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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA


FACULDADE DE GEOGRAFIA

RAMON RAMOS

População e Geografia

Resenha apresentado à Universidade


Federal do Pará – Campus Universitário
em Altamira – Curso de Geografia 2017
como obtenção de nota para a disciplina:
Geografia da População.
Prof. Meyjael Antônio Gomes e Silva

Altamira/PA
2018
DAMIANI, Amélia Luísa. População e geografia. 9ª ed. São Paulo: Contexto, 2011.

O conceito de população se reformula e agrega vários significados no decorrer da


história, sendo discorrido por Damiani a concepção de população a partir do século XVII sob a
visão malthusiana, até o século XX através da visão marxista.
Malthus defende que a miséria seria um ponto de equilíbrio no crescimento
populacional. Para ele, a população cresceria em ritmo geométrico e a oferta de recursos
naturais em um ritmo aritmético, ou seja, se todos consumissem igualitariamente à burguesia,
a quantidade de alimentos disponíveis não seriam suficientes a todos, em contrapartida entra a
miséria causando fome, epidemia e guerras adoecendo a população, consequentemente uma
taxa de mortalidade elevada, portanto, equilibrando o crescimento populacional.
Marx define população diferentemente de Malthus, leva em consideração não mais a
relação entre população e alimentos, mas sim, a população e oferta de trabalho.
O avanço tecnológico exige o emprego de mais máquinas, consequentemente, menos
uso de mão-de-obra. Fato que se deu início na Revolução Industrial e presente até os nossos
dias atuais.
Os trabalhadores descartados deste processo nem sempre são realocados, formando uma
reserva disponível, pronta para ser usada a qualquer momento, conforme as necessidades
apresentadas pelo mercado. Estratégia usada pra manter os salários baixos e sempre ter
disponibilidade de mão-de-obra, possibilitando assim, o crescimento do mercado, sem que haja
a preocupação com oferta de mão-de-obra.
Este excedente assombra o trabalhador formal que para manter seu emprego, submete-
se a intensas horas de trabalho comprometendo sua qualidade de vida.
Assim traça-se o perfil do trabalhador assalariado: um homem miserável assombrado
pela possibilidade se sua expulsão através do avanço tecnológico (substituição de sua força de
trabalho pelo uso de máquinas) e pelo excedente de mão-de-obra.
Após a segunda guerra mundial, a teoria malthusiana ressurge adaptada aos avanços
tecnológicos, denominada agora de teoria neomalthusiana que faz um comparativo entre a
quantidade populacional com a disponibilidade de recursos naturais, sendo, uma ideologia que
reflete em políticas públicas eficazes.
O crescimento populacional tinha aspecto positivo nos países da Europa na década de
20, e com o decorrer do tempo, começa surgir uma preocupação quanto ao decréscimo constante
da taxa de natalidade.
Já nos países desenvolvidos a taxa de natalidade era altíssima e somada à queda da taxa
de mortalidade que houve em decorrência ao acesso á técnicas de higiene e tecnologias nos
setores alimentício e médico-hospitalar, resultou na explosão demográfica e para reverter este
quadro, foram adotadas medidas de controle de natalidade, fomentando o planejamento familiar
atingindo vários países do “terceiro mundo”. Esta estratégia de esterilização da população foi
fomentada pelo Banco mundial e FMI que ao oferecer empréstimos a estes países, exigiam do
governo o emprego de políticas públicas no controle da natalidade de sua população.
A superpopulação, nos países subdesenvolvidos eclodia o problema da escassez de
alimentos e nos desenvolvidos começou a existir a concentração da população urbanizada o que
ocasionou na supervalorização de alimentou que antes eram abundantes como água, luz, espaço,
etc. gerando altas cobranças pelos serviços.
A partir dos anos 50 acentua-se um extremo comparando países subdesenvolvidos e
desenvolvidos, nos primeiros há uma miséria acentuada desencadeada pelo desencontro do
crescimento populacional e desenvolvimento socioeconômico, e nos últimos há um intenso
desperdício provocado pelo consumismo desenfreado.
A dinâmica populacional é composta por elementos como a natalidade, mortalidade e a
migração da população e a partir do estudo e comparação destes dados é possível traçar um
perfil qualitativo comportamental da população, como por exemplo, a relação entre o aumento
do nível de escolaridade e redução do número de filhos.
A taxa de mortalidade seria expressa pelo número de óbitos multiplicados por mil e
dividido pelo número da população total:
Esta taxa ilustra a expectativa de vida ao nascer, e assim, identifica o perfil
socioeconômico de cada país, portanto, se a taxa de mortalidade é alta, resulta na redução da
expectativa de vida, sendo uma característica de um país subdesenvolvido, mas se o país
apresenta uma taxa baixa, pressupõe-se que é um país que oferece maior qualidade de vida para
seus habitantes, sendo assim, uma característica de um país desenvolvido.
A taxa de natalidade seria expressa pelo número de nascimentos multiplicados por mil
e dividido pelo número da população total:
Sua variação também identifica o perfil socioeconômico dos países estudados, ou seja,
se o país apresenta uma taxa de natalidade alta, sabemos que estamos falando de um país
subdesenvolvido, mas se for baixa, ilustra as características de um país desenvolvido.
O desenvolvimento do capitalismo desencadeou um grande fluxo migratório, tornando
a migração mais um componente das dinâmicas populacionais.
A migração tem um caráter estratégico no desvendamento da relação entre a dinâmica
populacional e processo de acumulação de capital, para além da concepção de crescimento
natural.
Em análise ao fluxo migratório presente nos países da Europa e América Latina, autores
como Pierre George definem migração muito além de apenas deslocação humana, mas como
irradiação geográfica de um sistema econômico e estrutura social.
Movimentos que comprovam o processo de expropriação e exploração latifundiárias e
trabalhistas, tendo como estímulo tanto as migrações internacionais, como as migrações
internas (rural-urbana e rural-rural), marcaram o desenvolvimento do capitalismo em países
como o Brasil.
A migração tinha caráter secundário até os anos 60, tendo partir daí uma inversão: o
crescimento natural aparece como subordinado da análise da migração.
Portanto, segundo Damiani, abrem perspectivas de análise dos dramas humanos,
nascidos das contradições e constrangimentos recentes de nossa sociedade, e das relações e
valores, que, de maneira deteriorada ou não, são preservados, definindo os termos da
reprodução e da vida.
A análise da demografia traz como benefício, um mapeamento quantitativo como
também qualitativo, traçando o perfil econômico mundial. Auxiliando assim, na elaboração de
estratégias no controle do movimento populacional, como por exemplo, o fomento à migração
em países desenvolvidos por apresentarem população economicamente ativa baixa, ou o
fomento ao planejamento familiar em países subdesenvolvidos, por apresentarem uma grande
taxa de natalidade, ou no planejamento de construção e oferecimento de serviços públicos como
escolas, hospitais, etc.
O conceito de população é um método de conhecimento e controle sobre as pessoas,
porém, não carrega consigo uma carga histórica, daí a necessidade de substituí-lo por outro
conceito que possibilitasse a agregação da história humana.
Assim, foi substituído pelo conceito de produção do homem, tendo em vista que o
homem, como também a história, e mutável, estando em um processo de mudança constante.
O homem é ser integrante da natureza, e seu desenvolvimento está voltado na relação
entre si e a natureza como também na relação com outros semelhantes a si.
Com sua racionalidade e através de instrumentos e técnicas adquiridas historicamente,
sobrepõe-se à natureza extraindo recursos que ela lhe oferece, a fim de satisfazer seus desejos
e necessidades. E no sentido de atender estas necessidades aprimora suas tecnologias, criando
“objetos sociais e abstratos”, como por exemplo, o mercado ou o desenvolvimento da indústria.
Neste contexto percebemos que a atividade humana é fundamentada na relação social e
na coletividade, ou seja, o homem não vive só, é um ser social.
Na prática da produção, o homem se depara com uma relação dicotômica simultânea.
Produção compreende a domínio, porém, compreende também à alienação. O primeiro está
ligado à natureza e o segundo a sua própria produção.
Como em todas as relações humanas, na produção não seria diferente. Em analise aos
fatos históricos de seu desenvolvimento, o homem sempre produziu e produzirá em detrimento
de algo, como por exemplo, a exploração do trabalhador assalariado, pontuando também que
esta condição de menoscabo, não se aplica apenas aos menos favorecidos, a situação que
também exemplifica é a alienação ao consumismo das classes com mais poder aquisitivo,
inculca-se a ideologia de quanto mais o homem produz, mais precisa consumir, sempre sem
levar em conta sua posição humanizada, mas sim sua posição puramente consumista, ou seja,
o consumismo irá impactar as relações humanas.
Deste modo, fortalecem-se os contrastes dessa produção, criando de maneira
regionalizada, carências que vão sendo superadas e substituídas por outras mais complexas,
concomitantemente à evolução humana.
No Brasil, vivenciamos carências que condizem a um período de equivalência
ultrapassada comparando sua atualidade com a dos países desenvolvidos, todavia, vivenciamos
uma evolução tecnológica semelhante aos mesmos.
Com a urbanização da produção e para atender as necessidades de mercado, ocorre uma
“castração” da classe trabalhadora, ou seja, fatores como a integração da mulher no mercado de
trabalho e o fomento do Estado à ideologia neomalthusiana, ocorreu um grande acesso aos
métodos anticoncepcionais, o que causou redução da família ao poder de consumismo instituído
pelo capitalismo.
A urbanização aflorou outra transformação na relações humanas, o inicio da segregação
social e econômica, o homem se organiza agora em “ilhas”, como bairros destinados a comércio
e residência, como também subdivisões como bairros de classe baixa, média e alta.
Diante do contexto discorrido anteriormente, Estado e estudiosos passam a centralizar
seu objeto de estudo no crescimento populacional e recursos naturais disponíveis. Marx afirma
que apesar do crescimento da população não atender às necessidades de produção capitalista é
desproporcional para sua absorção completa, ou seja, o mercado necessitava de mais mão de
obra para atender o crescimento da demanda de produção, porém não havia recursos disponíveis
para suprir as necessidades dessa população.
Fato que preocupa principalmente quando voltamos os olhos para a questão dos países
subdesenvolvidos, seu crescimento descontrolado contradiz com os recursos disponíveis e seu
desenvolvimento socioeconômico não acompanha a explosão demográfica crescente.
Nos países desenvolvidos a preocupação se volta com a formatação que se é dada ao
trabalho. Allen Scott, da Universidade da Califórnia, em uma conferência realizada n Brasil em
1990, expõe a forma que estes países estão lidando com o fator migração. Expos sobre a
exploração e clandestinação trabalhista que ocorrera neste período, tirando proveito da situação
ilegal desses trabalhadores no país, empresas impunham postos de trabalho burlando seus
direitos e pagando salários relativamente muito baixos a esta população, o que afetou
indiretamente sua economia, já que contribuiu para uma nova forma de pobreza que surgira em
um território sem perfil para tal.
Considerando a necessidade de traçar um perfil do crescimento demográfico, propôs-se
o estudo quantitativo da população, assim, o Estado foi aprimorando gradativamente suas
técnicas e tecnologia para esta avaliação, com o intuito de conhecer melhor sua população e
empregar políticas públicas como a construção de escolas, hospitais. A partir deste
conhecimento seria possível também, projetar previsões da média de crescimento da população
e assim, definir aumento, ou não, de taxas de impostos.
Se de um lado a urbanização trouxe benefícios como aumento da qualidade de vida e
redução do crescimento natural da população, promoveu uma verdadeira pressão demográfica,
deixando alguns espaços demasiadamente saturados em detrimento de outros denominados
“vazios demográficos”. O que levou a homogeneização, ao invés de medidas regionalizadas
fundamentadas na formação sociocultural e racial da população, porém, apesar dessas
particularidades apresentaram resistência, foram de certa forma, incorporadas a este espaço
homogeneizante.
A população organiza-se então em espaços homogeneizados conforme fomento do
mercado mundial, mas mantendo suas tradições e a configuração desses espaços que influirão
na forma de exploração, integração e reprodução da sociedade.
A persistência destas particularidades acentuam as desigualdades sociais e raciais e, por
sua vez, o poder político, segundo Claude Raffestin, utiliza e manipula estas diferenças como
estratégias de exploração, fato evidenciado na discriminação espacial, constituída de
segregação e ilustrada na forma de Guetos, favelas, reservas, etc, ou na discriminação
educacional, que no ingresso à instituições de ensino disponibilizam cotas diferenciadas
conforme a formação étnico-racial.
Em suma, soma-se à homogeneização, um processo hierarquizado, onde as segregações
ocorrem a partir de diferenças sejam culturais, raciais ou econômicas, estas diferenças criam
contradições evoluindo para lutas que contribuem de forma lenta e gradativa para a
transformação da sociedade em uma organização que seja capaz de conviver e respeitar as
diferenças e os direitos do próximo.

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