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Manual de BRT

Bus Rapid Transit


Guia de Planejamento
Dezembro 2008
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Presidente

MINISTÉRIO DAS CIDADES

MARCIO FORTES DE ALMEIDA


Ministro de Estado

ERMÍNIA MARICATO
Ministra Adjunta / Secretária-Executiva
Apresentação
O Ministério das Cidades foi criado em 1° de de transporte e da mobilidade urbana como
janeiro de 2003, conforme previsto no Programa estratégia para a implantação das políticas
de Governo do Presidente Luis Inácio Lula da SeMob, foi establecida parceria com o Institute
Silva, em resposta a um anseio da sociedade for Transport and Development Policy (ITDP)
civil organizada. O Ministério é encarregado para a publicação em língua portuguesa do livro
de políticas para o desenvolvimento das cidades Bus Rapid Transit (BRT), denominado Manual
nas áreas de transporte e mobilidade urbana, de BRT. O objetivo da publicação é contribuir
trânsito, habitação e saneamento, bem como os para o aperfeiçoamento e desenvolvimento dos
programas necessários para a sua execução. recursos humanos responsáveis pelo planeja-
Por meio de suas Secretarias, tem entre suas mento, regulação e gestão do transporte e da
atribuições a elaboração, implantação e realiza- mobilidade urbana, tanto no âmbito municipal
ção de ações voltadas à capacitação de quadros quanto metropolitano.
técnicos e de agentes públicos de governos A tecnologia dos sistemas de transportes com
municipais e estaduais para a gestão eficiente operação exclusiva em corredores de ônibus
das cidades e aglomerados urbanos e regiões (Sistema BRT) proporciona alta qualidade,
metropolitanas. rapidez, conforto e eficiência, com a redução de
A Secretaria Nacional de Transporte e da custos operacionais na infra-estrutura de mobi-
Mobilidade Urbana (SeMob), especifica- lidade e acessibilidade urbana. Pode ser de duas
mente, é responsável por formular e materia- a 20 vezes mais barato do que a de sistemas com
lizar a Política Nacional de Transportes e da capacidade semelhante, como o de veículos leves
Mobilidade Urbana; apoiar o desenvolvimento sobre trilhos (VLT) e, cerca de 100 vezes mais
institucional, regulatório e de gestão de setor; e econômicos do que as tecnologias metroviárias.
coordenar ações para integração das políticas de Os BRTs tiveram por precursoras as cidades de
transporte e da mobilidade urbana e a integra- Curitiba (Brasil) e Bogotá (Colômbia), e estão
ção dessas com as demais políticas de desenvol- implantados em mais de 40 cidades de seis
vimento urbano. continentes.
Considerando essas atribuições e compreen- Marcio Fortes de Almeida
dendo a importância da capacitação no setor Ministro de Estado das Cidades

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Publicado por: Institute for
Transportation & Development Policy
127 W. 26th Street, Suite 1002
New York, NY 10001
USA
mobility@itdp.org
http://www.itdp.org
MINISTÉRIO DAS CIDADES
Desenvolvido com o apoio de: Esplanada dos Ministérios Bloco A
The William and Flora Hewlett Foundation Brasília DF CEP 70050-901
BRASIL
Global Environment Facility /
United Nations Environment Programme Tradução a partir da 3ª. edição
(junho de 2007) do BRT Planning Guide
Deutsche Gesellschaft für
Technische Zusammenarbeit (GTZ) GmbH
Fotos: Capa:
TransMilenio de Bogotá
Editores: Lloyd Wright Foto por Karl Fjellstrom
Researcher / Pesquisador
Contra capa:
Bartlett School of Planning
TransMilenio de Bogotá
University College London
Foto por Lloyd Wright
Walter Hook
Tradução: Arthur Szász
Executive Director / Diretor Executivo
Institute for
Revisão: Lena Aranha
Transportation & Development Policy
Diagramação: Klaus Neumann, SDS, G.C.

Conteúdo: Os editores do Bus Rapid Transport Planning


Guide são responsáveis pelo conteúdo desse
documento.
As organizações patrocinadoras não são
responsáveis por erros ou omissões sobre a
publicação deste documento.

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Manual de BRT
Bus Rapid Transit
Guia de Planejamento
Dezembro 2008

Autores colaboradores:
(em ordem alfabética)

4 César Arias, A & Y Consultores Cia. Ltda.


4 Angélica Castro, TransMilenio S.A.
4 Wagner Colombini Martins, Logit Engenharia Consultoria
4 Paulo Custodio, Public transport consultant
4 Juan Carlos Diaz, Akiris Consultants
4 Karl Fjellstrom,
Institute for Transportation & Development Policy (ITDP)
4 Dario Hidalgo, Booz Allen Hamilton
4 Walter Hook,
Institute for Transportation & Development Policy (ITDP)
4 Michael King, Nelson / Nygaard Consultants
4 Lin Wei, Kunming Urban Transport Institute
4 Todd Litman, Victoria Transport Policy Institute (VTPI)
4 Gerhard Menckhoff, World Bank consultant
4 Peter Midgley, World Bank consultant
4 Carlos F. Pardo,
GTZ Sustainable Urban Transport Project (SUTP)
4 Edgar Enrique Sandoval, Public transport consultant
4 Pedro Szasz, Public transport consultant
4 Geetam Tiwari, Indian Institute of Technology – Delhi
4 Jarko Vlasak, Business strategy consultant
4 Luis (Pilo) Willumsen, Steer Davies Gleave
4 Lloyd Wright, University College London and Viva
4 Sam Zimmerman, The World Bank Group

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Prefácio
“Pela distração vagueamos, pela realização um elemento em um pacote de medidas que
viajamos.” pode transformar cidades em lugares mais
—Hillaire Beloc, escritor, 1870–1953 habitáveis. A integração do BRT com o trans-
O acesso a empregos, educação e serviços porte não-motorizado, políticas de uso do solo
públicos é parte das necessidades fundamentais e medidas de restrição do uso de carros progres-
para o desenvolvimento humano. Um sistema sivas fazem parte de um pacote de sustentabili-
de transporte público eficiente e de preço justo dade que pode servir de base para um ambiente
conecta as pessoas com a vida diária. Muitas urbano saudável e eficiente. Nesse sentido, o
cidades, no entanto, desistiram do verdadeiro BRT representa um pilar em meio a esses esfor-
transporte público, deixando as necessidades de ços para melhorar a qualidade de vida urbana
mobilidade exclusivamente nas mãos de veícu- de todos os segmentos da sociedade e, especial-
los particulares e de operadores de transporte mente, para oferecer maior igualdade entre toda
coletivo, desordenados e sem regulamentação. a população.
Essas cidades estão bastante despreparadas para O Manual de BRT representa o ápice de cinco
as consequências, incluindo sérios congestio- anos de esforços para documentar e aperfeiçoar
namentos, poluição do ar e sonora, acidentes o estado da arte das soluções de transportes de
e perda do senso de comunidade. Um sistema custo eficiente para cidades. O presente docu-
de transporte público de alta qualidade ainda é mento é a terceira edição desse publicação. A
um elemento indispensável no desenvolvimento produção de novas versões em breves intervalos
de uma cidade onde as pessoas e a comunidade é um indicativo da velocidade com que o con-
vêm em primeiro lugar. ceito de BRT cresce e evolui. As duas primeiras
O BUS RAPID TRANSIT (BRT) é cada vez versões foram desenvolvidas por Lloyd Wright
mais reconhecido como uma das soluções mais e publicadas por meio do Projeto de Transporte
eficientes para oferecer serviços de transporte Urbano Sustentável da Agência Alemã para
de alta qualidade a custos eficientes em áreas Cooperação Técnica Mundial (SUTP – GTZ).
urbanas, tanto nos países desenvolvidos quanto Essa nova edição foi expandida para incluir a
em países em desenvolvimento. O aumento da experiência de uma maior gama de profissio-
popularidade do BRT como solução viável para nais que trabalharam diretamente na prática
a mobilidade urbana é enfatizado pelo sucesso da implementação de sistemas. Além disso, à
de implementações pioneiras em cidades como medida que novos projetos foram implementa-
Curitiba, Bogotá e Brisbane. O BRT, ao permi- dos, a base de conhecimento sobre alguns temas,
tir a oferta de uma rede funcional de corredores como desenho de linhas, tecnologia da informa-
de transporte público, conseguiu que até mesmo ção, cobrança de tarifas e veículos, expandiu-se
cidades com pouca renda desenvolvessem um de forma relevante.
sistema de transporte de massas que servisse às Este manual traz primeiro uma visão geral do
necessidades diárias de viagens do público. conceito BRT, incluindo a definição e a evolu-
Entretanto, BRT não diz respeito apenas a ção histórica. O manual prossegue com a descri-
transportar pessoas. Antes, o BRT representa ção, passo a passo, do processo de planejamento

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do BRT. O Manual de BRT abrange seis com- as mais bem-sucedidas aplicações práticas de
ponentes principais: I. Preparação do Projeto; BRT vieram de cidades como Bogotá, Curitiba
II. Projeto Operacional; III. Projeto Físico; IV. e Guayaquil, as nações desenvolvidas têm muito
Integração; V. Plano de Negócios; VI. Avaliação que aprender com o mundo em desenvolvi-
e Implementação. No total, são 20 capítulos mento. Além disso, como a segurança energética
diferentes cobrindo diversos cenários e tópicos e a ameaça da mudança climática se torna-
de planejamento, incluindo comunicações, ram tópicos relevantes que preocupam todas
análise de demanda, planejamento operacional, as nações, oferecer transporte público efetivo
serviço ao usuário, infra-estrutura, integra- deveria ser um objetivo fundamental para todas
ção modal, tecnologia veicular e tecnologia de as cidades, independentemente de sua denomi-
cobrança, estruturas institucionais, custeio, nação econômica.
financiamento, marketing, avaliação, planeja- O BRT sozinho não resolverá a miríade de
mento de construção e contratação. Finalmente, problemas sociais, ambientais e econômicos
essa publicação enumera uma amplitude de que desafiam os centros urbanos mundo afora.
fontes de informação que podem auxiliar a Entretanto, o BRT mostrou ser um catalisa-
cidade em seus esforços para planejar um BRT. dor efetivo na transformação das cidades em
O Manual de BRT foi concebido como um ambientes mais habitáveis e amigáveis. A força
documento para guiar a diversa gama de do BRT reside em sua capacidade de promover
profissionais envolvidos na execução de servi- um sistema de transporte de massa de quali-
ços de transporte público em áreas urbanas. dade que se encaixa no orçamento da maioria
Planejadores públicos e consultores se benefi- dos municípios, mesmo nos de cidade de baixa
ciarão em especial da documentação passo a renda. O BRT provou que a barreira para o
passo do processo de desenvolvimento de BRT. transporte eficiente não depende de um alto
Entretanto, ONGs envolvidas com transpor- custo ou de alta tecnologia. Planejar e imple-
tes, ambiente e desenvolvimento comunitário mentar um bom sistema de BRT não é fácil.
também acharão estas informações úteis na Este manual tem a intenção de tornar a tarefa
realização de seus objetivos. Adicionalmente, um pouco mais fácil. O ingrediente principal,
outros participantes do processo, incluindo entretanto, não é a capacidade técnica: É a von-
organizações empresariais, agências governa- tade política para fazer acontecer.
mentais nacionais e regionais e organizações
Lloyd Wright
de desenvolvimento internacional também são
University College London (UCL) e Viva
parceiros estratégicos que se beneficiarão do
conhecimento da alternativa de BRT. Walter Hook
O Manual de BRT foi originalmente desen- Institute for Transportation & Development
volvido para funcionários públicos em cidades Policy (ITDP)
de nações em desenvolvimento, e a maioria do
conhecimento apresentado aqui foi desenvolvido
nas cidades dessas nações. Dado que, até hoje,

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vi
Agradecimentos informações muito úteis. Além disso, o ex-dire-
A produção deste Manual de BRT se beneficiou tor da TransMilenio, Edgar Enrique Sandoval,
da experiência de cidades e profissionais do aplicou sua experiência para fornecer uma
mundo todo. Sob muitos aspectos, o BRT deve grande variedade de sugestões ao Manual de
sua existência à criatividade e à determinação de BRT. Da mesma forma, Dario Hidalgo, outrora
Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba (Brasil) e vice-diretor da TransMilenio e agora com a
ex-governador do Estado do Paraná. Curitiba foi empresa Booz Allen Hamilton deu assistência
o marco desse primeiro passo vital na compreen- ao fornecer uma grande quantidade de infor-
são de uma visão de oferta de transporte baseada mações, incluindo-se aí ideias brilhantes para o
no usuário. O ex-prefeito Lerner e sua equipe desenvolvimento inicial do projeto.
municipal usaram de bastante criatividade no Pedro Szász, renomado engenheiro de
desenvolvimento de um sistema de “metrô de transportes, que teve papel chave ajudando
superfície”, que precedeu o BRT. TransMilenio alcançar suas inigualáveis capaci-
Posteriormente, a liderança do ex-prefeito de dade e velocidade, contribuiu enormemente para
Bogotá, Enrique Peñalosa, levou ao desenvolvi- as seções sobre operação e projeto. Igualmente,
mento do sistema TransMilenio de Bogotá no as informações e interações constantes com
final da década de 1990. O sistema de Bogotá consultores brasileiros como Wagner Colombini
provou a aplicabilidade de BRT, até mesmo nos (Logit Engenharia), Paulo Custódio e Arthur
cenários urbanos mais extensos e complexos. Szász ofereceram inestimáveis pontos de vista
Além disso, o ex-prefeito Peñalosa se tornou um para este texto.
embaixador mundial do transporte sustentável.
César Arias, que atuou em papel chave no desen-
Juntas, as histórias de Curitiba e de Bogotá
volvimento do sistema BRT de Quito e agora
são hoje a base para que mais e mais cidades se
engajem na transformação urbana conduzida faz o mesmo na cidade de Guayaquil, ofereceu
pelo BRT e por um pacote de outras medidas informações sobre o desenvolvimento de BRT
para o transporte sustentável. nessas cidades. Da mesma maneira, Hidalgo
Nuñez e Cecilia Rodriguez do Departamento de
Não é mera coincidência que muitas pessoas Transporte de Quito ofereceram muita assistên-
envolvidas com este guia tiveram papéis centrais
cia na documentação da experiência de Quito.
no planejamento e na implementação de siste-
mas BRT em todo o mundo. A experiência de Na Ásia, lições valiosas emergiram de nossa
planejadores do Brasil, Colômbia e demais luga- parceria com a Corporação Municipal de
res ajudou dramaticamente a melhorar a quali- Desenvolvimento de Tecnologia, parte da
dade desta terceira edição do Manual de BRT. Comissão de Construção de Ghuangzhou e com
o escritório de Beijing da Energy Foundation.
Este livro apoiou-se centalmente na equipe que
projetou o sistema TransMilenio de Bogotá. Reconhecimento especial também deve ser
A firma de consultoria Akiris, especialmente estendido a Lin Wei e a todo o time da cidade
Juan Carlos Diaz, ajudou a esboçar as seções de Kunming que desenvolveu o primeiro projeto
do manual sobre a preparação do projeto, de BRT da China. Adicionalmente, as informa-
comunicações e tecnologia. Sob a orientação ções do Dr. Jason Chang e Kangming Xu aju-
de Luis (Pilo) Willumsem, a equipe da Steer daram a documentar as primeiras experiências
Davies Gleave forneceu informações sobre na China e em Taiwan. Na Índia, o Dr. Dinesh
as seções de análise de demanda e operações. Mohan e Dr. Geetam Tiwari do Instituto
Jarko Vlasak, quem ajudou a conduzir a equipe Indiano de Tecnologia em Delhi são pioneiros
que desenvolveu as estruturas institucionais nos esforços por lá, e muitos elementos deste
e de negócios para o TransMilenio, forneceu manual resultam da riqueza de suas contribui-
as informações desses tópicos no Manual de ções, em especial sobre a integração de acessos
BRT. Angélica Castro, atual Diretora Executiva de pedestres e pequenos vendedores ao ambiente
da TransMilenio S.A., e outros membros das estações, Dr. Tiwari ofereceu visões singu-
da empresa pública de BRT, TransMilenio lares para esse guia. Reconhecimento também
S.A., também ofereceram inúmeras ideias e precisa ser estendido a DKI Jakarta e às valiosas

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lições aprendidas durante o desenvolvimento do de Dennis Hinebaugh, Georges Darido e
sistema de BRT TransJakarta. Alasdair Cain no Instituto Nacional de BRT
Na África, a cidade de Dar es Salaam segue pelo da Universidade do Sul da Flórida foi muito
mesmo caminho, destinada a provar que um gentil oferecendo dados e imagens para esse
sistema de transporte público de alta qualidade é Manual de BRT. Também, Bill Vincent da
possível mesmo em cidades com recursos finan- Breakthrough Technologies foi inspirador do
ceiros limitados. A chegada do sistema de BRT a BRT nos Estados Unidos e em outros lugares
Dar es Salaam deverá impulsionar esforços simi- e ajudou e desenvolver um dos vídeos mais
lares por todo o continente africano. A interação efetivos sobre BRT até hoje. Kate Blumberg do
com Raymond Mbilinyi e Asteria Mlambo da Conselho Internacional do Transporte Limpo
Unidade de Gerenciamento de Projetos de Dar (ICCT) contribuiu com muitas ideias sobre a
es Salaam em conjunto com a equipe da Logit qualidade do ar e a tecnologia de combustíveis
Engenharia ofereceu inestimável orientação para este livro. Em termos de cidades, agrade-
aos temas apropriados para se trabalhar sob o cemos os esforços dos funcionários de Brisbane,
contexto africano. Nagoya, Ottawa e Rouen, que fizeram uma
relevante diferença para o aprofundamento do
O manual se beneficiou não apenas das avan-
çadas experiências das nações em desenvolvi- conceito de BRT.
mento, mas também do crescente nível de inte- Muitos profissionais internacionais de trans-
resse por BRT na Austrália, Europa Ocidental, porte trabalham para se certificar que conceitos
Japão e América do Norte. Um compendium como o BRT sejam integrados ao contexto local.
de experiências desenvolvidas pelo Programa Michael King da Nelson Nygaard Consultores é
Cooperativo de Pesquisa em Transporte Público o principal autor da seção do manual que versa
(TCRP) foi uma fonte rica sobre experiências sobre a integração de BRT com acessos de pedes-
mundiais com BRT. Sam Zimmerman, hoje no tres. Todd Litman do Instituto de Planejamento
Banco Mundial, e Herbert Levinson, um con- de Transporte Victoria (VTPI) deu grandes
sultor de transportes independente, lideraram contribuições às seções sobre integração de BRT
esses esforços e ajudaram o presente texto com com planejamento de uso do solo e sobre BRT
contribuições brilhantes. inserido na estrutura de desenvolvimento orien-
Heather Allen e toda a equipe da União tado ao transporte (TOD). O VTPI continua
Internacional de Operadores de transporte sendo um recurso valioso para o movimento
Público (UITP) ajudaram a compartilhar do transporte sustentável. Também, através da
as experiências de sua sociedade de forma a cooperação com Nancy Kete, Lee Schipper e
fortalecer este manual. François Rambaud, do todo o time do Programa Embarq do Instituto
Centro Francês de Pesquisa sobre Transporte e de Recursos Mundiais (WRI) e o Centro para o
Urbanismo (CERTU) também foi muito útil Transporte Sustentável, na Cidade do México,
em registrar os desenvolvimentos do BRT na valiosas ideias formam inseridas.
França, assim como foi Werner Kutil da Veolia Muitas organizações internacionais estão prestes
Transport. Apreço é ainda estendido a Dave a transformar o BRT na tendência dominante
Wetzel, Vice-Presidente da “Transporte para de opção para cidades em todo o mundo. O
Londres” (TfL), que contribuiu enormemente Banco Mundial e o Fundo Global para o Meio
para estratégias financeiras inovadoras como o Ambiente (GEF) estão equipados para apoiar
conceito de um Tributo de Benefício Territorial as iniciativas de BRT em uma gama de cidades,
(Land Benefit Levy, LBL). incluindo: Hanói, Lima, Cidade do México
Adicionalmente, esforços para chamar aten- e Santiago. Gerhard Menckhoff, consultor
ção para a opção de BRT são aprofunda- do Banco Mundial foi, particularmente, o
dos por diversas organizações dos Estados instrumento desse processo e fez contribui-
Unidos, incluindo a Administração Federal ções substanciais para muitos elementos neste
de Transportes Públicos dos EUA (USFTA), a manual. Igualmente, Peter Midgley, outrora
Associação Americana de Transporte Público especialista de transportes do Banco Mundial
(APTA), e a WestStart-CALSTART. A equipe e pioneiro no desenvolvimento do conceito de

viii
BRT, também forneceu assistência para este apoio ao desenvolvimento das duas primeiras
guia. Outros no Banco Mundial, envolvidos de versões do Manual de BRT. Da mesma forma, a
perto com a transformação de projetos de BRT GTZ também deu apoio a esta terceira edição,
em realidade, incluem Mauricio Cuéllar, Pierre além de continuar a apoiar a disseminação dos
Graftieaux e Shomil Mehndiratta. Ainda mais, conhecimentos sobre BRT através de cursos de
Cornie Huzienga e sua equipe da Iniciativa do treinamento.
Ar Limpo para Cidades Asiáticas (CAI-Ásia)
Finalmente, muito se aprende ao tornar as
trabalham para melhorar a qualidade das cida-
ideias de BRTs em realidade nas ruas. A maioria
des asiáticas através da promoção de medidas
das valiosas lições apresentadas aqui resulta da
como BRTs. Os esforços na Ásia também são
persistência e paciência de pessoas em situações
assistidos através do programa de Kazunobu
estratégicas, posições essas, quase sempre, muito
Onogawa, Choudhury Mohanty e outros no
difíceis. Muitos membros do pessoal estraté-
Centro para o Desenvolvimento Regional
gico do Instituto de Políticas de Transporte e
das Nações Unidas (UNCRD): Transporte
Ambientalmente Sustentável (EST). Desenvolvimento (ITDP) estiveram na prática,
providenciando assistência técnica direta a cida-
Esta versão mais recente do manual não teria se des em desenvolvimento perseguindo opções de
tornado uma realidade sem a visão e o suporte transporte sustentável. Do time do ITDP, Oscar
de muitas organizações essenciais. A Hewlett Diaz desempenhou papel crítico na coleção de
Foundation se destaca como uma das princi- informações sobre TransMilenio; igualmente,
pais organizações catalisadoras em tornar o o trabalho de John Ernst na Indonésia, Eric
BRT possível em países como o Brasil, China
Ferreira no Brasil, Karl Fjellstrom na China
e México. Temos grande apreço por Joseph
e na Tanzânia e Aimée Gauthier no Senegal
Ryan e Hal Harvey da Hewlett Foundation
e na África do Sul, serviram de base para as
por sua crença no BRT como a opção susten-
idéias compartilhadas aqui. Um agradecimento
tável para as cidades das nações em desenvol-
especial também é dado a Klaus Neumann que
vimento. Igualmente, Sheila Aggarwal-Kahn
providenciou o projeto visual e formatação deste
e Lew Fulton do Programa Ambiental das
documento.
Nações Unidas (UNEP) trabalharam com o
Secretariado do Fundo Global para o Meio No total, o Manual de BRT é a soma do traba-
Ambiente (GEF) para conseguir uma contri- lho de algumas das mentes mais experientes no
buição substancial tanto no conteúdo quanto empenho de melhorar as condições do trans-
nos recursos financeiros para a publicação deste porte público mundo a fora. O conteúdo deste
manual. Adicionalmente, Manfred Breithaupt livro oferece ao leitor uma visão reveladora das
e o Projeto de Transporte Urbano Sustentável promessas e dos últimos feitos dos sistemas de
(SUTP) da GTZ tiveram papel fundamental no Bus Rapid Transit.

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Acrônimos DANIDA Danish International Development
Agency (Agência Dinamarquesa para
ADB (BDA) Asian Development Bank (Banco de o Desenvolvimento Internacional)
Desenvolvimento Asiático) dB Decibel
AfDB (BAD) African Development Bank (Banco DFID Department for International Devel-
Africano de Desenvolvimento) opment (Departamento de Desen-
AGV Automatic Guided Vehicle (Veículos volvimeto Internacional, Reino Unido)
Guiados Automaticamente) DKI Território Especial da Capital
ALS Area Licensing Scheme (esquema (Jacarta, Indonésia)
de licenciamento de áreas) DLT Development Land Tax
ANTP Associação Nacional de EF Energy Foundation
Transportes Públicos (Brasil) (Fundação da Energia)
APS Acessible Pedestrian Signals EI Expressão de Interesse
(Semáforos de pedestres com
acessibilidade) EIA Estudo de Impacto Ambiental
APTA Associação Americana de EMBARQ PRograma de Transporte do WRI
Transporte Público (EUA) ERP Electronic Road Pricing
AVL Automatic Vehicle Location (cobrança eletrônica de uso de vias)
(localização automática de veículos) EST Programa do Transporte Ambiental-
BAD (AfDB) Banco Africano de Desenvolvimento mente Sustentável (UNCRD)
(African Development Bank) EU (EU) European Union (União Européia)
BAPC Banco da África do Leste e da EURO 1, 2… Padrão de emissões de poluentes
África Austral para o Comercio e o de veículos desenvolvidos pela UE
Desenvolvimento (Banco da APC) FV Foto-voltaico
BDA (ADB) Banco de Desenvolvimento Asiático GEF Fundo Global para o Meio Ambiente
(Asian Development Bank) GLP Gás Liquefeito de Petróleo
BEI Banco Europeu de Investimentos GNC Gás Natural Comprimido
BERD Banco Europeu para a Reconstru- GTZ Deutsche Gesellschaft für Techni-
ção e Desenvolvimento sche Zusammenarbeit (GTZ) GmbH
BID (IADB) Banco Interamericano de (Cooperação Técnica Alemã)
Desenvolvimento (Inter-American HCBS High-Capacity Bus System (Sistema
Development Bank) de Ônibus de Alta Capacidade)
BIRD (IBRD) Bainco Internacional para HOV High-occupancy vehicle (veículo de
Reconstrução e Desenvolvimento alta ocupação)
(International Bank for
Reconstruction and Development) IC (JI) Implementação Conjunta (Joint
Implementation, pelo protocolo de
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Kyoto)
Econômico e Social
ICCT Conselho Internacional do Trans-
BRT Bus Rapid Transit porte Limpo
CAF Corporação Andina de Fomento IDA International Development
CAI Clean Air Initiative (Iniciativa do Ar Association (Associação
Limpo) Internacional de Desenvolvimento)
CAI Ásia Iniciativa do Ar Limpo para Cidades IEA International Energy Agency
Asiáticas (Agência Internacional de Energia)
CBD Central business district (Distrito IFC International Finance Corporation
Central de Negócios, em geral o (Corporação Financeira Internacional)
centro histórico) IIT Indian Institute of Tecnology
CERTU Centro de Pesquisa sobre (Instituto Indiano de Tecnologia)
Transporte e Urbanismo (França) IPCC Inter-governmental Panel on Climate
CFD Car-free day (Dia sem carro) Change (Painel Intergovernamental
CH4 Metano sobre Mudança do Clima)
CIDA Canadian International Development IPVA Imposto sobre a propriedade de
Agency (Agência canadense para o veículos automotores
desenvolvimento internacional) ISS Imposto sobre serviços
CO Monoxido de Carbono ITDP Instituto de Políticas de Transporte e
CO2 Dióxido de Carbono Desenvolvimento (Institute for Trans-
COT (BOT) Contrução-Operação-Transferência portation & Development Policy)
(esquema de concessão pública, ITS Inteligent Tranportation System
Build-Operate-Transfer) (Sistema de Tráfego Inteligente)
COV Compostos orgânicos voláteis JBIC Banco Japonês de Cooperação
CQNUMC Convenção-Quadro das Nações Internacional
Unidas sobre Mudança do Clima JICA Agência Japonesa de Coperação
CTS/UI Centro de Estudos de Transportes Internacional
da Univerisdade da Indonésia JIT Just-in-time

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KfW Kreditanstalt für Wiederaufbau SUMA Sustainable Urban Mobility in Asia
(Banco Alemão para Renconstrução) SUTP Projeto de Transporte Urbano
LBL (TBT) Location Benefit Levy (Tributo sobre Sustentável
Benefícios Territoriais) TBT (LBL) Tributo sobre Benefícios Territoriais
LPI Leading Pedestrian Intervals (Location Benefit Levy)
(Tempo Inicial de Pedestres) TCRP Programa Cooperativo de Pesquisa
LRT Light Rail Transit (Veículo Leve em Transporte Público
sobre Trilhos) TDM Traffic Demand Management/Geren-
LVT Land-value taxation ciamento de Demanda de Tráfego
MDL (CDM) Mecanismo de Desenvolvimento TfL Transporte for London (Agência de
Limpo (Clean Development operação de transportes de Londres)
Mechanism) TI/TIC (IT/ICT) Tecnologia de Informação/ e
MI Manifestação de Interesse Comunicação (information/ and
MP Material Particulado communications technologies)
MRT Mass Rapid Transit TOD Transit oriented development (desen-
(Tranporte de Massa Rápido) volvimento (imobiliário/uso do solo)
N2O Óxido de Nitrogênio orientado a transportes públicos)
NBRTI National Bus Rapid Transit Institute TR Termos de Rerferência
(EUA) TRB Transportation Research Board
NCHRP Programa Cooperativo de Pesquisa (Conselho de Pesquisa de
em Rodovias Transportes, EUA)
TVR Transport sour voue reserveé
NCHRP National Cooperative Highway
(Transporte sobre via exclusiva)
Research Program (Programa de
Pesquisa Rodoviária Cooperativo UCL University College London
Nacional) UE (EU) União Européia (European Union)
NMT Non-motorised transport UITP União Internacional de Operadores
(transporte não motorizado) de transporte Público
NOX Óxidos de Nitrogênio UN CRD Centro para o Desenvolvimento
Regional das Nações Unidas
NS Nível de serviço
UNCED United Nations Conference on
O3 Ozônio
Environment and Development
OD Origem-Destino UNDP United Nations Development
OECD Organisation for Economic Co-ope- Programme
ration and Development (Organiza- UNEP United Nations Environment
ção para a Cooperação e Desenvol- Programme (Programa Ambiental
vimento Economicos) da Organização das Nações Unidas)
ONG Organização não-governamental UNEP Programa Ambiental da Organiza-
ONU (UN) Organização das Nações Unidas ção das Nações Unidas
(United Nations) UNFCCC United Nations Framework
PC Personal computer (Computador Convention on Climate Change
Pessoal) US AID United States Agency for
PCU Passenger car units International Development (Agência
(veículo equivalente) americana para o desenvolvimento
PDA Personal digital assistant internacional, EUA)
PM (MP) Particulate matter US EPA United States Environmental Protec-
(material particulado) tion Agency (Agência americana de
pphpd passenger per hour per direction proteção ambiental, EUA)
(passageiros/(hora*sentido) ou US FHWA United States Federal Highway
pass/(hora*sent)) Administration (Administração
PPP Parceria Público-Privada federal de rodovias, EUA)
US FTA United States Federal Transit Ad-
PPQ Por el País que Queremos
ministration (Administração federal
PRT Personal Rapid Transit (“Transporte de transportes públicos, EUA)
Pessoal Rápido”)
VLP Veículo Leve sobre Pneus
RATP Régie Autonome des Transport VLT (LRT) Veículo Leve sobre Trilhos (Light Rail
Parisien (Agência de transportes Transit)
públicos de Paris)
VTPI Victoria Transport Policy Institute
RCE (CER) Reduções Certificadas de Emissões (EUA)
(Certified Emission Reduction)
WB (BM) World Bank (Banco Mundial)
SDG Steer Davies and Gleave
WBCSD World Business Council for Sustain-
SIDA Swedish International Development able Development (Conselho de
Agency (Agência sueca de negócios mundial para o desenvol-
desenvolvimento internacional) vimento sustentável)
SMS Short message service WRI World Resource Institute
SOX Oxidos de Enxofre (Instituto de Recursos Mundiais)

xi
Sumário
Resumo Executivo 1
Introdução 11
I. Preparação do Projeto 38
1. Início do projeto 39
2. Tecnologias de transportes públicos 52
3. Configuração do projeto 102
4. Análise de demanda 136
5. Seleção de corredores 168
6. Comunicações 206
II. Projeto Operacional 230
7. Projeto de rede e linhas 231
8. Capacidade e velocidade do sistema 264
9. Interseções e controle de semáforos 300
10. Serviço ao usuário 340
III. Projeto Físico 368
11. Infra-estrutura 369
12. Tecnologia 437
IV. Integração 496
1 3. Integração modal 497
14. Integração com gerenciamento de demanda e uso do solo 559
V. Plano de Negócios 588
1 5. Estrutura institucional e de negócios 589
16. Custos operacionais e tarifas 621
17. Custeio e financiamento 661
18. Marketing 718
VI. Avaliação e Implementação 742
1 9. Avaliação 743
20. Plano de Implementação 777
Referências 806
Glossário 815
Anexos
1: Comparações entre sistemas de BRT
A 819
A 2: Diretório de consultores de BRT 845
A 3: Modelos para solicitação de consultoria 857
A 4: Lista de intituições de financiamento 861
A 5: Modelo para contrato de concesso 865
Referências bibliográficas 869
Índice 875

xii
Manual de BRT

Figura 1
Resumo Executivo Sistema de BRT
O transporte público é um recurso crítico para TransMilenio
de Bogotá.
que os cidadãos acessem efetivamente bens e
Foto por Cortesia de
serviços através da extensão das cidades dos dias TransMilenio S.A.

de hoje. O Bus Rapid Transit (BRT) se encon-


tra entre um dos mecanismos de custo mais
eficiente para as cidades desenvolverem rapida-
mente um sistema de transporte público que
possa se expandir por uma rede completa, bem
como promover um serviço veloz e de excelente
qualidade. Ainda em seus primeiros anos de
aplicação, o conceito de BRT oferece o potencial
para revolucionar a forma do transporte urbano.
Bus Rapid Transit (BRT) é um sistema de trans-
porte de ônibus que proporciona mobilidade urbana
rápida, confortável e com custo eficiente através da
provisão de infra-estrutura segregada com prio-
ridade de passagem, operação rápida e frequente
e excelência em marketing e serviço ao usuário.
O BRT basicamente imita as características de
desempenho e conforto dos modernos sistemas
de transporte sobre trilhos, mas a uma fração do
custo. Um sistema BRT custa, tipicamente, de 4 incluem: 1. Preparação do projeto, 2. Projeto
a 20 vezes menos que um sistema de bondes ou Operacional, 3. Projeto Fisico, 4. Integração,
de veículo leve sobre trilhos (VLT) ou entre 10 a 5. Plano de Implementação e 6. Avaliação e
100 vezes menos que um sistema de metrô. Implementação.
Até hoje, sistemas de “BRT completo”,
incluindo todas as características de serviço I. Preparação do projeto
de alta qualidade, só foram desenvolvidos em
1. Início do projeto
Bogotá (Colômbia) e Curitiba (Brasil). Outros
sistemas avançados de países em desenvol- Um novo sistema de transporte público não se
vimento incluem Goiânia (Brasil), Jacarta cria sozinho. Em algum lugar, de alguma forma,
(Indonésia) e Quito (Equador). Entre os países alguém precisa agir como catalisador para prepa-
desenvolvidos, sistemas de alta qualidade foram rar uma nova visão radical do sistema de trans-
implementados em Brisbane (Austrália), Ottawa porte público de uma cidade. Esse catalisador da
(Canadá) e Rouen (França). No total, apro- mudança pode ser uma autoridade política, uma
ximadamente 40 cidades em seis continentes ONG ou simplesmente um cidadão preocupado.
já implementaram “sistemas de BRT” e um No final das contas, contudo, a liderança polí-
número ainda maior de sistemas está em cons- tica deve ser tomada na tarefa de transformar
trução ou em planejamento. Os elementos que uma visão em um projeto factível. Os mais bem-
constituem o conceito de BRT incluem: infra- sucedidos sistemas até hoje foram iniciados e
estrutura de qualidade, operações eficientes, conduzidos por líderes políticos carismáticos, tais
arranjos institucionais e de negócios eficazes e como os ex-prefeitos Jaime Lerner de Curitiba e
transparentes, tecnologia sofisticada e excelência Enrique Peñalosa de Bogotá.
em marketing e serviço ao usuário. 2. Tecnologias de transportes públicos
O Manual do Bus Rapid Transit detalha os BRT não é a única opção de transporte de
passos em cinco grandes áreas de planeja- massa disponível para uma cidade. O Metrô
mento para a realização de um sistema de BRT ferroviário, o veículo leve sobre pneus (VLP),
bem-sucedido. Essas áreas de planejamento o monotrilho, o trem suburbano e o sistema

Resumo Executivo 1
Manual de BRT

padrão de ônibus são, todos, opções que líde- de marketing e comunicação. Em geral, um
res municipais devem considerar. Não há uma projeto de BRT pode ser planejado dentro de
única tecnologia certa ou errada, já que tudo um período de 12 a 18 meses. Um plano de
depende das circunstâncias locais. Os fatores BRT geralmente custa algo entre 1 e 3 milhões
afetando a escolha tecnológica incluem inves- de dólares, dependendo da complexidade e
timentos (infra-estrutura e custo de terrenos), tamanho da cidade, bem como da extensão
custos operacionais, considerações de projeto e dos serviços prestados por consultores externos.
implementação, desempenho e impactos econô- O custeio das atividades de planejamento de
micos, sociais e ambientais. A chegada do BRT BRT pode ser obtido através de diversas fontes,
como uma opção eficiente se relaciona princi- incluindo orçamentos de transporte nacionais
palmente com os relativamente baixos custos de e locais, bancos de desenvolvimento regionais
infra-estrutura e a capacidade de operar sem e internacionais e o Fundo Global para o Meio
subsídios. A capacidade dos BRTs em serem Ambiente (GEF).
implementados em um breve período (de 1 a 3 Um projeto de BRT é comumente um projeto
anos depois da concepção) também se mostrou multi-fases já que não seria realista construir
uma vantagem importante. A natureza flexível uma rede completa em um breve e único
e modular da infra-estrutura de BRT também período. O tamanho da fase inicial depende de
quer dizer que os sistemas podem ser efetiva- muitos fatores, mas, geralmente, uma primeira
mente adaptáveis a uma variedade de condições fase de projeto deve captar passageiros suficien-
urbanas, em termos de custo. tes para estabelecer o novo sistema em uma base
3. Configuração do projeto financeira saudável. Ela, em geral, abrange um
ou dois corredores maiores para totalizar de 15
Uma vez que a decisão para desenvolver um
a 60 km de vias exclusivas assim como de 40 a
sistema BRT foi feita, a formação de uma
equipe de projeto estará entre as primeiras 120 km de serviços alimentadores.
atividades. A equipe de projeto provavelmente 4. Análise de demanda
será composta tanto de funcionários públicos
O perfil diário da demanda de viagens em uma
quanto consultores externos e envolverá uma
cidade proporciona a base para o desenho do
Figura 2 quantidade de funções com habilidades espe-
sistema BRT. O entendimento do tamanho da
Linha Ecovía de Quito. cíficas, como administradores, especialistas em
demanda de usuários ao longo dos corredores e
finanças, engenheiros, projetistas e profissionais
Foto por Lloyd Wright
a localização geográfica das origens e destinos
permitem aos planejadores aproximar bastante
as características do sistema com as necessidades
dos usuários. O Manual de BRT apresenta duas
opções para estimar a demanda de usuários: 1.)
Método de avaliação expedita; 2.) Avaliação
com um modelo de transporte completo.
Como o nome sugere, o “método de avaliação
expedita” permite que as cidades façam uma
estimativa aproximada da demanda com relativa
rapidez e com um orçamento modesto. Nesse
caso, contagens básicas de tráfego são combina-
das com pesquisas de embarque e desembarque
nos serviços de transporte público existentes.
A esperada demanda do novo sistema BRT
é, a grosso modo, igual à utilização existente
de transporte público no corredor mais uma
porcentagem de novos passageiros provenientes
de veículos particulares (e.g., talvez um desloca-
mento de 10% de veículos particulares, depen-
dendo das circunstâncias locais).

2 Resumo Executivo
Manual de BRT

5. Seleção de corredores Figura 3


Corredores são geralmente escolhidos base- Sistema BRT
ando-se em uma série de fatores, incluindo a de Curitiba.
Foto por cortesia de Volvo Bus
demanda de usuários, vantagens para rede Corportation
atual, características viárias, facilidade de imple-
mentação, custos, igualdade social e considera-
ções políticas. Na primeira fase de um projeto,
o(s) corredor(es) escolhido(s), provavelmente,
atenderão origens e destinos populares para
testar a tecnologia e também adquirir susten-
tabilidade financeira logo no início do projeto.
Entretanto, os desenvolvedores podem desejar
evitar os corredores mais densos e mais comple-
xos na primeira fase, já que os riscos políticos e
técnicos podem ser bem altos.
Uma faixa padrão de BRT requer aproxima-
damente 3,5 metros de largura, enquanto as
estações têm geralmente entre 2,5 e 5,0 metros.
Um corredor de ônibus padrão com uma faixa
simples em cada sentido exige entre 10 e 13
metros de largura de rua. Um sistema utili-
zando serviços expressos e consequentemente
faixas de ultrapassagem nas estações exige pelo
menos 20 metros de largura de rua só para uso
do BRT. Ainda que segmentos estreitos de ruas Tais participantes podem incluir: operadores de
em centros históricos e áreas comerciais possam transporte existentes, proprietários e motoristas
restringir o projeto de BRT, existem muitas de táxis, donos de carros, revendedores, organi-
soluções para superar essas limitações viárias. zações civis e ambientais, agências governamen-
Algumas dessas soluções incluem o uso do can- tais e a polícia de trânsito. Estratégias deverão
teiro central, o alargamento da via, a separação ser desenvolvidas para orientar a respeito das
da via só para transporte público, a colocação de possíveis dúvidas que preocupam cada um
separadores, a separação da superfície e operação desses grupos. Uma estratégia também deve
junto com o tráfego misto. Em geral, projetistas ser montada para comunicações com a mídia
costumam encontrar soluções até mesmo para jornalística, incluindo jornais, rádio e televisão.
ambientes com enormes restrições espaciais, Finalmente, o processo de planejamento do pro-
como feito no centro histórico de Quito. jeto pode se beneficiar de informações coletadas
diretamente junto aos cidadãos. Uns poucos
6. Comunicações indivíduos são mais qualificados para oferecer
Uma falha em comunicar o novo plano de percepções sobre as necessidades do usuário do
transporte para os agentes participantes do que os próprios usuários. Um processo de par-
sistema e para o público em geral pode minar ticipação pública substancial no qual ideias e
bastante a viabilidade final do projeto. Mal- recomendações são solicitadas de vários cidadãos
entendidos e enganos podem ser bem comuns (e.g., usuários de transporte, motoristas) pode ser
na preparação do projeto. Aquelas organizações um meio eficiente para ajudar a execução de um
e indivíduos que se sintam ameaçados pelo novo projeto de alta qualidade.
sistema podem agir para atrapalhar ou mesmo
paralisar o progresso do projeto e a implemen-
tação final. Como passo inicial de um plano de
II. Projeto operacional
comunicações, uma análise dos agentes par- 7. Projeto de rede e linhas
ticipantes dentre todas as pessoas e entidades No lançamento do projeto, algumas decisões
afetadas pelo novo sistema deve ser executada. básicas em relação ao projeto operacional terão

Resumo Executivo 3
Manual de BRT

profundas ramificações na qualidade e, sobre-


tudo, na sustentabilidade financeira do serviço.
Até certo ponto, a estrutura de negócios do
sistema será delimitada em função da escolha
por um sistema aberto ou por um sistema
fechado. Um “sistema fechado” implica que o
acesso ao corredor é limitado a um conjunto
prescrito de operadores e a um número limitado
de operadores (e.g., Bogotá e Curitiba). Em con-
traste, um “sistema aberto” geralmente permite
que qualquer operador existente utilize a via
de ônibus (e.g., Kunming, Taipei). Até hoje, a
maioria dos sistemas do tipo aberto tem quali- Figura 4
dade um tanto inferior que a dos sistemas fecha- Brisbane Busway.
dos, tendendo a congestionar a via de ônibus, Foto por cortesia de Queensland Transport

particularmente nas estações e interseções. 8. Capacidade e velocidade do sistema


Outra grande decisão operacional inicial envolve Da perspectiva do usuário, um serviço de trans-
as escolha entre a configuração tronco-alimen- porte competitivo com o carro é aquele que con-
tadora ou de serviços diretos. Um sistema siga apresentar vantagens similares quanto ao
“tronco-alimentador” permite que veículos tempo total de viagem, ao conforto, ao custo e à
menores sejam utilizados em áreas de menor conveniência. Assim, projetar um sistema BRT
densidade, enquanto os principais corredores para manejar alta demanda de passageiros de
possam operar de modo mais eficiente com veí- maneira veloz é um dos pilares da construção de
culos de linha troncal, maiores. Ainda que essa um serviço competitivo em relação aos carros.
configuração possa conduzir a altas eficiências A capacidade e a velocidade são características
sistêmicas, ela também pode significar que usuá- do BRT que definem as feições que o colocam
rios precisarão de um terminal de transferência. afastado dos serviços de ônibus convencionais.
Em contraste, “serviços diretos” geralmente Até agora, o sistema de BRT de maior capa-
usarão um único veículo para conectar uma cidade consegue atender aproximadamente
área residencial aos distritos centrais da cidade. 42.000 passageiros por hora por sentido
Além disso, serviços diretos ajudarão a reduzir (TransMilenio de Bogotá). Um sistema BRT
o número de transferências requeridas, ainda padrão, sem faixas de ultrapassagem para
que isso, potencialmente, possa diminuir de serviços expressos, proverá um máximo de,
algum modo a eficiência na operação. Até hoje, aproximadamente, 13.000 passageiros por hora
os serviços diretos foram utilizados em sistemas por sentido. A maioria dos sistemas BRT de alta
abertos de menor qualidade, e o advento de qualidade atinge velocidades comerciais médias
novos sistemas utilizando “serviços diretos” em de aproximadamente 23 a 39 km por hora.
“sistemas fechados” oferece o potencial de reali-
Conseguir um sistema de alta capacidade e alta
zar condições operacionais altamente flexíveis e
velocidade depende de uma gama de caracterís-
o serviço de alta qualidade. ticas de projeto operacional, incluindo múlti-
O BRT, de forma distinta dos sistemas sobre plas posições de parada nas estações, serviços
trilhos, detém a vantagem de acomodar facil- expressos e serviços de poucas paradas, veículos
mente uma grande permutação de itinerários. articulados com múltiplas portas, portas largas,
Com múltiplas opções à disposição do usuário, pagamento e controle de pagamento externo
o número de transferências requeridas pode ser (fora do ônibus), plataformas de embarque em
bastante reduzido. Serviços expressos e serviços nível e bons espaços nas estações. Mecanismos
de paradas reduzidas podem ser particular- que ajudam a descongestionar a área das estações
mente populares entre os usuários, especial- e conduzir a rápidos embarques e desembarques
mente quando geram ganhos relevantes no de passageiros certamente trazem grandes divi-
tempo de viagem. dendos em termos de velocidade e capacidade.

4 Resumo Executivo
Manual de BRT

9. Interseções e controle de semáforos


Interseções representam um ponto crítico ao
longo de qualquer corredor BRT. Um projeto de
interseção mal feito ou uma regulagem de semá-
foro mal dimensionada pode reduzir substan-
cialmente a capacidade do sistema. Encontrar
soluções para otimizar o desempenho de uma
interseção pode fazer muito pela melhoria da
eficiência do sistema.
Há, normalmente, soluções de projeto que oti-
mizam a economia total de tempo para todos os
modos de transporte. Em países em desenvolvi-
mento, onde, de modo característico, o número
de passageiros e o número de ônibus por hora
são muito maiores, as interseções tendem a
serem poucas e a manutenção semafórica é
menos confiável, projetistas de sistemas de BRT Funcionários amigáveis, profissionais e vestidos Figura 5
tendem a confiar mais em restrições de conver- com uniformes inteligentes ajudam a criar a Garagem de BRT
são para melhorar o desempenho de interseções. imagem certa para o sistema, o que solidifica em Bogotá.
Movimentos de conversões para veículos no a confiança do usuário. Iluminação de alta Foto por cortesia de TransMilenio S.A.

tráfego misto, contudo, podem ser acomodados qualidade e a presença de pessoal de segurança
através de estratégias de conversão seletivas. também contribuem muito para encorajar as
A eficiência das interseções também pode se viagens, especialmente em horários noturnos. A
influenciada pela locação da estação de BRT. limpeza e aparência estética da infra-estrutura
Estações locadas perto da interseção podem ser também transmitem mensagens sobre a cordiali-
mais convenientes, às vezes, aos passageiros, mas dade do sistema.
uma locação no meio de quadra deve ser a favo-
rita se o tráfego misto tiver permissão de virar III. Projeto físico
na interseção. Finalmente, controle semafórico
11. Infra-estrutura
prioritário pode ser uma opção a ser conside-
A engenharia e o projeto do sistema depen-
rada em algumas circunstâncias.
dem de diversos fatores estratégicos que ditam
10. Serviço ao usuário a forma final da infra-estrutura. Esses fatores
Se um sistema é projetado em volta das neces- incluem: custo, atributos funcionais, condições
sidades e desejos do usuário, então o sucesso é climáticas e topológicas, atributos estéticos e
quase garantido. Se as questões de serviço ao preferências culturais. A engenharia e o desenho
usuário são ignoradas, então o fracasso também físico do sistema resultam diretamente das esco-
é quase garantido. Da perspectiva do cliente, lhas operacionais e das características de serviços
medidas pequenas e simples que melhorem o ao usuário. O corredor selecionado, capacida-
conforto, a conveniência, a proteção e a segu- des esperadas e opções de serviço — tudo isso
rança são mais importantes que tecnologias influencia o desenho físico.
veiculares e projetos sofisticados. O projeto de infra-estrutura deve abranger uma
Muitas pessoas não utilizam transporte público ampla gama de sistemas componentes, incluindo
simplesmente porque não entendem como o vias de ônibus, estações, estações interme-
sistema funciona. Sinalização clara e mapas do diárias de transferências, benfeitorias de
sistema podem contribuir muito para superar as integração, utilidades públicas e paisagismo.
barreiras de informação para utilização. Painéis A escolha entre asfalto e concreto como mate-
eletrônicos e anúncios de vozes digitais tanto nos rial do leito acarreta consequências de longo
veículos quanto nas estações também podem alcance para o desempenho e para o custo de
facilitar muito a compreensibilidade do sistema. manutenção. Em geral, o pavimento de concreto

Resumo Executivo 5
Manual de BRT

é necessário na via das estações para garantir quando se reconstrói um corredor, o município
que a altura da plataformas das estações e a dos decide resolver também outros problemas de
ônibus sejam niveladas. Estações podem ser pro- infra-estrutura não relacionados diretamente
jetadas não apenas para as funções propostas, com o projeto de BRT. Se extensos alargamen-
mas também para o conforto e a conveniência tos de vias e desapropriações são requeridos, o
do passageiro. Técnicas de projeto de adequação custo total pode subir rapidamente. Qualquer
solar podem fazer muito para amainar as tempe- desapropriação de propriedade deve ser mane-
raturas externas. O perfil de muitos sistemas de jada de modo transparente, aberto e justo,
BRT foi desenvolvido através de desenhos arqui- especialmente se a confiança da comunidade
tetônicos criativos para as estações. Terminais financeira internacional tiver de ser obtida. Os
precisam ser dimensionados de forma apro- típicos componentes de custo dentro de um
priada para manejar eficientemente transferên- projeto de BRT incluem vias de ônibus, esta-
cias entre alimentadoras e troncais. Igualmente, ções, terminais, garagens, infra-estrutura para
áreas de garagem precisam ser projetadas para pedestres, benfeitorias para integração de táxis
manejar uma série de tarefas, incluindo: reabas- e bicicletas, centro de controle e aquisição de
tecimento, limpeza, manutenção e reparos, e a propriedade.
guarda dos veículos. Um centro de controle per-
mite que os controladores do sistema assegurem 12. Tecnologia
um serviço constante ao usuário e solucionem Poucas decisões no desenvolvimento de um
quaisquer problemas ou emergências. sistema de BRT geram mais debates do que a
Os custos de infra-estrutura de BRTs, de escolha da tecnologia de propulsão dos ônibus
forma distinta de outras opções de transporte e os seus fabricantes. Ainda assim, é preciso
público, são relativamente acessíveis, mesmo ter em mente que o BRT é muito mais do que
para cidades de países em desenvolvimento. apenas um ônibus. A escolha da tecnologia
Em geral, um sistema de BRT custará entre 1 veicular é importante, mas não necessariamente
milhão e 8 milhões de dólares por quilômetro. mais importante do que a miríade de outras
Figura 6 O investimento final no sistema depende de escolhas do sistema.
uma gama de fatores, incluindo: complexidade As opções de tecnologia veicular envolvem
Bicitáxis podem ser um
serviço de alimentação do ambiente viário, necessidade de viadutos e tanto o tamanho do veículo quanto o sistema
de nível de emissões passagens subterrâneas, número de faixas de de propulsão. Para corredores de alta demanda,
zero perfeito. ônibus e necessidade de desapropriação de terre- veículos articulados para 160 passageiros
Foto por cortesia de INSSA nos. Os custos, com frequência, sobem porque, se tornou o padrão. Veículos alimentadores
vindos de áreas residenciais de baixa densidade
variam, em geral, de microônibus ou vans até
ônibus tamanho padrão, dependendo do perfil
de demanda da área. Tecnologias e combustí-
veis inovadores reduzem substancialmente as
emissões de veículos BRT. Os níveis de emis-
são Euro 3 estão cada vez mais se tornando o
padrão mundial. Tal tecnologia veicular limpa
inclui: diesel limpo, gás natural comprimido,
gás liquefeito de petróleo, biocombustível, veí-
culo elétrico híbrido e trólebus.
Sistemas de controle e cobrança também
representam uma gama de opções tecnológicas
com custos e características distintos. A versa-
tilidade de sistemas de smartcards disponibili-
zou essa opção tecnológica aos mais avançados
sistemas de BRT. Ainda assim, ainda existem
muitas opções tecnológicas de baixo custo que

6 Resumo Executivo
Manual de BRT

proporcionam grande valor para o usuário. A pedestrianizadas, espaços compartilhados e


tecnologia de tarja magnética é, há muitos anos, passagens cobertas são algumas das soluções de
utilizada nos sistemas de metrô mais avançados projeto que podem encorajar uma forte ligação
do mundo. Ainda mais, máquinas simples ope- entre a comunidade e o serviço de BRT. Em
radas por moedas, como as de Quito, demons- geral, usuários preferem cruzamentos em nível
tram ser uma solução robusta de custo extrema- seguros a passarelas e passagens subterrâneas,
mente eficiente. mesmo que essa última também seja eficiente, se
Finalmente, através de Sistemas de Tráfego projetada adequadamente.
Inteligente (ITS, do inglês Inteligent Integrar o sistema de BRT com o uso de bici-
Tranpostation Systems), tais como painéis de cletas pode aumentar de forma relevante a área
informação em tempo real, os usuários ganham de captação de usuários. Autorizar a entrada de
conhecimento vital a respeito do sistema, e isso bicicletas nos veículos permite ao usuário usar
torna as viagens mais eficientes e menos estres- a bicicleta como serviço alimentador dos dois
santes. Os ITS, algumas vezes ainda, desempe- lados da jornada. Alternativamente, assegu-
nham um papel importante no gerenciamento rar instalações para guardar as bicicletas nas
do sistema ao dar poder para rastrear e controlar estações transmite confiança aos usuários para
a velocidade e localização dos operadores à deixar suas bicicletas nas estações durante o dia.
agência de BRT. Integrar o BRT com táxis pode produzir ganhos
tanto para os operadores de táxi quanto para o
IV. Integração sistema BRT. Instalações oficiais para parada
13. Integração modal de táxis próxima às estações de BRT oferecem a
Sistemas de BRT não podem ser desenhados cada um desses tipos de transporte um conjunto
e implementados isoladamente. Ao contrário, complementar de clientes. Bicitáxis são cada vez
tais sistemas são apenas mais um elemento mais vistos como uma alternativa limpa de táxis.
no cenário urbano e no conjunto de opções Especialmente na conexão de BRTs com áreas
de mobilidade. Para ser mais eficiente, o BRT residenciais próximas.
deve ser completamente integrado com todas as 14. Integração com gerenciamento de
opções e modos de transporte. Ao maximizar a
demanda e uso do solo
interface do BRT com outras opções, os proje-
tistas do sistema ajudam a otimizar a base de Um sistema de transporte público de qualidade
clientes potencial. O sistema de BRT não acaba é a “cenoura” para encorajar donos de carros
nas portas de entrada e saída da estação; antes, a usar uma alternativa. Medidas de gerencia-
abrange inteiramente a área de captação do mento de demanda de tráfego (TDM, do
usuário. Se os usuários não conseguem atingir a inglês Transportation Demand Management)
estação com conforto e proteção, então deixam são o “chicote” para ajudar a desencorajar ainda
de ser clientes. mais o uso de carros e motos. Tais medidas
incluem: pedágios urbanos, tarifas de estaciona-
Se não for conveniente e fácil caminhar por
mento (zona azul), impostos sobre a propriedade
uma estação de BRT, então os usuários serão
de veículos automotores (IPVAs) e restrições de
desencorajados a usar o sistema. Oferecer um
usos diários (rodízios).
Caminho Protegido até o transporte público é,
consequentemente, o primeiro passo na oferta Finalmente, o BRT deve também ser totalmente
de um serviço de BRT eficiente. O acesso de integrado com as políticas de uso do solo de
pedestres de alta qualidade pode ser definido forma a assegurar desenvolvimento orientado
através de fatores de projeto, tais como: cami- ao transporte público (TOD, do inglês transit
nhos retos, conectividade, estética, facilidade oriented development) no entorno das estações.
de movimento, legibilidade, proteção e segu- A locação de lojas, serviços e residências em
rança. Mapear a qualidade das benfeitorias para distâncias de caminhadas a partir das estações,
pedestres em volta de uma estação de BRT é o pode assegurar que o sistema BRT, à medida
primeiro passo na identificação de barreiras e que a cidade cresce, continue a atender as neces-
dificuldades enfrentadas pelo usuário. Zonas sidades de mobilidade dos novos residentes.

Resumo Executivo 7
Manual de BRT

V. Plano de Negócios cidade. Algumas cidades, como Bogotá, criaram


intencionalmente novas agências ou companhias
15. Estrutura institucional e de negócios
públicas para inspecionar o desenvolvimento
Os melhores sistemas de BRT conseguem do projeto. A sobreposição delas às agências
prestar um serviço de qualidade não apenas por reguladoras estabelecidas ajuda a criar um novo
causa das benfeitorias físicas, ou “hardware” sistema, desvinculado dos problemas e das res-
(ônibus, estações, vias e outras infra-estruturas), trições do passado.
mas porque o conceito de BRT redefine a
maneira como os serviços de transportes públi- Alternativamente, um único departamento
cos são gerenciados e regulamentados. Os inves- com responsabilidade sobre planejamento,
infra-estrutura e supervisão operacional ajuda a
timentos em infra-estrutura são a “cenoura” que
assegurar que cada componente do processo seja
o tomador de decisões usa para negociar um
mutuamente compatível. A abordagem por uma
serviço de melhor qualidade com os operadores
única agência também assegura que a contabili-
privados. Serviços tradicionais de ônibus tendem
dade do sistema seja claramente definida.
a operar como um único monopólio público
ou como milhares de negócios operados dire- Em todos os casos, recomenda-se um forte
tamente pelo próprio dono. Nenhuma dessas envolvimento, do tipo “com as mãos na massa”,
estruturas de negócios provou ser satisfatória em por parte da autoridade política condutora,
termos de promover serviços não subsidiados de o prefeito ou o governador. O envolvimento
alta qualidade. direto da autoridade política condutora assegura
que o projeto permaneça entre as prioridades e
As experiências até hoje indicam que dar as que quaisquer dificuldades sejam rapidamente
regras apropriadas tanto para o setor público resolvidas.
quanto o privado podem conduzir a ótimos
resultados, tanto para os usuários quanto para os 16. Custos operacionais e tarifas
operadores. Um sistema operado privadamente Nos países em desenvolvimento, sistemas de
através de concessões concedidas por processos BRT devem ser sempre projetados para funcio-
competitivos pode oferecer o conjunto certo de nar sem nenhum subsídio operacional desde a
incentivos para a lucratividade e o bom serviço delineação do projeto.
ao usuário. Com a compreensão cuidadosa dos componen-
O sistema TransMilenio de Bogotá ofereceu tes envolvidos nos custos operacionais e do fatu-
um dos melhores exemplos de combinação ramento esperado com o preço das passagens,
entre competição no setor privado com forte a preços acessíveis, é possível desenvolver uma
monitoramento público. Nesse caso, há muita equação de custo para o benefício de todos.
competição pelo mercado, mas pouca competi- Se o número esperado de passageiros para
ção no mercado que possa produzir serviços de um preço de passagem for suficiente para
baixa qualidade. Em geral, operadores conces- gerar a receita, então itens de equipamentos
sionados são pagos pelo número de quilôme- tais como veículos e até sistemas de cobrança
tros percorridos mais do que pelo número de podem ser incluídos como custos operacionais.
passageiros. Além disso, operadores podem ser Alternativamente, custos de equipamentos
penalizados ou recompensados dependendo podem ser capitalizados e inclusos no orçamento
do nível de desempenho apresentado. Tais inicial de infra-estrutura custeado pelo setor
incentivos fazem muito para focar os esforços público. Os componentes tradicionais de custos
do operador no oferecimento de um serviço de operacionais incluem o retorno do investimento
qualidade. (e.g., depreciação de veículos e custos de emprés-
Há uma gama de opções existentes para os timos), custos operacionais fixos (e.g., salários de
arranjos institucionais e reguladores que regem motoristas, custos administrativos, seguros) e
esse sistema. Em alguns casos, o uso de agentes custos operacionais variáveis (e.g., combustível,
especializados, centrados em suas atividades, é peças e manutenção).
a forma eficiente para catalisar um novo tipo A distribuição do faturamento se relaciona
de serviço de transporte público para uma muito de perto com a estrutura de negócios.

8 Resumo Executivo
Manual de BRT

Geralmente uma companhia independente


concessionada cobra as passagens. Uma empresa
fiduciária, a seguir, distribui o faturamento
com base em um acordo prévio sobre os arran-
jos contratuais. As partes que provavelmente
receberão uma fração do faturamento incluem
os operadores troncais, os operadores alimen-
tadores, a companhia de cobrança e, possivel-
mente, a empresa pública também. Um sistema
de distribuição do faturamento extremamente
transparente e bem contabilizado é impera-
tivo para assegurar a confiança e a participação
de todas as partes.

17. Financiamento
O financiamento raramente é um obstáculo
para a implementação de um projeto de BRT de
sucesso. Em comparação com outras opções de
transportes de massa, os relativamente baixos
investimentos e custos operacionais do BRT
colocam os sistemas ao alcance da maioria das
cidades, até mesmo das cidades de baixa renda. Finalmente, bancos internacionais de desenvolvi- Figura 7
Algumas cidades de nações em desenvolvi- mento estão cada vez mais interessados em apoiar O teste final de
mento descobriram, de fato, que empréstimos projetos de BRT. O Banco Mundial, particular- qualquer sistema de
e financiamentos externos são desnecessários. mente, demonstra ter bastante disponibilidade Transporte Público é a
Recursos internos nacionais e municipais devem para o financiamento de iniciativas de BRT. satisfação do cliente.
Foto por cortesia de TransMilenio S.A.
ser suficientes para financiar totalmente todos os
custos de construção. 18. Marketing
Anunciar o BRT como uma nova opção de
Entretanto, caso algum financiamento seja
transporte ao público não é uma tarefa fácil,
necessário para a implementação do sistema,
já que o público raramente está satisfeito com
muitos recursos internacionais, nacionais e
o serviço de transporte existente. O estigma
locais estão disponíveis para as cidades interessa-
negativo dos sistemas de ônibus existentes pode
das. Na esfera local, o orçamento existente para
ser uma enorme barreira para superar a venda de
transportes: pedágios urbanos, cobrança de esta-
qualquer conceito baseado em ônibus, mas pode
cionamentos, impostos na gasolina, IPVAs são
também ser uma oportunidade para promover
possibilidades. Adicionalmente, cidades podem
mudanças. A estratégia de marketing prova-
gerar faturamento com o desenvolvimento de
velmente começará com a “criação da marca”
propriedades no entorno das estações e corredo-
através do nome e logo do sistema. Nomes
res, bem como com o marketing e anúncios no
de sistema como TransMilenio TransJakarta,
sistema. Empréstimos do setor privado e inves-
TransMetro e Rapid contribuíram muito para
timentos são ainda opções a ser considerada.
Parcerias Público Privadas (PPPs), de modo a criação de uma nova imagem do transporte
característico, envolvem firmas particulares baseado em ônibus.
bancando toda a infra-estrutura ou parte dela O plano de marketing deve também incluir
em troca de direitos exclusivos de operação por uma estratégia de mídia, envolvendo promo-
um longo período. Embora os PPPs apresentem ções e anúncios em jornais, revistas, panfletos
um registro em que é possível observar tanto comunitários, rádio e até televisão. Essa estra-
os sucessos conquistados quanto os problemas tégia de mídia não só deve promover o novo
enfrentados, tais esquemas de investimento se sistema, mas também salientar a insatisfação
tornam cada vez mais uma opção para as cida- pública com o sistema existente. Um plano de
des levarem em consideração. educação pública ajuda a descrever o conceito

Resumo Executivo 9
Manual de BRT

de BRT para o público e a explicar como o O estágio final do processo de planejamento


sistema específico funcionará. Criar quiosques deveria ser a preparação formal para construção
de informação e estações de demonstração e e implementação do sistema.
alcançar diretamente a comunidade podem ser O plano de construção deve versar não apenas
algumas das ferramentas utilizadas pela cidade sobre o trabalho físico a ser completado, mas
para introduzir o novo sistema. também sobre os procedimentos para assegurar
as menores descontinuidades no funcionamento
VI. Avaliação e Implementação da cidade. O fechamento de vias, o barulho de
19. Avaliação construção e a nuvem de poeira podem causar
Sob muitos aspectos, o sucesso ou fracasso na população uma primeira impressão negativa
de um sistema pode ser visível pela reação do em relação ao novo sistema. Por isso, organizar
público ao sistema. A opinião do usuário talvez a construção de uma maneira compatível com
seja a medida mais importante. Ainda assim, a vida da cidade deve ser uma consideração
para obter uma indicação objetiva e quanti- prioritária.
ficada do desempenho total do sistema, um Um plano de contratação ajuda a assegurar que
plano definido de monitoração e avaliação é o todo o processo de acordos legais e de con-
fundamental. A retroalimentação de tal plano cessões seja realizado em um ambiente aberto,
pode ajudar a identificar os pontos fortes, como transparente e competitivo. Muitos tipos de
também os pontos fracos que exigem ação arranjos contratuais diferentes se desenvolve-
corretiva. A análise de impactos ambientais e rão enquanto o processo de implementação se
sociais projetadas deve ser também um passo desdobra. Algumas das partes a serem contrata-
importante para assegurar financiamentos de das incluem: consultores, operadores de linhas
um banco internacional de desenvolvimento. troncais, operadores alimentadores, empresa de
Indicadores de desempenho permanentes, tais cobrança de tarifa, empresa fiduciária e firmas
como: níveis de satisfação do usuário, número de construção. Esses contratos especificam as
de viagens, atrasos e média de tempos de viagem atividades a serem assumidas, os produtos finais
ajudam os desenvolvedores do sistema a avaliar esperados, a duração da atividade e as maneiras
o valor do sistema e a sugerir áreas que precisam de receber suas compensações.
melhorar. A coleta de informações provavel-
mente deve envolver tanto dados em tempo real
quanto informação qualitativa de pesquisas.
Adicionalmente, o impacto do sistema na
economia, no ambiente e no bem estar social
indica o valor total do BRT para a cidade e deve
ser o fator determinante caso seja necessário
a expansão do sistema. Impactos econômicos
podem incluir tanto empregos diretos quanto
indiretos, vendas e rotação de estoques de lojas
e o valor das propriedades. Impactos ambientais
devem incluir as melhorias na qualidade do ar
local (i.e., CO, NOx, MP, SOx), reduções de
emissões de gases do efeito estufa, melhoras nos
níveis de ruídos. Impactos sociais englobam
questões de igualdade social, interações sociais e
níveis de criminalidade.

20. Plano de implementação


A produção de um plano de BRT não é o
objetivo final desse processo. Sem a implemen-
tação o processo seria um exercício sem sentido.

10 Resumo Executivo
Manual de BRT

transporte público nas cidades em desenvol-


Introdução vimento normalmente contribui pouco para
“De longe, a maior e mais admirável forma atender as reais necessidades de mobilidade
de sabedoria é aquela necessária para pla- da população. Serviços de ônibus são normal-
nejar e embelezar as cidades e comunidades mente pouco convenientes, inseguros e pouco
humanas.” confiáveis.
—Sócrates, filósofo e dramaturgo grego, Em resposta, planejadores de transporte público
469–399 a.C. e autoridades têm muitas vezes se voltado para
Um transporte público eficiente é central para o outras alternativas de transporte de massa,
desenvolvimento. Para a vasta maioria dos resi- extremamente custosas, como metrôs ferroviá-
dentes de cidades em desenvolvimento, o trans- rios. Graças aos altos custos de infra-estrutura
porte público é, na prática, a única maneira de das linhas férreas, as cidades só podem cons-
acessar empregos, educação e serviços públicos, truir esses sistemas ao longo de poucos qui-
especialmente quando tais serviços estão além lômetros e em poucos corredores limitados.
de distâncias viáveis para caminhar e pedalar. O resultado é um sistema que não atende às
Infelizmente, o atual estado dos serviços de principais necessidades de transporte da maior

Figura 8
O sistema
TransMilenio de
Bogotá ilustra
claramente o nível
de quali dade de
transporte em massa,
similar ao metrô,
oferecido com o BRT.
Foto por cortesia de
Volvo Bus Corporation

parte da população. Apesar disso tudo, a endividamento municipal. Bus Rapid Transit
municipalidade acaba assumindo uma dívida (BRT) pode oferecer alta qualidade de serviço,
de longo prazo, que pode afetar os investimen- similar ao metrô, por uma fração do custo das
tos em áreas mais prioritárias, tais como saúde, outras opções. Este Manual de BRT fornece
educação, abastecimento d’água e saneamento. às autoridades municipais, às organizações não
Mais ainda, a provável necessidade de subsi- governamentais, aos consultores e a outros mais
diar as relativamente caras operações férreas uma introdução ao conceito de BRT, assim
pode colocar contínuas restrições nas finanças como o processo passo a passo para planejar de
municipais. forma bem-sucedida um sistema de BRT.
Entretanto, há uma alternativa entre os ser- Esta seção introdutória ao BRT inclui os seguin-
viços de transporte públicos ruins e o alto tes tópicos:

Resumo Executivo 11
Manual de BRT

i. Definindo BRT

ii. Historia do BRT

iii. Transporte público em cidades em desenvolvimento

iv. Visão geral do processo de planejamento do BRT

i. Definindo o Bus Rapid Transit com definições de BRT, dentre os quais pode-
“Cidades são um invenção para maximizar mos citar os seguintes:
as oportunidades de troca e para minimizar BRT é “um modo de transporte público sobre
viagens… O papel do transporte é ajudar a pneus, veloz e flexível, que combina esta-
maximizar as trocas.” ções, veículos, serviços, vias e elementos de
—David Engwicht, escritor e ativista (1999, p. 19) sistema inteligente de transporte (ITS) em um
sistema integrado com uma forte identidade
O que é o Bus Rapid Transit? positiva que evoca uma única imagem.”
Bus Rapid Transit (BRT) é um sistema de (Levinson et al., 2003, p. 12)
transporte de ônibus de alta qualidade que “BRT é um transporte público de alta
realiza mobilidade urbana rápida e eficiente e qualidade, orientado ao usuário, que realiza
com custo eficiente através da provisão de infra- mobilidade urbana rápida, confortável e de
estrutura segregada com prioridade de passa- custo eficiente.” (Wright, 2003, p. 1)
gem, operação rápida e frequente e excelência BRT é “um modo de transporte rápido
em marketing e serviço ao usuário. BRT basica- que consegue combinar a qualidade dos
mente imita as características de desempenho e transportes férreos e a flexibilidade dos
conforto dos modernos sistemas de transporte ônibus.” (Thomas, 2001).
sobre trilhos, mas a uma fração do custo. Um Todas essas definições fazem com que o BRT se
sistema BRT custa, em geral, entre 4 a 20 vezes distinga do serviço de ônibus convencional. De
menos que um sistema de bondes ou de veículo fato, as definições tendem a sugerir que o BRT
leve sobre trilhos (VLT) ou entre 10 a 100 vezes tem muito mais em comum com sistemas ferro-
menos que um sistema de metrô. viários, especialmente em termos de desempe-
O termo BRT surgiu de sua aplicação na nho operacional e serviço ao usuário. Em vez de
América do Norte e na Europa. Entretanto, o representar uma versão de menor qualidade dos
mesmo conceito é conhecido no mundo com grandes desenvolvimentos ferroviários, BRT é,
muitos nomes diferentes, entre eles: na verdade, um reconhecimento do que muitos
„„ Sistemas de ônibus de alta capacidade, sistemas ferroviários urbanos têm oferecido de
„„ Sistemas de ônibus de alta qualidade, melhor até hoje. BRT incorpora os aspectos
„„ Metro-ônibus, mais valorizados pelos usuários de VLT e metrô
„„ Metro de superfície, e faz com que esses atributos se tornem acessí-
„„ Sistemas de ônibus expressos, e veis para um número maior de cidades. A prin-
„„ Sistemas de corredores de ônibus. cipal diferença entre BRT e sistemas urbanos
Ainda que os termos variem de país para país, a ferroviários é simplesmente que o BRT geral-
mesma premissa básica permanece comum: Um mente oferece transporte de alta qualidade a um
serviço de transporte público de alta qualidade, custo que a maioria das cidades pode pagar.
bastante competitivo com carros particulares e Hoje, o conceito de BRT está se tornando
a custos acessíveis. Para simplificar a leitura, o cada vez mais utilizado pelas cidades que
Figura 9 termo BRT será usado neste documento para buscam soluções de transportes a custo efetivo.
Corredor de ônibus descrever genericamente esses tipos de sistemas. À medida que novos experimentos em BRTs
segregado no canteiro Entretanto, reconhece-se que o conceito e o surgem, o estado da arte em BRT indubitavel-
central em Seul. termo indubitavelmente continuarão a evoluir. mente continua a melhorar. Apesar de tudo, o
Foto por cortesia do Seul
Development Institute Diversos documentos anteriores já contribuíram foco no usuário do BRT, certamente, continua

12 Introdução
Manual de BRT

a ser sua característica mais marcante. Os 3. Estrutura institucional e de negócios


desenvolvedores de sistemas de BRT de alta „„ Entrada no sistema restrita a operadores
qualidade, tais como os de Bogotá, Brisbane, prescritos, sob uma estrutura administra-
Curitiba, Ottawa, Quito e Rouen perceberam tiva e de negócios reformada (i.e., “sistema
que o objetivo principal era transportar pessoas fechado”);
com rapidez, eficiência e custo efetivo, e não dar „„ Licitação competitiva e processos comple-
prioridade aos carros. tamente transparentes na premiação de
contratos e concessões;
Características do BRT „„ Gerenciamento eficiente resultando na eli- Figura 10
BRT pode ser mais precisamente definido atra- minação ou minimização de subsídios do Plataformas em nível
vés de uma análise das características oferecidas setor público para a operação do sistema; permite embarque
pelo sistema. Enquanto alguns sistemas atin- „„ Sistema de cobrança de tarifas operado e e desembarque
giram o status de sistemas BRT completos, o gerencidado por entidade independente; rápido em Quito.
Foto por Lloyd Wright
reconhecimento dos elementos básicos pode ser „„ Fiscalização do controle de qualidade por
inestimável para os projetistas e desenvolvedores uma entidade/agência independente.
do sistema. A lista de características, a seguir,
apresenta os elementos de maior sucesso encon- 4. Tecnologia
trados nos sistemas de BRT implementados até „„Tecnologias veiculares de baixas emissões
hoje: (Figura 11);
„„Tecnologias veiculares de baixos ruídos;
1. Infra-estrutura física „„Cobrança e verificação de tarifas
„„ Vias de ônibus segregadas ou faixas exclu- automatizada;
„„Sistema de gerenciamento por controle Figura 11
sivas (Figura 9), predominantemente no
centralizado, utilizando aplicações de Veículo de alta
canteiro central da via;
Sistemas de Tráfego Inteligentes (ITS), tais tecnologia no corredor
„„ Existência de uma rede integrada de corre- BRT de Eindhoven.
dores e linhas; como localização automática de veículos;
Foto por cortesia de Advanced Public
„„ Estações modernas que apresentam ins- „„Prioridade semafórica ou separação física Transport Systems (APTS)

talações de amenidades e conveniência, nas interseções.


conforto, segurança e abrigo contra intem-
5. Marketing e serviço ao usuário
péries do tempo;
„„ Sistema com identidade de mercado
„„ Estações que propiciam acesso em nível ao
distinta;
veículo (veículo e a plataforma na mesma
„„ Excelência em serviços ao usuário e
altura, sem degraus);
oferecimento de utilidades essenciais aos
„„ Estações especiais e terminais que faci-
usuários;
litam a integração física entre linhas
„„ Facilidade de acesso entre o sistema e demais
troncais e serviços alimentadores e outros
opções de mobilidade urbana (tais como
sistemas de transporte em massa (quando
caminhadas, bicicletas, táxis, transportes
aplicável);
alternativos, motorizado particular, etc.);
„„ Melhoramentos no espaço público pró- Figura 12
„„ Providências especiais para facilitar o
ximo ao sistema BRT. Embarque adaptado
acesso para portadores de necessidades
para cadeira de
2. Operações especiais como crianças, velhos e pessoas rodas em Beijing.
Serviços rápidos e frequentes entre as prin-
„„ com deficiência física (Figura 12). Foto por cortesia de Kangming Xu

cipais origens e destinos; De uma maneira similar, Levinson et al., (2003,


Ampla capacidade para demanda de passa-
„„ p. 13) destacaram sete principais componen-
geiros ao longo do corredor; tes do BRT: 1. Vias, 2. Estações, 3. Veículos,
Embarques e desembarques rápidos
„„ 4. Serviços, 5. Estrutura de Linhas, 6. Cobrança
(Figura 10); e 7. Sistemas de Tráfego Inteligentes. Para
Cobrança e controle de pagamento antes
„„ se qualificar como um BRT, cada um desses
do embarque; fatores deve ser elevado a um nível de qualidade
Integração tarifária entre linhas, corredo-
„„ muito além daqueles conhecidos em serviços
res e serviços alimentadores. convencionais de ônibus.

Introdução 13
Manual de BRT

Circunstâncias locais ditarão até que ponto as do sistema, as velocidades médias e o tamanho
características acima são realmente úteis dentro da rede são determinantes no oferecimento de
do sistema. Cidades médias e pequenas podem um serviço de alta qualidade. Entretanto, deve-
achar que nem todos esses elementos são pre- se também reconhecer que muitos elementos
cisos ou factíveis, dadas as restrições de custo. chave na excelência em serviços de transporte
Ainda assim, atender às necessidades do usuário são, ao menos parcialmente, de natureza quali-
primeiro é uma premissa que todas as cidades, tativa. Esses elementos podem incluir: facilidade
independentemente das circunstâncias locais, de acessar o sistema, conforto nas estações e
devem seguir quando quiserem desenvolverem ônibus, percepção de proteção e segurança, legi-
um serviço de transporte público de sucesso. bilidade e clareza de mapas do sistema e placas,
cordialidade de funcionários e motoristas,
BRT completo e BRT padrão amplo reconhecimento do nome, imagem do
A dificuldade em prover uma definição precisa sistema, e limpeza e profissionalismo em todo o
de BRT deriva da ampla variedade de sistemas sistema. Transportes engloba mais do que sim-
atualmente em operação. Em vez de apresentar plesmente levar pessoas de um lugar ao outro.
um conjunto claro de qualidades, os diversos Um BRT de sucesso não leva simplesmente
sistemas BRT desenham um espectro de pos- pessoas do ponto A para o ponto B. Um BRT de
sibilidades (Figuras 13 e 14). Uma quantidade sucesso evoca um sentimento de confiança nos
de fatores locais determina até que ponto um seus usuários, cria um senso de orgulho comu-
pacote completo de atributos de BRT pode nitário e ajuda a transformar a própria natureza
ser desenvolvido. Esses fatores podem incluir da forma urbana da cidade. Até hoje, muitos
preferências locais e culturais, população total, poucos sistemas de transporte público atingiram
densidade populacional, distribuição de viagens, esse nível de impacto na cidadania local.
clima, geografia, topografia, recursos financeiros Este Manual de BRT fará uma abordagem em
disponíveis e, talvez o fator mais importante, o níveis para definir o conceito BRT. O conceito
grau de vontade política para implementar um de “BRT completo” ficará no nível mais alto.
sistema de qualidade. Um sistema oferecendo serviços exemplares de
O que qualifica um BRT é provavelmente algo transporte e abrangendo as características mais
mais do que a soma das características quanti- críticas de BRT será reconhecido com o status
tativas de um sistema. Certamente a capacidade de “BRT completo”. Nesse caso, um “BRT

Serviços de Serviços de
transportes ônibus Corredores BRT
alternativos convencional Básicos BRT-leve BRT Completo

 Operadores sem  Vias segregadas em corredores  Vias segregadas


regulamentação isolados Cobrança dentro  Tipicamente cobrança externa
 Similares a taxis (lotações) do ônibus  Estações de melhor qualidade
 Servíço ruim  Paradas com coberturas  Tecnologia veícular
 Pouca segurança no simples (de emissões) limpa
trânsito/ segurança pessoal  Ônibus tamanho padrão  Identidade de mercado
 Veículos velhos e pequenos

 Operação privada ou pública  Alguma forma de prioridade,  Serviço de metrô


 Normalmente subsidiados mas não vias totalmente  Rede de linhas e corredores
 Cobrança dentro do ônibus segregadas integrados
 Paradas sinalizadas com  Melhores tempos de viagem  Estações fevhadas de
postes ou coberturas bem  Paradas de melhor qualidade alta-qualidade
Figura 13 simples  Tecnologia veícular  Cobrança externa
 Serviço ruim (de emissões) limpa  Servíço rápido e frequente
O espectro de  Ônibus tamanho padrão  Identidade de mercado  Veículos modernos,
qualidade dos tecnologia (emissões) limpas
transportes públicos  Identidade de mercado
 Superior customer service
sobre pneus.

14 Introdução
Manual de BRT

completo” é definido pelos sistemas com no Essa falta de um número relevante de siste-
mínimo as seguintes características: mas de “BRT completos” deve-se, em parte, à
„„Vias segregadas ou faixas exclusivas na maio- relativamente recente invenção do conceito de
ria da extensão do sistema troncal/corredores BRT. Também é notável que o “BRT completo”
centrais da cidade; só aconteceu nas duas cidades onde foi possível
„„Localização das vias de ônibus no canteiro obter o maior nível de comprometimento polí-
central, em vez de ao lado das calçadas; tico com a qualidade dos transportes.
„„Existência de uma rede integrada de linhas e Diversos sistemas existentes, no entanto, estão
corredores; bem perto de serem considerados um sistema
„„Estações modernas, com conveniências, con- de “BRT completo”. Ao sistema de Goiânia
forto, seguras e abrigadas; (Brasil) falta-lhe apenas o maior nível de qua-
„„Estações oferecem acesso em nível entre a lidade de um “BRT completo”. Se os múltiplos
plataforma e o veículo; corredores em Quito (Equador) fossem com-
„„Estações especiais e terminais para facilitar a binados em uma única rede sem interferên-
integração física entre linhas troncais, serviços cias entre eles, então, certamente, essa cidade
alimentadores e outros sistemas de transporte também se qualificaria. Se os sistemas em
de massa (se aplicável); Brisbane (Austrália) e Ottawa (Canadá) imple-
„„Cobrança e controle de tarifas antes do mentassem a cobrança externa, então esses
embarque; sistemas certamente teriam todas as qualidades
„„Integração física e tarifária entre linhas, cor- de um “BRT completo”. Assim que os sistemas,
redores e serviços alimentadores; ainda em corredores limitados, de Guayaquil
„„Entrada no sistema restrita a operadores pres- (Equador), León (México) e Pereira (Colômbia)
critos, com uma estrutura administrativa e de se expandirem para redes completas, então
negócios renovada (sistema “fechado”); esses sistemas certamente também se qualifica-
„„Distinta identidade de mercado. rão. Se Jacarta (Indonésia) tornar seus serviços
Baseado nessa definição estrita, até novembro de alimentadores mais integrados com os serviços
2006, existiam apenas dois verdadeiros sistemas troncais, então ele terá também um sistema de
de “BRT completos” no mundo: BRT completo. Até que esses avanços sejam
„„Bogotá (Colômbia) feitos, no entanto, todos esses sistemas perma-
„„Curitiba (Brasil) necerão sob a alcunha genérica de “BRT”.

Serviços informais Serviços convencionais Vias de ônibus básicas

TransMilenio Figura 14
Evolução do
BRT Completo BRT Serviços aprimorados transporte público.

Introdução 15
Manual de BRT

De muitas maneiras, a ideia de “BRT com- depende das características escolhidas para defi-
pleto” é similar à definição de serviço de nir um sistema. Para os propósitos deste Manual
transporte público “ideal”. Entretanto, o tipo de BRT, o termo “BRT” será reservado para
de sistema mais apropriado para uma cidade em sistemas com as seguintes características:
particular é muito dependente das circunstân- „„ Vias segregadas ou faixas exclusivas na maio-
cias locais. Daí, o conceito de um sistema BRT ria da extensão do sistema troncal/corredores
“ideal” ou “completo” pode não ser a solução centrais da cidade.
certa para um dado cenário de condições locais. E pelo menos dois dos seguintes:
A proposição dessas categorizações de BRT é „„ Existência de uma rede integrada de linhas e
meramente para destacar as diferenças entre os corredores;
sistemas existentes. Essas categorizações não „„ Estações modernas, com conveniências, con-
devem ser interpretadas como necessariamente forto, seguras e abrigadas;
implicando superioridade de uma filosofia BRT „„ Estações oferecem acesso em nível entre a
sobre uma outra. plataforma e o veículo;
Também se reconhece que o termo genérico „„ Localização das vias de ônibus no canteiro
“BRT” é uma noção bastante subjetiva que central, em vez de ao lado das calçadas;
„„ Cobrança e controle de tarifas antes do
Tabela 1: Cidades com sistemas BRT, até março de 2007 embarque;
Continente País Cidades com sistemas de BRT „„ Estações especiais e terminais para facilitar a
Ásia China Beijing, Hangzhou, Kunming integração física entre linhas troncais, serviços
Índia Pune
alimentadores e outros sistemas de transporte
de massa (se aplicável);
Indonésia Jacarta (TransJakarta)
„„ Integração física e tarifária entre linhas, cor-
Japão Nagoya (Yutorito Line)
redores e serviços alimentadores;
Coréia do Sul Seul
„„ Entrada no sistema restrita a operadores pres-
Taiwan Taipei critos, com uma estrutura administrativa e de
Europa França Caen (Twisto), Lyon, Nancy (TVR line 1), Nantes negócios renovada (sistema “fechado”);
(Line 4), Nice (Busway), Paris (RN 305 busway,
Mobilien e Val de Marne busway), Rouen „„ Distinta identidade de mercado;
(TEOR), Toulouse (RN 88) „„ Tecnologias veiculares de baixa emissão
Holanda Amsterdã (Zuidtangent), Eindhoven, Utrecht (Euro 3 ou maior);
Reino Unido Bradford (Quality Bus), Crawley (Fastway), „„ Sistema de gerenciamento através de centro
Edimburgo (Fastlink), Leeds (Superbus and de controle centralizado, utilizando aplicações
Elite) de Sistemas de Tráfego Inteligentes (ITS), tais
Alemanha Essen (O-Bahn) como localização automática de veículos;
América Brasil Curitiba (Rede Integrada), Goiânia „„ Providências especiais para facilitar o acesso
Latina e (METROBUS), Porto Alegre (EPTC), São Paulo para portadores de necessidades especiais
Caribe (Interligado) como crianças, velhos e pessoas com deficiên-
Chile Santiago (Transantiago) cia física;
Colômbia Bogotá (TransMilenio), Pereira (Megabus) „„ Mapas de linhas, sinalização e/ou painéis de
Equador Quito (Trolé, Ecovía, Central Norte), Guayaquil informação em tempo real, claros e visíveis
(Metrovía) dentro das estações e/ou veículos.
Guatemala Cidade da Guatemala (TransMetro)
A Tabela 1 apresenta uma lista de cidades que
México León (Optibus SIT), Cidade do México atualmente se qualificam como possuidoras de
(Metrobús)
sistemas BRT.
América do Canadá Otawa (Transitway)
Norte Estados Boston (Silver Line Waterfront), Eugene (EmX),
Somando-se a esses sistemas existentes, há
Unidos Los Angeles (Linha Laranja), Miami (South numerosos projetos de BRTs tanto em cons-
Miami-Dade Busway), Orlando (Lynx Lymmo), trução quanto em planejamento. Muitos desses
Pittsburgh (Busway) novos sistemas deverão abrir como sistemas
Oceania Austrália Adelaide (O-Bahn), Brisbane (Busway), Sydney “BRT completos” (e.g., Guayaquil e Pereira).
(T-Ways) Além disso, muitos sistemas de BRT existentes

16 Introdução
Manual de BRT

e sistemas de faixas exclusivas estão sendo sistemas existentes que estão atualmente em
ampliados e recebendo melhorias, e esses siste- grande expansão.
mas provavelmente se tornarão sistemas “BRT Conforme já mencionado, o conceito de BRT
completos” em breve (e.g., Jacarta e León). A evoca uma quantidade de atributos tanto quali-
Tabela 2 enumera as cidades com sistemas BRT tativos quanto quantitativos que juntos ajudam
em construção. a criar uma experiência de transporte público
Na realidade, existem atualmente mais sistemas de qualidade para o usuário. O anexo 1 deste
BRT em desenvolvimento do que em funcio- documento oferece uma matriz comparativa
namento. Novamente, essa situação deve dizer Tabela 2: Cidades com sistemas BRT em construção, até março de 2007
muito sobre o surgimento recente do interesse
pelos sistemas BRT. Embora essa rápida expan- Continente País Cidades com sistemas em construção
são apresente dificuldades em termos de assegu- África Tanzânia Dar es Salaam
rar a providência de apoio técnico de qualidade, Ásia China Jinan, Xi’an
o envolvimento de muitas cidades representa que Europa França Evry-Sénart, Douai, Clermont-Ferrand
existem múltiplas oportunidades para experi- (Line 1 Lohr system)
ências e melhorias das noções atuais sobre as Itália Bolonha
melhores práticas. A Tabela 3 apresenta cidades América Latina Colômbia Bucaramanga, Cali, Cartagena, Medelin
com sistemas BRT em processo de planejamento. e Caribe Venezuela Barquisimento, Mérida (Trolmérida)
Além dos novos sistemas em desenvolvimento, América Estados Cleveland
do Norte Unidos
registrados na Tabela 3, muitos dos sistemas
Oceania Austrália Canberra
BRT existentes estão em processo de ampliação
e melhoria. A Tabela 4, a seguir, enumera os Nova Zelândia Auckland (Northern Busway)

Tabela 3: Cidades com sistemas BRT em processo de planejamento, até março de 2007
Continente País Cidades com sistemas em processo de planejamento
África África do Sul Cidade do Cabo, Johanesburgo (Rea Vaya), Port Elizabeth, Pretoria
Outros países Acra (Gana), Dacar (Senegal), Lagos (Nigéria)
da África
Ásia China Chengdu, Chongqing, Guangzhou, Shanghai, Shenyang, Shenzhen,
Wuhan, Wuxi
Índia Ahmedabad, Bangalore, Delhi, Indore, Jaipur
Taiwan Chiayi, Kaohsiung, Taoyuan, Taichung, Tainan
Outros países Bangkok (Thailândia), Colombo (Sri Lanka), Haifa (Israel), Hanói
da Ásia (Vietnã), Ho Chi Minh (Vietnã), Jerusalém (Israel)
Europa França Cannes, Montbéliard, Besançon, Lorient, Amiens, Metz, Nancy
(Line 2), Caen (Line 2), Valenciennes/Pays de Condé, Nimes, Le Havre
Reino Unido Cambridge, Coventry, Kent Thames-side, Leigh
América Colômbia Barranquilha, Soacha (Bogotá)
Latina e México Aguas Calientes, Chihuahua, Guanajuato, Monterrey, Querétaro,
Caribe Torreón, Zapopan
Outros países Lima (Peru), Manágua (Nicarágua), Fort-de-France (Martinica,
da América França), Posadas (Argentina), Rio de Janeiro (Brasil), San José (Costa
Latina e Caribe Rica), Tegucigalpa (Honduras)
América do Canadá Brampton, Calgary, Durham region, Edmonton, Mississauga, St.
Norte John, Toronto, Victoria, Winnipeg
Estados Unidos Albany, Atlanta, Baton Rouge, Charlotte, Chicago, Denver, Detroit,
El Paso, Fort Collins, Hartford, Houston, Louisville, Milwaukee,
Mineápolis and St. Paul, Montgomery County, Nova Iorque, Reno,
Sacramento, St. Petersburg, Salt Lake City, San Diego, São
Francisco, San Jose, Seattle, South Brunswick, Tampa Bay
Oceania Austrália Melbourne

Introdução 17
Manual de BRT

dos muitos aspectos qualitativos e quantitati- (Figura 15), Aeroporto de Orlando e Osaka-
vos que definem um sistema de BRT. Um tipo Kansai Internacional. Dependendo de qual
similar de informação pode ser encontrado em seja a definição de BRT, esses sistemas também
muitas outras publicações incluindo Menckhoff podem ser classificados como sistemas BRT for-
(2005), Levinson et al., (2003), Rebelo (2003) e mais. Entretanto, dada a natureza especializada
Mereilles (2000). desses sistemas, eles não são tratados como BRT
Há também sistemas sobre pneus com guias no contexto deste manual.
laterais fixas, utilizados em muitos aeropor-
tos, entre os quais: Schippol em Amsterdã, Corredores de ônibus básicos
Aeroporto de Frankfurt, Londres Gatwick Este Manual de BRT se concentrará, na maior
parte, sobre sistemas atendendo aos padrões
descritos para “BRT” com o objetivo de promo-
ver sistemas de “BRT completos”. Entretanto,
também se reconhece que existem sistemas
de transporte de qualidade que não alcançam
completamente a definição de BRT. Há cidades
que implementaram corredores básicos de “vias
de ônibus” que, embora não alcancem o padrão
de desempenho e conforto de um BRT, ajudam a
melhorar os tempos de viagens dos residentes. Em
muitos casos, esses sistemas de faixas exclusivas
antecederam o BRT e contribuíram imensamente
para o desenvolvimento do conceito de BRT.
Por exemplo, o serviço “Vía Expressa” em Lima
(Peru) foi um predecessor de muitos dos sistemas
BRT na América Latina e em outros lugares
(Figura 16). Esses serviços oferecem um nível
básico de serviço que, ao menos, dá prioridade
Figura 15 aos veículos de transporte público, conduzindo a
Um veículo sobre pneus em uma via elevada potenciais economias nos tempos de viagem.
oferece serviços de transporte público entre os Nos Estados Unidos, vias de ônibus básicas são
terminais do Aeroporto de Londres Gatwick.
Foto por Lloyd Wright
utilizadas ao longo de corredores de rodovias de
forma a oferecer serviços expressos rápidos entre
Tabela 4: as áreas suburbanas e os centros das cidades. A
Sistemas BRT existentes em grande expansão, até março de 2007 ausência de paradas ao longo desses corredores
Continente País Cidades com sistemas de BRT em expansão produziram algumas das mais altas velocidades
comerciais registradas em operações de serviços
Ásia China Beijing
de ônibus. Nesses exemplos, as faixas centrais
Indonésia Jacarta (TransJakarta)
das rodovias são deixadas apenas para uso exclu-
Coréia do Seul sivo de ônibus. Em outros casos, essas faixas são
Sul
designadas somente para “veículos de alta ocu-
Europa França Paris (Mobilien)
pação” (HOV, do inglês high occupancy vehi-
América Brasil Curitiba, Porto Alegre (EPTC), São Paulo cle”), e os ônibus dividem a faixa com outros
Latina e (Interligado)
Caribe
veículos de muitos passageiros. Cidades como
Chile Santiago (Transantiago) Los Angeles, Nova Iorque e Perth (Austrália)
Colômbia Bogotá (TransMilenio) também, de alguma forma, fazem uso de
Equador Quito (Trolé, Ecovía, Central Norte) medidas de prioridade ao transporte público nas
México León (Optibus SIT), Mexico City (Metrobús) rodovias. A Tabela 5 traz uma lista de cidades
América do Estados Boston (Silver Line) com serviços de vias de ônibus básicas.
Norte Unidos
Enquanto essas vias de ônibus podem resultar
Oceania Australia Brisbane em melhores tempos de viagem, elas, em geral,

18 Introdução
Manual de BRT

carecem dos outros elementos de BRT, a chave


para criar um serviço ao usuário de alto padrão.
Em muitos casos, vias de ônibus “abertas”
que permitem a entrada de qualquer operador
sofrem congestionamento de ônibus, pois estes
se acumulam perto das estações e interseções.
Assim, muito dos potenciais benefícios referen-
tes ao tempo de viagem não são alcançados por
causa das ineficiências.
A existência de uma via de ônibus básica pode
ajudar a preparar o palco para posteriores
evoluções para BRT. Antes do desenvolvimento
do sistema TransMilenio ao longo da Avenida
Caracas em Bogotá, o corredor já apresentava
uma faixa exclusiva no canteiro central. Ainda
que o desempenho dessa via de ônibus fosse
muito fraco graças às operações descontrola-
das e o sério congestionamento, a existência Figura 16
de infra-estrutura marcou um precedente a “Vía Expressa” em Lima foi um predecessor
partir do qual o novo sistema pode evoluir. De dor modernos sistemas BRT.
maneira similar, o sistema de faixas exclusivas Foto por Dario Hidalgo

de Kunming atualmente submete-se a uma evo-


lução para alcançar o status de BRT (Figura 17).
Assim, em muitos casos, faixas exclusivas podem
Tabela 5: Cidades com faixas exclusivas de ônibus, até março de 2007
Continente País Cidades com faixas exclusivas básicas
África Costa do Marfim Abidjan (Boulevard de la Republique)
Réunion (France) Saint-Denis
África do Sul Johannesburg (Soweto Highway)
Ásia China Beijing (Qinghua Dong Road), Shejiazhuang, Shenyang
Japão Nagoya (“Key” Routes)
Turquia Ancara (Besevler-dikimevi), Istambul (Taksim-Zincirlikuyu)
Europa Bélgica Liege
Evry
Itália Gênova
Espanha Madri (Paseo de la Castellana)
Reino Unido Ipswich (Superoute 66), Runcorn
América Brasil Belo Horizonte (Avenida Cristiano Machado), Campinas
Latina e (Amoreiras), Manaus, Recife (Avenidas Caxangá, Joaquim
Caribe Nabuco, Sul e Herculano Bandeira), Rio de Janeiro (Avenida
Brasil)
Chile Santiago (Avenida Grecia)
Peru Lima (Paseo de la República ou “Vía Expresa”, Avenida Abancay
e Avenida Brasil)
Trinidad and Tobago Port of Spain
América do Estados Unidos Los Angeles (San Bernardino Freeway, Harbor Freeway),
Norte Nova Iorque (Lincoln Tunnel), Philadelphia (Ardmore busway),
Providence (East Side bus tunnel)
Oceania Austrália Perth (Kwinana Freeway)

Introdução 19
Manual de BRT

Figura 17 representar um estágio preliminar de desenvol-


Kunming atualmente vimento para a criação de um sistema de BRT.
tenta evoluir suas
faixas exclusivas Serviços de ônibus aprimorados
básicas para um Além das faixas exclusivas/corredores básicos de
sistema BRT.
Foto por Lloyd Wright
ônibus, ainda existe outra categoria de serviços
de ônibus que merece atenção especial. Este
Manual de BRT fez com que vias de ônibus
segregadas fossem um requerimento para que
um sistema pudesse ser rotulado de BRT. No
entanto, existem muitos sistemas que possuem
muitas das outras qualidades de BRT, mas não
possuem um número relevante de vias exclu-
sivas. Em alguns casos, esses sistemas podem
utilizar poucas faixas de ônibus ou seguir
totalmente misturados com o tráfego geral.
Esses tipos de sistemas serão cunhados como
“Serviços de Ônibus Aprimorados”. Alguns
autores se referem a esses sistemas como “BRT
leve”. A maioria desses “Serviços de Ônibus
Aprimorados” se encontram em países desen-
volvidos, especialmente na Europa e na América
do Norte. No contexto de cidades com pouco
uso de transporte público e desenvolvimento de
baixa densidade, a dificuldade em reclamar o
direito exclusivo de passagem para veículos de
transporte público pode ser bem grande.
Apesar disso, sistemas na Europa, América do
Norte e outros lugares incluíram avanços como
os de BRT ao serviço convencional de ônibus, e
no processo obtiveram visíveis melhoramentos
em tempo de viagem e clientela (Figuras 18 e
19). Esses “Serviços de Ônibus Aprimorados”
incluem sistemas nas cidades de: Hong Kong
(China), Boston, Las Vegas, Oakland-San Pablo
(EUA), Vancouver (Canadá). A Tabela 6 apre-
senta uma listagem de alguns dos sistemas con-
Figuras 18 e 19 siderados “Serviços de Ônibus Aprimorados”.
Embora corredores A rede de ônibus de Londres atende 5.4 milhões
como o serviço Los de viagenstodos os dias, excedendo em muito o
Angeles Metro Rapid
sistema de metrô no subsolo da cidade. Londres
no Boulevard Wilshire
(à esquerda) ou o é uma das poucas cidades no mundo em que
Vancouver B-Line o número de viagens de ônibus cresceu consis-
(à direita) possam tentemente nos últimos dez anos (Figura 20).
não ser sistemas Atribui-se o sucesso de Londres a quatro amplas
BRT “completos”, metas de qualidade de serviço: 1. Frequência
eles representam (serviço “chegue e siga”, com espera de 12 minu-
uma melhoria para tos ou menos); 2. Confiabilidade (graças à fis-
os usuários. calização das faixas de ônibus); 3. Abrangência;
Fotos por cortesia do National Bus
Rapid Transit Institute (NBRTI) e 4. Simplicidade. Para atingir essas metas,

20 Introdução
Manual de BRT

Londres implementou muitos elementos de BRT Tabela 6: Cidades com Serviços de Ônibus Aprimorados (“BRT-Leve”),
no serviço convencional de ônibus: até janeiro de 2007
„„Veículos de plataforma baixa, acessíveis para
Cidades com serviços de ônibus
embarque e desembarque rápidos; Continente País
aprimorados
„„Cobrança externa nas áreas centrais;
Ásia China Hong Kong
„„Painéis de informação em tempo real nas
Europa Itália Trieste
estações;
Holanda Almere
Reino Unido Londres
Quadro 1: América Latina Porto Rico San Juan (Río Hondo Connector)
Faixas de ônibus ou vias de ônibus e Caribe (EUA)

Faixas de ônibus e vias de ônibus são bas- América do Estados Alameda e Contra Counties (AC Transit
Norte Unidos Rapid Bus), Albuquerque (Rapid Ride),
tante diferentes em projeto e efetividade. Boston (Silver Line Washington Street),
Enquanto alguns sistemas de faixas de ônibus Chicago (NEBR), Denver (16th Street Mall),
bem demarcadas e bem policiadas em países Honolulu (City / County Express), Kansas
desenvolvidos são um sucesso (e.g., Londres), City (MAX), Las Vegas (MAX), Los Angeles
em geral faixas de ônibus sozinhas, particu- (Metro Rapid Wilshire Boulevard), Phoenix
(RAPID), Santa Clara (VTA)
larmente as na faixa da calçada, contribuem
pouco para melhorar a eficiência do transporte Canadá Gatineau, Halifax, Quebec (Metrobus),
Montreal (STM R-Bus 505), Vancouver
público.
(B-Line), York (Viva)
Faixas de ônibus são superfícies das ruas
reservadas primariamente para veículos de „„ Contratos com incentivo de qualidade para os
transporte público numa base permanente (ou operadores concessionados;
em um horário específico). Faixas de ônibus não „„ Treinamentos avançados de motoristas;
são fisicamente segregadas das outras faixas. „„ Medidas de faixas prioritárias.
Embora as faixas sejam pintadas, demarcadas Ainda que Londres não tenha implementado
e sinalizadas, ainda assim é possível mudar vias de ônibus estritas, o uso frequente de faixas
de faixa. Em alguns casos, faixas de ônibus de ônibus bem demarcadas e policiadas ajudou
podem ser compartilhadas com veículos de a aumentar as velocidades e a confiança. Hong-
alta ocupação, táxis e/ou veículos não moto- Kong conseguiu muitos dos mesmos êxitos que
rizados. Faixas de ônibus também podem ser
abertas ao uso de carros privados próximos
aos pontos de conversão.
Vias de ônibus são faixas fisicamente segre-
gadas que são permanente e exclusivamente
dedicadas ao uso de veículos de transpor-
tes públicos. Entradas nas vias de ônibus só
podem ser feitas em pontos específicos. A via
de ônibus é segregada do outro tráfego por
meio de muros, guias, cones ou outro ele-
mento estruturalmente bem definido. Veículos
que não sejam de transporte comunitário são
geralmente proibidos de acessar uma via de
ônibus, mesmo que veículos de emergência
normalmente possam utilizar a via. Vias de Figura 20
ônibus podem ser no nível da superfície, ele-
O uso de fiscalização
vadas ou enterradas, mas, quando localizada por câmeras e
numa artéria de tráfego misto, costuma ser cobrança externa em
no canteiro central. Sistemas BRT de modo Londres melhorou o
característico consistem de infra-estrutura de desempenho do sistema
vias de ônibus. consideravelmente.
Foto por Lloyd Wright

Introdução 21
Manual de BRT

Londres com faixas de ônibus prioritárias, estru- tecnologia não é um substituto para prioridade
turas de tarifas integradas com outras opções clara para o transporte público por parte da lide-
de transporte público de massa, contratos com rança política. Serviços de ônibus aprimorados
incentivos para os operadores concessionados e devem, portanto, evitar o risco de colocar a per-
veículos de qualidade superior. fumaria sobre a substância no que diz respeito a
O “AC Transit Rapid Bus” na área da Baía de oferecer valor real para o usuário.
São Francisco (EUA) e o serviço “Viva” em York
(Canadá) estabeleceram altos padrões em termos O que BRT não é
de serviço ao usuário e desempenho. Esses dois BRT tem pouco em comum com serviços con-
sistemas utilizam inovações, como faixas fura-fila vencionais de ônibus. Em boa parte do mundo,
e prioridade semafórica sobre os outros fluxos de serviços convencionais de ônibus são lentos,
tráfego nas interseções. O sistema Viva também demorados (baixa frequência), inadequados, des-
instalou máquinas de bilhetes nas estações para confortáveis e irregulares, além de carecerem de
facilitar a cobrança externa. Dessa forma, esses serviços e status. Sistemas que buscam mudanças
sistemas fizeram muito para replicar as feições do pequenas e cosméticas no serviço convencional
BRT, mas em situações em que as vias segrega- provavelmente não colherão os benefícios teste-
das para ônibus não são ainda possíveis. munhados até hoje nos melhores sistemas BRT.
Há muito tempo, serviços de ônibus têm um
Da mesma forma, o novo sistema MAX em estigma negativo, e isso associado ao péssimo
Las Vegas utiliza os veículos Civis que foram desempenho operacional e serviço inadequado
originalmente popularizados nos sistemas fran- ao usuário. “Transporte Público”, em geral, tem
ceses. Las Vegas decidiu empregar sistemas de a mesma conotação lamentável que “banheiro
guia ótico na aproximação dos veículos em suas público”. Superar essa imagem negativa requer
estações modernistas. uma completa remontagem de cada aspecto de
Assim como muitos desses sistemas aprimora- serviço e desempenho operacional. A bandeira
dos exemplificam, se o sistema é cunhado de “BRT” não deveria ser apropriada para sistemas
“BRT” ou não, deve ser menos relevante que que fazem apenas um esforço marginal pela
a qualidade do serviço oferecido e o grau com melhoria de desempenho.
que melhorias contínuas são conquistadas. A BRT também não deve ser confundido com
maioria dos serviços convencionais de ônibus faixas de ônibus. Em muitas cidades, a ausên-
pode receber aprimoramentos substanciais pela cia de fiscalização tornou as faixas de ônibus
consideração de alguns dos avanços de serviços ineficazes (Figuras 21 e 22), particularmente
ao usuário de baixo custo que são evidentes em quando localizadas na faixa da calçada. Nesses
sistemas de BRT. Além disso, em muitos casos, casos, a faixa de ônibus é um gesto simbólico
esses “Serviços de Ônibus Aprimorados” podem para os usuários de transporte público e fazem
muito bem evoluir para o status de “BRT” com muito pouca diferença na qualidade do serviço.
a posterior inclusão de vias de ônibus exclusivas. O Quadro 1 discute as diferenças entre faixas de
A segunda fase do sistema Viva de York requer o ônibus e vias de ônibus em maior detalhe.
desenvolvimento de vias de ônibus exclusivas.
Paradas breves de táxis e veículos de entrega
Entretanto, há limitações para a extensão do que contribuem muito para degradar a utilidade da
as soluções baseadas em tecnologia podem criar faixa de ônibus. Nesses casos, os ônibus prova-
sozinhas em um serviço de transporte público velmente apenas deixam de fazer uso das faixas
de alta capacidade. (Figuras 23 e 24).
Na criação da imagem do novo sistema, muitos Em outros casos, há faixas de ônibus que
dos serviços de ônibus aprimorados, especial- são policiadas regularmente, e isso gera uma
mente nos EUA, apoiam-se somente sobre as perceptível melhora no serviço. Por exemplo, a
caras tecnologias veiculares. Novos veículos, no marcação colorida e a fiscalização por câmeras
entanto, não fazem muito para encorajar novas das faixas de ônibus em Londres serviram para
viagens, se outras mudanças, como prioridade maximizar a utilidade dessas faixas. Entretanto,
de acesso, não forem também tratadas. Alta por causa dos inevitáveis conflitos com veículos

22 Introdução
Manual de BRT

Figura 215 Figura 225


Uma rua “só de ônibus” em San José (Costa A visão da frente de um
Rica) é invadida por veículos particulares. ônibus viajando em uma
Foto por Lloyd Wright faixa “só de ônibus” na
fazendo conversões e às limitações de configu- Cidade do México.
Foto por Lee Schipper
rações em ruas estreitas, até mesmo as faixas
de ônibus bem gerenciadas não provavelmente Figuras 233and 246
jamais se igualarão à eficiência de uma via Em cidades diversas
inteira exclusiva para ônibus. Além disso, a como Sydney (esquerda)
fiscalização pela polícia de tráfego pode dimi- e São Paulo (direita), a
nuir com o tempo e com as novas administra- intenção das faixas de
ções políticas. As faixas de ônibus em Bangkok ônibus são frustradas
funcionaram razoavelmente bem quando foram por constante invasões
introduzidas pela primeira vez em 1973, mas, de veículos de entrega,
táxis e outras obstruções.
em um curto espaço de tempo, a polícia de Foto à esquerda por cortesia de
tráfego decidiu não fiscalizar mais a intrusão Todd Litman;
Foto à direita por Lloyd Wright
de veículos particulares e, daí em diante, o
esquema passou a ser ineficaz.

ii. A história do BRT


“Se você quiser fazer uma torta de maçã do
nada, você deverá primeiro criar o universo.”
—Carl Sagan, cientista e escritor, 1934–1996

Os predecessores do BRT
A história do BRT consiste de uma variedade de
esforços anteriores em melhorar a experiência do
transporte público para o usuário. Ainda que a
moderna era do desenvolvimento do BRT seja
creditada à abertura do sistema de Curitiba em
1974, houve muitos esforços antes de Curitiba
que ajudaram a estabelecer a idéia. Além disso,
o BRT também se beneficiou enormemente

Introdução 23
Manual de BRT

das aplicações de sistemas ferroviários urba- 1969, a primeira via de ônibus de alta veloci-
nos de alta qualidade. Sob muitos aspectos, o dade foi construída nos Estados Unidos, com a
BRT absorveu conceitos dos sistemas de metrô abertura da primeira seção de 6,5 quilômetros
ferroviário urbano e dos sistemas ferroviários da “Busway” da Rodovia de Shirley na Virgínia
leves, de maneira a oferecer uma experiência de do Norte (Figura 25). Em 1971, a cidade de
qualidade ao usuário, mas a custos menores que Runcorn (Reino Unido) abriu um corredor de
os sistemas ferroviários tradicionais. via de ônibus que também atuou como catalisa-
As origens do conceito de BRT podem ser dor para um novo desenvolvimento da cidade.
remontadas a até 1937, quando a cidade de A primeira via de ônibus em um país em
Chicago delineou seus planos para converter três desenvolvimento foi criada em Lima (Peru) com
linhas férreas dentro da cidade em corredores a introdução de 1972 da via de ônibus básica,
de ônibus expressos. Vias de ônibus exclusivas dedicada, conhecida como “Vía Expressa”. A
foram desenvolvidas para muitas outras cidades Vía Expressa cobre a distância de 7,5 km e ainda
nos EUA, incluindo: Washington, DC (1955- oferece um serviço eficaz, embora básico, para a
1959), St. Louis (1959) e Milwaukee (1970) área. A chegada da primeira rua “exclusiva para
(Levinson et al., 2003). ônibus” também foi em 1972, com a conversão
Entretanto, a implementação real de medidas da Rua Oxford em Londres, uma rota principal
de prioridade de ônibus não ocorreu até os anos de tráfego, em uma rua “exclusiva para ônibus e
60 com a introdução do conceito de “faixa de táxis”. Um ano depois, em 1973, a via de ônibus
ônibus”. Em 1963, faixas de ônibus expressas “El Monte” com 11 quilômetros foi desenvol-
no contra-fluxo foram introduzidas na área da vida em Los Angeles (Figura 26).
cidade de Nova Iorque. Um ano depois, em
1964, a primeira faixa de ônibus “no fluxo” foi Sistemas BRT modernos
implementada em Paris. “Quando você tem pouco dinheiro, você
aprende a ser criativo.”
Em 1966, a primeira via de ônibus no canteiro
—Jaime Lerner, ex-Prefeito de Curitiba
central apareceu nos EUA (em St. Louis) e na
Bélgica (em Liege), como resultado da conversão A promessa de um BRT completo não foi
de sistemas de bonde para o uso de ônibus. Em cumprida, contudo, até a chegada do sistema do
“metrô de superfície” desenvolvido em Curitiba
Figura 25 (Brasil) (Figura 27). Os primeiros 20 quilôme-
A via de ônibus na tros do sistema de Curitiba foram planejados
Rodovia de Shirley em
em 1972, construídos em 1973 e abertos para o
Arlington (EUA), um
dos primeiros esforços serviço em 1974. Em conjunção com os outros
de vias de ônibus no avanços de Curitiba com zonas de pedestres,
canteiro central. espaços verdes e programas sociais inovadores,
Imagem por cortesia de US TCRP a cidade se transformou em uma história de
Media Library
sucesso urbano, renomada em todo o mundo.
Ironicamente, Curitiba, de início, queria a
construção de um sistema de metrô ferroviário.
No entanto, a falta de recursos suficientes para
o custeio necessitava de uma abordagem mais
Figura 26 criativa. Daí, sob a liderança do Prefeito Jaime
Um anúncio tentando Lerner, a cidade começou o processo de desen-
convencer motoristas a volvimento de corredores de vias de ônibus que
trocar seus carros pela irradiavam do centro da cidade. Na ocasião,
Via de Ônibus de El Curitiba, como muitas cidades da América
Monte em Los Angeles Latina, estava sofrendo um rápido crescimento
(“O último a ficar é populacional. No começo dos anos 70, a cidade
um motorista!”). tinha cerda de 600.000 habitantes e, hoje, tem
Imagem por cortesia de US TCRP
Media Library mais de 2,2 milhões.

24 Introdução
Manual de BRT

Em grande parte da América Latina, operadores


do setor privado tinham dominado o mercado
de transporte público. Entretanto, esses opera-
dores atuavam sem muito controle e sem regras
e não supriam as necessidades dos passageiros
em ternos de conforto, conveniência e segurança.
Sem os recursos para desenvolver um sistema de
transporte público de base ferroviária ou uma
estrutura urbana baseada no uso do automóvel, a
equipe do Prefeito Lerner criou uma alternativa
de baixo custo, mas de alta qualidade, utili-
zando a tecnologia de ônibus. Hoje, as estações
modernistas “entubadas” de Curitiba e ônibus
bi-articulados de 270 passageiros representam
um exemplo mundial. O sistema de BRT, agora,
tem cinco corredores radiais emanando do
coração da cidade. A construção de um sexto
corredor está agora a caminho através de finan-
ciamento provido pelo Banco Inter-Americano
de Desenvolvimento (BID). Até 2005, o sistema
de Curitiba exibia 57 quilômetros de vias de
ônibus exclusivas e 340 km de serviços alimen-
tadores. O sistema atrai anualmente centenas de
autoridades de outras cidades, todos procurando
estudar as características organizacionais e de
projeto que deram forma ao sucesso de Curitiba. Com Curitiba servindo de exemplo, muitas Figura 27
O sucesso do sistema de BRT de Curitiba impul- outras cidades brasileiras seguiram esse modelo, Sob a condução do
sionou a carreira de Jaime Lerner, quem apoiou com sistemas básicos sendo inaugurados em ex-prefeito Jaime
politicamente a criação do conceito original, Lerner, Curitiba se
São Paulo (1975), Goiânia (1976), Porto Alegre
visto que ele foi duas vezes eleito como prefeito e tornou líder mundial
(1977) e Belo Horizonte (1981) (Meirelles,
duas vezes eleito como governador do Estado do em transporte
2000). O sistema de BRT de São Paulo é atual-
Paraná, no Brasil. público eficiente.
mente o maior do mundo com 142 quilômetros Foto cortesia de Volvo Bus
A crise do petróleo no começo dos anos 70 pôs de vias de ônibus exclusivas atendendo mais de 2 Corporation
pressão em muitos governos para que descobris- milhões de viagens todos os dias.
sem maneiras rápidas de melhorar o transporte
Com o desenvolvimento desses primeiros sis-
público. Os anos 70, portanto, experimenta-
temas, o Banco Mundial também veio a reco-
ram uma relativa agitação nas atividades das
nhecer o potencial de vias de ônibus através do
primeiras vias de ônibus. O potencial das vias
seu artigo sobre políticas de transporte urbano.
de ônibus para encorajar o uso de transporte
Subsequentemente, o Banco Mundial se pôs a
público foi reconhecido nos Estados Unidos, em
financiar a primeira via de ônibus na África (em
Relatórios do Programa de Pesquisa Rodoviária
Cooperativo Nacional (National Cooperative Abidjan, Costa do Marfim) em 1977. A cidade
Highway Research Program, NCHRP) em de Pittsburgh (Estados Unidos) também abriu
1973 e 1975. Esses relatórios ressaltaram os sua primeira via de ônibus em 1977.
benefícios do uso de ônibus nas rodovias como Apesar do sucesso e relativa fama de Curitiba
uma forma rápida de viajar. Igualmente, em entre os profissionais do planejamento de trans-
1976, a publicação das orientações de projeto portes, a total replicação do conceito de BRT
de vias de ônibus pela agência operadora de não aconteceu durante toda a década seguinte.
transportes públicos de Paris (Régie Autonome À medida que a primeira crise do petróleo retro-
des Transport Parisien, RATP) ajudou a impul- cedia, o interesse governamental pelo transporte
sionar o interesse pelas vias de ônibus na França. público começou a enfraquecer. Ao mesmo

Introdução 25
Manual de BRT

Figura 284
Em 1980, Essen se
tornou o primeiro
sistema usando um
sistema mecânico
de guia.
Foto por cortesia da TCRP Media
Library

Figura 298
A linha “Trole” de
Quito fornece um
exemplo cedo de BRT
na América Latina. tempo, operadores privados de ônibus de “visão No final dos anos 90, muitos operadores de
Foto por Lloyd Wright curta”, aproveitando a estabilidade e o aumento ônibus da América Latina encararam uma crise
de passageiros, resistiu aos desenvolvimentos de com o declínio do número de viagens graças
sistemas BRT por temer a perda dos benefícios à competição com o os veículos motorizados
de taxação mínima e da fraca regulamentação. particulares e os microônibus do setor informal,
Assim mesmo, os anos 80 viram o advento e isso fez diminuir a resistência às mudanças.
da primeira via de ônibus guiada. Como uma Em 1996, Quito (Equador) abriu um sistema
alternativa ao sistema ferroviário leve planejado, de BRT usando tecnologia de trólebus elétricos
a cidade de Essen (Alemanha) abriu seu sistema (Figura 29). Quito, depois, incluiu seu corre-
guiado em 1980 (Figura 28). Essa inovação dor “Ecovía”, em 2001, e seu “Central Norte”,
usa rodas guias laterais para controlar o movi- em 2005. Além da América Latina, o primeiro
mento do veículo dentro de uma canaleta da interesse por BRT na Ásia aconteceu anos 90.
largura do ônibus. Adelaide (Austrália) seguiu Em 1999, Kunming desenvolveu a primeira via
com sua própria via de ônibus guiada em 1986. de ônibus no canteiro central na China. Taipei
Ocasionalmente, o conceito de via guiada (Taiwan) também desenvolveu um sistema de
Figura 30 chegou até outras cidades, incluindo algumas vias de ônibus no canteiro central, inaugurado
Os sistemas de BRT cidades do Reino Unido, como Ipswich (1995), só em 2001. Igualmente, cidades em países
em Rouen (foto acima) Leeds (1995) e Bradford (2002), assim como a desenvolvidos também demonstraram um
e outras cidades da cidade japonesa de Nagoya (2002). Contudo, renovado interesse no final dos anos 90, e novos
França introduziram em razão do custo um tanto alto da via de sistemas foram implementados em Vancouver
novas características, ônibus guiada, o conceito teve relativamente (Canadá), em 1996, Miami (EUA), em 1997, e
em especial a alta poucas adoções. Brisbane (Austrália), em 2000.
tecnologia veicular e Na França, no final dos anos 90, inovações em
sistemas de orientação. Foi só no fim dos anos 90 que o perfil dos
Imagem por cortesia de Connex BRTs se tornou mais amplamente conhecido. tecnologia veicular toldaram a distinção entre
BRT e VLT. Veículos como os Civis da Irisbus
e o TVR (Transport sur Voue Reservée) da
Bombardier utilizaram carrocerias arredondadas
e tiveram as rodas cobertas, compondo um pro-
duto bastante sofisticado. Os sistemas em Caen
(2002), Clermont-Ferrand (2001), Lyon (2004)
Nancy(2001) e Rouen (2000) utilizaram esses
tipos de veículos (Figura 30). O sistema de BRT
de Rouen “TEOR” é particularmente sofisticado
graças ao uso de um sistema de guia ótico.

A transformação de Bogotá
Ainda nos anos 90, contudo, o BRT não era
visto como uma opção de transporte em massa
capaz de oferecer um serviço completo como
sistemas ferroviários. O BRT era mais um nicho

26 Introdução
Manual de BRT

de mercado para cidades médias e pequenas


(e.g., Curitiba) ou uma alternativa de menor
qualidade para alguns corredores isolados (e.g.,
São Paulo). Engenheiros de transporte acre-
ditavam amplamente que o BRT não poderia
atender confortavelmente mais do que 12.000
passageiros por hora por sentido por faixa a uma
velocidade razoável. Entretanto, o advento do
sistema BRT “TransMilenio” em Bogotá trans-
formou radicalmente a percepção do BRT em
todo o mundo (Figura 31). Por ser uma cidade
de grandes dimensões (7 milhões de habitantes)
e uma cidade relativamente densa (240 habitan-
tes por hectare), Bogotá comprovou que o BRT
é capaz de realizar desempenho de alta capaci-
dade para as megacidades do mundo.
O principal ingrediente do sucesso em Bogotá foi
um prefeito visionário, Enrique Peñalosa, quem Hoje, com Bogotá e Curitiba atuando como Figura 31
reconheceu que a realização a tempo de uma exemplos catalisadores, o número de cidades Em apenas alguns
rede de transporte de massa de qualidade não com genuínos sistemas de BRT ou sistemas em anos, Bogotá
seria possível com o uso das caras tecnologias fer- desenvolvimento é bastante relevante. A maioria planejou e construiu
dos novos sistemas de BRT tem uma linhagem a primeira fase do
roviárias. Em vez disso, o Prefeito Peñalosa e sua
de descendência direta das experiências dessas seu sistema de BRT,
equipe examinaram as experiências de cidades um líder mundial.
como Curitiba, Goiânia e Quito e concluíram duas cidades.
Imagem por cortesia de
que o BRT poderia funcionar igualmente bem A experiência de Curitiba influenciou direta- Transmilenio S.A.

em Bogotá. No curso de apenas alguns anos, a mente as iniciativas de lançamento de BRTs em


primeira fase do sistema TransMilenio de Bogotá outras cidades, tais como Seul (2004) e Beijing
veio a frutificar, com sua inauguração em dezem- (2005). Além disso, em 1998, o administrador
bro de 2000. Até setembro de 2006, o sistema da Agência de Transporte Público Federal dos
TransMilenio englobava 84 quilômetros de Estados Unidos (USFTA), Gordon Linton, visi-
corredores troncais e 420 quilômetros de linhas tou o sistema de BRT de Curitiba. Apoiado nas
alimentadoras. Naquele momento, o sistema
estava atendendo 1,2 milhões de viagens por dia.
Quando o sistema inteiro estiver completo em
2015, a estimativa é que cinco milhões de viagens
serão atendidas ao longo de uma rede troncal de
380 quilômetros.
Simultaneamente, Bogotá implementou muitas
medidas complementares que apoiam o uso do
transporte público. Essas medidas incluem 300
quilômetros de novas ciclovias, melhorias no
espaço público e para pedestres, o fechamento
dominical de 120 quilômetros de rodovias aos Figura 32
veículos motorizados particulares (Figura 32) e Bogotá abriga uma
o maior “dia sem carro” do mundo, realizado variedade de medidas
inovadoras em
em um dia de semana. Adicionalmente, Bogotá
transportes e espaços
implementou medidas de restrição aos carros públicos, incluindo o
através de restrições de estacionamento e um fechamento de ruas ao
programa que só permite o uso do veículo na tráfego de automóveis
hora de pico em certos dias, baseado no número aos domingos.
da placa do carro. Foto por Lloyd Wright

Introdução 27
Manual de BRT

descobertas dessa visita, uma iniciativa nacional iii. Transporte público em cidades em


de BRT foi lançada nos Estados Unidos. Para desenvolvimento
muitas cidades dos Estados Unidos, a combina-
“Os países recentemente motorizados podem
ção de alto índice de propriedade de automóveis
ver que bagunça o Norte fez e quão ineficiente
com o desenvolvimento urbano de baixa densi-
são seus enormes investimentos em um sistema
dade tornou difícil o desenvolvimento de siste-
de transporte que falha em prover saúde, eqüi-
mas ferroviários do ponto de vista de viabilidade
dade social e eqüidade regional. É possível
financeira. Hoje, o programa de BRT dos EUA para um país recentemente motorizado pular o
do USFTA engloba dezessete cidades parceiras desenvolvimento dos últimos 40 anos europeus
e de demonstração. Em novembro de 2005, a e 70 anos norte-americanos e ir diretamente
Linha Laranja de 17 quilômetros foi aberta em para uma estratégia sustentável que genui-
Los Angeles. Além disso, três sistemas de BRT namente conserve recursos, reduza a poluição
de alta qualidade estão sendo construídos, em e preste muita atenção aos mais pobres no
Eugene, Cleaveland e Las Vegas. A extensão momento de desembolsar dinheiro escasso.”
com que esses novos sistemas podem encorajar a —John Whitelegg, autor e palestrante, (1997, p. 220)
transferência modal, do carro para o transporte
Para a maioria da população, o transporte
público, determinará quão bem-sucedido o BRT
público é um mal necessário que deve ser supor-
pode ser no contexto das nações dependentes de
tado mais do que apreciado. Para muitas pessoas
carro, como os EUA.
e famílias, o objetivo final é um dia ser capaz
A influência de Bogotá, da mesma forma que a de bancar o transporte individual motorizado,
de Curitiba, teve longo alcance, no mundo todo. seja na forma de motocicleta ou automóvel. O
Bogotá, desde o início do TransMilenio em atual estado do transporte público implica em
2000, acolheu as maiores conferências de trans- desconforto, longas esperas, riscos de acidentes
portes públicos, assim como missões técnicas pessoais e restrições de movimentos. A satisfação
especializadas de uma gama de cidades (Figura do usuário com a infinidade de vans, micro-
33). Em parte graças às visitas a Bogotá, as ônibus e ônibus, formais e informais, que se
seguintes cidades aderiram aos esforços de BRT: espalham pelas cidades em desenvolvimento é,
Figura 33 Barranquilla, Bucaramanga, Cali, Cartagena, tipicamente, muito baixa.
Mais de 1.000 Cidade da Guatemala, Guayaquil, Juarez, Lima, Sob essas condições, não é de surpreender que
profissionais de Manágua, Medelin, Cidade do México, Cidade esses serviços estejam perdendo passageiros a
transporte de mais de do Panamá, Pereira, Querétaro, San José, taxas alarmantes. O veículo particular continua
30 países viajaram Santiago, Soacha, Acra, Dar es Salaam, Delhi, a crescer em praticamente todas as cidades. Se
para Bogotá para Guangzhou e Jacarta. Claramente, algumas a presente tendência continuar, o transporte
conhecer o sistema aplicações de esforços muito bem-sucedidas,
TransMilenio. público pode ter um futuro bastante duvidoso. À
como Bogotá e Curitiba, podem causar profun- medida que a renda cresce nos países em desen-
Foto por cortesia de
Fundación Ciudad Humana das ramificações por todo o globo. volvimento, os veículos particulares passam a
ser usados, enquanto o número de viagens por
transporte público, praticamente em todo o
mundo, está declinando. Uma seleção de cidades
em desenvolvimento indica que os sistemas de
transporte público estão, em geral, perdendo algo
entre 0,3 e 1,2 pontos percentuais de número de
viagens por ano (Tabela 7) (WBSCD, 2001).
As razões para a queda do transporte público
não são difíceis de entender (Figuras 34 a
37). Os serviços de transportes ruins tanto no
mundo em desenvolvimento quanto no mundo
desenvolvido empurram os consumidores para
as opções de veículos particulares. A atração

28 Introdução
Manual de BRT

pelas motocicletas e carros particulares se dá que represente a independência do sempre cres-


tanto em função do desempenho quanto da cente congestionamento de carros, gerando con-
imagem. Usuários de transporte público, em sideráveis benefícios econômicos e ambientais.
geral, dão as seguintes razões para passar a usar
Com a inauguração do sistema de BRT
os veículos particulares:
TransMilenio em Bogotá, o número de viagens
1. Inconveniência em função da localização de
estações e frequência de serviços; por transporte público cresceu verdadeiramente
2. Falha nos serviços a origens e destinos chave; naquela cidade. Ainda que o sistema tivesse
3. Medo de crimes nas estações e dentro dos aberto apenas 2 das 22 linhas planejadas em
ônibus; dezembro de 2000, o sistema conseguiu imedia-
4. Falta de segurança em termos da capacitação tamente 6% da divisão modal de transporte.
de motoristas e das condições de rodagem O uso de veículos particulares nas viagens diárias
dos ônibus; caiu de 18% em 1999 para 14% em 2001 (Como
5. O serviço é mais vagaroso que veículos par- Vamos Bogotá, 2001). Um estudo mais deta-
ticulares, especialmente quando os ônibus
lhado ao longo do corredor TransMilenio indica
fazem paradas frequentes;
que o sistema capturou quase 10% das viagens
6. Veículos lotados tornam a viagem
desconfortável; que seriam, de outra forma, feitas por veículos
7. Transporte público pode ser relativamente privados (Steer Davies Gleave, 2003). O sistema
caro para alguns grupos familiares de países BRT de Curitiba testemunhou um crescimento
em desenvolvimento; similar quando foi inaugurado, e foi capaz de
8. Infra-estrutura de péssima qualidade ou aumentar o número de viagens em mais de 2%
inexistente (e.g., ausência de cobertura nas ao ano durante mais de duas décadas, aumento
estações, veículos sujos); suficiente para manter a divisão modal do trans-
9. Falta de uma estrutura de sistema organi- porte público quando todas as outras cidades
zada, de mapas e informações tornam difícil brasileiras testemunhavam declínios relevantes.
de entender o sistema;
O BRT tenta tratar cada uma das deficiências
10. O baixo status social dos serviços de trans-
indicadas nos atuais serviços ao prover uma
porte público.
opção de transporte rápida, de boa qualidade,
Mesmo assim, a morte do transporte público
com proteção e segurança.
não está decretada. BRT é a resposta do trans-
porte público a esse declínio, em uma tentativa
de oferecer um serviço competitivo com os
carros. Recentes experiências de BRT demons-
tram que é possível assegurar mobilidade urbana

Tabela 7: Mudanças ao longo do tempo na média de viagens diárias de transporte público,


cidades selecionadas (incluem ônibus, trens e transportes alternativos)
Ano anterior Ano recente

Viagens de Porcentagem Viagens de Porcentagem


População População
Cidade Ano transporte de todas as Ano transporte de todas as
(milhões) (milhões)
público/dia viagens público/dia viagens
México 1984 17,0 0,9 80 1994 22,0 1,2 72
Moscou 1990 8,6 2,8 87 1997 8,6 2,8 83
Santiago 1977 4,1 1,0 70 1991 5,5 0,9 56
São Paulo 1977 10,3 1,0 46 1997 16,8 0,6 33
Seul 1970 5,5 67 1992 11,0 1,5 61
Shangai 1986 13,0 0,4 24 1995 15,6 0,3 15
Varsóvia 1987 1,6 1,3 80 1998 1,6 1,2 53
Fonte: WBCSD, 2001

Introdução 29
Manual de BRT

Figuras 34, 35, 36 e 37


Opções de transporte
público nas cidades
de países em
desenvolvimento
de hoje são
frequentemente
bastante ruins (fotos no
sentido horário a partir
de cima à esquerda):
1. Dar es Salaam
(foto por Lloyd Wright)

2. Daca
(foto por Karl Fjelstrom)

3. Manila
(foto por Lloyd Wright)

4. Santo Domingo
(foto por Lloyd Wright)

iv. Visão geral do processo de ferramenta de argumentação e convencimento


planejamento de BRT para dar ao público e aos tomadores de decisão,
enquanto estes ainda consideram várias opções,
“Planos não são nada; planejar é tudo.”
uma idéia geral sobre como um BRT funcionará
—Dwight D. Eisenhower, ex presidente dos EUA,
1890–1969 na cidade deles; já um estudo de viabilidade traz
uma análise mais séria sobre a exeqüibilidade de
Este Manual de BRT procura ajudar a estruturar
um BRT depois que algumas decisões prelimi-
a capacidade técnica e institucional de municipa-
nares foram tomadas. Quanto menor for o com-
lidades de cidades em desenvolvimento que estão
prometimento político, maior será a importância
interessadas em conseguir melhores serviços de
do plano como ferramenta de argumentação e
transporte público. Esta seção oferece uma visão
convencimento. Quanto mais forte o compro-
geral da estrutura e conteúdos de um plano de
metimento político, mais urgente é a necessi-
BRT. Ainda que esses elementos de planejamento
tenham sido extraídos de alguns planos de BRT dade de planejadores fornecerem informações
existentes, deve-se reconhecer que as práticas precisas para os tomadores de decisão sobre
de planejamento sofrem grandes variações em como implementar um projeto com sucesso no
função dos lugares e das circunstâncias. Assim, tempo disponível.
planos de BRT reais em uma cidade em parti- Promotores de BRTs devem participar de quais-
cular podem necessitar de outros elementos que quer processos de planejamento que possam
não foram discutidos neste Manual de BRT. existir em uma dada cidade. O conteúdo e a
forma do processo de planejamento são par-
Perfil do processo de planejamento cialmente determinados por códigos e leis. Em
A exata natureza de um plano de BRT de algumas cidades, planos diretores são documen-
qualquer cidade tem grande dependência das tos legais poderosos, em outros casos são apenas
circunstâncias locais. A maior parte dos planos a compilação de vários projetos sem sentido,
é uma combinação de análises racionais e “empurrados” por diversos promotores, e, em
argumentações por um particular conjunto outros casos, não há planos diretores de trans-
de soluções e intervenções. Frequentemente, porte. Algumas cidades e instituições financeiras
um “ante-estudo de viabilidade” é uma ampla exigem uma detalhada “análise de benefício-

30 Introdução
Manual de BRT

Figura 38: Visão geral do processo de planejamento de BRT.

I. Preparação
1. Início 2. Opções tecnológicas 3. Organização de Projeto
 Geração de idéias  Introdução a alternativas  Equipe/gerentes de projeto
 Comprometimento político  Critério de Seleção  Escopo e prazos de projeto
 Formalização da visão  Tomada de decisões  Orçamento de Planejamento

4. Análise de demanda 5. Seleção de corredores 6. Comunicações


 Levantamento de dados  Identificação de corredores  Análise de participantes
 Esboço do sistema  Análise de corredores  Operadores atuais
 Método de avaliação expedito  Opções por vias estreitas  Agentes Públicos
 Método de modelagem completa  Quadro de comparações  Participação Pública

II. Projeto Operacional


7. Projeto de Rede e Linhas 8. Capacidade e velocidade
 Sistemas abertos/fechados  Capacidade requerida
 Opções de serviços  Tamanho dos veículos
 Desenho de linhas  Interface veículo-estação

9. Interseções e semáforos 10. Serviço ao cliente


 Avaliação de interseções  Informação ao cliente
 Restrição de conversões  Profissionalismo do sistema
 Conversões do Corredor  Segurança
 Prioridade semafórica  Instalcações para conforto

III. Projeto 11. Infra-estrutura 12. Tecnologia


Construtivo 

Vias
Estações
 Tecnologia veícular
 Cobrança
 Terminais e garagens  ITS
 Custos de infra-estrutura

IV. Integração 13. Integração Modal 14. TDM e uso de solo


 Pedestres  Restrição de automóveis
 Bicicletas  Plano de uso de solo
 Taxis, etc.

V. Plano de negócios
15. Estrutura de negócios 16. Operational costs 17. Custeio e 18. Publicidade
 Modelo de negócios  Itens do custo operacional Financiamento  Nome do sistema
 Mudança estrutural  Distribuição de faturamento  Opções de financiamento  Logo and slogan
 Organização institutcional  Preço da tarifa  Público  Estrategias para
 Privado campanhas

VI. Implementação 19. Avaliação 20. Plano de implementação


 Impacto no tráfego  Plano de construção
 Economica, ambiental, social,  Plano de contratação
urbana

Introdução 31
Manual de BRT

custo” antes que os recursos públicos possam A maioria da informações de planejamento


ser gastos; outras podem ter mecanismos para o apresentadas neste manual será mais útil se os
financiamento de grandes projetos, separados do tomadores de decisão já tiverem decidido que
orçamento com finalidades específicas. um projeto de BRT deve ser feito. Entretanto, o
Idealmente, um plano de BRT deve brotar de um capítulo seguinte sobre tecnologia de transpor-
processo de planejamento diretor de transportes tes tem por objetivo dar assistência à complexa
anterior que, por sua vez, desenvolveu-se de um comparação de propostas bastante similares.
plano integrado de desenvolvimento urbano. O Uma visão geral de todo o processo de planeja-
processo de planejamento de transportes deve mento de BRT é mostrada na Figura 38, e esse
começar com uma análise das demandas exis- modelo de planejamento é baseado nos docu-
tentes e das projeções de demandas futuras em mentos de planejamento de diversas cidades.
todos os grandes corredores; depois, deve fazer Nem todas as cidades precisam seguir esse
uma análise de alternativas para tratar essas processo, mas espera-se que esse modelo ajude a
necessidades de mobilidade e acesso com o maior reduzir o tempo necessário para sair da fase con-
benefício e o menor custo, sempre levando em ceitual e chegar à implementação. Compartilhar
consideração as restrições dos fundos disponíveis. os documentos de planejamento de outras
Idealmente esse processo deveria ser feito com cidades também é uma oportunidade de reduzir
extensa participação, em todo o processo, das muito os custos de planejamento. Um projeto de
partes envolvidas e interessadas. BRT concentrado pode ser razoavelmente termi-
nado em um período de 12 a 18 meses.
Em poucas cidades, entretanto, o processo de
planejamento de transportes é ideal. A avaliação A Figura 38 identifica as cinco principais ativi-
racional e objetiva de alternativas é a exceção dades na realização de um plano de BRT:
mais do que a regra. Em muitas cidades de 1. Preparação do Projeto;
países em desenvolvimento, até recentemente, 2. Projeto do sistema;
o BRT era amplamente desconhecido, por- 3. Integração;
tanto era improvável que BRT emergisse de um 4. Plano de negócios e
processo de planejamento diretor bem estrutu- 5. Implementação.
rado. Além do mais, a maior parte dos planos Este manual detalhará o conteúdo de cada uma
de transporte é desenvolvida como resultado dessas atividades de planejamento.
do trabalho de promotores de uma tecnologia Os estágios de planejamento delineados neste
de transporte específica. Os recursos para uma manual são apresentados, aproximadamente, em
análise objetiva de alternativas raramente estão ordem cronológica. Entretanto, o planejamento
disponíveis. Como regra geral, no entanto, de BRT é um processo iterativo. Há iterações
proponentes de BRT se beneficiariam de um importantes entre os diversos estágios, e muitas
processo de planejamento racional completa- atividades devem ser simultâneas. Por exemplo,
mente transparente. a análise financeira deve influenciar as decisões
Se diversas propostas concorrentes de transporte de infra-estrutura e tecnologia, e decisões de
em massa já estiverem em discussão, apenas itinerários devem ter impacto sobre as opções
uma apreciação básica do potencial de viabili- de projeto da via. Nesse sentido, cada tópico
dade do BRT seria insuficiente. Uma estimativa deve ser tratado de maneira iterativa. Cenários
realista do número de viagens e potencial de diferentes devem ser experimentados até que se
captação modal será necessária para se juntar a chegue a uma solução ótima.
uma análise completa das alternativas apresenta- O Planejamento adequado traz consigo uma
das, e estas devem incluir também a análise da quantidade de benefícios demonstráveis,
validade dos dados e das metodologias usadas. incluindo a redução de custos, maior eficiência
Nos países desenvolvidos há um processo de nos resultados do sistema e maior confiança na
certificação formal que está surgindo para esse forma e natureza do produto final. Entretanto,
tipo de proposta, mas, em países em desenvol- pode se chegar a um ponto em que mais pla-
vimento, os projetos apresentados são raramente nejamento seja contraproducente. Se uma
sujeitos a escrutínios rigorosos. cidade explora todas as alternativas, tecnologias,

32 Introdução
Manual de BRT

alinhamentos, mecanismos contratuais e temas „„ Resumo de estudos anteriores de transporte


de projeto, o atraso resultante pode significar públicos de massa e estimativas de demanda;
que o sistema nunca venha a ser realizado. Em „„ Estimativas genéricas dos potenciais bene-
qualquer administração política, há apenas um fícios de um novo sistema de transporte
breve intervalo de oportunidade que pode levar público (impacto sobre o tráfego, economia,
um projeto à real implementação. Um trabalho ambiente, igualdade social e desenvolvimento
amplo, de alta qualidade, que resulte apenas urbano);
em um estudo não implementado é um grande „„ Missões e visitas técnicas a sistemas existentes
fracasso. Além disso, uma das mais importantes em outras cidades;
recomendações é planejar com vistas à implemen- „„ Produção de vídeos de simulação ou modelos
tação, buscando apontar as decisões estratégicas para mostrar como um novo sistema poderia
que o prefeito ou o governador devem tomar, o se comportar no contexto local.
momento em que devem ser tomadas, mais do Assim, o estágio de pré-viabilidade, de modo
que planejara a solução absolutamente ideal. característico, não envolve um grande volume
de desenhos ou trabalho analítico. Entretanto,
Componentes do planejamento de BRT o resultado comumente determinará se um pro-
“Você poderia me dizer que direção devo jeto de melhoria de transporte público ganhará
tomar apartir daqui?” perguntou Alice. impulso político.
“Isso depende bastante de aonde você queira
chegar,” disse o Gato. Estudo de viabilidade
“Eu não me importo aonde” replicou Alice. Em muitos casos, um estudo de viabilidade
“Então não faz muita diferença qual caminho pode ser necessário para justificar o desembolso
tome,” disse o Gato. de recursos públicos em um projeto. Uma aná-
(Alice no País das Maravilhas, 1865) lise de benefício-custo é uma das principais fer-
—Lewis Carrol, romancista e poeta, 1832–1898 ramentas usadas para justificar o uso dos fundos
públicos. Claramente, no entanto, para conduzir
Na verdade, a idéia de um “projeto de BRT”
estas análises, mais detalhes do potencial projeto
é um descrição inapropriada. É mais comum
de transporte urbano devem ser conhecidos.
haver múltiplos projetos, cada um tratando
Alguns dos fatores que precisam ser determina-
de um aspecto particular do projeto. O termo
dos são:
“projeto de BRT” é usado como um conceito
„„ Tamanho aproximado do projeto (e.g., com-
abrangente que engloba a compilação de todos
primento dos corredores);
os componentes individuais de projeto. A
„„ Demanda projetada de passageiros usando o
Tabela 8 enumera alguns dos componentes mais
novo sistema;
comuns em um projeto geral de BRT.
„„ Estimativas iniciais de custo;
Ante-Estudo de viabilidade „„ Estimativas de economias do sistema (eco-
O trabalho de pré-viabilidade é, com frequência, nomia de tempo, redução no consumo de
conduzido pelas cidades na fase exploratória de combustíveis, redução de emissões e benefí-
avaliação de opções de melhoria dos transpor- cios para a saúde pública, etc.).
tes. O ante-estudo de viabilidade pode incluir Claramente, a determinação destes fatores irá
BRT como apenas uma dentre muitas diferentes requerer um certo tanto de pesquisas e análises.
opções de transporte. Em muitos casos, grupos Contudo, o estudo de viabilidade não é um pro-
iniciando os trabalhos de pré-viabilidade orien- jeto de BRT em profundidade. Ao invés disso,
tam os conteúdos do estudo de forma a obterem estimativas aproximadas são utilizadas para
apoio político para uma iniciativa para melhorar produzir resultados razoavelmente precisos para
os transportes públicos. ajudar o processo de tomada de decisão. O obje-
O estudo de ante-estudo de viabilidade pode tivo do estudo de viabilidade é determinar se
incluir alguns dos seguintes tipos de atividades: um projeto é promissor sob as condições locais.
„„ Identificação dos principais corredores de O estudo de viabilidade poderá ainda envolver
transporte público; a análise de uma variedade de alternativas de

Introdução 33
Manual de BRT

Tabela 8: Componentes de planejamento transporte, incluindo “serviços de ônibus aprimo-


rados”, BRT, veículos leves sobre trilhos (VLT) e
Componente
Descrição tecnologia de metrô férreo elevado/enterrado.
de planejamento
Ante-estudo de Primeiro estudo para documentar as opções de Cada opção tecnológica é testada para as con-
viabilidade melhoria das condições de transporte público dições locais de: operação, exigências de projeto
da cidade. físico e capacidade financeira. Ainda que algu-
Estudo de Viabilidade O estudo de viabilidade objetiva a demonstra- mas cidades restrinjam a análise a uma única
ção de exequibilidade financeira, institucional opção de transporte, o teste de todas as alter-
e física de uma alternativa específica de trans-
porte público; esta fase frequentemente envolve
nativas, através de uma comparação rigorosa
uma “análise de custo-benefício”. pode levar ao tipo de competição que resultará
Modelo de demanda A atual demanda de transporte nos princi- na escolha mais adequada. Não é por acaso que
pais corredores de interesse da cidade é desenvolvedores de projeto sempre entregam
documentada. o veredito “viável” para a específica tecnologia
Análise dos agentes par- No início do projeto, um plano de comunicações sendo proposta. Influências pessoais e incen-
ticipantes (stakeholders) para os agentes participantes principais, como tivos financeiros podem produzir um estudo
e plano de comunicações os operadores existentes, deve ser realizado. financeiro que não seja completamente objetivo
Estudo conceitual O projeto conceitual é uma breve visão geral de e transparente. No final das contas, a aceitação
„„Operações cada um dos principais componentes de pla- destas influências abala a credibilidade do pro-
„„Infra-estrutura nejamento. A idéia é cobrir rapidamente cada
„„Integração modal aspecto do projeto, de forma a prover uma visão
jeto de transporte público, apesar dos méritos
„„Tecnologia geral antes do comprometimento de mais recur- que possa ter. Um processo honesto e aberto é a
„„Estrutura institucional e sos de planejamento. melhor maneira de instigar a confiança de longo
de negócios prazo e assegurar que os fundos públicos sejam
„„Custeio e
usados da maneira mais adequada.
financiamento
„„Análise de impactos Um plano de BRT completo, em contraste, deve
Plano de BRT detalhado O núcleo do processo de planejamento do BRT incluir toda a informação necessária para imple-
„„Operações consiste do processo de especificações técni- mentar o sistema.
„„Infra-estrutura cas e de projeto. Igualmente, o detalhamento
„„Integração modal das estruturas institucionais e de negócios, Modelagem de demanda de transporte
„„Tecnologia junto com análises de custos detalhadas é
„„Custeio essencial para assegurar a viabilidade financeira A projeção de estimativas de demanda de pas-
do sistema. sageiros irá afetar uma gama de decisões sobre
Plano Institucional e de Este plano estabelece as relações estruturais o dimensionamento do sistema. O Capítulo 4
negócios. entre os setores públicos e privados. O plano deste documento descreve as diferentes técnicas
de negócios ajuda a assegurar que o sistema para determinação da demanda de passageiros,
seja financeiramente viável do ponto de vista
operacional.
incluindo tanto a modelagem completa quanto
outras técnicas mais econômicas.
Projeto de engenharia Uma vez que o corpo do projeto de BRT é apro-
detalhado vado, uma análise altamente detalhada de cada
componente físico é conduzida, cada metro de Agentes participantes e plano de
infra-estrutura viária é projetado em detalhe. comunicações
Plano financeiro Uma análise completa de custos é feita, as Um novo transporte público de massa implica
necessidades financeiras exatas se tornam em uma grande quantidade de mudanças
conhecidas e podem ser completamente dramáticas, incluindo mudanças na forma de
viabilizadas.
uma cidade, na competitividade da economia
Plano de marketing O plano de marketing para o desenvolvimento local e na estrutura das operações de transporte
do nome e logo do sistema e da campanha de
divulgação ao público.
público e relações de emprego no setor. Para
muitos, qualquer mudança dramática é vista
Análises de Impacto Uma vez que o plano técnico final é aprovado,
análises mais precisas dos impactos de tráfego, com preocupação ou, até mesmo, com oposição
econômicos, ambientais, sociais e urbanos declarada. Desenvolver uma estratégia de comu-
podem ser feitas. nicações para grupos estratégicos, tais como
Plano de implementação À medida que o projeto se move em direção os existentes operadores de transporte, donos
à implementação, contratos de construção e de carros e agências governamentais, é funda-
prazos de execução devem ser desenvolvidos. mental para assegurar um processo de tomada

34 Introdução
Manual de BRT

de decisões fundamentado em informações às autoridades políticas. Em alguns casos, os


consistentes. O Capítulo 6 discute a natureza de resultados do estudo conceitual podem definir
uma estratégia de comunicações efetiva para um o conteúdo dos “Termos de Referência” para
projeto de BRT. contratos de consultoria relacionados com o
desenvolvimento do projeto.
Estudo conceitual
O estudo conceitual provavelmente pode
O planejamento de transporte público costuma ser terminado em questão de alguns meses.
ser mais um processo iterativo do que um pro- Essencialmente, ele apresenta uma rápida visão
cesso linear, passo a passo. Comprometer muitos geral de todo o processo de planejamento.
recursos de planejamento para detalhar projetos Entretanto, o estudo conceitual pode oferecer
antes de estabelecer o perfil conceitual básico detalhes suficientes para permitir que toma-
pode resultar em desnecessária e custosa dupli- dores de decisões, técnicos e políticos definam
cação de esforços. Se uma cidade tivesse de pro- grandes variáveis do sistema, como tamanho,
ceder sempre de forma sequencial, uma grande custo, estrutura de negócios e características de
quantidade de trabalho detalhado seria refeita desenho físico e de operação. Alguns dos temas
cada vez que se determinasse que uma situação iniciais que são levantados durante a fase concei-
exige uma abordagem diferente. Por exemplo, tual são estes:
uma análise de custo pode demonstrar que uma Corredores mais adequados para operações de
„„
característica inicial de projeto é inconsistente transporte público de massa;
com o orçamento esperado. Responder às per- Melhores corredores para a fase inicial do
„„
guntas básicas sobre a natureza do projeto pode projeto;
fazer muito para focar a análise e o planeja- „„ Serviços tronco-alimentadores ou serviços
mento subsequentes. Assim, o desenvolvimento diretos;
de um estudo conceitual, quando executado no „„ Objetivo de frequência de serviço;
início, é uma atividade com excelentes benefí- „„ Objetivo de níveis de tarifa para usuários;
cios sobre os custos do projeto. „„ Potenciais estruturas administrativas e de
Decisões feitas sobre esses tipos de itens ajudam negócios para o sistema;
tanto a dar forma ao processo de planejamento „„ Estimativa de investimentos;
detalhado quanto a informar todas as partes „„ Estimativa de custos de operação;
envolvidas sobre o esforço necessário para „„ Entendimento de potenciais fontes de
produzir o plano completo. O estudo concei- financiamento;
tual também auxilia a apresentação de uma „„ Nível de cooperação esperado de operadores
melhor perspectiva sobre a direção do projeto do setor privado;

Figura 39
A fase de estudo
conceitual envolve
produzir uma visão
geral do futuro sistema.
Ilustração por cortesia de Lane
Transit District (Eugene, EUA)

Introdução 35
Manual de BRT

„„ Lista dos principais agentes participantes: Utilizando ferramentas especializadas para dese-
grupos, organizações e indivíduos; nho de projetos, o time de engenharia desenha
„„ Potenciais características de desenhos do em detalhe cada aspecto físico do sistema. Em
projeto (estações, vias, terminais, veículos, alguns casos, cada metro de infra-estrutura da
sistemas de cobrança, etc.). via de ônibus recebe seu próprio tratamento de
Esses assuntos levantados no estudo da visão projeto. O projeto detalhado de engenharia é
geral devem ser vistos como conceitos iniciais mais tarde usado como a base para os documen-
e não como decisões inalteráveis. Claramente, tos de licitação para os vários componentes da
circunstâncias posteriores e novas informações infra-estrutura.
podem requerer alterações das decisões
anteriores, registradas no estudo concei-
tual. Entretanto o estudo conceitual é um
valioso começo do projeto como um todo.

Projeto de BRT detalhado


O projeto de BRT detalhado é o foco
principal deste manual. No decorrer de um
ano ou mais, todos os aspectos de desen-
volvimento de projeto são cobertos a fundo
em um projeto de BRT detalhado. Os Capítulos Figura 40
de 7 a 14 deste manual fornecem mais detalhes O projeto detalhado de engenharia envolverá
sobre a natureza do projeto de BRT detalhado desenhar e mapear cada componente da infra-
bem como da natureza das muitas opções de estrutura.
Gráfico por cortesia da Municipalidade de Barraquilla (Colômbia)
desenho de projeto disponíveis as autoridades de
uma cidade. Essa parte do planejamento abrange Plano de financiamento
o desenho operacional, o desenho físico e a inte- Conforme os detalhes dos requerimentos do
gração com outros modos de transporte. projeto físico se tornam conhecidos, análises de
custo indicam a quantidade de capital necessária
Plano institucional e de negócios
para a construção do sistema. O BRT, de forma
Encontrar o ponto de equilíbrio nos papéis do distinta de outras opções tecnológicas de trans-
setor público e do setor privado afeta bastante porte público, tem custo acessível para a maioria
a viabilidade financeira e operacional de longo das cidades. Mesmo assim, algumas cidades
prazo do sistema. Esse plano estabelece a natu- devem considerar fontes externas de financia-
reza contratual e estrutural do relacionamento mento como uma opção. O Capítulo 17 deste
entre os setores público e privado. Um exame manual explora uma série de opções de financia-
detalhado dos custos operacionais esperados mento disponíveis para cidades interessadas em
ajuda a determinar se a demanda estimada de desenvolver um sistema de BRT.
usuários e os níveis de tarifa podem gerar um
sistema sem a necessidade de subsídios operacio- Plano de marketing
nais. Muito do esforço no plano de negócios é Talvez uma das decisões mais importantes no
para conceber o correto conjunto de incentivos desenvolvimento de um sistema seja o nome
que assegure que os operadores privados serão e a imagem do sistema. A correta estratégia
motivados a oferecer qualidade no nível de ser- promocional influencia demasiadamente a
viço aos usuários. Os Capítulos de 15 a 18 deste percepção que o público tem do sistema e
manual discutem os diversos aspectos do Plano consequentemente a sua aceitação e utilização.
de Negócios. O Capítulo 18 deste manual discute diversas
estratégias de Marketing de BRT.
Projeto de engenharia detalhado
Uma vez que todos os aspectos físicos do projeto Análise de impacto
do BRT estão determinados, o trabalho de No lançamento do sistema, os desenvolvedores
detalhamento de engenharia pode começar. comumente estimam o impacto do sistema

36 Introdução
Manual de BRT

na economia, nos níveis de tráfego, no meio temas relacionados com as análises de impacto e
ambiente, na equidade social e no desenvolvi- avaliação do projeto.
mento urbano. Assim que o sistema de tráfego
Plano de implementação
for completamente planejado, vale a pena rever
essas estimativas. Um conjunto mais preciso de O principal objetivo de qualquer processo
impactos projetados é possível após a finalização de planejamento de transporte público não
é meramente produzir um plano. Ao contrá-
de todo o desenho e componentes de plane-
rio, o extenso esforço de planejamento deve
jamento. Uma análise de impactos detalhada
dar ênfase à geração de um sistema real. Para
possibilita que os tomadores de decisão tenham preparar o processo de construção, um plano
confiança para se comprometer totalmente com de implementação englobando prazos, planos
a construção. Além disso, uma vez que o sistema de construção e procedimentos de contratação
esteja operando, um plano de avaliação é útil devem ser desenvolvidos. O Capítulo 20 deste
para conhecer o seu desempenho e para identifi- manual descreve os passos típicos de um plano
car áreas para melhorias. O Capítulo 19 discute de implementação.

Introdução 37

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