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Reunião do Comitê Executivo do Conselho Mundial da Paz


Damasco, Síria | 27-28 de outubro de 2018

Discurso da Presidenta do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes

Estimados companheiros e companheiras de luta,

É com enorme satisfação que me dirijo a vocês nesta resistente capital da Síria. Agradeço
imensamente, em meu nome e em nome do Conselho Mundial da Paz, aos companheiros do
Conselho Nacional do Movimento de Defensores da Paz na Síria, ao povo sírio e às autoridades que
possibilitaram o nosso encontro aqui.

Há muito, como sabem, temos programado a nossa visita a este país de aguerrida resistência, país
de um valente povo que luta por sua soberania e pela paz. Poderemos finalmente cumprir este
objetivo com a Missão de Solidariedade Internacional que realizaremos em parceria com a
Federação Mundial da Juventude Democrática a seguir à nossa reunião. Gostaria de reforçar que
estamos honrados pela acolhida e temos certeza de que nossos encontros reforçarão nossa luta e
ampliarão nossas ações em prol da resistência anti-imperialista, em apoio resoluto ao empenho do
povo sírio na superação de um período assombroso, mas de vitórias acumuladas.

Não há palavras suficientes para descrever a ignomínia da agressão imperialista contra a Síria e seu
povo durante sete longos anos, a devastação e o sofrimento causados pelas potências imperialistas,
como em outras tragédias lideradas pelos Estados Unidos da América e seus aliados.

Ao longo destes anos, o Conselho Mundial de Paz esteve ao lado do povo sírio e afirmou a enfática
e irredutível condenação à agressão, à tentativa de isolamento diplomático, à ingerência e à guerra
militar e midiática contra o país.
Ao reiterar nossa solidariedade, é também com esperança que nos reunimos aqui, onde podemos
observar os avanços significativos conquistados pelo povo sírio, seu governo e seu exército no
combate ao terrorismo que foi insuflado e se propagou com a ajuda dos EUA e seus aliados
regionais. Congratulamo-nos com o povo sírio e sua liderança pelos esforços que fazem para
recuperar o país após a destruição e a desestabilização e para derrotar a ofensiva terrorista e
imperialista que vitimou tantos milhões de pessoas inocentes. A estas e às suas famílias, assim como
a todo o povo sírio, prestamos nossa sincera homenagem.
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O povo sírio, sob a liderança do governo do presidente Bashar Al-Assad, resistiu heroicamente e
alcançou importantes conquistas, concertando importantes alianças internacionais. Auguramos que
a vitória seja definitiva e que o país obtenha a paz e a estabilidade.

A agressão à nação árabe-síria enquadra-se no contexto mais abrangente da política imperialista de


reconfiguração do Oriente Médio e do mundo para cumprir os objetivos e a agenda das potências,
propiciar o saque dos recursos dos povos e o controle geoestratégico de importantes rotas. As
potências imperialistas não medem custos e esforços para assegurar esses objetivos. Para organizar
esse “novo” Oriente Médio, contam com sua poderosa máquina de guerra, a OTAN, sob o comando
dos EUA, e com fiéis aliados regionais que promovem também seus próprios interesses
geoestratégicos, como os sucessivos governos sionistas e guerreiristas de Israel, as monarquias
reacionárias do Golfo e uma parte da oposição doméstica antipatriótica e ambiciosa pelo poder.

É nesse mesmo contexto que ocorre a devastação do Iêmen promovida pela coalizão de oito países
da região e liderada pela Arábia Saudita, com o respaldo e o suprimento militar estadunidense,
britânico e de outras potências. Neste caso específico, com o objetivo de “conter o Irã”, a Arábia
Saudita e seus aliados bombardeiam covardemente um dos países mais empobrecidos do mundo,
perpetrando crimes de guerra e contra a humanidade, alegando combater “rebeldes respaldados
pelo governo iraniano”. De acordo com a ONU, desde 2015, cerca de 10 mil pessoas já foram mortas,
das quais cerca de dois terços eram civis. Apenas em um episódio, em agosto, um bombardeio da
coalizão matou 40 crianças! Mas sobre este massacre as potências que se dizem paladinas da moral
humanitária têm pouco a fazer! Por isso, devemos repudiar nos mais contundentes termos mais
este crime e exigir o fim imediato da agressão, para que o povo iemenita possa resolver o seu
conflito.

Seguimos acompanhando de perto a luta do povo cipriota, que há mais de quatro décadas enfrenta
a criminosa ocupação turca de parte do seu país, mantendo-o dividido. Apoiamos inteiramente a
luta dos grego-cipriotas e turco-cipriotas pelo fim da ocupação e pela reunificação soberana e
pacífica. Expressamos ainda nosso apoio resoluto às forças da paz no Chipre na exigência pela
retirada da base militar britânica do país, de onde EUA-Reino Unido-França lançam ataques
criminosos em sua agressão contra a Síria, e na contundente campanha contra a OTAN.
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Acompanhamos também de perto a luta do povo turco e a resistência determinada às


arbitrariedades persecutórias do governo Erdogan. Manifestamos nosso apoio à oposição valente
que as forças democráticas e progressistas, notadamente o Comitê da Paz da Turquia, fazem ao
envolvimento do seu país na agressão a outros povos, como o sírio, uma oposição que enfrenta
duras consequências, mas segue resoluta.

Companheiros e companheiras,
Para a derrubada de governos que não se curvam à agenda imperialista, a fórmula em grande parte
é reaplicada em diversas regiões. Os povos em todo o mundo têm reforçado sua resistência às
agressões e às aventuras antidemocráticas manipuladas pelas potências imperialistas,
especialmente os EUA, para promover seus planos de saque e dominação.

A militarização do planeta segue a passos acelerados e penetra todos os aspectos da vida, através
do complexo industrial-militar e da dita indústria da segurança que, através da aterrorização das
populações em tantos países, buscam submeter os povos ao controle completo. Por isso,
reforçamos nossa denúncia à disseminação de bases militares por todo o planeta, num histórico
movimento mundial que vem crescendo e se fortalecendo, desde as grandes manifestações em
países como Argentina e Japão (em Okinawa), passando pelos sucessivos e exitosos Seminários
Internacionais pela Paz e a Abolição das Bases Militares Estrangeiras realizados regularmente em
Guantánamo, sob a direção do Movimento Cubano pela Paz e a Soberania (MovPaz), em parceria
com o Conselho Mundial da Paz. Tem o mesmo sentido e importância a criação de uma coalizão nos
EUA que reuniu entidades nacionais nesta frente comum de luta, coordenada também pelo
Conselho da Paz dos EUA.

Mais recentemente, este avanço na mobilização internacional propiciou o lançamento de uma


campanha global contra as bases militares dos EUA e da OTAN, com uma declaração de unidade
proposta pela coalizão estadunidense e que também o Conselho Mundial da Paz promove. Por esta
razão, devemos enfatizar o compromisso com a participação e a realização exitosa da conferência
internacional desta campanha, que terá lugar em Dublin, na Irlanda, de 16 a 18 de novembro, tendo
como anfitrião a Aliança pela Paz e a Neutralidade (PANA), entidade membro do Conselho Mundial
da Paz.
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Em todas essas atividades, é tarefa prioritária do CMP reforçar a denúncia da militarização e das
crescentes ameaças ao planeta e à humanidade, os crescentes gastos militares e a dita
modernização dos arsenais de armas nucleares que acarretariam a aniquilação do planeta se
empregadas em uma guerra de grandes proporções. Recebemos com extrema preocupação e
repúdio a declaração de 20 de outubro de Donald Trump de que os EUA devem deixar o histórico
Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado em 1986 entre os Estados Unidos
e a União Soviética, que bane mísseis nucleares de alcance entre 500 e 5.000 km. Moscou,
acusada de estar violando o tratado, considera a declaração uma chantagem.

As forças da paz não podem se deixar intimidar diante do que alguns já descrevem como “histeria
pré-guerra”. Devemos por isso reforçar nossas campanhas e nossa denúncia contundente de tal
escalada, exigindo o aprofundamento, ampliação e cumprimento dos tratados de desarmamento
nuclear, e não seu abandono, sob qualquer pretexto!

O relatório do Instituto Internacional de Estocolmo de Pesquisas para a Paz (Sipri) divulgado em


maio deste ano aponta que os gastos militares mundiais subiram para 1,7 trilhão de dólares em
2017, um aumento de 1,1% em relação a 2016. A tendência é de aumento desde 1999, com uma
pausa em que os gastos se mantiveram constantes entre 2012 e 2016, para voltarem a crescer em
2017, consumindo 2,2% do PIB global, segundo o Sipri. Enquanto os gastos da Rússia diminuíram
em 20%, para 66,3 bilhões de dólares, os dos EUA mantiveram-se constantes pelo segundo ano
consecutivo, em 610 bilhões de dólares, um orçamento superior ao dos próximos sete maiores
orçamentos militares somados.

Com o pretexto já conhecido de buscar “conter a Rússia” em seu alegado avanço em direção ao
restante da Europa (ainda que o “avanço” real seja de fato o da OTAN em direção às fronteiras da
Rússia), os países da Europa Central e Ocidental também elevaram seus gastos militares em 2017.
Muitos deles são membros da OTAN comprometidos com o gasto de ao menos 2% dos seus PIBs no
setor. Ainda segundo o Sipri, o gasto total dos 29 membros da organização foi de 900 bilhões de
dólares, representando a metade do gasto mundial, o que confirma a nossa denúncia de que este
bloco militar é uma grande ameaça à paz.

A política de militarização planetária é um entrave à construção de um sistema internacional


constituído por instituições multilaterais que propiciem a solução pacífica dos conflitos, a
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cooperação e o progresso compartilhado em prol da paz. A militarização é funcional à manutenção


de uma ordem de dominação e exploração, ameaças e agressões pelas potências imperialistas que
visam manter sua hegemonia.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mais uma vez deu provas da sua agressividade
chauvinista durante a última Assembleia Geral da ONU, em setembro. Na contramão das forças
progressistas e da paz nos EUA e em todo o mundo, ele reafirmou o caráter unilateral e hegemonista
de sua política externa. Trump não perde uma oportunidade para buscar minar conquistas
diplomáticas como o acordo nuclear com o Irã e o reatamento de relações diplomáticas com Cuba,
ou sabotar fóruns multilaterais de grande relevo para os povos, como o Conselho de Direitos
Humanos e a própria ONU.

Ademais, as relações entre a China e os EUA atravessam uma fase difícil. Os Estados Unidos
moveram a chamada guerra comercial, ao tempo em que elaboram planos para “conter a China”, o
que implica a interferência em suas questões domésticas como a questão de Taiwan, ou regionais,
como a crise no Mar do Sul da China.

Tais comportamentos reforçam o papel que os EUA buscam desempenhar, o de polícia mundial. Em
suma, o momento é de gravíssimas ameaças para a humanidade, mas também de muita resistência.

Companheiros e companheiras,

Em nossa luta pela paz e no exercício da solidariedade com os povos em luta por sua
autodeterminação, valorizamos os avanços da reaproximação diplomática na Coreia. Têm
importante significado na luta pela paz os compromissos assumidos em prol da reunificação pacífica
da Península Coreana. Há décadas separados e antagonizados especialmente através da ingerência
constante dos EUA após a guerra de 1950-1953, os coreanos almejam a reconciliação. São
profundamente promissores os encontros já realizados entre os líderes nacionais, não apenas para
a Coreia como para toda a região e o mundo. É indispensável o fim da ingerência imperialista e das
ameaças militares, políticas e financeiras à RPDC.

Recentemente, comemoramos também a ansiada libertação do independentista portorriquenho


Óscar Lopez Rivera. Mas Porto Rico segue sob o jugo colonialista dos Estados Unidos. O Conselho
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Mundial da Paz reitera sua indeclinável solidariedade ao povo porto-riquenho e a luta contra o
colonialismo, assim como apoiamos a persistente luta do povo argentino pela recuperação das Ilhas
Malvinas, Geórgias do Sul e Sandwich do Sul, que seguem sob o domínio britânico.

Ademais, precisamos enfatizar que o povo saaraui foi há quatro décadas obrigado a se refugiar no
deserto durante a brutal invasão marroquina, a seguir à irresponsável retirada espanhola. A luta do
povo saaraui na última colônia da África é, contudo, silenciada e invisibilizada. O compromisso
assumido pelas Nações Unidas de assegurar a autodeterminação do povo saaraui e a descolonização
do Saara Ocidental ainda não foi cumprido. Este povo continua desprotegido, vítima das mais graves
violações dos seus direitos humanos, com repressão brutal de protestos, torturas, prisão e
desaparições forçadas, que fazem parte das políticas cotidianas da ocupação marroquina do Saara
Ocidental. O Conselho Mundial da Paz é inteiramente solidário com a justa causa do povo saaraui.

O CMP tem dedicado o máximo dos seus esforços e continuará dedicado à solidariedade com o povo
palestino, um povo mártir, que há sete décadas vive a catástrofe da ocupação e dominação
israelense. Os sionistas israelenses seguem cometendo impunemente crimes contra a humanidade
e, em conluio com os Estados Unidos, obstaculizando os esforços diplomáticos pelo
estabelecimento soberano e a integração do Estado da Palestina como membro pleno da ONU.
Apesar da crescente solidariedade internacional ao povo palestino, a liderança chauvinista e racista
de Israel sente-se à vontade, contando com a bilionária ajuda dos Estados Unidos, para massacrar
os palestinos com ofensivas militares e a repressão brutal de protestos como a valente Grande
Marcha de Retorno lançada desde Gaza. O bloqueio a este território costeiro, que já dura 11 anos,
condena os seus residentes, maioritariamente refugiados de outros massacres, a uma crise
humanitária persistente que tornará Gaza praticamente inabitável em poucos anos, segundo a ONU.
Também é passada a hora de pôr fim ao regime de apartheid israelense recém-tornado
constitucional através da Lei Básica do Estado-Nação Judaico pelo Parlamento para consolidar o que
já existia na prática, o tratamento como cidadãos de segunda categoria a todos os não-judeus. É
passada a hora, também, de acabar com a ocupação criminosa da Palestina e a colonização a que
ela serve!

Já na América Latina, companheiros e companheiras, as forças democráticas estão no alvo de


ameaças de golpes e retrocessos históricos. A Argentina e o Brasil encontram-se sob governos
reacionários.
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No Brasil, o golpe segue em curso para além da derrubada ilegítima da presidenta Dilma Rousseff
em 2016, com a perseguição odiosa ao Partido dos Trabalhadores, a todas as forças de esquerda e
movimentos sociais comprometidos com um projeto nacional de justiça social, desenvolvimento
soberano e integração regional independente. A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em
7 de abril deste ano foi mais uma afronta ao Estado Democrático de Direito e tem propósito
puramente político, o de evitar o seu retorno à Presidência. As eleições presidenciais, cujo segundo
turno tem lugar este domingo, 28, realizam-se em um ambiente de extremada perseguição e crise
social, econômica e institucional, em que as forças reacionárias e conservadoras e de cunho fascista
têm prosperado. Mas o povo brasileiro também resiste e tem se empenhado por construir uma
ampla frente para a luta pela democracia e a recuperação de direitos.

Embora há apenas quatro anos o contexto regional tenha possibilitado a adoção de um


compromisso esperançoso como o da consolidação de uma Zona de Paz na América Latina e no
Caribe, hoje nos defrontamos com a propagação das forças neoliberais, reacionárias, golpistas, e
crescentemente fascistas, a ingerência e as ameaças de intervenção militar em países soberanos
fomentadas no seio da Organização dos Estados Americanos.

Recentemente, a receita do golpe repete-se na Nicarágua, onde manifestações violentas têm sido
insufladas em prol de um ambiente de antagonismo artificial e desestabilizador também com vistas
a derrubar o governo da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) e Daniel Ortega.

Foi também com profunda indignação que denunciamos as ameaças de golpe militar e até de
intervenção estrangeira promovidas pelo presidente dos Estados Unidos e pelo secretário-geral da
OEA contra a Venezuela bolivariana. Há anos resistindo bravamente aos intentos de derrubar seu
governo legítimo e vulnerar a sua soberania nacional, o povo venezuelano demonstra profunda
consciência das ameaças postas à sua nação. Saudamos a valente resistência do povo da Venezuela
e nos comprometemos com o reforço do nosso apoio à sua brava luta.

Da mesma forma, repudiamos o retrocesso da reaproximação entre EUA e Cuba sob o governo de
Donald Trump. Neste quadro, adquirem urgência as tarefas relacionadas com a luta contra o
bloqueio à ilha revolucionária imposto pelos EUA há quase seis décadas, com um cerco financeiro,
comercial e diplomático projetado para fazer ruir a Revolução Cubana. Esta política ofensiva
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claramente fracassou, como reconheceu o próprio ex-presidente Barack Obama. Apoiamos também
a justa demanda de Cuba da retirada imediata da base militar estadunidense ilegalmente encravada
no território de Guantánamo, onde os EUA ainda mantêm uma prisão ilegal, uma vergonha para a
humanidade, para aprisionar e torturar suspeitos trazidos de todo o mundo, à margem da lei. Apesar
da ofensiva constante, Cuba segue na consolidação do socialismo e no fortalecimento da
solidariedade com todos os povos em luta contra a dominação estrangeira e pelo progresso social
em todo o planeta, uma inspiração constante para os povos amantes da paz, honrados pelo legado
histórico de José Martí e do Comandante Fidel Castro.

Por fim, mas não menos importante, companheiros e companheiras, o Conselho Mundial da Paz
está prestes a completar 70 anos. Sua história nos traz um legado de bravura e dedicação dos
combatentes e defensores da paz, que há sete décadas buscavam reconstruir o mundo com
democracia, soberania nacional, progresso social e paz após a catástrofe da guerra e a ignomínia da
devastação e do sofrimento inaudito imposto a tantos povos.

Ao invocar a nossa história, pensamos nos desafios que temos pela frente. Resistir e lutar contra os
desígnios belicistas das potências imperialistas, defender a paz, a justiça e os direitos dos povos,
com amplitude e espírito unitário a fim de mobilizar o máximo de forças pelo êxito da nossa causa.

Tenho a convicção de que trabalharemos para que a nossa reunião possa nos fazer avançar na
realização dos compromissos que todos já assumimos desde a última Assembleia realizada em São
Luís, Brasil, em 2016.

Bom trabalho para todos nós!


Obrigada

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