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ASPECTOS LEGAIS SOBRE O CORTE DE ÁGUA

As Assembleias e a Convenção estabelecem as normas que determinam o modo


de usar as coisas e serviços comuns, estabelecendo o comprometimento da
coletividade, por meio de uma escritura pública, de quitar as despesas referentes
à sua quota-parte nas despesas do Condomínio, dentre as quais, os serviços de
administração, conservação e distribuição de água.

Diante dessa natureza coletiva da relação não se concebe a ideia de se verem em


um patamar mais elevado os condôminos que não honram os seus
compromissos, tendo só direitos e não deveres, em detrimento daqueles que,
mesmo cumprindo regularmente com sua própria quota-parte, passam a ter os
mesmos riscos do condômino faltoso ou arcam, injustificadamente, com a sua
(dele) despesa para ver em regular funcionamento a estrutura de que o outro
também comodamente usufrui.

Ora, a estipulação condominial tem uma natureza de pacto estatutário


estabelecido em função do interesse comum e, como tal, rege-se pelo princípio
geral da boa-fé objetiva – prevista no artigo 422 do Código Civil - que impõe aos
pactuantes os deveres de lealdade, honestidade, retidão, probidade, o respeito e
o cuidado entre si.

E é nesse sentido que se vem orientando a jurisprudência, nas decisões que


envolvem a referida matéria:

AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE -


CONDOMÍNIO - INADIMPLÊNCIA - CORTE
NO FORNECIMENTO DE ÁGUA -
POSSIBILIDADE - POSSE - IMPOSSIBILIDADE
- INTERESSE DA COLETIVIDADE - APELO
ADESIVO - PEDIDO - LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
- NÃO OCORRÊNCIA. A adoção desta
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medida se mostra justa e legal em razão de
não se onerar desnecessariamente toda a
coletividade. Posse é o exercício de um dos
direitos inerentes à propriedade, o modo
pelo qual esta se manifesta. Portanto, se
água é insusceptível de apropriação não há
como se falar em posse ou esbulho. Ainda
mais, que não existe servidão. Se o
interesse em litígio se refere a direitos de
toda coletividade de condôminos ele
deverá prevalecer em prol desta sobre o
interesse do condômino particular, ainda
mais inadimplente confesso. (Ap. n.
1.0188.02.001/001(1)- 5/001(1) – T.
Recursais – TJMG – Relator : Unias Silva –
julgado em 23.03.2006)

A suspensão do fornecimento de água ao condômino inadimplente,


regularmente notificado, não configura abuso de direito, mas sim exercício
regular de um direito calcado na noção de justiça, proporcionalidade e liberdade
de pactuação.

Ademais, exatamente com o intuito de vedar o enriquecimento sem causa na


estrutura da propriedade em Condomínio é que o Código Civil, em seu artigo
1.340, inovou ao estabelecer a responsabilidade discriminada do condômino
sobre despesas relativas a partes comuns de uso exclusivo seu.

Ressaltamos que, diferentemente das áreas comuns que compõem o


Condomínio, ou seja, o direito de propriedade, a água não é fração da
propriedade do condômino. O Condomínio apenas contrata a sua utilização com
autorização da Convenção que lhe deu essa incumbência, precisando do concurso
de todos quanto se interessem por essa utilização para pagar as tarifas
correspondentes.

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“A propósito, a 2ª Turma do eg. STJ, no julgamento do
RESP nº 337.965/MG entendeu que o corte no
fornecimento de água, em decorrência de mora, além
de não malferir o Código do Consumidor, é permitido
pela Lei nº 8.987/95. Portanto, se em relação regida
por concessionárias de serviços públicos regulados
pelo princípio da continuidade, é possível o corte no
fornecimento, quiçá dentro de um Condomínio
residencial. “(Ap. n. 1.0188.02.001/001(1)- 5/001(1) –
T. Recursais – TJMG – Relator : Unias Silva – julgado
em 23.03.2006).

Ora, permitir que quem não contribua continue candidamente a utilizar da água,
a descumprir o que foi expressamente acordado é ir de encontro aos propósitos
legais, ambientais e filosóficos mencionados. É dar prevalência ao interesse
individual em prejuízo do interesse coletivo, notadamente, em se tratando de
uma comunidade restrita de um Condomínio, onde as condições econômicas
estão, de um modo geral, num mesmo patamar, não justificando medidas
protecionistas a uns em detrimento de todos.

CONCLUSÃO:
Desde dado prévio aviso a fim de assegurar ao condômino possibilidade de
sanar seu inadimplemento ou exercitar seu direito de defesa, a suspensão do
fornecimento de água ao condômino inadimplente com as despesas
condominiais é medida legítima e reconhecida pela doutrina e jurisprudência.

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