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A partir desses conceitos é que se segue a análise das dimensões do processo avaliativo
de práticas e políticas educacionais com base nos estudos publicados na área para poder
contribuir com uma tipologia que facilite a leitura e interpretação dos processos de
avaliação e os sistematize. O recorte utilizado para os artigos foi do ano 2002 a 2015, por
ser um período de agitação política na área educacional, desencadeando vários estudos
no assunto. Foram coletados 411 artigos, selecionados 342 e, desta segunda filtragem,
selecionados 73 artigos para contribuírem diretamente com esta almejada tipologia
avaliativa. É importante ressaltar que 59 dos artigos selecionados são publicações de
revista de língua inglesa, 2 de língua espanhola e 12 são publicados em língua portuguesa
e em revistas de Portugal. Tal composição nos ajuda a compreender pontos da análise
feita.
Tal processo permitiu a identificação de quatro eixos fundamentais que serviriam para
dissecar os artigos escolhidos, procurando neles as razões que permeiam a criação,
implantação e legitimidade da avaliação das escolas; a função avaliativa, que contemplam
as intenções e objetivos que orientam o processo; as modalidades usadas para dar conta
de sua implementação; e os efeitos possíveis gerados, tanto nas escolas quanto nas
comunidades escolares, pela avaliação. Tais eixos também norteiam a construção da
tipologia a que se pretende.
O método da pesquisa foi buscar em bases de dados textos científicos com base em
palavras-chave como “avaliação de escolas”, “Inspeção de escolas”, “avaliação + escola”,
“melhoria educacional” entre muitas outras, assim como seus respectivos termos em
língua inglesa. O resultado foram 411 artigos colhidos com base em seu título e resumo,
dos quais 342 foram selecionados a partir da leitura de suas introduções e conclusões, dos
quais, por fim, 73 artigos foram selecionados e lidos na íntegra.
Como forma de condensar o resultado em torno dos quatro temas que orientaram a
pesquisa, as autoras organizaram uma tabela que se dispõe da seguinte forma:
Razões: a) Desafios sociais: Escola responsável por: preparação de seus alunos para vida
ativa; desenvolvimento de competências e conhecimentos necessários ao mercado de
trabalho; b) Mudanças sociais: produção de conhecimento científico; crescimento social
e tecnológico; c) Exigências do mercado laboral: necessidade de: profissionais
especializados; profissionais com competências de caráter transversal; d) Mudanças na
governação das escolas; autonomia das escolas; e d) Qualidade: standarts; melhoria
educacional.
Quanto às razões que justificam e influenciam a avaliação, as conclusões das autoras são
de que a escola, e por conseguinte a avaliação, são responsáveis não só por preparar seus
alunos para uma vida ativa como pela criação das condições necessárias para tal,
estimulando o desenvolvimento das capacidades necessárias a integração de cada aluno
no mercado de trabalho. Nesse sentido, a avaliação se faz necessária para que se verifique
quão adaptada a escola estaria em relação as expectativas do mercado laboral e da
sociedade civil. Dessa pressão exercida sobre a escola surgiria o que as autoras chamam
de uma perspectiva de avaliação que induz a “performatividade”, em que avaliações
simplistas sirvam de diagnóstico para a prestação de contas acerca da qualidade da
educação.
Quanto às funções da avaliação, segundo as autoras, esta surge mais nos artigos como
forma de promover a melhoria das escolas e ter o papel de feedback do resultado do
trabalho da escola e da utilização de seus recursos. A avaliação, nesse caso, assume a
função de produzir conhecimento técnico sobre o serviço educativo que permita expor
pontos negativos e/ou positivos para que se busque uma possível resolução.
Há um destaque feito pelas autoras quanto às avaliações externas, que seriam avaliações
feitas por uma equipe alheia à escola com o intuito de averiguar os resultados escolares,
o desenvolvimento do currículo, as práticas pedagógicas, os modos de gestão escolar e
também sua liderança. Essa avaliação externa normalmente tem um caráter de inspeção,
e teria também, por ser feita por indivíduos de uma comunidade externa a escola, maior
grau de objetividade.
Tomando nota de que as inspeções muitas vezes têm caráter ambíguo, avaliando pontos
negativos e positivos, as autoras citam Richards (2004) (ver p. 13): [...] seres humanos a
produzir julgamentos sobre a qualidade o que está a ser observado, recolhido, reportado
[...] os julgamentos qualitativos devem ser formados por uma tomada de consciência da
implicação dos valores dos inspetores e das próprias escolas. Os julgamentos são
inevitavelmente subjetivos até certo ponto; Não existem inspeções totalmente objetivas.
Sobre os aspectos positivos e negativos das avaliações de escolas, de uma forma geral,
muito se atribui os acertos desse processo com um desenvolvimento progressivo das
escolas. Desenvolvimento este gerado pelo autoconhecimento dos centros de ensino-
aprendizagem, assim como a identificação de problemas e movimentos reflexivos de
soluções pontuais acerca da qualidade, defeitos e modos do ensino. O surgimento da
“pressão de accountability” também pode trazer um incentivo às potencialidades da
escola.
Considerando tal artigo analisado e seus pontos contrastantes no que tange a avaliação
das escolas, pode-se observar a complexidade desta tarefa, visto que, ao mesmo tempo,
esse procedimento deve garantir diagnósticos para problemas empíricos de ordem
nacional e local, pautado por um certo nível de objetividade e instrumentos racionalizados
de qualificação. Além de que, os avaliadores devem respeitar procedimentos gerais de
avaliação sem perder de vista as especificidades da escola em análise, passando sempre
para os agentes locais os motivos e objetivos da avaliação e esperar em retorno, um
feedback destes.
Sob minha perspectiva, imagino que frente uma tarefa tão complexa como esta, devem
haver aspectos gerais sobre como a avaliação da escola deve ser realizada, seja por
mandado federal ou estadual, e ao mesmo tempo, deve-se garantir a liberdade contextual
da aplicação desta avaliação. E principalmente, esta liberdade local deve ser sempre maior
que as diretrizes nacionais, visto que a questão da objetividade já deixou de ser algo
totalmente absoluto mesmo em procedimentos gerais. Penso que, mesmo com uma “perda
de objetividade”, a avaliação respeitar e dialogar com agentes locais garante mais
benefícios imediatos às melhorias das escolas. Entretanto, sem perder de vista o diálogo
apontado pelas autoras, entre a avaliação interna e externa.