Na Igreja, pouco a pouco, os ruídos É duro estar sozinho. calaram-se. Sozinho diante de todos, Foi-se embora toda a gente, Sozinho diante do mundo, E eu voltei para casa, Sozinho diante do sofrimento, do pecado, Passo a passo, da morte. Sozinho. Não estás sozinho, meu Filho, Cruzei-me com gente que voltava de um Estou contigo, passeio, Eu sou teu, Passei pelo cinema: vomitava uma Eu precisava, na verdade, pequena multidão, de uma humanidade a mais para Vagueei ao longo de esplanadas de cafés continuar a minha onde, cansados, Encarnação e a minha Redenção. Os domingueiros tudo faziam para esticar Desde toda a eternidade, Eu te um pouco mais a escolhi. Alegria de viver um Domingo de festa. Eu preciso de ti: Esbarrei nos miúdos que jogavam à bola Preciso das tuas mãos para na rua. continuara abençoar, Os garotos, Senhor! Preciso dos teus lábios para continuar Os filhos dos outros, que não serão nunca a falar, os meus. Preciso do teu corpo para continuar a E aqui estou, Senhor, sofrer, Sozinho! Preciso do teu coração para continuar No silêncio que me dói a amar, Na solidão que me oprime. Preciso de ti para continuar a salvar. Fica comigo, meu Filho. Tenho 33 anos, Senhor, Um corpo feito como os outros corpos, Senhor, eis-me aqui: Braços moços para o trabalho, Eis o meu corpo, Um coração reservado para o amor, Eis o meu coração, Mas tudo isto Te dei. Eis a minha alma. É verdade que de tudo precisavas, Fazei-me bastante grande para atingir o Tudo Te dei, Senhor, mas é duro Senhor. mundo, É duro dar o próprio corpo: ele queria dar- Bastante forte para carregar com ele, se a outro. Bastante puro para o abraçar, sem querer É duro amar toda a gente e não possuir guardá-lo. ninguém. Fazei que eu seja um ponto de encontro, É duro apertar a mão sem poder retê-la. sim, mas ponto de passagem. É duro fazer que brote uma afeição, mas Caminho que não pende para si próprio, para a dar a Ti. porque nele não há nada de humano a É duro nada ser para mim mesmo, encontrar, nada que não conduza a Ti. a fim de ser tudo para eles. É duro ser como os outros, entre os outros Esta tarde, Senhor, enquanto tudo em e ser um outro! volta está em silêncio, É duro dar sem cessar, sem procurar dentro do meu coração sinto morder receber. duramente a solidão. É duro alguém ir ao encontro dos outros, Enquanto o meu coração uiva longamente sem que jamais a fome de prazer, alguém venha ao meu encontro. enquanto os homens me devoram a alma É duro sofrer os pecados dos outros, sem e eu me sinto impotente para a saciar, poder recusar Enquanto sobre os meus ombros pesa o acolhê-los e carregá-los. Mundo inteiro, É duro receber os segredos, sem poder com todo o seu peso de miséria e pecado, compartilhá-los. eu repito o meu Sim. É duro arrastar os outros sem cessar e Não às gargalhadas, mas lentamente, nunca poder, um lucidamente, instante sequer, deixar-me arrastar pelos humildemente. outros. Sozinho, Senhor, sob o Teu olhar, É duro sustentar os fracos sem poder Na paz da tarde... apoiar-me sobre um