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A RODA É LIVRE PARA SALTAR


(Guião para uma peça em um acto)

Personagens - marionetas:

Cigano velho e pobre – representa o Passado


Cigano de meia-idade e rico – representa o Presente
Cigano jovem, com um mini-computador no pulso – representa o Futuro

A primeira personagem a entrar em cena é um homem velho vestido de preto, com longas barbas
brancas e longos cabelos. Está de luto. Traz três cestos na mão. Vem a lamentar-se. Ao seu encontro,
acorre um outro homem, aparentando cinquenta anos, bem vestido, exibindo os dedos das mãos
cobertos de anéis de ouro.

Cena 1 (Passado e Presente)

Passado – Ai a minha sina! Ai minha santa Sara Kali, que não me acodes… Que vou fazer, se estou só no
mundo? Ai que vida desgraçada!

Presente – Que é que vocemecê tem, tio? Quem o pôs assim? (olha em volta, com ar ameaçador). Eu e os
meus filhos arrumamos já esse gajo. Não há-de sobrar um osso!

Passado – Irmão, bem hajas. Bons ventos te trazem até mim, mas não me podes valer. O meu mal
não se cura a bater nele. Antes fosse desses! A minha Marinita morreu e à minha mocita…
(suspira) roubaram-lhe o noivo!

Presente – Roubaram-lhe o noivo? E os irmãos deixaram? Qu’ é deles?

Passado – Não digas mal dos meus filhos, que são bons moços. Só não sei se estão mortos, se vivos.

Presente – Não percebo…

Passado – Já não os vejo há três pares de anos. Deitaram-nos fora para as galés, por mor d’el rei.

Presente – Ó homem, com’é que foi isso? Que assucedeu, pr’a lhe roubarem assim os filhos?

Passado – Andavam na feira comigo. Um dia… a minha Marinita estava parindo e eu fui às pressas
chamar a comadre. Quando cheguei à feira, já lá não estavam! A guarda levou-os… a eles
e à mercadoria (deixa cair a cabeça sobre o peito).

Presente – É a nossa sina! … Essa filha… Foi a que lhe nasceu quando…?
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Passado – Não, essa já era nascida! Esse que ela estava parindo foi outro, mas nasceu torto e morreu logo.
(pausa) Agora anda por aí a vingar-se por mor de lhe terem roubado os irmãos.

Presente (dando um salto para trás) - Cruz credo, homem! O seu filho virou mulo?! Vocemecê tem a
certeza que é ele?

Passado – Eu vi homem que o viu. E esse que o viu, morreu de uma machadada três dias depois, numa
rixa… À minha Marinita foi também ele que a matou, p’ra não ficar sozinho, coitado!

Presente (à parte) – Foi mau olhado que lhe puseram… (apontando para os cestos) Vocemecê só
vende esses cestos? Como é que vive, homem de Deus, que isso de andar nos vimes
já não dá de comer a ninguém…?

Passado – Sou bejá com muita honra! (olha em volta, a assegurar-se de que ninguém está por perto)
Chiu! Eu vendia mais umas coisas que ia buscar às bandas de Espanha: panos finos! Ainda
tenho alguns, ali na carroça... Estava a guardá-los para o dote da… (leva as mãos à cabeça)

Presente – Ah, assim está bem! Olhe lá, com quem é que a sua filha estava conversada? Que idade tem
ela?

Passado – Tem treze anos. É linda e muito honrada. E já sabe botar cartas e ler a sina, que lhe ensinou
a mãe. A minha Marinita adivinhava o futuro como poucas. Só não adivinhou que vinha
a guarda levar-lhe os filhos… E agora…

Presente – E o noivo?

Passado – Desgraçou-se…

Presente – Não me diga, homem! Fugiu para o lado dos senhores?!

Passado – Não! Era um bom rapaz! Um lovára dos melhores! Tratava dos cavalos como nunca vi ninguém.
Parecia que falava com eles! Mas fez amizade com gente ruim e um dia meteu na cabeça que
queria ficar rico…

Presente – Atão, é normal, o rapaz queria casar, dar um bom futuro à noiva…

Passado – Pois é, mas saiu-lhe a sina trocada. Foi vender os cavalos do palácio real nas bandas de Almada
e a guarda apanhou-o. Zás! (faz o gesto de quem corta o pescoço.)

Presente – Ai, homem! Má sina vocemecê ter nascido nesse tempo antigo!

Fim da cena 1
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Intervalo para música.

Cena 2 (Passado e Presente)

Passado – Agora não percebo o que tu dizes. O que tem o meu tempo diferente do teu?

Presente – Bem… Feitas as contas, nada! Ainda pensam que cigano e bandido é a mesma coisa....
Mas já não há tantos malteses… Não vamos para as galés…

Passado – Ê lá, vê lá como falas! Que história é essa de malteses? Olha que eu sou velho mas ainda te dou
uma coça! (faz gestos como se fosse arregaçar as mangas)

Presente – Perdão, tio, não disse por mal, mas agora vivemos um poucachinho mais à vontade. Sabe?
Eu também era pobre antes da minha Marlene nascer. Um dia vieram umas senhoras à barraca
com uns papéis para receber o rendimento. Foi o melhor que me assucedeu. Aprendi a ler, a
fazer contas…. a arranjar televisões.... Co o dinheiro do rendimento comprei uma mota para
andar aí nos biscates. Co o dinheiro dos biscates montei um negócio. Bute parnés! (estende a
mão, exibindo os anéis) É ouro e do bom. Vinte e quatro quilates! (aproxima-se) Fiz uma casa
sólida de telha, com cinco quartos, duas salas e um quintal… (abre os braços) que dá para fazer
uma boda com trezentos convidados.

Passado (à parte) – Este está a sonhar! Casa de telha! Ó irmão, afinal és cigano ou gadjê?

Presente – Os tempos mudaram, tio. Agora já temos casas. (rindo) Inté parecemos aqueles senhores que
vês ali (apontando para a plateia). Vocemecê é que é doutro tempo. Agora todo o cigano sabe
que coelho sem toca é logo apanhado! Pois eu fui à escola de noite e fiz a terceira classe! (bate
no peito com orgulho) Agora toda a gente vai à escola. Inté as raparigas!

Passado – E dizes que o teu tempo é melhor que o meu?! Onde é que já se viu as raparigas fora de casa
para ficarem mal faladas?!

Presente – Os tempos mudaram, já lhe disse, agora inté o cigano pobre vai aprender a ler…

Passado – Não percebo nada do que estás aí a dizer. Tu pensas que lá por andares a aprender a
ler as letras dos gadjês que eles te vão deixar viver em paz? Um rato com uma rosa na cabeça
será sempre um rato. É a sina do cigano! Diz-me cá: ainda olhas para as estrelas?

Presente – Claro que olho para as estrelas, inté as vejo dentro de casa!

Passado – Ahhhh! Quando estás de piela?


Presente – Tenho um plasma deste tamanho (abre os braços). Vêem-se as estrelas que é uma beleza!
Tribos inteirinhas delas! Ele é estrelas das novelas, ele é estrelas do futebol… (à parte)
Algumas, vistas de perto, são bem decadentes…
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Passado – Plasma?! Que é isso?!

Presente – Plasma? É uma televisão … uma caixa onde cabe o mundo todo. Inté se pode ver o passado e o
futuro! Vocemecê quer uma? Tenho muitas no armazém para vender…

Passado – Ah, para ver o passado e o futuro, como a minha Marinita? A ela bastava-lhe a palma da mão,
não precisava dessas caixas esquisitas… Caixas onde cabe o mundo! (sarcástico) Diz-me:
quantas linhas tem essa tua caixa?

Presente – Não são linhas, é… Há coisas que nem eu percebo como se fazem. São invenções dos senhores,
que a gente aproveita quando quer, como as casas…

Passado – Eu cá não preciso dessas coisas para ver as estrelas, para sentir o vento, nem para saber o
passado e o futuro. A gente aceita as coisas dos gadjês e eles cortam-nos as asas.
Águia sem asas não passa de uma galinha grande! Nã, nã, eu prefiro subir na carroça e ir por aí...

Fim da cena 2
Intervalo para a música

Cena 3 (Passado, Presente e Futuro)

(de repente Passado, vê um jovem que mexe freneticamente num computador de pulso e chama a
atenção de Presente)

Passado – Mira aquele payo!... O que é aquilo no braço cheio de luzes?

Presente – Tem um ar tão triste, que parece inté que lhe morreu alguém…

(Passado e Presente aproximam-se de Futuro, curiosos e um pouco desconfiados)

Presente – Ó ‘migo! Ei!

Futuro (surpreendido) – Quem? Eu?

Presente – Sim, tu! Quem és? Nunca te vi por estas bandas…

Passado (examina-o de perto) - Que roupas são essas?

Futuro – Ora, como que roupas são estas? São roupas de cigano, bem se vê! As minhas!

Passado – Cigano? Cigano sou eu e nunca me vesti assim…


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Presente – Nem eu… De onde vens?

Futuro – Venho de um tempo que há-de ser. E vocês?

Presente – Eu sou do tempo de hoje e este irmão aqui (aponta para Passado) é do tempo que já foi.

Passado – Há muito tempo… Que luzes são essas que trazes no braço? Andas a apanhar estrelas?

Futuro – Isto? É um computador.

Passado e Presente (olham um para o outro, perplexos) – Um quê?!

Presente (lembrando-se, de repente, de que já ouvira falar de computadores) – Ah, já sei! Uma vez os
meus filhos trouxeram uma coisa dessas da escola! Mas era diferente… Tinha outro nome…
(aparte – para o público) Inté diziam que era português, mas depois foi-se a ver e não era…

Passado – Faz favor de explicar à gente o que é isso?

Futuro – Isto é uma caixinha que serve para falar, para saber do tempo, para andar na venda… Ainda há
pouco, eu estava viajando pelas estrelas, a vender software para estação orbital de Marte.

Passado – (à parte) Ai valha-me santa Sara Kali! Já não me bastava o outro com a caixa de ver estrelas
dentro de casa! (para Futuro) Com que então, viajas com isso? Queres-me dizer onde é que
cabem aí os cavalos e a carroça? E qu’é isso de Marte? Nunca ouvi falar… Estação quê?

Futuro – Não preciso de cavalos nem de carroça. Viajo com a luz. Posso andar pelo mundo todo e
até pelo céu. Estação orbital é… é uma espécie de casa que está no céu e que anda às voltas. Com
isto (exibe o computador que traz no pulso) posso vender coisas para lá sem sair daqui. E com
estes acumuladores de energia (mostra a perna e o cinto) estou sempre pronto para viajar.

Passado – Viajas com a luz?! Cruzes, credo, tu não és cigano! Tu és mas é bruxo!

Futuro – Irmão, acredite que sou tão cigano como vocemecê. Ser cigano não é só andar de carroça a
vender cestos nas feiras....

Passado – E panos finos…

Presente – E plasmas para ver estrelas…

Futuro – Eu conheço a nossa História. Vejo aqui o nosso povo caminhando, por montes e vales, desde a
Índia, até à Europa. Os homens à frente, na venda dos cavalos. Atrás as mulheres, a deitar sortes e
as crianças a brincar… Vejo o clarão das fogueiras à noite, sob as estrelas. Ouço os lamentos dos
funerais e a música dos casamentos. As raparigas vestidas de ouro, a dançar… (enquanto diz isto,
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surge a imagem de uma carroça no computador).

Presente – (lembra-se de algo muito importante) O meu Manuel!

Passado e Futuro – O quê?!

Presente – Casa despois de amanhã e ainda não … Já volto! (sai apressado)

Fim da Cena 3 – Intervalo para música e danças

Cena 4 (Passado e Futuro)

Passado – Vejo agora que sabes muito, irmão. É de espantar, já que és tão jovem… Diz-me cá: aí nessa
caixa também se vê o coração das pessoas?

Futuro – Claro que sim… (carrega nalgumas teclas) Ora aqui está, um coração que é uma beleza… até se
pode vê-lo a bater! (imagem do coração no computador)

Passado – Não é esse coração que eu quero ver, é o outro, o coração de sentir! É que eu ando à procura de
um homem de bom coração, para a minha Juanita… Como é que eu sei se esse coração é dos
nossos ou gadjê?

Futuro – Isso não se consegue ver assim... A gente por dentro é toda igual.

Passado – Ah não, isso não, irmão, isso não. Se fosse tudo igual não havia diferença nenhuma entre um
cigano e um gadjê: era tudo branco… ou tudo escuro…

Futuro – Ser cigano é, antes de tudo, um estado de espírito. Se a pele é escura ou branca, não interessa
nada.

Passado – Ai sim?! E os ciganos aí do teu tempo andam misturados com os senhores? Se é tudo igual!

Futuro – As misturas só as faz quem quer… Depois dos ciganos se juntarem num partido, a Kris foi
aceite também pelos senhores.

Passado – Um partido de ciganos?! Iss’ nunca hei-de ver, nem que a minha Marinita fique viva outra vez!
Atão agora a gente a formar um partido todos juntos: Kalê, Lovára, Ursari, Manush … sem
brigas, nem sequer por mor dos filhos?! Isso é sonho, homem! É mais do que sonho: é doideira!

Futuro – Não é não! Há muito tempo que nós aprendemos que temos de estar juntos. Cachorro correndo
sozinho, sempre se acha o mais veloz do mundo, mas não é. O nosso orgulho era a nossa
fraqueza. Agora temos o melhor dos dois mundos. Acabaram os ciganos analfabetos…
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Passado - Não me digas que também deixam as raparigas ir à escola, e casar à sua vontade, para ficarem
mal faladas! Ai santa Sara me valha!

Futuro – As nossas raparigas e os nossos rapazes não precisam de ir à escola. Com isto (mostra o
computador) aprendem tudo o que quiserem, onde quiserem. Toda a gente! Já não há escolas,
como havia no tempo do nosso irmão Presente. Agora podemos viver em qualquer lugar.

Passado – Em qualquer lugar?! A viajar por aí pelos caminhos do vento?

Futuro – Sim, claro, em qualquer lugar. Temos casas que andam connosco. Para onde vamos elas vão
também. Até para cima do mar! Vês? (mostra-lhe uma imagem de uma casa do futuro)

Passado – E não sonham com uma casa de telha, agarrada ao chão, como o nosso irmão Presente?

Futuro - (em tom solene) A terra toda é a nossa pátria, o céu é o nosso teto, a liberdade a nossa religião.

Passado - (à parte) Estou a começar a gostar deste moço… (para Futuro) Diz-me cá, como é a música aí
do teu tempo? (aparte) Deve ser muito diferente da minha…

Futuro – A música é a nossa alma e a alma é sempre a mesma. Não pertence a um só tempo nem a um
só espaço…

Fim da Cena 4 – Intervalo para música…

Cena 5 (Passado, Presente e Futuro)

Presente – Está tudo tratado para a boda do meu Manuel! Vai ser uma semana inteira de festa (ensaia uns
passos de dança, enquanto fala).

Passado (para Futuro) – Diz-lhe!

Futuro – Digo o quê, tio?

Passado – Isso das casas…

Presente – O que é que vocemecês estão aí dizendo?

Futuro – Estava a contar aqui ao tio que as nossas casas não ficam quietas sempre no mesmo sítio. A gente
leva-as para onde quer.

Presente – O quê? Atão, quer dizer que os ciganos do futuro vão voltar a ser malteses?!

Futuro – Somos nómadas, sim, mas toda a gente é.


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Presente – Bô! Não acredito nisso que dizes. Os senhores, nómadas? Então… e as cidades? E aqueles
prédios onde eles vivem sem ninguém se conhecer nem se falar? E a minha casa?

Futuro – Tudo isso acabou.

Passado – Acabou?! Como?!

Futuro – Houve um tempo em que os homens eram tantos que já não havia campo, nem floresta, nem
peixes nem nada. Até o Sol desapareceu. Houve muita fome… e doenças também… Os homens
viraram-se uns contra os outros. Já não reconheciam irmãos nem parentes. (para o público)
Ninguém escapou à loucura desse tempo. Nem os poderosos, que esses tinham mais fome do
que todos e não lhes bastava a comida...

Presente – E quem venceu essa guerra?

Futuro – Ninguém. Não sobrou nada! Tudo queimado, tudo destruído…

Presente – Vai ver, foram essas bombas dos americanos e dos russos… ou dos coreanos… Com tantos
países a terem a bomba, algum deles foi… O cigano é que não, que nunca tivemos bombas
atómicas…

Futuro – Nesse tempo, até os ciganos entraram na guerra. A fome dos mais ricos era igual à dos
senhores….

Presente – Mas, então… se foi tudo destruído, como é que sabes a história do nosso povo? Como é que
sabes o que aconteceu no meu tempo e (apontando para Passado) no dele? E antes de nós?

Futuro – Havia uma base de dados em órbita…

Passado – (à parte) Lá está ele outra vez a falar estrangeiro…

Futuro – Antes da grande guerra, os governos dos países ricos mandaram para o espaço todas as
informações sobre a história dos povos.

Presente – E por que é que fizeram isso?

Futuro – Queriam abandonar este mundo, levar as pessoas para as estrelas… Fazer novas casas em Marte!

Passado – Queriam abandonar a Terra? Isso só pode ter sido ideia de gadjê. De Develeski! Agora já
percebo essa fome e essa guerra! Isso foi praga que a divina mãe rogou aos homens que a
queriam largar!
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Futuro – Pode ter sido praga sim, mas muitas coisas, nesse tempo, ainda eram feitas do petróleo.
E como o petróleo acabou… tiveram de ficar na Terra!

Passado – Foi ela que não quis perder os filhos…

Presente – Foi ela, foi. (para Futuro) Diz-me cá, mas então, como é que as pessoas sobreviveram, se não
havia nada?

Futuro – Não sei, é um mistério. Só sei que depois os homens descobriram que não precisavam de ter
as casas agarradas ao chão, a roubar o espaço das plantas e dos animais…

Passado – Mas isso os kalderash já sabemos há muito tempo!

Futuro – Todos sabiam, até os senhores antigos! Mas depois esqueceram-se e começaram a olhar para a
terra como quem olha para um vime e pensa que só serve para fazer cestos para vender.
Pensaram que podiam roubar tudo à Natureza. Até a vida…

Passado – Foi De Develeski que os ensinou. Só pode ter sido! Ou inda vai ser! Isto está a confundir-me
as ideias todas! Ai, santa Sara Kali, dai-me luz para entender estes tempos!

Presente – Cum catano! O futuro que eu vejo lá no meu plasma não é nada assim! É com naves espaciais a
andar pelas estrelas… Pshhh, pshhh (faz o gesto de quem dá tiros)

Futuro – Isso eram fantasias do cinema. Não há guerras dessas. Também já não existem países como nos
vossos tempos. O mundo todo é um país!

Fim da cena 5 - Espaço para a música: Madara

Cena 6

Presente – E ninguém quer ter mais riquezas nem mandar mais do que o vizinho?! É muito estranho…

Futuro – Os homens aprenderam a lição. Não querem voltar a passar pelo mesmo. Somos todos obrigados
a aprender a História, para não esquecermos do que a loucura e a ganância são capazes…

Presente – E não te apoquenta ver estas desgraças todas? Já que vives em paz, podias estar sempre em
festa, a comer e a dançar! Essa tristeza que trazes na cara, isso só pode ser por estares sempre
com um olho no passado, a ver miséria, fome, doenças e guerras…

Futuro – O passado ensina-nos a não fazermos duas vezes o mesmo erro. Ao olharmos para o passado
podemos perder um olho mas, se não olharmos, podemos perder os dois.

Passado – Aí é que falaste bem! (para Presente) Cada vez gosto mais deste moço!
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Futuro – A minha tristeza não é por saber essas coisas do passado. A minha tristeza é por ter perdido a
minha noiva…

Passado – Tu também?! Com tanta sabedoria e tanta tecnologia, como é que foste perder a noiva?

Futuro – Os males de coração não se curam com tecnologia! Infelizmente, a minha noiva deu-me cabaças.
E eu gostava dela! Agora não sei o que fazer…

Presente – Pois digo-te já que encontraste a pessoa certa para te curar dessa tristeza!

Futuro – Vocemecê?

Presente (apontando para Passado) – Eu não. Ele! Tem uma filha para casar, que é a rapariga mais linda
do mundo e arredores.

Passado – A minha filha? Nããã. Não desfazendo do moço, que gosto dele, mas a minha filha não vai viver
no futuro! Sabe-se lá o que pode acontecer à rapariga! Ela não está acostumada com
modernices, de caixinhas de luz nem com casas que andam a dez palmos do chão, não senhor! A
minha Juanita não!

Presente – Mas vocemecê não disse que ela sabia botar cartas e ver o futuro? Pois se assim é, o futuro
já não lhe vai causar estranheza. E se aqui o rapaz está sempre com um olho no passado,
inté se podem encontrar os dois a meio do caminho… Faço eu a boda!

Passado – Não tinha pensado nisso! É bem lembrado…

Presente – Quer dizer, então que temos casamento? (para Futuro) Onde é que estão os teus pais para a
gente conversar?

Futuro – Os meus pais já eram muito velhos quando eu nasci. Morreram, faz hoje três anos. Foram levados
numa cápsula espacial para o Sol…

Presente - Já que estás sozinho no mundo, eu faço as vezes do teu pai e trato de tudo. Inté podes casar no
mesmo dia do meu filho. Faz-se mais uma semana de festa!

Futuro (para Passado, com alguma timidez) – É uma grande honra para mim ser vosso parente, se
vocemecê me aceitar…

Passado – Prometes que tratas bem da minha Juanita?

Futuro – Até darei a volta ao mundo sete vezes por ela, se for preciso!

Presente – Então apertem as mãos, homens! E agora, vamos a essa festa!

Termina a peça – Espaço para a música e danças…


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