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RESUMO: A Fosfertil em todo o seu processo comercialização de fertilizantes necessita solubilizar o fósforo
e transformar a rocha fosfática insolúvel em água em fertilizantes fosfatados de modo que o nutriente fósforo
possa ser absorvido pelas plantas. Para tal operação o Complexo Industrial de Uberaba (CIU) necessita
produzir o ácido fosfórico usado nos fertilizantes transformando o concentrado de rocha fosfática em ácido
fosfórico produzindo como conseqüência o fosfogesso. Deste fosfogesso produzido em Uberaba uma parte é
comercializada como gesso com finalidade agrícola e o restante tem de ser estocado em uma pilha de grande
porte formada por meio da deposição hidráulica do próprio fosfogesso. Assim, o objetivo deste trabalho
consistiu em apresentar uma descrição das propriedades deste fosfogesso obtidas através de ensaios de
laboratório convencionais relatando todo o seu comportamento e visando um futuro programa de análises do
comportamento geotécnico para a conformação atual da pilha de gesso da Unidade Industrial de Uberaba.
2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO
FOSFOGESSO
Figura 1. Pilha de gesso com locação dos pontos
No processo de produção de fertilizantes o amostrados.
concentrado de fosfato produzido na planta de
mineração é transportado para a planta química Através da Figura 1 pode-se correlacionar
e convertido em acido fosfórico para ser cada bloco coletado no campo com os
utilizado na fabricação de fertilizantes. Esta compartimentos dos quais os mesmos foram
conversão é realizada por meio de um processo retirados. Esta correlação pode ser verificada
de calcinação e tratamento com acido sulfúrico. através da Tabela 1.
Como resultado deste processo é formado um
fosfogesso, consistindo principalmente de Tabela 1. Localização dos blocos na pilha de gesso.
sulfato de cálcio dihidratado com água Bloco Área N.º de Registro
1 Gabião A 2.153
(CaSO4.2H2O). 2 Gabião B 2.154
O fosfogesso apresenta geralmente 3 Compartimento E 2.155
granulometria exclusiva de silte não plástico 4 Compartimento C-D 2.156
com 97% do material passando na peneira 200.
Além disto apresenta massa especifica dos De cada local foram extraídos um bloco
grãos variando de 2,3 a 2,4 g/cm3. O efluente indeformado e um saco de amostra deformada.
descarregado com o gesso para deposição por A coleta ocorreu a cerca de 50 cm abaixo da
via hidráulica tem tipicamente pH de 1,5 a 2,0. superfície atual. Sobre as amostras coletadas
Este gesso é o único entre os rejeitos que foram executados ensaios de:
apresenta dois aspectos mecânicos bastante
distintos: em primeiro momento exibe uma • Teor de umidade natural;
cimentação local e em um segundo momento • Densidade natural;
apresenta uma grande deformação sobre tensão • Granulometria com sedimentação;
constante. • Densidade real dos grãos;
• Compactação com Proctor Normal;
3 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA • Permeabilidade com carga variável;
DO FOSFOGESSO • Adensamento oedométrico;
• Compressão triaxial.
Para determinar os parâmetros geotécnicos do
fosfogesso do Complexo Industrial de Uberaba 3.1 Ensaios de Caracterização
foi realizada uma campanha de ensaios de
laboratório. A amostragem foi feita através da Sobre cada uma das amostras foram realizados
coleta de quatro blocos de amostras ensaios de caracterização (granulometria,
indeformadas em quatro compartimentos densidade natural, índice de vazios natural e
diferentes da pilha de gesso. A Figura 1 massa específica dos grãos) utilizando as
apresenta uma vista geral da pilha com a metodologias contempladas nas normas
técnicas da ABNT.
Os resultados das análises granulométricas Em relação aos resultados apresentados na
das 4 amostras coletadas no campo estão Tabela 3 verificou-se inicialmente que as
representados na Figura 2. densidades dos grãos situam-se
aproximadamente entre 2,8 e 3,1 g/cm³. Isso
100,0 contraria a expectativa de valores em torno de
90,0
2,4 g/cm³, explicáveis não apenas pela
Porcentagem que Passa (%)
80,0
70,0 constituição mineralógica, como resultados de
60,0
50,0
ensaios anteriores.
40,0 Bloco 1
A explicação mais provável para essa
30,0
Bloco 2 discrepância reside no método de execução do
20,0
10,0
Bloco 3
Bloco 4
ensaio. De acordo com a ABNT, o material foi
0,0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
seco à temperatura de 110ºC. No caso do gesso,
Diâm etro (m m ) a aplicação de temperatura tão alta pode
acarretar perda de água de hidratação, o que
Figura 2. Curvas granulométricas das amostras de gesso. pode levar a falseamento dos resultados.
Observa-se que os teores de umidade situam-
Conforme se observa na Figura 2, o gesso se acima de 50%, exceto no que se relaciona à
tem a quase totalidade dos grãos abaixo da amostra 2.156 (localizada no compartimento C-
peneira n.º 200 (0,075 mm). Do material que D), onde a umidade foi de apenas 22%. Os
passa, a maior parte enquadrar-se-ia na teores de umidades naturais situaram-se
categoria de argila. No presente caso, o material próximos às umidades ótimas de compactação
não se constitui realmente em argila, já que a do gesso, entre 50 e 60%.
sua constituição mineralógica é diferente, não
apresentando inclusive a propriedade de 3.2 Ensaios de Compactação com Proctor
plasticidade, característica de argilas. De Normal
maneira geral, observa-se que os percentuais de
finos abaixo de 0,005 mm variam de 50 a 80%. Além dos ensaios básicos de caracterização
Com base nesta observação e visando uma foram realizados também ensaios de
otimização do programa experimental de compactação utilizando as metodologias
laboratório para realização dos ensaios triaxiais contempladas na norma técnica da ABNT
o gesso foi dividido em dois grupos distintos de NBR-7182. Os resultados dos ensaios de
amostras: compactação acham-se resumidos na Tabela 3,
abaixo.
a) amostra 2.153, com 80% de finos, que foi
denominado gesso fino; Tabela 3 – Resultados de ensaios sobre amostras de
b) amostra 2.155, com 50% de finos, que foi gesso.
denominado gesso grosso. Bloco ρdmáx (g/cm³) hot (%) GC (%)
1 1,021 53,6 74,9
Os resultados dos ensaios para determinação 2 1,034 50,5 78,7
3 1,017 57,2 75,9
da massa específica dos grãos, teor de umidade
4 1,042 55,2 78,1
natural e densidade natural do gesso acham-se Todos os resultados de ensaios acima referem-se a teores
resumidos na Tabela 2, abaixo. de umidade determinados em estuga a 110ºC (ABNT)
Tabela 2 – Resultados dos ensaios sobre amostras de Levando-se em consideração que o depósito
gesso. forma-se predominantemente por deposição
Bloco ρdnat (g/cm³) hnat (%) enat ρs (g/cm³) hidráulica, pode-se desta forma explicar os
1 0,765 62,2 2,908 2,990
2 0,814 54,4 2,785 3,081
baixos valores de densidades secas
3 0,772 58,2 2,649 2,817 determinados situando-se entre 75 a 80% da
4 0,814 22,9 2,794 3,088 densidade máxima do ensaio Proctor normal.
Todos os resultados de ensaios acima referem-se a teores
de umidade determinados em estuga a 110ºC (ABNT)
3.3 Ensaios de Permeabilidade de Carga amostras um ensaio de adensamento edométrico
Variável em corpos de prova talhados dos blocos
indeformados, ficando com seu eixo vertical no
Para cada bloco amostrado foram executados sentido topo/base dos blocos.
dois ensaios de permeabilidade em O adensamento foi feito submetendo os
permeâmetro de carga variável, sendo um corpos de prova às suas respectivas tensões
ensaio com corpo de prova moldado com seu normais de ensaio, deixando adensar durante
eixo vertical coincidindo com o sentido das vinte e quatro horas, fazendo medidas das
camadas horizontais. Os corpos de prova foram deformações verticais em função do tempo. O
talhados dos blocos indeformados e esculpidos carregamento foi feito em estágios de pressão
com dimensões de 10,16 cm de diâmetro e com duração de vinte e quatro horas, iniciando
altura aproximada de 15,00 cm e montados com 12,5 kPa e dobrando a pressão em cada
dentro de um permeâmetro de carga variável. novo estágio, até atingir uma pressão máxima
Depois de montado, o corpo de prova foi para definição da reta de compressão virgem.
submetido a saturação por meio de uma coluna O descarregamento foi feito em cinco
d’água percolando da base para o topo, até o estágios com duração de uma a duas horas cada
afloramento de água na válvula superior do um, de acordo com a estabilização das
permeâmetro. Em seguida o fluxo de percolação expansões. As Figuras 3 e 4 apresentam as
foi invertido, dando início a medida da curvas pressões versus índices de vazios para as
permeabilidade. Nas fases de saturação e amostras.
medida da permeabilidade foi utilizada água
coletada nas calhas de drenagem da pilha de 3,0
obtidos. 2,2
2,0
1,8
Tabela 2 – Resultados dos ensaios sobre amostras de 1,6
gesso. 1,4
-4
3 4,17 x 10 7,23 x 10-5
-4
4 3,87 x 10 1,06 x 10-4 Figura 3. Curva de pressão versus índice de vazios e
coeficiente de adensamento para a amostra 2.153.
Como conseqüência das baixas densidades,
os coeficientes de permeabilidade resultaram 3,0
Indice de Vazios
2,0
permeabilidade e adensamento edométrico 1,5
foram selecionadas as amostras dos Blocos 01
1,0
(2.153) e 03 (2.155) para serem submetidos a
ensaios de compressão triaxial especiais para 0,5
2,0
30
30
25
um futuro trabalho.
20 S=1+3,92x(h) t/m2/m Além disto, o trabalho também vêm
15
apresentar o fosfogesso como material para
10
5 S=30+2x(h) t/m2/m utilização geotécnica usados na construção de
0 pilhas de estocagem de gesso pelo método de
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Su (kPa)
disposição hidráulica.
Para o gesso fino as relações obtidas entre a Os autores gostariam de agradecer a Fosfertil e
resistência a liquefação (kPa) e a profundidade a Geoconsultoria pelo apoio técnico.
(m) são: