilos
7. Tribunal do ]ürí 141 sy oudvcll de {ai
141 f7lJr7it.-: ')' CH

l-Jô

147 I;;icardo EnlclmJtl, IIi a la formacíón de una


elos quesitos . . . 152 ~ epistemologíil jurídica en base J illgunos análisis deI
Quesito único naS hipóteses de pedido de pelo funcionamiento deI discurso jurídico.
Ministério Público 155
7.2.4. sempre por l1lilioria de votos .. . 155
7.2.5. A necessáriil ilbolição do quesito (anligarantista) genérico da
"de qualquer modo" .. 156 A feitura de uma nova edição - agora já a 4~ - apresenta-se
7.2.6. inconstitucionalidade éb llecessidade do recurso ex do COl110 um desafio: passar de um tempo para outro, corrigir equívo-
ar!. 411 do CPP . . . . 156
7.2.7. A inconstitucionalidade do assistente de acusaçiio . cos formais e materiais, revisitar teorias e questionar os próprios
158
7.2.8. A lese (e do "dil-eilo do autor" conceitos emitidos anteriormente. Uma questão, porém, permanece
Tribunal do Júri 160 intacta, qual seja, a perspectiva crítica acerca do Direito e da
162 dogmótica jurídica. Por o Tribunal do Júri é anélliséldo em um
165 misto de resgélte e críticél. Como mecélnismo de institucionalização
169 dos conflitos e reprodução ritualístíca de uma dada sociedade, o
Júri carece de profundas modificações. Como mecanismo de partici-
pação popular, mormente pela possíbilid~de do alargamento de sua
170 competência, deve o Jlui ser fortalecido. E neste meio-fio que a obra
177 se forja, buscando construir um discurso que faça uma síntese no
en trechoquc de ~'\.}::>1\.\.'C0
Com o advento do Estado Dernocrático de Direito, instituído
Constituição de 1 é indispcnsé'Ível que haja um profundo
repensar acerca da função do Estado e do Direito. Ventos neolibe-

TRJBUNAL DO 13
intervenCÍonis- ao rito processual, a simplificação
Democrático de Direito. do Tribunal Popular, a
illlél1ise que se sobre do assis-
crivo desse novo
do campo jurídico os mecanismos
(LI modprniebde e dos
d Iq realizou
moderniliôde é
o r'::c:tndo SOCi,ll, t,dista pilra Diferentemente do que sustentei 11as ed penso,
do .s!adu Lílwrdl, foí (e continua um e ji'í desde a tercei r;) das decisões do
zICro. do tal como Ill, d, do Cód de
Isto filz com que () Direilo a Sér visto como urn não fere a SlJa sobcrZlnia. Altero, meu
te fator de tra . Hi'í que se ,lbandonar ii acerca dos delitos de trânsito e a o do dolo eventual.
do direito peniíl c penal. Ou scja, o s,')o trazidos d
penal não deve colocar o jurista em uma encruzilhada, na qual nas hipóteses de pedido de
tcnha que optilf entre barbárie. Por o Direito deve aboliç50 do antigarantísta da participação "de
ser em face da
do dcslH'cé:ssário dizer que en!os
t' i Ild i ;;- rS;1 !co ri ~lS
l1lfili tillIÔ\1;'.. il) 1!Urm,lS du
to, A obra se os diversos mbiíus
sistema, A partir da CO!lslitu estabelece um novo modelu
conlrove"rsia, Por a sua crítica, buscando
de produção de direito, deve ser a readequação dJS norlTWS
horizontes de sentido. Parafraseando lVLírio Bencdetti, alguns dos
pertencentes ao velho modelo, Quantas normas penais perderam
temas suscitam tanlanha controvérsia que, quando se acredita ter
sua validade (Ferrajoli) com o advento do Estado Democrático de
encontrado uma Use cambian las preguntas"!
Direito? Qual a conseqüênciJ da secularização do Direito, produzi-
do por esse novo modelo de Direito, no 5mbito do direito penal e
Província de São Pedro do Rio Crande do Sul, fevereiro de 2001,
processual penal? E as normas processuais? Produzidas hé'í mais de
cingüenta anos, estarão elé1s cm consonância com os princípios
constitucionais? Estar50 elas sendo interpretildas em O Autor,
conformif:lade com a
se apresentDm para o debate no desenvolvimento
A par de todas discllssCies ,lfdas ii crise do Direito en,
seus mais diversos - como, por do
teoriZl do bem juríd
teoria acerca da
da

..
'~~---_._--_._-------------~---_ ---~'- .~_._ .._~--_._---_._--_.----_._.------'" _._------
14 LEN10 LlJIZ SfRECK TRlllUNAL DO 15
No
.
]

Estas reflexões se a atravessar a níveis


paE1 das ilnaginiÍrii1s sobre as quais debru-
çam-se tanto a ciência como a filosofia c o senso comum.
A aborda.gem, ao longo de sua trajetória, busca deslocamentos
que visam a melhor elucidar a compreensão de alguns 5mbitos de
atuaçiio da nOrlTta do processo social.
Faz-se' para tanto, ,lClarar que o fio condutor não se
tivisLl. En
ded iCll!O ils
SOCi21is e ck:
iII/plico () atravessamcnto dos cll/lJlciados do II/lIlldo
cntcl1dido 11 das ciêllcias l1orIJli7tivas, c do lIlundo da vida, aqui
CIltcndido COIllO o imaginário social.
A açiio escolhida não pressupõe unta dicotonlia entre o mundo
sistêmico e o mundo da vida. O que se pretende é um deslocmnento
metodológico ante a tradição positivista que põe o método e os
conceitos como anterioridade aos processos sociais. Ou seja, os
conceitos aqui trabalhados não só têm sua elaboração circunscrita
ao universo dos processos históricos - estando historicamente
detel'lÍ1ínados - como só silo possíveis no universo produzido peja
forma de capitalismo típico dos chamados em desenvolvi-
mento. Cabe , ainda, (1 prôpriocollceito de raZllO 011 de

mcio!1alidnde llorteio este trabalho lIllIO raZllO e


crítica fI/I sells
Entende-se, desse modo, que a trajetória a ser seguida teria que
cumprir um conjunto de que, numa genealogia - lembremos
Foucault -, F'crmitiria melhor acl;uar as formas discursivas quc,
íundadas em estereotipadas ou
217m a compreensão dos sociais que encaminhiJJ11 o discur-
so jurídico em sua

TIWlUNAL DO 17
destas reflexôes cabe ressaltar 4. desse depreender, tanto no plano das
Entendendo que o discurso normativo do jurisdicismo se leia-se juízes, advogados, etc. -,
sociais n50 atingidos diretamente por
que o universo díscur-
ilvaliar as dimensões meramente intomiÍti-
Cha . Till
ncnte remete u trabalho
são entendidas como constituintes do
sentido comum da de considerar os sociais como não
sociais tfim um "vivido"

2. Nessa linha, procura-se tn1tar, em em vista da


l1txessidade da separa da chíssica dicotomia !Il1fildo siSt[~lIlicll nestas reflexões se
versus lJ/ul/do da das entre o Penal e Q de determí-
sociedade civil, a partir de unl,l visfío de tot,didade, em que emerge
a questão crucial da responsZlbílidade do indivíduo como detentor
do "livre rbítrio", dÍi1l11 do bem do 111(j prohlclllJtica
idOnciil, uma crítica <'1 idéia de um elll
de l1cl1tr"liebdc lid "din:llT! dei l'strutUril
CD, h e Q,rnpi1"" aI te df'Lcrrninad;l e
no Brasil como qUlC, ra
instância legitimadora das formas de tratamento de processos procurando, porém, não perder os mecanismos pelos quais ela
sociais, tais como o privilégio d(l propriedade em confronto com a recebe e responde a sua própria determinação (Míriam Limoeiro
vida; a do direito do (lutor em detrimento do direito Cardoso).
pen(l! do fato e os discursos dos atores jurídicos que nele atuam. 5. Nessa linha, o imaginc1rio produzido pelo Tribunal do Júri,
Nesse sentido, a abordagem situa o Tribunal do Júri dentro d(l buscando estabelecer (os) padrões de comportamento da sociedade,
tr(ldiçfío antropológica que define os rituais como expressão funda- oculta a gênese de sua açi10 interessada! obstaculizando, com a
mental da ordem social em que émergem, (ltravés dil contribuiçi1o de uma razão comunicativa (Habcrmas), qual seria
de Victor Turner. São funda por outro ](ldo, para a C0111- elucidar os dei tos da prMica jurídica (cm sua interação)
dess(l anátíse simbólica do júri e das sociais, os com o mundo das cotidianas.
estudos de Cornelius Castm-iadis. Enfim, a opção por uma trajetória interdisciplinar
5 QUi1l1do m" refiro à , estou ciente d,l uma Zllternativa teórica conseqijente, para não correr o risco d(l
re13cionzICta ;lO t'rnito do r<:1cion;l!Jl e suas Utrcze cJracterística:::/', nlulto unidade e de um ecletismo nfío-conseqliente, que
bem cnfocad<1s e ironizac!Js - pOI' Nino e re!TaZ Jr. Tr.lta-se, conforme abordagens sem, no adequar-se a uma racio-
Fl'ftaz Jr, "de U11lil construçüo qUf> n;'\o se confunde com o
nalidade elucidativa do cotidiano do sentido comum teórico dos
normativo (o "tu cOtnl'r:telllc conforme n
real (a vontade que de Lllo '
ris tas.
que funcion,1 como um terceiro cm bel' di>
e da (LR). A ele <1 hermenêutica se reporl!1 "o
II, "il intclh,'i)o du "
I p.lra tal1lu, Ferrilz Jr., 170
550 Pi1ulo, ALias, 1')89, p. 25-i!5.

18 LENJO LUIZ STRECK


TI<IBUNAL DO Júm 19
1. °naJúri, o eo
perspectiva do Estado Deluocrático
de Direito. a utilidade de UlTIa se
garantis ta. Perspectivas
(deskriminali . o verso e o
reverso da tutela penal.

Com o advento do Est<ldo Dcmocri1tíccl de Direito/ toda a teoria


C! novo modo de
de direito. com a perspectivo de o Direito ser
ordenador (modo/modelo de produção liberal-individuatisto-nor-
mativista), passa-se a perceber/entender o Direito como promovedor
(Estado Social) e transformador (Estado Democrático de Direito).
Avançando sobre as perspectivas de Estado e de Direito vigentes
até então, o Estado Democrático de Direito nasce com uma perspec-
tiva criadora, como um autêntico plus normativo em relação ao
Estado Social e ao Estado Liberal, isto porque traz em seu âmago/
isto é, no fexfo da Coltstituiçiio de cunho dirigente e social, não somente
as promessas da modernidade (não-cumpridas), mas as próprias/
possibilidades de estas serem realízadas.
À evidência, tudo isso deve(ria) repercutir junto à teoria do
direito. O Direito não pode mais ser visto como uma (mera)
racionalidade instrumental. Alguns autores, como Luigi Ferrajoli 6 ,
6 Ver, para tanto, Ferrajoli, Dcrecho Ij RazólI, Madrid, Trota, 1995,
e O Direito como sistema de garantias. III: O H(JUO em Direito. José
Oliveira fr Porto Livraria do 1996,
critiche e~i Autocritíche Intomo alla Discussione su
Le Ragioni de! Garantismo, Torino,
de OerecllO ln: Ibafíez, Perfecto y
Estado de Derecho. fi de ln Madrid, Trotla, 1996; Bona vides,

TRlI3UNAL 21
)
benl essa problemática. Com efeito, entende ele que o somente as suas formas de através de normas
do Direito tornou-se hoje mentais sobre a formação dos outros atos normativos.
de sua estru tura formal, ainda os seus conteüdos vinculando-os
normativanwnte aos
mediélntc técnicas de
da cultura

cn tré va lid ade e


e não só os seus - o seu "dever ser", entre a forma e a subsUincia das
e não apel1i1S o seu "ser" - que no Estado Constitucional de Direito 5,10
no cumo Direito sobre o sob a
de limites e vínculos jurídicos de produção mensão
Assim, a esta dupla artificialidade - do seu "ser" e do no pbno da teoria da interpretaçi10 é da aplicação da
- a legalidade positiva ou forrnal.do Est<lclo Consti- uma redefinição do papel do juiz e um.a revisão das
mudou de m1tllJ'eza: jc1 não é só iciol1a cnnd eb Slld Ó
condicionada por víncu tcnria do
Paí'il

]USPOSltl a de C1 esta
artificialidade confere um papel de garantia relativamente ao Direi- garantismo assim, deve ser entendido como uma técnica de
t

to ilegítimo 7 . Graças a ele, o Direito contemporâneo não programa limitação e disciplina dos poderes püblicos e por essa razão
ser considerado o traço mais característico, estrutural e substancial
Paulo. Curso de Direito COllstituciOJlal. São Paulo, Malheiros, 1996, p. 435. Guerra
Filho, Willís Direitos fundamentais, processo e princípio dCl proporcio- da Democracia: garantias t01110 filJem;s eOlllo sociais e.xpressalll os
nalidade. hllmanos lias direitos jl/lldaJ/lClltaÍs. Willis Guerra Direitos FUJ1damwtais do eicltuMo frente 1705 poderes do Estado, os
Filho Porto Alegre, Livraria do 1997; Vieiril, Oscar Vilheni1. interesses dos IIwis em relação aos ))lais fortes, tlitela das minorias
e Esti1do de Direito. II!: Revista de Ciêllcias Crilllinais 11. 14 às maiorias iII tegl'lldas ..
Revista dos Tribunais, 1996, 201-214; Cademartori, garantistil ele ferriljoli tem como base um projeto
Porto
lcitum do
de DenLOcracjil social, que forma um todo único com o Estado social
de Direito: consiste na dos direitos dos cidildãos e dos
é deveres do Estado na liberdades e na minimização
dos poderes, o que pode ser representado pela seguinte fórmula:
Estado e Direito mínimo na esfera , graças à minimização das
da Eu repa, beneíiciáríos do S/fite, isso até seria
contr,üio, O!lei" O Estado Social un'1 sinllllacro, o
ITtCCanisl1l0 na das para o
das promessas da
féricos, ocorre exat,lmente o conlr,írio:
bolsôes de miséria nos centros urbanos, d,l expalls:ío da
Z1 desobediência colctivi:1, as instituições icas c
emincntemcnte
rZldica lrncll te, numa dimensão

22 LENTO LU1Z STRECK TI<lRUNALDO 23


de liberdade do cidadão e ii correlativa extensão dos limites jurídico, "uma vez a crença na 'sobre-
. Estado e I natural' de um direito origem e também a coníiança na
à das materiais dos cidadãos \ 'náturalidade' do direito, que não
e à correlativo de satisfazê"las. por
A

que
a não adaptar o
limites esfab- te, o processo aparece,
então, corno que caracteriza ()
deuma direito
extenH Dito'de outro modo, em face do DemocrMico de Dín:ito
to, instituído pela brasileira, "o valor normatÍ\'o da Cons-
como da variedade e pluralidade de pontos de vista externos tituição deve ser potencializado, especialmente a normatividade
expressos por ela. dos ci1pítulos condensadores dos interesses das classes não-hege-
É relativamente fácil, môniCils. Mas, para é l1ecessário elltcllrle!" q1le fi
abslrato e cntre outras tOliibélilllorlllfl, C' nilo i1!cm de
E se é norma

é lnodC'kn" jud ser tomadas


constltllcionélÍs
lOS sendo nOrlna suprema, o de seu discurso deve contamiUM
Fundamentais consagrados por Por faz uma forte crítica à todo o direito infraconstitucional, que não pode nem deve ser
ciência penalista que teoriza sobre o monopólio penéll e judicial da interpretado (concretizado/aplicado) senão à luz da Constituiç50.
violência institucional, que esquece as práticas autoriti:~rias e as Afiltrrzgem cOllstitucioJlal consiste em.interessante mecani.smo pr~pi­
ilegalidades da polícia, confunde a imagem normativa do Direito ciador de atribuição de novo, atuallzado e comprometIdo sentIdo
Penal como técnica de tutelél de Direitos Fundamentais e de minimizél- ao direito civil, aodireito penal, ao direito processual, etc."lO.
da violência: o sistema jurídico por si só llão pode garantir Tais questões devem ter uma imediata inserção no âmbito das
absolutamente nada; as garantias não podem estar sustentadas apenas práticas judiciárias 11 . Nesse contexto, além da sobretida filtragem
em normas; nenhum Direito fundamental pode sobreviver concre-
9 Cfe_ Guerra Fi lho, Willis Direitos processo c da
tamente sem o apoio da luta.-pela realização por parte de quem é seu proporciol/alidade, op. ciL p_ 21_
titular e da solid,lriedade da força política e conclui- 10 Cfc_ Cleve, Clemcrson Merlill_ A teoria constítuciollal e o direito alternativo
Essa idéia tem como suporte a relevante circunstância de que constituciol1i11 [1/ Direito altcmalivo_

cabe à Constituição fornecer o fundamento último do ordenamento Rio Janeiro, Instit\lto dos Brasileiros, p.48.
A 2' Câmara Criminal do Tribunal do HS tem assumido
e/lqut11110 110 fil/l/li/o dos direilos sociais e económicos se vive Com efeito, vale trflnscrever ementa
110 Direito Pellal 11 é oposta. O que aí se tcm é a 11_ 286042336, reI. Newton Brasil de Leão:
de novas atividades cm inúme- A de Cllrccnírill de 5 fil/OS
e da
o encurtamento
lli'L,JL!..1>=,'-HH.-L..LWC!H.t!llL CO III 'LL.l1llLHL1.li.L..;L"-"
(n. 297015729), tMnbém baseado em
a 2' Câmara reformou sentença de

LENiO
das normas infraconsti criminalizador, autorizando-o legítimos,
de ( teria também legitinlidade para um mínimo írrenunciá-
ve] de tutela. Só esta sintonia com a aluaI
da
radicam ainda numa
entre Socied,léie e Estcldo
de omissôes
ta mente insll ficientc. 13
Na mesma Costa Andrade H assevera
linhas de furçél no
constitllciOllais ns JlICSilWS
N eCc'sSé1rio 110 seu f ido
cntcnd no seu
dl've ser vista intoleráveis o Estado niío coberto do
nas com ii defesa direito criminal, sob pena, como acentua de frustrar
no domínio c!(!
"de pa 1'<1 cnn ter (1 sentido

na CClllSti
naturalmente novas formas de penal ou afim. Continuo,
pois, convencido de que o texto constitucional, ao comandar (ordem
de legislar) a atividade do legislador traz implícita - por exemplo,
no campo do direito penal a necessária hierarquização que deve
basta que se dê lInla cxanlinDc1a n<l 13 Cfe. Ferreira da Cunha, Maria da ConcciçJo. COIISIi!uiçl/O r Crilll". Uma
Pen~l cm . "A REFORMA DO c da Porto, Universidade Católica

Criminois, r jSbO,1,
15 Entendo que o direito, no Estado Democnitico de Direito, tem uma
sendo, um rlOtmativo em relação ao Estado Social e ao
Liberal. A Constituiçiío estabelece as dirctrizes
desenvolvimento do Estado. COlllO bem rcss:llta Canolilho (em sua
o da denlocracia econômíu1 (' social constitui uma autorizaçiio constitu-
,'Clll ina cional no sentido de o delllocráticu e outros C1cl
ín\'OGlr, e111 (;'Ice do Estâdo, outras concretização ildo/III'Cin IIS lIIedidas I1cces.,úri,ls l'llfll 11 evo!lIçi!O
des além que o assegurem contril o exercício do dil ordcill sol! (I 6/ iril de 1111111 COIlStit lIóol1nl" flilS ve,k, de U/I10
reclamada pelo interesse sociaL Este o critério que da dCnlO(Jdcla cconôrnica e soc101 no
101"""'111,0 projeto de No sell I,c.l!o, niío 5(/0 trJllsformaçiío c moder-
de Ulll JIla! f77.úsndo
!vlotivos elo de rJroccsso Penal, 110 Diiírio Oficial dâ
,que resultuu no Décreto-Lei 11.3.689, de 3-10-1941).

26 LENICl STRECK TRiBUNAL DO 27


ser feita na distribuição dos crimes e das penas. Nesse sentido, vem direito penal mínimo deve apontar para uma massiva dos
( bens penais e das proibições legais, como de sua legitimida-
lição de Palazzo, para quem, enquanto as indicações
de fundo (que atuam no sentido da descriminaliza- de política e jurídica. Alerta, entretanto, que é possível, também, que
ainda, do um constitucional característi- nesta 110 campo dn t1ltela de bens fl/J1damel'1-
Estndo do Direito, outrossim, uma tos hoje m/o
crimini11 e direito penal, <1 introd
,;S c1crtentcs orielltadas !lO selltido dll truduzcII/ II
di' 1/11111 i'isiiu licllI diversa do da COllstil 110 sistelJlIl as 11<1 cstcirél de Banltta, tmta-se de
no confronto de determinados bens jurídí- mecanisl/los do instituciollal pam fl crilliíililíidnde
característicos do novo qUi1dro de valores os desvios criminais dos estatais c para (Í crili1e
como for, de n~lovância Jr. 20 diz
!i III Eslado dos
dentro devení atuar o
propiciadoras de ccol/ôlllicl7 deverá
dimensões ultraindiviclual o coletivas, exaltando, continuada mente, no sentido de, o mercado e os
o jJapel instrulIlental do direito peJlal COI11 respeito ti políticll criminal, l7lenos pela fortu!1a, promover o desel1volvimellto ea
ainda quando sob os - por assim dizer - da Consti 16 justiça social",
O jurista italiano que junto ZlS C'xpressas Niío hií dúvida, que o
las de !lO BrilsiJ, hií o comiHldo de acordo com a cntendid<1 no seu
de hcdi d:J torluril, conrl:údu materi<ll), sendo os
etc) existcm o ela Conêiti
eMabcleccr Isto o que se <lcha no que são norm,lé, c, víncul Nenhuma lei
constítucionéd e impõe <1 proteçJo penaIísticados valores, mesmo pode ser se qualquer seus dispositivos-confrontar um
nJO sendo objeto de uma cláusula expressa de penalização, há, de princípio da Lei Maior.
qualquer de ser entendido COIIIO parte integrante do que foi No campo do direito penaJ,21 em f"cc dos objctivos do Est"do
expressamente afirmado pelo COllstítuintc. 17 Democrático de Direito estabelecidos expressamente na Constitui-
Dito de outro modo, I1JO h,1 dúvida, pois, que as bateriéls do
19 Cfc. Baratta, Alessilndro. CrÍlllill%sia crílica e crítica do direito 1'1'1101. Trild. de
Direito Penal do Estado Democrático de Direito devem ser dírecíona- JU<lrez Círillo dos Santos. Rio de Jalleiro, Reviln, 1996, p.202; também. Castilho, Ela
das preferentemente para o combate dos crímes que impedem a renlizaçílo W. de, O conlro/e pelllll /lOS crimes COI/Ira o sislC/lIn !loC'Íol/al. Belo Horizon-
dos olljetivos cOllstitucionais do Estado. Ou seja, no Estndo Democráti- Dei 1998, p. 75,
co de Direito - instituído no art. F dél CF /88 - devem ser combéltidos Cíe. Ariluio Jr, JoiíO Marcelo & Santos, Mnrino Barbedo. A I'CIII11: ilícitos
os crimes que fomentam II °
sodal, que significa afirmélr que Cmi1ÔlIlicos. Rio de Janeiro, Forense, "]987,
Concordo com iVlarcia OOllletib de Cl I'Vil lho
80,
o direito penol deve ser reforçado naquilo que diz respeito aos Sergio Filbris, 1996, p. 44 e 45) 110 lildo de limo
crimes que promovem sustentam as desigualdades sociais. deve I/oveI' li !II de ser I ipificndo todo
Nessa linha, nada melhor que a lição do próprio Ferrajolil R elilniI1O!', Por outro lado ca
quando trata da e/eiçilo dos /lOVOS bel1s jurídicos {llIuianrcntais no IltlO cair lia nl'lllt7dilhll de lIJila
~staclo D:'=110crático de Direito, ilfirmando que l;m programa de faJa de
O
16 Cfe. raIano, Frilncesco C Villorcs constitucionais e direito Trad. de OS IlJCe1ll1 iSIlIOS do /'mçiio
Gerson Perciril dos S,1lltos, Porto Fabris, 1989, p, 1 o CCOIlÔlllicl1. dos desvios crill/ilu7Ís dos
Idem, ibídem, p. tOS. c do corpo do Eslado, da criulÍllillidode
Hi Cfe. lj RIlZâl1: teoria dei Madrid, tCl11pO, acentua o mestre, de assegurZll' unia lnalor
Editorial favor dos interesses coletivos. Consultar, nesse sentido,

28 LENIOLUIZ Tf\IllUNAL
uma maneira ou
outra,obstaculizanl /i dos
tivos do Estado Social e DemocrlÍtico.

J o en
Ul11 O

2.1. Dogmática e ideologia

qunlid
ali estiÍ afirmar e reafirmar o ma bem.
é a vida e, como guardião que é da aplicação.
esta deve ser cumprida.
Isto leva à pergunta: afinal, como o Código Penal trata desse
bem maior do ser humano? Para tanto, é necessário fazer uma amílise
comparativa dos dispositivos do Código Penal com ou tros do
mesmo texto legal, bem como os demais títulos e capítulos do
diploma repressivo. Existem diferentes garantias, as quais têm a
111eSma hierarquia normativa. Nesse sentido, ver-se-á que esse belll
/llaior -avida. e, por que a integridade corporal - tem menor
que 11 propriedade prillada.
De início, cabe referir os tipos penais têm umarelaçAo
direta com os bens jurídicos que as camadas dominantes da socieda-
de pretendem preservar. Como bem assinala l3aratta 22, "as malhlls
dos tipos (pendis) SilO cm IliOÍS SI/tis 110 Ci/SO dos delitos das classes
sociais II1l1is uaixas do CIlSOS dos delitos de 'colllril111O /lral1co"'.
Estes delitos, também ponto de vista da previsão abstrata, têm
uma maior possibilidade de permanecerem inyunes". Por os
conflitos sociais aparecerão nos conteüdos da lei penal na exata
22 Cle. 13aratta, Alessandro. críficn e crífícn do direito Trad. de
}tlarez Cirino Santos. Rio de Janeiro, Revan, 1997, p. 176.

30 LEN10 LU1Z STRECK TRIBUNAL DO 31


medida en, que COlOG1!1l em os interesses das classes que sua elucidação, do el1lendil7len to acerca do
dominam JS relações sociais. na medida em que se fizer essa Isto porque, como ensina Zizek, a
evidenCÍar-se-fÍ i1 tomada de posição ideológica de cada pelos"mecanÍsmos da
tivo do Código deste num todo), frente aos diversos E à
setores conflitantes. dizer que (') que é
Cirino dos Santos B vai denunciar somente a maneira pela em suma,
do Direito Pen !1C1 maneira como os mecanismos discursivos constituem o
para ,1 existência do indivíduo e . No
da sociedade, têm certos como as noções de unidade
(e n50 de d social, de identidade (e n<10 de contradição) de
de (e não de entre os compo·- "nem tudo é
nentes das sociais e de indi\'Í- precisamente esse excesso
Definitivamente, é ohem ideologia".25
tCIll (ar(Ífer de classe. Tal consta O ideológico n50 ser enquanto ideológico,
mento crítico de conceito de bem juríd no amplo espectro de ou seja, usando as palavras de Zjzek, o indivíduosubnletido a ideologia
funções que, como visto, lhe corresponde". llWIC17 pode dízer,por~si,mesmo :'estouna-úieologia". Esse não-poder-di-
Isso nos leva, conseqüentemente, à discussão (para mim sem- zer é decorrente do fato de crue o discurso do outro o aliena dessa
do dJ ideologia na sociedade e, idade simbolizante. E dizer assim que discurso
lo. A id "n50 6 indivíduo submeti-

lutQ n,10 turado


riQ histórico na idéias m () r dos vir ,1 tona no se este não
agentes históricos reais. A forllll1 específica do ÍlIlagi!ll7rio de dizê-lo, de nomeá-lo, isto é, estabelecer a surgição de que fala
SOCIll! IllOdcrno, é a ml1neira 11ccessárÍa pela qUI11 os I1gentes sociriis Lacem no Seminário II. Nesse sentido, é possível fazer uma analogia
representam para si mesmos o aparecer sociaL e~ol/ón1Íco e político; de tal do discurso ideológico com o discurso do mito. A ideologia -
sorte que essa-aparência (que I/iio devemos Slll1p~esm~lIte tomar C0ll10 vistajel1tcndida segundo os parâmetros aqui estabelecidos - permite que se
sinónimos de ilusiio ou falsidade), por ser oll1odo lInedtato e abstratode diga que o mito só é mito para quell/ lIilo sabe que é mito, ou seja; o mi/o só
IIwllifestaçiio do processo hisJóúco, é o ocultamelltoouéldissil/lul~çifodo 111ito para quem Ilele acredita. O desvelar do mito é a instit uiçiio de uma
real. (.] Universalizando o pélrtícular pelo apagamento das dJJercn- ruptura, Através de um simbólico niio atravessado/sitiado pelo discurso
ças e contradiçi'ies, a ideologia ganha coerência e força porque é um mitológico. O simbólico dos registros do ReaC Imaginário e Simbóli-
discurso lacunar que não pode ser preenchido"24. co não deve ser entendido (al1uí) como simbólico/ideologizado/
Dito de outro modo, as contradições do Direito e da dogmática Se é verdade o que disse Lacan 2ó que 111lllca se sabe o que
jurídica que o instrumentalízZ! não aos olhos do jurista, acontecer com 1I11/{/ realidade aié o momel1to em se a
uma vez há um processo de justificaç50/fundamentação da defhzitivilmenie a inscrever-se 11uma então o ideo-
do seu próprio discurso. Esse de l7ilo lógico da sociedade sofre um atravessamento, isto é, um atalho
23 Ver Santos, Juarez Cirino dos. mdicnl. Hio de Janeiro, Forense. impede que a realidade - não-ideológica - se inscreva numa
linguagem, é dizer; que possa simbolizada. Isto há UIIl
Cfe. ChauÍ, ],vlMílena de Souza. CIII/lira dell/ocracia: (1 discurso competellte atalho lia . uma há ll/IUl
ed. Silo Paulo, iVlodema, 1982, 2 c 3. Sobre o assunto, consultar
Mész{)ros, lstvfin. O Trad. São Paulo, Eles Iliio snbem o O sllúiÍmc da Rio de
Ensaio, 1996; Zízek, Trad. Vera p.122.
Ribeiro, Rio Janeiro, O SemilllÍrio. Livro 2. Hio de Janeiro, Zahar, 1995, p, 118,

LENíO UJfZ STI<ECK TRIBUNAL DO JORl


há tlll! curador que se substitui ao discurso. Esse atravessa-
mento/atalho, ou (de sentido) institui uma
interior do qual o discurso

dar-se conta do

Pode-se dizer, a tem eficácia na


medida em que ni'io fi isso nilo surpreende o fato- social tema cm
e essa seriÍ analisada mais ilnlÍúde no subtítuln 3.1. adiante
- de o Penal durante ilnos il paradigma? lug,u,
dar cont<l tfio da premissa de um paradigma i uma teoria
o ato de furtiu lima galinha recebe uma apenação ment,:lI reconhecida pela comunidade como delimi~
mais gravosa (1 a 4 anos de reclusfio) do que o tadora de campos de ínvestigaçfio pertinentes a determinada disci-
de um recém-nascido, com resultado de morte (6 meses a (Kuhn), é dizer que o que fornece o 5fatus científico
2 anos de J recente- n50 Janto dilS teses defendidas
mente, foi

ou tra
sllbmctcr;í u 8 illlOS de i1 isso o dizer de Zuleta para quem a
reclusão. Ao mesmo tempo, o dto de GlUSar mente uma lesão jurídica define e controla a ciência jurídica, indicando,
orave da qual resulte deformidade permanente, enfermidade incu-
b . COH1 o poder que o consenso da comunidade científica lhe confere,
rável,perda de membro ou aborto, ocaSIOna uma pena de 2 a 8 anos
não só as soluções para seus problemas tradicionais, mas, principal-
de reclusão. O problema não está somente na desproporção das
mente, os tipos de problemas que devem fazer parte de suas
penas. Como já dito, a comi nação da pena de reclusi!o é bem mais
investigações, Daí que a dogmática jurídica é um nítido exemplo de
gravosa, em todos os sentidos, que a de detenção! E essa, dentre
paradigma. Diz mais o mestre argentino, que a crise .da ciênci~,do
outras, que Batista designa como Illissiío secreta do direito penal,
Direito é um capítulo da crise mais ampla da raclOnahdade pohtlca
acentuando que, numa sociedade com contrastes sociais tãopHJfun-
qUe'ocorrenas sociedades avançadas 311 •
do,?, o estará protegendo escolhidos pela classe que
domina tais ainda que te 111. certa univel'salídade 27 • tanto, Warat, Luis Alberto. flltrod/líiio ge1'll1llo Direito fI. Porto

os dilemas dJ

2.2. A dogmática jurídica e a crise de paradigma(s)

A instrumentalização do Direito ocorre através da dogmática


jurídica, qlle, à evidência, na lúcida visfio de "Varat, não deixa de
tal' os efeitos do sentido comum teórico. Desse modO,.a
ao servir de instrurnento para a interpreta-
/aplicação do Direito, vai COBlo·um

27 B;ltistil, op. cít., p. 116,

34 LENIO LUIZ STl'\ECK T1WlUNAL DO jLJR[ 35


Isto. é efeito. o.U causa? (i)··cel'to. é' que, co.nfo.rme lenlbra Faría 31 , e Tício., a vítima. Assim, se Caio a propriedade
"preparado. para reso.lver questões ·Hunca.as Tício (sic), ou Caio furtar um botijão de ou o automÓ\!e1
001etivas, o. direito. oficial não. o.S set0res mais"·desfavo.recí- de Tício é fácil para o operador do Direito reso.lver o problema.
e a marginalização. jurídica a que fo.ram co.ndenado.S esses No. primeiro caso, é esbulho, de imediata de
seto.resnada mais do que o subproduto de sua mil é furto.. Nestes
e económica". OU o.S setores somente são.
do Direito Penal. Daí

processadas em ritmo
estruturais das abo.rdagens formalistas.
pois, ainda, com um modo. de produção de
Direit0 33 de cunho líberal-no.nnativísta-individualista, forjado para
resolvCl' disputas/conflitos interindividuais, ou, como diriam os a esses problemas, produtos de
manuais Dilvito, disputas entre Caio e Tício o.U onde Caio é o uma em que os conflitos têm um cunho
transindividual? Na primeira hipótese, se a justiça tratar da invasão
de Estado Moderno eurocentrado. de terras do mesmo modo. que trata os conflitos de vizinhança, as
observação dos conflitos são. gravíssimas (e de todos conhecidas ... !) Na senln-
entre moddos
do. colarinho eXilminar a LO

da llblica
no ,I}!Od(fUO dCSC1l7/(I!tlido, que
Cun! U.'ll opurnto lnlrt 1Crúfico está7'c! c ou!rns
ClIlclldido Clil/lO /III! direito
que, de 986 a
par parle da Eslado, de somente 5 682 crimes apurados
delltro de determinada a crise reside 110 de que é Central resultara~nem cond~nações em primeira instância na Justiça
este direito diferenciado que lião se cOllsegue firll1ar 110 Bmsil. Ver, para tanto, Federal. A pesqUIsa revela, amda, que 9 dos 682 casos apurados pelo
Adeodato, Maurício. Direito: Crise e Crítica. ln: Direito e Dell/oeracia, Katie ~anco. Cen,tl'aJ taI1:bén: sofreram condenações no.s tribunais supe-
Argüello entrevista. Florianópolis, Letras Contemporâneas, 1996, p. 148-150.
31 Cfe. Faria, José Eduardo. Direito e eeol/oll/ia lia bl'l1síleil'll. São nores. Porem· - e ISSO e de extrema relevância - l1enlnHIl dos 19 réus
Paulo, Malheiros, 1993, p. 52, condenados po;··crimedo,~olariHlw.bral1co··foi.pam.a cadeia! A pesquisa
32 Cfe, CampiJongo, op. cit., p, 12 e segs. ressalta tambem que o numero de 682 casos apurado.s é extremamente
33 Como modo de produção de Direito entende-se a politica economlca de pífio, em face dos milhares de casos de crimes do colarinho branco que
proteção e legitimação num dado espaço nacional, num momen- ocorrem a todo ano no país34'. E os crimes contra o meio ambiente, como são
to específico, que inclui: a) o modo com que a profissão jurídica e a de
são organizados; b) a localização de entre as tratados? Como funciona o Direito nas yelações de consumo,. IllOrmellte
(praticantes, aplicadores da lei, da doutrina, quando se que a televist7o, que deviria ser um veículo para trallsmitir
c) o modo com que (1 carnpo produz o incluindo variaçôes na cultura (art. 221 da CF), transformou-se num bíngo pós-modemo?
e a importância das vantagens sociais e relaçôes Estamos, pois, em face de um sério problema:Lim lado,
para o recru!amento no d) JS para a articulação da
preponderante e os modos com que estas incidem em entre temos uma s(5lciedade carente. de~realização de direitos e, de outro,
posiçôes; e) o papel que os com os uma ConstitniçãoRederal estes da.formamais
lransnacionais num dado COIlipO ampla,possível. Daí o acerto de Ribas Vieira 35
o modo dominante em dizer que "a crise do deriva do existente entre
São Consultar Ci,stilho, Ela Volkmer. O controle dos crimes CD/Um o sistema
modo de I!tlcional. Belo Horizonte, DeI 1998
Ribas Viera, José, Teoritl do Eslado, de Janeiro, Lumen ]uris, 1995,

36 LENIO LUIZ STRECK TRlBUNALDO


sua e I1S 11ecessidades considerando-se totalmente Com do em o Direito, de cunho
insuficiente a formal da existência de determinados interferência do
d IIIJItl vez que o Direito só ICII1 rcal e.·ástência Il de 1111117
.N.'ío passamos -
como o man de em que o Direito tem uma
na nova Constitui- interferindo sociedade diminuir asdistàn·-
ineficazes do realizar uma
lísll!l1Cl1! "vers50 socio.l do a partir de
do Direito (c dos e se passamos a o Estado
tomando l),;mocri1tico de nuvidade "não esti'í (:111 uma
superilr dJS estruturas esta nova
liberil l-individua 1ista-nor- tradicional. Ao
no fimbito do IIOL'(J
de que, cmboril o como 11mconteúdo
Direito perfaz um caminho a {l gal'llJl t ir jurídico de
ildvindas de um Estildo inter- 111 íllilllllS {lO cidadifo e ii CúJllU11idade."3<J
Este da

J
num mero técnico positivo. Como o que
campo suas importa não é a explicação, a compreensão e a orientação dos
Z1çües. s50 "través de comportamentos jurídicos, e sim a tipificação e sistematização de
C3111p05 sociilis e de conflitos internos, o que
sultar [lourdieu, Pierre. The tllc Law: to1tltlrd a diferença entre as gilrantias liberais negiltivilS e as garantiils
il
Também OelaZilÍ, Yvcs e M. A ii diferença entre o Estado Liberal e o Estado Social. O
Direilo c G/oI.111/i:(/íiio ccollônlinl. por norl11ilS secund,'Írias negativas, por proibiçües dirigi-
1996, p. 34 (' scgs. de poder; c o Est,lÔO Sociéll por Jnélnc13tos dirigidos ao poder
Pilra Lima ml'lhor liberais servem pa rél defender ou conservar as condiçües
sociedade tem um CIIIII/'O de existÊ:ncia; as sociais ou positivas permitem
do que COlllum teórico sociais de vida. garantias liberais requerem do Estado
que slIslenlélJ',í (l modo libl'ral-índividual!sla-normalivista consistentes cm um não fazer, enquanto as sÓ(Íais
soldondo t1~ decorrelltes do nlJislIlo q/le e:ris/e entre (1 Cfe[errajoli, op. cit, p.
",Imtunl ,ocin!. I~ dizer, o IIO!li/lI'; n:io fiGl adstrito ,10 Luis Bolziln de. Do Direito Sodal aos fil/cresses
todas as hestds do modo dI' do dirl'i to. C0111<) 1996, p. 67.
se fixil na i1ssim denominada crise do
l1 ma de direito, à crise do
vez, seriÍ instrul11enlillíZil- PorLmto, n50 se estiÍ a falar (uu urna) crise de 1010 SellSl1.
de sentido, consulte-se Arruda Jr, pilra quell1 é
instituições da afcctall a Ido instituciol1es juridic,1S dcntru de la
lei, cm-um um la erigis no reductible a mera de
lnonh '11 to, e, etn lYlOlnCl "!"ttJS cotidi,ma Edmundo Lima. neoliberal y derecho: las
trib\lllil is. Consult<l f, ] 11 rid icn [nternacÍona I de
Crise. 2' cd. Porto 1996, p. 113 c segs.

38 LENtO LU!? STRECK TRIBUNAL DO JOm 39


normativas hipotéticas, ao agir de modo "técnico", isto é, meio de d isciplillas
sem preferências valorativas e imune às políticas, o juiz não pelo ôrgiios
se limita il aluar tendo em vista ilpenas a consecução das garantias as escolas de direito, (IS profissionais e a ad11linis-
da certeza jurídica e do império da lei, postulados funda- Tal conceito traduz um complexo de saberes acumu-
mentais do modelo/paradigma liberal-burguês do Estado de jurídicas

socia1 41 ,
Dito de outro modo, parece que a dogmática jurídica - enquan- os juristas aceitam em suas a For
de instrumentillizar o Direito - não se importa com o jurídica. é o conllec1l1lenlo que
em, dia adia, a necessárin encontro 110 bise de todos os discursos e do
Com muita Direito. Pode ser entendido, ainda, como uma racionalidade
Zuleta Puceiro nos auxilia na busca de respostas, ncentunndo que o cente, que os discursos de das ciências huma-
i1 Ciência do Di rei to é sun hegemónica no nas. Tal de vários modos e maneiras e
e estipula a pi1rtirdas quais se configura instância de pré-compreensão do conteúdo e os efeitos
podem pensar as realidades sociais. Isto explica a pretensão exclllsÍ- dos discursos de verdade do Direito, assim como também incide
vista do paradigma dogmático e suas resistências aos processos de sobre a pré-compreensão que regula a atuação dos produtores e
mudanças ÍnternJs e extcrnns+3. usu2,rios dos discursos do e sobre o Direito 4 !l.
A afírmilc!6 que a realidade
com a lei e o Direito e
2 . 3.
Jll
significativa. ela se apresenta dessa ll1élncira ao senso
comum teórico no ato de conhecer. O que determina a significação
Como fazer com que a sociedade acredite que o bem mais dessa realidade é toda a filculdade cognoscitiva, institucionalrnente
protegido é a vida, se no interior do Código Penal isto não está
conformada com todos os seus elementos fáticos, lógicos, científi-
consubstanciado? Para realizar essa tarefa, faz-se crer à sociedade
cos, epistemológicos, éticos e de qualquer outra índole ou espécie.
que o Direito é um sistema lógico, no qual os ideais contraditórios
A significação dada ou construída via senso comum teórico contém
aparecem como naturais. Essa "crença" é obtida no campo da
um conhecimento axiológico que reproduz os valores, sem, porém,
dogmátic3 jurídica gr3ças ao que \A/arat chama de sentido comum
explicá-los. Conseqüentemente, essa-reprodução dos valores 0:on-
teórico dos juristas.
Sem qualquer dúvida, foi Warat quem, qlém de cunhar a duzra.um~c'e:};~cie de cOJ*?l:mis:lIodos op.:radores juríd!t~)s., ~or
expressão sentido (ou senso) comum teórico dós juristas44 , melhor isso, não e dlflCll ou temeliano dIzer que os-paradoxos-ongmí:1rJos
trabalhou essa relação dos juristas - inseridos numa espécie de da SOGÍedade-~Tepleta de conflitos e contradições acabam
corpus de com suas práticas cotidianas. O sentido exatamente, diluídos no intel'iordessecorpus denominado de sentido
dos juristas é, assim, o conjunto de crenças, valores e comum teórico do
4l Cfe. Faria, José Eduardo. O Poder 110 Brnsíí: IIltCf"}lIIti-
VI/S. Brasília, Conselho de Justiça 1995, 29 e
42 A é retirada de Sercovich, A. discurso, c/ li el
.7 Conforme Warat, Luís Alberto.
.J5 /lO Direito l. Porto
Buenos Aires, Nueva Vision, 1977. 1994, 14 c 15; II, 1995, p. 71 e do
Puceiro, op. cit, p. 297. 1988, p. 39.
obras, Warat usa a "sentido comum teórico" em vez de op. cit, p. 38, sobre a realidade
"senso COlnUln teórico". social e o senso comum.

40 LENro LUIZ STRECK TRIBUNAL DO


2.4. Dogmática e ensino jurídico: a institucionalização de um do autor, ainda que este não
universo do si lêncio
como estes deverifln, colocflr em xeque a
de visão têm rídicos _ chamflndo fl a dos juristas pflril a crise.
na ,10 do sentido comum rCl)ríco - envolvidos no interior do sentido comum n50 se dilo conta
eficc1cÍi1 d"s exístenh:s no Brnsíl Por dos ((lll/O 11111 mi/o - q!ll' só o
pllblico de "lto csca150 um processo pllm 17111'111 11'11/ 1//llocol'l-
udicial) durclnte 3 ou 4 nl1OS. Dentro dos dinones se;; [i(10

porque C1centunva que àS de Direito funcionam como meros


mente Se1'<1 for e a centros de transmissão do conlwcimcnto jurídico e n5n
Tudo porque i1 preguiça, a ou o desleixo s50 considera- como centros de produç50 do conhecimento científi-
das causas (sic) excluem o dolo (étliás, como se na a pesqn1Si' nos faculdades de Direito está condi-
seil/i:!o (/ é IllaílSil t' bl'dorÍ n codjficncLl e fl
que

() urn indi q furta urn(1 ~~{11jnha leva


. Neste caso, basta que com ela d fique L dos ducentes (D cnn heci mento rídico rCH.1
alguns mll~utos, para que, em sendo preso, esteja caracterizado o um conhecimento dogmático, e suas referências de verdade são
crime de furto (cuja pCllil, illilÍs, é várias vezes lIIaior lia que a da ideológicas, e não metodológicas), explica porque a pesquisa jurídi-
Isto porque, "nessa lillha existe ca nas faculdfldes de Direito, na graduação e na pós-graduação, é
dando conta de que "o flll'lolllinç;e ii exclusivamente bibliogdficil t como exclusivanlente bibliográfica e
objeto miltcrial é retirado c de posse e legalista é a jurisprudência de nossos próprios tribunais. Os juízes
mais citam a doutrina consagrada que a sua própria jurisprudência
(existem tribunais que cm Direito Administrativo trabalham com
-l7 Ramos Filho ch<ll11a J JtençRo pMa ()
um único doutrinador e cm Direito Comercifl], por avali-
brilsiJeiril nindJ defende que! sam suas decisôes em autores, dois ou que, de modo predomi-
responsabilidade", "niío teria nante, escreveràm seus trabalhos fl Segundfl Cuerrfl
lal expressão possa possuir. MundÍi-,l. E os fil mais sua prática forense do que
neste de
rudêncía dos tribunilis. O casuísmo dídáti-
te das snlils de ilulil dos cursos de Direito, e
o carinlbo do cotidiano das decisões. Os
que !IS ô/íllllllrls dos Tri!IlI!1!1is decidem <i:0m os 'lue doutrinam; os .falam clesua
,~rOIfS de cC/n! (J lllCSllJ() convivência casuística com os decidem; os que doutrinam· não
de eOlltrolar 1/ . sfll!ln:" 110 illlcrcss~ dillllnlllltcllçifo do ,II/hl>
acordo COil! os IIlteress"s das CnllllltlnS dOIJ/IIII/Ii/CS. Cre. Ramos filho reconhecem ZlS decisôes. Este é () círcu10 vicioso
. CilOS criativo e l1eoliberalismo. [I/: Direi/o c IIco/i/;C!";11IslJIo. ElclI/Clltos da jurídica legisla ti-
lilI/ii leitura . Filho, RmllJlho cl nlli C ··t·-
1996. . Ulll ·iHConsultar jTACrimSP (' in /348, IIl'lId JESUS, Dal11iÍ.sio E. de.
fJowl Allotado. SJO Paulo, Sarai\'a, 1991, p. 462.
----------------- -- ------- ----_ .. _----._"._----
42 LFNlO LUlZ STRECK
TR1l3UNAL DO 43
vos (debates parlamentares, quando houve, a outra tragédia do dever dos cônjuges a "vida em comum, no domicílio conjugal". É
autoritarismo), desconhece o fundamento de interesse das leis; nesse dever que se "encontra incluído", consoante Sílvio Rodri-
alienada das decisões continuadas dos tribunais, desconhece os gues 52, o de manter relacionamento carnal. Tal tese civilista pode ter
dos e do desespero forense do homem; alienada levado Damásio de expoente da doutrina penal, a um
desconhece as e tendências da eis que, ao comentar o 213 do Código Penal, assim
Será quc, de lá para ocorrcram "(A mulher) não o direito de de seu
o direito de se tol 11170
da ChZll11a â a para outros curârer mcslJu inflo. não
tos relevantes da crise do ensino jurídico: "As faculdades de Direito, consentir na conjunção carnal e
sua pârtc, estão duplamente em crise: por um devido ao ZI'l1caça, em princípio
de não uma jurídica dotada de uma ela tenha causa para
técnica a as novas demandas do capitalismo tar- frisar que, a: os tribunais c a própria doutrirld
dio; de outro, por não terem,.l11úaefetiva funç50,social, notadamen- ram conceitos mais modernos él respeito do tema, en que,
te cm aos lizados da· população. Deste em o marido que a esposa fi prc'ítica sexual não está
modo, muito mais do que uma crise da "CÍenCÍa do Direito", há crise exercitando um direito, e sim, abusando de um direito ...
na reprodução legítima da dogmática jurídica que não consegue
justific<lr a sua ideologia de "bem comum" devido à ausência de
críticas ma à racion,didade t~ fi 2.5. O formalismo
dificuldade para com dos

T
tentavam, por o marido n50 ser sujeito ativo ele Os anteriormente citados servem ilustrar a
estupro cometido contra a esposa, por "lhe caber o exercício regular histórica dificuldade da dogmática jurídica em lidar com os fenô-
de um direito ... ". Seguindo essa linha, alguns tribunais brindavam a menos sociais. Vários fatores tiveram e tem influência nessa proble-
comunidade jurídica com decisões do tipo fiA cópula intra matrimo- mática. Como muito bem diz Ferraz Jr., flé preciso reconhecer que,
llíUI11 é dever recíproco dos cônjuges e aquele que usa de força física nos dias atuais, quando se fala em Ciência do Direito, no sentido do
contra o outro, a quem não socorre recusa razoável (verbi gratia, estudo que se processa nas Faculdades de Direito, há uma tendência
moléstia, inclusive venérea, ou cópula contra a natureza), tem por si em identificá-la com um tipo de produção técnica, destinada apenas
a excludente da criminalidade prevista no Código Penal - exercício a atender às necessidades do profissional (o juiz, o promotor, o
regular de um direito" (RT 461-444). advogado) no desempenho imediato de suas funções. Nâ verdade,
Julgados como esse se embasavam em doutrinadores como 1/0S últimos cem aliaS, (l ju1jsta pela sua formação universitâria,joi
Nelson Hungria 51 , para quem "o marido violentador, salvo excesso se11dti'c0l1duzído,a. esse,.tipodeesp.ecializaç/l0' fechada eJonna lista "54.
inescusável, ficará isento até mesmo da pena correspondente à Nesse sentido, é possível dizer qu,\ se estabeleGeu.no.paísuma
violencia física em si mesma". Não se olvide que o assim denomina- i"cultura" jurídica standard, dentro da qual o jurista lato sel1SU vai
do "direito" à conjunção carnal é eufemisticamente referido pelo trabalhar no seu dia-a-dia com soluções e conceitos
Código Civil, na medida cm que, no artigo 231, II, aponta como recheando, desse modo, suas petições, e sentenças
ementas jurísprudenciais gue s50 no mais das vezes,
49 Ver, tanto, Faria, José Eduardo. A do ensino Porto forma descontextualizada. Para tanto, os manuais jurídicos à
Fabris, p. 34.
50 Cfe. l\ocha, Leonel Severo. fé Democracia. São 52 Ver Sílvio. Direito Civil. São Paulo, Saraiva, 1979, p. 126.
UNISINOS, 1999. 53 Cfe. Jesus, Damásio E. de. Penal Come1ltado, op. rit., p. 605.
51
Nelson. Comentários ao Pellol. Eio de Janeiro, Forense, 1959, p. 126. Se! Cfe. Ferraz Jr. 170 estuda do direito, op. cit, p. 49.

44 LENIO STl<ECK Tf<l13UNAL DO


ica uma coletânea de a circunstância da qual
de resumos . Afinal de contas, se
.", ou "Il doutrina

encontradas dUélS
tra 110 sentido de que será
conceito de mulher honesta dt~ que trata o
d se moço de rlezessetc
allos que tm/in/lw é Oll uiio Para tanto, são "colocadas" à
do usuário duas illlm )lll seI/lido de
(RT a tempo;
obedecesse a uma única conhece todas
,out, p. as normas que emana; é pois tem sempre uma é
do crime de sedução, a vítima deve pois nada lhe escapa, sejam eventos futuros ou
Descobre-se, tilmbém, })resentes; é normas vigem até que ele
de dlilue 011 que mcsm,' ile; ustíça; é
tenlé1 - ché1 ve fa lSil 1'1;.1 o
lima díscuss50 (50 o

rei irodo não havendo nnC!l·lélS nl:lIl Dab\TaS


collsidemda chave o legislador é preciso, pois apesar d~ se valer de palavras da
Com um pouco de atenção e acuidade, pode-se,percebel' que linguagem natural, vagas e am~íguas, sempre lhes confere um
grande parte das sentenças; pareceres, petiçõés e acórdãos são sentido rigorosamente técnico ... 56 E de se perglllltar: pode alguélll,
. resolvidos através de cítaçõesdo tipo "Nessnlinlw, a Jurisprudêl1cia ti Ilcreditl7r elllIais "propriedades" ou "carllcterístici7s" do "legisllldor"?
pacífica (e seguem-se várias citações padronizadas de números de Lnnentavelm.ente, parece que a resposta é afirmativa. Há, na
RTs, RTJs etc.), ou Já dccidiu o Tribu7Iol tllI que legítimll verdade, U1T\ conjunto de crenças e práticas que, mascaradas e
1I1edc milimetricalllcllte (RT ou ainda que o ocultadas pela COl1l111UJlis opinio dOCtOrI.l1l1, propiciam que os juristas
crime dc atell/ado violento ao pudor, cuja pena ressalte-se, seis conheçam de modo confortável e acrítico o significado das palavras,
II dez {lI/OS de reclusão (RT 567/293; RD'JSP 81/351) (sic). S2ío citados, das categorias e das próprias atividades jurídicas - o que faz d(~
no mais das vezes, tão-somente os ementários, produtos, em expres- exercício de sua profissão, como muito bem. diz Pierre Bourdieu,
sivo número, de outros ementários. Desse modo, a dogmática um mero ]wbiIIlS, ou seja, um modo rotinizado, banalizado e
jurídica, enquanto reprodutora de uma cultura estandardizada, trivializado de compreendt:r, julgar e agir com aos proL..\e-
torna-se refém de U/1l de um dos mas jurídicos, e converte o seu saber profissional numa de
teoremas fundamentais da que é a diferença ontoló- "capital simbólico", isto é, numa "riqueza" reprodutiva a partir de
uma intrincadél combinatória entre conhecimento, prestígio, reputa-
Com procedimcnt0, são ignorados o contexto ção, autoridade e graus acadêmicos 57 .
histórico e social no qual estão inseridos os atores jurídicos Assim, pode-se dizer, com Cuibourg, que o Direito é a discipli-
~~~-",ít2ma, juiz, promotor, a etc.), bem como não se indaga na, na qual a autoridade <:linda conserva uma parte substancial de
55 Sobre d as J ver 56 Cfe. Ferraz Jr Intmduçiío 170 Estlldo do Direito. np. cit., p. 254 c 255.
Strcck, f-lenliel!ê!lticlI Jurídico, 01'. cit., cm 57 Ver Faria, José Eduardo. e conflito, op. cit., p. 91.
----~~--
- ---~-- -------~---- ---~------~ ---~---~------

46 LENTO LUIZ STRECK TRiBUNAL DO 47


seu prestígio. Desde antigamente, continua o autor, os juristas têm o resultado é o aparecimento de um arbitrário
considerado a autoridade dos estudiosos (quer dizer, deles pró- traduzido através d a busca do correto e fiel sen tido
U

prios) como um elemento fundamental para conhecer o direito, até lei". Daí a força das assim denominadas "jurisprudências domi-
o ponto é comum considerar a doutrina dos autores nantes" e as famosas "correntes doutrinárias manancíosas"63. Desse
"fontes toda vez uma nova os do
tão bem definido por

ele Direito da ÚSP, do ano


denúncia: "O ensino do Direito como está
são usadas por mo de alunos e No esforço de uns atingem
mentos retóricos em favor da o de doutrinadores e o prestígio da cadeira universitária. Os
outros, ah'm do mítico título de 'doutor', obtêm a habilitaç50
profissional que lhes permite viver de um trabalho não-braçal
IJ terminil ma/aI/do aI COllocíllliel1to. (white collar). A tarefa do ensino para o aluno é cumprida nestes
nte frisar, <:1eslartc/ que toda ilU,lllldll" de Ferraz .Ir, uI'- ci!, que bb.l1il """",'\c"" de 1.1111 <1rbitr,írio
do chamar de
uma GJ Snbrc o ~lssunt()f consultdf Strcck, LcnÍ(! f,u SÚnflllt1s no dirtifo
tlliC, Bourdicu e llmél re
2" "d, !)urlo
lc1ado o caráter autoriUirk) da~ assiln
dírctd normativo de () poder de dominantes", consideradas C01110 lípicas manifestações de discursos
simbólica. Trata-se do poder capaz de impor significações como que, enquanto construções da dogmática jurídica, visam a estabilizar/contro-
legítimas, dissimulando as relações de força que estão no funda- lar/Cre)definir os conflitos que chegam até o Judiciário.
64 No interior desse halJilus, engendra-se uma espécie de "síndrome de Abdula",
mento da própria força. Não nos enganemos quanto ao sentido
que faz com que a expressiva maioria dos juristas não se dê conta de sua força e
deste poder, alerta Ferraz Jr. Segundo ele, não se trata de coação, de seu papel no processo de construç~o do discurso jurídico. Met:,foricamente,
pois pelo de violência simbólica o emissor ni'ío co-age, isto é, l1ão se essa "síndrome" pode ser explicada a de um conto de IL110 Calvino
substituÍ ao Quem age é o receptor. Poder aqui é controle. Para (retirado da obro de Carlos Cárcova, São Paulo, LTr,
que haja controle, é preciso que o receptor conserve as suas Pela história, Alá ditava o Corão para que, por sua vez, ditava para
o escriv~o. Em um determinado Maomé deixou uma frase
possibilidades de ação, 111as aja conforme o sentido, isto é, o interrompida. Instintivamente, o escrivão Abdula sugeriu-lhe a conclusào. Dis-
esquema de ação do ernisso1". Por isso, ao controlar, o emissor não traído, Maomé aceitou como divina o que dissera Abdula. Este fato
elimina as alternativas de ação do receptor, mas as neutraliza. escandalizou o escrivão, que o a fé. Abdula não era
conclui o jusfilósofo paulista, controlar é J/Clltmlizar,fazer com de falar em nome de Alá. N~o há exagero em fazer uma analogia desta
com o que ocorre no cotidiano das jurídicas. Assim como o
e!l1bom conservadas COIIIO certas 11170
personagem AbduJa não tinha consciência de seu poder (e de seu papel), os
em jurídicos também não sabem de sua Em sI/a imcnsa lIIaioria,
das al'llllldilhns e dos dessa
58 Cfe. Ricardo A. <'I flllí. IlIlrodllcciôll III cOllocÍlllienlo Buenos
Aires, Fd. Astrea, ]984, 147. de A/Jdllla". ConsiderillTI que SUil missão e seu
r os sentidos
00
Cfe. Hoss, Alf."
Soure derecllO 'l/Ia Buenos Aires ElId"b<j 19(,3
'~!"' '- Lf
r) 40::'-'>
·~"/r'

1 Pierre e Passeroll, Jean Claude. A elel/lentos pnm IIII/n leoria


~f :;is/cnla de ensino. São Paulo, Ed. FraÍ1cisco Alves, J 19-24.
Cfe. hrraz Ir, 110 eS/lIdo do Direilo, op, ciL, p.

THIBUNAL DO 49
termos: aprendido o do e do Direito já esUí um discurso eminentemente no
habi!itado a viver de inventários e cobranças sem maior que sua seja acredi-
[ ... } E claro que este operário anónimo do Direito é necessário, mas tada uma atitude de crença.
por que deve ser inconsciente? [ ... ] Sua atividade passa a ser Trata-se, então, de um que intenta motivar
meramente sem- tnfluência no processo de tomada de embOril não confunda com discu rsos ,li os
por verdadeiro e Lllso G1reCl?m totalmente de sentido. A

entre os mecanismos
v e de outros bens
te ver-se-á como a
vida e da morte e como, através da de
"consenso comunica.!;ivo", consegue persuasivamente à
sociedade que o Direito, mediante mecanismos de conteúdo abstra-
to universaliz,mte (fórmulas elo lodos siío il
dn da 11('111 etc),

Cjue uma suejed::H:l sem n a d e WarZll(':;. desse


qlle num de um universo do modo se simboliza Q petrificação das relações sociais e a
te:to, texto que sabe tudo, que diz tudo, que faz as perguntas e dissolução jurisdícista dos conflitos. O mito de uma sociedade coesa
da as respostas. Nestes termos, conclui Legendre, os íuristas fazem permite, através do Direito, na acepção do jusfilósofo brasileiro-ar-
um trabalho doutoral no sentido escolástico da palavra. Em outras gentino, a supressão simbólica de autonomiQ dos sujeitos.
palavras, fazendo seu trabalho, eles l1ão jazem o Direito; apenlls
entretêm o mistério divino do Direito, ou seja, o de 1111111
alltoridade do e 11listificallte, . dos
mecanismos de controle burocrático 17//111 contexto
Como estas reflexões têm o fito de fazer uma crítica ao
imaginário gno"si.ológico ~o: jur!stas, que está permeQdo pelo pen-
samento do~matlco"~O DIreito, l~errélz Jr. foi tão feliz na élbordQgcm
dessél questa.o, que e lmprescmdJVr>] transcrevê-lo:
U[ ... ] a pogmática é um pensamento tecnológico e que, nestes
~ermos, esta as voltas com a da decidibili<.:bde. No entanto,
Isto não quer dizer que o daí totQlmente excluído.
O. que tentamos demonstrar é que o dogmático não é um
l~lscurso meramente informativo, no sentido de que o emissor
hmlta-se a comunicar uma informação sem se preocupar com o
67 Idem, p. ls2.
Consultar Furia, José Eduârdo. A do ClIsíll(J op. Ctt, p. 37.
(,6 Cfc. Ferraz Ir., Socínl da 6S Ue. Warat, Luis Alberto. de los senderos que se bifurciln. II! Revista
Jurídicl/, op. cit, p. J 78. 4/5. v.2, 1985, p. 75.

TRIBUNAL DO 51
ae
jurídica e o

3.1. Vida e morte nos Códigos e os códigos da vida e da morte

Pode parecer estranho, mas nem todo o ato de tirar a vida de


Jlguém está inserido no Título "dos crimes contra a pessoa". O
crime de lJtrocínio, previsto no artigo 157 do Código Eenat ocorre
quandu o autor do violência contra
vem a mJtá--la. A terceiro do

penJ varia de vinte a trinta anos e rnu!ta, também


previstos no Título lIdos crimes contra o património", constituem os
delitos que recebem a maior apenação em nosso Código.
Percebe-se, então, que, não obstante ambos os delitos - latrocí-
nio e seqüestro - tratarem da morte (ou da vida), são colocados pelo
legislador como sendo delitos praticados contra o património. Ou
seja, para a dogmática jurídica, o bem jurídico ofendido de forma
preponderante, nesses casos, é o patrimônio ... 69 De frisar, ainda,
69 Alguns exemplos mostram bem os paradoxos do "tratamento" que o Código
Penal dá aos "bens jurídicos": Adl/ltemr nlÍmero de chassi é crime punido COI1I 3 il 6
aI/os de reclusão c lI/Il/ta, lI/íJli!lla !IIoior que n de, o) lesão
grave CIIl 1IIi1 dos olhos. é de
I/IiOS de se vier II ocorrer II morle.
de 2 (/ 6 IIIIOS de COII/ 2 II 6 1/1105 de
Homicídio doloso de 6 a 20 II110S de reclusão, penl/ IIIÍ1limll
por elll que II penl/ é de 7 II
rcclllsiio; é II de 8 II 15 allos de
reclusão, 12 II 20 n/lOS de
reclusão, (collsiderado Ainda: Homicídio
cOl1tra criança lell/ de 8 1/1105 e 1I1âxillla de 26 il110S e 6 meses de
E5"1I PC/iii mínima é
9 111105 de recll/são. II pe11a 1I11íxima é de 15 I/IIOS. Cfe.

TRlBUNAL 53
que nenhum dos dois crimes é da a vl~rdildeiros extremos, con10 os
E mais: enquimto o é considerado crime de inviÍlida versus l'mi~;sfio
homicídio na entre o latrocínio e o
Os crinlt's que do Tribunal d ri silo os
(OnSlall tcs no 'rítu lu
JlO
d subd
conl pC:llrLS que vllrÍ;lIll Cnirl) seis c vin
COtll pl~nas (:;ntre doze e trinta c1r10S;
iJtL\jJio 1.10 cnnl pcntls enlrl~ dui~
du ql;(' o ,dl;1!1dUl-lil d{' 11111 í te', {Jutr.i C(ll~llF(l
C10n o ('ntn~: d( e ([nus; os COllf!lJlttodo (onIl)l'!ll(J do lJ5, que C!\U.\ntrí:1 ll(1 tÍltdo :ltincn:t.:
dtl vlda c lLl ~~,Híd«., \.'"Jnl (l d 171, 1(IG1Iiz(H1C1 no
r~xislcm du,ls maneir,)s ck cnl1wtcr \1)11 "dus crirncs conlr,: n p<ltrinl(~;li{)". (~oin cCeito, q\~l'nl dCÍX(lf d('
<ls~;istC'ncid. a urna cridnl~,l ;ll;tlllC!c'i1,lc1;l IJU ('x.tr~lvi;lda ou a
(querer OU ,lssul11ir O risco de
feridt1 serZi
j \':1r[:1 de llrn ;J seis fHCScS de
,\ticar o delito por cornín,lçi1o se da onli.,::;,s:io rcsultJr lesão
somente i rilo é1 morre ela vítima. For outro

crn
3-2, sucied'l,Je> que
antcprnjelo, um roubo
de rcd\ls~C1, ii de um hCllTlicídio
concreto Im:ido 1'(11' J\:lnril1 Lucia Kn/'III/: (1 ngl'ute :lilc, durante II lIoite,
cO!OCr7J1tlo f7 nUlo por dentro da crv/lisi?, O!l!(J{l(YI c Sl/L;/ roi seu
clnlwi'ado)'(s do da Porte do PCJlol, essa C{illdll!r7 te!!! () i!!eSlI!(1
tira scu Vê-se ent.Jo se eh ornissJo
o caso). rapazes que resulli1 ii morte de um inválido, por il pC1l3 1ll,1,>:im:1
pena entre quatro e oitu ano:;, SCL1 de unl :1110 c oíto nlcses de ou multa. Já J crnissi10 SC111
,ccmi-aberto. i\ lítulo de
_ _, - . _ .', . _. é ,-"1 pCt"lcl Li d fundos (01"11 urna sZlnç50 de l1té cinco anos de rC(!lIsr70 e JI1ulto,
~orn rCLlusao de> ~tOI~ JseiS anos, e n rncdLlntc n uso de ilrrna de: !lIas
senl C,tUSc1r dano:1 vHinlJ, rcsult<l C'tTll'cdllS,10 de E nrn'111dt{l ()
professur "Os .'
. .. r a c10SI-
l_l~t2trJa pcn:11 brJsileir(1", ') 1_ J
IL A pill'te do f" _.
res pect i \. a s
F('rcebC'r

que crn. tlnl;) ,<..;ucicdade Cln que (1


}'"'Iri\',ldêl ~lS:'::l11Tle prur'!()rç(~)c,'-J n'-15 cstal;e!eci-
Assirn,
furt;n 11l1\J1 b'l!s<l, um ou Ulna carnistl., 5f'ftí () (nio dc,
no arl l'i5 du Pl'n;lI, com lima pel1;l os COStU111CS r

ImenU" se n furtu de eslM classific,do


do Estddo llrnil pun1S',l() tflo drc1y,tic'd; u

LEi':IO LUlZ STEECK


ou, entre o furto de agora necessidade do homem, esta de natureza n,aterial ou imnterial.
se o veículo for levado a outro Estado (pena de 3 a 8 anos) e a lesão O bem ou interesse jurídico constitui o objeto da
dolosa que cause, p. ex., perda ou inutilização de membro pela norma penal. Necessário frisar, desse modo, que o reconhecimen-
2 a 8 anos).
to norJ11i1tivo é usado por esta como
Tud" isso é / na medield em que- tanto na esfera
em o
Direito
termos de

socia is
aç;e através de 11m discurso também
3.2. A tcoria do bem e a "missão secreta" do Direito , llilll7 de 'lIlissiio secreta' t.70 Direito
Penal ou de como "La [ey es como la No Direito a sisterntltica da pélrte do
solo píca a los nesca{zos" Código Penal está fundamentada na consideração dos bens jurídi-
cos, nos as distintas figuras penais são distribuídas em
o bem jurídic~
título. Cad,] (j

que, funda- do nosso


]0 [
Icori,1 I estelo I

o fim do lesJ() (l, domicílio elc. O Título I,


é a dos bens jurídicos (Heleno Fragoso, Aníbal outro lado, refere-se aos "crimes contra o património", em que estão
Bruno, Damásio de Jesus; Magalhães Noronha; entre outros). Segundo localizados furto, roubo, latrocínio, dano etc.
Batista 7J , alguns colocam a defesa de bens jurídicos como o meio E. Magalhães. Direito Penal. São Paulo, Saraiva, 1985. Bitencourt, Cesar R. Lições de
empregado para a defesa da sociedade (Aníbal Bruno e Heleno Direito Penal. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 1996.
Fragoso), entendida eventualmente como combate ao crime (Mirabe- 73 Cfe. Batista, op. cit., p, 116. fnteressante notar que a sociedade e o Estado,
te); outros autores procuram enfatizar a defesa dos valores sociais que principalmente em países como o Brasil, criam as condições para o surgimento de
pobres, miseráveis, indigentes e mendigos. Como o Estado e a própria sociedade
subjazem nos bens jurídicos (Brito Alves) ou, ainda; o robusteci- n50 podem admitir que são responsáveis pelo aparecimento, por exemplo, dos
mento na consciência social desses valores (Damásio de Jesus). mendigos, o legislador criou uma fórmula mágica para resolver esse
O conceito de bem jurídico a categoria jurídica estabelecendo que a mendicância é contravenção penal, de pena de
utilizada para explicitar os valores sociais protegidos pelo Direito prisão que varia entre 15 dias a 3 meS'E"s, poderá ser aumentada atéum terço
Penal. O delito passa a ser entendido, então, como a ofensa ou ameaça se a mendicância for feita de "modo ameaçador ou fraudulento"
60 da Lei das Contravenções Penais). Por outro lado, situação semelhante, embora
a um daqueles valores ou seja, a ofensa ou a ameaça a um bem invertida, ocorre no Direito Civil, no que se refere à do Só
jurídico penalmente tutelado. Resumidamente, bem jurídico, no senti- referir, o até curatelado Direito
do atribuído pela dogmática pena]72, é tudo aquilo que satisfaz uma o louco do mercantilismo
ou illgllém que não consegue fazer seu
7J Ver, a Batista, Nilo. crítica ao direito pwal brasileiro. Rio de ser anormal para o
Re\'an, 1990, p. 116. entendimento de que seria
Sobre o assunto, consultar 1esus, Damásio E. de, Direito PfIla/. S50 Paulo, da Pode-se dizer, qlle Iuí
Saraiva, 1994; Heleno. de Direito Pel/ol. Rio de Janeiro, Forense, enquanto o del/1IlIcia () sÍslL'um (e,
1985; Hungria, Comentários no Penal. Rio de Janeiro, Forense, ] 958; o sistema (e, por isso, é ii
lVfirabete, Julio Fabbrini. 1\1a1111111 S50 Paulo, Atlas, 1980; Noronha, os SCllS bens). O velll

LENJO LUJZ STRECK


TR!flUNAL
ern títulos e não nl''r''Jm~' que dizer sobre isso? O que dizer a descoberta feita no ãmbito
de uma do legislador e muito menos de sua (pretensa) de UlTla cri do Nacional de de
racionalidade, Esse trabalho de em títulos e cilpítulos é 82 bilhões de

crime de
c~ln/;Iíshmclíf!
tributos
filtor de

somil Ou (,'y,
brasileiro. Sclecionando-sc os 50 mais ricos lÍéste gru descobre-
se que seus patrimónios somam 12 bilhões de dólares. 50 ricos
de imposto de renda apenas milhões de dólares. Dnnos da
I<J'(f'iti? dilo COlitfl de que, CIlIjIlí71110 ti dl7C:sc !lu\!ín 7 real
c/h/a W dos ·j60 rcco!il(; ;;oli1cnli? J

considero dclcnninado conlo hcrimc"? Cfe,OEsflir!odcSiíoPolllodc21.il7.%,!,.Al,AH ;\9,_ _ _ "'.


dizendo que, se não é correto 77 Como cm decisão inédita nos TrIbunaIS bras!lelros, il 2- Camélla
todas as questõ,;s rplativas à críminali- · . I 10 de do RS por m;110ri<1 de volos, ii ,ltuo
C rlmlllil c ' , :l . 1 t - licilll
de como Procurador de Justiça, acatou !lil parecer ce ml!l13 au onil, ilp 'o -
indicadores e nriiívcis e humanista da do, de forma garantista, o art. 34 da Lei em um Cl"lme de furto_ No caso Em
questão. Acrescenta que a partir processos de ,n,'",or<v'c tela, um jovem foi preso cm flagrilnte por ter furtado uma bICIcleta, O fato OCOI1Cll
que poderemos desenvolver uma na cidilde de Alvorada, O Juiz de Dirclto, Clademlr o
e o Direito num enfol]ue da com base no ,nt. 5" (ii! Constituição Federal e no art. _ O
dinâmica SOCidl que "movimenta" o Direito. Este Público interpôs recurso en1 sel2tid(j estrito ,10 Tnbunal dc" ~I;ada,
caminhos da bUSCil das "causils sOcloeconômicas" dd buscando a reforma da dccis50. A dCClsao tIcou ilSSlm ementilda_ I nc. 11-
'."'H'j"-"U n50 é dado por ('stil bUSCil, mas pda de se tornar tl';msparellle 2960267S0 - A17'oi"oiÍn, FS. RECURSO EM SENTIDO E.sTRr~O. DA
il luta classes_ Portanto, antes de os condidfwlllentos sLlciilis e económi- PUNIBILIDADE. TENTATIVA OE FURTO. Decretada 11 cxtlllç170 da do
cos da criminalidade, é fi disclIs::no, 110 SI'1I1 ido de q1le réu C01l1 [Jose 110 nrt. 5 Q, do COl/slil Federal de '1988, r'
1/11 llIuílisc da cstrulumçiio de 11111(1 dnda sociedi/de C(l11l n de 26.1 2_95, Illl0logia. "
histórico·sociais que SI/ll do COl1sliluiçtlo corrctllll1cnlc 1111 PJ FOC1"slcr. _'. Q

hisfori(llll1Ci1It' Por isto, conclui, ' l J -- c. , ITl'Sln' desta vez rnor Ul1<11ll1l11dad<c,
I .
I~l1t ou fJ. Ctt'llS(hl, u ('~ {\ '"

somente estiltal; situ,í-lo como t~;,d~ como rcLltor o Juiz Amíltoll L)UCllO t~e ~ilrvaJho, . o ~~t:,?~ dil "-J~~~
'Lll:Vl'c'''J'ld~. e, sobretudo, rebcioll;í-Jo ,1 lutd cLlsses, 9_249 a um caso de estelionato, ficando o ilcordao assim ementado. L,S 1 LUO! ,",.
e sendo na e dinâmica hislórico-sc\ciill, coloca-nos diante TO. (JNUS DA Pl\OVA No 1'51/'liollolo, !/lt'SIIIO /lrísico, () do d17110, oJ.!1>
lonwt' todos
de uma visão do Direito e do Estado como condionamentos históricos do rcccL'ÍlIicJil0 da de1llÍl1cia, il1ibe a Ilçiío
são firmados por agentes em t11cwin1l'nto dentro de uma social dlíZ'idlls
I/!: Discurso e ordem Porto Fa bris, 1995, p. 157. 34)
nº 1.365, de 9_11.94, 106 c Para uma visão
acerca da criminalidade Emerson de
2001.

TRIBUNAL DO 59
58 !.ENIO LUIZ STRECK
na pena (art. 16
110 Brasil têm
leis que silo para os qlle 1117 Direito Penal. Não se olvidar que este, mormente em um
e leis que são Estado promocional, por natureza, um dos seus instrul1,entos
os que aparecellll10 Populares ...
pOIS, quem (e contra quem) funciona o sistema. O mais eficazes"79,
de forma seletiva em face da O Direito Processual Penal deve ser i
nos diz mais sob a Mica de um modo de
de
sob <l úlica
cunho

de uma lei

a lei dpareça aos usuários propiciará a a I social.


como ~e.utra e coerente, há casos cm que esse processo é menos infiltração des:::' valores tnaiores (constitucionais) no
SUL]! FOI o caso da lei que enquadrou o seqüestro como crime próprio cerne do bem da tutela penal, e
hedl~mdo, logo após o seqüestro do empresário carioca Rubens sonH::nte, sobre .os aspectos formais e estruturais modificélrá, quiçá,
MedUla, no ano de 1990. Do processo de omissão 110 I1faeado em o drama do Direito Penal de hoje, no Brasil, onde a dogmática juridica
às extn:mas sociais do país, as elites d eSllll7ga UI/Ia realidade social violcnfn"Bo,
pdssarmn Tudo dizer, IIw/alis como benl assevera
a déHie normiltiva do Direito
de delimita o que deve
do à tra c, ma is a que na dcl í tua 1
. .. em crime hediondo, que ocorreu em virtude deve ser dirigido para a proteção do consti tucional
do CrIme que vltnnoll a atriz DanieJa Perez. seja, para a justiça social. Significa, também, continua a autora, a
obrigação da legislação, administração e jurisdição, de criação de
institutos apropriados para a realização dessa justiça social e,
3.3. A nova missão (garantis ta) do Direito Penal e do Processo conseqüentemente, interpretação e aplicação de normas de acordo
Penal em do Estado Democrático de Direito com esse princípio.
Para tanto, há que se toda das normas anteriores
"missão secreta" do Direito Penal (e, acrescento do tI COllstitllíÇllO, para cornpati/Jilízrí-las com a Ilova ordelll collstitucional.
Pro~esso Penal), tão bem denunciada por Nilo Batista não ~ode Isto porque, como bem ilustra Luigi Ferrajoli 82 , em uma perspectiva
por~m, ser ?nte,nd.ida como inexorávet até porque o Direito hoje ~ tlgaranti~" ·do Direito, "todos os direitos fundamentais - e não só
em t~~e ?':
ll1StJ~Ulção do Es~ado Democrático de Direito em nossa os direitos sociais e os deveres positivos por eles impostos ao
ConshtUlçao - nao pode (ma1s) ser visto, como já referido anterior- Estado, mas também os direitos de liberdade e as correspondentes
mente, como uma mera racionalidade instrumental. Para tanto, há proibições que limitam a intervenção
se os o d os a vínculos de substância e lião de que condicionam a validade
Cfe, Carvalho, M<Írcia Domctili1 Lima de. COllslittl(ÍOIIOI do direito
Porto Fabris, 1992, p, 44.
78
Idem, p. 46.
8l lbidem, p, 47.
da nas sociedades democráticas.
Penais, v.2, n.11, p. 171 e segs, 82 Cfe. [n O 110VO CIIl Direito

60 LENIO LUIZ STRECK ._------~------------------- ------- --------------,---~ --_.__._--------------


e ao mesmo tempo, bem o entre o
esse moderno artifício que é o Estado Direito e a Mora!" veta a meramente
imorais ou de Estados de hostis ou, inclusive,
E ica de toda atitude nu

por manterem casa de en, uma


d C5milra deixou assentado que
do art. 229 ni'ío s,1o condizcntes com o princípio
direito do Estado Dernocdtico de Direito introduzido
mais de 1988 (Ac. 698383932 - reI. Dcs. Newton
nada, à que aos tribunais e aos juízes a crítica
das leis inválidas por meio da 51111
Leão). Na mesma linha, o acórd~lo n. 699160826.
em sentido COllsfífllcio- a necessidade da descriminillização dos dtolitos que
nal o per inconslitl
lida atuillrnente punidos com pena ck
lücida visiío dto André
(,)

do L '1\1(,] d
S(lb esse pcl1·te dos penais da condutas consideradas mais graves, resulta ÍílC()Crente
Código e de leis esparças perderam a mantida dentro da esfera da punição penal esta espécie de condu-
penais, vigentes e válidos no contexto de um modo liberaI-indivi- tas, citando, para tanto, Ferrajoli, para quem o direito penal somen-
dualista de produção de Direito, não resistem ao exame de Sua te deve preocupar-se com infrações relativamente graves, em face
validade sentido de Ferrajoli) no (novo) modelo de Direito do que nenhuma sanção pecuniária pode ser considerada suficiente
vigente no Estado Democr,ítico de Direito. Além disso, o Estado para sancionei-la de maneira adequada. Nesse sentido, corretamen-
Democrático de Direito produziu a secularização do Direito Penzl!. te, Coppelti sustenta a invalidade (não recepção) de todas as
Com por exemplo, delitos ligildos à moral e aos costumes não . normas incriminadoras do Código Penal e da Lei das Contravenções
~ão ~1aís__ tíveis com a nova ordem jurídico-políticaB.J, Como Penais que cominem pena de multa isolada ou alternativamente, a
83 A saber: do CP, os artig,üs 136, 137, 1 1 150,151, 153, 1
dilS normas ilnteriorcs ;l é de tilmanha I'elevflncia CJue
Asüa ii dizer que, cm
Ut11 nova devc- 156, 163, 164, 166,169, 1 176, 1 1 § 3", 184 233, 246,247,
ríilm-se fazer l"1UYOS
259, par. único, 175, 315,317, § 2(1,
84 Dometila de Clrvalho, op. cit., i1sse\'l~ra
ziíç50, del'e ha\'er um proce~so de 323,324,325,331,335, da LCP,
.::,ocio/ que a
I
lha de ullla ira reforrnist;J l' (lO 111CSlTIO
da ordcill «unúm/en·social, clllluml e {/III/iicllllil,
ilOS cl<Íssicos crimes contra n
coJoei) cm xC'CJue da
(l que njo lImn vez COlpO [:;Indo, dn Trata-se, ao mesmo
. té1nlbénl o crinlc cconônlico, o CrinlE' acentua n (tutor, de assi?gurar U111tl nl<lior rf'presentaçRo c""'.''''''''''U'
Jtnblcntal, quando de gr,wes, 'ucrVi dos interesses colelivos, ConsultM, nesse S('l1lido, 13i1rJlta,
constitucionais, voltados ;;0 da social do
ilmbientaL Nesse contexto, com o aJerLl de que 1150 se caiil 11,1 arn~ildi-
f; 202.
, OCI'Cc!iU Y T<nzóll, Cip, cit.

62 LENIO UJJZ smECK


63
TRIBUNAL DO
os 18, 21,22, 28,29,30,31, 34,35,36,37,38,39, Eis a lição de LENIO qlle é ado/ada:
40 a 61 a 67, e 70. Mais ainda, Copetti salienta, corn acerto, a 'Do acréscimo da pena decorrente da qualificadora do furto (concurso de
irrelevância penal das contravenções, por constituírem indevida esfá correta, no que tange a
estatal nos milis diversos setores da vida privada, violan- de furto (1 processo merece
da do direito. Chama ainda,

sentada
li dos de furto.
e da razoahilidade 110 Direito
Htí

é possível, por
de um furto ser cometido por duas
.10 direi/o
condão de duplicar él pena desse delitóJ como no recente Congresso de Direito Penal e Processual " '
esse com os princípios da proporciollalidade, da Curitiba nos dias 1, 2 e 3 de setembro de 1.999, a illlllenre a
razoabilidade e da iS01wmia, todos com assento l1a Constituição da entre as diversas qUêllificadoras do Código veio à baila,
entre AmiHon Bueno de Carv;11110, S;110 de Carvalllo,
? Nesse sentido, acatando pélreccr de minha lavra, a 5ª
[ames TubcllChlilk e o Procurador dl~ A
Cll1la Criminal do RS decidiu que a du da , e neccs$f1rli1 - rdei! lira de
e das cau~::;)s de all1ncntn de
dil
no íurto a
"FURTO FEre) CONCURSO.
aos princípios da proporcionalidade e da isonomía. A fixação de
aumento maior ao furto em concurso do que ao roubo em igual condição.
Aplica-se o percentual de aumento deste àquele. Atenuante pode deixar a
pena aquém do mínimo. Deram parcial provimento aos apelos.
Apelação-Crime nº 70000284455 - Tapes/RS
VOTO
Des. AMILTON BUENO DE CAEVALHO - Eelator - O juízo de reprovação
emergente do ato condenatório singular merece confirmação. A reforma
alcança unicamente o momento (13 qualificadora.
Dúvida inexiste: os apelantes praticaram o delito descrito na peça inauguraL
/'

Assim, ínexiste dúvida houve prática de furto em concurso.


Resta apreciilr a tese pelo Procurildor de Justiça LENlO LUrZ
STRECK: o sistema admite i1 qualificildora do concurso em delitos de furto?
O Procurador de Justiça LENrO STRECK - brilhantemente como de costume
entende que o reconhecimento da (que a
pena do furto o
do roubo aqui
o a
Penal que estabelece a da pena nos CilSOS de furto
concurso de pessoas. Na trata-se, nilda 111alS nilda menos, do
86 Cfc, André. Dircílo Pe!1a! c Estado DelJlocrlÍtico de Direito. Porto elaborar LIma releitura da lei sob os da devida
2000, p. 188 e segs. na Constituiçiío Federal. mecanismo apto paril tal

64 LENTO IUIZ STEECK


selll rcclu-

C concurso de pt:SSOflS c!!{uJlt1dn de IfO cnso do n


}i!(tis de lJcs::;(l(lS {~cJlf1!JJ!llfn de CtiliSt1 de f7uJJlcnlo de penil
a Uilla{ ~llnbns os prClt-:nsanlPnie prutegc'lH o rncsrno bê111
(o muitu embora u rnubo um crime bem mais
a de mais de uma
de pena bem
lTICllur ..
De maneira bem !1\3is dizer que, para o E o, j;)ripcípio da isonomia está inserto na
brasíleiro, cometer um furto medi;mte participação de mais de uma pessoa é discurso Kclscniano., obediência ao sistema.
circllnstJnci~l rnals gravosa do ,-plt~ COIlH.:tcr tl1TI rOllbo cn1 circunstâncias No pC1rlícubr, entendo 'lue J "is('l1omia"
sC!11t'lht1t1tes!!! E parece ô[;uin qlfl: (llflot!rrllo direito texlo
cOIllj1f7cfunr ((!!11 fais OllOl1!fiJias.
t: valid!ulc
(fc.yfO)
cn{rdnl1in, (l[;!idndc
C(lnlO do o do iSOllOlll!n,
c
outro modo, no caso sob exame, <1 teoria garantísta de Ferrajoli
oferecer \Im e fundamental contributo para o deslinde da contro-
vérsia. Com em tendo os textos jurídicos sempre dois âmbitos -
e vJlidadc, UJ11:1 norma somente será viÍlida se seu conteúdo estiver
cm conformidade com Z\ Constituição, entendidZ\ em sua materialid,lde e
substancialidade. Ora, o legislador (ordinário) não é livre para estabelecer 'IIUJIIOS' - lei:
leis e tipos penais. O grande é que, mesmo com o advento de uma
no\'a Constituição, milhares de leis continuam cm no sistema. Isto do lsol1oll1in:
de formJ o confunde ", Revista Trimestral de
Por isto, as correl/tes críticas do Direito apontam pilra <l necess<Í- da 3'
na hermenêutico-conslitucionill do sistema felzendo COIll
todo () ordenamento fique c:ontamin<ldo A
é tão

Celso diz que há se o frntilJ/iClllu


da 1110derna teoria existir tU lia entre o
!:)onavides, Rib,lS, Vieira, Guerra incxístir, no conlriÍrio, t1
Cleve, L. R. l3arroso, Souto Maior de discrílllCI1

di ferenciado devem ser

utilizando-se para tal dos Direito COllstitllciollol do Trnlm!lw,


a interpreL:lção conforme' ii de rS(l}!oI11ili, segue <l linha de Celso, acrescentando: (a) o

66 LENtO LUl? STRECK TRIBUNAL DO JÚRf 67


o cidadão cOlltra (7 arbítrio dos govenlll/1tes (o Assim estão: a) Wiliam Wanderlei Curso de Direito Pwol, voI. II, 6 2 ed.,
niío há agressão ao quando Forense, 1989, p. 407 e 432; b) MirZibcte, Manual de Direito Pel1al, vol, 2, Atlas,
o discrímen; (c) el/l todos 228 e 239; c) Damásio, Direito Penal, 2º vol, Saraiva, 1997, p. 325 e
diante da lei. Fragoso, Lições de Direito Penil/, vol. r, Forense, 1988, 330 e 351; e)
da isonomia no aunwnto de pena, Comcutários /lO PC1lal, voI. Vll, Forense, 46 e 58; f)
furto ('m COIl honto com o rOl! bo Noronha, Brasileiro Comentado, Sôraivil, 59 vo1.,
is? Htí fundamento til ciOl 111 !, visivel- e J83; Paulo da COSI,l Jl'mior, em dois rnomentns; )-
PC!lill, S,uaiva, 5" ed., 19')7, p. 492 e 478; e Curso de
filiv,l, 1991, p. 79 e 83.
c[[pllf, (l {tlltCa
violência, ou gnruc nJllCaça,
ram 011 para oulre1ll, coisa
mais violência J de um
substa ncíalmente

c estZ1o,
tanto que admitidos como deJitos di] meslTla
continuidade entre eles. Aliás, sobre o tema há nr,<>r?>';,·'r
roubo em condição. Aliás, estaria até
Tribunal, acórdão nº 698465028, da lavra do i1usln~ colega se ocorresse o roubo delito ma is sério ao violenta-
mente a pessoa, mereceria (estaria justificado, leia-se) até percentual maior
'CONTINUADO. FURTO E HOURO. POSSIBILIDADE. O conceito de mesmo, pellil mais do que furto.
no art. 71 .do CP, não só i1 idéia de identidade. u l'aclofwt l)iscrirnina(~>Jo
a de fOrnlí1 r é: t~ convir guc, entre dS
A Ji,1S, corret~1!11ente
. ilsscnlelh:lll1 conceder rncsrno ,1UnlC!1{Ü \10 ruubo à
ou 1(11 lk\
alheia 111;,')Vl'l.
entre as duns condulas crirninos:1s,. violência J ".;soa que se r('veste?).
autônomas, a violência na Ferrajoli diz que muito pior do que conceder penas (= causa de aumento)
execução, não se traduz num traço exclusivo de uma delas. Esta violênci<i iguais a delitos de gravidade diferente é fixar mais elevadas ao delito menos
tanto existe no roubo, quanto no furto, quando, por exempl .., há rompimento grave (p. 402).
de obstáculo à subtraçiío da coisa. O caráter pessoal ou real dessa violência Assim, procura-se, respeitosamente, 'racionalizar' o sistema, fazendo presen-
impede que as duas figuras sejam idênticas, mas não nega a semelhança que te o princípio da ísonomia. A forma de superar é o uso da analogia, para
as vincula e autoriza indicá-las como crimes da mesma espécie.' beneficiar, com aplicação ao furto qualificado pelo concurso do mesmo percen-
Vê-se, pois, que se está frellte, em nóvel de capll! a delitos absolutamente tual incidente no roubo ou ele um terço a metade.( ... ) A pena
próximos. Agora vejamos o fato onde existe igualdade absolllta - causa de (pois), vai recalculada. (... ) concurso o aumento é de um terço.(. .. )"87
aumento:
Poder-se-á dizer que, no caso em exame, a 5ª Câmara do TJ-RS,
Art. 155 ... Art. 157 ... ao acatar o parecer, fez !pais do que uma interpretação conforme,
§ 4° - A pena é de reclusão de 2 (dois) a § 2º - A péna aumenta-se de
8 (oito) anos, e multa, se o crime é cometido: um terço até metade:
"consrruindo" uma nova "norma"(texto). Não se desconhece os
lImites da técnica da interpretaç50 conforme a Constituição. Entre-
IV - mediante concurso de duas II - se há o concurso de duas tanto, em face da prevalência do princípio da isonomia constitucio-
ou mais pessoas. ou mais pessoas. nal e da possibilidade de se fazer analogia in bOl1am partem no
Diferença? Nenhuma. Tudo idêntico: no qualificar, no furto, e no majorar, no Direito Penal, não se afigurava possível a continuidade da aplicação
roubo, "concurso de duas ou mais pessoas". stricto SC11S11 de uma norma jurídica (texto) que, frontalmente, feria a
Qual o discurso para o aumento de pelo concurso' A facilitação do
delito, impedir coligação de forças, maior perigosidade.
devida proporcionalidade e a razoabilidade que devem ter as
Mas a identidade é de tal forma espetacular os doutrinadores, como interpretações. Nesse caso! o Tribunal teve que optar entre a
regra, comentam ii do § 49 , IV, do e no momento da análise 87 Nesse sentido também foi o voto do Des. Paulo Moacir de Vieira, tendo
do § 2 9 , do art. J remetem o leitor para leitura do que
sido vencido oDes. Aramis Nassif mediante de voto.
disseram acerca do furto ou se repetem.

68 LENlO LUIZ STRECK TRIBUNAL DO


continuidade na aplicaç50 de um dispositivo vigente desde a a para os crimes de lesões
década de 40 e o texto constitucional de que os cometidos no trânsito e
construtivas como a Estildo somente inicii1a por
como sofreu o Tribun,ll Estado está
de fevereiro de 1 mais COlOGllTl em
risco o p,ltrimônio das
a vidZl

3.3.3. A incol1stilucÍolllllidade da reincidência


No nosso Peni1i, é1 <:1lém de r é1 pena
do delito, constituí-se em fator obstaculiz~lnte umQ sene
de benefícios legais, tais como il condicioni11 da pena, o
do ra o da liberdade condicio-
a concessão do furto de pequeno valor, só pari1
citar alguns. Esse duplo gravame da reincidência é antiga:'a.ntista,
sendo, à incompatível com o EstRdo Democratlco de
Di

pcrgunL1, diz Z" uma pena


°rélve do que a tente à delito de que se é
~ulpável; s~ infligir il que c·ometeu llm primeiro deÚto pelo
qual foi ilpenado uma nOVil pena por esse crime não seriil v!olar
abertamen te o 11011 biS iII que é uma dils bases funda mentms. de
[números outros exemplos de textos jurídico-penais que care- toda a legislação em matériil crinlini11" (Carnot) vem sendo repetIda
cem da devida filtragem constitucional poderiam ser elencados. e respondida negativamente, há duzentos anos, pelos defensores de
Assim, por exemplo, n50 se afigura razoável que para os delitos de um estrito direito penal liberal ou de garantiils." . _. ,.
furto, apropriação indébita, estelionato, somente para citar alguns, Zaffaroní, na esteira.slf'_EerGtjo1i,:<;!g.YDgª-ª--..a~_o!Js.~o d':..E~~c,
a a.ç50 penal seja pública incondicionada e, para os delitos de ,9ência. n~Qirei.t.().l~enal:J'Quando o dlSCU}'so Lun(hco-p~na1 prete~:.- 1
trânsito (lesões corporais), <1 <1ção seja/(je índole condicionôda90 Ou r de legltnnar il sançao ao homem pelo q1le e e nilO pelo q1le que?,a I
~eja~?ar~~s delitos contri1 o piltrimônio, o Estado, S!{{), efetua
I um. princípio fundi1mentill do direito penal e garantIas, que e a /'
\\ intangibyidade da c?nsciência moral da 'pes~oa, .su.st:n,ta~a ,com i1
tanto, !3verfGE .'i9, 1; SL1,1 de mesmil enfi1se a.traves de argumentos raclonil:s e lehglO::'o.. ~. tI ata-se \
129, in: l3achof, 0[(0. fshdo de
Faculdade de Direito de Coimbril, voI. L Vr.
89 Cfe. Lafucnte l3alle, JOS(i Maria. Ln
Poder
I de uma regra laIca fundil111entilI do moderno bsti1do de DneJto e, ao
meS1110 te~ípo, da proibição étiC:l de julgilr evangélica (Mateus, VII,.,~;
\! Paulo, XIV, 4) (FclTajolírJ2 . Por tudo isso, conclUI Zilffarom)o,
1101. tvladrid, Culcx, 2000, p. 136.
cn trc sentenç,ls aditivas,
91 Zaffaroni, Raul Hcincidência: um conceito do direito autorit:írio.
tela, também ser classificado na C.1
~ . 111: Livro de E.,t /Idos n. 3. RI, I EJ, 1991, p. 55 e 56.
por nosso entendllnento tanto cm 92 Cfc. Zélffaroni, op. cit., p. 57.
un: como no outro caso, o Eslildo njo dcve abrir mJo titularidade exclusivil da 93 ldem. Sistcl/lils derccho.s 11I1I1I17/10S CIi Américo Lnfillil do
ilçao 1150 além do incroxál'cl de de Illtel'nl!lcricl1llo de Direitos HW!1(/llos. 1
da suciedade.

70 tENro LUrz STRECK


TRll3UNAL DO jlJRT 71
de la condena una vez cumplida y su relevancia para os crimes considerados Estado como de
futura colocan aI condenado que cumplió su condena en
menor potencial ofensivo, por la.to sellSU, os delitos susce:
de condiciones frente aI resto de la población, tanto
tíveis dos da Lei 9.099 Dito de outro e
de la de]
de crimes como estelionato,
com mínima de "1 ano, parece
devem ser rctir,lClos di) órbita dos crimes
Seria absolutamente por
Df rírneiro recolhesse
o autor do do
processo mediante
e i111;m da lwcess,hia releitura
zer do delito um meio de vida, como dccn:lo custódia va, contO, por
Costa Rica, Panamá e El indícios ser rcde.finidos em
de qualquer de um delito que I1iío se do direito -
cm relação razoável com a entidade do mesmo;
A regulação estrita de registros de condenações e penas e a
crimes Sllscetíveis de ii ! necessita ser
eliminaçiio de ~ualquer anotaçiío sobre as condenações ou penas
para os quais o Estado adlllite a suspensiío do
111 ('x(m Esta perspectiva acerca da necess5ria releitura das condições
da custódia a caminha
chan1a de f6rmu]a sUI11,íria que
lu cumo liberal Estado
I Estadu
Vale argumen expendída foi das de liberdade do a correJativél
em inédita sentença proferida pelo juiz de Direito Mauro Borba, da dos linlÍtes impostos à ativídade repressiva; Estado e Direito máxi-
Comarca de deixando de aplicar o dispositivo penal que mo na esfera social, graças à maximização das expectativas mate-
estabelece a reincidência pt"}r entendê-la inconstitucional (não re- riais dos cidadãos e a correlativa expansão das obrigações públicas
cepcionad~ P?la Constituição), decisão que foi confirmada pela 5" de satisfa
Camara Cnmmal do TJRS, que ficou assim ementada:
"Furto. Circunstância agravante. Reincidência - Inconstitucio-
9S Não se de\'e Ignorar o advento ti,) Lel 9 71.:1/98, que mais ainda o leque
nalidade por representar bis iII idC/l1. Voto vencido. Negaram provi-
de poc;slblhdades de substitUição de penas, o a tese do cuidado que
mento ao apelo da acusação por maioria." Acórdão 699291050. ReI. devem ter os opeladores quando do C'Xi.1me , s e j a , deve o
Des. Amilton Bueno de Carvalho. No mesmo sentido os Acórdãos operador fIxar os olhos no qUillltll1ll dZ\ pena que sera acaso venha
70000786228 e 70000754226.9 4 i.1 ser condenado. Seria um preventiva
nrt,("('ssn cuja pena, a toda evidência, não de 4
3.3.4. A entretilnto, deve ser feito acerca da
do inciso I do art. 44, alterado Lei 9.714/98. Iodos
reclustlo e cOllletidos sem 011 grnvc IIIIICOÇil, pel/II concreta ui70
I7110S, receber os da s/I/Jsfiluiç{lO. Nesse sentido, ver Streck, Lenio Luiz.
Outra questão que merece a devida diz respeito ao "As alternativas ii luz da do Estado Democrático de
~Icanc~ da_priSão preventiva. Parece claro que não é mais cabível a de
94 S 1. Porto
oore o assunto, ver também Salo de. "I\eincidência e antecedentes
criminais: crítica desde o marco garantista" ln: do Boletim do
Nesse n.
ITEC. Ano 1, n. 3, out/ nov / dez 1999. da 5ª Cimara Críminal do TJRS, o cntcndínwnto
97 Cfe. Dcrecho y 1~i1ZÓíl, 01"

LENiO LUIZSTRECK
TRIIlUNALDO
s

Um dos modos de tratar a morte no Penal é o Tribunol


do Júri, pelo Cód de Processo Penal nos artigos 406 e
Pela sua relevilncia, ser50 mostr;:H.ios os diversos
que o
na Sllil

4.1. origem do júri c o ircito ali

4.1.1. O C 11 COmlTlOll lc1w - Illslnterm e Estndos Llnidos


Muito embora se possa falar da existência do júri na antiguida-
de,98 é na Magna Carta inglesa que ele aparece com mais especifici-
dade, servindo de modelo para o mundo. Talvez por isso o júri se
mantenha com mais prestígio nos países da C011111l011 Il1w, mormente
98 Conforme informa Edmundn Oliveira, citandn
Tusficc, os gregos tiver;:UTl a sJbedoria
que floresceu e se consolidou nos sistemas
título de é lembrar J I
Tribunal

nt'
do mundo todo .
J iveir3, Edmundo.
na d" juStiÇ3 nos Est"dos Unidos". III: TriLJllIwl do
- Estlldo .,obre t1 /llnis de!JJocrlÍlictl illSllliliçllO lml"ílcirn. Silo Paulo, RTf
p.101.

TI,IIlUNJ\L DO JÚFl 75
nos Estados Unidos. 99 Na Inglaterra, onde a idéia do júri com Já nos Estados Unidos, o júri tem arida constitucional,J01
doze jurados, o júri ainda é figura centn:d, muito embora seu uso na lendo-se no art. 3º, seção II, item 3, que julgamento de todos os
atua]idade se restrinja a menos de 5% dos julgamentos criminais crimes de responsabilidade será feito por júri e esse julgamento
de julgamento pelo júri crimes de homicídio e o realizar-se-á no Estado em que os crimes tiverem sido cometidos;
além de outros crimes considerados graves, cabendo ao não sejam cometidos em nenhum dos
z togado decidir se envia ou não o processo ao tribunol ocorrerá na localidade ou que o
Até o ano de 1933 existia o Gmild llue era por 12 a 24 a 6" Emenda acrescentou
pessoas e ia por maioria de 12. !\tualmente só existe o Petit o ai:lsado tern direito a por um
que o vered icto de 01' not do loca! onde o crime medida em que
De registrar que, na Inglnterra, não S80 necessários veredictos não havia forma de organiza-
maioria de J(J·2 ou 11-1, pelo menos. Com do jú desenvoh.!('1..l a du
o artigo 1. da Lei de ,1974 Act) habilita o juiz de funcionamento da jurados (como na 1nglil ter-
primeira instância a aceitar um ~)()r maioria, de ra) e a presidência togado, O federal deverá
menos duas horas de infru do jtíri. Este loriJmente ser de doze que
veredicto é efetivo se obtiver adesão de dez jurados em um júri de não se estende ao funcionamento do júri nos exemplo do
onze ou mais, ou de nove em um júri de dez. Se o corpo de jllrados qual é o Estado da Flórida. No júri federal, o resultado necessaria-
não chegar a um unânime ou m<liori<l, o mente deve ser unânime; nos júris estaduais têm sido possíveis, em
desotlC'LÍ-los de sua Tal circu decisões por ma ioria de votos, desde que 1180
sido ou pUl1iclos cum de morte. Nesse
onde unl;l
di ficíl sem constitucionill
em razão do fato de as serem imotivadas. Courl, sob o argumento de que a 6,t Emenda estlbcleceu o
as razões formais (nulidZldes) que acabam sendo o· fundamento da direito ao júri imparcial, mas não obrigou a unanimidade nas
maioria das invalidações de julgamentos.lOO decisões, Há uma diferença entre o grand jury e o pefit jury. O
judiciu!1l accusatio/lis, espécie de juízo de pronúncia brasileiro, é
feito pelo grand jury. Na jurisdição federal, é obrigatória a existência
do gralld jUl"y para todos os deli tos considerados graves, A composi-
99 Marques, José Frederico, op. cit., p.35, informa que, enquanto o júri, sillvo nos
pilÍSes de língua inglesa, é instituição em decadência, o escabinato se encontril cm
ção do gmnd jury varia de Estado para Estado, e seu número vai de
franca ascensão. Na França, desde a Lei de 25 de novembro de 1941, emendada 16 a 23 membros. Já o pequeno é o júri propriamente dito, a quem
, ordOIIlI{//J(;' de 20 de abril de 1945, e leigos em compete julgar se o réu é inocente ou culpado, cabendo ainda aos
numero de tres c estes cm sete) deliJ;>;o:ral1l sobre o crime e a jurados fazer a recomendação da pena a ser aplicada ao reú,HJ3
ilpliCilÇào di] pena. NiI Alemanha democrátiCil \Veimilr, a reforma de 1924
transformou em escabinato o Tribun,d do Júri De registrar que nas cortes federais é permitido ao réu abrir
funcionilr, com esse carMer, entre os tribunais da mesma mão do seu direito ao julgamento pelo júri, incluindo casos puní-
já existentes. Da eis o que diz
10\ informa Nucci, cit., citando dados coletados por Nádía de
número de cantões ignora a COllr d'Asô'ises (parlicu!Jrmente os de
e Hicarclo Almeida, silo cerca de 120.000 ano nos Estados
ne: Bãle-VilIe, Schahouse, S. Gal!, Valais). Outros introduziram os tribu-
Unidos, o que no mundo
naiS de escabinos (entre eles Reme, Tícino, Vaud, ou tentaram criá-los
todo.
Outros, enfim, procuram o Júri na de sua tarefa 102 A 7· Emenda
Haros são assim os conservado o Júri só". estabeleceu o direito
"nenhum caso por um
efC'. Nucci,. Guilherme de Júri. Clfl5tiluciollllis. São Paulo,
Estildos Unidos, senão em conformidade
Juarez de OlIveira Edl[ora, 1999, p. 63 e segs. I'vlurais, António Manuel. O
110 ln/mI/III. Hugin, 2000 com as
103 Idem,
~- -._- -~-~-~~_.---"--_._-~-----.~----"- ---"~_ ..--._,- -- ------------------------------_._---
76 LENIOLUIZSTRECK
TRIBUNAL DO
veis com a pena capítal desde que esteJ'a< aconse IIla d o 4,1.2. O Frnnçl7
°
f c •

por UI.l1 ~dvogado e fa..ça ~onscientemente, além de ser necessário


1111

:ontal ~~m n, ,:oncordancJa do promotor e do juiz, Em cortes introduzido nil


estadUilJ:-; ocone o mesmo, com d limi
guns não permitem
com pena de seu
ordimírio do exercí-
contincntilt de encumend"das. A fillta de fé
seus institutos estes haviam realiz;ldo eln favor do
esse clrZ'lclerizado pelo
bem resumido
se por mn no
sem ceSSiU ,llém da esfera natural de SUi1
autoridade, por outro, nunca a por inteiro", Desde
então fomentou-se uma tradição na Prança que se estende até
nossos dias. Releva notar que essa desconfinnça para com os juízes
teve corno reflexo il excll1sZío dos tribunais da ti1refa de a
exclusão que m,uca (1 francês " que tem
matéri'l.
de 311
o' ri . . '._ que, nus Estados Unidos, sendo convalidado o de
.) ". uma gillantla fund[lment[l] do cidadão, prevista
Judiciária de 1791 regulou o funcionamento do jClri sob a de
na" Constltl1Jçao, e ' que IJrecisa
(f d" ' ~, .' ser reS}leitild'> pOl' t Oc:l as [IS cortes '
júri de acusação e de sentença, O júri de acusação (Gralld Jur!!),
>l~' el~ls e est[ldUals), Num slstel1l[l onde os juízes e promotores são
c • ("

e.E'ltos ou nome[ldos pelo Poder Executivo ine ' t' d extinto enl 1808, era composto de oito membros, que decidia por
nút I', .j d ' . , 'XIS ln o concurso m.aioria de votos. O Tribunal do Júri iniciou com o número de dez
r 1 lCO oe a l1llSSao, onde prevalece o sistemil do dI'l'DI'tC) .t '
'C • f./ 'j " . c '- ,cos un1el-
1,)' maIS l,agl ~u~ o pnnClplO de reserva legal recomendada, bem
membros. Em 1808 entrou em vigor o Código de Instrução Crimi-
~J~;1'.? onde, s: ~lllvlle~:a a p<1rtlClpação do cidadão leigo na adminis- nal, passando o Júri a ser composto por oito membros através das
,?ao .de Justlça, o Jun e uma gilrantía que o réu tem contra i1 leis de 4 de março de 1831 e de 28 de abril de 1832.
opressao pesco~ pOl' U111 acusa- Depois de várias modificilções, o Júri firmou-se como escabina-
I ' . eve,'ntualmente
I flssilcada contra sua '
to>(3 magistradqs. e 9 jurados). Na realidade, o júri é llma parte c!a
cc! U

COI parCIa , em campanha eleitorat buscando destélcar-se . :l-o


ou co t '" 1 c 'c cna 111lC la
)s -. n ra, o .lUl.?, 19ua !;lente em campanhil, pretendendo mostra; Cour d'Assises. A Lei de 28 de julho de 1978 iniciou o chamadO
ac,:, seus eleltOles que e severo no combate ao crime. Sentindo-se período do Júri Democrático. A escolha dos jurados passa por um
pOlS, presslOnado pela máquina estatal " , amplo filtro, com a participação de deputados locais e a Ordem dos
tia o J' 1), ; t I ' ~ .' .' . ! como g;Han-
,

d , . u garnen
E' . o pe o lUl I, cO!1se bO'lundo l:r ue seLIS p"res ;,Jec1'd
- '- , ',"" d clln seu Advogados, A lista ilnual e a especial são enviadas pelo Presidente
estmo. "ntretanto, aj)es<1r de nítidllc gal·"]ltl·., ~ .'
o'lU!] c_
cln Comissão ao Prefeito, que a faz chegar (lO Presidente de cada
t (" ", llflO
e.m,a] 1::eS!1ln força 9ue o tribunal popul<1r auferiu na Constituiç~o Câm(ll'il. Pelo menos trinta dias de antecedênciil em relação Zl
lnaS] ella o reu ten1 POSS]!l] "'l'J'd aue
J d e retutar
.
('n011'1n to , , " ' " esse d',,·t
II elo,
abertura das sessões da Cou/' os seus presidentes fazem o
. '1' " cm nosso caso, a constitucional é irrenunciável. Jo -+ sorteio em audiência püblica sobre a lista anual, retirando os nomes
j~----'--: de trinta e cinco jurados que irão formar a lista da sessão e os dez
Cf\'. NllCC1, o)'. cit. jurados suplentes, com uma i1ntccedência de quinze dias, pelo
menos, sobre o dia da abertura da sessão. Na do acusado e
78 tINjO LUl? STRECK
TRmUNAL DO 79
por sorteio, sZlo extrElídos os nove nomes que de sendo que, a serão necessários oito
jurados que participação da sessão de votos, bastando apenas cinco para a do acusado. Hessal-
O Procédure no Livre na parte te-se que, a exemplo do que ocorre cm Portugal, a Cour
de o funcionElmento da Cour também delibera sobre a a ser aplicada ao ilcusado. Para
dita o A da o mínimo de oito votos. Não
e por dois assessores. o mfíximo da pena ficar6 limit,llb il trinta
ou ele uma Corte de anos. A decis;'ío sobre a penél, lato sellSIl, maioria absoluta.,
~~endo que serão tos tos turnos para
o quorulll. Ou se o primeiro turno não for
o .1e maioria absoluril acerca
será um turno, sendo que i1
não atinoiu
b
o IlllUrl/!iI, deverô ser descartada na_
o segundo a pena roposta llao
o quorum de maioria nbsolutn, ser{í feito um
descartando-se a pena maior anteriormente proposta. !)o meSl110
modo, será feito um quarto escrutínio e assim por diante, sempre
descartando a pena Hwíor, até ati o quorulll necessário para a
da pena. A Corte t,lmbém sobre as pem,s "'.'''''''ou-
rias ou ilssim conlO enl ao :::lIrSIS.

4.1.3. ()
ueju
Vi,yente Vé1rias modalidades desde o século importa
a produção da prova e os debates, o presidente exporá à illform~r que o Tribunal do Júri no século XX, até a Revolução dos
CDU!' reunida em sala secreta, ponto a ponto as questões Cravos, muito embora regulado pelo Código de Processo Penal de
discutidas, seguindo o seguinte modelo: '"Laccusé cst-il coupable 1929, não foi aplicado na prática, uma vez que a Lei de ~ecn:tamen­
davoir cOl1llllis fel fait?" Uma questão é posta sobre cada fato, to dos Jurados nunca chegou a ser decretada. MaIS amda, o
conforme constou na acusação (Intra de rCl1voi). De igual modo, Decreto-Lei nº 35.044, de 20 de outubro de 1945, correspondente ao
cada circunstância agravante será objeto de uma questão distinta.
Estatuto Judiciário, não previa o Tribunal do Júri, o que faz com que
Se resultar dos debates fatos que comportarem outra qualifica- se possa afirmar que o júri estava abolido desde ~quela data.
ção legal não constante na acusação do Ministério Público, o Com a Revolução, dirigida pelo MFA - Movlmento das Forças
presidente da Cour poderá propor outros "quesitos" (sub- Armadas, Porrllgal retornou à democracia. Nesse contexto de retor-
sidiários). Cada magistrado e cada jurado responderá a cada ques- no ao Estado Democrático de Direito, o Decreto-Lei nº 605/75, de 3
tão, começando com a expressão "SUl' lIum hOlll1cur et ma consciellce, de novembro, informava no seu preâmbulo que o Programa do
ma 1ftr1l7mtiol1 tst ... N. responderá sim ou não, entre- MFA determina, nas medidas a curto prazo, a dignificação do
gando o voto ao presidente, que a depositará em uma urna. processo penal em todas as suns fases, !endo o Minist.ério da Justiça,
O presidente abrirá cada voto na de todos os mem- no seu Plano de Acção, aprovado em Conselho de M ll11stroS a 20 de
bros da Corte. Os votos nulos e os brancos são contados em favor da setembro de como prioriti:íria, em ordem ao cumprimento
íO'i Cfe. Stefani, CevaSSE'ur e Sou Ioe Procédurc PI'unle, Paris, 1980; Toulemol1, norma, a simplificnção e celeridnde do processo pe:,al, a
André. Ln liu Paris, Eel. Librairie Recueil 1930; F. LII num só dos correcionais e de polícia correclOnal,
Com Morais, Antonio ManueL O 110
Hugin, 2000. assim como a instituição do Júri julgar os crimes mais
No n" 4 do citado Preâmbulo, constou que a
80 LENIO IUl2 STJ<ECK
princípio da ordem democrática instaurada
verdade, totalitários
receio da dos
a ordem

formado
intervirei somente
rélm, deixando-se
efetuado
o
visa à existênciLl d(~ suficien tes, não se vê
Úí':l - e tlssim concluia o do MFA - que a sen
da lnstânia que o se possa recorrer perante o
Supremo Tribunal de Justiça, somente dt'stinado por natureza a
do .

"m
dL'rlÍ

or,llt11cnLc, em ordem CH:SCl'llÍ.C id


entre outros, o i1rt. Tribunal com jurados para depois votarem os juízes
o. . a comp~tir ao Tribunal do Júri julgar os processos por último o presidente. O júri poderei dar como provado qualquer
r;:atlvos)a cnmes preVIstos no título II e no capítulo V do livro II do fato, mesmo que não esteja compreendido nos quesitos, desde que
COdlíjO I enal e os que. tem a crimes a que seja abstratamente seja para beneficiar o acusildo. J111portl1llle registrar que a é fixada
aphcavel a pena de pnsão superior a oito anos, quando não devam pelo frilJl/llill coletivo. As decisões são tomadas por n,aioria simples.
ser ]ul.gados pelo tribunaL e a intervenção do Júri tenha sido Cada juiz e cada jurado deve enunciar ilS n7Z<Jes da SI/I/ OpilliilO,
requenda nos termos da lei do processo. Mais tardeI adveio a Lei n 9 indicl/lldo, que os lIIeios de prova ue
24/90, alteran?:)? nº 1 do mesmo artigo, passando a estabelecer que tÚlilill'!l é permitid(l ílbstenção.
sua cOI/VÍcçiío. os JUIzes que
cO,mpete)ao Jun Julgar os processos a que se o artigo 13 do 'constituem o Tribunal coletivo nem qUíllquer dos jurados poderão
CodJgo I enaL salvo se crimes de terrorismo. revelar o que se tenha passado durílnte a deliberação e que se
. O Júri p~rtuguês é composto por três juízes, que constituem o relacione com íl causa, nem exprimir (l sua opinião sobre o veredicto
tl~lbunill ~oJetlvo~ por lJU~1tro jurados efetivos e por quatro suplen- do Júri depois de proferido.
tes. O tnbunal e presIdldo pelo presidente do tribunill coletivo. A proferida pe10 Tribuníll do Júri, ainda
do que jéi constava das idéias dos condenar o (argüido) em inden
. no tribunal do júri fundado.
processos do júri tiver sido
no Público, pelo assistente ou pelo ido.
Justiça. De tar
que ~) IlCl/Slldo mio pelo júri. umil vez r perante
este ter,l
pedldo p/aIa júri, é vedada a retratação.
106 Observe-se que, a do sistcrnél francês, os membros do Ministério
O)lm mtervém na das da culpabilidade e da
Público cm :;50 dCI1<l1lfini1c!ns de
determmaçfío d~ p.. d . .
_ ....~_ ~_c__ __(_~ ____ ~ ___ 1:~~1~~1_~ __(~__ para Julgamentol
TRfBUNAL DO 83
82 LENIO LUIZ STRECK
cole~ivo,~ o qual será constituído por um juiz acerca dLl prova objeto do processo,
presnilra, e dois do círculo judicial a ,..,,..,.,nn,· a produção de novas provas. Os
o processo se desenrolou. jurados poderão, por perguntas às testemunhas, aos
,finalmente, que, em e ao acusado, tendo acesso a todo o n,-r,,',,:,cc
somente O Ivlinistério Público e a ddesLl
testemunhas e sobre as
tes, acen 1 do que foi declarado no
Concluído o Illento da prova, as
4.1.4. O
mod fel tas por nca-
sii30 da 3bertura da concluídas as a da
ii disso]
a consa-
júri: na \10 de Cidiz de ] 812 c nJS n50 resultaram provas suficientes
1869 e 1931! senlkl que, a cada para a Se a inexistência de prova somente afeta a alguns
retroce~so das püblicas, a fatos, o poderá excluí-los do rol acusatório.
lar nos Julgamentos tem sido restringida ou até mesmo Importante notar que o júri pode ser dissolvido se as partes
Atualmente, o urtigo 125 da Constituição do Reino da Espanba assim concordarem. Nesse caso, o magistrado-presidente ditará
estabelece os cidadilos .
,:{."
~ (i
J
(t0 sentença que corresponda, atendidos os fatos admitidos
"acordo"J' entretanto, qlH~ existem motivos
lei
para concluir que u fato da denúncia nilo
narrado ou ue ~,lú renhi) sido (l
d t.-~t(:r! II indndo
júri tem quando o Ministério em suas alegaçôcs ou em
c~.mpetência para o julgal:len~o. dos ,crimes contra as pessoas, os qualquer momento anterior, desistir do pedido de condenação, o
:~:me~ cometldos por funclOnan.os publicas no exercício do cargo, júri será dissol vido pelo presidente, com a conseqüente promulga-
U:I:1eS, cOl:tra ~ honra, cO:ltra a llberdade e a segurança e os crimes ção da sentença absolutória, o que demonstra o grau de autonomia
~(. lllcendlO ..Flcam exclmdos expressamente os crimes que devam do Ministério Público em matéria criminal. Ou seja, o pedido de
fIcar sob o CrIVO da Audiência Nacional. absolvição do Ministério Público prescinde da manifestação do júri
Sua.~Ol~posiçã~ é ~ie nove jurados e um magistrado, integrante e do próprio magistrado-presidente.
da A~ldlenCla ProvlllClal, que o presidirá. Os jurados emitirão Concluída a- fase oral do julgamento (alegações iniciais, produ-
v~redlcto :leclarando provado ou não provado o fato que o ção de prova e alegações finais), o presidente submeterá ao jurados,
tlado-presldente tenha col~cado sob julgamento, assim como aque- por escrito, as perguntas necessárias para o alcance do veredicto:
!es ~utros fat~s 9ue decldam incluir no veredicto e que não especificará, um a um, os fatos alegados pelas e que o jüri
:m.phqt~em vanaçao subst~ncial do fato principal. A função de deve declarar provado ou não; em seguida, apresentará os fatos
Jutado e remunerada. N? d:3 e hora designado para o julgamento, alegados que possam determinar a existência de causa
na presença das partes, e felto o sorteio dos jurados, devendo estar ao depois, narrará o fato l1ue determina o grau de execução do
presel~tes no m.ínimo vinte. Os jurados ~ão interrogados, pergun- crime, a participação ou circunstância que altere a
tando, lhes acelc~ de e lncapacidLldes. As especificará o fato delituoso o acusado
tambem podem mterrogar os jurados sobre as causas de deverá ser declarado culpado ou não culpado. Antes de os jurados
mentos, incapacidades e escusas. serem ouvidos acerca dos as partes manifestar-se
Abertos os trabalhos, o presidente abrirá às acerca da inclusão ou de fatos, circunstâncias ou outras
de para que exponham aos as causas julgarem convenientes.
84 LENIO LUIZ
TRiBUNAL DO 85
seguinte,
"
os s'lo
',c, c:1 a sa Ia de julgamen- rador, etc.), a do júri em nosso direito também deitou
secretamente,
' d O primeiro J'urado sorte">c::lo
C<, sera' raízes no direito francês, Como um anteparo aos juízes do
d e Jura os, Mesmo haja
L

da da
icabi

para
crimes de
de 1822,1\17
t'es l: patrio-
tas", Já entfío seu cariÍter de tividade passou a ser
medida em sociedade escravocrata, só
os 50S ser ou
bons", detivessem uma determinada renda
por conseqüência, às camadas dominantes, Já na
do il Lei de 20 de setembro de
ínc;tituído o jú de e o ri de
vinte e e o
u-
I
ma ser su norte-americanas e deu ao
:l'rto com
- nova
- , (élté'er "':i ' ,
s· a,mgll a a necessana maioria A
1
?l~l lcaçao nao poder? deixar de submeter à votação a parte 'd
amplíssimas, superiores ao grau de desenvolvimento da nação que
se constituía, esquecendo-se, assim, o legislador de que as institui-
,a _~_ pelo magIstrado-presidente, O que pode ser feita 6 o
ções judiciárias, segundo observa Mittermayer, para que tenham
llle usao um novo quesito, sendo vedada altera ão - ue ') _ ' e ,a
que o acusado, Os jurados também deliberam sob~~e o~ b,F I,{,u~il~ bom êxito, também exigem cultura, terreno e clima apropriados'/108,
como hberdade condicional e ' d' , I ,ene lClOs estabeleceu duas formas de processo: sumário e ordinário, O pro-
para tanto votos, { JU lCIa, sendo necessários cesso sumário cuidava dos crimes de competência do juiz de paz, o
Se o veredicto for pch ' que incluía a formação das queixas, Já o processo ordinário era da
, ; i', ' '- c o magIstrado-presidente competência do Conselho de Jurados, tanto na fase da denúncia
1l1leC latamente a 'lbs l!t t' " S ' ,
" ':1' f ' ,c 1 O1Ia, e, ao contrarlO (aceitaçãcr'(m não da queixa) quanto na de julgamento, O Conselho
\ erecIcto 01' pela culpabilidad, o presidente concede" '1'" o
1'J ',' ' -, laapaa\'Iaao de Jurados era presidido por um juiz de direito, O conselho de
(L llstlça e a defesa para C1 ue ne1"
da '
ounledldas ' r " pronúncia de acusação) devia responder à seguinte pergunta:
'seri
- ao a como "Há neste suficiente esclarecimento sobre o crime e seu
civil.
autor para proceder a ?" CilSO negativo, procedida a uma
instrução perante ° que enUío deveria '/ratificar" o
4,2, O júri IHJ. Brasil so e pergunta: "Procede a
lU7 Sobre (1 hist6rico do Tribun;:lI cio Júri, ver José Frederico,
Assim C01110 o dir,'t t" 'Lunbélll Bonfim, Edilson Júri - do 110 Siío
, d - ::l (1 o cons J tuclOnal nos IJrimórdios ::ll B . '1 Saraiva, 1994,
lJ1 e]-,enl ente esteve . 'd ' L l rasI
.1.'
( ausenCla de controle
nos I eaIS da revolução lOR Cfc, José Frech'rico, A !Il,tillliçiio do JlÍri, 550 P,llIlo, GookseJ!er, 1997,
Id - " .
__ ._ ..'_ ... e constItucIOnal, mode- p,39, Cindido de Oliveira Filho,
86 UNIO LUIZ STRECK
TRIBUNAL 87
de ou as que fossem de um só termo, desde que
contra alguém?" , em a d' , fosse possível ir e voltar da Relação em um só dia, Foi
sentença,
, f O J'üri de então ' , nava CiO segumte e1 JUlgamento
t'UI'Cl'O l. ç o , . d f ou
m arma Mendes de Alme'd ," no d'la do Jun " I 10 o, con arme
também restabelecida a competência do júri os crimes que a lei
1 a, de n 9 562 havia atribuído aos juízes. De registrar a
sorteados sessentaos de
d fato e ' O ~ , d. ~ paz. elo dIstnto " da eram
sede dos de polícia! a
, o::; dlstlltos do termo, remetidos crimes conluns, as
certas formalidades de direito nas comarcas
encnminhiwa os e dos
secreta, , onde " ou o juiz de
ou l!l1pronullClas, Constituíam os J'ura-
's .' _ , .de i.l S'o ele sua decisão foi mantido, tendo o
() 1 cu::; ser acusados nte o conseli'( d··
est.) J' 'd ' ,) c Decreto de o júri
que, o ntH11e' do sortead(~lr;os~:ej~:~~~;ol~l~:~'a~~l~)à sorte~à m,cd, de doze jurados, sorteados dentre trinta e seis
de jurado estaduàl da Con,arca, A Né mantida a
podlar .lCusaelor c cllCll,,"do 0'1 " d
c ncusa os fazer
,I (e " dnelto,
"u\..
dc) júri" gerou intenso debate, De um autores como
das, em"llc'mwro
' . ele doze
,." t'()!"l ' d'
, os unpe 1CtOS", ,O') J • . ln10tlva-
Rui Barbosa, Duarte Azevedo e Pedro Lessa sustentavZlm a tese
pass~ndo. a lI:stru~~~
, O Jun de acusação foi extinto em 1841' . de que a manutenção pela Constituição significava que a essência
cnminal para a responsabílidnde da oh'"
de acusaç{ío sendo a formaç" d PJ un, Ou seja, tOl extmio JUfl do leis
, '1 " , ' ,(,o ,il cu pa e a de
atnullldi1s autoridades . '
dendo dos
dos 1\
. remeliam juízes dir"it
a uma ~ Junta, cOlnposta " , . , 'pi" e o JUIZ, pc I o promotor .. , ~ o, ção não significava a imposição do stl7tus-ryuo J12

C
e pelo outubro de 1899, o Supremo Tribunal assim deddiu .
a lista geral de' . d A ' ~ ,.ecer l as rec amações e fazer
d a amara MUl1lclpal conh :l 1 A Constituição do Estado Novo, de 1937, não assinala sua
JLll a os, eXlgencla da un . 'd d d
am?11 ~ e e votos
existência, sendo que somente no ano seguinte foi regulamentado.
constante no Código de Processo Penal
morte foi modificada pelo art 66 d E~ra ~l. aphcaçao da pena de Naquele período, o Decreto 167 regulamentou o júri, alterando-lhe
fosse a decisão do júri vencida' ::I a e1 n- 261, que determinou profundarnente a substância, Com efeito, uma das alterações consis-
demais decisões deveriam se .p~r L ~s terças pa,rte~ dos votos; as tiu na retirada da soberania dos veredictos, mediante a possibilida-
aplicaÇ d , : I oma as por maIOrIa absoluta A de de apelação sobre o mérito, quando houvesse "injustiça da
de acOl~;oLc~~~~~~:~~~e~~j,~~i~, ~:s ~ra.udmáxiAmlo"
cc 's c )u! a os
médio ou míni~o,
el 562 de 2 d ' li
por sua completa divergência com a provas existentes noS
autos ou produzidas em plenário" (art. 92, b), o que o aproximava
d e 1850,su b traiu da competên' d ,/ -:,/', ' e JU 10
,roubo, homicídio nos municípi~;: d~ g~ll ~)~ cr~nels. de,l1:oeda falsa, do sistema de recursos que vigora atualmente, A diferença é que, ao
da e retirada de preso"c, ""'1e'111 'C1'a b anca rrota 1 eIra o mpeno, resistên- contrário de devolver os autos à Comarca! o Decreto 167 estabele-
110
ceu que o Tribunal de Apelação estabeleceria a nova pena ou
. /,' ~ reforn:a processual de 1871 trouxe se~lsíveis absolveria o acusado (art. 96), De salientar, ainda, que, em 1934, o
JUIl.' Com
, efeIto,a lei
"nº. 2 03'"o (e
I 20:l
(e setembro de 1871 t no Tribunal do Júri já tinha passado do uDos Direitos e
a d 1VISão territorial em dist fl't d R .1. _ ' man eve Individuais" o que tratava liDo Poder Judiciário"
distritos de 1 'f d os e e açao, comarcas, termos e
e . ' c aSS1 Jcan o as comarcas em e saindo, da cidadania a órbita do Eslado.
~~~~mpreend1das como as que estivessem na sede dos
109Id 111 Idem, ibidem, p, 45 e 46,
110 em,l'b'd
J em, p. 41-
Idem, íbidel11, p, 43 e 44, 112 Idem, ibidem, p, 48 e 49,

nW3UNAL DO 89
88 ---~--

LENlO LU1Z ST~CK '~'''--'''-'--''----'


Perdendo
Esse famoso que atuou no rumoroso caso
Street mostra, em diversas obras, seu favorável ao
Tribunôl do Júri e SUfl manutenção como melhor forma de
dô lei nos casos de crimes contra a vida.
mayor, Uns e Silva diz que !'o
dil solidaril'cbde hUl1lflna. A
il consciência Gl de
a história caminha no
sua Já (}
e
de
4.3. ar no Brasil: do Júri
e contras -
e mitos a
par<:1 o que o ou a
o júri causou polémica no penal. Escudado na soberania de seus veredic-
ente qp;mto íntimo de suscetívd de influências mOl11(>l1-
C()11Si(ieréldJs
mbél11 condenando
aJ
to;:;do I cl o J
.
'c
l
/":l
C jUIgac o um que tenI1 . . tona
_ somente tos do Tribunfll elo OCOlTem
SOCial. Conforme Evandro Ll'llS e S'l' 111 - f 1 <1 lepercussao o júri também porque os jurados julgam por íntima e que
. . I vil . nao a ta /f
~~~~sf~re: ~~~;l~~r~f _alguns. 1:.:1 1' ignorá.nda, ;ut~·os por' :t~l:~SI~~lSOl~ são suscetíveis de influências momentáneas ... (sic). Ora, nesse caso
, a !1laJOlla - 111al-mformildos s b . cabe uma indagação: o juiz singular, no julgamento de processos
orientadores das decisões dos 'urado ( . o re os cntérios que não são da competência do júri, consegue ser neutro, abstrain-
mento dil' 'ft . - J s e o mecanIsmo de funcionil-
d ( ms ] Ulçao ou por um conhecimento incompleto do fat do-se de sua ideologia de classe, sua fOrnl<lção acadêmica e de suas
e seus antecedentes de SUil motiva ã : l ' o, derivações axiológicas? Faz-se mister, dest.wte, avançar UI11 pouco
seus protagonistas. ' (foi ( ç, o, c e~Llas cl!:cunstâr:cias, de
na discuss50. Os críticos do Júri ad uzem llue os jurados n50 têm
todas as é!Jocas a'1 u1' . :l' contll1ua L. lllS e SIlva, em
j
e no resto l () mundo, em esnecirll no"
!
fonnação técnico-jurídica. Nessa linha, Coelho (ibidem) é duríssi-
em que ha la . ' r ( .~ mo, asseverando que "o júri pouco esUI ligando para as
de ;:;eu andamento e dos
. a exci da opinião públi- jurídico-doutrinárias, mas conLOve-se, facilmente, com a
lretamente, uma política, retórica fácil e a oratória retumbante e vazia t... ]".
e ilpilrentemente excessiva É necessário ter claro que, tanto no juízo singular como no jüri
. e F
se teve ) . y popular a é idêntica: juiz e jurados estão inseridos no
essenClaJ em uma . " . ( u motIvo
amOlo (:Sil, se fOrmam correntes de mundo com e pela linguagem. Juiz e jurados são seres-no-mundo,
e conduZIdflS f P condenados inexoravelmente ii interpretilr os fenômenos do mun-
~s,seove],'a quec!udo isso vem de te'mpos i:~~~l~~~~'~~(~;ei:ra arremat;r,
,.!.

do. E para interpretar, 6 necessário compreender, sendo que, para


c e eXIstIr o I nbullill do ]üri. Até hoje se a/ an es compreender, é i1 pré-compreensão. Somos, pois,
da de ou a
114Cfc. Coelho, W,dter M. Erro de
I Silvil, E~~,dro Lins ti tCJil fl 111: Cj~COl1luzzj,
Wli1dimir CJ
Rio de Izmeiro: 1980, p. 63.
~~'~--'"--~---~~- Porto Fabris, 1985, [l.
90 LENIO LUIZ STR~~---'

TRmUNAL DO 91
seres
já vem antecipado
o sentido Haveria o jujz, que se conformar,. _ e~a.criticamente,
se conclui que o à imposta pelas premolllçoes dogmatlcas: ~nqu~n-
(juiz ou jurado) não con o mundo, para depois lhe
dar um sentido. Intérprete c to o procedimento civil valorizaria os interesses das . . 1Sto ~, a
e fenônleno,
desde verdade mesmas - a verdade form,ll -, relvllldlcana o
verdade lTlateríat juiz
1. Os lili/os ria verdI/de rCil! c da I/CI!! no curso de uma
cbbora as bases de sua decisfiollB. Essa no âmbito da
ática a idéia que (o i
com a realidade dos
fatos." 11~
Pode-se dizer, ent50, assim como é trabalhada
tica jurídica no âmbito do processo penaC p. ex., é uma
(no sentido e, portanto, metafísica 120. A
dil de uma "essência"
coisas. assim,1IIll-l1l/llldo-cm-si, estrutura o jurista (no
caso o J'ujz) l)ode apreender/conhecer através da razão e depois
r ' . J' . 11"1
comunicar ;10S outros pela vIa sen jUCtlClil ~.

r){;~;"-!\-1ndcn!r1 [fli1oduç'tlo (l UIJIU {coria


o juiz no processo como os 1997. T,llnbém Neves, Marcelo. i\
(estes com dificuldade, na medida em que as provas lhes São Paulo, 1994, e Nicola, Daniela Ribei-
são pelos atores em luta no plenário): o chamado princípio ro Mendes. Estrutura e função do Direito na teoria da sociedade. [II Paradoxos do
da verdade /lUlterial 1l5 . perc1lrsos c/II tcorit) jurídicll Curitíba, JM EdltOfd,
1997.
Na dogmática jurídica tradicional trabalha-se com a idéia de 118 cre. Warat e Cunha, op. cit., p. 45.
que o juiz não pode aceitar particulares espécies de provas determi- ll9 Nesse sentido, ver Mirabete, Julio r. Processo Pellal. São Paulo, Atlas, 1991, p. 247.
nadas por critérios de conveniência ou oportunidade, ou mesmo, 120 Para umil crítica vigorantes nd jurídica consultar
sobreditados pelas valorações do ambiente em que vive1l6. Para Streck, Lenio Llliz. Juridícll E(IIl) Crise, op. cit.. em especial, p. 224 e
t~nto, consciente ou inconscientemente, partem os juristas da perspec-
ii concepção (ainda) vigorante
tlv_a de que o sistema jurídico é autopoiético, e não heteropoiétic0 1l7 . ao contrário do que se entende a
115 Cfe. Warat, Luis Alberto e Cardoso Cunha, Rosa Maria. EI1,íIlO e srrucr 1111'11) ocorrida no século XX
Rio de Janeiro, Eldorado 1977, p. 45.
116 Idem.
117 Na concepção de
nas segundo as
ou "desde ter/nos
dt, hislórico
dê COll11I iI/feira do conhecilllento, de nilo
jusnatumliSlllo laico c meio- (lprocesso de COII!lccilllcnto". Cfe. uma
as doutrinas de contro\'érsia sobre método em filosnfia. /11 11aber111<15, e hCrIIICIlÍ'lI-
Dil1h'ticn
que fundament,lm a lim. Para I1lI1a crítica dal1ermcllêulictl de Goda1l1cr. Porto L&PM, 1987, p. 103
ou meta-hist6ricas corno Deus,

92 LEN10 LUIZ STRECK


TRIBUNAL DO 93
que prochllna é da purgado
a verdade dita "material" não se diferencia da assim de distorção o envolvem, contemplado pelo juiz
chan;ada "verdade formal". Nesse sentido, a contribuição da her-
meneutlCa é de fundamental . da idéia de "a e reproduzido na forrna de um
verdade" no ,d é izcr, a
de aLém a hernwnêutica é essencial-
und()s' . colorid - -
COl!IO
\ ! illtllno. sentido

ill(; porque (l de que


possa descrcver··se
tU/'lW, U!II 'llIC
mento
dt'/lIunS/UlveiS. Kuhn deix3. C:'lbst" ,', I-
111entc . ,.11C1,1 L • C •

1..' f.' f de como deve conceber-sE'


' . 'I' tcr o mesmo
lllstO] ]CO do camblO dos n., : o e\ u1to
';b " , .... J. m a lwnneneut]ca estatuto, se são exatamente a mesma coisa, se o juiz atua inspirado
~on,tL ldl de l:laneua slgmlícativa para resolvê-lo e 1ar<1 em un, interesse juiz, esquecido de si mesrno,
este fora de uma :l I"
la f
lIstOl Ia como puro f , ' .

outro . '
IlCcl1nenlo
( j

rnais do um"
a fi i
conhecime1~~) ve~dj~~~
conforme Wilrilt e n C>
dade e submissão que não se cunformalll, à
pod:. desvendil!' e reproduzir no plano do il um princípio cíentífico 124 ,
:::sCt~~12~_reilhdadeJ23 implica duas teses: a primcir~ in;istiriil em Vê-se, assim, que a concepção de verdade vigorante no campo
Consultar Vattimo
cllltllra
4
" ,-.' j"'El
'1: Gianni .[, /1/ IIIO! I"
,c Cll1Idod - 11t!1I11~IJIO
, '. lf hcr!llcllculica ell la
da dogmática jurídica tradicionat que abarca os mitos da verdade
n eXICO, ucc IS;] 1985
da hermenêulic] CO\11] '1111Iít" , j' --,
]C)9121

I! 1. -
. élocrmilS, fazcndo il soma
real e da neutralidade judicial, guarda profundos coloridos metafí-
" I ~_ , . (: ( < lGl (. t1 d (l - " . . sicos. O pensamento dogm(1tico do Direito continua refém da
u.ln 1l'Clll1Cnto verdadeIro ;,C1110 c'lll L(Jl1
__ 1leCllnento
. d ilC1cdlla em
VP [](l0
I ( .

ccm I'1ecimento rnum, dCl'e-se j)CnTl11't']I' I' . Z e se


filosofia da consciência, onde a linguilgem é ilpenas unlil terceira
l T b " \"1 I,h:l' :l
coisa que se interpõe entre sujeito e objeto. Continua buscando,
o. sso C O conhecin1ento a 'unI I, (( L tO

A assine, o ente como o ente, ignorando aquilo que lleidegger denomi-


nm1 de di ontológica.
~()clal
I'encidél, ,\ da .
"con -- . - ! ", :l
:.,' SUl Cla, os se l ti na his(óri,]_ ConsulliH Encll
(i~~UIO elll flillJcrlilllS: 11 Ilcmlcni'uilCil, Tllllbalé, C1br,,1 i(o' jljC)- - 4.3.2. A do Júri
Hlchard Chillmi il i:ltcndo lé!, /, p. l/O c
frisar, ainda, que a eliscrimí-
l~,('l,"
fatn
como o mundo, cst,i dÍill1!e d""- (1l lL'rançZ1 que idéia ele que
de uni') -, ... i1.., Além ele
el~il
_ UITl\.1 -
visto como criação de um ser tinha iI ' cn, ([Ilc' Ll mundo dos jurados, tem UJ1lil
do
nao estar diante de nós A verdade i\cr!'scente-se (\ di!,!,]' de Adi1ulO
d~
hl,1ll1il!lil pUI '1 IIC JS frilses l1JU da menle 114 Cíc_ Waral icial é 1'I'g-0 OlllllCS exala-
nos dcssil []l,1IWlI a () 1/1/11' [o c i I nl<1ncira (lU C'stilr (km [I?
rCt1!, 111a5 t30-sonlc,;lc urna vt:rdt1~
J'
d ',I 1ft' nos, l}lflS!lê) -f i-
do mundo çcr v'. I' '1,' .. ,. : - LO illllill.O 11170, Só
form,,1 ("a coisa faz do brill1CO
rwxíl lo dos 1I111'i,iildes d!,s""il ;1' I: i .. tI ( '''lu I ,1S (lU L1!Si1S; {l IIlllndo !,Dr si seul
s 1/'.] . I I ,-' ~ d_L, , i':" (o~ IlIlJJllIIOC:; " ilr7°IJ(ldf' /'/' . dlzid-s(; nos bancos
_ LIuil)'(([ ai C. frdcl. de Nuno Fllrn:'ira da Co-(' -r' "L . ' I: i' 1 '.,
I
/l'ol,lia c
25. . s ,] ..,IS )llil, .. 1 !tOI la I Prc;;ençil, 199~, p. p_ 9.

mmUNAL DO 95
94 LENIO LUIZ STJ<ECK
muito íntima com o que se chamar de cientificismo, ou ns vezes dos il I1U111 do júri, às vezes dos
usar a ciência ou colocilr como científico para dar status que são contrários a que o condenam
O proferido pelos jurados não teria às vezes pelos qlle o
cientificidade. Afinal, da
os jurados, sendo
comum, além de influenciar
rZl o alerta de Rubem
cientista se refere dO
nas pessoas que não pass3-

para;) desc 4.4. A do Tribunal do Júri


conlete uma
Conforme o Código de Processo Penal, o Tribunal do Jüri
compôe-se de um jujz de Direito, que é o seu presidente, e vinte e
um sorte;ldos dentre os alisLldos, sete dos qU<lis constitui-
u ]';10 o consedho de cm ccl(lil scssi'ío de julgamento.
do obrigatório e sem rem

ínstítu do pur
"ausência de rigor técnico nos veredictos." perda dos direitos do inhator.
Percebe-se, pois, como a ciência, detentora do discurso da Os jurados são escolhidos dentre cidadãos de notória idoneidade,
:Ter?~?~, passa a ter a função de legitimar, ideologicamente, o consoante o artigo 436 do Código de Processo Penal, estando isentas
JudICIano togado, colocando o Tribunal do Júri con10 "não-científi- do serviço do júri as seguintes pessoas: o Presidente da República,
co-desviante". Mariza Correa traz importante contribuição, aludin- os Ministros de Estado, os Governadores, os deputados federais e
?? que ?s argumentos favoráveis ou contrários à manu tenção do estaduais, o prefeito m.unicipal, os magistrados e membros do
Jun~ ~u a su~ rep~e~entativídade popular são sempre argumentos Ministério Público, funcioniÍrios da polícia, militares da ativa e,
polItIcos ou ldeologlcos, ou levantados a partir dos interesses importante, as "mulheres que não exerçam função pública e provem
dos e:wolvi.~o~ na discussão em tern10S de sua função e que, em virtude de ocupações domésticas, o serviço do júri lhes é
atuaçao no Jlll'l ou fota dele - e argumentos fundados na visão de particularmente difícil", exceção prevista no artigo 342 do
mundo dos debatedores. A própria definição do Direito Pena! citado Código. Percebe-se, destarte, o papel que o "legislador"
brasileiro como contraditório implica que adjetivo penal reservou à mulher no Tribunal do Júri ... Talvez por
contraI' um contra-argumento para para "evitar contratempos" para quem se dedica às prendas
que não há domésticas, () corpo de jurados de muitas cidades brasileiras so-
que o Tribunal do mente a partir da década de 80 começou a admitir a participação de
em seus mulheres cm sua composição, sendo que, em sua maio-
125 Cfe. Alves, Rubem.
1984, p. 13. o número de mulheres é inferior ao de homens.
Ver Luhmann, Nicklas. Trad. de Mariil da 127 Ver, tanto, Correil, l'daria. Os crillles dIZ São Paulo, Brasiliense, 1981,
Corte-Rea l. 13rasíliil,
p. 34 c
- -" ---- ----- ------- .-"-----"---------
96
--~---~- ---~-

LENIO
TRlBUNAL DO
por outro lado, que a jurado traz uma série é do usuário 13 ]. Quais as de
de idoneidade moral", para então, que um detenninado rótulo
em caso de crime cornl1rn. O a um determinado caso ou não? No Cód
de

Processo Penal.
A ddi

<1 como
nzmte denolativo. ]ti a que (2
um caso pélrticular de íncertezél designativa, que ocorre quando
uma palavra (ou expressão) possui mais de um conjunto de
ti é visto como um

a illSli/ corno U!'n:l


ficado que jii esta Vél
Por Cl1l1tail sirclUlô.
ainda no legislador como sendo uma
4.5. Os jurados e a representatividade social de Oll01l13turgO platónico (lU que o Direito permite verd3des
lll113 constante bllSC3 do "correto" sentido, um sentido "dado", um "sentido-
O Código de Processo Penal, como se viu, "especifica" quem cm-si", enfim, uma espécie de ·'sentido-primevo". Por isto é preciso chamar a
pode e quem não pode ser jurado. A linha norteadora é a de que os atenção (dos juristas) para o fato de que "nós não temos milis um
primeiro, se buscava tanto em AristúteJes como na Idade Médiil, como aillda
jurados devam ser cidadãos de !lotória idoneidade. MiJS o que são
em Kant; primeiro !lOS dariil ii gilranliil de que os conceitos em
cidadãos de notória idoneidade? Comn na maioria das palavras da rem<?lem a um único Stein, Erlindo. Racionnlhiode e Existência.
U

lei, está-se diante do que se chama de vagueza ambigüidade. Um L&PM Editores, 1988, p. 39. Doí por ql/e 11111 COIiI
termo é vago nos casos onde não existe uma regra definida quanto do pel/sl/l11e/1to e /1i/o se se!li rl/II/lllms: NA
metafísica do Direito n?io se faz sem O
a sua aplicilção. Na prática, não é possível decidir os limites
mesmo ocorre, ;lliás, com a afirmaç:lo dessa Crer (lue
precisos para a sua Por isso, a decisão de inclusão ou não verdadeira cm si mesma do Direito - como que espera de ser enê sua
de determinadas ou subclasses de termos dentro inteireza do conhecÍJl1cl,!o, mediante Ulll trabalho estritamente
r;1CÍonal dl'dutÍV.l, cm que as normas do Direito racional, isto é, as
chamadas leis da naturezil, seriam (ümo autÉ:nticos corolários a que
12B Esse de discutível constitl1cion;didade, em filce do da raciocíniu i1 p(lrtir .luto-evidentes estabelecidos 1/
isonorniJ Fed(·rilJ. CSSn es~(:ncill na dinEllT11cõ. da vida social, através dLt investi-
Ver, nesse sentido, Milrizil Correil, que ;lfirJ11il que, dé'sde a do júri, do fenômeno buscandO-à na dos textos
seus rncmbros foram sempre, às classes -, crer nísso,
dominallles. Ver, tanto, Os dn Eamalho. Subsídios
130 José A illslil !liçi/o do BouksE'lIef, 1997, p. III: Direito e
183.

-----".~------ ~- -- -- --~~-- -- -~--~~

98 LENIO STRECK TRlf3UNAL DO 99


o mesmo VVafat ilustra melhor ainda a falando da
incerteza da palavra , em se
detect~lr indivíduos que, sem dúvida nenhlllna, devem ser
da do termo Godi
con10 no1'-
en trel;:ll1 to,
reseniar séríils dúvidas
o lermo. Não existe um
cabelos um homem

nonnas
tadas. . d' ,
llcídadc. O que ocorre é uma tribu Deslute, as mínimas (entre 111 IVl-
sere'! fei ta juiz-in térprete duos e grupos) em uma sociedade - mesmo que tal iden/ti~ade não
No ftmbito do Tribullill do Júri, a _ podem trazer a lUlne algumas caractenstlcas que
idoneidade" ser vista C01110 uma que é dizer, o
(e Ilorllilll. Desse (> "firmar lJue o mil
/\ I de selecionar e dizer quem
um cidd idollcida- cri t(~
de vío!8nci" :oimb(;líca que mundo tuil1 ins!i!Uldél /1,1
estabelece. result<ldo processo é a / no m'ínimêls dôquela sociedade, a partir d~ tr(\d o "coloca:' no
imaginário social de um padrão de normalidade acerca do que seja mundo), estarei remetido àqueles padro~s de comportamento tldos
"notória idoneidade". Constrói-se, desse modo, aquilo que Ferraz e bavidos como l1€>rmais para aquela SOCIedade.
J1'.133 chama de "arbitnírio socialmente prevalecente". Assim estruturas sociais de diferentes comunidades engendra-
Pode-se acrescentar, ainda, que, assim como o padrão de rão corpos 'de jurados de acordo CO~T\ os padrões int:rr:ali~~do~ de
normalidade vigente na sociedade tem enorme influência na desig- cada uma. Tal circunstância, indubitavelmente, trara slgmfIc(\tlvas
nação de quenl possui as características que permitam o encaixe de conseqüências nos resultados dos julgamentos, como se observará
alguém no conceito de "notória idoneidade", tal "padrão de norma-
mais adiante.
lidade" terá efeito no âmbito da apreciação dos jurados sobre o
acusado no momento do julgamento pelo júri. Ou seja, (f partir da
do corpo de delineia-sc o padrão de comporfall1cnto
do "restaI/te da sociedade".

4.6. O corpo de jurados e o estabelecimento de um


"padrão de normalidade"

Os jurZldos, escolhidos dentre os de notória


dade", fazem assim, de um padrão de normalidade e um
133 Cfe. Ferraz Jr'r ao F:s/lIdo do Direi/o, 01'. cit., p. 251. Cfe. Coffman, Rio de Janeiro, Zahar, 1978, p. 138.

100 LUIZ TR!BUNAL DO 101


J .0 f OS
scursos

5.1. O Tribunal do como ritual

Para analisar o Tribunal do Júri como um rituat é necessário


GlmpO do simbólico. O termo
utilizado para indicar
to rl'idid'lClc.
ne o bomc!!! iJ!
sendo o homem um animal Sl~ c01nunica
semelhantes através de quais o mais importante é a
linguagem, o conhecinlento da ação humana exige (sempre) a
decifração e a interpretação destes símbolos, cuja é
quase sempre incerta, às vezes desconhecida, e apenas possível de
ser reconstruída por conjeturas (N. Bobbio). Como bem diz Caslo-
riadis 136 , tudo que se 1/0 mundo social-/!Ístórico está, de
Niío que se esgote 110
- o tmballlO, o COllsumo, II
11/17 teriais sem
viver li Ji! 111Oillen{o, não são, nelll Selll]Jre,
Mas, alerta o pensador greco-francês, UI1S
e outros silo (om de uma rede simbólica. Assim, as instituições
não se reduzem ao sit~,bólico, mas elas só podem existir no simbóli-
tanto, Cassirer, Ernst - Ellmio sobre o H01llem:
da Cultura HWlIIlIIa. ME'stre JO\], 1972, p. 5l.
T;unbém Neves, A COllslitllcionnlíznçllo Sín!LJôlicll, op. cit, 11 e
136 Cfe. Cilstoríadís, COrlwlius. A da
Rio de Jill1eiro, f'ilZ e Terra, I p. Ver também, nesse s('n tido,
Godelier, Maurice. A ideal do relll. Ii!: Cilrvillho, de Assis
GodeJier. São Paulo, 19tH, 187, "hã ideal por todil
não que tudo

TR!I3UNAL DO jOm 103


de um simbólico em grau, constituín- É nesse contexto que o Tl do Júri será Por
, sua rede simbólica. Uma dada da seu forte componente rituill, as da
um sistema de direito, existem como siste- sociedade, simbolizadas nos julgaxl1entos, resultam em uma leitura
dos desejados e desejantes da
mas simbólicos As C01110 bem lembra
si

confl1ndi-
povos que as LI
por
l1lesrnos - uma
vez que não í'émetcrn il -, e a atribuir a esses
significantes como tomado em si mesmo, um Conseqüentemente, faz-se nccessé'íria uma investigação não
infinitamente às que certamente
no pertine ,lOS prcsslI e
condicionam o de

l'[clivo. l1iírio . No dizer de Teixeira, as ucorrências


é . tl11e . pode ' " 11la que
'LI eseo . !de:! e faz de seu
sOCle( nárias não o são pela freqüência com que se mas pelo clima
Sl:11bol1smo. Fo;a. categoria do imaginário, é impossível com- as envolve, corno cerimônias, celebrações, festas, comemorações,
p!eender a hIstona hlml~la. A il1stitu~çiio da sociedade ri a illslituiçiio solenidades e tudo o mais que, pejo seu caráter de acontecimento
dt /1111 111 II lido de slglliflCilçoes. A lllstltlllÇLio socÍallústóricl7 ri aquilo em especial, se constitua em ritual, dizen1 algo da sociedade que as
~711e e p.Ol~ que se IIll7l1ifesta e é o social. Esta instituição é a desenvolve: "Dito de outro modo, quando uma sociedade sai do
l.l:stltUl~a? de um m_agma de si as significações imaginá- ordinário de sua rotina para viver, em determinadas épocas, o
llas SOClal:. A ,:elaçao entre a sells suportes - 011 extraordinúrio de eventos ritualizados, é pf+rque referido evento
, ., - ~ o UnlCO seutldo se pode ir ao termo tem uma relação COITl o próprio sociap41. Constitui-se, então,
sllltlmllco 138 . conforme Al ves H2, um conjunto de manifestações simbólicas, "ins-
, . concll:i~', el~tão, ainda com Castoriadis, que, na socie- crito, portanto, na ordem de significação capaz de ser lido, revelado
dade" as C?ISa~ SOCiaIS ~ao o que eb~ são através das signíficações ou percebido por todos os segmentos da sociedade em que se
que elas t~gUlam, medlata ou 1l11edlatamente direta ou indireta-
t
realiza".
mente. A ll1stituição da sociedade existe enquanto ma O rituat em seu , (re)articula, assim, os diversos
desse :.
de
~. • o
. . , .
r!11agmanas traduzível por elementos da sociedade em uma nova , capaz de ser
melO do sllnb~l.lcO. A reI dos sociais com a realidade social c clllil/ml. Porto,
de
__ ___ ___ e mtermedjilda por um mundo de Afrontamento, J992, p. 169.
dílllCIIStlO ril1l111 dns cm fomo
mCfe. C.aSOrtilC
o
-t . l'JS 01' cit., 173.
Idem, p. 277.
138 ' .. UFRGS, 1984, mimco.
Vozes, 19S0, p. 14.
lbídcm. efe. Alves, Isidoro. O ct7rnm'1l1 dczl%.

TWBUNALDO 105
STRECK
por todo o . Os rituais nem como é ser, jô que o cerimo-
ao n1eSl110 tempo, estruturadas e estruturantes, no definição, um Mas esse estado passa-
cm expressam a ordem das coisas e a no rituzll, a
de como o lnundo e as devem entend continuar, 11:10 mais como
Tribuna! do n" medida cm que iS um ritual ínélrio de
rticuLl nlens;lgens diretamen" maior
. No ;-;cu interior, lido n mlJn'dn
socicda- então, o veículo de nêl1CÍa e da
como ordem, e da de unta nova uma nova il]ternativa"145.
li rn t1lomen to é'xtraord inôrio 11 ue Por tudo torna-se relevante dt'monslrar que as
l1i,aneíra diferente os momentos ordin,írios da rotina cotidiana da SOCJalS - de UWél socíed[ldl~ na qual
sociedade e, 3 parte de tomEÍ-la de ser lid" íd", esconder a forte dade económica e
insh outra sociais venham a até mesmo !l" do físico na
ni10 se dêem
si10 "nornlClis", c q Júri, muito os do júri
e que a lei tem a conta. De tal modo, em um estií o público, os sem
para todos, qualquer símbolo distinga uns d?s outros; jé1 em outro níve1r
de clilsses rac\o do um" chvJsao - re;l1
C01'710 social SCNI ln

11;1 <JCUF'i111lcs
meio de tll1H íalétiGl entre o cotidiano e o xos, ta em se :\1
o estando na situação extraordinária, ele se constitui de ~1foximidade se reproduz aqui, oa .
pela abertura desse mundo I para a coletividade. NBa hô dos, estudantes de Direito e jornalistas são os escolhJdo~ pc:ra
sociedade sem uma idéia de um mundo extraordinário, onde ficarem mais próximos do ccnEÍrío das ações, o pr?motor de. J,ll~tlça
habitam os e onde, em geral, a vida transcorre num plano de ocupa a mesa que fica ao lad~ direito do juiz-pr.cs~del~te do Jun. Os
plenitude, E1bastança e liberdade. Montar o ritual é, abrir-se para auxiliares do juiz sentam-se a esquerda. O escnvao S? anota o que
esse II ILIIli!O, 1111111 rl'lllidade, criando 1I1lI I'S1Ji7ÇO pnra c/I' e lhe for ditado pelo milgistrado. Abaixo do tabla:J 0 ' Ílca a mesa do
abrindo as cntre o 'mundo real' c (l !/Ilwdo advogado defensor do réu, à frente das sete cadell:a~ reser:adas ao~
É no sobretudo no ritual coletivo, que a sociedade pode íurados. No meio da quase em frente ao Jmz, esta o lugal
ter (e dctivamente tem) uma visão alternativa de si mesma. Pois é aí ;'eservado ao réu, ladeado, via de regra, por dois policiais miJita-
que ela sE1i de si própria e ganha um terreno onde ni10
Tem-se, então, uma distribuição dos espaços no júri que pode-
í"cis conlribuíçôcs de: Teixoir", ria ser caracterizada como geopolítica 147. Essa de posições
cit. c Plilv, FIm" tllld Rifual: _ que existe em llualquer tribunal, mas que principalmente, estereo-
Found,ltinl1, tipada no júri -, é tornada pelas lembra como parte do
Cfe. Da I\'Llltil, Roberto. Co rII 111 '0 is, IIl,lilll/dros c lieréiis, Rio ele Janeiro, Zahllr,

do sillll du mil' de illlJO das salas cm


Ritllill e Sociedade, I~pl ml""1 dizer, entret;11üU, que il
TJ 1"'{1t7Jlfs, iJ17)arinll{,(, ct d('line~ldd, Ver, a esse {1

The Sociol COI1StruCIiOll 1'1,


Anchor R()OKS, 1967. op. cít., p, 45.

106 I J:NIO JUIZ STRECK TElBUNAL DO 107


Os discursos dos atares
de Direito ou
igualmente repetem, en~ ~a~s simula5õ~s, as m~smas " .
a n,esma cadeira toda vez os julgan,entos oÍlCWlS. Os propnos academlCos de DueJto,
enquanto o réu fíCi1 qUi1se sempre com a conlO jurados, são chanlados
entre as J1180S ou chorando. O durante todo o ritual, os
ser () e "doutor".

5.2. O réu e sua trajetória no

socia i, dl2
unl
a qualquer .. 1
ralrnente reconhecida. os ritos de ou c e
caracterizam-se, assim, por três fases: separação, margem (ou
~ "1S1
significando 'limiar' em latim ) e agrc?a~?o '.
[I'<:;CC;' o JUl'lClél1 um;! forma de instru-
~c., c da
n~l!l de rncdiéldorcs de um<l realidade que
di' tido (k inscrito no
r Llto, tl)(
Corn o júri tn
Ressalte-se, ainda, que "o processilmento também transcorre não se que a expressão "ritoproccs,su~l:' foi, .
como se todos os casos fossem i1 mesllla história, llill só cnso, contado da pelo direito processualla1o SI;1511 a tri:l)etona do. r.eu no,pJO~esso
diversas vezes e de diversas 1l1l7llei1'l7S. É como se todos os atos é marcilda pela presença dos tres mon~entos espeClfIcados pOl Van
envolvidos 1Ii1 quebra da regra legal fossem equivalentes desde que Gennep: separação, margem e agregaçao. ,', '
possíveis de serem enquadrados dentro do mesmo artigo do Código A prinlcira fase pela qu~l ~assa o acusado ~e ~lIm~ que e
Penal, todos sujeitos, portaHto, à mesma triljetória Jegill. Mas é i1 julgado pejo jüri é a separaç.a(~b2; ?sta, fa.se contl?1.:la-s~. ~om o
de limites previamente traçados pi1ra cada um que se estabe- acatamento da denúncia do MWlsteno Pubhco pelo JUIz-presIdente
interna do levando'·se a público apenas _ momento em que, legalmente, tem início a ação penal - e a
as suscitadas por pergunti1s nunCil explicitadas, que subseqüente sentença de pronú:'0:' O ~ódigo de Processo Penal
serão, apesar d aceitas implicitamente como válidas."15o reguli1 a matéria atínente à pronuncla aSS1ll1:
Vale frisar, por último, que, nos júris simulados realizados nas
Filculdades de Direito, há, na maioritl delas, uma reprodução do 151 Victor 'N. Turner, op. cit., estudado, baseia-se em
ritu<1 lísticil processO
ritutll, tanto no pltlno do simbólico como no da hiera () de dos ritos. Saliente-se, ainda,
il

distribuição dos Geralmente, os júris de Correa, Morte CII!


UG"ÇW'-~L tanlbén1 nas
dizer striclo Sel/51f, a quebra inicial desencadeia
do Tribunal do Júri cometimento do crime. Porém, esta soment~ se
do interior, também o processo ritual
i/lstit1lciollaliza com o
estalai °
da denúncia e seu corola no,
fase que, noS limites
eH., p. 81 1111 medida 1'111 q1le

instl1ura 11111111101'11

TRlllUNAL DO 109
UArt. 408. Se o juiz se convencer da
do crime e de e do Rio Grande do Sul (RJTJRGS
de o réu o seu autor, pronunciá-Io-á, dando os
motivos do seu indicam a necessidade de a de
§ 1" Na do art. 408 do CPP, os motivos de convencimento do
em do no que se refere il existência do crime e aos indícios da
nome no au estendendo-se t;11mot ~s ficadoras do deli-
e n,10 admi li-Ias tno-sornente por
denúncia. 1I1CI1c1S ('XI/lo,
na delllíncio SOlilC!l1 e
preso. ' !
mente e de todo descabidos. A1esI1Io
incluídas 110 pron ~l(ím que solne c/a
111111.1vclf nos processos dos crimes COlltra 17 vida'
),Tal entendimento é lhado
forme ildverte acórdfío
, ,. '. ,CO;110 uma peça processua iu pro
e, havendo rdzodvel nrava
r de. qLle o fato'" ,
( L I l1111noso
O ilCusé1do O autor, isto seriÍ suficiente tribunal do Júri (CF, arL 5 Q,
m entendem os do
1: cvidl'nte que em um,]
j

do
, _ . ojuizsc
• 3' eXlstenC!i.l. ··1 no
, de pronúncia o crÚili; ifl' IlOlI!icídio em
sendo melamente decli.lratono, há inversão da regra nrocedj~ sfío· absollitmnellle âiversos das 11ue deCOiTCIH do
menté1! do III /"7 . -I b' . r
do Li pi.lra ~ II! (di I~ pro s(~c!etl7te, em razão crime de homicídio simples. Observe-se que em nossos Tribunais é
. . de prOva meqUlvoca e que deve o réu predominante COI1"\O já se demonstrou, a tese de que "as qualifica-
j

seu JUIZ natural: o júri" (RJTJRGS 80/37), doras articuladas na denúncia sornente elevem ser afastadas quando
A acerca da !)ronúncii.l e seus Cj'j' l11111
" t es assu- manifestamente improcedentes e de todo descilbidas. Mesmo !)uando
• , - .• o.

me pj OpOlçoes que merecem uma reflexão l1li.lis aprofundada ' duvidosas devcm ser incluídlls 1111 proll pllra que so/!re elas se
parte da cOl1lunidade jurídica no que se ' l' ft ( 'd POl e dccidn o Júri juiz Ilotural JIOS processos dos crimes contra 17
j

1 . 'l' ." . . a llpO ese e o


1011l1Cll 10 ser quahfJcado. Isto porque existem d S ,,'. vidl7 . (grifei) Nesse sentido, RT 647/89 e RT 559/331. Por há
Tnburnl de .' O~UpelJOl que se fazer uma reflexão mais aprofundada sobre essa matéria,
ex) " ( . que apontam pal~a a. do Jioder do Juiz de
c UJ} constante na denunCIa, Com colocando-se em xeque não só esse entendimento no que ttlnge às
qualificadoras - porque transformam o homicídio qualificado em
hediondo - como também no que se relaciona à tese do ÍI1 dubio pro
socielaLc.
Tem-se, de qualquer uma inusitada pela
lei: o na pronúncia (que é mer<:1l11ente declaratória), nle51110 que
p,lirem dúvidas quanto ao de ser ou não () réu o autor do fato
criminoso mandá-lo-á a júri. Mas - e isto é relevante nao obstante
j

não ter sido ainda, já terá, a lei seu


nome lançado no rol dos cu1í)ados. A do acusado l1ue será
Catarinil
julgado pelo Tribunal do Júri é diferente, desse m.odo daquele j

110 I ENIO I.UJZ STRECK


TRIBUNAL DO JÚFI 111
será juiz na medida em que neste caso seu processo de Seu cOlnportlll!lCllto é 1H~rl1lall7lcl1te . e
nome somente irá para o dos culpados após sua efetiva condena- humilde. Devem, implicitamente, ob,edecer aos mstrutores e ~celtar
Há que se frisar com o advento da Constituição Federal de punições arbitrárias, sem queixa. E como se fossem redUZidos e
o lançamento nome do réu no rol dos culpados tornou-se modelados de novo e dotados de outros poderes, para se
inconstitucional, na esteira do artigo 5'°, inciso LVII, qual rem a enfrentar sua nova de vida".
ser,1 considerado até o trfinsito de Esta é a do indivíduo acusado por crime da
tÚria". antes da nova cia do júri: não obstante não ter sido julgado l e v a , . . em
cOrl:;idef<lV<l "urn absurclo () I cc 1180 CStIVé:r, () da hltll111ha-
seu "
réu no rol dos 01 . A jurisprudência, porém, asseverava a Na realidade, ele não é nem inocente e nem
vellidade do d da lei pe1l01 (RT na liminaridnde. De ressaltar, nesse sentido,
o ao DCllsado de crime acusado, nos demais crimes não silo da
através da f<Jse processual denomi- também estará nessa situação. Entretanto, l1t)
pode ser dentro do contl·üo porque seu julgamento pela .. .
Com efeito, Turncr 1S{, apoj"do pública, quando não somente seu, CrIme slnclo scnslI
em acentua que essa primeira fase - a separaçiJo - tibrange serú avaliado pelos seus I!p;.n'{~st!, como, tambem, seu ato
"o comportamento sinlbólico que significa o afastamento do indivÍ- como indicativo do "standard comportamental" (comportal11ento-
duo ou de um grupo, quer de um ponto fixo anterior na estrutura . ) a<1 uda comunidade. Ni'ío se olVide
t ]PO J • I
SOCíel1, de um nlo de conel culturais ou do Júri, 1111117 '{)1'Z (J ucstlilO 10

;11nda de illnbos".
Il cxcd uodns as
;\
niais
ou que não têm seu nome no poténcia diante da que a , ft

rol dos culpados". Está, pois, concluída LI primeira fase do ritual. impõem, tem sua contrapartida, l1ue é o "pod.er dos tracos que I

A fase, porém, que lllais interessa nesta análise é a que vem será desenvolvido na parte destmada aos dIscursos dos atores
logo a seguir, qual seja, a da l7largern ou da lilllinaridade. É a fase que jurídicos no plenário do júri. ,. " ~
vai desde a sentença de pronúncia, que remete o acusado a julga- Na terceira fase, chamada por Gennep, no contexto dos ntos de
mento pelo Tribunal do Jüri, até o veredicto final. Turner 1S5 caracte- passagem, de agregação, estará consum~da a p~ssagem.,O l:éu. volta
riza a liminaridade com muita propriedade, dizendo que "os a ter estabilidade mais uma vez e, dIante dISSO, tera dueJtos e
atributos de liminaridade [... ] são necessariamente (/IllbZr.;;IIOS, uma obrigações frente aos demais cidadãos de tipo claramente definido:
vez que esta condição e estas pessoas (liminares) furtam-se ou e "estruturais", esperando-se dele que se comporte conforme os
escapam à rede de classificações que normalmente determinam a ditames da sentença. Se absolvido, seus embaraços serão menores
localização de estados e posições num espaço cultural. As cntidades (porque sempre permanece o estigma de q~lern foi réu de um.·
límínares !liio se situam Ilell/ lleJII lá: est{fo no I/leio c el1tre processo alguma vez). Se condenado a maIS de dOlS anos d<.;
atribuídas e ordellodas pela costullles, pelas c pelo reclusão irá o cárcere. Se for condenado a uma pena de ate
cerl/nomo/. [ ... ] As entidades liminares [ ... ] podem ser representadas dois an;s e for primário, C0111 bons antece~entes, t:~ú que cumprir
como se nada [... ] como seres não possuem stntus [... ] religiosamente as regras do (suspensao cor:dlclOnal d~ pena),
~~da _que _ as distinguir de seus colegas neófitos ou en. mediante cláusulas constantes na sentença do Tnbunal do Jun.
de, de Processo P(,!lnl COl/lentado. São Paulo, Saraiva,
NiJo se pode esquecer, por outro lado, que vive:11os em uma
sociedade de classes (bem) diferenciadas. Nesse sentIdo, no ntual
Tum"r, op. cit., p. 116. de julgamento pelo Tribunal do Júri, o acusado l1{foestâ numa
155 Idem, p. 117. de círcu o Julgamento -, momento em.

TRIBUNAL 113
112 LEN!OLUIZSTRECK
que perdeu seus atributos SOClms. é perl1lnnen/e e alm.a trovejante, só faz saltar, da sala do Tribunal, a
poderia ser definida como uma insti da liminaridade: tese de um orador incrédulo, anêmico, chocho ou frouxo. De que
ele está através de lima adiilntaria a este um processo repleto de provas, uma ?em
li tilizada se, com sua acabarL:l por desacrechtan-
doZls? As nilo falam si, ao contrário do
do

tu,t11aS onlínio de seu estZldo Zlntcrior e de cemca, tea trai, irrl:verente,


todos os tltributos que neste estado 156 . réus no Júri são umZl minoria sem
ou ética eficaz infonnar seus lhes permitir
conmnicarem suas histórias e que têm seu próprio sentido. Et para
5.3. Os discursos no Tribunal do Júri convencer, por meio de seu defensor, têm que se valer do l:,eSlTlO
universo de I meta de valJam os

de haver mais um o ô aumentado em limites ô[


um.a hora, independentemente do nLtmero de réus. É nos debates vivenciaeb por qualquer dos integrantes do de
entre acusação e defesa que Zl sorte do acusado será decidida. Como este tipo de interpretação é recurso de extrema validélde". Assever:a
ocorre esse embate entre e defesa? Os mZlis diferentes que, indubitélvelmente, os debates no plenário provocélm _as 111a1S
tipos de discursos e recursos retóricos são utilizados no plenário. desencontradas paixões, tZlnto dos críticos quan to dos defensores
Estilos gongóricos, teatrais t "técnicos" ... Alguns julgamentos tor- da instituição.
nam-se burlescos. Há julgamentos, como o que condenou Crítica da instituição do júri, Mariza Correa 159 alerta para o fato
1\ainha, líder do MST, Zl 26 anos de prisão, em que lllU dos de que "toda a argumentação e os contra-argumentos desenvol-::i-
advogados, assistente da chegou a se ajoelhar e cho- dos advogados e promotores nos GISOS que debatem nao
rar. .. (sic) Enfim, existem tantils formas e maneirZls de atuação em deveriam obscurecer o fal):l de que, para alôm das versões que
plenário quanto são os protagonist,ls do espetáculo. Para Bonfim 15 ?, apresentam no júri, estes agentes da lei compartilham um terreno
entusiastZl do Tribunal do Júri, "o júri de hoje, posto entre ii cruz e a conltll11 que lhes permite o encontro da discussão., Este t?rreno
espada, simbolizados aqui (emoção d'illnla) e il razão, comum não se define, apenas, pelas regras as qUalS eles
encontrou o seu IIlCdio sfafus virlus. se concebe mais a diillética devem se submeter, mas inclui a aceitação de certas normas sociais
vazia o estilo condoreiro do eles 8ntcs reforçam do que combatem. Há toc/a lIllla série de
diletantismo, patético, ore Ilr! pour l'art. Esta não encontra do senso COll/lIl11, (reqilenlellzellte rw retôrica forellse,
mais assento na sala secreta. Também o fOrJTlalismo cru, sem a e qlle vno delineal1do o . é cOl1sidel'l7do lIllI ader)1 117 do
.~ ___.._.~d_a crença, sem o flamejar da 5en1 a verdade 'Fle faz a para II IIIlI/lia e o IlOlI1ell1 em nossa
156Nesse sentido, ver Correa, Iv10rle e/ll cit., p. 301 e sC'gs. 158 Cft~. Nassif, Ar~mis. Júri - illstrulllcllin de ,ol,crl1/1in 1'(11'11 lar. Porto
157Bonfim, Edilson 110 Silo Paulo, Saraiva, Lívrêlria do 1996, p. 121 e scgs.
1994, p. 224. 159 efr:. Correa, Os crilllCS dll 01'. ci l, p. (,8.

114 LENIO UJIZSTRECK T](IIlUNAL DO


Numil análise mais percucientc, consta tal' que, lato "legislador" no contexto da form.almente, que, por
sensu, tanto o promotor de justiça como o advogado de exemplo, matar alguém seria diferente pdrd quem a
usam discursos semelhan diferenciados somente no que uma camada social "mais elevdda" e para quem pertencesse de uma
do réu e à vítima. muito embora à camada menos favorecida da socieddde. Isso seria ilógico,
haver uma (forte) em conta o processo cuja efidcia
medida em. que não é a I do
no ,ímbito da
inform.a! entre direito do

erill/inoso que IHIlS II II


tessitllm da sociedade I/U social do acusado
que definirú a maneira como "ed do. que
que se n tese - que é antiga - como tcrnativa entre a teori;]
. na medida cm que ncutra!izJ J realística (tradicional e dominante) c a teoriil sintomática. Infiltrou-
exerudil pe~o:, de do poder, de se no penSalT\ento jurídico com o Zldvento do
recursos e de benefIclOs escassos 160. O momento do deba no
alemão, chamada então de teoria voluntarista, ou Direito Penal da
plel1é1rio do júri, concentra todos os elementos da construcão desse
vontade (Willellsslrnfrecht), segundo a o crime seria, antes de
num cl3do ponto, como se estivesse '
Afina] de cont:ls, como mais a do dever de com o Estado".
n;10 estií nos utns não est,í no mundo
!l

do que ocorre do r
(rc)adequa a dimensão dos acontecimentos e mais moderada 162.
polit!za as relações entre ilS pessoas no universo fenoménico, no O Direito Penal da vontade situa-se, historicamente, como uma
mtenor do qual os conflitos são institucionalizados. As diversidades e variante do Direito Penal do autor que, sob diversos rótulos doutri-
ambigüidade~. são negadas ~10 momento ern que os fatos e relações nários, em épocas distintas, se contrapôs ao Direito Penal do fato. O
passarn pelo hltro de uma lmguagem formalizada que transforma e Direito Penal da vontade ou do autor esteve a serviço do arbítrio e
reduz as chances do réu a apenas duas interpretações, ambas, frise-se, da prepotência do nacional-socialismo, sendo levado a extremos
tributárias do mesmo modelo, provenientes de uma mesma IlOldil19,. incompatíveis com a liberdade do ser humano. O "tipo normativo
As duas interpretações possíveis serão, ainda uma vez, reduzid~s do autor" foi uma de suas criações teratológicas, com rude golpe no
na decisão que será, além da escolha da apresentação lJIois coerente sagrado e consagrado princípio da legalidade dos crimes e nem o
COIII o lI/odeio que 0s111lgndores uisualizam pnm i7 sociedade cm q1ie grupo de Mm'burgo, de Zimmerl e Klee, que se dizia fiel à inspira-
tambem um sel,o de aprovação. dos procedimentos escolhidos por ção de von Liszt, logrou escapar às distorções doutrinárias da nova
essa mesma SOCIedade na transformação mencionadai61. ordem social nazista 1h3 •
[Não é difícil perceber / constatar que nos julgamentos do Tribu-
nal do Júri prevalecem as teses do Direito Penal do Esse típo
5.4. O Direito Penal do autor versus o Direito Penal do fato de procedimento é exercitado exatamente [porque o Direito Penal
está inserido em urna sociedade desigual, em que, se o indivíduo
vivemos em uma sociedade atravessada por contrastes tiver bons antecedentes, for um bom pai de família, trabalhador,
dos mais do cultural ao não o
Nesse sentido, consultar o trabalho de Coelho, Walter
lfiO Ferraz Ir, ilO eS/lIdu du Direito, op. 280. Teoril/ Ceral do Crime. Porto 1991.
161 Nesse sentido, consultar Correa, ll/lor!c CI/I op. cit., p. 301. 163 Idem.

LEN10 STRECK TRll:lUNALDO


etc, enfim, se de normalidade

5.5. O discurso da

ou para dizer que o réu inserido.


pagador de brigão, etc. O réu é visto e colocado como um isto é, trazendo J
. Outro f<ltor indic<ltivo <ldvém das manchetes divulgadas pela questão o contexto antropológico, é a "pedra que os construto-
111:.p1'ensa, que/ l:~;~tumi:;;11 cS1]?Car: "Fula~1O de Tal :erá julgado pelo res rejeitam": "[ ... ] a a pedra qLie os construtores rejeitam, é
Tllbunal do JUll ,ou Sera Julgado hOJe o mendJgo que matou o removida da ordel11 estruturada da sociedade e levada a representar a
comerciante" ... Por isso não se pode perder de vista a lição de da próprio cOl1ceitulllizada como lIomogêl1ea e
f~~~166, péH~a q~lem~i~li~1:]Üente não ~ aquelCl pessoa que, segun- IIi/o como UI1l sistema de posições sociais
do ClS clrcunstancIas, opm1Oes ou contmgentes relações de força, Na mesma linha, "pode-se chiunar destoante a qualquer mem-
pod~ ser . como imoral, perigosa, Íl2fie1 ou inimiga, Illas a bro individual que não adere às normas e denominarmos desvio a
que e como por um dclito.j sua pecu1iaridade"J68. /
Nesse não é temerário afirmar que os Essa "pedra que os construtores rejeitam", esse desviante
Direito, Ião utilizarem a retórica do Direito ~-""-~·~d~·o socíat é visto face a um comportamento tido como paradigmático,
no Tribunal do Júri - além de escamotearem o considerado i,ormal no imagincirio social instituído. A ênfase ao
implicitamente, corroborando discurso do tipo "a-sociedade-dá-c11ance-igual-paril-todos" e "a1-
social, ainda rnais se for levada em conta a guns-não-a-aproveitam" faz do sentido comum teórico do
de jurados, l1ue, historicamente, é constituído discurso da acusação. Depois da saudação ao juiz e ao advogado,
médio-superiores (portanto dominantes) da
l vem o discurso-recado-saudação aos jurados, ocasião em que come-
em conta a os ça a se a tese "padrão verslls desvio", conl uma do
164 Cfe.
165Ck 167 Cfe. Turner, op. cit, p. 67.
166 Cfe. 1(,8 Cfe. GoffmaIl, . 110tas sobre a da identidade dctcriorndll.
Trad. de Márcia Bandeira~de

118 LENIO UJIZ STI\ECK


TRlBUNAL DO JÚRI 119
que a comunidade é deseja a paz. no artigo inciso Ir que diz ser do Ministério
há um alto índice de que neste Público a promoção da pública, tanlbém
.. " A seguir, tendência mais moderna de se abandonar os de Direito
em nome Privado existentes no do Direito Público.

5.6. O discurso da defesa

o tem" n:l"cionado <ln


utiliza o que Turner chanld de ''(1
de contrabal ()
ea do
Ilí te sent<lc!o com a entre as mãos e muitas vezes
na assertiva de lugiH comum nosjuJgamentos popul.arcs . .o réu não reclama de
de justiça deste nada (e nem podeH E obrigado a OUVir o dIscurso da
eqllilibmr fonna calada. Em muitos casos, os advogados dão
que o réu assim se comporte.
COlltO j<'Í observado, o
cn'contr<1-sc nil fase
hurn'idade

cioiCi! chamado de nticLlde c 11;1 bondade


N~lo é tell1eri'Írio que a assistência ao Ministério Público é um envolver o~ 1iminares. diz te "O que existe de
resquício da privatização do processo penal. Majoritariamente, a interessante cm relação aos fenôlnenos liminares [... ] é que eles
do~ltrjna dogmi'Ítica se inclina pela opinião de llue a função do oferecem uma mistura de submissão e santidade, de homogeneida-
assl!'t~nte repousa na influência decisiva que a sentença penal conde- de e camaradagem".
natona exerce no campo cível. A figura do assistente aparece nos casos Dessa maneira, os acusados, que podem também ser aqui
em que a família da vítima tem condições para pagar esse trabalho ou' cham.ados de neófitos, podem ser percebidos como "coitados",
3uando o caso tem políticas, como, por exemplo, o C01110 "fracos", con10 "pobrezinhos", ou, enl outras palavras, de
Julgamento dos acusados da morte de ChÍco Mendes. Em decorrência, certo mod~ão "santificados pelo sofrimento" que o ritual !hes impõ.eU
os meios de comunicação acabam por a função do titular Isso ocorre porq'ue determinadas pessoas, deVido a um mfortumo
da acusação, ou seja, o Ministério Público. Quem se lembra do nome comum ou a circunstâncias debilitantes, conseguiram acesso a
do promotor de justiça que atuou no caso Chico Mendes? Em poderes terapêuticos relativos a c~rt~s b~ns"gerai.s d~ hum~nidade172.
contrapartida, todos sabem que o advogado acusador foi Márcio Tal processo, na visão de Telxeua 1 / 3 , explicaria fenome~10s do
da Ordem dos Advogados do Brasil. tipo 'santificação' de como os homens santos da mdla e
a presença do
de regulam él assistência ao Ministério, Públko estão
não só devido ao disposto Federal de 1988, que deu ao Mll11sterlO PubliCO a
169 Cfe. Em sentido contriÍrio, 50schi,
como COIIIO ilClisnr. Rio de
CientífiC<1 p. 106. c IlditlllllCl1fo. Rio de Janeiro,
170 Ver Lima, Marcellus Polilstri. A élssist('l1ciél ao Ministério Público e él Constitui- 171 Oe. Turner, op. dI., p. 118.
de 1988. ln: Livro de Esludos Jurídicos, n.3, Rio de Janeiro: lE], 1991, p. 257. Em 172 Idem, p. 134.
él u tor sustenta que do de Processo Penal 173 Cfe. Teixeira, op. ciL, p. 1576.

LENlO STRFCK TRIBUNAL DO


têm os

ainda, que existen, inúmeros livros


do como tirar

já n
sua nUle doente",
as linhas a sef
mais de s pessoas um caso em. que um cidad !11,üara
do São Caetano",
Analisnndo () cha mil a

arrancam as que os
5.7. O poder dos fracos versus a
" e reduzem-nos ao nível da humnnidnd d ' rejeitam ou a dialética
comuns'
, " , Também nos trac11'cl'011"l" "s f'l1 111es d e e e os mortaIs
U

mlstenoso estranho sem lar . > , ' • ' vemos o É razoável afirmar que, nos discursos dos operadores jurídicos
equilíbrio 't' ' sem llqueza ou nome, e que restaura o
e e lCO num grupo 1 l:l ' 1 - que atuam no Tribunal do Júri, estão perfeitamente caracterizadas e
poder, eliminando os chefo-es )l'of oC,a, l, e re açoes políticas de
'f anos mJllstos ' materializadas _ em maior ou menor grau - as teses do "poder dos
pequenos proprietários", " . opnmem os fracos" e "da pedra que os construtores rejeitam", Desse modo, do
, A de alguns julgnmentos ')] T "t ' instituto do Tribunal do Júri pode-se depreender, analiticamente,
, , o uso da tesc d"" uf'
deixa bem claro oIça d'os Ffe o ll')unnl
1'ncos", d "J, do Ju1'i
' Ullla dimensão teórica ou doutrinária e outri?\ dimensão
mento llJ1lmarc's"
• ( .
C OlTl e f el'ot '
c"ta - e o' CleSpO]c1-
. no que aO objeto em estudo, A relação entre a teoria e a práxis
no rio ' , 'u lrltroJetada
sos da ' - tO] nando-se lugar-comum dos discur- é sobretudo idealista, porque uma "promíscua",
- o uso,dmUltas vezes até d o poder dos
U •
na medida em que o objeto se determina a partir do rnétodo
, ~ ce~to m?do (ou de todo modo), o estereóti-
.>
empregado jurista,
de deteoa lmagmado pejo senso comum :! '
( a soc},~;
Resulta dessa relação um novo/ discurso,
por Bcm em de Evaristo de
conformador de discursos e novas
1lI1i emito auditório,
IllOstra 17 todo,~ ({ 175 Cfe. Bonfim, cit., p. 234. C 11 oro!. São Paulo,
176 Ver Branco, Prata Castelo, O
Li terá rias, 1977 p. 91 ' São Paulo, Saraiva, 1982,
C'ímal"f\, João l'vleírelcs. No do
p,104,
~~'--_._------

TRIBUNAL DO 123
122 LEN10 L~~;~TR-;~K
cas no campo da jurídico-forma! dos conflitos inerentes às
tradicionais, Resulta que, no plano do conhecÍ-
pode-se extrair, :10 o fato de que a separa-
(eplsteme-doxa) não existe senão no
de vez que, na prtítica, muitas
em lugar do
o
6. e os resu
dos j
1111171 os
da relôrÍca, A dia létíca é reprimida
encontro dos discursos no plcn,írio, 6.1, o discurso como mani concreta do i o
tem-se uma tese e unia na DI'a't"
teses . t ' 1 é r ' leil, dos juristas
llue apon am CamlnllnS diferentes, onde pore'111 t d
'c.,11 q,aua
,e.
,)' ~ e, o mesmo: 1I11l17 't
, " I , o' pon
- o- e
de _
1 ' " . IUp llms: sfo porque o o imaginário gnosiológico dos juristas, marcado cu liura
. , , e,11 plenallo tem bem l-l.ehnefldos os seus jurídico-liberal, fruto de um modelo liberal-individualista de Direi-
ChZCI, as conlrél q $0C' "'('l n,; l'; ''''.
~ • ~ \,tl" ittC">
tO tem um s\'ntido !l1:11'Gld(1l11ente
f l1il medidi1 enl que o
discurso o tcmente, rn,;1'Gl LI 0/;) tra vcssarlo
,/íml'ln:i,ilichH:k do ,No Tribu-
.. 110 I f via _ lud SCH::clbde
Ideologicamente, um rso Olle ten(1el'a' a f· 1 'd os de conduta que e
e a i f d' d ai e
_' ~,enas l e en er os mteresses de alguns. A l)artir dessa"
- j . "
t' vantes - esta questão' se torna ainda mais pela forte
çao ijS~ n"l'tes
r'C<
d t' t" / -
, es Illa anas consumidoras "ti'
t'
.. '1' cons 1 u-
f -t ..! f ,
• ,. " a n q l l l lzam-se" con- presença de um discurso engendrado por categorias pseudoexplica-
01 aCtOS pela IdeIa de oue estão proteO'idas I l i ' . I
tivas, que encobrem/mascaram as diferenças da sociedade, notada-
-d ' "J b 10) JCS11l17l1ll1CI1fc pelo
01 enam,ento Jun.chco, Como todo esse trabalho - lembra Faria _ só mente conflituosa,
pode S~l ,Cll.:l1P:ldo~~r l1;eio de procedimentos cerimoniais a Dito de outro modo, não é temerário afirmar que o Tribunal do
~~~ologla JUlldlCO-p~lIhca e encoberta pelo discurso místico que f
Júri se encontra historicamente dependente di1s figuras retóricas,
,c\a os h~me:l,~ a a,celtar,em os rituais inerentes ao universo jur:idico utilizadas para chamar a atenção de todas as classes sociais, visando
como necessallOS a realIzação da idéia de )'ustl'ça El11 out . 1 a obter sua lealdade, Muito embora a impossibilidade do encobrimen-
vr t I d' - ' , r a s pa a-
as, . a lscurso nao, se limita a fazer com que os homens se to da flagrante desigualdade social, presente, como jtí se viu, até na
~onf~l]~le~11 com sua sltuaç50 social, mas os estimula a aceitar e distribuição geopolítica dos espaços na sala do Tribuna.!, busca-se,
enelal as formas de poder que engendraram essa situação 179 , retoricamente, uma homogeneidade dentro da heterogeneidade. Esse
é também o trabalho da dogmática jurídica nos procedimentos
Falácia é lima idéia judiciais em geral. Consoante mostra Faria "graças ao seu traba-
equivocada ou falsa crença, f' um tipo dn . ' , .
Íncorreto. C) . r I" , " UICIOCll110
L lho acrítico, a dogmtítica jurídica faz com que o discurso retórico
(Pi, .1 aCla e uma forma de raciocínio que parece
ganhe um colorido analítico, e o interesse ídeológíco adquira
_ (l não o é. É proveitoso
com des e seu entendimento aparência de legalidade e, como diz Luis Alberto Warat, a adesão
~'~o '. iludidos. Estar é estar armado de antemão. explícita ern relação ao ordenamento legal serve, como
~ hlJ'Ja, José Eduardo,
CraaJ, p, 256 c 277, delllocrática. Rio de recurso para esconder a dos significados normativos".
18U Faria, José Eduardo. Retórica democrática. cit, p. 248.
124 LENJO STRECK
TRrBUNAL. DO 125
leva os súditos do a aceitar os
o Tribunal do Júri, ritualisticamente! tem o seu bem da discurso mí(s)tico,
dJ idéia de "justiça Por fi •

na da ordem social. da crescente complexidade


no contexto das estruturas do Direito. Por "não é de se
ao nível do conheci-
de

torna ausente a
no sentido de q\W sua vez, com
harmonioso sonho dentro de
de com absoluta um
No en desse consenso .A
aos princípios do Direito sempre
o Direito corre o risco de acabar
to

um emaLlJ1hado ele símbolos que são tTlClni


enl função do poder. Tais discursos S~10 manifestações concretas do
anos a
imaginário gnosiológico dos juristas! resultando! daí, a importância , ._ as pessoas que partícipan1l11
da (Warat), traduzida através de falácias (Irving Copy), tenh,l mill" . 'Wilson. Direito pós-moderno: caos
coletlva, ConsulliH " ., lOO
que podem ser encontradas e111 qualquer manual de Direito. Para o l'l:eralísmo [n Direito e 1lco!l[,cmllslilo, op, Cli., p, " ,
Arnaud 182 , há um dilema deve ser resolvido: !Isabel' se 17 11"'01) , " I quem no procedlmento
18~ Nesse sentido ver Lu 1111an11, " " : 1 conlendo-
~- '- . _' é redUZIda e enirílqueclc (1, -
do Direito tCIII UlIlI7 011 política! se o jllrista-hz- confronl:lção cltreta entre os , p'lpel de
é 11111 ser inspirado ou. UIII homem lilll médiulll 011 11111 res assumem nc; decorrer det) "
elc llml a ~e, Ue, c ,
~"ssn modo ~ conflito. Uma t '
das m,ais
decorrente l :l c au. tor e reli
, ~ . .'. é que a ação ne cs e con ra-
t
ffÉ difícil responder a essa indagação. O que é possível dizer é
caraclenstJc<1S dos contra os outros, Há,
que o jurídico é eminentemente persuasivo, como algo . ·to ; (lue neles se umJ " -
. IS c, '_ c":l _ fi L y, De not<1r, entretanto, que a tunçao
objetiva - via sentido comum teórico - a produção de relações uma lllstrtuCl(1n~llrzaça(1 ~ OSCO;l ":11C~~. consenso entre as pintes, mas em
verossimilh,mça, buscando construir um efeito de realidade que dora do
, 'I' ' ,
nao esta", .'
cm
difusas: de descoll-
crível no interior do imagin<Írio sociaL no qual estão inseridos torn,lr meVl avelS l' , 1) l do isso é
"ccltam a or u '
os atorcs jurídicos (e, obviamente, os jurados). . ó na medida cm que é
estrutUla c :l '.--
Como os objetivos da jurídiGl só podem ser cÚ'iO para a <]cE'itaç50 de suas c eClsoes, de tolerância. Cfe, Luhmann,
elos - - por meio de cerimoniais e, sendo o ao seu conteúdo concretu, dentro de certa
, , Tré1d, de
da Conceição Côrte-ReaL
I
do Júri o mais e expressivo dos rituais () Nlklas. • J T'''' 11:
Gr'lsílía, Também ver j'crraz r, CiclO
jurídico-política-ideológica é encoberta I amalgJma- 1-5 N,',yplnriin da lei, Porto
Ibidelll,
181 185 Cfe. Warilt, Alberto. llllita, e tcorills iii]
182 Cfe,Arnaud, Andrc-Jciln, Trad, de Wanda de Síntese, 1979,p. 141. _ 110 direito L op, rit, p, 20.
Lemos e Luciano Oliveira. Porto A 1ílA Cfc. Wilra\, Luis Alberto. IlItrodllçao
,p.186,

TRIBUNAL DO 127
126 LENIO LUIZ STRECK
deZ ejercicio jurídica) reconhece quem exerce a .efjGícj~ simbólica do discurso
como podendo exercê-Ia de dnclto: A
dade governa sob a
ou ii assistôlcil7 dos
til! fundada por sua vez no desco-
otras de loda e qua aurorida-
tlríd isso ocorre de forma
de
destinados ao consumo da corllunícL le
rência da busca do n ';l] " sentido da
!l

de artifícios do a busca dil lI1eus


que é a lei - , da mtio c~:s(:lIdi Di rei to etc., e na
o discurso dominante. A crelKa da existência de um I
urídiCê! atuil, ilssim, como iildnJ'il, fazendo a 'Umherlo muJacros de
(no sentido de Hermes). Jd não se fala da norma, mêlS 111,11S são do quc o rcsuÚado de lima rede de que se ii

do :entido que a essa norma foi dado pelo intérprete. Alerte-se, serviço de efeitos de no interior da qual não, ~ em
1 questão a validilde do enunciado, mas a verdade ehl cmmclaçao no
porem, com Warat nesse processo de (inter)mediação, pelo
I a z d de diz lo a sua cota ele vcrOSSlm
ndo vincll
en
é filho
'científic;)', de um monastério dos sábios".
É razo,1vel afirmar que, no âmbito do Tribunal do Júri, sofrem
I~ é ju~télmente desse monastério de sábios que emana a "fala 111aio1'es condenações aquelc:s que são apresentéldos como os mais
~utonz~da que (re)p.ro~iuz o lzl1/JitllS. Os eleitos, os que podem
inadequados ao modelo de comportamento social implícito nos
falar/ drzer-a-leJ-e-o-dlreIto recebem o cetro (o skeptnm da obra de
códigos e explicitado n<1 sua apJicação l92 fsto porque, ha - necessa-
Homero~ de que fala Bourdieu 189 . Estão, assim, (plenamente) autori- riamente - uma estreita relação entre os resultados dos Julgamentos
. " a tazer, inclusive, "extorsôes de sentido" e "abusos significa- e a cornposição do corpo de jurados de ~a~a cida<.;e/ co.mllI:idade I43 .
tIvos . E quem se rebelar, quem tiver a ousadia de desafiar esse Pode não ser o fator determinante por SI SO, mas e eluCldatlvo o fato
processo de confinamento discursivo, enfim, quem tentar entabolar de que () elevado grau de participação das camadas nH~dío-supe-
um responde(rá) pelo (hediondo) crime de "porte
ilegal da fala"".
Esse .?~ produção da "faJa autorizada" exige de parte 1<)0 Nesse sentido, ver Bourdieu, (lI'. cil., p. 91
dos jLlJ'ldlCOS uma de cumplicidade lingüística. 191 Cfe. Eco, Umberto. A obra aIJalr? 5;'\0 I\mlo, 1981, p.188 c
apenas se e (1uando o público-alvo (comunidade ln Cfc. Corrca, IVlor!c op. ciL, p. 308.
193 Não é demais lembrar quc pelo menos cinco dos sete que cnndC!1iHillll
111 EI discurso José l<ainha a 26 anos de tinham afetl\'as, culturaIsou economIcas
p, Buenos Aires, com a famílii1 do morto OLI com os !'lOS furaIS da de
Wal'at, Luis Alb('r!o, Pedro Calhhin. interior do Estado do \lvr,
Ver !lO dirrilo II, op, dI, p. 67 e 68.
189 de Fernanda da Escóssia
89, Pierre. A eco/lolliia das IroCtls SP, USP, 1996, p. 39, 63 c "Jurados têm com donos de
, Ilrasil 1-10 c 1-11.

128 TENro LUIZ


TRIBUNAL DO JURI
riores 110 júri tem como um elevado número de

dos casos

lpJe rnan
j
1 lrc:
e os quc são julgados, ter-se-à um n(ú1\cro maior de
por de nlOdo , dn nações,
ilfirmar que existe uma tendência por Dito de outro modo, as disparidades sociais inexoravelmente
esperar um comportamento conforme à lei dos terão no resultado dos julgamentos tribunal
aos estratos médios e superiores; o inverso do júri, Tal conclusão se afigura como insofismé'ível. Entretanto e ao
ocorre com os indivíduos dos estratos inferiores", lado disso, l1Iais do q1le ns (J júri serve 17
0m
A elitizélç50 dos corpos de jurados Nesse contexto assume relevância - como já explicitado
merece luz dél Antropologia, pilrél à saciedade anteriormente - o papel da ideologia e suas formas de
I'J5 n1ujto dc lUll de disseminação, Í: evidente que a sociedade não pode confessar
valores e aderenl él um C(111- si mesma as suas próprias contradições/e, portanto, élssumir (1
à condutil e a atributos fracasso naquilo que diz respeito J reali / cOllcretiz<lçào das
chamar destoante a qualquer membro individ que n50 da modernidade. Ao longo da história construímos 1..Il1\a
ils normas, e desvio a sua peculiaridade", O socicebdto cada dia mais injusta. E quanto mais injusta é a socieda-
mesmo autor revela que I'se deve haver um campo de mais necessitamos de mecanismos para a maioria não
chamado de desviante' silo os seus desv a ser dar conta dessa
conforme aqui que deveriam/ mívelmente, Desse modo, e como o da
constituir o seu cerne, As tu os em d os como os crimes que são silo
delinqüentes [ .. ,] seriam incluídos, invariavedlnente pelas can,adas rnenos parece
194 Cfe, 13arJtli1, op, cil, p, 177 c 178,
afirmar o tribunal do júri tem-se constituído em forte (e
195 Cfe, Guffmilll, op. (it, p,] 1. cm CorreJ, op, ciL, p, 311,

130 LEN10 UJIZ STRECK TRIBUNAL DO 131


l1Ie(ailisllf() de ncultllmento das vicissitudes dessa mesma a à de classe,
11 c o cOlrlíll1l0 aos direitos maior nas decisões do Júri reside na na
circunstâncias - embora muitos teimam ainda c seus.autores. Trein
da criminalidade, de

6,3, como os resultados dos


irados" de forma estereoti

Na esteira da obra de l\oland Bél entende-se Trein


que do mito a 11 i stl:ll'i a "('m na t.lI reza,
aos mitos, il di
born c permanecer m
faz com l !1 IIccess!Írf(l (] qlle ocorre 110 lil1iverso
é , milS é imediatamente a numa porque, na feliz de.·BaraUa, , .
natureza, [~ afirmar, também, que ofl1itwutíliza .clemelltós Los, ZlS u~eoríasde·todosos,dlas!'(senso
fazem sentido em um determinado momento hístóric;o;como.se íVíduos dos;·estratos infe-
cternose, mesmo, se cxplicasscl1:
prohl('I1l,l deve ser estlldado no
ndo md

rio socülI, articulando . se {1 de que \',1


I 'essoa, em 1900, FMa Ulllil <]ue
mente empírica dos btos sociais que surgem como "naturais", íí "índole eduCilção de !/OSSO '1111' l'IlI Ililo IC/II IIII/ilo illtel/so o
a-históricos, congelados, sem. origem definida e, por conseguinte, 5ClltililCII!O de ii lei c (lO prillcípio ' "Desco~re-se" uma "índole
"incontestáveis", do em uma estrutura social diversificada e contradItol'la. Nos
ilnos da Repüblica, a partir de sua estabilização, e ,da cresce~te lv,'r,~ .1fH","
Assim, a problemática relacionada à discrepância - existente na social, a construçRo do nacional il ter uma referencta exphCltil ilO dlleclona-
expressiva maioria das comunidades entre a composi<;:ào (elitiba- dos selores na SOCiedade braslletra, sem que com
da) do, corpo de jurados e as pessoas que são submetidas ao júri administrativa c jurídica seja de todo abolida das
popular, pobres na maioria, é explicada das mais variadas as greves c as ITlovil11cntações
rclcl'ilnte nos discursos dos em termos de uma
maneiras, O promotor de justiça gaúcho Thales Nilo Trein 1YS , por 'lO lado de L1mil reflex50 sistemMica
exemplo, 1Ir70 cOllsidera relevtI!I/c para o deslinde dos julgamentos a do a socia do menor para o trabalho ou a
J97 Ver flarlhcs, Roland, TI\ld, de Rita Buongermino e Pedro de Souza, O "n'lcional" ilssume conot'lçôcs bi1stante
São Paulo, Difef, 1987, p, E,O, n do lJ/i/o, ver, de um supusto "Glrátcr naciol1ill", <lfcito ao
tilmbém, Codclíer, Maurice, /1 r de Assis diretamcntc ao cncilmính,1l11Cntn de socíi1is,
Godelier. São Paulo, UIil lIIilo no sentido da do mercado
11110 /1111 lIIito sellRo pl/m
limsi/ciro de ,CI' e
a 3Geclitm
ndesão

as representações
como tais, mas que perrn'l11é"
cem desconhecidas como tais.
198 Cfe. Treín, Thales Nilo. Júri: as Rio de Jillleiro, Aide,
1996, p,

TRIBUNAL DO 133
sociill
Oliveira Vianna e tzmtos ou tros
menos con hecidos.
Problclnas'
militH -

uma i(
ca rú ter
na cioni,1 c l]lIilliâilâcs ~if1(:l'cllles fi
esquema das doutrinas autores, () tema, quando não aparece de
porque essas teorias 110 Brasil. um lado, como sua sinlplesmente não aparece.
aceitação coinc!de com a abolição da escravatura, poder-se-ia pen- De toda sorte, como já frisado, é razoúvc1 afirmar
sar que as teonas raClstas constituem a forma de defesa do grupo de estereótipos favoráveis ou desfavoráveis do
branco con tra a ascensiío dos escravos. De outro lado social e wltuml dos Dito de outro modo,
poderia ser a juslifiCiltiva para a J11i1nu ' pode-se dizer que, através dO$ ,estereótipos, s50 m.ol1tados ul1Tlmagi-
~io. fI assiill COIIIO os cu ropells nário e un,a lógica de.ider1ti [icação social, com.4 Junçãopredpt1àde
dos IlS escamotear/aJ1\algamar. e.céllHuflaTadominação, A gene-
doslwgros, estereotipi1da - conceito elaborado no no
como univcl'sat aceito todo o tecido
Thaics- de contribui na t claro que retornando ZI controvérsia sobre o júri -, d1d
que parece, estamos numa medida em .que.. os j lJ rados, e até !TH1SmOOS
que tem como Glracterístico
'~') ,
;;.J COl1,:u!:i1t' MnrciraLcíl,c, D,ln!". O ,adie!' ',1tlciOJilií lil'llsilnro. Ti1mbém
,1Iho, Cd~.lho c Nedcr, Clzlcnc. L11"1:"I: l'/{'/I'I1C!iI c /10 dia'ihli,J.
Fabris, I,)K7; C;eri11ôo c Fiorill", PM'heco, Sem
nem docull1ento: cordiilliciJde. índole
crise, Istn São Paulo, \1, l')')lJ. . a sua visão
Thi11es de. Os bmsilcirns: esludos de cor,ilc!' lIilCiollill. 5.11\'0"\(.101'. Centro utilitária iJl1cdin que, <1liilda élO senso comum
Editorial e Did,H!co da UNB, 19RI, p,
21L~ (-:fc. Leile, Cís;ílio e Nede!', Cizk'ne, (:p. cit., p. 2').

134 LENJO LUIZ STRECK


TRlBUNAL DO
colocam os agentes sociais em de
mundo, de familiôrízarem-se Com as coisas e,
entre/aI/ /Ião proporcio11al1l a
""."a),,'-J I cc"' sociais são
um claro-escuro de
não sertfGlmhc-
duplo

<ltns comunicativos que ao sistema


os mesmos esUío inseridos.
nas
das desses a toda vez lTuC procuLlln definir os
das diversas uroras eb lTdlícLlde social.
no caso das comunidades m,lntem laços élnicos
utostle um 1mí ocorrido.há mais
de uni s6nl ocorre com ra
jmagínjFioKSClcial:~dosindi\1ídtIOS; Isso ocorre at~avés da _
de determinantes históricos - por exemplo, 0traves'c1a aculturaçao-,
ch~ favorecendo o desvirtu,lmcnto nlltllri11 dessas comunidades, as
SilOdo que k desvinculad;ls (h de Sl'US
Pdrlírd l\'ol híceis do prOCl'S~(1 de m;:mi
III chls madas'llornilltl11' tcrm0dío
. uma em possa! de
reter~mdar aquilo que, l: imagincirio social reproduz _ e isso é ben~ - cunstrliích - da
gilrantemostatllsqllO.
nu de ( lltl
~. ,.
po;s.lvel de ocorrer - : Impres~~indível, por isso mesmo, deslocal~ 3 Nessa linha de raciocínio, retclllla-se, como referencla teonca, o
3J:lalls e _ pa~~a outra dllnensiío, que não,a'meramente,fátiC3, Tal conceito de ideologia tal como é trabulhado por -Ghauí, que afírmil
prefensao/njlrll/l7ÇilO levo elll COI/ta a circunstância de que
ser,elél"umé1 forma específica do ímagintírio social moderno, con10 il
orllmdas de 1i~l/adete.rIIlil1l7da _ e o Trilntnal Júri é
Ul1la delas -,SilO lIlsl/jlclentcs pom COl1l0 O necessária pela qual os agentes sociais representam parEl
o aparecer social, econômico e político. Esta aP.i1rênci~, por
~1u~ se tenta demons,tr.éU nestil abordilgem é que as instituiçôes silo se constituir nU1Tl modo imediato e abstrato de mamfestaçao do
legldils em s~as prat~.cas cotidianas num sentido teleológico, ou processo histórico, constitui-se no lugar privilegiado de ocultamen-
seja, nu_chrcçclo dos fins de' um dado sisterna social. Portanto a
to ou mesmo de dissimulação do reaL Ora, amda scgullldo na
apreensélO da forma .de apJ efetiva de um sistema jurídico
mesma a ideologia constitui um corpo sistemeHico de
reflete, no P!;:lllO do smtol11i1! procedimentos lTlUitO mi1is complexos
representações e de normas que nos "ensina~11".u cOl;J:ecer e a ag~r.
qlle gara.ntem i1 hegemonii1 de uma sociedade heterônol11a, isto é, de Por outro lado, ao se tomar como referenCia tCOrICi1 o conceIto
L:ma sOCIedade tem suas regras estabelecidas enquantoanterio- de ideologia tal como lado no ilmbito desta ni'ío é
ndade nrHicas:l A
. r ' Ce j"l. manutenção de tal deter a análise illlll/ll lIleril elltre o 1]111' aparece 110
hegemolllél também,à (ue
papel relevante no normas 1
ssa
!2.c:. forma, 6 que a prMica do Direito _ a
2(14 Vt:r--~ s~ fi K 'k K 1 IJ']"
, --, t _L ti le o, OS1! nre. ta, cl !Cil do concreto Tr(ld, de C61ia Neves c
Alderico Toríbío. Rio de l'ilZ e Terra, j p. 11."

136 LENJO LUZ STRECK


nWlUNAL 1
a pelos
diante ... A

o seu valor

fieL! ou
não," como é possível (ue a i
em seu il sua forma de
. 1
VUÜlilnl <1 roubar , u,,]'11(]",,(lue tJ\<
l.)el'(~
b un t
e nem 1110S1110 C0I110; ,,1
's
"c sem Convém salientar, porém, que a circularidade desteimilginádo
nuem a votill' em talou eleDI 1>"'I't"':l c posslveI que conti- social produzido porsuéts·inslitui'iõesdeterrninmn il concretudE' das
, ' r" l( O mesmo [lI" t
repetIdamente? Pero"l t . ' . ( "os erem sido .llue nOrITliüí·vizam ascondulas
, o' n e-::iC antes' Ql aI
o meu pensamento e de t :1 .~' lc a parcela de cümunidades, Desse modo, é "normal" para os componentes ele
e de fazer coisas que nEíOo~:~s, ~s mInhas maneinls de uma determinada comunid<1de que o Tribun<1l do Júri de SU<1 cid<1de
em 0rall ' es a condlCIonado e
b pela estrulura e p('/1s si profira veredictos condenatórios em bem maior número do que os
materna, peLls n . <l< < c••• de suas cidade vizinha ou . Isto porque, a partir-de~tllll
I . , l o
1'12 o pnm12uo <1 2118 Cfe. DUl'ecn, Gerilrd. cnquDnto iltores sociais: tiS
sociais em desenvolvimento. lil: sacioi" op. cit.,
2U9 Cfc. .A. Sem" dil\heiro n50
III: Textos ell,' I<cpresel/loçô,;, sociais,

esse

cliÍssicil. ln:

LEI\:IO LUIZ smEcK

TFlBUNJ\L DO IÚRI
de normalidade",
·os
nisso se incluindo
do para '. ' ..... ' .
') . to ao Tnbunaldo Júri
]. esta . através de
de uma de
. pa:,;sM pnr llLlcstl)CS de etnias ou no1' do
UIlbldcr;1il\ () JU • ,
<'1 )l . o ,. o
"
l'( 1 () . ' , " j U .como tuna e 11<10 como um
(e Ullla "ouc< ade atravessada por uma luta de cl~sc 's
IIICXOraV(,Jmente., rnur . «, .oe.
sócio·cco-
das Glmadas res sobre
excluídas sociedade. 7.1.
R('ssalta-s~, por último, que urna ve/ d,'] rou-se ,llizarl
111,ltlCa.. e nec('ssiÍrio ., .. ' . lj ueo se "
nilm mal-entendidos toda essacu No mento destas
as institui e a
por um lado, a profunda crise
~)p.
. qu?relas. Nesse com Codelie' ( ." J, conflitos sociais silo
un1 I11C.l..0ii. de . expllcar
. c.omo os indivíduos L ., n ()s gl'lll,,()·lS~;U()nllna(
•. , '. J •
cÜ')jha
os dogmritica jurídica, além de mostrar C01110 os simboliGmlente
conscntn espontill1t'amente" na SUêl . . .
illcs /'I'çr/ COli/O ii !iI
r.\.
h S,4."c: L ,l'l -
lil(l() destl's
dOlninad( Li "deucl'
lo, que dominadores c llados partillwm a sob
d;lS normas com a persuasória, uma vez que a c!iGlcia do
,' pdrn que nas.çél él mais forte do p()d"
os discurso jurídico está condicionada a sua capacidélde de persuadir
". ioutros'
I,: '. 11111. C()!lSell . . el
" t 'llllCllto, fundado 110 rcconhccimellto
sem contradizer as formas axiológicas predominantes e élS valorações
c /' li, 'C6Lt:~J~~I:llde desse poder, IIIJl COl1sellSO fundado 110
de cada um de seus destinatários. Nesse contexto, é relevante
é e ::;ua llCLLSSldl7de. No fundo, trate-se de u;'n ~;A"",I".~1
lembrar a crescente dependência do Direito às figuras retóricas, as
quais permitem rclativJ concil das contradições sociais, na
N~ medidil em que élS instituições o medida em que estas siío projetadas numa dimensão harmoniosa de
ber/lel,
da/d os
. .10aV'entes .
- notcl
d . .
amente a classe menos
'.' _ . puras _ relações e esquemas ideais, aos qUélis
,. j 0111Hléluél
. - 1.·sao·
.•• '
t' 'd
oesltLlI'OS
J
de sua' '
prol utnres, de detentores e de leç'ítimos l:lest' 't'c" :l os homens devem, obrigatoriamente, dar sua adesão, Nesta pers-
cabel1d 11. _ ,o
0- 1es, télo-somenté no ,roces
' ma allOS (O
:l.'. . - , : ,. . pectivêl, contim!êl o professor paulista, a avaliação ideológica é
c(;ildj'Ll\1i1nt~:s/~'~1~r~~~~~;~j6:,
.
social, o Pilpel de mel'OS do 1l11élgmário rígida e limitada. Consiste, assim, numa metaconnmicaçiío que
estimula as estimativas dos agentes sociais destirwtários da norma,
valora as dos denlais jurídicos e
as garantindo o consenso daqueles que precisam
manifestar seus valores, assegurando-Ibes a possibilidade de ex-
Por isso, ao mesmo torna
possível a comunicação dos
retirando-lhes a
211 efc. Félria. Refôricn c
op. ,iL p. 255.

TRlilUNAL DO 141
140
cooptação e
e através delas,
que tais

conSlDUivcl
du

cnn!
p(lfa ilustrDf
é intcressilntc citélr a de Cam
faz
juízes de fato, só técniGl dos
homens de bOé1 morDI, ídó-
neos, da clnsse pilril ci!lla. NilO e de/leul ler
1I1illllto ilí(ld culturnl".
Essa lT\eSrna tese - merece a nossa crítica por estar dissocia-
QUS di [)enHlcr,í Ueo do Di rei ida
Bon
a 'rnóxin1<1
de intJu i r na

213 Consultar, para tanto, Trae!. de Luis


Carlos c Sih'ana 1997. Ver,
também, nesse sentido,
social, Rio de JZlI1eiro, Zahar, 1971.
214 Referido por Corrca, op. cit., p.
215 O Estado Del11ocr,1tico de Direito é um
Estado Líber;:d de Direito, isto no dil
e vinculativa os (fórmub) pi.lri.l o
da rnoderniebdc. Mais do qlll' isso, o ES(,leiO Demucrático
idcnti- cWilizatória, "bc)linclo il i'eI1<1 de morte, proibindo il
dos direitos hum,mos e fundamentais, de csL1bcle-
jurídica de o (e o governu alr,1\'és de
(1S direitos soci<lis até hoje foram à
sociedade. ror isso J diz que o
u Decreto-Lei 679/7:; estabelece' que i1 idcHie mÍilÍlllil cumo [c,tado Democrático de j)ireito, cujos
i1;10': o que iç;; que () deve ler jc1 ~Iém de colocar como
c fClta por sorteio llOS cUllselhos adll1i ,10 tizl pessua humilna,
de jurado é rel1ll1ílCrilc1:l. O Decreto ('l1lIll1era lima série de soci,tl, ou de outro nÍ\'cL Por
com <l de Tribul1ill do Júri, por ser instrumento de
venham no Jllri peSSOilS
de

U'NIO LUIZ STRECK


TRIBUNAL DO J(JIU 143
Desnecessário referir que a
notória idoneidade -
de - uma, , ,
v aI't)
( ',\1 <;~111 dúvida {
a {que," "c exnressa
r as crenças valoratlvaS,e
1 l,deolo-
- I
do escolhe os jurados e da _ na qua estao e e
da mesma tormil como o de
enorme influên-
leigo (lO jul-
n;ío lenCOlllLl sinonímia
(s certo a mlio do Júri
do rado, outro
:1 (' de cariHcr nfio nbtlllil ;1 1-'1'ctens;10
citada "Iislil"", afinal, bem rI to
mente tributado somente ao juiz
de quem cntcl1clcl o como
se
No faz severas críticas ao que ch,nna de "listas com jurados vitnlí-
lllCS1110 diapasiío{ vale registrar a entrevista dos lldo ele os jurados são o ponto de contato entre o n:un~o
Tribunal do Júri de l

2(; jurídico; o júri é a p(~dra angular ~la det11ocra :l,za çao


dmlurnanlente cl ,
to do::, valo,cs
iados, acentuel{ "ii

1m, 11n rned idd cm


pnra se r um vileíro{ niío precisa haver vileiros no corpo de diêllcín (/OS di tl7l1les do com
jurados{ irrelevante 17(71'17 o júri 17 soda/a que 219 C-fe, '~bc~1Chlak, James, TrilJIll101 do Júri - Rio de Janeiro,
os
jumdos",
Como necesséÍrio contraponto{ é preciso registrar que os defen-
Forense, 199Lp, 165, ,
220 Registrc-se a inovação contida no mais recente anlcprojeto, repctm .o o ldil~e
- l" ~ t >nroJ'eto Salvío FíguClfcdo, estabelecendo a obllgatoflcda e c a
" d "
r
sores de tais teses esquecem que os resultados dos julgamentos (ons d\ ii no ,!l ' ; , " , '" o revela iI intençiio de
!',OlllessZl do relatono il!1teClpadamentc ao,~ ( ') 't" j
rcsultariío da aproximaçfio do discurso das partes com o I{modelo" , "
v'dorizar il "
de Jurado, No I ' ( lZ SIC cn enos (e
'd t'
que os jurados vizualizam para a sociedade a qual { (,(
recrut<1J11ento .
Jura d
os que o , ' - a ernocra '1~
, que ,
além de servirem como Ullla espécie de "certificado de aprovação" zaçiio do , :I
atraves l a , cicis
,,' ,mZlIS camacÍc1s
, , 'f"'b1Il1l1U]I
(ou niío) das condutas dos aton:;s envolvidos no processo, Desse pelo de PrOClISSO 1'1'1101, Alerl~-s=, <1_, que o 11 una
niio scrá nem mais e nem menos dC!llOcratlLo com ~ ,
encontro de valores e visões de mundo{ resultaréÍ a Islo nilc) 0/1'1I7al' qUI', /lISloncafllclli e, o (c,_
estabilidade (ou do jurados de cada Cilil/mias dOll/illlllllcs da sociedade, Pl1ro que ocorra 111/111 real (r: líno
Dito de outro de urados nos dizem, enl dCSô'f cC/ilírio, l1ecessária 1/11111 novo postura dos nlores
- nuc cm tomo do 1'01'111111' - dírll1ie de 1I1I1r1
COI/I;) 11 lIossn, Como já anteriormente, fica a
que;" seriio os "cidadãos de notória idonciebde" que farão
o crit6rio pari! tal Oulra
CCIIl quc terl!lOs"218, Com (1 nova
(10 acusado,
anteriormcnte, que a inovação se eSlenda, também, aos
Correa, op, ciL, p,
relativos (lOS dt'lito$ ao

UjlZ
De }),1 muito se a lIerar o rito
Vários jii tramitaEH11 e ainda tramitam no
Nacional. Vale que o lo de Lei n"1655-B
Câmara dos junho de 1984. Mais
que alterar o rito do o tratava de um novo de
Processo Penal. Não prosperou o projeto, De qURlquer
tnrrlilva

t!uni". , Di ,I..
~ ~ e"lerceIra
,.
tambem. " ser I' . 'd .' '- lcmunhas
". 1 aZl os a aprecwçao popular.
rOI ultJmo, cabe referir que ao 101 )-) :i:> ., _ A
das testcnlllllhas de defesa; 6) Rcareações; 7) reconhecimento de
aventado (lue l"ln fe> ()s este <!'" 1 9 C C estas leflexoes pode ser ou coisas; 8) outras provas.
" r e 0 1 pos UI' d . i . d .
. "I , '--"
11ca, ritUillística e ideolo . ícamente ,ela/- ° .1lZ?C.OS e forma slmbó- As finais, hoje escritas, passariam a ser produzidas
os setores dominantes l~ socjedad~22:' mstlt~l~çoes que representam oralmente, a não ser que <, causa apresentasse questões complexas,
na d t . . ". , cumpl em pi1pe] tundamental caso em l1ue haveria substitui por razões escritas, no prazo de
. o s ntus cOllsubstan" d " I .
dlsCUrSiV(D),'~ suprel1lêlcia i1!~uns indivíd~:~~ S~l)l~~l~l~~~"~~~~ !~~st~J~n)~ cinco diRs. Importante frisar que a decisão de pronúncia seria feita
dI a C"l'll lCi1
_ "fel j exões! CS em audiência, após as orais. A acusaç50 e a defesa, uma
vez intimae1c!s da designaçe'ío da data do julgamento, poderiam, no
prazo de cinco dias, requerer diligências, inquirição de testemunbas
7.2. Aspectos formais-instrumentais e esclarecimento de peritos em pleni'irio.
No dia 16 de março do 1994, () Poder Executivo no
como ficou il Diário Oficial da União a to, resultado de Comiss;\(} I-
díve~ democfi1tização do da lv!inistw Sá]vin de redo Teixeira, contendo ullla série
221 Tj~) f(J~;-
."
_
que Oss()wski
de destinados a "realizar o interesse
J'"" "LOutro. rl!'oiildus por
clel criminalidade".
utudl que se ('llr,llza na consciência soeiill
de 1994 modificwa sl'l1siv,'lrnl'nte a () atual
ií prova di] r",] lidé1de" CPl' par,l;l que () se convença da existh1Ciil de
/Iii CO/lscit'ncin socinl. Tra,!. de /~ff() . de
1')76, p. 51. . n~o aut(lrí~l, il proposti'l ViSilV,l a reduzir a influência a
eXl'Tce sobre os clil

146 LENIO LlJIZ STFECK


TRmUN/\L DO JÚRI 147
l'v1ais recentemente, a Comissão de Reforma do de
Processo Penal, composta pelos Ada Pellegrini Grinover, com
Petronio Calmon Filho, Antonio Gomes Filho, Antonio nhados.
Scarance Luiz Flávio Realo Jr, Nilzardo f) elimina-se o libelo acusatório .
Carneiro Tucci e Sidnei . o relatório do não seni mais feito cm e,
a Sl!11, em momento anterior, ocasi~ío em que será remetido aos

e ao

o acusado é citado para oferecer defesél


em que t~rá
juntar documentos e :\lTol testemunhas.
b) a éludiência será concentrada cm um só ato processual, com Como se pode , o projeto apresenta avanços significa-
a inquirição elas testemunhas, interrogatório e alegações orais. tivos, embora se apresente tímido em alguns pontos, Assim, é
Ainda llessa fase, perante o r e somente importante a modificação no que se relaciona ii fase
condil r (; que se da í/"o de admissibi- estel somente reccbid,l ,1 iludiência
(10 (lCUS'HJO. A de
a denlÍncia alr,l\'(;s fundi]
uma'\' dél mnlcriali do da uisitos FelL1 a
indícios de autoria ou participaçção, somente então o juiz pronun- elo jtl O que ;:nlmentar,í a respon-
ciará o acusado. sabilidade do julgamento em pleniÍrio. Observe-se que a nova
d) não se convencendo, o juiz impronunciará ou absolverá o réu, redação evitai dificulta o uso retórico, pelas partes em plenário, das
razões de convencimento expostas pelo magistrado na sentença
restringir-se ii indicação da materialidade do fato delituoso e de indícios suficien-
tes de autoria ou participação, remetendo o processo para o júri. 2. O projeto pronunciante,
permitia a realiz,lção do julgamento popular sem a presença do réu. 3. O libelo era A supressão do libelo, antiga reivindicação já constante do
suprimido, ficJndo os limites da acusação expostos na pronüncia. 4. Instituía-se o anteprojeto Frederico Marques e no projeto nº 1655-B, n50 merece
preparo do processo, visando h c!elíberaç:1o judiciill sobre de reparo. A alteração não acarreta prejuízo às partes, uma vez que a
ao saneamento de nulidade e ao escL:Hecimento sobre fato relevante. O
seria feito nessa oportunidade, e não mais cm plenário, devendo Sl'r remetido aos oportunidade do requerimento de provas fica resguardada com a
jurados com o da 5. O lilmbém íntinlação da prmruncia. Além disso, os limites da acusação estarão
ampliava o de alistamento de com a de fornecidas fixados na decisão de pronúncia.
por associações de bairros e de ensino. fi. O assislc>nte de acuSilç50 Inovação importante, e que merece aplausos, é a remessa do
desaforamento. 8. da instrução cm rio, alrilvés
a feitas
relatório antecipadamente aos jurados, o que revela a intenção de
parles e valorizar a função de jurado. No que diz respeito aos "novos"
pergllntas e cxan1in3r os critérios de recrutamento de jurados que o projeto vale
aos através da a democratização do júri, através da participação das
(ou
Se o réu for condenado - com a
camadas populares, JlllllCn esteve proibida pelo Código de
ou de Alerte-se, a o Tribunal do Júri não
sobre atenuantes seria mais e tico com essa inovação
!z is to r i CI7 me 11-

148 LENIO LUIZ STRECK TRIBUNAL DO


Públíco e a defesa dele
de 3.
() 11 ecessâ rifI 11 li /() 11 (lua
sociais - que C/II 101'110 do
sociedade c
mente, fica
1

também

/1I1IS
I7S les!elllunIUlS. Como se
do júrÍ, mas lião 110
tante avanço e111

de rticif,a
eíll ilO
em que o réu \'oluntariamentc um crime juiz sobre as partes para conduzir a busca da
menor para evitar punição prov,ivcl por um crime de mais gravida-
conclui, concede aos e Ilão ao Estado, o do
de; a prisão especial, privilégio assegurado legalmente certas a saber.Outra importante proposta modifica a instrução cm plenário.
'categorias' sociais; a não-transcriçfío, no processo, dos debates Com a nova redação, além das p8rtes, também os jurados poderão
orais, inclusive os do júri, que impedem o entendimento di1s razões
fazer perguntas ao acus8do. COI1:o já dito ante-
f

que levam à condenação ou absolviçilo; a nilo-transcriçilo literal das riormente, que li fOllzbelll, aos proced1!nel/tos proces-
declarações de acusados e testemunhas, silo 'interpretadas'
sllais relativos aos delitos ao júrI,
pelo juiz de uma hierar-
quia la de provas; a Merece crítica, entretanto, a propOSL1 da comissão no que se
refere à mudança na formulação dos tos, traduzidil, basica-
privilégio de julgamento por superiores conce-
mente, nil de três perguntils (materialidade, autoriil,
dido a funcionários públicos, mesmo em crimes comuns; os
conden,lção ou absolvição). Melhor seria se o novel projeto tivesse
procedimentos judiciário-administrativos do to policial',
são alguns dos institutos e adotildo as sugestões da comissfío de juristas do Ministério Público do
no e que Rio Crande do Sul, já que, além de se opor à institll de
inquirição."w to do tipo "condenaçfío ou absolvição", propõe quesito
e único para cada tese sem desdobramentos.
Ainda com ao interrogatório merece
referência também o trabalho do Promotor de Justiça de Silo Paulo Preocupa também a do Protesto por Novo Júri, lli1S
Antonio Milton Barros, para quem: 1. o interrogatório é 111eio de acima de vinte anos, um novo julgilmer1to. Com efeito,
prova e de . 2. como meio de prova, o Ministério 22-1 Cfe. Barros, Antonio Milton. A deiesa do acusado e sua no
III: R/'l'ísl,] I3msi!cirll de Ciêllcias Crilllílll1is, n. 14 - abr-
Cfe. Kant de Lima, op. cit., p. 170 Q 17] . op. cit., p. 131 e segs.

150 LENlO LUIZ STRECK


TRIBUNAL DO 151
seria um contra-senso com os ditames constitucionais, na
5º , XXXVIII, Se fosse
da Constituição
elaborou. Há que sc Il1ccrlllismos da Constituição quanto à
CJ1COil tro de 1/1/10 vÍsíio do processo. Penêls esses se limitassem, somente,
vinte anos de reclusão devem nlctidas ao clu terern
sociedade. muitas pena

cm
com o do novo
assistente de i\.lbrzllllcnto de
consoante já sustentado. .612, [J
Por derradeiro, relevêl anotar que, muito embora os avanços e
indiscutíveis méritos do citado anteprojeto, chamo a a

validade d
a estando OU ao
aos quesitos do júri. COl11~ efeito: _ a tri abe.rta _
es~~ecer da Justa .causa, definida como o suporte probatório Projeto de Lei n Q 1.655/83, a COll1lSSaO sugere que a quesJtaçao se
ll1mlmO da autona de um crime), o juiz deferirá e determinaní a
oriente pelos seguintes princípios:
realização de eventual prova pericial postulada, designando, desde
log?, data p~ra a sessão de julgamento do Tribunal do Júri, onde 1. Conto o réu se defende de acusação explícita de autoria de
ser a produz](.ia a prova oral, seguida de debates e decisão dos crime doloso contra a vida, é desnecessário submeter aos jurados
jurados 225 . quesitos sobre materialidade e autoria, quondo l1/io 1I0uver quolquer
sobre elns.
7.2.2. O problcmo dos 2. Como conseqüência da proposta de dispensa de quesitos
Mu~tos doutrina~ores defendem a sirnplíficação dos quesitos. autoria e 111aterialidilde, a decisão condenatória ou ilbsolutó-
ria da dos jurados a quesito
Os quesItos, da maneira como hoje são regulados pelo Códi<'o de
- sem desdobramentos.
Processo Penal em vigor,' tornam bastante difícil o trabalhg dos ou
jurados. Tubenchlak226 , embora defensor da tese da a
adverte que, por exemplo, o princípio do or not serão red lIzidos,
Consultar JiHdim, Afrânio SílVJ. Direito Processual Pellol. 6' ed. Rio de Janeiro,
Saraiva, 1987. 335
226 Cfe. ~ op. cit., p. 14l. Procuradores de Justiça Antonio
227 Há uma verdadeira - e
sistema americano do Tassel Francisco Selistre, PZlulo
. É nessa linha que o PL 629/97, de auforia do
que tramita no tratando da
TRlBUNAL
LENIO STRECK
de de f/IlC(l17JU

resultará da 7,2.3,
réu foi o autor
e

o
o da tiVil de
alidadc c fin;llizilndo-
rici<bdc c de cu

7
Sabe-s(~ 'IÚ
d' , " violenta o juiz to o escrutínio, têm urna peculiaridade, ta 1 a de que,
, e quesltar a quallhcadorél do motivo f'fl resultados si'io unânimes, fica rompido, materíalnlente, o sigilo
'S ' _ te ll1compatibilidade entre tais circunst: .' L1 I , voto de cada jurado, Para solucionar esse problenul, busca-se
TEm 1 azao os membros da Co ',,_ . anuas, socorro no modelo francês, com a interrupção do escrutínio toda
n10 l'd < .mlssao, quando aduzem que "s
, (co I . en1 com a reeTra proibir\' i f ' - <,
quesIto recheado de siçrnifica -50' b / j , '.. A I ~ l e" olmulaçao de
vez que a contagem chegar ao quarto voto definidor do julgamento.
os \ ' d " ,9 <,;, )UtlllCa, r\. antJga ahrmaç50 d Corno conseqüência, o julgamento ocorreró por maioria de
J lia os so se" mamtestam sobre matéria ' (il _ e' comnletame 'nt
f't'llil votos, resguordonc!o-se os jurodos que, enquanto cidadi'ios despro-
a, AI lilS, o que é "atenuilnte"? UE ' ,'.,,, "e e vidos de quaisquer garan devem voltar às SUilS 111últiplas
moderildo dos meic)s") . , A qua I a frOl' t·, lllJLlsta ? Uso o término de cada i popular. A matéria é
matéria de fato e o oue 'I la ena d'
11 t"
e 1 eIra entre o que
' b'ltO d ojúri?
noam " de tamanha relevância, que várias propostas nesse sentido foram
apresentadas na revisão tucional,23\
ficados, devendo ser
. niio se tindo sua inovação decorre; de cnnSé'nsn entre 05 j\bilio
com serllo sobre: materialidade do
e Denise Oliveira C:csar! e os
fato, ,clUtoria ou ol' I deve..c"'r"b
e. • 50 I VH
':l o ou conden'1(ln Roberto Ribeiro, Thales Nílo Trein e Cláudio Brito, estão <1lLnndo Vilrzt
Esse terceiro (os '~ )50 vem ou condenam o acusado) <""

todas teses defensivas mcdo ,1 afastar tuntes de nuliddd", do júri de Porto


231 A tese I'
RS. Mauru !3orba, d,! C(\nurca de Erexim, 1<.S, e
estabelecida ZI ' terceiro ~
deV(,Y'tl0 sef
""s.
sobre se eXlste
Carmen LuíZ<l R05J Constante, l1J COl11il)'ca de
CálllJrc\ Crimini'd do Tribmul }llstiça do RS,
reconhecidas na pron únciJ, nessa
n50 111ais serão feitas aos entendeu n50 existir nulidilde no

TlUI31JNAL DO
LENIO LUIZ STRECK
o réu na fase da

da
de Processo Penal,
no Processo nº 01393087125:

outra; ou a d os os cidad
. (lo devidu ,.I ,1\ tI' t' enl
em 111UltOS " , . ' . . que, por reconhecer que, recorrendo, estaria colocando em dúvid,l o
, ' como, \ .g., o de Jose 1\L11n11a, lIder do M5T
meu convencimento e minha capacidade de exercer a jurisdi-
oU
-ualdo caso
. dosd colonos sem tern em Porto Aegle,
II • G
l ' o quesIto . "de
ção; e, finalmente, por entender que, ungido o Ministério
quer dmo o r tem servIdo nara e11 c' 1.1 "' C:11''']' os fld .
lJ
" • TT '" r "J U U eSVlal1 t es so- Público de funções constitucionais que dilarg aram suas atri-
~~~ll~a" :~1~0_~~ltf~~i~1~t~~~~:,c:~i:~1:~~~~~1~'00;,uC~X:Oenc~ tt)los~IPartte
en redeles, J:ão
a efetlV"'
mormente no que diz respeito à titularidade da açilo
penat n50 compete ,lO juiz investir-se deste exercício privat~,,,,
r .« Ln

par t lClpaçao e o evento morte da(s) vítima(s), "


do sob de ofender os agora comesinhos princí-
7.2.6. li il1co,n~titllcio/1alidi1dc da necessidade do recurso pios da reI processual. Assim, presentes os dispostos nos
ex offIclO do art, 411 do CPP artigos 5 Q ; incisos XXXVUl, a; e XVI, e 129, I, da Constituição
Federal, tenho por presente antinomia com a regra do artigo
O artigo 411, ,.final, do Código de Penal, a 411, ill fine, do CPP, o prostra inconstitucional".
obriga tor~dade o JUIZ recorrer de ofício ecisão que absolve
e indo além do específico ponto em
~!~ Oe; Tubenchlak, op. cit., p. 141 e 259. que todos os recursos na lllOdalidade
O I romotor de C13udio Brito
adotando uma postura "ontist:j
, ,,
~tua\. '
'1' na 2 Vala do }lÍrI de Porto
nao cC) oeava no lIbelo -
abolidos pela Constituição de 1988. Como
os. -a :1 u-
o sistema acusatório como
"" 'n • ( e que o reu tenha
r,ala o Crime. Com ISSO, desde estava afastada a r impulso ex feito
Para
. ,o_Prornot)·
t I, o TT colocou, no art. 29, de Direito.
pOlque nao - por o recurso ex
tOe as a~
j' o N50 se deve olvidar
elTI um crime.
circunstâncía nenhuma, Por isso, a modo e instrumento processual pré-moderno, instituído
TRIBUNAL DO
156 LENJO STRECK
em
de
modelo
não há l11ilis
que se falar em recurso

A iJ/colIslif do Ilssistellte de

Estado mínim.o e ,10


criminais c a

que é antinôrniGl (1
defende os interesses
defende

II
cslZl Lli
públiCé1, O argumento, calcou-se muito mais na
privada discutir, na , legitimada pelo a clara diferença en tre o que se poderia chamar de I" '
SCl1SU - feita pelo Mimsteno , ,. P l'1:T i ) ICO -, e. umac.
ato Ó't:!lSL/,
,
interesse patrimonial, não convence, O ofendido terá a oportunida-
de de executar a condenatória, podendo, se preferir, de~envolvjdél pelo assistente de acusação, mms preocupado com a
discutir o mérito de sua pretensão, ingressar no cível, inclusi- do caso,
A lé111 a sus t en l :l ca tese.da
, nZío-inconstítucionalidilCle
ve amplitude, sabido que a culpa cível é bem mais L ,

LÉ tal do assistente de acusaç50 ci1minh~ na, es:ena de U:l1~, .)


!lO coisa jil de há nUllto aDohda, se sabE. que (
]'vi ' '·t ~.' pode absolvição, e ti
ln1S e110
, Ctc' é dc (/II/()}/
. '
retirada de qu,dificadora em pleni'Íno, se aSSIm en ~.
da
i"
t'nder N"o
do assistente {e ,
! do !lutor, deve ser Numa
do Ministro Carlos

o ler1110 "inc0l1stitucion'1IícL1c1"H deve ser entendido


1988. Comu
da i\Dln nO 2, firmou no de que Ilorma
anterior n5n ser inconstitucional. Na rCalít!;lde, havendo
conflito entre norma infraconsti tuciollill ,mlerior com o cOnleúllcJ da nova Consti.
tuição o que n'l dou II 111 a Sl~ denomina de inconstítuciollillid"de supcrn:>nicnle.,
ocorre o (enônll:11o da rcvogilçZio

158 LENIU LUIZ STRECK TF.IIlUNi\L DO 159


Em obra recentemente, Arilmís Nassif235 faz coro
co dos discursos Na que os construtores e "o poder
"Certamente, a ainda dos fracos", no capítulo sexto. Com as desigualda-
do sistclI1a do
assistel1te de des principalmente se for levada em conta a elitização
histórica do corpo de
t1 ré J1!CSl110
/v1 iii ístàio
Dito de outro , os antecedentes

7 rio do !lutor" sobre as pessoas.


,lu Trib1lno! do Júri como (1 lllilioria dos acu c;;ld\7s é das
ou m - () Glll',ldas menos favorecidas da , estarão em uma \'er-
Joio n:ímillo:o , _ Através de quesitos; respon- dddeJra em <lOS seus julgadores. É i

dem se o reu e ou nilO ,. crinie. importante, em ressaltar, nesse aspecto, que a dinâmica do ritual do ri propicia a
caso
::>'
de. _ •
il penil e ilp I.1C~'.ri il pe lo 'Juiz-presidente do júri.
L
(1ue a relação do acusado com o mundo lhe tomada, afastada e
I Ol tanto, n<lO deverlil kr (t,mt<l) mrJuência, em sede de mento 'transformada pelos agentes legais. Daí lia sua relação, pessoal e
.,. j l ' " 1, r '] J, I' •• ' .
I ' elL"', , ' .• ",on"
• I
I (OS é1nteced '111 •. d', infinit"mulle sofre ,1 de um aDi1rilfO externo
• , 'S'l ./ . l. .e,'; ,
d( l .. LC ir de base do scrvir,'í de: mediador entre seus iltos c , I S ' sociais
Pellal.
. criou" cI illforma] entre o "d tu:;
to. ,do fato" e o "direitu penal do autor", com predominância para di r seu no. Sc: ele for um ln1ba!hador assalaria-
deste ,~tlt~mo, ou seja, acusa-se e defende-se o indivíduo não pelo do, como o são quase todos os acusados nestes casos, sua alienação
:ato CIlmmoso que cOl.Heteu, mas pelo que ele, efetivamente, repre- é dupla; além de sofrê-la no mercado de trabalho, também,
se:'ta l:a :e~sItura SOCIal, cOI.,forme tií delineado no capítulo sexto, "estranhildo" do controle do seu passado, de St1a história, seus
motivos e sua situação, sendo redefinidos a partir de interesses que
ltem6.4. Esse tIpO de procedImento e exercitado exatamente porque
o ~lrelto Penal e o Processual Penal estão inseridos em uma não são os seus. "239
sOCledade desigual, na qual, se o tiver Não é demais lembrar, a propósito, o dizer de um dos expoen-
conduta ílilmda, etc., enfil/l, se se cll!)lIadmr denlro dos tes da dogmática penill, Magalhães Noronha 240 , para quem, na
dc 1l0rllll7!/(lade das camadas terlÍ IIll1íofi"S 237 Cfc. Ferrajoli, Dcrecho II RIlZÓll, op. cit.
ser do que alguélll f ido 011 COl110 desvioufc. 238 Várias de âmbito nacional têm demonstr3do esse proble-
O que se faz é enquadrar os acusados dentro das regras 1113, Outra restrita ao Estado do Rio Grande do Su 1, retrata as caracterís-
idealizadas e comprov<1r sua maior ou mell())' ticas das pessoas presas no Estado nos últimos dez anos, coníorme o tipo de delito
a elas. Do cometido. Com l'xccção aos delitos de tóxico, e estdionato, os
sucesso de tal operação v<1i depender a ou a demais (lesões homicídio, furtos e
dos ,acusados l;~ júri, no qual o que se pune é a conduta social do m~inrjil, JIlillbbetos ou
aC~lsado e da vltIma, e não o crime cometido 2 ·l6 . O resultêldo :I' A
ferlet" d' .. C ISSO se L

.' c, e, . nos d atores jurídicos A violência e


~t~~ll1~I~O fnbunal do Júri, tema já trabalhado no contexto
N {1

Secretaria Püblíca RS.


Nassif, op. cit, p. 101.
235 Cfe. 239 Cfe. Correa, op. cit., p. 303,
Consultdl' Correa, op. cit., p ..'\01. 2{0 Cfe. Noronha, E. de CW50 de Direito Processual Penal. 14' ed. São
Paulo, Saraiva, 1982, p. 23B.
160 lUIZSTRFCK
TRlBUNAL DO 161
o júri é facilmente desvirtuado: que mIo que defendem essa tese sustentam. o debate em
tem sido instrulllento muito poucas vários Um deles provém do exame dos anais da Assem-
Ilwdo de boa bléia Constituinte. Com
cOl/delIoelo por de. / 11110 (/ n;lI qUi' que levou o
}- o Dr. Cicf't11lo ele".
l)i'ltnmo, soberilni a dos salvo
,nda reflexão sobre dicotomia dos autos". Tall'menda foi
"direito do f c;oberania [ot<l] do jtiri.
Também é relevante lembr:u o dizr;r de Feu
dns ou i1
do discurso
discurso da defesa.
examinar se esse
7.2.9. A soberania dos ncredielos (' o
Com o advento da Constitu a polé- sustenta Feu
de recorrer-se ou n50 dos resulta- introdução da prerrogativa de soberanin pela Carta de
de! nuem cio Código de Processo
rcLüivns ao rr:CU ,lo júri que vediam )1,1
fel la va nl ('111

relativamentl~
;\ soberania dos vere- ele St:us d (1S
dictos, que ali se inserira peja vez primeira, inovando no contexto constituintes, popular. Só élS Cunsti
das cartas constituciona is republicRnas de 1891 e de 1 que autoritárias, outorgadas pelos regimes de exceç50, podaram do júri
apenas declaravmn que era "mantida a instituição do júri", enquan- sua soberania ... Ou, interpretações jurisprudenciais como aquelas
to a de 1937 se fez simplesnlente omissa a respeito. Reanima-se, havidas no ocaso da vigência da Constítuição de 1946. Assim, ao
destarte, a: tese de que, soberano o veredicto dos jurados, torna-se reafirmar a soberania dos veredictos, o constituinte de 1988 enter-
impossível, eH, grau de apelação, a sua reapreciação. rou de vez os resquícios do Estado Novo, const,:mtes do Código de
------ Processo Penal, tarefa na qual o constituinte de 1946 não logrou
241 Por ocasião do assim chamudo júri dos "colonos sem-lerra" rca liz<ldo cm
dadas as interpretações abusivas. Concluindo, assevera o
de 1992, em Porto a presença dCSSél temática. Em 19')0,
centenas de sem-terra acampar'llll l'fl1 frente 'lO l'aL'ício do Coverno autor que "não é soberana a decisão sujeita à revisão. Assim,
Est'lducll. Houve conflito, resullcHldn a morte de um militar. Seis colonos revogado pela nova Carta, o fundamento de recurso previsto
foram acusados da morte, resultando todos O Movimento no 593, III, d, do Código de Processo Penal".
dos Sem-Terra umi1 not" ressilltilndo Contrariamente a tudo isso, quem ataca a tese se sustenta no
Porto não foi o
do princípio do "duplo grau de jurisdição". Tubenchlak244 com isso não
rcÍorma concordi1: primeiro, pela razão de não ser o jüri, simplesmente, um
do no bônco dos réus era do Poder Judicíúrio, tanto assim que não se submete ao
Hor'l de 28.6.92). De sorte, !anto a ;}cus~lção COl110 a defcSil
mm os fatos. Por 3 assistência da dcusaçAo crn dcterntinac1u lllcnllcnto r 242 Cfe. Tuhenchbk, James. Soberimia cios veredictos do inconsti tuciona Iídil-
de dedo cm riste, cm {rente ilO "cusado, disse: "Com carinhil de de dl' reCllrso vl'rsando o mérito. 111: Livro de Estudos n.4. Rio de Janeiro,
de e lá fora foi um leão, vem mentir Pilril nós. Mentir como se 1992, 226.
C0111 ceqno se esii "esse llÇl os crre. Nelson de. Soberania do e decisão contrária à prova dos
com seus instrumentus de trabalho" (Zero De ZiutOS. 11/: Livro de Esllldos Jurídicos, n.2. Eio de [EL 1991, p. 400.
que o soldado foi morto com uma foice. ;>i~ Cfe. Tubcnchlak, op. cit., p. 235.

162 LENIO LUIZ STRECK TRl!3UNAL DO Júm 163


da porque os superior, É 11m direito que assiste às mormente ao réu.
diferenciam-se dos juízes Se existe lima garantia de acesso à justiça e duplo grau de
síonais atrelados ao chamado livre so/l qllal negá-lo 110 âmbito dos
convencimento ou racional. O que cOl11al1CÜl seus votos é IIlClItos do Júri? O que dizer de como o de Rainha
a ÍntimZl nâo hZlvcndo razão se discutir ou examinar ocorrido no Estado do
c muito menos caSS,ll" o veredicto baseado no sentimento
com todas as 7.2,10. Crimes de friÍusito e o
O trânsito mata mutila mnis guerras. Njo é temerário
O ao enfrcnL:n a ma afirmar que o trânsito brasileiro virou uma batalha. Dentre os
o advento da nova decidiu v"írios fatores que contribuem p:1r<:l estô o da
no sentido de que "não fere a de delito, Isto gera
soberania dos veredictos do Tribullill do Júri (CF, art. 5º , ocorrem casos
o cabimento da contra suas decisões por se mostrarem cresce dia-a-dia a tendência em
manifestamente contníri"s ,'IS provas dos autos , art lU, d)" enquadrar os autores de crimes de trtinsito no dolo evcntuaF·js.
Como é sabido, o Código Penal estipula dois tipos de crimes: o
sustentei nas edições anteriores,245 doloso e o culposo. Assim, quer o resultado ou assume o risco
dccisilcS do Trihulla! do Júri, tal como de ro, sendo que, que
por

llOnna"j sendo que .'1111 nonflt! ['S !lu/do Ilficnfnl:5 no ~;('fl rtyltlnfjida y fralda
e se levarrnos em linha de con la que o mesmo 1111 presente donde III/ de IllOstrnr virluillidndcs. Es entonccs
reformar a decisão dos jurados, mas tão-somente provocar outra cuando ser,í en 'su' sentido", Cíe. Fernández-Largo, Antonio Osuna,
decisão do Tribunal Popular, descabendo nova apelação pela mes- La hel'lllClléutictl de Clldt1llle!', V;dladolid, Universidad
de Villladotid, 88 e 98, Desse lIlodo, perglll1tal' acerca do
ma hipótese de cabimento, verificarnos ínexistir violaçâo à sobera- contrlÍrio" é COl1l0 o COI/ceifo de
nia do júri, Illi1S apellas um mecnllÍslllo de provocar U/I1 novo julgamento jusfil C!lIISil, dCIi/Ocmcia,
por este II/esmo Tribunal do Júri, em busca de maior segurança em face cante fundante, ou ilcredilal' em verdades apofânticils .. ,
de crimes e penas tão graves"24 ó • assunto, ver Streck, Hermenêutica Jurídica E(m) crise, op.cit.
248 Várias decisões podem ser arroladas, as quais, ii evidência,
É evidente que a tese acerca da não-recorrebilidade contém do contexto fálico do qual
(fortes) atrativos. Tal tese reforça a soberania do júri, ,únda que de dois ciclistas, DenlÍllcia por
aparentemente. Porém, elll Lima perspectiva ;;Ulri11ltísta do processo penal, da dClllÍllciâ" o' 121, § 3Q, do
não há como evitar que as lias de serell/ de '1 noite, em uma curva para
contrárias às provas do autos 247 , venham a ser revistas na instâncía Fê-lo em local que sinalizado com faixas amarelas contínuas,
Colhendo e tirando a vida ii dois ciclistas, os
245A tese foi sustentada nas duas desta obra. em que ia, <1 aç50 do
246Oe. Jardim, op, dt, p. 336,
247 É dissertar acerca da (excessiva) textura ilberta da expressão consta tilçZío para
contrária ii prova dos ilutos", Em termos de hermenêutica como crimes dolosos contra a vid,l, vale dizer,
é inexor'1vel que isso ocorra, Como bem diz Orlandí, Jl, 686053257 - Frederico 1\S" "IfOlllicidio,
sentido, é delimitar domínios, é construir sítios de dolo eventual em homicídio (lU lesão
p, O disCl/rso Editora Pontes, 1993, Para tanto, automotor. Ni'w é ínsita aos delitos com veículos a
pretender estar frente ai texto normativo libre de precoJ1lpren- que se forma dolosa do fato que agt'nte tenha o
siones, pues elJo i1 estar fuera la historia y ahacer cnmudccer i1 la resultado, não visado. [ .. ,] Recurso crime]1, 27,268 Canoas, RS",

LENIQ STRECK TRIBUNAL DO


mas a atitude mental do agente em face de sua Nfio se resolverá o problema do transito mediante o "enqua-
"A do dolo eventual é extrematl1ente dramento" dos infr;)tores no dolo eventual. A discussiío do dolo é
dificuldade para Zl di do no direito sZio
. O que é assumir

é consentir
a ocorrer"25ll.
ra do dolo eventual niío deve ser [idade admite a existi'llcia de
ou rem io contra a violência no trflnsitü. ta o resultado como muito
como jci dfi rmacio emterÍun1H:nte, n;10 deve ser atua, admitindu ou niío essa
Dito de outro o do hl1VCf3

o autor,
é suficiente
é

CClbo-Ví
240 l'~ra Francisco Assis Toledo, a difC'rença entre dolo eventual e culpa consciente é
Contra a teoria da probabilidade, diz o autor espanhol, afirma-
que nesta o não quer o resultado nem :1ssume o risco de se que deixa em valorar uma parte essenci,l! do dolo: o elemento
sabendo-o acredita sinceramente evitá-lo, o que n?ío acontece volitivo e que, por outra parte, nem sempre a alta probabilidade de
de Gílculo Oll erro de execuç50. III básicos do dirt'ifo Silo Paedo, produçiío de um resultado obriga a imputá-lo a título de dolo
'1984, 218. Cesar Bitencourt, "há O
de observar
(pense-se nas intervenções cirúrgicas de alto
milS confia Assim, MUJ10Z Conde m,mifesta sua preferência pela teoria da
o resultado, vontade, porquanto apesar de ler em conta o elemento volitivo,
delimita com maior nitidez o dolo e a culpa. Inobstante, também
a contra ela se opuserem objeções. Em primeiro lugar, porque presu-
consciente!
é (1 con~ciéncia ;Jcerca
me algo que n~o ocorre na realidade: que o autor supõe o que farÍa,
III; Tcoriil do tldito. P"lllo, RT,19':!7, p. 110. caso o resultado fosse de produção certa. Evidentemente a teuria da
té1mbé'm, T,wares, Jllilrez. Tcorid du ddito. 8;10 Paulo, RT, ·l98.o. vontade se ocupa de confrontar o delinqüente com o
Gastos Jr, José dc. Dulo c\'l'nlllil!, cu conscientc c crimes de este ainda não se tenha produzido! imaginando-o como
tránsito. III: ÁlJcr Ano II, n.3, out/95, 47.
251 SilJU de o fa to b'lsl:.ldos em
te acontecido. Em segundo , porque nem sempre se
r,1cionalidade l11êl!erial 5:l0 demonstrar um querer nem mesmo nos casos em
g.lrantidori1 inclusive. O que ilrlO se pude ndlllilir, sou liI'JlO de' do" o autor um. resultado Cl.~rt().
COl1stJlllciOlll1is, il da meioilolídndc IIliliLrinj in 11l11lbm parlem. o II grau se satisfaz com a representaç~o da necessciria
caso d() costume: é de criar delitos l' aumentar pCll.lS, l1lilS opera
como descriminalizador de (ato na ConsultcH, tanto,
Saio de. A do di,;cursu 252 Cfe, Mui'toz Conclc, Francisco. Teoria Cerni do De/ilo. Tréld. de Jualez Tllvilres
Luiz Prado. Porto F.lbris, I p.60-61.

166 LENIO STRECK TRIl3UNAL DO JÚPI


do resultildo COIlCOlnitzmte. da do
da
Na medida em que a Constituição Federill incluiu o Tribunal do
do Júri no atinente aos direitos e individuais e cc>leti-
dúvida de que ser estendida il

fll laI. em últin\<1 ,llliíl c aVi! do


dolo. Daí a pergun : como da Uelll! mlc se c/a
(ilraclcrísfícn do duloso? de
De' mesma , pJra quem o dolo de que, se cometer um crime doloso contra a
c dcle se !;lL clilro estel a
,lOS crimes dolosos contra a vida.
considerando-se o Tribunill do J ri como um
mecanismo de participação popular - participação essa
que não pode ser meramente retórica - não há qualquer óbice no
sentido de n ordint'írio incluir, no cam de sua Clbran-
nu tros crimes COlllO:
n t'conomia pnpuL! I conforme jii esta Vil
Ll'Í lr 1 como h 11(' novo
eilf C()}L";'dJlíU1C'!{f c(, 'j' ri ieoriu r!(J conscntintcu!(!. do CO]lSlIi1l
considera útil como critério tico identifici!r o crimes de fiscal e os dvmais cometidos contra ()
dolo eventual o princípio denominado por Frank teoria positiva ert'írio püblico r como os de improbidade administrativa (art. 37, § 4ºr
do consentimento. Segundo esse princípio r há dolo eventual qUém- da CF) e os de corrupção.
do o diz a si mesmo: a assim ou de outra !11nneira, suceda (Todos sabemos o grau de lesividade desse tipo de crime. Por
isto ou aquilo, em qualquer caso, agirei". Revela-se, assim r a que não deixar a populaç50 julgar os criminosos do colarinho
indiferença do agente cm relação ao resultado. Outra teoria criada branCOr quc, na maioria das vezes, com uma só ação, prejudiG1lT\
por Frank, cllilmada de teoria hipotéticél do consentimento, di:) conta milhões de pessoas?).
de que haveria dolo eventual quando a são do resultado como c) crimes contra o mcio ambiente.
momento em que esse tema é preocupação de toda a
não impedisse a Essa fórmula foi de séria crítica e
que, por não ver sentado no banco dos
pode ser aceita sem reservaS r alerta () autor. De qualquer
no tribunal popularr o agente pela ambiental?).
conclui o saudoso , u el 17 COIIIO (/ outra,
crimes patrimoniais resultado morte -
para evidenciar o conteúdo
extorstlo e extorstlo mediante
(Ao invés de o criminoso desse
te, por um juiz r dos da
,1trd\'és do júri popular.
bem jurídico, são
que as dos crimes
11ele110 Cláudio. de Dircito Penlll. 15' ed. J\ío de Janciro. crimes contra a vida. Não se
173-174.
através do
óbice de ordem constitucional está sendo rei11izado ou quando o resultado
do Tribunal do e
líder do

C111 risco concreto ou


ou difusos.
antes mesmo advento da
ferrenho crítico da insti
da
cksvincu-

democriÍ e n;10 o
em face da aboliçiío do júri do México, recordou frase que
ficou famosa, pois para cá também valia: "Era un espectáculo, pero
no hacia justicia". .
7.3. Deve o Júri ser extinto? O julgamento por íntima convicção, Conto contraponto, o criminalista paulista Alberto Zachanas
sem a necessidade de justificaçãolfundamentação, é Toron sustenta que o Tribunal do Júri deve ser mantido Porql..le,
compatível com uma garantista do Direito? entre outros benefícios, oxigena a justiça brasileira. Para ele, com
políticrr-ideológicos e formais-instrumentais todos os seus defeitos, o júri popular não encontrou outra institui-
acerca da controvérsia que o pudesse substituir com vantagem. lIá uma crença, diz o
advogado paulista, fortelnentt:Vinspirada pelo positivismo jurídico,
A acerca di1 ou extinção do júri vem de segundo a qual os juízes de carrcint, isto é, os cursaram
anos. Scguid a l1len te vol ti! i-l mormente ql1i1ndo a faculdades de Direito e se submeteram a concurso reahzam
207 Consultar Folllll dr Silo Plilllo, :'11.05.97, 1'.1-:1.
De] À evidênciél. existem inúmeros escritos
do Tribullill do Júri do r. O

pro-

Tríbunill cio us
d,:litos cometidos por no exercício de seus Glrgus, outros, todos, a favor ou contra,
(onlr,) :1 honr<1, a !ib<'nLlde e a segurança. e deli!os de incêlldios

170 LENIO TfW3UNAL DO 171


melhor a t;:uefa de a como se estivessem eles - a favor e contra o júri serão encontrados nos mais
influência de critérios ideológicos ou variados setores da dogmática jurídica e dos engajados nas
os casos. ESSil crença faz com diversas teorias críticas do Direito. Deve ficar c/lira tlldo o
n50 se faz Pilra dito nesta o/na dll de do ser 11111
C0111 incomum reitera- COI/linho parti a
é da lei. Como bem aleria Nassif2~'J,
o o mundo. que os
·;lern l,l-lo por
cm. referir
do seu convencirnento enl termos de incluído como
fundamentais na
absolutamente fora de

De ludo /llOdo, toda essa disClISSI70 l1i70 teria selltido sem 17 necesstÍria
crítica 110 TriLnllwl do Júri elll seus e da
da confissão urgente necessidade da 1105 seus fornwís-estruturois,
comum, que levil em advertindo-se o leitor para o fato de que a separaçi10 entre "aspectos
dados 11:30 liC:ccSSi.lriiJ- c "formais-estruturais" tem sorllcnte U111 car,1-
isto Olmo normils disci-

r d
Stll'Í;l is.
Por ou r(} Zlcn2Sl.enta hei uma trama in Uva do fazem as COJ
em torno das p.rovas, de tal modo que, e de acordo com a capacida- desenvolvidas pelos cultores das clenciilS jurídicas,
de. argumentiltlv~ de promotores e advogados, a aquiescência dos quase sempre ilrtlficiilis, que contribuem para institucionalizar o
J_~llzes popu!ar~s.e obtIda p.or meio da mobilizaç50 de seu imaginá- saber enquanto instrumento de dominaç50 26o .
110. O Jllr! e cntIcado por ISSO. Porém, argumenta Toron, também Nesse sentido, e correndo o risco de pesadas críticas, chamo a
nos processos desenvolvidos sem a oralidade dos profissionais o atenção da comunidade jurídica acerca daquilo que pode ser consi-
mesmo ocorrer - isto t', aquele mais bem preparado derado o "calcanhar de Aquiles" do Tribunal do Júri, no confronto
reu!lir mais provas, mais e melhores argumentos e, com o garantisI1lo jurídico. Refiro-me ao falo de o j/lrado decidir por
enhm, mais força a sua íntilllo sem a de justifico/' seu voto. O modelo de
_ arremata, o direito comumente apresenta questôes Estado Democrático de Direito, garantista e secularizado,
cuja resoluça~) encontra eco não na d tiCél, mas na cultura de cO!1til1uar a conviva com tos 1105 quais lIi'io liilja a
. E aí que o povo, no de o jllstifícaçi'io/julld{llllel1taçi'io. Entretanto, trata-se de um proble-
r teses inovadoras ma de difícil soluç50, uma vez que a Constituição estabelece a
diversa (pense-se no garantia do "sigilo das , o que implica a impossibilidade
nos na defesa, bani imediata de qualquer tentativa de introduzir outros modelos de
nos casos dos assim julgamento popular, como, por exemplo, o escabinato francês ou o
por tude do português ou até mesmo uma das fórmulas tradicionais
do júri americilno ou inglês, discutem entre
259 Cfe. Nà5sif, op. cit., p. 158.
260 Nesse sentido, ver Karan, op. cit, p. I D.

TRlllUN;\L DO ICml 173


consenso. De qualquer sorte, parece uma crítica ao saber
ser tiradas do escabínato conforme deli- mírio que pernleia a
(item 4.1 Note-se a soberania to discurso
no onde ó o O discurso
c a forma de seu a SI mesmo
do do do

constitllciOilal !lesse sentido lenha (/


viola!" I1S c!;íusulos Com ef eral estabe-
de emendas tendentes ,1 abolir gara!lticls. o que
ser extinto é o Tribunal do Júri e nem.c1 soberania de seus
Obserw:-se que; na Françil e em nada do que foi
discutido nZ1 sala secreta ser revelado. J fá a garZ1ntia do
A sala é secreta. Com uma illteração visasse a rnodificar o
com maior ou menor intensidade, de
continuaria ]"(1

c\)Jlsti tuciond I

j1í ,1
no demandns lIdicidis ti11ltes de uma
usta, na qual, mente, a cacb dia o cidadão perde, Cor tez Editora/CEDES, n.5,
a pouco, o que resta de sua capacidade de indignação. Ocve, Lefort, para um,) das
arejado, democratizlldo. A mitificação simbólico consiste em pilssa r do de ao
tualística do júri, historicamente, tcm como resultado a supressão detectar os momentos pelos ocorre o
de ml1 por quando o discurso da
simbólica da autonomia dos sujcítos/atores jurídicos/sociais, cons- soci<ll se tornou realmente em virtude da divisão SOCIal,
truindo um imaginário cocrcitivo, no interior do os conflitos um discurso sobre a llllidacl,'; gu"ndo o discurso da loucura tem que ser
são resolvidos através de silenciado, em seu surge um discurso sobre a loucura;_ onde não _ " haver
lima das realirfadcs e não 17 um discurso da surge Ulll outro sobre a revoluçao; <lI! n<1O

em si mesma. O bem como as dellli/is haver o discurso da mulher surge UlJl dicurso sobre iJ molheI' etc), A _
entre duas formas ue~ d·I S. -C U l S O '1ue 'lue.tendelJlo~
_
exanlÍ!lfldo 110 cOllte:rto de 1I1Jll1 sociedade cm cri:'ic. a não diferenciar muito: () O conheCimento e a
No final de contas, como muito bem diz intelectual de um cel'to
perguntar se, no nlOmento de ser examinada pelo isto é, como fatos ou como idéias.
é trabalho de reflexiío csforç,' P'Wil eJevilr lima (niío
não se viu substituídn por um certo arranjo de Ulll
acolhendo i1
nham a crise em um modclo r .. ] o que
da dos
rem como racional ou, caso eles não () voltar-se sobre si mesm;l e
non,e destél mesma racionéllidàde il cristalizar-se no discurso sobre; o
quem sélbe, já
nos reC1!Sor 17 aceitar ('ssa nada
se para a busca para ser visto,
261 Cfe. Arnaud, op. cil., p. 179 e 180.

TRmUNAL DO
174 LENTO LUIZ STRECK
AdL'od~l [O, ] (1<10
IVfaurfcio.
entrevista.
Roberto A. R. de. dilllé!ícll. São Paulo:
1982.
Alves, Isidoro. li Canlllml depulo. Vozes, 1980.
Alves, Rubem. da Ciêncin. S50 Paulo: f)ri1silicnse, 1984,
Arnaud, Amlre-Jeal1, li Direito traídu Trad, de vVanda de Lemos
C c I,l!l~!~I!lO ()liveira. Porto 199i
AtTlld~1 Jf, LirT10:. l~!(!b(lliz(lci(ln n('tl!ibt~r{ll dêrc'chu: ltLs tr:nl1}1ds di": Li
de rr~iCn\dCit,q\lll d~, /\neblucid.
dJción 1996.
Assis! i'\Jelsoll de, Sobcrdnld du jlíri c II prO"d do;;;; au\(
11/: Liuo de fstliLios 11,2. l~in de Jal1l'iru: lFi, 19')[
Azevedo, Thales de, Os umsilciros: estlldos de carâtcr IIOC;011l11, Salvador: Centro
Editorial e Didático da UNB, 1981.
Garatta, Alcssandro, crítica c crítica do dírcilo pCllol, Trad, Juarez Círino
dos Santos. I;;io de Janeiro: 1997,
I3arcl, Y. Ln uiVili/ls, im'lIr;lIlIcc cf Paris:

Barros, Antonio Milton, A defesa do acus3do c sua


111: l\cl'isla Brasileira de CifllCil1s Criminais, n.
Revista dos Tribunais, 1996,
Barlhes, Roland, Trad, de RiLl e Pedro de Souza, São
PalIlo: DifeI, 1'187,
de. Dolo Cll(!fJlunl f CO!lsóente e crilnes de trânsito, ln:
n,3,outí95,
crítica (w Direito FC/IIIl brasileiro. !;:io de Jimeiro: Revi1n, 1990,
Luckman, 1'. The Social Construclíon of A treatise ín lhe
Nc\v York: Anchor Books, 1967.
Bilencourt, Cesar R. Liç,'ics de Direi/o PelIn/. Porto Livri1l'ia do
1996,
do dclíto, Silo Paulo: RT, 1997
Bonavidcs, Paulo, Direito COi/si ii ({dol/o/. São Paulo: Ma Ihcíros, 1996,
Bonfim, Edilson júri - do no São Paulo: S<lraiva, 1994,

TRlBliNAL DO
Bourdicu, Pierre, A CCO!lOlll1Ú das lrocas São Paulo: USP, 1996. 2" cd. Trad. de Cabral. São Paulo: Mestre
III/rodl/çilo ii
de Rio de Jal1l'iro: Marco ZPro,19S:".
c/l'llicllfos pl/m Illllil teoria do síst,'1I1fl de Estado DClIiOcnÍI ice de Direi!,). Porto l,ivrari<:1
1')75.
(' íiJ/f,71J[Cn/o. 1{10 de /\'1t 1rlc CI1I
l.meiro: Ed. Cr,;,ll, 1()í>:'>.,
/\lN íCOAD, (ri!llt':~ dr;

Dd til, Robert\1,
Porto CIlnJOt1nis, u;!?!nlldro5 heróis. Rio de j,lllCi
ln.' Direi/o
t'conr1mict! - SJo
Paulo: f'vÍtllhe'lros "1996. f

tJuttL Renê j\ricL

A crinzinnl brfl:~í!cirf7 di ÚS fnzôcs


do dc,;cri!l!ino!i2ilçlio. de Janeiro: Luam, 1996.
-----. Pt'UIi c C.'irrn:fio5: UUlfl leitufa do xriro/lfisnl() de
l.

Castelo Branco, Vitorino Prata. O oml. São Paulo: Escóssiil, Fern:ll1c1<I dil. marcam sentença de Rainhi1' e tên1
Lítertírias, 1977. com donos de terra". di' SilO Pou/o, 22.06.97.
Castilho, Ela Volkmer de. O control,' pellal dos crimes contra o sislclIlll Faria, ,los(; EduMdo. Direito c cCOIlOIlJin llil dell/oeml
UFSC, Tese de Doutorildo. Ihciros, 1993.
da sociedadt'. Trad. de n/lcl'I/Ilfi1'lls. Grilsília: Conselho

lllririlllo II - () domínio da h111l1CIIJ. Trad. de José Oscilr de dC!!iocnítíca. Rio dc Jimeil'O: Cr?lill, 1984.
!\io de Janeiro: Paz e Terra, 1987. /1 Filbris, '1987.
Cenevi\'a, \V:lller. Limites di'! Follio de Siío Paulo, 6.9.97. jllS! IÇO C
Filho, (;15iÍlio; Nedcr, Cizlene. Bmsíl: violência e 110 Clob:llivçâo e dire'itos hUl1ul1os. Til. .111'(1'10. de' Pc1U!U,
Fabris, 1987. p. A-l, li out 97.
Chauí, j\·1arilellil (1tc SOUSil. Cliltll!'il c dl'lllOcl'IlCÍa: o discurso cOlllpe!el/te c outros Luigi. Dcrcc!1O 1/ !\n:tÍlI. j\,1;;tlricl: Trotil, lY95.
cd. S50 Paulo: Moderna, I . E1 EsL1dn COI1StitllCio!1,ll de D('rcchn ln IlJil1lCZ, Andrés .
e ed Ed1!c.l(i70 c Sociedade. COI'tez Editora/CEDES, n.5, cir'l11 y E'~t,ldrl de J)erl,dw. EI dr) Iii ru Tr()lla, í ()96.
tlrdsi1eiro. S~() Paulo: SiHaiva, 1986. ~---. () lJirl'110 C0l110 sistema de José
Cleve, Clemerson lVlerlin. A teori:1 constituciunal o direito alterniltivo A]cebiaiks eh- Olivcira rr
III Direil(l al!cmativo. Note criticlw cd Autocrilíclw lntorno al1:; Díscussione StI DiriUo e
il1 L Lc dei Cdl'ilntismo. Torino:
J99l
F,'rr«z Jr., T ércin fUl1ç/ío soeio] du SJO Paulo: Ed. RevisLl

dos Tribul1i1
Teoria gcrnl d" crime. 1'01'10 Filbris, 1991. -. JII!I'Ot!IIÇtIO {/O estudo do Dil'i'ilo. Silo Paulo: Alb:;, lC)fN.

178 LENIO LUlzsmECK TWliUNAL DO 179


Social Cohcsíon i11 th(, Hinterla nd of the Gold São Paulo: [)ookscller, 1997,
11,38,193{" A instituição do
rOllC<1U 1t,
I'v! ichel. Ramalho, Subsídios para pensilr il
, Trild, de Roberto !vtachado, Rio de Janeiro:
Gra.,l, 1982, ln: Direito c IIcoJilJCralislJl(), Elementos
[lelcllo CLiudío, Filho, Ramalho dlllii,
de !)ircito Pt'lin!. 1 cd, Rio d(~ JalleirO I forense,

cd, I1ra"ílid: LJN13, 196::3,


1 )76,
'
Codc-

i7f':criorodn. Trdd.
'j978. Julio f,ü1hrini, Processo Pc!:nl. S:10 Pilulo: Atlas, i991,
-'~-~~.1\:1nlíunl de IJircifo I J eu:7L S:10 Paulo: i9S0.
Montali n c:::-f:ufo d!? tio C/fi Sl1llft7 Cru:: do Sul.
SrI!/til Cril: do CEIWAP, ICJS7,
Luis BO!Z(ll1 de. Do Dílt'do Sociflll1os rllft'rt'~,<:;cs TrrulsÍllâizJÍduois. Porto
Llvraria do 1996,
Muftoz Conde, Francisco, Teoria Gemi do Deliro, Trad, de JUill'CZ Tavares e Luiz
Prado, Porto Fabris, 1988,
['()rto Lin;;rin do

FOrl'n~Cf 19:1\),
],lrdím, /\1'1';'\1110 Sih',1. Dircilc) Processl/al fJl'IlI7!, ed, Silo 1\1\110: S,lr,livJ [987 Nicola, D:luielt1 Ribeiro lv1end('s. Fstruturn do l)irciin 11;1

Jesus, Damásio de, Direifo PeUrI!, S50 f',Hllo: 1985, ' dade, ln Pilrlldo.Yos da !,CI'cursos da IC(lj'in
fJCIlI/! A lIofl7do, Silo f'a u lo: Sa f'a í va, 1993, Curitíba: JM Editora, 1997,
de Proc<:sso Pellol COliltlllodo, SJO PJL!lO: Saraiva, 1986. Noronha, E, Direito PCl1al, São Paulo: S3rai\'il, 1985,

, 0" apl/d GLléHcschi, Pedrinho A, Sem dinheiro n50 h,í S,l ancor,llldo - - , ClIrso de Direito Procc5slIill PClJal. 14' ed, São Paulo: Saraiva, 1982,
o IJl'1ll e o mJI cntre llcopentecostilis, 111, '['<,:tios cm J'eprc,,;clllaçõcs sociais. Nucci, Guilherme ele Souza, Tlíri, COl1stituciol1ais, São Pilulo: ]uarez de
115: Vozes, 199..(, Olivei ra, 1999,
Karan, Milri,l LCÍt:ia, De crimes, p<'IIr/S c Rio ele> Janeiro: Luarn, 1991. Nunes, Eunice, "Reforma colhi] de retalhos", 111: Folha de Siío
Kosik, KareJ. DinlaiclI do cOllcrelo. T ril d . ue
j C"J'
l' Iii
N''e\'es e A ldcrico Torfbio, Rio de Paulo, 26,U7,97, 3-2,
Jilncíro: 1'\17: e Terra, 1970.
Oliveira, Edmundo, "O Tribun,ll do da
LCilCh. de !a Unidos", III: TrilJllllnl di Júri -
Fd, Seix BalTal, 1971.'
Lilcan, () SelllilltÍrio, Livro 2, Rio de Janeiro: Zahar, 1995. I'msilcira, Silo l';mlo: ET,1999, p. 103.
Leite, Di1!lte Iv!meirJ. () carlÍ/cr I1I1Cio1l1l1 bra"ilciro: história di' lIlIlil Orlandi, Eni p, O discurso Editora Pontes, '1993,
Paulo: 1976, ed.Soo
Ossowski, Slimisl,lw, Eslrullll'll dc c/as",,:, !la collscifllcill social. Trad, de AffollSO
JS Escola de Samba, lWual c Sociedade, [978. cd, Rio de Janeiro: Zahar, 1976,
" lVbr(~c~hIS Polaslri, A Jssistência ilo. Ministério PlÍbJico e il "A violência e il Crimin:di(ü1de no Rio Grande do Sul", UFRGS l' Secre-
dc
1988, ln. "I[!iO de L,fudos f!índlcos, n.3, 1~1O de hl1wiro: fEL 1991. [Mi;, d;} PllbJica RS, iII: Zcro 110m, 8.9,97,
c Silva, Evandro, A
1980, Pinto, Emerson de Lima, A C:rilllÍllofidade [WI1Ôlllico·TrilJflfiÍria: ii (dcs)ordclil do lei c
Nicklils,
lei do Idcs!ordclI1, Porto
17 Livraria do 2001
Curie· Real. Brilsília:
Poulrlntzas, Nico:;, Poder e c/Ilsses sociais, Siío Paulo: 1\1artins Fontes, 1977,
Co II 10
[(1 II lU !lCliSl7r, Rio de Janeiro: Científica Zuleta. iII Teoria III Al1l1l1rio de
lJ S(lciol, Bu('nos
LENlO
TRIIlUNAL DO
Ramos filho, Wilson, Direito caos cri,ltivo e neolíbcl'0lismo, III: Di- SUi1nnes, AdilutO, E COII/O il COJ1sliflliçJlo? Boletim lBCCrim n57-
Í\'til rq ues Filho, Tavares, JUilrcz. Teoria do delito. Varillç(ics c telldências. S50 Paulo: RT, 1980,
Teixeira, i\lves, Vcsli/Jular: rillla/ de 011 lNlrreira rilllo/bltla? CÚ'/lcia
!\clotôria ,oh'c li
ClIlIlIm, ['".-to un~cs,
Vieira; Jus6, Tl'orill do ---. A dinlCJL'::'rlO rifli;ll dd."::
Fib;.::iro i'Jt:Ln, /\rrllr Vio!['lIci"
j\dufo. I\luJo lU 111,110
y

rc:d(\dO f
1984,
UNISINOS, I')'!'!
Nilo, Júri, li Rio de TanC'lro: i\ide, ]\/96.
TubcllChLlk Jí'!!lH.'S. Tl'ilJuJlal do Júri - (ou! )'ndiçúcs c :;-;OlIlÇ(k,l~. Rio de J~111l'iro: Fon::llsc,
l<J<JL
-. SohcrnníZl dos veredictos dn ri: incotlstituciuníllicL.lde de recurso \'l'rsilndu
R,y;s, ;\IL Fudeb'l, 1963, o mérito. III: l.í,,/'O de Esludo,; nA, Hin de J,1llciro: IE!, [<J92,
Ru,j; Julio Cl:cLL deI acrt'c!io<
Fl/l'l1ft;; Alwledn-Perrot, 197 j.
ri/I/o!: c.slruillrll c ill/li·csiruturtL Trilei. de
S~1ntus~ }l1ilCêZ Cirjno dos. Vozcs,1974.
ScrcnvÍch, A, El dié'cllrso, cJ Buenos Aires: Nucva III lIilliJisl!1O lj 1u-'nllc1Iculim ,'11 III c/llIl/l'Il

\fieil ;1, ()SC-lt' Vilhl:lld. f'Jeol ibc l;slnn E~",LH.ln de r)irc!:, ln: J\('ri.c:ltl J)rnsilt'ÍliI
Ci['i.'cirls Crinliuais 1'1, L·i:- 11 /9(). Soo r1d ldo: L:~d. t~:ev isL] Trihu n~l is, l ~)C)6.
ZaffarDni, n~s socieebdes democráticas, fil
Fascículos Pellllis, v.2. Porto Fabris, 1988,
-~-, Reincidência: UIll conceito do direito ilutoriUírio. III: Livro de ES/lldos
Jurídicos n. 3, R], lEI, 1991.
li dace/IOS IWlllr1110S 1'11 A/I/érierl Lol illo
Rodolfo, Estrulllrll de classes c social. Rio de falleiro:
d(l flls/illllo Jnlcríllllcricrillo de Direi/os Hl/mol1os,
1986,
Stein, Ernildo. Dialética e Hemlenéutici1: Ulll,l cOlltrovérsia sobre método cm filo-
sofia, [11 Habcrmas, Dia/éliel! I' hcrlllCII,'lIficií. Para UIllZl crítica di] hntnc- o sulJliulc dll Rio de ] ,1J1ei ro:
néutiCil de C;,ldamcr. Porto L& f'fv1, 1'JB/.
--~, UI/I I1lI7jla da id,'ología, Zize Trad, Vera Ribeiro. Riu de Janeiro:
L&P1'vl, 1988.
19%,
III: Correa, l';!;niZ;1. lVlorl<: Clil
de j,\lwiro: Crilil!. ]')1)3, W,lrilt, Luís Alberto, () direito c Sllil

Sjreck, Lenio Luiz. líCl!llCIICuficiI Jllrídim dlll) Cri.'c, !lll/O Mllos c Icorinó 1111 da lei.
cOl1slmç,;o do Direito, 2" cd, Podo LiVl'ilria tiu Silo !'ilU!O: AClClêmicil, [<Jtl8.
(' Iicrll/ellÍ'lIfico. Ci1derl111o de U l1i~itlOS, EI i:udim de lus senderos que 5e bifurcan, ln l~cuist[J Coul 4/5.
19')7, FlSC/ALMED, v.2, 19t15,
SÚi1IlIJrlS !lO direito lnllsilcim: 110 Dil-cifo I. Porto f'ilbris, 1994,
ao DircÍto II. I)orto Fa bris, 1 'J95
do Estado Dl'l1locrc1tico no Direito II/. Porto F,lbris, 1996,
A sociedade, II 1'iO/"I1Cill e ()
.._-; Cunha, Ens::l M, Ellsino e 511/'1'1' Rio de ]dlwirn: Eldor~do 1'J77.
PorIa

182 LENIO J .U1Z STRECK TRIBUNAL DO 183


j

Você também pode gostar