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Artigo

Levantamentos arqueológicos na porção


central da planície costeira do Rio Grande do
Sul, Brasil

Pedro Augusto Mentz Ribeiro1; Marlon Resumo


Borges Pestana2; Maria Angélica Pereira
Penha3; Flávio Ricci Calippo4 As coordenadas da área encontram-se
entre os 30º15’ aos 32º15’ de latitude
sul e 50º15’ aos 52º05’ de longitude
oeste. Trata-se de uma área de forma-
ção quaternária, solo arenoso, vegeta-
ção de dunas e matas litorâneas. Foram
64 sítios estudados, dos quais 46 são
erodidos sobre dunas, 08 sambaquis la-
custres e 03 marinhos e 07 aterros (cer-
ritos). Obteve-se os seguintes resulta-
dos: as tradições culturais registradas,
das mais antigas para as mais recentes,
foram as seguintes com o respectivo
material: Umbu - lítico: pontas-de-pro-
jétil, bolas de boleadeira, lâminas de
machado polidas, lascas, microlascas,
raspadores, batedores, pesos de rede,
“quebra-coquinho” e matéria corante;
ósseo: pontas; conchífero: contas de
colar. Vieira – lítico, ósseo e conchífero:
o mesmo da Umbu; cerâmico: fragmen-
tos de vasilhas predominando os sem
decoração e os contornos simples com
antiplástico grosseiro. Tupiguarani - líti-
co: lâminas de machado polidas, polido-
res, afiadores-em-canaleta, lascas, nú-

1
Professor Pós-Doutor em Arqueologia pela Universidade do Porto, Portugal.
2
Bacharel em História pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande, estagiário do Laboratório de
Ensino e Pesquisas em Antropologia e Arqueologia – LEPAN.
3
Bacharel em História pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande.
4
Oceanólogo formado pela FURG, Mestre em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE/
USP) e Pesquisador Associado do Centro de Estudos de Arqueologia Náutica e Subaquática (CEANS/
NEE/UNICAMP).

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Ribeiro, P. A. M.; Pestana, M. B.; Penha, M. A. P.; Calippo, F. R.

cleos; cerâmico: fragmentos de vasilhas lishing stones, flakes, and cores; pottery:
sem decoração (simples) e com decora- fragments with plain, corrugated, finger-
ção corrugada, corrugada-ungulada, nail corrugated, fingernail impressed,
ungulada, escovada, pintada e técnica brushed, and painted surfaces, simple
associada, contornos do simples ao com- and complex vessel shapes, fine and
plexo e antiplástico fino e médio. Nos medium sand temper. Faunal remains
aterros e sambaquis, ocupados predo- were abundant in the sambaquis and
minantemente pelas tradições Umbu – mounds, with fish bones, terrestrial fau-
Vieira e Tupiguarani, respectivamente, foi na, and shells present in the Umbu and
registrada a ocorrência de grande quan- Vieira sites and fish bones and fresh and
tidade de vestígios fitofaunísticos: nos salt water shells predominant in Tupigua-
primeiros é variável entre ossos de pei- rani sites. Estimated dating is ca 5500-
xes, fauna terrestre e conchas; nos se- 2000 BP for the Umbu Tradition, 2000
gundos a predominância é de conchas to 550 BP for the Vieira Tradition, and
marinhas e de água doce e ossos de 550 BP to mid 18th century AD for the
peixes. Numa tentativa de periodização, Tupiguarani Tradition.
a tradição Umbu, ficaria ao redor dos
5500 aos 2000 anos A. P. e a Vieira a
partir desta última datação até a chega- Keywords: Survey, Central Coastal Pla-
da da Tupiguarani na área, em torno de in, Archaeology.
550 anos A. P., permanecendo até mea-
dos do século XVIII.
Geografia e História da
região
Palavras-chave: Levantamento, Planície
Costeira Central, Arqueologia. O clima da porção central da planí-
cie do Rio Grande do Sul é do tipo
CfaIIId, subtropical ou virginiano; pla-
Abstract nície sedimentar litorânea lagunar (al-
The region surveyed is located between titude inferior a 100m). A temperatura
30º15’ and 32º15’ south latitude and média anual é inferior a 18ºC, mais pre-
50º15’ and 52º05’ west longitude. It is cisamente 17,6ºC. O predomínio dos
a quaternary formation consisting of san- ventos é do nordeste. A média anual da
dy soil and dunes, with gallery forest precipitação pluviométrica encontra-se
along the shore. Of the 64 sites recor- entre 1200 e 1300mm, segundo W.
ded, 46 are located on dunes (42 preco- Köppen (Moreno, 1961). Conforme Ni-
lonial and 4 historical); 11 are samba- mer, o clima é mesotérmico brando,
quis (8 lacustrean and 4 maritime) and superúmido, sem estação seca. A tem-
7 are mounds. The following cultural tra- peratura média anual oscila entre 16ºC
ditions and artifacts are represented, e 20ºC, a média do mês mais quente
from early to late. Umbu: lithics: pro- fica entre 22ºC e 26ºC e a do mês mais
jectile points, bola stones, polished sto- frio entre 10ºC e 15ºC. A precipitação
ne axes, flakes, microflakes, scrapers, pluviométrica anual varia entre 1000 e
hammerstones, net weights, pitted an- 1500mm (Nimer, 1977). Tomazelli re-
vil stones, and pigments; bone: projec- vela que o vento dominante é o nor-
tile points; shell: beads. Vieira: lithic, deste, sendo mais ativo na primavera e
bone and shell artifacts like Umbu; pot- verão; o vento oeste-sudoeste, secun-
tery: fragments of coarse-tempered dário, é mais eficaz nos meses de in-
mainly undecorated vessels with simple verno (Villvock e Tomazelli, 1995).
shapes. Tupiguarani: lithics: polished Geologicamente a região apresenta
stone axes, grooved and ungrooved po- duas características predominantes:

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Levantamentos arqueológicos na porção central da planície costeira do Rio Grande do Sul, Brasil

Pleistoceno – Sistema Laguna-Barrei- tuguês. Em 1532, Pero Lopes deu nome


ra III – a) depósitos praiais marinhos, à barra de rio de São Pedro; na reali-
eólicos e de retrabalhamento eólico atu- dade tratava-se do canal da barra da
al. b) depósitos lagunares e de retraba- Laguna dos Patos. Fazia parte da ex-
lhamento superficial do sistema de le- pedição, comandada por seu irmão,
ques aluviais. Martim Afonso de Souza, que fundou a
Holoceno – Sistema Laguna-Barreira primeira vila regular do Brasil, São Vi-
IV – a) depósitos lagunares, praiais, eóli- cente, em São Paulo, naquele mesmo
cos, paludais, deltáicos e fluviais (Villwo- ano.
ck e Tomazelli, 1995). No início do século XVII vinham ex-
Conforme Rambo a região é a mai- pedições de São Paulo explorar a Lagu-
or restinga de areia de todo litoral bra- na dos Patos e os rios Guaiba e Jacuí,
sileiro. A região apresenta-se como comercializando com os índios Tape e
uma grande planície aluvial retrabalha- Arachã (Guarani). Na mesma época, en-
da pelo menos por quatro ciclos de tre 1626 e 1634, os jesuítas espanhóis
transgressões e regressões marinhas, fundaram dezoito reduções no oeste, no-
condicionados pela alternância de pe- roeste e centro do Rio Grande do Sul.
ríodos glaciais e interglaciais ocorridos Em 1636, bandeirantes paulistas, co-
no final do Cenozóico (Villwock e To- mandados por Antônio Raposo Tavares,
mazelli, 1995). Estes eventos determi- invadem as reduções mais avançadas ao
naram configurações geológico-geo- leste do estado, localizadas na margem
morfológicas bem marcadas que defi- direita do rio Pardo. A região é, então,
nem e delimitam unidades ambientais abandonada pelos padres. Inicia a dis-
que formam o sistema em questão, tais puta pelas terras do sul: em 1680 é fun-
como barreiras marinhas, terraços la- dada, na margem direita do rio da Prata
gunares, laguna, lagoas, pântanos, e em frente a Buenos Aires, a Colônia
dunas e praia em diferentes estágios do Santíssimo Sacramento e, em 1686,
evolutivos.5 Laguna, em Santa Catarina, ambas pe-
Quanto à vegetação Hueck cita: los portugueses. A partir deste momen-
“Dunas e matas de dunas litorâneas. to é estabelecido um trânsito entre am-
Alto nível freático, muito encharcado, bas, sendo o caminho do litoral o mais
periodicamente ou largamente inunda- importante. No início do século XVIII,
do” (Hueck, 1972). A fauna é rica: pei- Francisco de Brito Peixoto, Capitão-mor
xes e moluscos de água doce e salga- de Laguna, envia seu genro, João de Ma-
da, cetáceos (baleias e golfinhos), pe- galhães, para ocupar a região até o ca-
nípedes (leão e lobo marinho), crustá- nal do Rio Grande. Arranchou onde hoje
ceos, aves e anfíbios (rãs, tartaruga), é São José do Norte, construiu canoas,
répteis (lagarto, jacaré), mamíferos transpôs o canal e entrou em contato
(guaraxaim, mão-pelada, veado cam- com os minuano e os charrua. Outro fa-
peiro e galheiro, capivara, ratão do tor fundamental no povoamento e con-
banhado, etc). quista do Rio Grande do Sul, particular-
O primeiro europeu que avistou a mente do litoral, foi a exploração do gado
planície central costeira do Rio Grande bovino, eqüino e muar, chimarrão (dis-
do Sul foi Gonçalo Coelho, em 1503, persos pelo campo). Surgem as estân-
numa expedição exploradora pelo lito- cias entre os rios Tramandaí e o canal
ral brasileiro, enviado pelo governo por- do Rio Grande.

5
MANZONI DE MANZONI, Jorge Darlã. Estudos dos vestígios fitofaunísticos In: MENTZ RIBEIRO, Pedro
A. Levantamentos arqueológicos na porção central da Planície Costeira do Rio Grande do Sul; projeto de
Pesquisa, Impresso, 1995.

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Ribeiro, P. A. M.; Pestana, M. B.; Penha, M. A. P.; Calippo, F. R.

Como esta atividade apresentava Histórico da pesquisa


bons lucros, a disputa pela terra torna-
se acentuada. Cristóvão Pereira, tropei- Nos últimos anos da década de 60 e
ro e bandeirante, destaca-se neste perí- primeiros da seguinte, a parte meridio-
odo, intensificando o comércio e esta- nal da porção central da planície costei-
belecendo definitivamente o caminho da ra do Rio Grande do Sul foi pesquisada
praia, desde o norte para a Colônia do pelo Prof. Guilherme Naue, então no
Santíssimo Sacramento: é o ciclo dos tro- Colégio São Francisco, da cidade do Rio
peiros. Grande, e do Instituto Anchietano de
Pesquisas, Unisinos, São Leopoldo, além
Em fevereiro de 1737, José da Silva
de uma equipe desta última, sendo os
Paes fundou a primeira vila do estado,
trabalhos coordenados por Pedro Igná-
Rio Grande e, mais tarde, a Estância Real
cio Schmitz. Esta atividade resultou em
do Bojuru (estaria composta por índios
produção científica: Naue & outros, 1968
minuano). Seriam elos de ligação entre
e 1971; Naue, 1973; Schmitz, 1976.
Laguna e a Colônia do Santíssimo Sa-
cramento. São José do Norte, onde já Em 1994, Pedro Augusto Mentz Ri-
havia um posto de vigilância, entre 1725 beiro, da Fundação Universidade Fede-
e 1733, surge em 1740. Ao redor da Vila ral do Rio Grande – FURG, elabora um
do Rio Grande estavam acampados ín- projeto de pesquisa para a região, iné-
dios Tape ou Chimarrões. Receosos de dita em resultados de pesquisa arqueo-
algum ataque por parte destes, resol- lógica: Levantamentos arqueológicos na
veu o governo português reuni-los do porção central da planície costeira do Rio
outro lado do canal, 35 km ao norte, em Grande do Sul, Brasil. Buscava-se aten-
1753: era a Aldeia de Nossa Senhora da der a filosofia da Instituição, isto é, vol-
Conceição do Estreito. Dez anos depois, tada para assuntos do mar. Procurou,
com a invasão espanhola de Rio Grande desta forma, aquele pesquisador, coor-
e São José do Norte, parte da população denando o Laboratório de Ensino e Pes-
destes povoados se estabelece na Aldeia quisas em Antropologia e Arqueologia –
do Estreito. Portanto, em 1763, a aldeia LEPAN, integrá-lo e adaptá-lo às exigên-
indígena torna-se uma povoação portu- cias ou interesses da Universidade.
guesa. O projeto foi encaminhado ao Con-
O exército luso pouco depois liberta selho Nacional de Desenvolvimento Ci-
São José do Norte e em 1776, Rio Gran- entífico e Tecnológico – CNPq, sendo
de, tendo como uma das conseqüências aprovada a solicitação de bolsas: uma
o retorno da maioria da população. O de Pesquisador, uma de Aperfeiçoamen-
Tratado de Santo Ildefonso, em 1777, to e duas de Iniciação Científica. Foram
estabelece definitivamente as fronteiras realizados convênios da FURG com as
meridionais entre Espanha e Portugal, Prefeituras Municipais da região pesqui-
trazendo uma relativa paz que permite sada (São José do Norte, Tavares e Mos-
um desenvolvimento regional. Nesta tardas), condução e motorista forneci-
segunda metade do século XVIII assis- dos pela FURG e, ainda, colaboração do
te-se o incremento do povoamento da IBAMA-Mostardas e Rio Grande.
área, antes com lagunenses, vicentinos Os trabalhos sistemáticos de campo,
ou paulistas, agora com a vinda de ca- iniciados em 1995, contaram com a par-
sais açorianos. ticipação parcial dos bolsistas de Aper-
A riqueza da região foi, desde então, feiçoamento Eunice Helena Gomes Me-
a pecuária e a agricultura. A atual rique- nestrino e Karla Silveira Lima Ferrari, dos
za, além da criação de gado bovino e de Iniciação Científica Vladimir Terra
ovino, é a plantação de cebola, arroz e Rosa, Ângelo Augusto Constantino Pires,
de pinheiro (Pinus elliottii). Flávio Ricci Calippo e Jorge Darlã Man-

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Levantamentos arqueológicos na porção central da planície costeira do Rio Grande do Sul, Brasil

zoni de Manzoni, os dois primeiros ba- cavação de salvamento em cemitério da


charéis em História e os outros, alunos tradição ceramista Tupiguarani, totalizan-
de graduação em História, Oceanologia do, aproximadamente, 9m2. As coletas
e Biologia, nesta ordem. Colaborou no foram de todo o material que se encon-
trabalho de campo o aluno do curso de trava na superfície. Em dois casos, devi-
História Dejair Vaz Muniz. do a grande quantidade de material cerâ-
As atividades de laboratório foram re- mico, demarcamos uma área de 3 x 3m,
alizadas pelos mesmos bolsistas e cola- coletando o que havia no seu interior.
borador com a seguinte divisão: Jorge Quando ocorriam concentrações, mesmo
Manzoni e Flávio Calippo, especialmente relativamente próximas entre si, em tor-
o segundo, estudaram os vestígios fito- no de 10 ou 15m, o material era coleta-
faunísticos e, os demais, os aspectos cul- do separadamente, recebendo número de
turais. Aqueles dois bolsistas também ini- catálogo diferente apesar de um mesmo
ciaram a formação de um material de número de sítio arqueológico.
referência para os estudos zooarqueoló- Os cortes variaram de 1,0 x 0,70m,
gicos. Flávio Ricci Calippo, orientado pelo 1,5 x 1,5m e 1,0 x 3,0m. Os cortes, bem
Prof. Dr. Manuel Haimovici, do Departa- como suas dimensões, estiveram condi-
mento de Oceanografia da FURG, escre- cionados a existência de estratificação
veu seu trabalho de conclusão a partir de ou uma área suficiente para a prática de
vestígios fitofaunísticos da região estu- um corte. Em outras palavras, todos os
dada, particularmente sobre otólitos. No sambaquis e cerritos apresentavam sin-
ano de 2000 foi publicado um livro sobre tomas de parcial ou total destruição. Em
a restinga da lagoa dos Patos (Tagliani e dois casos em que houve possibilidade
outros, 2000) com a participação do Co- de escolha, o local do corte foi na parte
ordenador do Projeto, Pedro Augusto
mais ou menos central do sítio.
Mentz Ribeiro e Flávio Calippo.
Em todas as situações, os cortes fo-
As atividades de gabinete, incluindo
ram divididos em níveis artificiais de 10cm
redação do artigo, confecção de tabe-
até encontrar a camada estéril ou base
las, gráficos e arte final, tiveram a auto-
da primeira ocupação; daí era aprofun-
ria de Maria Angélica Pereira Penha e
Marlon Borges Pestana. dado mais 100cm, em média, como me-
dida de segurança. A terra proveniente
Além dos contatos com as autorida-
das camadas de ocupação era peneira-
des e lideranças locais, foram proferidas
da em malha de 3mm e o material reco-
palestras em Mostardas e Tavares para
lhido. Amostras de conchas, para data-
a comunidade. Tinham estas a finalida-
ção, foram recolhidas nos sambaquis. Fo-
de de divulgar e conscientizar a popula-
tografou-se a grande maioria dos sítios
ção da importância da pesquisa que era
realizada. arqueológicos, todos os cortes experi-
mentais e a paisagem em negativo pre-
to e branco e diapositivo colorido, além
Métodos e técnicas de da filmagem em VT de algumas ativida-
pesquisa des de campo.
Por tratar-se de região inédita sob o O material foi limpo e catalogado (nu-
ponto de vista arqueológico, isto é, sem merado), restaurado, classificado, ana-
haver publicação científica, a atividade re- lisado, fotografadas as peças mais re-
sumiu-se em coletas superficiais sistemá- presentativas em negativo preto e branco
ticas e cortes experimentais. Estes foram e diapositivo colorido, desenhadas vasi-
praticados, parcialmente, nos sambaquis lhas e suas bordas, mapas e gráficos e
marinhos e lacustres e nos aterros ou realizada a arte final. Utilizou-se lupa
cerritos. Foi realizada uma pequena es- binocular para análise do material.

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Ribeiro, P. A. M.; Pestana, M. B.; Penha, M. A. P.; Calippo, F. R.

Descrição dos sítios vam-se perturbados. A altitude, em re-


lação ao nível do mar, gira em torno de
Na pesquisa de campo foram locali- 2 e 8m.
zados e estudados 64 (sessenta e qua-
tro) assim distribuídos: 07 (sete) ater- Os sambaquis lacustres possuem en-
ros, 11 (onze) sambaquis sendo 08 (oito) tre 5,0 e 30,0m de diâmetro ou 12,50 x
lacustres e 03 (três) marinhos e 46 (qua- 6,50 a 48,0 x 23,0m e a altura entre
renta e seis) erodidos sobre dunas as- 0,90 e 3,45m. As dimensões dos mari-
sim divididos: históricos 04 (quatro) e nhos estão entre os 15,0 x 10,0m até
pré-coloniais 42 (quarenta e dois) com 46,0 x 28,0m e, a altura, de 1,0 a 3,0m.
a seguinte subdivisão: cemitério 01 As medidas, especialmente a altura, es-
(um), cemitério/habitação 03 (três) e ha- tão prejudicadas pela ação do homem.
bitação 38 (trinta e oito). Encontram-se sobre dunas e a espessu-
ra dos sedimentos varia de 0,10 a 0,80m.
Os aterros e os sambaquis lacustres Naqueles onde foram realizados cortes
encontram-se na Barreira IV, holocêni- experimentais, ou seja, dois marinhos e
ca, entre a Barreira III e a Laguna dos dois lacustres, a espessura ficou entre
Patos. Dois aterros, porém, estão na Bar- 0,50 e 0,80m. As causas da sua destrui-
reira III, no seu limite oeste, isto é junto ção são para aterro ou como calcário nos
à Barreira IV. A distância que separa os locais de cultivo. Nas pequenas áreas
aterros da Laguna varia de mais ou me- sem perturbação ou blocos testemunhos,
nos 800 a 9000m. Foram localizados realizaram-se os cortes experimentais.
acima da cidade de Mostardas, numa Alguns estão cobertos por fina camada
faixa entre os 30º30’ e 31º00’ de latitu- de gramíneas. A altitude, em relação ao
de sul. São os mais setentrionais estu- nível do mar, encontra-se entre 1,0 e
dados no Estado, um pouco acima dos 10,0m, aproximadamente.
aterros de Camaquã (Schmitz e outros,
1969). Encontram-se isolados, sendo a Os sítios erodidos sobre dunas estão
distância mais próxima em torno de situados na Barreira III, pleistocênica,
1000m. Estes dados são relativos por- todos no limite oriental ou, mais rara-
que, tratando-se de uma área de cultivo mente, no ocidental da mesma. A exce-
intenso de arroz, todos apresentam cer- ção registrada é um sítio histórico, junto
to grau de destruição. Alguns, inclusive, à Laguna dos Patos (Farol do Cristóvão
desapareceram sem localização precisa Pereira), na Barreira IV. Foram subdivi-
e, portanto, sem registro. didos em históricos, habitação, cemité-
rio e cemitério/habitação. São localiza-
As dimensões dos aterros oscilam
entre 10,0m de diâmetro a 70,0 x 40,0m dos em altitudes que variam de 2 a 25m
e a altura entre 1,0 e 2,5m; são, por- acima do nível do mar, mas a maioria
tanto, circulares ou elipsoidais. Estão as- girando em torno dos 10m. Os históri-
sentados sobre dunas e a espessura dos cos representam residências (duas), um
sedimentos se encontra entre 0,50 e farol e uma aldeia com várias casas ou
1,30m. A cobertura é de gramíneas com residências. Por esta razão, suas dimen-
alguns arbustos. Por ação antrópica, três sões apresentam grande variação, ou
foram praticamente destruídos (terraple- seja, desde 10m de diâmetro até, apro-
nados para construção de estrada, açu- ximadamente, 100 x 100m (cada casa
de e cultivo intenso); um apresentava com 5m de diâmetro). Os sítios habita-
construção (casa de alvenaria); um par- ção, cemitério e cemitério/habitação tem
cialmente destruído devido à construção entre 5 e, aproximadamente, 20m de
de canal de irrigação e dos que menos diâmetro, excetuando-se as aldeias ou
sofreram, um já havia sido e o outro era locais com até seis concentrações ou
um local cultivado. Os níveis superiores casas. Nestes casos, a ocupação atinge
destes dois últimos, portanto, encontra- áreas de mais ou menos 50 x 100m.

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Levantamentos arqueológicos na porção central da planície costeira do Rio Grande do Sul, Brasil

Por se encontrarem nas dunas, em apresentá-los de acordo com as tradi-


áreas erodidas pela ação eólica e pluvial ções culturais detectadas na região, na
ou, mais raramente, em locais cultiva- seguinte ordem, da mais antiga à mais
dos, não foi registrado um sítio passível recente: Umbu, Vieira, Tupiguarani, Ibe-
de corte estratigráfico. Tentativas foram roindígena.
realizadas, inclusive na aldeia do Estrei-
to, mas a camada de ocupação apresen-
tava poucos centímetros (em torno de Umbu
10) ou sinais de perturbação. Exceto Lítico – Foram encontradas três pon-
nesta última, não foi observado a ocor- tas-de-projétil de pedra lascada por per-
rência de manchas de terra preta que cussão e pressão, triangulares, pedun-
pudessem indicar a forma e as dimen- culadas e com aletas, em arenito meta-
sões de uma casa, a exemplo de outras morfizado ou calcedônia; ainda, lascas
áreas no Estado do Rio Grande do Sul. A da mesma matéria-prima, bolas de bo-
maneira encontrada foi através da con- leadeira em basalto ou rocha rica em mi-
centração de material que nos fornecia, nério de ferro.
exatamente, as características da(s) Com relação ao material ósseo e con-
casa(s). Na aldeia do Estreito foi possí- chífero, bem como aos vestígios fitofau-
vel definir a planta da mesma, forma, nísticos, estes serão descritos junto à
dimensões, número e disposição das tradição Vieira. Os sambaquis e os ater-
casas em torno da praça retangular. Em ros (cerritos), onde ocorrem estes tipos
outros locais, com mais de uma concen- de material, apresentam na superfície ou
tração, entre e ao redor delas havia es- nos primeiros níveis, indícios seguros de
paços cobertos por dunas o que não per- terem sido ocupados pela Vieira, ou seja,
mitiu estabelecer a forma da aldeia. Em a cerâmica característica da tradição. Já
raros casos, nas paredes de dunas e no nos níveis inferiores, o não registro da
solo, foram observadas estas manchas cerâmica pode indicar duas situações:
ocupando pequenos espaços. tratar-se de ocupação Vieira e não ter
Nos sambaquis Três Marinhos, dois sido encontrada sua cerâmica (acerâmi-
apresentavam vestígios da tradição Tu- co) ou ser efetivamente do período pré-
piguarani e um Tupiguarani e Vieira. Os cerâmico e, daí, pertencer à tradição
oito sambaquis lacustres revelaram: so- Umbu. Como a tradição Vieira é uma
mente vestígios da tradição Vieira em continuação da Umbu, diferenciadas ape-
três, Tupiguarani e Vieira em quatro e nas pela ocorrência ou não da cerâmica,
um deles sem material identificador da é muito difícil separá-las quando não
cultura. Resultado dos sete cerritos: tra- acompanhadas de seus fósseis guia ou
dição Vieira em dois, somente um caso perturbados em superfície.
com Tupiguarani e quatro não apresen-
taram material diagnóstico da cultura.
Os sítios erodidos sobre dunas apresen- Vieira
tam 63,0% da tradição Tupiguarani, Cerâmica – Os fragmentos pertencem
24,0% da tradição Vieira e 9,0% com as a vasilhas que apresentam contornos
tradições Vieira e Umbu. simples, formas esféricas, semiesféricas,
elipsóides horizontais e meia calota; as
bases são arredondadas ou planas. Uma
Descrição do material característica desta cerâmica são os fu-
O material encontrado foi assim clas- ros de suspensão circulares na borda e
sificado: cerâmica, cerâmica colonial, próximos à boca. Raros são os fragmen-
louça, lítico, ósseo, conchífero, vidro, me- tos que apresentam algum tipo de de-
tal e vestígios fitofaunísticos. Vamos coração, como por exemplo: impressão

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de cestaria, ungulado ou riscado. Foi re- Conchífero – Registramos raros casos


gistrada a ocorrência de processo acul- de contas de colar circulares, confeccio-
turativo num sítio: decoração Tupigua- nadas com a extremidade de uma uni-
rani (corrugado, corrugado-ungulado) valve e alisadas.
com antiplástico Vieira. Alguns fragmen- Ósseo – Foram encontradas várias pon-
tos não foram classificados devido à for- tas de osso, nos sambaquis ou nos ater-
te erosão. ros, em geral fragmentadas, compactas;
As vasilhas foram confeccionadas as inteiras eram com dupla ponta.
pela técnica do modelado e acordelado. Dente – Conta-de-colar em dente de
O antiplástico é formado por areia mé- tubarão, alisado nas extremidades e com
dia e grossa atingindo a espessura de perfuração central.
0,3cm; foram registrados grãos arredon-
Vestígios fitofaunísticos – Os vestí-
dados, porém, alguns angulosos de de-
gios fitofaunísticos são os mesmos que
pósito terrestre, também como antiplás-
os registrados para a tradição Tupigua-
tico, foram acrescentadas conchas moí- rani.
das, fibras vegetais brancas e averme-
lhadas, observadas em lupa binocular.
O fraco cozimento foi em atmosfera oxi- Tupiguarani
dante, com queima mal controlada, por-
Cerâmica – Os fragmentos e peças in-
tanto, incompleta. A dureza é 4 na es-
teiras são, em sua grande maioria, per-
cala de Mohs; a cor da superfície oscila
tencentes à vasilhas. Em virtude da fal-
entre o preto-acinzentado e o pardacen-
ta de matéria-prima, a pedra, outra peça
to-claro; a espessura dos fragmentos
característica do litoral centro e sul do
varia de 0,6 a 1,4cm predominando a
Rio Grande do Sul, são os afiadores-em-
espessura de 0,8cm; o tratamento de
canaleta em cerâmica. Também foi re-
superfície é o alisado, externo e interno,
gistrada a ocorrência de um fragmento
com raras decorações plásticas e sem
de cachimbo.
pintura; a textura ocorre em dois tipos,
frouxa com grãos facilmente desagregá- As vasilhas apresentam formas es-
veis e compacta. féricas, semiesféricas, elipsóides hori-
zontais, meia calota; os contornos são
Lítico – Também na tradição Vieira o simples, inflectido, composto e comple-
lítico é escasso em virtude da falta de xo e, as pintadas, carenadas; as bases
matéria-prima. O material encontrado, são arredondadas ou levemente cônicas.
associado à tradição, é o seguinte: lâ- A decoração predominante é a corruga-
minas de machado polidas quadriláte- da-ungulada e a corrugada; segue a sem
ras, com um, dois ou três entalhes de decoração (simples), a ungulada, a es-
cada lado próximo à extremidade de pre- covada e as pintadas. Estas últimas po-
ensão, em basalto, gnaisse e rocha não dem apresentar pintura vermelha sobre
identificada; pedras com depressão se- branco na face externa (a mais freqüen-
miesférica polida (“quebra-coquinho”), te), na face interna e em ambas as fa-
apresentando uma ou mais depressões ces; somente pintura ou engobe verme-
de um ou ambos os lados da peça que lho com as características da anterior;
possui formas variadas; bolas de bolea- com casos esporádicos (técnicas associ-
deira esféricas ou piriformes com sulco adas) constataram-se variantes das an-
polar ou equatorial; lascas de quartzo teriores, como por exemplo vermelho
com formas variadas; fragmentos de sobre branco na face externa e verme-
matéria corante com ou sem sinais de lho na interna e, ainda, o contrário. Tam-
utilização (estrias); polidores de areni- bém foram encontrados raros casos de
to; um pingente em forma de gota, em técnicas associadas, constando de de-
calcedônia, polido. coração plástica externa e pintada ou

92 Revista de Arqueologia, 17: 85-99, 2004


Levantamentos arqueológicos na porção central da planície costeira do Rio Grande do Sul, Brasil

engobada de vermelho internamente. O mentos de matéria corante (hematita e


índice de fragmentos inclassificáveis é limonita), lâminas de machado polidas
relativamente alto devido ao processo petalóides, em basalto ou gnaisse, em
erosivo, que sofreram no litoral, em vir- geral fragmentos ou fragmentadas. Es-
tude de ficarem expostos à forte ação porádicas ocorrências de alisadores, ba-
eólica. tedores, pesos de rede, raspadores e
As vasilhas foram confeccionadas pedra com depressão semiesférica poli-
pela técnica do acordelado, sendo utili- da (“quebra-coquinho”).
zada a areia fina e média como antiplás- Conchífero – Confeccionadas com ma-
tico predominante. O fraco cozimento foi terial conchífero registramos somente
em atmosfera oxidante. A espessura das contas-de-colar, em conchas não identi-
vasilhas oscila entre 0,8 a 1,9cm, pre- ficadas, alongadas, formadas por qua-
dominando a espessura de 1,15cm. tro faces e uma perfuração numa ex-
A dureza está entre 3 e 4 na escala tremidade. Foram encontradas 36 con-
tas-de-colar ao redor do pescoço de um
de Mohs; cor da superfície é o ocre e o
indivíduo sepultado.
pardacento com tonalidades, além de
manchas escuras ou pretas; a cor do Vestígios fitofaunísticos – Vestígios de
núcleo é preto acinzentado ao preto lilá- ocupação Tupiguarani foram encontra-
ceo; na maioria dos casos a extensão dos em todos os tipos de sítios da re-
da queima varia entre 0,6 a 1,3mm, por- gião, ou seja, em sambaqui, marinho e
tanto, queima incompleta; a textura é lacustre, nos erodidos sobre dunas, e
compacta e a fratura é regular. inclusive num aterro e sítio histórico. Os
portadores da cultura material definida
Utilizando o método para estabele-
como Tupiguarani utilizaram os recursos
cer cronologias culturais ou método Ford,
da região: consumo intensivo de molus-
foram constatadas três fases regionais:
cos (Erodona mactroides e Mesodesma
Capororoca, Bacopari e Capivaras. A pri-
mactroides – água doce e salgada, res-
meira, mais antiga, teria ingressado na
pectivamente) e peixes como o bagre
região por volta de 1400 D. C. (550 anos
(Netuna sp.), a corvina (Micropogonias
A.P.) e a última, aproximadamente, 100
sp.) e a miragaia (Pogonias sp.), nos
anos depois.
sambaquis; nos demais sítios e mesmo
Os afiadores-em-canaleta foram con- nos sambaquis: lesma terrestre (Mega-
feccionados sobre fragmentos de vasi- lobulimus sp.), cervídeos (Cervidae),
lhas. Apresentam um ou mais sulcos em tatus (Dasypodidae), felinos de peque-
meia-cana, em linhas paralelas, oblíquas no porte (Felidae), ratão do banhado
ou se entrecruzando. Teriam sido utili- (Myocastor coypus), capivara (Hydrocha-
zados para alisar as pontas-de-projétil eris hydrochaeris), lontra (Lutra longi-
de osso ou de madeira ou, ainda, com caudis), aves e sementes de coquinho
menor intensidade, os tembetás (ador- (Arecastrum romanzoffianum). No sítio
no labial usado pelos homens). histórico acrescentam-se ossos de bovi-
O fragmento de cachimbo é de pe- nos.
quenas dimensões, de um fornilho glo- Sepultamentos – Registrou-se a ocor-
bular e formado por gomos no sentido rência de 04 (quatro) locais com sepul-
longitudinal da peça (vertical). tamentos, sendo que 03 (três) apresen-
Lítico – O material lítico, no litoral cen- tavam ainda vestígios de habitação. To-
tro, é escasso devido à total falta de dos são do tipo secundário, isto é, a re-
matéria-prima. As peças mais comuns alização do enterramento direto no solo
são os polidores e afiadores-em-canale- e, depois de um certo tempo, retirados
ta em arenito, lascas de calcedônia (uti- os ossos e colocados no interior de uma
lizada para raspar, cortar, perfurar), frag- vasilha. Em dois locais foi possível com-

Revista de Arqueologia, 17: 85-99, 2004 93


Ribeiro, P. A. M.; Pestana, M. B.; Penha, M. A. P.; Calippo, F. R.

provar que eram, simultaneamente, ha- Histórico


bitação e cemitério. Num dos dois locais,
um patrolista quando trabalhava e reali- Nos quatro sítios históricos foi encon-
zou o achado, disse que o crânio estava trada uma grande variedade de materi-
no interior da vasilha (pintada externa- al. Em um deles, a aldeia Nossa Senho-
mente, complexa). O outro local mos- ra da Conceição do Estreito, ocorreu
trou um enterramento secundário de um desde o pré-colonial, composto pelo an-
indivíduo jovem, ainda com dentes de teriormente descrito, tanto da tradição
leite ou primeira dentição. Era uma va- Tupiguarani como da Vieira, esta em bem
silha (urna) cônica, inflectida, corruga- menor escala. Através destes vestígios
da-ungulada, com uma tampa elipsóide consegue-se datar, relativamente, cada
horizontal, composta, com a mesma um dos locais. Dois deles, o anteriormen-
decoração da urna. Um terceiro local, que te citado e o farol do Cristóvão Pereira,
forneceu apenas a vasilha pintada ex- têm, ainda, os dados históricos como
ternamente, complexa, com um crânio fonte de datação e reconstituição do seu
no seu interior. A retirada do material passado cultural.
foi praticada pelo proprietário (agricul- Os fragmentos de cerâmica de vasi-
tor) que informou ter encontrado mais lhas ocorrem de duas formas: uma exa-
vestígios cerâmicos (habitação ?). A tamente igual à descrita na pré-coloni-
equipe de pesquisas, visitando o local, al; a outra, aculturada, isto é, com téc-
nada encontrou. nica de confecção, formas, decoração,
O único local escavado, que carac- etc., introduzidas pelo europeu. Exem-
terizou-se por cemitério, apresentou plo: bases planas, em pedestal, pratos
imitando os de louça, asas, decorações
dois sepultamentos secundários. “O pri-
variadas (incisa, riscada, aplicada, apli-
meiro era o “clássico” com alguns os-
cação de dois ou mais tipos, etc.), utili-
sos no interior de uma pequena vasi-
zação do torno de oleiro, etc. Acrescen-
lha tendo outra emborcada servindo de
ta-se a ocorrência de fragmentos de te-
tampa (corrugada-ungulada inflecti-
lhas e tijolos.
das). A uma distância de 1,5m deste
ponto foi encontrado um enterramen- O outro tipo de cerâmica é a coloni-
to estendido, diretamente no solo, com al, produzida fora da região (talvez Rio
vasilhas emborcadas onde deveria es- de Janeiro ou São Paulo). Sua caracte-
rística é apresentar um vidrado amarelo
tar o crânio (Fig.01). O crânio havia
ou esverdeado, normalmente na sua
sido retirado e (Fig.02) colocado em
parte interna ou, ainda, em ambas as
uma pequena vasilha também com ou-
faces. Pertence a tigelas para armaze-
tra emborcada como tampa. Este con-
namento líquido. Os tipos de louça en-
junto foi depositado um pouco a frente
contrados são os seguintes: faiança, fai-
e em posição mais elevada, de onde
ança fina e Salt-glazed. As duas primei-
deveria estar, originalmente, o crânio.
ras apresentam louças brancas e colori-
Neste último local foi depositado um das. A faiança portuguesa possui peque-
fragmento de vasilha pintada de ver- nas áreas, em geral frisos, em azul ou
melho sobre branco externamente. marrom sobre branco. Já a faiança fina,
Conclui-se tratar-se de um enterramen- inglesa, apresenta uma grande varieda-
to secundário apenas do crânio. Ao re- de, destacando-se a crinada (Shell ed-
dor do pescoço havia um colar, confec- ged blue pattern e Shell edged green
cionado de conchas com contas alon- pattern), azul borrão inglês ou Macau;
gadas apresentando quatro faces pla- das marcas de produção foram registra-
nas e uma perfuração na extremida- das William Adams, Ironstone, Da-
de” (Mentz Ribeiro & Calippo, in Tagli- venport, Swansea (estilo Peasant). A
ani & outros, 2000). salt-glazed (grés fino ou pó-de-pedra) é

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Levantamentos arqueológicos na porção central da planície costeira do Rio Grande do Sul, Brasil

representada por fragmentos de botijas principais vão ser a pobreza de material


para água mineral, garrafas de conha- lítico e, particularmente, os vestígios fi-
que ou cerveja, frascos de tinta ou tin- tofaunísticos, ou seja, a exploração dos
teiros. recursos marinhos, lagunares e de áre-
Em pedra destacam-se as pedras-de- as alagadiças. As peças líticas caracte-
pederneira ou pedras de chispa, utiliza- rísticas são as lâminas de machado poli-
das em armas de fogo da época. Encon- das com os entalhes laterais nas tradi-
traram-se, ainda, fragmentos de lousa e ções Umbu ou Vieira e os raros pesos de
ponteiras de ardósia, usadas para escre- rede, típicos de ambientes aquáticos. A
ver, seixos e lascas que poderiam ter sido Tupiguarani se assemelha às fases mais
utilizados para bater, triturar e cortar, recentes da tradição nas formas das va-
raspar, respectivamente. silhas e nos percentuais e tipos de deco-
ração, ausência de diversidade tipológi-
Fragmentos de garrafas de paredes
ca de material lítico.
relativamente espessas, verde-escuras,
fundo apresentando uma forte concavi- Os sítios da tradição Tupiguarani ca-
dade e conta de colar azul com uma per- racterísticos desta região são os erodi-
furação central, é o mais expressivo em dos sobre dunas, localizados nos extre-
vidro. Alguns fragmentos de vidros de mos leste e, mais raramente, no oeste
garrafas mostram retoques e sinais de da Barreira III, justamente onde se lo-
utilização para raspar, cortar. calizam as “matas de dunas litoranias”
Em metal (chumbo, ferro, latão, co- (Hueck, 1972). Seus vestígios ocorrem,
bre e bronze) destacamos duas moedas também, na Barreira IV, nos sambaquis
do império brasileiro, crucifixo, botões, marinhos (um na barreira III no seu li-
fivela, chaves, colher, cravos, pregos e mite com a IV), em três lacustres e num
várias peças de uso desconhecido. aterro, este junto à Barreira IV. Obser-
No que se refere aos vestígios fito- va-se, portanto, uma tendência do Tupi-
faunísticos, observam-se alguns animais guarani ocupar a Barreira III, mais alta
de nossa fauna (mamíferos, peixes, mo- e seca, e a Barreira IV voltada para o
luscos), mas o destaque são os ossos de mar. Utilizaram os recursos regionais,
bovinos. Através dos dados históricos caçando, pescando, coletando frutos,
sabemos que, na aldeia do Estreito, no raízes e moluscos e plantando em suas
período de ocupação somente dos indí- roças.
genas (1753-1763), o governo portugu- Concluímos que a tradição Tupigua-
ês distribuía carne bovina aos seus mo- rani regional pertence à subtradição Cor-
radores. Em virtude da ocupação de Rio rugada, pois este tipo decorativo predo-
Grande e São José do Norte, pelos es- mina. Em alguns casos também é ob-
panhóis, a partir de 1763, parte daque- servada a cerâmica com decoração es-
la população veio refugiar-se no Estrei- covada, indicando uma transição para
to, aumentando consideravelmente a sua aquela subtradição (Escovada), mais re-
população. A aldeia indígena passa a ser, cente. Daí, apesar de não termos obtido
então, uma localidade portuguesa ou ainda datações absolutas, porém, com-
luso-brasileira. parando com outras áreas, especialmen-
te as limítrofes, situaríamos entre 550 e
200 anos antes no presente (A.P.), o
Comparações e conclusões período de ocupação da tradição Tupi-
Os vestígios encontrados para as tra- guarani na planície costeira central do
dições que ocuparam a área, Umbu, Vi- Estado. Desaparece através de um pro-
eira e Tupiguarani, são semelhantes aos cesso de miscigenação com o elemento
atribuídos às mesmas tradições dentro europeu e negros, estes trazidos como
da sua área de dispersão. As diferenças escravos para as estâncias ou fazendas.

Revista de Arqueologia, 17: 85-99, 2004 95


Ribeiro, P. A. M.; Pestana, M. B.; Penha, M. A. P.; Calippo, F. R.

As comparações com a tradição Umbu se encontra na relativa pequena quanti-


são prejudicadas pela ausência ou rari- dade e nas lâminas de machado polidas
dade do material lítico. Mas o pouco exis- com um ou dois entalhes laterais, para
tente permite concluir que se trata de preensão, aspecto desconhecido em ou-
um mesmo grupo, quer pela tipologia das tras regiões. Os vestígios fitofaunísticos
pontas-de-projétil, quer pela utilização mostram a utilização dos recursos regi-
da técnica do lascamento por pressão onais com maior intensidade, e a prefe-
ou, ainda, por outras peças que acom- rência por alguns tipos de peixes (ba-
panham a ergologia da tradição como por gres, miragaias, corvinas), moluscos
exemplo as bolas de boleadeira, as mi- (mariscos de água doce e salgada), ma-
crolascas e os “quebra-coquinhos”. Seus míferos (capivara, ratão-do-banhado,
vestígios são raramente observados em veados, lontra, tatus), aves e sementes
sítios erodidos sobre dunas e, neste caso (coquinhos).
estão mesclados com os da tradição Tu- A seqüência, portanto, para a planí-
piguarani (sobreposição). Foram os pri- cie costeira central do Rio Grande do Sul
meiros ocupantes do Rio Grande do Sul é a seguinte: os primeiros ocupantes fo-
e, portanto, dos aterros e dos samba- ram caçadores, coletores e pescadores
quis lacustres e marinhos do litoral cen- da tradição Umbu. Devem ter ocupado
tro. Isto significa a adaptação ou domí- a área a partir dos 5000 anos A. P. Em
nio dos ambientes aquáticos, úmidos da torno de 4000 anos A. P., mostrando uma
Barreira IV. melhor adaptação, as áreas alagadiças
Esta observação serve, também, para fazem surgir os aterros ou cerritos. Dis-
a Vieira, pois seus vestígios são encon- cute-se a intencionalidade ou não da sua
trados, preferentemente, nos mesmos “construção”. Os por nós estudados sur-
locais da Umbu. A área de dispersão da giram da seguinte maneira: havia uma
suave elevação (duna) no terreno (uns
tradição Umbu é do sudeste de São Paulo
30 a 50cm) e esta era escolhida para
(vale do Ribeira do Iguape) ao extremo
ser ocupada. Com o passar do tempo,
sul da América, na Patagônia argentino-
trazendo involuntariamente terra, jogan-
chilena e do Atlântico ao Paraguai e me-
do fora detritos (restos de alimentação,
sopotâmia dos rios Paraná-Paraguai e
dos instrumentos confeccionados, ma-
Uruguai. A tradição Vieira ocupou áreas
deiras e palhas de suas habitações, se-
alagadiças do sudeste, sul, sudoeste e
pultamentos) e a vegetação que crescia
centro do Rio Grande do Sul, nordeste,
durante o abandono, leva a um aumen-
norte e noroeste da República Oriental
to da altura dos aterros. Esta última ob-
do Uruguai. A região nuclear desta área
servação indica a sazonalidade de sua
são os municípios sul-rio-grandenses de ocupação, preferencialmente na prima-
Rio Grande, Santa Vitória do Palmar e vera e verão em virtude da maior abun-
Chuí e o Departamento de Rocha, no dância de peixes, moluscos, crustáceos,
Uruguai. aves, frutos e sementes levam a esta
A cerâmica Vieira, da planície costei- conclusão. Além disso, o outono e in-
ra central, é semelhante à registrada verno tornam os terrenos holocênicos
para as outras regiões, especialmente a (banhados) inóspitos pelas enchentes,
mais próxima, Rio Grande. Apresenta ca- exposição às intempéries (ventos, chu-
racterísticas de tratamento de superfí- vas) e diminuição acentuada dos recur-
cie (baixíssimo percentual decorativo) e sos. Por volta de 2000 A. P. adquiriram a
antiplástico que a aproxima das fases cerâmica, provavelmente através de gru-
mais antigas Torotama e Vieira I. No que pos do sul, do Rio da Prata: surge a tra-
se refere ao material lítico, as semelhan- dição Vieira. Não temos certeza se este
ças são notadas nos tipos de instrumen- fato vem acompanhado da domestica-
tos e nas suas características. A diferença ção de plantas.

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Levantamentos arqueológicos na porção central da planície costeira do Rio Grande do Sul, Brasil

A Vieira continua na área até o con- Eunice Helena Gomes Menestrino, Vla-
tato com a Tupiguarani, isto é, em torno dimir Terra Rosa, Ângelo Augusto Con-
de 550 anos A. P. A última manteve, ini- stantino Pires e Jorge Darlã Manzoni de
cialmente, algum tipo de contato com a Manzoni; um agradecimento aos moto-
Vieira, o qual desconhecemos (casamen- ristas de praia da FURG que foram deci-
tos, rapto de mulheres, comércio, etc.), sivos nos deslocamentos de uma área
observado em alguns casos de vasilhas de tão difícil locomoção, José Cândido
cerâmicas com formas e decoração Tu- Curvello Klein (Candinho), Gilnei Alves
piguarani e antiplástico Vieira. Na se- da Costa (Santa Casa) e Tamaragiba
qüência expulsou-a da planície costeira Garcia Pereira (Giba); ao setor de trans-
central, permaneceu até meados do sé- portes da SANC/FURG pela atenção dis-
culo XVIII, entrando em contato com o pensada à pesquisa arqueológica; ao
europeu ou luso-brasileiro. IBAMA/Mostardas que propiciou acomo-
No sudeste do Rio Grande do Sul, o dações e condução, nas pessoas de Luiz
elemento humano, responsável pela cul- Orocil de Medeiros Franco, João Carlos
tura material denominada de tradição Vi- Fonseca Andréia e Ireno Almeida da Cos-
eira, é aquela que os europeus vão de- ta; ao IBAMA/Rio Grande, através de
nominar de minuano, charrua, guenoa e condução nos funcionários , Gilmar An-
os da Tupiguarani vão ser chamados de tonio Wasieleski Vieira, Elves Ismar Mar-
pato, arachã, tape.... tins e Paulo Jarcedi Martins. Um agra-
decimento ao Sr. Pedro Augusto Torra-
no Ribeiro que colocou à disposição sua
Agradecimentos residência no Balneário Mostardense
Os agradecimentos dos autores são (Praia Nova), Mostardas; ao Vice-Pre-
aos bolsistas e estagiários do LEPAN/ feito Municipal de Tavares, Sr. Luís Agui-
FURG que contribuíram para o presente nello, que propiciou hospedagem à equipe
artigo ser entregue à publicação: Dejair do LEPAN durante duas temporadas em
Vaz Muniz, Karla Silveira Lima Ferrari, campo.

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98 Revista de Arqueologia, 17: 85-99, 2004


Levantamentos Arqueológicos na Porção Central da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, Brasil

Fig.01: Mapa da porção central costeira do Rio Grande do Sul,


Brasil, assinalando os sítios arqueológicos

Fig.02: Perfil esquemático da área estudada, entre o Oceano Atlântico e a Lagoa dos
Patos, com a indicação da implantação dos sítios arqueológicos estudados

Revista de Arqueologia, 17: 85-99, 2004 99

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