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A VIDA DO ESPÍRITO

Juízo: faculdade que possibilita que nos pronunciemos sobre coisas ou situações
particulares. Habilidade que nos permite decidir que uma coisa está correta e que
outra não está.

O PENSAR
INTRODUÇÃO
Impulso imediato para escrever sobre as atividades espirituais vem de ter assistido o
julgamento de Eichmann – banalidade do mal – se opõe à nossa tradição de
pensamento sobre o fenômeno do mal. Aprendemos que o mal é algo demoníaco, que
os homens maus agem por inveja, ou podem ter sido movidos pela fraqueza
(Macbeth), ou pelo ódio poderoso que a maldade sente pela pura bondade (Odeio o
Mouro: o que me move é o coração, Iago; o ódio de Claggart pela “bárbara” inocência
de Billy Budd – Melville – “uma depravação com relação à natureza humana”), ou pela
cobiça, a “raiz de todo o mal”. Mas ela viu algo diferente ali, viu a conspícua
superficialidade do agente, que tornava impossível retraçar o mal incontestável de
seus atos, em suas raízes ou motivos. Os atos eram monstruosos, mas o agente era
bastante comum, banal, e não demoníaco ou monstruoso. Nele não se encontrava
sinal de firmes convicções ideológicas ou de motivações especificamente más, e a
única característica notória que se podia perceber era algo negativo, não era
estupidez, mas irreflexão. Ele funcionava ali como havia funcionado sob o regime
nazista, mas quando confrontado com situações para as quais não havia
procedimentos de rotina, parecia indefeso e seus clichês produziam uma espécie de
comédia macabra. Clichês, frases feitas, adesão a códigos de expressão e conduta
convencionais e padronizados têm a função socialmente reconhecida de nos proteger
da realidade, ou seja, da exigência de atenção do pensamento feita por todos os fatos
e acontecimentos em virtude de sua mera existência. Se respondêssemos todo o
tempo a esta exigência, logo estaríamos exaustos; Eichmann se distinguia do comum
dos homens unicamente porque ele nunca havia tomado conhecimento de tal
exigência.
Ausência de pensamento – uma experiência tão comum em nossa vida cotidiana, em
que dificilmente temos tempo e muito menos desejo de parar e pensar. Será o fazer o
mal possível na ausência de qualquer estímulo particular ao interesse ou à volição?
Será que a maldade não é uma condição necessária para o fazer o mal? Será que o
problema do bem e do mal, do certo e do errado, está conectado com nossa faculdade
de pensar? Não no sentido de que o pensamento possa produzir o bem como
resultado, como se a virtude pudesse ser ensinada. Seria possível que a habilidade de
pensamento estivesse dentre as condições que levam os homens a se absterem de
fazer o mal? Kant.
Modo ativo: laborioso, público, necessidades do próximo.
Modo contemplativo: quietude, deserto, visão de Deus.
Poesia e filosofia, de alguma forma, estão relacionadas.
Os mundos do sensível e do supra-sensível estão intimamente ligados, tanto que a
eliminação de um elimina também o outro.
As percepções sensoriais são ilusões, elas mudam segundo as condições de nosso
corpo. Existem somente por convenção entre os homens e não segundo a verdadeira
natureza das aparências.
Nessa crise das mortes modernas, de Deus, da metafisica, da filosofia, do positivismo,
a nossa HABILIDADE para pensar não está em questão, somos o que os homens
sempre foram – seres pensantes. Os homens têm uma inclinação, uma necessidade de
pensar para além dos limites do conhecimento, de fazer dessa habilidade algo mais do
que um instrumento para conhecer e agir. Enorme expansão de nossa consciência
histórica. Essa crise nos permite olhar o passado com novos olhos, sem o faro e a
orientação de quaisquer tradições, e assim, dispor de uma enorme riqueza de
experiência brutas, sem estarmos limitados por quaisquer prescrições sobre a maneira
de lidar com estes tesouros. Mas tem a dificuldade em nos movermos em qualquer
nível no domínio do invisível, a partir do descrédito em que caiu tudo que não é visível.
Questão da metafísica, morte a ela também. Mas lidava com objetos que não eram
dados à percepção sensorial, e que sua compreensão transcendia o pensamento do
senso comum que deriva da experiência sensível e que pode ser validade por meios e
testes empíricos. Para isso, deveria retirar-se do mundo das aparências. Mas isso
perdeu qualquer cabimento atualmente, de, para pensar como filósofo, deveria ser
alguém separado, que se dedicasse exclusivamente a isso. E essa é outra vantagem. Se
a habilidade de distinguir o certo do errado estiver relacionada com a habilidade de
pensar, então deveríamos exigir de toda pessoa sã o exercício do pensamento, não
importando quão erudita ou ignorante, inteligente ou estúpida essa pessoa seja. Kant
aborrecia-se com a opinião de que a filosofia e apenas para uns poucos, precisamente
pelas implicações morais dessa ideia, e uma vez observou que a estupidez é fruto de
um coração perverso. Isso não é verdade: ausência de pensamento não é estupidez;
ela pode ser comum em pessoas muito inteligentes, e a causa disso não é um coração
perverso; pode ser o oposto: é mais provável que a perversidade seja provocada pela
ausência de pensamento. O pensamento não é monopólio de uma disciplina
especializada.
A distinção que Kant faz entre razão e intelecto (e não entendimento, o que Arendt
não concorda), é crucial. A necessidade urgente da razão é diferente, e é mais do que a
mera busca e o desejo de conhecimento. A distinção entre as duas faculdades, razão e
intelecto, coincide com a distinção entre duas atividades espirituais: pensar e
conhecer, e dois interesses distintos: significado e cognição. Necessidade da razão
pensar além dos limites do que pode ser conhecido. A necessidade humana de refletir
acompanha quase tudo o que acontece ao homem, tanto as coisas que conhece, como
as que nunca poderá conhecer. Justificou nas questões últimas: Deus, morte etc.

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