CURSO DE TAROT
E O SEU USO TERAPÊUTICO
© Veet Pramad e Dinalivro 2011
Título: Curso de Tarot e o seu Uso Terapêutico
Autor: Veet Pramad
www.tarotterapeutico.info/pt
veetpramad@hotmail.com
Revisão e adaptação: Atlântida Lda.
Filipa Parreira
Taróloga Maria do Céu Lopes (consultora)
Capa: Nuno Rodrigues (www.nunorod.com)
Paginação: Mário Félix – Artes Gráficas
ISBN: 978-972-576-593-7
Depósito legal: 332 276/11
1.ª edição: Setembro de 2011
Impressão e acabamento: Offsetmais, S. A.
Dinalivro
Rua João Ortigão Ramos, 17-A
1500-362 Lisboa
Tel. 217 107 080 • Fax 217 153 774
info@dinalivro.com / editora@dinalivroedicoes.com
www.dinalivro.com
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10 Curso
de
Tarot
Bibliografia..................................................................................................................... 603
Introdução à Primeira Edição Brasileira
A maior dificuldade que tive como amante, e depois como profissional do Tarot, foi
a inexistência de trabalhos profundos, científicos e práticos com os quais pudesse pes-
quisar a base teórica necessária para o voo da imaginação e da intuição.
Durante a década de 1980, percorri livrarias europeias e latino-americanas, encon-
trando apenas trabalhos fragmentários e superficiais. Extremamente moralistas e disso-
ciativos, com pouca ou nenhuma referência aos Arcanos Menores, esses textos foram,
enfim, dignos representantes de um tempo que já passou.
Em 1984, chegou às minhas mãos O Livro de Thoth, de Aleister Crowley, cujo bara-
lho tinha-me seduzido profundamente e já trabalhava com ele desde que o achei na
Livraria Argentina de Madrid, em 1981. Este texto abriu-me os olhos a todo um funda-
mento científico, firmemente estruturado acima da cabala hebraica e dos Quatro Ele-
mentos, e para uma proposta realmente aquariana, que casava perfeitamente comigo,
especialmente no que se refere a: Fazer o que tu queres é a Lei.
Os meus problemas, no entanto, não estavam totalmente resolvidos, já que Crow-
ley nunca descia aos significados concretos das cartas. Assim, na maioria dos casos,
além de faltar o fio condutor entre as ideias gerais e a interpretação prática da carta, os
significados particulares que encontrava nos textos disponíveis nada tinham a ver ou
eram contraditórios com as formulações arquetípicas do mago inglês. Durante alguns
anos, baseando-me na minha intuição e na necessidade óbvia de concretizar os signifi-
cados das cartas nas leituras, fui descendo das fundamentações científicas de Crowley
e elaborando uma relação de significados concretos que se distanciavam das interpre-
tações tradicionais, especialmente no que diz respeito aos Arcanos Menores e aos Maio-
res que Crowley reformulou.
Em 1987, impulsionado pela vontade de dar um manualaos meus alunos de Brasília,
comecei a escrever e a melhorar o texto em cada curso.Aos poucos este livro foi ganhando
forma. Tenho a certeza de que, apesar das suas deficiências, será de grande utilidade e
gratificação para os interessados no Tarot, especialmente para os que trabalham com o
baralho de Crowley, com uma abordagem de autoconhecimento e transformação.
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18 Curso
de
Tarot
Teria ficado muito feliz se, em 1980, quando comecei a percorrer este caminho
maravilhoso, tivesse algo semelhante a este manual de Tarot à minha disposição. Dis-
tingo nesta obra três partes, em função do meu grau de paternidade: ao falar em nume-
rologia, cabala, mitologia, astrologia e símbolos, a minha função foi de compilar e
peneirar os dados de toda uma série de textos que relaciono na bibliografia; no
momento de passar os significados gerais das cartas, baseado nos conceitos clássicos
actualizados por Crowley e nos dados anteriores, incluí novas ideias e paralelismos,
inéditos num manual de Tarot; o terceiro nível são as interpretações para as diferentes
posições da Leitura Terapêutica, fruto de anos de leituras realizadas com todo o tipo de
pessoas de três continentes: funcionários públicos, monges tibetanos, diplomatas,
hippies, artistas, polícias, ladrões, agricultores e outros andarilhos do caminho real.
É importante dizer que os significados nas dez posições não devem ser aplicados
literalmente nas leituras, mas estudados com cuidado por enriquecerem consideravel-
mente o significado geral de cada carta. São uma boa pista de descolagem para a intui-
ção do leitor. Ao mesmo tempo, ajudam o tarólogo a familiarizar-se com os mecanismos
de interpretação das cartas, em função da sua posição e aspectos.
Não vou dizer que este livro ou algumas das suas passagens foram recebidos de
mentores ou entidades espirituais. Mas tenho a certeza de que a Existência conspirou
para ajudar-me a ter hoje, 16 de Maio de 1990, este ensaio pronto para vós. Espero que
gostem e que tirem proveito.
Veet Pramad
Introdução à Segunda Edição Brasileira
Desde que escrevi a primeira edição já se passaram mais de seis anos. Meia dúzia
de revoluções solares e o mundo muda cada vez mais rapidamente. Embora estejamos
longe da humanidade amorosa, meditativa, consciente e espiritual dos profetas da Era
de Aquário, podemos ver tremendas transformações que indicam que os tempos muda-
ram e uma Nova Era se aproxima, queiramos ou não.
Se desde a Idade da Pedra até 1940 a maior parte da população se dedicava a plan-
tar e pastorear rebanhos, isto é, a produzir comida, depois de um breve período de
predominância dos operários industriais, hoje é o sector terciário quem preenche mais
folhas de pagamentos.
O espaço e o tempo mudaram. A revolução das comunicações acabou com o
tempo, e a dos transportes com as distâncias – o espaço.
A população multiplicou-se três vezes de 1914 a 1990, já chegando a seis mil
milhões de habitantes que a cada ano vão arrasando as florestas, os recursos hídricos e
energéticos, a terra fértil, milhares de espécies, a pesca, enfim, ameaçando transformar
o Planeta azul num imenso deserto.
Jamais nós, humanos, nos matámos desta forma. Nos primeiros 93 anos do século XX
foram massacradas 187 milhões de pessoas. Este genocídio sistemático e ininterrupto
mostra que estamos a regredir para padrões de barbárie e selvajaria nunca antes alcan-
çados.
A mulher quebrou o padrão machista milenar que a deixava a cuidar da família,
presa ao lar, e foi à luta. Já em 1980, mais de metade das mulheres casadas norte-
-americanas trabalhava fora de casa representando também metade dos estudantes uni-
versitários, dos empregados em bancos, vendedores de imóveis, 35% dos professores
universitários e 30% dos especialistas em informática. As mulheres do Primeiro Mundo
estão mais interessadas na realização profissional do que no casamento e em ter filhos.
Em 1991, 58% das famílias negras norte-americanas eram comandadas por mulheres. Se
o fundamentalismo islâmico, constituído em governo, regrediu esse processo nos países
árabes, na Europa as igrejas estão a ficar vazias. E quem se interessa pela espiritualidade
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de
Tarot
Hoje, quinta-feira, 15 de Agosto de 1996, estou a concluir este ensaio que entrego
de coração aos meus companheiros de viagem, amantes e profissionais do Tarot.
Veet Pramad
CAPÍTULO 1
Quem olha para fora sonha; quem olha para dentro acorda.
Carl Jung
Adivinhação e Autoconhecimento:
duas visões excludentes
1. As nossas vidas não são o produto das circunstâncias, mas sim das nossas deci-
sões, somos plenamente responsáveis pela vida que temos.
2. Tomamos as nossas decisões a partir das nossas crenças e padrões de compor-
tamento, construímos a nossa vida a partir das nossas crenças.
3. O principal obstáculo para atingir a realização em qualquer aspecto da vida
somos nós mesmos, isto é, as nossas resistências a mudar as crenças e os padrões
de comportamento que não funcionam.
4. Atraímos o que precisamos para crescer.
5. Cada um de nós tem dentro de si os potenciais necessários para realizar-se em
todos os aspectos e ser feliz.
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30 Curso
de
Tarot
1. A Questão do Destino
Para quem faz futurologia, o Tarot é um intermediário entre o Todo-Poderoso des-
tino e os simples mortais. Assim, estes são reduzidos a espectadores das suas próprias
vidas.
Para o Tarot Terapêutico, somos os cozinheiros do nosso destino, continuamente
estamos a criá-lo a partir das nossas escolhas e em qualquer momento podemos mudá-
-lo. O destino é o retorno da inconsciência. Quando precisamos, para evoluir, de per-
ceber alguma coisa interior, então atraímos repetidamente circunstâncias que nos obri-
gam a acordar para aquela coisa. Quando percebemos e tomamos consciência de algo
que não percebíamos, mudamos o nosso destino. Quando existe consciência existe
livre arbítrio. Quando não existe consciência existe destino. É claro que a nossa capa-
cidade de transformarmos as nossas vidas, isto é, de criarmos o nosso futuro segundo
os nossos desejos será proporcional à nossa consciência. O Tarot bem usado é uma
ferramenta para mudar o destino, pois ajuda-nos a tomar consciência do que realmente
está a atrapalhar a nossa realização e mostra que atitudes são necessárias para nos liber-
tarmos.
2. A Questão da Responsabilidade
Para o Tarot divinatório, o ser humano é um perfeito irresponsável. Que responsa-
bilidade pode ter alguém cuja vida está amarrada ao destino, até ao ponto de poder
conhecer o seu futuro? Liberdade e responsabilidade caminham juntas. Se insistirmos
em mostrar aos nossos consultantes que as suas vidas são o produto de estranhas e
imprevisíveis forças como sorte, azar, vontade divina, quando não de trabalhos de
magia onde intervêm entidades não encarnadas, estamos a despromover seres huma-
nos à categoria de escravos que nunca poderão libertar-se por si mesmos. E então
chegam os salvadores...
Segundo a visão terapêutica, somos totalmente responsáveis pela vida que leva-
mos. Parar de colocar a responsabilidade (ou a culpa) da nossa situação nos outros, no
companheiro(a), nos pais, no chefe, no governo, no destino... é o primeiro passo para
mudar.
A Grande Viagem
O Caminho da Vida
Abordar os Arcanos Maiores é uma grande aventura. Encará-los como um método
sistemático, estudando cada carta por meio dos seus símbolos e correspondências caba-
lísticas, astrológicas e numerológicas, poderia parecer, aos não iniciados, uma leitura
árida, enquanto fornecer uma lista de significados práticos deixaria o leitor com a
dúvida: mas de onde vem tudo isto?
Eis a razão deste capítulo: suscitar, com cada Arcano Maior, determinadas reverbe-
rações internas que facilitem uma visão pessoal das cartas. Vendo como estas reflectem
as nossas vidas e que aspectos e atitudes de nós mesmos aparecem nelas, passaremos
a conhecê-las mais facilmente e teremos um referencial mais vivo quando, a partir do
capítulo 6, iniciarmos o estudo sistemático.
Consideraremos a sequência dos Arcanos Maiores como a Grande Viagem do ser
humano à procura de si mesmo e da sua realização pessoal, e cada uma das 22 cartas
como um determinado estado de consciência que vai desde a absoluta potencialidade
do Louco até à realização pessoal, plena consciência ou síntese final do Universo.
Esta abordagem estaria muito dificultada se, como em muitos baralhos antigos e
alguns modernos, colocássemos O Louco no final da sequência como Arcano XXII e
não no início como Arcano Zero. Nesta posição, O Louco entrará em contacto com cada
uma das 21 cartas restantes, que serão desafios e provas por meio dos quais ele se irá
transformando. O Louco é o recém-nascido, puro, espontâneo e inocente. Representa
o estado potencial das coisas.
Alguns autores atribuem-lhe o significado de inconsciência. Nada mais falso.
O bebé sabe muito bem o que quer e o que não quer (melhor do que muitos adultos),
do que gosta e do que não gosta; ele não duvida, age a partir de referenciais internos
profundos, tais como os seus instintos, que, salvo graves problemas intra-uterinos,
conservam-se intactos. A sua memória corporal, que ainda não foi bloqueada por ten-
sões psicofísicas, engloba as lembranças de toda a sua evolução. Estaremos, então, mais
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Tarot
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54 Curso de Tarot
Tentar reduzir esta maravilha que nos rodeia a uma realidade mensurável
é uma grande asneira.
Na Idade Média era: Isto é dogma de fé, acredita ou morre . Depois, com a viragem
do pêndulo e entrada no século das luzes passou a ser: Só é verdade, só é objecto do
conhecimento aquilo que pode ser quantificado e demonstrado cientificamente.
De maneira que os fenómenos cujas propriedades não se conseguiam medir foram
considerados meras projecções subjectivas que deveriam ser excluídas do domínio da
ciência. Assim, o riquíssimo mundo da Astrologia, talvez a cosmovisão melhor elabo-
rada do mundo antigo ocidental, foi reduzido pela nova ciência newtoniana a três
insípidas leis matemáticas1.
A humanidade foi-se habituando, com os seus cientistas na cabeça, a ver o mundo
como um conjunto de objectos ilhados e neutros que cumprem mecanicamente certas
leis matemáticas, até ao ponto de olhar o próximo e a nós mesmos como se fôssemos
seres previsíveis e programados, sem amor, sem srcinalidade, sem iniciativas nem
espontaneidade, sem beleza, sem sensibilidade nem sentimentos, sem prazer nem pos-
sibilidade de transcendência. Uma pena, não é? E o pior é que qualquer um que fique
fora destes parâmetros é considerado perigoso. É melhor desistir de conceituar o Tarot
e aproximar-se dele usando os símbolos como pontes. Assim, encontraremos um con-
junto de paralelismos entre as cartas e as ideias fundamentais, mitos e lendas das cultu-
ras antigas como da Índia védica, o Egipto faraónico, a Grécia clássica, o taoísmo chi-
nês, a Cabala hebraica, o gnosticismo, etc.
O Tarot é frequentemente chamado O Livro de Thoth. Alguns autores acreditam que
Thoth introduziu o Tarot no Egipto. Este foi um personagem mítico, a quem os antigos
1 Leis de Kepler: 1.ª – Os planetas descrevem órbitas elípticas, sendo o sol um dos seus focos. 2.ª – Em
tempos iguais um planeta percorre territórios iguais. 3.ª – Os quadrados dos tempos das revoluções pla-
netárias são proporcionais ao cubo dos grandes eixos das órbitas.
Ritual e Sistemas de Leitura 71
O pano participa da mesma energia das cartas e deve ser tratado com o mesmo
cuidado. É preferível guardar o baralho envolvido no pano, dentro de uma bolsa ou
uma caixa de madeira (de preferência artesanais) ou embrulhado num cobertor de lã
que abriremos juntamente com o pano.
O Lugar
Embora possamos ler o Tarot em qualquer lugar que tenha um astral limpo, é reco-
mendável dispor de um lugar específico. A energia que geramos quando realizamos
uma consulta também carrega o local. Podemos criar um pequeno templo cuja energia
favorecerá as leituras subsequentes. Sempre que for possível, é importante ter um
quarto dedicado exclusivamente à leitura do Tarot ou actividades afins. Nesse espaço
procuraremos o nosso lugar de poder. Para isso, é preferível tirar todos os móveis e
depois deitar no chão, rodar e arrastar-se até acharmos o local onde nos sentimos
melhor. Sentados nele, giraremos 360 graus para encontrar a orientação ideal. Definida
a posição da leitura, colocaremos nela uma mesa redonda, sem esquinas, para que a
energia circule melhor, e baixa, pois assim tem-se a opção de sentar no chão ou numa
cadeira; em cima da mesa abriremos o pano de seda. Também pode ser no chão, em
cima de um tapete ou de cobertor.
Na natureza, existem locais que possuem uma vibração especialmente favorável
para estes propósitos: cascatas, rios, grandes árvores, rochas, lagos, etc. Entretanto, é
importante pedir permissão e ajuda aos elementais ou guardiões espirituais do lugar.
Quando colocamos Tarot nesses lugares, ao domicílio ou em qualquer lugar que não
seja aquele que tínhamos preparado para isso, é conveniente colocar um cobertor
debaixo do pano.
Não acho adequado transformar o nosso consultório numa tenda cigana ou de pai-
-de-santo. Determinadas imagens de deuses, santos,profetas, mestres espirituais ou sím-
bolos esotéricos podem causar projecções nos nossos clientes queatrapalham a compre-
ensão da leitura. Sugiro ter apenas plantas, imagens da natureza ou uma fonte que gere
prana, limpe a energia do local e proporcione um agradável e relaxante rumor de água
a circular. Não vejo inconveniente em usar os quatro elementos sob diferentes formas,
como velas, copos com água, cristais ou até uma adaga, sempre que seja um de cada e
sejam colocados de uma maneira discreta. Quantos mais objectos colocamos num lugar
mais difícil se torna a circulação da energia, e é importante que o nosso consultório esteja
sempre bem ventilado. Também não meparece interessante usar incensos ouaromatera-
pia, pois não sabemos se os nossos clientes gostam ou se são alérgicos a eles.
A Leitura
tante, já que a sua energia pode interferir na magnetização do baralho e, algumas vezes
também, na receptividade deste durante a leitura. Um intérprete pode ser aceite, mas
permanecerá fora da sala durante a magnetização. Uma vez iniciada a sessão, leitor e
consultante devem abster-se de qualquer outra actividade, como fumar, beber, comer,
atender telefonemas, etc., para colocarem toda a atenção na leitura. Antes de cada con-
sulta, o leitor deve preparar-se interiormente, deixando fluir o seu amor, aceitando
todas as situações da sua vida, colocando de lado os seus problemas particulares e os
seus desejos, com excepção de ajudar o consultante.
Qualquer leitura deve começar com um bom relaxamento, que pode ser obtido
com uns minutos de respiração profunda. Não adianta começar uma leitura com o con-
sultante inquieto e ansioso; é preferível ajudá-lo primeiro a serenar e a centrar-se.
Nenhum objecto, como chaves, óculos, carteira, telemóvel, etc., devem ser colocados
sobre o pano de seda. Também é melhor que o consultante e o leitor deixem os sapatos
fora da sala de leitura. O leitor deve evitar que o consultante fale compulsivamente,
dando informações que podem alterar a abordagem, essencialmente intuitiva que a
leitura deve ter. Isto não quer dizer que o leitor deva fechar os olhos às mensagens
corporais e energéticas que o consultante passa e que deveriam complementar o que
as cartas revelam.
Uma vez criado o ambiente propício para a leitura, e nunca antes, o leitor abrirá o
pano e escolherá uma carta para representar o consultante. Se o consultante estiver
interessado em estudar apenas um assunto específico, a carta representará tal assunto.
Porém, é sempre melhor fazer antes uma leitura geral, para colocar as coisas no seu
devido lugar, isto é, dar a cada assunto a importância que realmente tem, dentro de um
contexto em que o centro é o consultante.
A carta que representa o consultante é uma ponte entre as cartas e o assunto estu-
dado, que a partir de agora consideraremos que é o próprio consultante. Existem dife-
rentes sistemas para escolhê-la. Há tarólogos que usam A Sacerdotisa se o consultante
for uma mulher e O Mago se for um homem. Este sistema é demasiado simplista e deixa
fora do jogo cartas importantíssimas. Particularmente prefiro não usar Arcanos Maiores
senão uma das 16 Figuras da Corte, que com oito personagens masculinos e oito femi-
ninos, representam tipos de personalidade, tal como vemos no capítulo 9 na secção:
Figuras da Corte e a Carta do Consultante. Se não tivermos a hora de nascimento, usa-
remos o signo solar e, se nem a data tivermos, escolheremos intuitivamente.
Enquanto o consultante relaxa colocando a sua atenção na respiração, o tarólogo
baralha seis vezes as cartas para que estas percam os restos de magnetizações anteriores
e, quando acabamos, entre uma consulta e outra, baralhamos outras seis vezes 1. Se
sentirmos que o baralho está muito carregado damos-lhe uns sopros frios, isto é,
fazendo bico com a boca por onde sopramos do menor tamanho possível.
Assim já estamos prontos para invocar, isto é, para nos conectarmos com o mundo
espiritual. Agora o tarólogo deve deixar-se ir sem que os seus problemas, crenças e/ou
projecções distorçam a leitura.
Juntando as três:
Atribuições astrológicas dos Arcanos Maiores – A partir desta primeira relação dos
Arcanos Maiores com os Caminhos Cabalísticos e as Letras Hebraicas deduziremos as
suas atribuições astrológicas. Nas duas primeiras colunas da tabela a seguir, colocamos
os 22 Arcanos Maiores na sua sequência tradicional, isto é, sem trocar a Força e a Justiça
CAPÍTULO 6
O LOUCO
tudo surge
s O Ser
o
tr O Retorno Humano
u
O Universal
muda
co
ri O Espírito
ét
so do Éter 1
E
93
94 Curso de Tarot
baseando-se na forte
proceder de Maat 1 influência egípcia
, a deusa-abutre que, que vê noessa
segundo Tarot, que Mat
tradição, tempoderia muito
o pescoço bem
espira-
lado e, fecundada pelo vento, gera todas as espécies animais. O título esotérico do
Louco é «O Espírito do Éter».
Número – O Louco é o Arcano n.º Zero. Esta palavra procede do árabe Cifa ou Sifr,
que significa «Vazio». Dela derivam as palavras esfera e cifra e, em francês, cifre, cujo
significado é «número». O vazio é a fonte e a condição da Existência, como o silêncio é
a fonte e a condição do som. A ideia do vazio foi trabalhada por diferentes tradições.
Na China, foi chamado de Tao, os cabalistas chamaram-na de Ain Shoph, e os físicos
contemporâneos, de vácuo.
1 Maat ou Mut, esposa de Amon, cujo nome significa literalmente «mãe», não deve ser confundida com Ma’at
a deusa, também egípcia, da Justiça e da Verdade.
180 Curso
de
Tarot
O ERMITÃO
o O Profeta do I
icr Eterno.
té
so O Mago da
E 10
Voz do Poder.
Número – O Nove, que é a manifestação do Três (n.º do Espírito) nos três planos
cabalísticos da existência: Neshamah ou espiritual, Ruash ou psíquico e Nephesh ou
biológico, é o número atribuído ao Ermitão.
O Nove.
Em muitas tradições (asteca, maia, taoísta e budista) existem nove céus. Como o
lósofo grego, Parménides (515-414 a.C.), podemos dizer que o Nove faz referência às
coisas absolutas. Para os taoístas, é o número da plenitude. O Tao Te King contém
81 (9 × 9) capítulos. Também podemos considerar o Nove como o Cinco (n.º do ser
humano) sobreposto ao quatro (n.º da matéria), representando assim o aspecto mais
espiritual e elevado do ser humano. A nossa numeração decimal está baseada no Nove,
que é o Zero num ciclo superior de numeração, assim como o Dez (10 = 1 + 0 = 1) é
o Um num novo ciclo. A raiz latina de Nove significa «novo».
A grafia árabe deste número lembra uma espiral aberta, enquanto o Zero pode ser
considerado uma espiral fechada. Matematicamente, existe um forte parentesco entre
estes dois números:
a) Qualquer número somado a Nove ou a Zero e reduzido, acaba por dar o mesmo
número. Exemplo: 5 + 9 = 14 = 1 + 4 = 5; 5 + 0 = 5
b) Qualquer número multiplicado por Nove e reduzido dá Nove, do mesmo modo
que qualquer número multiplicado por Zero dá Zero. Exemplo: 5 × 9 = 45 = 5
+ 4 = 9; 5 × 0 = 0
182 Curso
de
Tarot
Letra hebraica:
A Golden Dawn e também Crowley atribuem a letra Yod ao Ermitão. É simples, branca
e feminina e, no entanto, representa o Princípio Masculino no Tetragramaton. O seu valor
numérico é dez e como o Um, na matemática, Yod é a base da construção do alfabeto
hebraico. Significa mão e simboliza o início, a semente, o Princípio Masculino fecundante.
Hieroglificamente, representa a manifestação potencial. Tem o som do I.
Atribuição astrológica:
O 20.º caminho.
O signo atribuído a este Arcano é Virgem. Trata-se de um
signo de Terra, mutável, regido por Mercúrio. Dos três signos de Terra é o mais femi-
nino e receptivo, vinculado especialmente ao cereal, alimento fundamental das grandes
civilizações de todos os tempos, e a Deméter2.
Virgem governa os intestinos, o sistema nervoso e em geral o abdómen. A função
destes nativos é conservar a pureza dos princípios que facilitam a reprodução dos seres
e das coisas e fazem com que os esforços sejam proveitosos. Adoram analisar, catalogar,
discriminar e observam os menores detalhes, apontando o que lhes parece errado.
Pensam que a sua missão é ordenar o mundo. Geralmente, expressam melhor os seus
talentos como subalternos e não como líderes. Tímidos, reservados e lógicos têm um
sentido crítico perigosamente desenvolvido. São ordenados, metódicos, precisos e mui-
tas vezes insuportavelmente perfeccionistas. Não gostam de precipitar-se nem se dei-
xam levar com facilidade pelos impulsos. As suas paixões são moderadas e preferem a
diplomacia e a conciliação à guerra e à disputa. Preocupam-se muito com a alimenta-
ção, saúde e segurança material. São eternos aprendizes. Têm notável tendência para
adoecer do aparelho digestivo, a intoxicar-se e a sofrer de distúrbios do sistema ner-
2 Deméter na Grécia, Ceres em Roma, deusa da fertilidade, da terra e dos cereais, foi quem conservou
uma maior proximidade com a Deusa, que com a chegada do patriarcado viu desmembrados os
seus atributos entre as diferentes deusas. Na Escola de Mistérios de Eleusis, dedicada a Deméter,
mantiveram-se vivos rituais neolíticos dedicados srcinalmente à Deusa.
304 Curso de Tarot
trou, em torneios
cerimónias e outras devia
mais íntimas, provas,também
ser o mais capaza de
mostrar suacomandar
virilidadeospara
exércitos dela.
cumprir Em
a sua
segunda e última função: dar uma herdeira ao reino. Quando a Princesa herdeira casa,
passa a ser Rainha, e o Cavaleiro torna-se Rei. Segundo as lendas mais antigas, este teria
que matar o seu sogro, o velho Rei, com as suas próprias mãos, como uma prova adi-
cional das suas capacidades. Que será do gamo rei quando o jovem gamo crescer?
Marion Zimmer Bradley, As Brumas de Avalon. Esta morte foi-se tornando cada vez
mais simbólica, sendo suficiente que o velho Rei, muitas vezes acompanhado da sua
esposa, abandonasse as suas funções, retirando-se do castelo.
Vejamos as correspondências entre as Figuras da Corte de diferentes tarots:
As dezasseis figuras resultam das combinações dos quatro elementos: Fogo, Água,
Ar e Terra, com ele mesmo e com os três restantes. Relacionam-se os quatro elementos
com as quatro séries ou naipes, as quatro figuras e os aspectos da quaternidade humana
conforme a seguinte tabela:
O CAVALEIRO DE PAUS
Natureza Interna e Expressão Externa Fogosas
Na Leitura Terapêutica
Momento actual – O consultante está a sentir um forte impulso interno para tomar
uma iniciativa de srcem instintiva. Provavelmente, conteve-se durante muito tempo,
até à saturação. A segunda carta pode mostrar factores que travam esta iniciativa ou de
que maneira ela se manifesta. Pode ser uma libertação de tudo aquilo que sufocava o
seu lado instintivo ou uma explosão, brusca, violenta e/ou auto-destrutiva, no pior dos
casos, embora
determina um represente
movimentosempre uma Duas
centrífugo. intensavezes
libertação. A energia
Fogo indicará umexpansiva
explosivodomovi-
fogo
mento do centro para a periferia. Muitas coisas são deixadas para trás. Pode indicar o
início de uma viagem, de uma fuga ou a ruptura de vínculos matrimoniais, de trabalho
ou financeiros.
Âncora – Mostra uma dificuldade crónica para administrar os seus impulsos instin-
tivos. Se tiver muito fogo no seu mapa, mais de 50%, provavelmente não conseguirá
acalmar-se, correndo sempre compulsivamente. Se parar, poderia entrar em contacto
com as causas da sua agitação e com os seus verdadeiros impulsos, porém sentir-se-ia
ameaçado, de maneira que prefere retomar a sua cega carreira em direcção a lugar
algum, e a ansiedade aumenta. Explode por qualquer coisa, no trânsito discute com os
semáforos. É incapaz de conectar-se com as suas emoções e de manter uma visão
objectiva da realidade que o circunda, de maneira que pode ter acidentes e destruir-se
com facilidade. A sua maneira de agir é muito impulsiva, de forma que dificilmente
consegue realizar ou concretizar alguma coisa, embora possa começar muitas. No
mundo prático, seja relacionamentos, trabalho, saúde, costuma ser um desastre. Pode
sofrer de paranóia obsessiva. Sugeriremos o floral de Impatiens.
Se tiver menos de 10% de Fogo no seu mapa astrológico nem consegue expressar
os seus impulsos instintivos nem dirigir essa energia acumulada para outras coisas.
Permanece num estado de sufoco e irritação latente.
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376 Curso
de
Tarot
As espadas são forjadas no fogo e temperadas na água, assim como o elemento Ar,
masculino/activo, ao qual correspondem, é filho dos elementos primordiais masculino
e feminino, Fogo e Água. As Espadas correspondem à mente. Assim como estas se
temperam e amolam, a mente agudiza-se e amplia-se. As espadas têm dois gumes, com
um destroem, mas com o outro podem construir (por exemplo, um estado de direito
onde impera a lei), e a mente pode negar ou afirmar e mover-se sempre no âmbito da
polaridade. No naipe de Espadas, temos o mundo da mente, das ideias, dos projectos,
da informação e da linguagem, da actividade mental, etc. As dez cartas de Espadas
mostram então dez estados ou mecanismos mentais: a mente silenciosa ou não-mente
no Ás, a mente conciliadora no Dois, arrasada pela dor no Três, destrutiva no Cinco,
objectiva no Seis, esponja no Sete, cruel no Nove, etc.
Finalmente, os Discos, matéria-prima dada pela natureza e depois trabalhada para
ser cunhada, são atribuídos ao elemento Terra, feminino/receptivo, o mais saturado dos
quatro elementos, correspondem em primeiro lugar ao nosso corpo, que inicialmente
nos é dado pelos nossos pais, mas que vamos construindo ou destruindo com as nossas
acções. Em segundo lugar, com o mundo material. Os temas dos Discos são o corpo e
as suas necessidades, a saúde, o dinheiro, a casa, as fontes de rendimento... As dez
cartas de Discos expressam dez maneiras diferentes de nos relacionarmos com o corpo
e com o mundo material: despertando a nossa consciência corporal e/ou iniciando um
empreendimento material no Ás, construindo uma estrutura estável no Quatro, des-
truindo o corpo e/ou as finanças no Cinco, melhorando a saúde e a beleza corporal e/
ou atingindo um estado financeiro de harmonia e equilíbrio no Seis, etc.
Resumindo:
Não somos compartimentos estanques, é claro que uma carta de Copas (emoções)
pode afectar-nos energeticamente. Por exemplo, o Oito de Copas (a Indolência), que
mostra um estado emocional de tristeza com tendência para a depressão, atingir-nos-á
no plano energético causando uma baixa na vitalidade; uma carta de Espadas (inte-
lecto) pode mexer com o nosso lado material, por exemplo, o Seis de Espadas (a Ciên-
cia), que mostra uma mente objectiva e realista, que pode ajudar-nos a melhorar a
nossa situação económica. No entanto, estaríamos a extrapolar se ligássemos os Paus
ao optimismo ou a negócios materiais. Dizer que as Copas são reflexões, experiências
tranquilas, alegria ou passividade, também não me parece correcto. Já com as Espadas,
provavelmente pela influência do Tarot divinatório, existem autores que, mesmo pro-
O Naipe de Espadas 469
Exemplos de Leitura
As duas primeiras leituras são transcrições de várias aulas do Módulo Prático Básico
da Formação em Tarot Terapêutico, onde são analisadas e comentadas leituras dos
arquivos do autor.
A terceira leitura é a transcrição de uma consulta.
Primeira Leitura
Carta da Corte:
Esta pessoa quase não tem Fogo 03, tem muita Água 48, e o Ar 26 e a Terra 29,
empatados. Vamos desempatar: em casas de Ar temos 45 e nas de Terra 29. O primeiro
elemento é a Água e o segundo elemento é o Ar. A Figura da Corte que mais se parece
com ela é o Príncipe de Copas.
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APÊNDICE 2
Resumo de Significados
0 ou 22 – O Louco
É a Potencialidade Absoluta prestes a manifestar-se.
Representa a criança com as suas características de espontaneidade, pureza, alegria,
inocência, amorosidade e potencialidade. Vive o aqui e o agora, instintivamente, brinca
e entusiasma-se. A sua mente perceptiva, não programada, sem conhecimentos prévios,
não julga. O inconsciente a desabrochar em desejos, anseios e impulsos dos seus talen-
tos a quererem manifestar-se. Mostra o resgate dos melhores aspectos infantis.
Sugere levar a vida menos a sério e descobrir novos potenciais internos que o
levam a dar um salto para o desconhecido.
(-) Síndrome do Peter Pan. A eterna criança/adolescente cuja prioridade é achar
alguém que tome conta dela. Com dificuldade em extrair lições das próprias experiên-
cias, procura o amor incondicional e estabelece relacionamentos filiais.
01 – O Mago
É o Princípio Masculino Universal, o Yang.
A acção, o uso dos conhecimentos e a habilidade. A vontade, a mente analítica e
perceptiva, a comunicação, o dinamismo, a capacidade de elaboração criativa e as rea-
lizações no plano mental. O consciente. A atenção.
Atenção e energia dirigidas para objectivos externos. Agilidade mental para elabo-
rar projectos, convencer aos outros; viagens e novos contactos geralmente profissionais.
Sugere partir para a acção, usar e abusar da criatividade mental, vender o seu peixe,
saber cobrar, comunicar e aproveitar as oportunidades.
(-) Comportamento agitado e ansioso, dificuldade em parar, calar e observar-se.
Desconectado das suas emoções, representa os perigos de uma excessiva racionaliza-
ção.
02 – A Sacerdotisa (A Papisa*)
É o Princípio Feminino Universal, o Yin.
A receptividade, a conexão com o interior e com a fonte das emoções, a calma, a
ausência de ansiedade e de qualquer tipo de tensão. A meditação, a sabedoria interior,
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APÊNDICE 3
Quadros
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APêNDICE 4
Tudo o que existe na superfície da Terra possui a sua duplicata espiritual no alto, e
não existe nada neste mundo que não esteja associado a algo e que não dependa de
algo. Assim escrevem os doutores da Cabala.
Segundo os cabalistas, o Princípio Criador não pode ser percebido, pensado, ima-
ginado nem descrito pelo ser humano. Foi provavelmente Isaac o cego, francês, consi-
derado o pai da Cabala, que de 1160 a 1180 ensinou na Provença, que designou essa
dimensão infinita e impensável com o nome de Ain Soph. Ele é a srcem não criada do
Universo.
É um estado indiferenciado que, por não ter limites, nada existe fora dele, escon-
dido é a raiz da polaridade. É o Princípio Criador, que anterior à manifestação, permeia
a manifestação. Ain Soph não é isto ou aquilo. Não é um ser, mas um não-ser. Isto não
implica numa ausência de existência infinita não manifestada. Três níveis ou véus for-
mam os graus intrínsecos de Ain Soph: Ain Soph Aur, a Luz Vazia e Ilimitada. É vazio,
luminoso, imóvel, inodoro e sem som. Ain Soph, propriamente dito, imaginado como
um círculo de circunferência incálculável cujo centro está em todo o lugar. Ain, a Nada.
«O Horror sem nome» frente ao qual a mente humana é derrubada. Ain, retirando-se «de
si mesmo em si mesmo» gerou no seu seio um espaço para o universo. Espaço que do
ponto de vista do absoluto é infinitesimal, mas do ponto de vista da criação representa
todo o espaço cósmico. Neste retirar-se é gerado Ain Soph. No último limite do não-
-criado, Ain Soph Aur, a Luz Vazia e Ilimitada, tomou a forma de um raio que, cruzando
o espaço cósmico, deu lugar a dez emanações de si mesma, chamadas sephiroth (esfe-
ras), umas após as outras, e, em consequência, o nosso universo. Assim, o caminho
percorrido pelo raio representa o próprio processo da manifestação que aparece inicial-
mente através de um ponto ou 1.ª esfera: Kether (a Coroa), o lugar de condensação que
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