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3.1 Introdução
3.2 O panorama da geração, serviços de coleta, tratamento, disposição
e reciclagem de resíduos sólidos
3.2.1 A coleta seletiva e reciclagem
3.2.2 Resíduos sólidos especiais
3.2.3 Resíduos industriais e áreas contaminadas
3.2.4 Resíduos de animais
3.2.5 Os impactos na saúde
3.2.6 As medidas necessárias
3.3 Conclusão
Referências Bibliográficas
Objetivos da Aula:
• Conhecer o panorama da geração de resíduos sólidos urbanos e os serviços de
coleta, tratamento e reciclagem desses resíduos. Identificar os resíduos perigosos;
• Abordar sobre a contaminação do solo;
• Identificar as principais doenças associadas às contaminações, bem como os possíveis
impactos na saúde;
• Conhecer a situação global e a do Brasil com relação a esse panorama.
3.1 Introdução
Na aula Água e saneamento – impactos na saúde, vimos o impacto da insuficiência
ou do fornecimento de água de má qualidade e da insuficiência de políticas e de serviços de
esgotamento sanitário na saúde. Foram abordados também aspectos relacionados à intervenção
do homem na natureza, provocando desequilíbrios que concorrem para a incidência e propa-
gação de doenças.
Nesta aula, abordaremos sobre os resíduos sólidos (lixo), a contaminação do solo por esses
resíduos e os possíveis impactos na saúde.
em aterros não adequados (lixões) e, mesmo o uso de incineradores passou a ser empregado, já
no final do século XIX, também como fonte de energia (Miziara, 2008).
No século XX, com o acelerado avanço da industrialização, o crescimento populacional, e a
produção de novos bens e padrões de consumo, a produção de resíduos aumentou e foi mudando
de características. Diminuiu o percentual de materiais orgânicos como os restos de alimentos, e
aumentou a de embalagens plásticas descartáveis, vidros e diversos materiais ou equipamentos
descartáveis, como os telefones, pilhas/baterias e eletrodomésticos, além da maior quantidade e
grande diversidade dos resíduos industriais, com suas variadas toxicidades. Em 2008, estima-se
que globalmente foram comercializados 68 milhões de veículos, 85 milhões de geladeiras, 297
milhões de computadores, 1,2 bilhão de celulares (Saldiva, 2010).
Você sabia?
Estima-se, no mundo todo, uma geração de 500 g/lixo/capita/por dia, o que tota-
liza cerca de 3,5 milhões de toneladas de lixo por dia, 1,2 bilhão de toneladas/ano.
diagnóstico, aproximadamente 23% dos locais que recebem os resíduos, o que corresponde a
50% dos municípios brasileiros, são lixões ou aterros não sanitários, sendo a distribuição com
marcada diferença regional e intrarregional. Cerca de 90% dos municípios do Nordeste e 15%
do Sudeste contam com lixões. Esta diferença regional também está presente no interior dos
estados das regiões Sul e Sudeste, com a maioria dos pequenos municípios fazendo uso de
lixões. O tratamento dos resíduos (compostagem, incineração, tratamento por micro-ondas e
outros procedimentos) é irrisória - cerca de 0,2% da massa coletada.
Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares no Estado de São Paulo,
para o ano de 2011, registra significativo progresso nos 645 municípios do Estado, em relação a
1997, ano em que os dados passaram a ser disponibilizados. Entretanto, a disposição inadequada de
resíduos ainda persiste em 23,7% dos municípios (Figura 3.2), correspondendo a 15,3% da quan-
tidade de resíduos gerados, estimada em 26,25 mil toneladas/dia. Dos 39 municípios da Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP), 29 contam com aterros adequados (CETESB, 2012).
Em 2010 foi aprovada a Lei 1.2305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, regulamentada pelo Decreto 7404/2010, tornando obrigatória a elaboração de planos
nacional, estaduais, intermunicipais e municipais de resíduos, tendo entre as metas a eliminação
de lixões até 2014. A lei disciplina não apenas os resíduos domiciliares/domésticos mas também
os de saúde, industriais, agrossilvopastoris, de mineração e de serviços de transportes.
Os serviços de saúde, a indústria e a construção civil contam com legislação específica, embora
com frequência não cumprida, quanto à disposição adequada dos resíduos (Alvarez, 2012).
Outro risco importante está associado aos materiais radioativos. É bastante conhecido o aci-
dente com Césio-137, que ocorreu em Goiânia em 1987, quando uma cápsula de césio foi
retirada de um equipamento de radioterapia que fora deixado abandonado em um hospital da
cidade. A circulação da cápsula acabou por contaminar milhares de indivíduos, mais de uma cen-
tena delas com contaminação radioativa grave, mais de 50 internadas e, estima-se que tenha sido
responsável por dezenas de óbitos. Foi o maior acidente com material radioativo ocorrido no
Brasil. Outro conhecido evento com contaminação radioativa de trabalhadores e de áreas ocorreu
com a Usina Santo Amaro (USAM) ou Nuclemon, localizada em São Paulo, que funcionou
durante 50 anos (até 1992), onde, a partir da monazita eram extraídos Tório e Urânio, processos
que geraram estimadas 20 mil toneladas de resíduos radioativos, que foram depositados de forma
inadequada em áreas nas cidades de São Paulo, de Itu e de Poços de Caldas (BRASIL, 2007).
parques industriais ou mesmo indústrias isoladas, que também serviam de depósito de resíduos,
por ocasião de suas desativações [Rhodia, em São Vicente; Shell, Cyanamid e Basf em Paulínia
(pesticidas organoclorados, cancerígenos); Indústria Matarazzo em São Caetano (Benzeno, BHC
e outros pesticidas); áreas em Cubatão e centenas de áreas industriais de São Paulo/Capital] foram
ocupadas pelos mais diversos usos, de residencial a comercial, financeiro ou mesmo para novos
tipos de indústrias. O não tratamento e preparação do solo e a adequação quanto aos tipos de usos
possíveis para cada área, em função do tipo de contaminante ali presente, fizeram com que diver-
sos empreendimentos ou ocupações estivessem - e ainda estão! - em situações de risco (Saldiva,
2010). Em todo o Estado de São Paulo, estima-se em cerca de 3.000 as áreas contaminadas, mais
de 40% delas localizadas na RMSP (Saldiva, 2010). O risco de explosões e de contaminações
químicas por metais, pesticidas e outros produtos tóxicos são os principais problemas.
Por outro lado, a disposição inadequada de resíduos sólidos, de efluentes industriais, o va-
zamento de substâncias tóxicas decorrentes de acidentes no transporte de cargas perigosas, ou
acidentes com navios com cargas químicas como petróleo contribuem para a contaminação do
solo, da água, de alimentos, da flora e fauna, sendo um grave problema na atualidade, que pode
ocasionar riscos diretos e indiretos à saúde da população (Prüss-Üstün, 2011).
A utilização e o manejo de produtos químicos vêm merecendo atenção crescente de institui-
ções internacionais, principalmente nos últimos 10 anos, levando à implantação de diretriz global
das Nações Unidas para o manejo de produtos químicos nos países membros (WHO, 2007).
Embora possa parecer mais associado ao tema do saneamento, os resíduos de animais são
aqui tratados porque sua destinação e cuidados se assemelham mais aos dos resíduos sólidos.
Os cuidados e a disposição de resíduos produzidos por animais e aves constituem um tema
pouco estudado e com impacto ainda não bem dimensionado. Embora uma grande variedade de
zoonoses patológicas acometa o homem, dois parasitas protozoários (Giardia e Cryptosporidium)
e três tipos de bactérias (E. coli, Salmonella e Campylobacter) são os mais importantes e mais
frequentes no homem, estão presentes e são eliminados nas fezes de animais, com elevada
prevalência. Aves, porcos, gado, ovelhas são responsáveis por gerar aproximadamente 85% das
fezes de animais, estimados em cerca de 2,62 × 1013 kg/ano, muito maior (5-7 vezes) do que a
produção humana (WHO, 2012).
Essa contaminação ocorre em maior proporção em áreas rurais, mas também em áreas
urbanas como praias, nos logradouros públicos e no domicílio onde se criam animais, sendo
necessárias políticas educacionais sobre os riscos e o manejo adequado do espaço urbano e dos
cuidados a serem observados com os animais (WHO, 2012).
A falta de coleta, tratamento e/ou a disposição final inadequada do lixo podem causar
problemas envolvendo aspectos sanitários, ambientais e sociais, tais como a disseminação de
doenças infecciosas por vetores ou agentes que contaminam e proliferam nos resíduos; a con-
taminação do solo e das águas superficiais e subterrâneas por agentes químicos, biológicos e
radioativos; o acúmulo de gases no solo com riscos de explosões, incêndios e de contaminação
para usuários de futuras construções no local ou no entorno e riscos de acidentes. Exemplo
recente desta última condição, com registros de vazamento de gases e risco de explosão no
interior de um grande shopping Center em São Paulo (Shopping Center Norte), construído
em área de antigo aterro, comprova um dos riscos envolvidos na deposição de lixo de forma
inadequada e a subsequente ocupação também inadequada.
Os impactos estão relacionados aos tipos e características dos resíduos. Os resíduos domi-
ciliares e de serviços de limpeza pública, se acumulados em vias e áreas públicas ou privadas,
podem servir de locais de criadouros de mosquitos e ratos, e ter impacto no assoreamento ou
oclusão das vias de drenagens, tendo como consequência as enchentes. Estima-se que sejam
gerados diariamente 1.000 toneladas de lixo nas favelas da cidade de São Paulo (0,8 kg/habi-
tante) e, como a coleta nesses aglomerados ainda é irregular, boa parte dos resíduos produzidos
diariamente (toneladas) acaba por atingir córregos ou rios adjacentes, contribuindo assim para
a ocorrência de enchentes/alagamentos no local e à distância, capaz de gerar perdas de vidas,
de residências e mobiliário, e de doenças como a leptospirose, a hepatite A e infecções de pele.
A transmissão de zoonoses pelas fezes de animais, com cinco principais agentes concen-
trando a contaminação no homem, é um importante impacto a ser considerado, embora ainda
negligenciado. Embora com menor impacto, doenças como a psitacose, e a histoplasmose
são transmitidas ao homem pela inalação de germes presentes nas fezes secas de aves, em sus-
pensão, e a equinococose ou hidatidose pela ingestão de fezes de ovelhas e cães, contaminadas
por ovos ou larvas do parasita Echinococcus, que pode acometer os intestinos (Tênia) e formar
cistos principalmente no fígado, nos pulmões e, mais raramente, no cérebro.
A exposição a produtos químicos tem grande impacto, embora pouco dimensionado, atin-
gindo especialmente populações mais pobres.
3.3 Conclusão
Neste texto, foram abordados aspectos relacionados ao lixo ou resíduos sólidos e também
a áreas contaminadas. Foi apresentado um quadro da situação nacional quanto aos resíduos,
discutidos exemplos e situações de contaminação do solo, possíveis efeitos na saúde pela ina-
dequação da coleta, da disposição final e tratamento dos resíduos, bem como apresentado um
elenco de temas que consideramos prioritários para caminharmos para a implantação de uma
melhor política de gestão dos resíduos, entre os quais o esforço coletivo na redução da geração
de resíduos e erradicação da pobreza, situação em que parcela da população tem no lixo sua
fonte de subsistência, submetendo-se a condições de trabalho degradantes.
O conhecimento e a informação são indispensáveis para que os cidadãos possam desempe-
nhar papel ativo na solução de problemas que afetam o país e a sua população.
Referências Bibliográficas
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Glossário
Agrossilvopastoris: é uma modalidade dos Sistemas Agroflorestais (SAF’s), em que se combinam ár-
vores, cultura agrícola, forrageira e/ou animais numa mesma área ao mesmo tempo ou de forma
sequencial, sendo manejados de forma integrada.
DALYs (disability-adjusted life years): anos potenciais de vida perdidos devido à morte prematura ou
vividos com limitação ou deficiência de saúde. É uma medida comum usada para mensurar o im-
pacto de fatores de risco nos óbitos em qualquer idade e na incapacidade por doença.
OMS: Organização Mundial da Saúde.
Psitacose: que acomete principalmente os pulmões, causada pelo patógeno Chlamidia psitacci.