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95-5208 CDD-909
PREFACIO
Se tudo pudesse ser simples, eu diria que o presente volume explora,
acima do andar térreo da vida material - assunto do primeiro volume desta
obra -, os andares imediatamente superiores da vida econômica e, acima
desta, da ação capitalista. Essa imagem de uma casa com vários andares
traduz bem a realidade das coisas, embora as force em seu significado
concreto.
Entre "vida material" (no sentido de economia muito elementar) e vida
econômica, a superfície de contato, que não é contínua, materializa-se em
milhares de pontos modestos: feiras, bancas, lojas... Esses pontos são
todos eles rupturas:
de um lado, a vida econômica com suas trocas, suas moedas, seus pontos
nodais e seus meios superiores, praças comerciais, bolsas ou grandes
feiras; do outro, a "vida material", a não-economia, sob o signo
obcecante da auto-suficiência. A economia começa no limiar do valor de
troca.
Procurei, neste segundo volume, analisar o conjunto dos jogos da troca,
desde o escambo elementar até, e inclusive, o mais sofisticado
capitalismo. Partindo de uma descrição tão atenta e neutra quanto
possível, tentei apreender regularidades e mecanismos, uma espécie de
história econômica geral (tal como há uma geografia geral), ou, para quem
preferir outras linguagens, uma tipologia, ou um modelo, ou ainda uma
gramdtica capaz de fixar pelo menos o sentido de algumas palavraschave,
de algumas realidades evidentes, sem que, todavia, esta história geral
seja de
Capítulo -1
OS INSTRUMIENTOS DA TROCA
A economia, à primeira vista, consiste em duas enormes zonas: a produção,
o consumo. Aqui tudo acaba e se destrói, ali tudo começa e recomeça. "Uma
sociedade", escreveu Marx, não pode parar de produzir, tal como não pode
pa rar de consumir." Verdade banal. Proudhon diz quase a mesma coisa
quando afirma que trabalhar e comer são a única finalidade aparente do
homem. Mas entre esses dois universos se insinua um terceiro, estreito
mas vivaz como um rio, também reconhecível à primeira vista: a troca ou,
se se preferir, a economia de mercado
- imperfeita, descontínua, mas já coerciva durante os séculos que este
livro estuda, e seguramente revolucionária. Num conjunto que tende
obstinadamente para um equilíbrio rotineiro e só sai dele para a ele
voltar, é a zona da mudança e das inovações. Marx a denomina esfera da
circulaçã02, expressão que me obstino em achar feliz. Por certo, a
palavra circulação, vinda da fisiologia para a economia3 abarca muitas
coisas ao mesmo tempo. Segundo G. Schelle4 o editor das obras completas
de Turgot, este teria pensado em elaborar um Tratado da circulação em que
falaria dos bancos, do sistema de Law, do crédito, do câmbio e do
comércio, enfim, do luxo, isto é, de quase toda a economia tal como era
então entendida. Mas não terá a expressão economia de mercado hoje
assumido também um sentido mais amplo que ultrapassa infinitamente a
simples noção de circulação e de troca?'
......, cevada,
1 -
- 11 ,
J, , kl" -1
12.
i forma elementar, as feiras ainda hoje existem. Pelo menos vão sobrem
dias fixos, ante nossos olhos, reconstituem-se nos locais habituais
idades, com suas desordens, sua afluência, seus pregões, seus odores )
frescor de seus gêneros.
Antigamente eram quase iguais: algumas bando contra a chuva, um lugar
numerado para cada vendedor13, fixado, devidamente registrado e que é
necessário pagar conforme as exigên, oridades ou dos proprietários; uma
multidão de compradores e uma ! biscateiros, proletariado difuso e ativo:
debulhadoras de ervilhas que
têm fama de mexeriqueiras inveteradas, esfoladores de rãs (que chegam a
Genebra14 e a Paris" em carretos inteiros, de mula), carregadores,
varredores, carroceiros, vendedores e vendedoras ambulantes, fiscais
severos que transmitem de pais para filhos seu mísero ofício, mercadores
varejistas e, reconhecíveis pelas roupas, camponeses e camponesas,
burguesas em busca de algo para comprar, criadas que são hábeis em passar
a perna (dizem os ricos) nos patrões quanto ao preço ("ferrar a mula-,
dizia-se então) 16 padeiros que vão à feira vender grandes pães,
açougueiros com suas várias bancas atravancando ruas e praças,
atacadistas (mercadores de peixe, de queijo ou de manteiga por atacado)
17
icia às mulheres). É verdade que nas grandes cidades as feiras tendem is,
como em Paris, onde, em princípio (e muitas vezes de fato), só devear-se
às quartas e aos sábadOS27. Seja como for, intermitentes ou contí;
mercados elementares entre campo e cidade, pelo seu número e incanição,
representam a mais volumosa de todas as trocas conhecidas, como dam
Smith. Por isso as autoridades urbanas empenharam-se em sua ore
vigilância: para elas, é uma questão vital. Ora, são autoridades próxias
para punir, para regulamentar, que vigiam rigorosamente os preços. se um
vendedor exigir um preço superior em um só "grano" à tarifa Je até ser
condenado às galés! O caso aconteceu, em 2 de julho de 1611, o28. Em
Châteaudun 29 os padeiros surpreendidos em delito pela tercei"jogados
brutalmente de cima de uma carroça basculante, atados como Tal prática
remontava a 1417, quando Carlos de Orléans deu aos escalo de inspeção
sobre os padeiros. A comunidade conseguirá a supressão só em 1602.
igilâncias e repreensões não impedem a feira de se expandir, de engros)r
da procura, de colocar-se no centro da vida citadina. Freqüentada em a
feira é um centro natural da vida social. É nela que as pessoas se
enonversam, se insultam, passam das ameaças às vias de fato, é nela que
uns incidentes, depois processos reveladores de cumplicidades, é nela que
pouco freqüentes intervenções da ronda, espetaculares, é certo, mas
tamntes10. é nela que circulam as novidades políticas e as outras. No
con)rfolk, em 1534, na praça pública da feira de
Fakenham, criticam-se em atos e os projetos do rei Henrique V11131. E em
qual mercado inglês amos ouvir, ao longo dos anos, as palavras veementes
dos pregadores? Jão sensível interessase por todas as causas, até pelas
boas. A feira é lugar predileto dos acordos de negócios ou de família.
"Em Giffoni, a de Salerno, no século XV, vemos pelos registros dos
notários que no i, além da venda dos gêneros alimentícios e dos produtos
do artesanato -se uma percentagem mais elevada [do que habitualmente]
de contratos e venda de terrenos, de enfiteuses, de doações, de contratos
de casamen;tituições de dotes.--32 Tudo se acelera com a feira. Até, e
com toda a ovimento das lojas. Assim, em Lancaster, na Inglaterra, no
final do séWilliam
Stout, que ali tem loja, arranja ajudantes suplementares "on andfair
days' '33.
Trata-se decerto de uma regra geral. Contanto, evi, que as lojas não
sejam fechadas por lei, como acontece em muitas cidias de feiras locais
ou regionaiS34.
a sabedoria dos provérbios para provar que a feira e o mercado se siritro
de uma vida de relações. Eis alguns exemploS35: "Tudo se vende ienos a
virtude e a honra." "Quem compra o peixe no mar [antes de >J arrisca-se a
ficar só com o cheiro." Se não conheces bem a arte de i de vender, ah, "a
feira será tua mestra". Como na feira ninguém está em ti e pensa na
feira", isto é, nos outros.
Ao homem avisado, diz um Laliano, "valpiú avere amici in piazza che
denari nella cassa", vale mais ia praça que dinheiro no cofre. Resistir
às tentações da feira é a imagem para o folclore do Daomé atual. "A quem
te diz 'Vem e compra!' farás ponder: 'Não gasto mais do que tenho.--36
Os instrumentos da troca
1786 62. Mas, quando da vasta recessão que ocorreu, de um modo geral,
entre 1350
25
de aumentar, porém mais devagar. Como exprimi-lo melhor do que fez uma
historiadora: Londres vai comer a Inglaterra, --is going to eat up
England"9
Não era o próprio Jaime 1 quem dizia: " With time England will only be
London949 Evidentemente, estas frases são a um só tempo exatas e
inexatas. Há sub e sobreavaliação. O que Londres devora não é apenas o
interior da Inglaterra, mas também, se assim podemos dizer, o exterior,
uns 2/3 ao menos, uns 3/4 ou até uns
415 do seu comércio externo 95. Mas, mesmo com o reforço do tríplice
apetite da
Corte, do Exército e da Marinha, Londres não devora tudo, não submete
tudo à atração irresistível dos seus capitais e dos seus preços altos. E
até, sob sua influência, a produção nacional cresce, tanto nos campos
ingleses como nas pequenas cidades, "mais distribuidoras do que
consurnidoras- 96. Há certa reciprocidade nos serviços prestados.
O que se constrói em virtude do progresso de Londres é realmente a
modernidade da vida inglesa. O enriquecimento dos campos próximos torna-
se evidente, aos olhos dos viajantes, com as criadas de estalagem "que
tomaríamos por damas, tão bem vestidas andavam", com camponeses bem
vestidos, que comem pão branco e não usam tamancos, como o camponês
francês, e andam até a cavalo". Mas, em toda a sua extensão, a Inglaterra
e ao longe a Escócia, o País de Gales, são atingidos e transformados
pelos tentáculos do polvo urbano91. Qualquer região que Londres atinge
tende a especializar-se, a transformar-se, a comercializar-se, em setores
ainda limitados, é verdade, pois entre as regiões modernizadas mantém-se
mui~ tas vezes o regime rural, com seus sítios e suas culturas
tradicionais. Assim, o
Kent, ao sul do Tâmisa, muito perto de Londres, vê crescer nas suas
terras os pomares e as plantações de lúpulo que abastecem a capital, mas
o próprio Kent continua o mesmo, com seus camponeses, seus trigais, seus
rebanhos, seus bosques compactos (covis de salteadores) e, o que não
engana, a abundância de sua caça:
faisões, perdizes, tetrazes, codornizes, cercetas, patos selvagens... e
essa espécie de hortulana inglesa, o cartaxo - --só dá para uma dentada,
mas não há nada mais suculento" 99.
Outro efeito da organização do mercado londrino é a ruptura (inevitável,
dada a amplitude das tarefas) do mercado tradicional, do open market,
mercado público, transparente, que punha frente a frente o produtor-
vendedor e o compradorconsumidor da cidade. A distância entre ambos
torna-se grande demais para ser transposta totalmente por gente modesta.
O mercador, o terceiro homem, surgiu há muito tempo, pelo menos desde o
século XIII, na Inglaterra, entre o campo e a cidade, particularmente
para o comércio do trigo. Pouco a pouco, formam-se cadeias de
intermediários, de um lado, entre o produtor e o grande mercador, do
outro, entre este e os revendedores, sendo que por essas cadeias passará
a maior parte do comércio de manteiga, de queijo, de produtos avícolas,
de frutas, de legumes, de leite... Nesse jogo, perdem-se as prescrições,
hábitos e tradições, que voam em estilhaços. Quem diria que o ventre de
Londres ou o ventre de Paris iam ser revolucionários! Bastou-lhes
crescer.
Cada cidade tem pelo menos um mercado, habitualmente vários. Aos mercados
e feiras locais, há que acrescentar as feiras regionais. Mesma referência
do mapa anterior, pp. 468-4 73.
us instrumentos aa troca
Pondo de lado cinco ou seis aldeias que, excepcionalmente, conservaram
seus mercados, contam-se, na Inglaterra dos séculos XVI e XVII, 76O
cidades ou burgos com uma ou várias feiras, e 5O no País de Gales, com
por volta de 80O localidades providas de feiras regulares. Se a população
total dos dois paises se situa em cerca de 5, 5 milhões de habitantes,
cada uma dessas localidades abrange nas suas trocas, em média, 6 mil a 7
mil pessoas, ao passo que reúne dentro de seus limites, também em média,
mil habitantes. De modo que uma aglomeração mercantil implicaria sua vida
de trocas, por alto, entre seis e sete vezes o volume da sua própria
população. Encontramos proporções análogas na
Baviera, no fim do século XV111: conta-se aí uma feira para cada 7.30O
habitantes 102. Tal coincidência não deve fazer-nos pensar numa
regularidade qualquer. As proporções variam seguramente de uma época para
outra, de uma região para outra. E ainda é preciso estar atento para a
forma como cada cálculo é feito.
223 dias defeira por ano. Quanto àsfeiras locais, são 85 por semana,
havendo, por ano, 4.42O dias defeira. A população da généralité está
então compreendida entre 600.00O e 620.00O pessoas. A sua superfície é de
cerca de 11.524 kn2.
Levantamentos análogos permitiram úteis comparações através do território
francês.
31
diz uma correspondência diplomática, "deveria pelo menos tomar algum com
os murmúrios que suscita no povo a excessiva carestia das provisões e
tanto mais que os murmúrios se baseiam num abuso que pode ser
justamputado aos que governam [ ... 1 porque a principal causa dessa
carestia [...]
'z dos monopolizadores de que esta capital fervilha. Recentemente,
puseram3ndições de se antecipar às feiras, correndo pelas avenidas ao
encontro do
Feira local em Antuérpia. Mestre anônimo dofim do século XVI. Museu Real
de
Belas-Artes de Antuérpia. (Copyright A. C.L., Bruxelas.)
I 4,
171
que nunca lhe sobra, por assim dizer, dinheiro vivo nas mãos no fim do
ano, ad quiriu o hábito de contar em termos monetários. com o tempo,
trata-se de uma mudança de mentalidade. Uma mudança das relações de
trabalho que facilita as adaptações à sociedade moderna, mas que nunca
reverte em favor dos mais pobres.
43
'os da troca
Jade que não há aqui, nessas coisas, a boa ordem que se encontra em
outros
1 1
5es que ela acarreta continuam a impor-lhe uma espécie de mácula. Ainda
i0a, li'llion
I tho Biggins
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Settle Colne
- .=Accringtonj I Halif?x-(DLeeds aslingd an-ury t OWakefield igan
Cluarmby (D (D
Li___ I Y(D Saddleworth
gram a bolsa - -11 O Português 1... 1 até por um ducado, Petiscos que
logo sanEnfim, há lojas e lojas. Também impõe depressa distinções; há
Comerciantes e comerciantes. O dinheiro ro":
no topo, alguns merc 109O de início, abre o leque do velho ofício de
merceeiadores 11
1776, pos:
a honra mercante são os Seis Cor na ordem, fanqueiros, merceeiros,
cambis- tas, ourives, armarinheiros, peloiros. Em Madri, no primeiro
plano, Os Cinco
GremiOs Mayores, cujo Papel financeiro será considerável no século XVIII.
Em
Londres, os Doze Corpos. Na Itália, nas cidades livres da Alemanha, a
distinção foi ainda mais nítida: os grandes mercadores to naram-se, de
fato, uma nobreza, o patriciado; detêm O governo das grandes cidades
mercantes.
As lojas conquistam o mundo
Mas o essencial, do nosso ponto de vista, é que as lojas de comércio de
todas as categorias conquistam, devoram as cidades todas as cidades C
logo as próprias aldeias, onde se instalam, já no século XVII e'
sobretudo no século XVIII, armarinheiros inexperientes, estalajadeiros de
quinta categoria e taberneiros. Estes, usurários modestos mas também
"Organizadores dos festejos coletivOs", encontramse ainda instalados nas
zonas rurais francesas dos séculos XIX e XX. Era à taberna da aldeia que
se ia "jogar, conversar, beber e distrair-se... tratar entre credor e
devedor, entre mercador e cliente, negociar mercados, fechar
aluguéis..... um Pouco o albergue dos pobres! Em frente à igreja, a
taberna é o outro Pólo da aldeia210.
Milhares de testemunhos confirmam esse surto lojista. No século XVI, há
um dilúvio, uma inundação de lojas Em 1606, LoPe de Vega Pode dizer de
Madri, que se tornara capital: -Todo * loja821 se ha vuelto tiendas,,,
tudo se transformou em
1 9
- visto que uma branca é uma moeda de dez dinheiros, entenda-se que ficou
reduzida ao último tostão. Qualquer lojista está sujeito a tal
infortúnio:
pagaram-lhe tarde, ou não lhe pagaram nada. Um armeiro, François
Pommerol, poeta nas horas vagas, queixa-se, em 1632239, da sua condição
em que --Há que labutar para ser pago/Ter paciência quando se está
aprazado" (ou seja, vítima de um prazo).
É a queixa mais comum quando o acaso nos põe ante os olhos cartas de
pequenos comerciantes, de intermediários, de fornecedores. "Escrevemo-vos
estas linhas para saber quando estareis dispostos a nos pagar", 28 de
maio de 1669. "Senhor, muito me espanta que minhas cartas tantas vezes
reiteradas obtenham tão pouco efeito, pois sempre se deve responder a um
homem honesto ..... 3O de junho de
1669. "Jamais pensaríamos que depois de nos terdes garantido que viríeis
até nós para liquidar a vossa conta, vós fôsseis embora sem nada dizer",
1 O de dezembro
57
os da troca . -Não sei mais como hei de vos escrever, vejo que não fazeis
caso das carvos mando ..... 28 de julho de 1669. "Faz seis meses que vos
peço que me provisão..... 18 de agosto de 1669. "Bem vejo que vossas
cartas só servem divertir..... 11 de abril de 1676. Todas estas cartas
foram escritas por di240
59
263
61
os aa troca almente das malfeitorias desse pessoal sem eira nem beira
273. Natural tame andem associados ao contrabando. A Inglaterra, por
volta de 1641, está
- mascates franceses que, segundo sir Thomas Roc, do Privy Council do
tribuiriam para o déficit monetário da balança do reino 2741 Não seriam
acós marinheiros que carregam fraudulentamente nas costas inglesas lã e
terra eiro e descarregam aguardente?
stuma-se afirmar que a vida exuberante da mascateagem se extingue por si
m que uma região atinge certa fase de desenvolvimento. Na Inglaterra,
teria -ecido no século XVIII, na França, no XIX. Todavia, houve um
recrudesciIa mascateagem inglesa no século XIX, pelo menos nos subúrbios
das cidaustriais mal servidas pelos circuitos normais de distribuição
275. Na França, -r estudo folclórico encontra vestígios seus no Século
XX276. Pensava~se ata-se de lógica a priori)
que os meios de transporte modernos lhe haviam o um golpe mortal. Ora,
nossos relojoeiros ambulantes de Magland utili-ros, diligências e até, em
1834, satisfatoriamente, um navio a vapor no lago M. É de pensar que a
mascateagem é um sistema eminentemente adaptá.alquer problema de
distribuição pode fazê-la surgir ou ressurgir; ou qualmento das
atividades clandestinas, contrabando, roubo, receptação; ou qualasião
inesperada que abrande as concorrências, as vigilâncias, as
formaliiormais do comércio.
sim, a França revolucionária e imperial foi teatro de uma enorme
proliferamascates. Acredite-se nesse juiz rabugento do tribunal de
comércio de
Metz resenta (6 de fevereiro de 1813) um longo relatório a Suas
Excelências os os do conselho geral do comércio em Paris 278 : --O
mascate de hoje não é de antigamente, com fardo às costas. É um comércio
considerável cuja seem toda a parte - conquanto não tenha sede.-- Em
suma, vigaristas, Iaim flagelo para os compradores ingénuos, uma
catástrofe para os mercadoimiciliados " que têm estabelecimento próprio.
Seria urgente detê-los, quannão fosse para a segurança da sociedade.
Pobre sociedade em que o coméro pouco considerado, em que, depois das
licenças revolucionárias e da épo7ssignats, qualquer pessoa, pelo preço
módico de uma patente, pode tornarador de qualquer coisa. A única
solução, segundo nosso juiz: "restabelecer orações"!
Acrescenta, apenas: "evitando os abusos de sua primeira insti'! Não vamos
continuar a segui-lo. Mas é verdade que, no seu tempo, se m por toda a
parte enxurradas, exércitos de mascates. Em Paris, nesse mesde 1813, o
chefe da polícia é advertido de que "tcndeiros" montam barratoda a parte
em plena rua, "desde o boulevard da Madeleine até o do Temem vergonha,
instalam-se na frente da porta das lojas, vendem as mesmas orias para a
fúria dos lojistas, principalmente os vidraceiros, os louceiros,
altadores, até os joalheiros. Os responsáveis pela ordem já não têm o que
'Vivernos expulsando os tendeiros de um lado para outro e eles vivem
vol... 1 servindo-lhes o seu grande número de salvação. Como prender
tamanha
63
9297
1330
Tem-se dito muitas vezes que as feiras são mercados atacadistas, entre
mercaes apenas 331. Isso é apontar-lhes a atividade essencial, mas
ignorar, na base, a rme participação popular. Todos têm acesso à feira.
Em Lyon, segundo os taiciros, bons juizes para o caso, "para cada
mercador que vem às feiras a cavalo m dinheiro para gastar e se hospedar
em bons aposentos, há vinte outros a pé ficam muito satisfeitos de
encontrar uma taberna qualquer" onde ficar 332. Em rno ou em outra feira
napolitana, multidões de camponeses aproveitam a ocapara vender um porco,
ou um fardo de seda crua, ou um barril de vinho. Na iitânia, boiadeiros e
trabalhadores rurais vão à feira simplesmente à procura.ivertimentos
coletivos: "Partiam para a feira antes do nascer do sol e regressanoite
fechada, depois de se terem demorado nas tabernas pelo caminho. , 333
349
1373, diz-se, sem que os fardos cheguem a ser abertos. Quando se inicia
este comércio por atacado? Talvez em Antuérpia, no tempo de Ludovico
Guicciardini (1567)374'? Mas qualquer cronologia estrita a esse respeito
é inevitavelmente discutível.
É inegável, porém, que com o século XVIII, sobretudo nas ativas regiões
do Norte ligadas aos tráficos do Atlântico, o comércio por atacado
adquire um desenvolvimento até então nunca visto. Em Londres, os
atacadistas impõem-se em todas as áreas da troca. Em Amsterdam, no
princípio do século XVIII, "como chega diariamente um grande número de
embarcações [ ... 1 é fácil compreender que haja grande número de
armazéns e de porões para colocar todas as mercadorias que es
, ntos da troca trcos trazem: por isso a cidade é bem provida deles,
havendo bairros inteiros que
385
390.
As Bolsas
O Nouveau négociant de Samuel Ricard, em 1686, define a Bolsa como "lugar
de encontro de banqueiros, mercadores e negociantes, agentes de câmbios e
de banco, corretores e outras pessoas". O termo viria da cidade de
Bruges, onde tais assembléias se realizavam "perto do Hôtel des Bourses,
assim chamado em virtude de um senhor da antiga e nobre família Van der
Bourse que o mandara construir e lhe ornara o frontispício com seu escudo
de armas dotado de três bolsas... que ainda hoje se vê nesse edifício".
Pouco importam as raras dúvidas que a explicação suscita. Seja como for,
a palavra fez sucesso, sem contudo eliminar outras designações. Em Lyon,
a Bolsa chamava-se praça dos Câmbios; nas cidades hanseáticas, Colégio
dos mercadores; em Marselha, a Loje; em Barcelona, tal como em Valência,
a Lonja. Nem sempre tinha edifício próprio, donde uma freqüente confusão
de nomes entre o local de reunião e a própria Bolsa. Em Sevilha, a
assembléia dos mercadores realizava-se todos os dias nas gradaS391, as
grades da catedral; em Lisboa, na Rua Nova392, a mais larga e comprida da
cidade, já citada em 1294; em Cádiz, na Calle Nueva, decerto aberta após
o saque de
com efeito, é normal cada praça ter a sua Bolsa. Um marselhês que traça
um panorama (1685) observa que, se os termos variam - "em vários lugares
o mercado, e nas Escalas do Levante o Bazar- -, a realidade é a mesma em
toda a parte 407.
Compreendemos então a surpresa de um inglês, Leeds Booth, então cônsul
russo em
Gibraltar408, que escreve em seu grande relatório ao conde de Osterrnann
(14 de fevereiro de 1782): "[Em Gibraltarl não temos câmbio onde os
mercaJores se reúnam para negociar como nas grandes cidades de comércio;
e, para falar ;inceramente, temos apenas muito poucos [mercadores] nesta
praça, e, apesar de ;er muito pequena e não produzir nada, faz-se aqui
muito comércio em tempo de )az.-- Gibraltar é, como Livorno, a terra
florescente do entrelopo e do contrabanJo. Para que lhe serviria uma
Bolsa?
De quando datam as primeiras Bolsas? Quanto a este ponto, as
cronologias )odem ser enganosas: a data de construção dos edifícios não
se confunde com a Ia criação mercantil. Em Amsterdam, o edifício data de
163 1, ao passo que a Nova olsa foi criada em 1608 e a antiga remonta a
1530. Temos, pois, de nos contentar imitas vezes com datas tradicionais
que valem quanto valem. Mas não com a abuiva lista cronológica que situa
a origem da Bolsa nas terras do Norte: Bruges 1409, ntuérpia 146O (imóvel
construído em 1518), Lyon 1462, Toulouse 1469, Amsteram
1530, Londres 1554, Rouen 1556, Hamburgo 1558, Paris 1563, Bordcaux 1564,
, olônia 1566, Dantzig 1593, Leipzig 1635, Berlim 1716, La Rochelle 1761
(cons.ução), Viena 1771, Nova York 1772.
Apesar das aparências, essa lista não estabelece nenhuma prioridade
nórdica. a sua realidade, com efeito, a Bolsa expandiu-se no Mediterrâneo
Pelo menos a artir do século XIV, em Pisa, em Veneza, em Florença, em
Gênova, em Valência, m
Barcelona, onde a Lonja solicitada a Pedro, o Cerimonioso, foi concluída
em
409
81
esqueçamos que por volta de 1634 a tulipomania que fez furor na Holanda
chegou a trocar, por um bulbo "sem valor intrínseco-, --uma carruagem
nova, dois cavalos cinzentos e seus arreios' 4271 Mas o jogo com as
ações, em mãos experientes, podia assegurar rendimentos satisfatórios. Em
1688, um mercador curioso, José de
Ia Vega (1650-1692), judeu de origem espanhola, publicava em Amsterdam,
com o ambíguo título Confusión de confusiones 428 um livro estranho, de
difícil compreensão por causa do estilo propositadamente rebuscado (o
stilo culto da literatura espanhola da época), mas pormenorizado, vivo,
único no seu gênero.
Não o tomentos ao pé da letra, porém, quando ele nos leva a pensar que,
nesse jogo infernal, se arruinou cinco vezes seguidas. Ou quando se
deleita com coisas já antigas: rímito antes de 1688 "vendeu-se a prazo
arenque antes de ter sido pescado, trigo e outras mercadorias antes de
terem nascido ou sido colhidas"; as especulações escandalosas de Isaac le
Maire com as ações das índias, que se situam logo no início do século
XVII, implicam já mil espertezas e até trapaça
437
Que mostra esta cena? Se não me engano, o modo como a Bolsa mete a mão
olso dos pequenos poupadores e pequenos jogadores. O êxito da operação é
Ivel: l? porque não há ainda, repita-se, cotação oficial que permita
seguir fa, nte as variações da cota; 2? porque o corretor - intermediário
obrigatório dirige no caso a gente modesta que não tem o direito,
reservado aos mercadoaos corretores, de entrar no santuário da Bolsa, se
bem que esta fique a dois )s dos cafés em questão, Café
Francês, Café Rochelês, Café Inglês, Café de e438. De que se trata,
então? Do que hoje chamaríamos uma especulação miúima procura de clientes
para arrumar fundos.
A especulação em Amsterdam abrange uma multidão de pessoas sem impora,
mas os grandes especuladores lá estão também, e são dos mais ativos. Seo
o testemunho de um italiano, Michele Torcia (1782), em princípio
imparAmsterdam tem ainda, nessa data tardia, a Bolsa mais ativa da Europa
439; passa Londres. E decerto o enorme volume (aos olhos dos
contemporâneos, ida-se) do jogo com as ações contribui para isso,
porquanto coincide então a febre constante dos empréstimos concedidos ao
estrangeiro, outra especulaessa também sem igual na
Europa, e a qual voltaremos.
:)s papéis de Louis Greffulhe 44O, estabelecido, desde 1778, como dono de
uma rtante feitoria de Amsterdarn441, dão-nos uma idéia bastante viva
deste durescimento. Voltaremos muitas vezes aos ditos e feitos deste
novo-rico, arroe prudente, aos seus testemunhos lúcidos. Em 1778, nas
vésperas da entrada -ança na guerra ao lado das colônias inglesas da
América, têm livre curso em
Os instrumentos da troca
Anisterdam especulações loucas. O momento parece propício, graças à
neutralidade, para tirar proveito das circunstâncias. Mas devia-se
arriscar com mercadorias coloniais, cuja escassez era prevista, deixar-se
tentar pelos empréstimos aos ingleses, depois aos franceses, ou financiar
os Insurretos?
Escreve Greffulhe a A. Gaillard (em Paris): "O vosso antigo empregado
Bringley está aqui metido com os americanos até o pescoço. "442 Quanto ao
próprio
Greffulhe, metido em todos os negócios ao seu alcance que lhe parecem
bons, lança-se com tudo nas especulações da Bolsa, com comissão. Joga por
si próprio e por outros, por Rodolphe Errimanuel Haller (sobretudo por
este, que tomou conta do antigo banco ThelussonNecker), Jean-Henri
Gaillard, os Perrégaux, o universal
Panchaud, banqueiros em Paris, e, em Genebra, por Alexandre Pictet,
Philibert
Cramer, Turrettini, todos eles nomes que figuram em letras douradas no
grande livro do banco protestante estudado por H. Lüthy443. O jogo é
difícil e arriscado, incide sobre grandes somas de dinheiro. Mas, enfim,
se Louis
Greffulhe o conduz com tanta calma é porque se trata sobretudo de
dinheiro alheio. Aborrece-o, mas não o desespera que eles percam: "Se se
pudesse adivinhar, em negócios de fundos [entenda-se os fundos ingleses],
como em muitos outros, meu born amigo, só se fariam bons negócios",
escreve ele a Haller.
Noutra carta explica: "A sorte pode mudar, ainda haverá muitos altos e
baixos."
Contudo, nunca faz compras nem reportes sem ter refletido. Não é um
temerário, um arrisca-tudo como Panchaud: executa as ordens dos clientes.
A Philibert
Cramer, que lhe dá ordem de comprar " 1O mil libras de índias", isto é,
ações da
Companhia Inglesa das índias Orientais, "na conta de 3/3 com os Senhores
Marcet e Pictet, podendo obtê-las entre 144 e 145": "Impossível",
responde Greffulhe (4
de maio de 1779), "pois, apesar da baixa que este fundo sofreu, vale 154
para agosto e 152 para maio. Até agora, não vemos possibilidades de
efetuar essa compra, mas não esquecemos de anotá-la.' 444
85
87
3RIEL - Pois claro, senhor Tradelove, aqui está um título emitido pela
Sword fe
Company.
RIADO - Chá, cavalheirOS4549
3 unidade em 1709, que são as preferidas). " The East India Company was
the i point", escreve Defoc. Na época em que essa peça é representada, a
Mar do -ião provocou ainda o grande escândalo do South Sea Bubble. A
Sword Blade ipany é uma manufatura de armamento455.
Em 25 de março de 1748, o fogo destruiu o bairro e os cafés célebres de
Exige
Alley. Foi preciso mudar de casa. Mas havia pouco espaço para os
corretoAo cabo de muitos projetos, uma subscrição reuniu os fundos
necessários para truir um novo edifício, em 1773, atrás do Royal
Exchange. Devia ser chamado Jonathan's, mas acabou sendo batizado Stock
Excliange456. O cenário muoficializava-se, mas, nem é preciso dizer, o
jogo continuava, sempre o mesmo.
Se, após reflexão, insistirmos em fazer a viagem a Paris, deveremos ir
pela rua, nne, onde a Bolsa foi instalada em 1724, ao palacete de Nevers,
antiga sede ompanhia das índias, no local da atual Biblioteca Nacional.
Nada de compaa
Londres ou a Amsterdam. No tempo de Law, a rua QuincampoiX457, essa pôde
por um momento rivalizar com a Exchange Alley, mas não depois dessa a que
se seguiram dias tristes e inibidores. Aliás, por um acaso pouco
explicá:)s documentos referentes à rua Vivienne desapareceram quase
todos.
Só uns cinqüenta anos após sua fundação é que a Bolsa de Paris se anima
inmente, na Paris de Luís XVI. Grassa então por toda a parte a febre do
jogo. Jta sociedade entrega-se ao faraó, ao dominó, às damas, ao xadrez",
e nunca mternente458. "Desde 1776, acompanham-se as corridas de cavalos;
o povo se ia nas cento e doze casas da Loteria oficial abertas em Paris."
E há casas de por toda a parte. A polícia, que nada ignora, empenha-se em
não intervir :), mesmo ao redor da Bolsa, no Palais-Royal, onde tantos
especuladores em :)s, cavaleiros de indústria e escroques sonham com
especulações miraculosas. clima, o exemplo das especulações de Londres e
Amsterdam torna-se irresis
459
inteligente como Marie-Joseph Desiré Martin, não entendemos, logo de
saída, a lista das cotações que ocupa "todos os dias uma página do
Journal de Paris e dos
Affiches' 9460.
Assim se instala a especulação bolsista. Em 1779, a Caixa de Desconto foi
reorganizada e as ações oferecidas ao público. Depois, diz o Conselho de
Estado, "fezse um tráfico tão desordenado dos títulos da Caixa de
Desconto, que foram vendidos quatro vezes mais do que os existentes" 461.
Portanto, vendido e revendido. imagino que a curiosa especulação
conseguida pelo jovem conde de
Tilly462 mal contada por ele (tinha-lhe sido aconselhada pela amante, uma
atriz que também concedia seus favores a um rico intendente dos
Correios), se situe nessa época. Resultado, diz ele, "pagaram-me 22
títulos da Caixa de Desconto", isto é, 22 mil libras. Não há dúvidas, no
entanto, de que a especulação a termo, cheia de vento, tenha dado então
mais do que seus primeiros passos na conquista de Paris. O decreto de 7
de agosto de 1785, cujo texto o embaixador de Catarina
97
22-23. 'rimeiro esquema (p. 99, em cima): imagine-se em cada vértice dos
dois poligonos representados em linha cheia dileia, cliente da vila ou da
cidade que se encontra no centro. Acima desta primeira geometria, os seis
mercados os ocupam o centro dospolígonos mais extensos, cujos lados são
marcados à tracejada, constituindo cada vertiia vila.
egundo esquema (p. 99, embaixo): o mesmo esquema, mas simplificado, uma
boa ilustração do modelo teórico
9grafia matematizante, segundo Walter Christaller e August Lõsh. Ver
explicaçóes no texto, p. 97.
103
100, 1501. Cem por cento: é a taxa correntemente paga pelo mercador
viajante ao seu comanditário, tanto em Java como na índia ou na China
meridional. Fantástica taxa de juro, mas que só vale para as linhas de
mais alta tensão da vida econômica, para o sistema de trocas a longa
distância. Em Cantão, no fim do século XVIII, a taxa de juro corrente
entre mercadores é de 18 ou 20070502. Os ingleses de Bengala contraíam
empréstimos localmente a taxas quase tão baixas como Hovharmes.
Mais uma razão para não considerarmos os mercadores itinerantes do oceano
índico atores secundários: tal como na Europa, o comércio a longa
distância está no cerne do mais alto capitalismo do Extremo-Oriente.
Poucas Bolsas, mas grandes feiras
No Oriente e no Extremo-Oriente não se encontram Bolsas
institucionalizadas como as de Amsterdam, de Londres ou de qualquer
grande praça ativa do Ocidente. Há, porém, reuniões bastante regulares de
grandes negociantes. Nem sempre são facilmente identificáveis, mas não
são também discretas as reuniões dos grandes mercadores venezianos
embaixo dos pórticos do Rialto, onde parecem calmos transeuntes no meio
do tumulto do mercado próximo?
As grandes feiras, em compensação, são reconhecíveis sem risco de erro.
Pululam na índia, desempenham um papel importante no Islã e na
Insulíndia; curiosamente, são muito raras na China, se bem que existam.
É verdade que um livro recente (1968) afirma sem rodeios que
"praticamente não há feiras nos países do ISlã3503. E, contudo, lá está a
palavra: em toda a extensão dos países muçulmanos, mausim significa ao
mesmo tempo feira e festa sazonal, designando também, como sabemos, os
ventos periódicos do oceano índiCO504. Pois não é a monção que regula
infalivelmente, no Extremo-Oriente dos mares quentes, as datas das
viagens marítimas num ou noutro sentido, desencadeando ou interrompendo
os encontros internacionais de mercadores?
Um relatório pormenorizado, datado de 1621505, descreve um desses
encontros em
Moka, ponto de encontro de um comércio restrito mas riquíssimo. Todos os
anos, a monção leva a esse porto do mar Vermelho (que se tornará o grande
mercado do café) certo número de navios das índias, da Insulíndia e da
costa vizinha da África, sobrecarregados de homens e de fardos de
mercadorias (até hoje esses barcos fazem as mesmas viagens). Nesse ano,
chegam dois navios de Dabul (índia), um com 200, o outro com 15O
passageiros, todos mercadores viajantes que vão vender na escala pequenas
quantidades de bens preciosos: pimenta-do-reino, goma, laca, benjoim,
algodões tecidos com ouro ou pintados à mão, tabaco, noz
513
us instrumentos ou 11~ certo deve-se ler o peso], otere.., iii vo, cia
prata em barra conforme a necessidade daqueles que a vendem e por este
meio amealham uma quantidade tão grande que têm com que carregar os
navios da China logo que chegam, vendendo por cinqüenta mil caixas [as
sapecas] o que não lhes custa doze mil. Esses navios chegam a Bantam no
mês de janeiro, em número de oito ou dez, e são de quarenta e cinco ou
cinqüenta toneladas.-- Assim, os chineses também têm seu --comércio do
Levante", e por muito tempo a China do comércio de longa distância nada
teve a invejar à Europa. No tempo de Marco Polo, a China consome, diz
ele, cem vezes mais especiarias do que a longínqua Europa515.
Já se sabe que é antes da monção, antes da chegada dos barcos, que os
chineses, na realidade comissionistas residentes, fazem compras pelos
campos afora. A chegada dos barcos é o princípio da feira. De fato, é
isso que caracteriza toda a área da Insulíndia: feiras de longa duração,
no ritmo da monção. Em Atjeh (Achem), na ilha de Sumatra, Davis (1598)516
Vê "três grandes praças onde todos os dias havia feira de todas as
espécies de mercadorias". É apenas um comentário, dirão. Mas François-
Martin, de Saint-Malo (1603), perante os mesmos espetáculos, distingue
uma grande feira das feiras comuns, atulhadas de frutas curiosas, e
descreve, nas lojas, os mercadores vindos de todas as direções do oceano
índico "todos vestidos à turca" e que ficam "uns seis meses no referido
lugar para venderem suas mercadorias' '517. Seis meses "ao cabo dos quais
vêm outras". Ou seja, uma feira contínua e renovada, preguiçosamente
espalhada no tempo sem nunca ter o aspecto de crise rápida das feiras do
Ocidente. Dampier, que chega a Atjeh em 1688, é ainda mais preciS0518:
"Os chineses são os mais consideráveis de todos os mercadores que aqui
negociam; alguns deles ficam o ano inteiro; mas os outros vêm só uma vez
por ano. Estes vêm às vezes no mês de junho, com 1O ou 12 veleiros que
trazem grande quantidade de arroz e muitos outros gêneros alimentícios...
Todos ficam em casas próximas umas das outras, numa das extremidades da
cidade, perto do mar, e chamam a esse bairro o campo dos chineses... Há
vários artesãos que vêm nessa frota, como carpinteiros, marceneiros,
pintores, e logo que chegam põem-se a trabalhar e a fazer arcas, caixas,
cofres e toda a espécie de pequenos trabalhos da China." Realiza-se
assim, durante dois meses, a "feira dos chineses", onde todos vão para
comprar ou para jogar jogos de azar. "À medida que as suas mercadorias
são vendidas, passam a ocupar menos espaço e a alugar menos casas...
Quanto mais diminui a venda, mais aumenta o jogo."
Na própria China519 é diferente. Como tudo é dirigido por um governo
burocrático, onipresente e eficaz, em princípio inimigo dos privilégios
econômicos, as grandes feiras são rigorosamente vigiadas, em comparação
com mercados relativamente livres. Surgem cedo, 'porém, num momento de
grande desenvolvimento dos tráficos e das trocas, por volta do fim dos
T'ang (século
IX). Aí também são geralmente associadas a um templo budista ou taoísta e
realizam-se por ocasião da festa de aniversário da divindade, donde o
nome genérico que têm: assembléias de templos - miao-hui. Têm um
acentuado caráter de festejos populares. Mas outras denominações são
comuns. Assim, a feira da seda nova que, no tempo dos Tsing (1644-1911),
se realiza em Nan-hsün-chen, na fronteira das províncias do Tchõ-Kiang e
do Kiang-su, é chamada hui-ch'ang ou lang-hui. Também a expressão nien-
shih equivale, literalmente, aos Jahrmãrkte alemães, mercados anuais, e
talvez designe efetivamente grandes mercados sazonais (de sal, de chá, de
cavalos, etc.) e não feiras no sentido pleno da expressão.
109
Capítulo 2
A ECONOMIA
EM FACE DOS MERCADOS
Permanecendo no âmbito da troca, este segundo capítulo tenta apresentar
alguns modelos e algumas regras tendenciais1. Passamos assim adiante das
imagens pontuais do primeiro capítulo, em que a feira do burgo, a loja, a
grande feira, a Bolsa foram apresentadas como uma série de pontos. O
problema consiste em mostrar como se unem estes pontos, como se
constituem as linhas de troca, como o mercador organiza essas ligações e
como essas ligações, embora deixem de lado muitos vazios à margem dos
tráficos, criam superfícies mercantis coerentes. O nosso vocabulário
imperfeito designa essas superfícies pelo nome de mercado, forçosamente
ambíguo por natureza. Mas o uso dita as regras.
Colocar-nos-emos sucessivamente em duas perspectivas diferentes:
primeiro, ao lado do mercador, imaginaremos o que possa ser sua ação, sua
tática costumeira;
depois, afastando-nos dele, amplamente independentes das vontades
individuais, consideraremos os espaços mercantis em si mesmos, os
mercados em sentido lato.
Sejam eles urbanos, regionais, nacionais ou até internacionais, sua
realidade impõe-se ao mercador, envolve-lhe a ação, favorece-a ou
constrange-a. Além disso, eles se transformam ao longo dos séculos. E
essa geografia, essa economia variáveis dos mercados (que examinaremos
mais atentamente no terceiro volume)
remodelam e reorientam incessantemente a ação particular do mercador.
119
A economia em jace aos mercuaus é, sobre a conta que Simón Ruiz tem
aberta em seu nome) ou a --reformá-lasobre Antuérpia ou Besançon: o papel
fará assim uma viagem triangular, três meses mais longa. Ainda vá! Mas
Simón Ruiz fica possesso quando, terminada a operação, percebe que não
ganhou os juros com que contara. Quer jogar, mas com segurança. Como
escreve em 1584, prefere "guardar el dinero en caxa que arisgar en
cambios y perder del principal, o no ganar nada"", ficar com o dinheiro
em caixa em vez de arriscar-se nos câmbios a perder capital ou a não
ganhar nada.
Mas, se Simón Ruiz se considera lesado, para os outros parceiros o
circuito fechou-se naturalmente.
Fechamento impossível, negócio impossivel
Se, em determinadas circunstâncias, um circuito mercantil não consegue
fecharse, seja pelo que for, está evidentemente condenado a desaparecer.
Geralmente, não bastam para isso as guerras freqüentes, embora por vezes
o consigam. Tomemos um exemplo.
A esmaltina, produto tintorial de origem mineral à base de cobalto
(sempre misturado, sobretudo se for de má qualidade, com uma areia com
pontos brilhantes), serve, nas fábricas de porcelana e de faiança, para
fazer as decorações azuis; serve também para o branqueamento de tecidos.
Um mercador de
Caen (12 de maio de
4.470, 1O s [soldos], dos quais tomo a liberdade de sacar, sobre vós, 2/3
na data de hoje, L. 2.98O a 3 usanças, pagável em Paris à minha ordem."
As usanças são os prazos de pagamento, sendo cada uma provavelmente de
duas semanas. Dugard
Filho pagará portanto, na data do vencimento, 2.98O libras a um banqueiro
de
Paris, sempre o mesmo, que remeterá o dinheiro para Frankfürt. O circuito
iniciado com esse primeiro pa121
123
?ue vai acontecer? Ou ele não arranjará boas e então haverá mais uma i,
se aceitar título sobre Bordeaux ou Paris, ainda que seja do mais sólite
da
Martinica, quase sempre protestado na Europa e sabe Deus onde recuperar o
dinheiro. Deus queira que isso nao aconteça se ele nos fizer )licata de
já., 24
A colaboração rnercantil
Assim, as trocas traçam no mundo a sua malha quadriculada. Em cada
intersecção, em cada escala, podemos imaginar, estabelecido ou de
passagem, um mercador. E o papel deste é determinado por sua posição:
--Diz-me onde estás, dir-teei quem és.-- Se os acasos do nascimento, da
herança ou qualquer outro avatar o fixaram em Judenburg, na Alta-Estíria
(como é o caso de Clemens KõrbIer, mercador ativo de 1526 a 1548), então
tem de negociar com ferro da Estíria ou com aço de Leoben e freqüentar as
feiras de LinZ27. Se é negociante e ainda por cima em Marselha, terá de
escolher entre as três ou quatro possibilidades correntes da praça
- uma escolha quase sempre ditada pela conjuntura. Será apenas por
sensatez que o mercador atacadista, antes do século XIX, está sempre
envolvido em diversas atividades ao mesmo tempo (para não pôr, como se
dizia antigamente, "todos os ovos no mesmo cesto")? Ou terá necessidade
de utilizar plenamente as diversas correntes (que não inventou) no
preciso momento em que as tem ao alcance? Uma só não lhe basta para viver
no nível pretendido. Esta "polivalência" viria portanto de fora, dos
volumes insuficientes das trocas. Em todo o caso, o negociante que, numa
encruzilhada freqüentada, tem acesso à grande circulação mercantil é
constantemente menos especializado do que o varejista.
Toda rede comercial liga uns aos outros certo número de indivíduos, de
agentes, pertencentes ou não à mesma firma, situados em vários pontos de
um circuito ou de um feixe de circuitos. O comércio vive desses
revezamentos, dessas cooperações e ligações que se multiplicam como que
por si sós com o crescente sucesso do interessado.
Um bom, um excelente exemplo é-nos dado pela carreira de Jean Pellet
(16941764), nascido em Rouergue, negociante em Bordeaux depois de um
princípio difícil como simples mercador varejista na Martinica onde, como
lhe recordava o seu irmão quando ficaram ricos, se alimentara "de farinha
de mandioca mofada e de vinho azedo, com carne fermentada', 28. Em
171829, regressa a Bordeaux e associa-se ao irmão Pierre, dois anos mais
velho, o qual se estabelece na
Martinica. Trata-se de uma sociedade com capital muito modesto,
consagrada exclusivamente ao comércio entre a ilha e Bordeaux. Cada um
dos dois irmãos segura uma ponta da corda e estão bem no momento em que
rebenta a enorme crise do sistema de Law. Escreve o exilado nas ilhas:
"Vós me assinalastes que somos muito felizes por termos agüentado este
ano sem perdas; todos os negociantes estão trabalhando apenas com base no
crédito que têm" (8 de julho de 1721)30. Um mês mais tarde, em 9 de
agoSto30: "Considero [é sempre Pierre quem escreve] com o mesmo espanto
que vós a desolação da França e os riscos que há de perder rapidamente os
bens; felizmente encontramo-nos em situação de podermos nos safar melhor
do que outros, graças à saída que temos nesse país [a Martinica]. Deveis
empenhar-vos em não guardar nem dinheiro nem títulos" - em suma, jogar
exclusivamente com a mercadoria. Os irmãos permanecem sócios até 1730;
depois, mantêm relações de negócios. Ambos alcançaram a notoriedade com
os enormes lucros que reuniram e que escondem com maior ou menor
habilidade. Depois de
1730, seguimos apenas os negócios do mais ousado dos dois, Jean, que, a
partir de 1733, está suficientemente rico, apoiado em numerosos
comissionistas e nos "capitães gerentes" dos
w jace uas rri(f, (, uuu,, stes tão inoporturiamente.-- É essa pelo menos
a solução --amigável" que n "para não termos de escrever a terceiros a
este respeito". Prova de que, gócio como esse, a solidariedade mercantil,
mesmo em Roucri, jogaria a o negociante de
Amsterdam.
- confiança, ser obedecido. Simóri Ruiz, em 1564, dispõe em Sevilha de um
Gerônimo de Valladolid, certamente bem mais jovem do que ele, como ele o
castelhano 37. Bruscamente, com ou sem razão, Simón Ruiz zanga-se, acu,
em de qualquer falta ou malversação. Um segundo agente, o que informa :),
feliz com a oportunidade, não ajeita as coisas, pelo contrário. Gerônimo
-ece sem delongas, pois tem a polícia de Sevilha em seu encalço. Mas é
para cer mais tarde, em
Mediria del Campo, a lançar-se aos pés do patrão, obterxdão. O acaso de
uma leitura fez-me encontrar, entre documentos de 1570, de Gerônimo de
Valladolid.
Tornara-se então, seis anos após o incidente ), um dos mercadores
especializados em tecidos finos e rústicos de Sevilha, unfado? Este
pequeno evento, embora mal clucidado em seus pormenores, mita luz sobre a
questão primordial da confiança que um mercador exige, direito de exigir,
do seu agente, ou do seu sócio, ou do seu empregado. E i sobre as
relações entre patrão e empregado, superior e inferior, que têm "feudal".
Ainda no princípio do século XVIII, um empregado francês fala ), o", da
"dominação" de patrões dos quais se alega de ter recentemente es38
- recer confiança, aconteça o que acontecer, era, aliás, a única maneira
de angeiro penetrar no mundo desconcertante de Sevilha por pessoas
interposnica maneira de, um pouco mais tarde, em Cádiz, outra cidade
igualmente :ertante e pelas mesmas razões, participar dos tráficos
decisivos com as Amém princípio reservados a espanhóis. Sevilha e Cádiz,
cabeças-de-ponte para -ica, são cidades à parte, cidades da fraude, da
trapaça, do perpétuo escáris leis e pelas autoridades locais, autoridades
ainda por cima cúmplices. Mas, Ée dessa corrupção, há entre mercadores
uma espécie de "lei dos marginais", i existente entre os delinqüentes e
os aguazis do arrabalde de Triana ou do le San Lúcar de
Barrameda, dois pontos de encontro do submundo espa>ois, se o seu homem
de confiança o traísse, a você, mercador estrangeiro im dizer sempre em
situação irregular, o rigor das leis recairia apenas sobre sem piedade.
Ora, é raríssimo o caso. Os holandeses (já no fim do século usam corrente
e impunemente testasde-ferro para colocarem suas cargas ) das frotas
espanholas e trazer a contrapartida da América. Em Cádiz, toahecem os
metedores (passadores, contrabandistas), muitas vezes fidalgos idos que
são especialistas da passagem fraudulenta das barras de metal fino
mercadorias preciosas de além-mar, até do simples tabaco, e que não fazem
) de seu ofício. Ousados, perdulários quando podem, apontados a dedo pela
-iedade, participam por inteiro de um sistema de solidariedades que
constirópria armadura da grande cidade mercantil. Mais importantes ainda
são wdoreS39, espanhóis ou naturalizados, que embarcam com a carga que
lhes, ada na frota das índias. O estrangeiro dependerá de sua lealdade.
43
1127, estão nas feiras de YpreS45. "Na segunda metade do século XIII, já
cobrem a França com suas poderosas casas, que não passam de sucursais das
grandes companhias de Florença, de Piacenza, de Milão, de Roma e de
Veneza. Encontramolos estabelecidos na Bretanha [já em 1272-12731, em
Guingamp, em Dinan, em
Quimper, em Quimperlé, em Rennes e em Nantes; [ ... ] em Bordeaux, em
Agen, em
Caliors, -46 Deram vida nova, sucessivamente, às feiras de Champagne, ao
tráfico de Bruges, mais
os armênios e os judeus
Temos muita informação sobre os mercadores armênios e judeus. Não a
suficiente, porém, para que seja fácil reduzir essa massa de pormenores e
de monografias às suas características de conjunto.
Os mercadores armênios colonizaram todo o território da Pérsia. Foi,
aliás, a partir de Djulfa, o vasto e animado arrabalde de Ispahan onde o
xá Abbas, o
Grande, os alojou, que eles se espalharam por todo o mundo. Muito cedo
atravessaram toda a índia, particularmente - se não estamos exagerando
certas informações - do Indo ao Ganges e ao golfo de Bengala5% mas estão
também no sul, na Goa portuguesa, onde, por volta de 1750, como os
mercadores franceses ou espanhóis, obtêm empréstimos no "convento das
clarissas de Santa Rosa-51. O armênio transpõe também o Himalaia e chega
a Lassa, daí comercia até as fronteiras da China, a mais de 1.50O
quilômetros de distância52. Mas não entra muito. Curiosamente, a China e
o Japão mantêm-se-lhe fechadOS53. Mas ele pulula, e desde cedo, nas
Filipinas espanholaS54; é onipresente no imenso
Império turco, onde se revela concorrente aguerrido dos judeus e dos
outros mercadores. Do lado da Europa, o armênio está presente na
Moscóvia, bem colocado para aí desenvolver suas companhias e distribuir a
seda crua do Irã que, de troca em troca, atravessa o território russo,
chega a Arkangel (1676)55 e às regiões vizinhas da Rússia. Armênios
residem na Moscóvia, transitam por estradas intermináveis até a Suécia,
onde também chegam com suas mercadorias via
Arusterdarn55. Toda a Polônia é por eles percorrida, mais ainda a
Alemanha, e especialmente as feiras de Leipzig sempre em busca de
negóCiOS56 . Estão nos
Países Baixos, estarão na Inglaterra, na França. Na Itália, instalam-se
comodamente no século XVII, a partir de Veneza, participando da
insistente invasão de mercadores orientais, tão característica já no fim
do Século XV157.
Mais cedo ainda estão em Malta, onde os documentos falam de "poveri
christiani armeni", poveri decerto, mas que estão lá "per alcuni suoi
negoffl" (1552,
, -1 CLUI-1,
- -de todos vós outros, irmãos mercadores, que sois da nossa nação-, foi
elaborado por instigação de um mecenas, mestre Bedros, que, pormenor que
não surpreende, era de Djulfa. O livro abre sob o signo das palavras do
Evangelho:
"Não faças aos outros... " Seu primeiro cuidado: informar o mercador
sobre pesos, medidas e moedas das praças comerciais. De que praças? Todas
as do
Ocidente, claro, mas também da Hungria, de Istambul, Cracóvia, Viena,
Moscou,
Astrakhan, Novgorod, Haidebarad, Manila, Bagdá, Bassora, Alepo,
Esmirna... O estudo dos mercados e das mercadorias detalha as praças da
índia, do Ceilão, de
Java, de Amboina, de Macassar, de Manila. Nessa massa de informações que
mereceria ser analisada atentamente, passada pelo crivo, o mais curioso é
ainda um estudo comparado dos preços de estada nas diferentes cidades da
Europa, ou melhor, uma descrição, cheia de lacunas e de enigmas, da
África, que vai do
Egito a Angola, ao Monomotapa e a Zanzibar. Esse pequeno livro, imagem do
universo mercantil dos armênios, não nos dá, porém, a chave do seu
fabuloso sucesso. Sua técnica comercial limita-se, com efeito, a gabar os
méritos da regra de três (será que seria suficiente para tudo?). O livro
não aborda o problema da contabilidade e, sobretudo, não nos revela qual
terá sido a razão mercantil, capitalista desse universo. Como se fecham e
se consumam esses tráficos intermináveis? Estarão todos ligados pela
enorme escala de Djulfa e só por ela? Ou haverá, como penso, outras
escalas intermediárias? Na Polônia, em
Lwow, que é um ponto que une Oriente e Ocidente, uma pequena colônia
armênia os
63.
Também as redes de mercadores judeus se estendem ao mundo inteiro. Seus
sucessos são muito mais antigos do que os desempenhos armênios: desde a
Antiguidade romana que os Syri judeus e não-judeus estão por toda a
parte; no século IX da nossa era, utilizando as relações abertas pela
conquista muçulmana, os judeus de
Narbonne "chegam a Cantão passando pelo mar Vermelho ou pelo golfo
Pérsico"'; os documentos dos Geniza65 revelam-nos, com uma freqüência
impressionante, ligações mercantis em benefício dos mercadores judeus da
Ifriqya, de Cairuã no Egito, na
Etiópia e na índia peninsular. Nos séculos X-XII, no Egito (bem como no
Iraque e no Irã), riquíssimas famílias judias estão envolvidas no
comércio de longa distância, no banco e na cobrança de impostos, às vezes
em províncias inteiraSÓ6.
Legenda da página 132:
69
1580-1640
86
139
waça da Bolsa: o edifício éflanqueado pela Casados Genoveses epela dos
Florenti~nho tangível da expansão e da dominação dos mercadores
italianos. (A.
C.L., iro, um genovês é conivente com um genovês, um armênio com um
armêfles Wilson (num artigo de publicação próxima) acaba de assinalar,
com ça, a espantosa intrusão nos maiores negócios de Londres dos
huguenotes ; no exílio dos quais se tinha assinalado sobretudo a
importância como diLe técnicas artesanais. Ora, eles sempre formaram e
formam ainda, na caesa, um grupo compacto que preserva ciosamente sua
identidade. Por oué fácil para uma minoria sentir-se oprimida, mal-amada
pela maioria, o pensa de ter muitos escrúpulos com ela. Será essa a
maneira de ser de um
99
contrárias.
Neste debate, seria melhor falar da sociedade do que de "espírito
capitalista-. As lutas políticas e as paixões religiosas da Europa
medieval e moderna excluíram de suas comunidades numerosos indivíduos
que, no estrangeiro, para onde os leyou o exílio, se tornaram
minoritários. As cidades italianas são, como as cidades gregas da época
clássica, ninhos de vespas briguentas: há os cidadãos no interior das
muralhas e os exilados - categoria social tão difundida que lhes foi dado
um nome genérico: os fuorusciti. Terem conservado seus bens, suas
ligações de negócios no próprio âmago da cidade que as escorraça para as
acolher de novo um belo dia, esta é a história da grande maioria das
famílias genovesas, florentinas, luquenses. Estes fúorusciti, sobretudo
se eram mercadores, não terão sido desse modo empurrados para o caminho
da fortuna? O grande comércio é o "comércio de longa distância". Estão
condenados a ele. Exilados, prosperam por causa do próprio afastamento.
Assim, em 1339, um grupo de nobres de Gênova rejeita o governo popular
que acaba de se instaurar com os doges ditos perpétuos, e abandonam a
cidade100. Esses nobres exilados são chamados os nobili vecchi, ao passo
que os que ficaram em Gênova sob o governo popular são os nobili novi - a
ruptura se manterá, mesmo depois do regresso dos exilados à sua cidade.
E, como que por acaso, foram os nobili vecchi que se tornaram, e de
longe, os detentores dos grandes negócios no estrangeiro.
Outros exilados: os marranos portugueses e espanhóis que, em Amsterdam,
voltam ao judaísmo. Exilados notórios também: os protestantes franceses.
A revogação do edito de Nantes, em 1685, por certo não criou ex Whilo o
Banco protestante, que viria a assenhorar-se da economia francesa, mas
garantiu-lhe o desenvolvimento.
Estes fúorusciti de tipo novo conservaram suas ligações no interior do
reino e até no coração dele, Paris. Terão conseguido, mais de uma vez,
transferir para o estrangeiro uma parte considerável dos capitais que
deixaram para trás. E, como os nobili vecchi, um dia, regressaram,
numerosos poderosos.
Uma minoria, em suma, é uma rede como que construída de antemão e
solidamente construída. O italiano que chega a Milão só. precisa, para se
instalar, de uma mesa e de uma folha de papel, com que se espantam os
franceses. Mas é porque tem ali associados naturais, informantes,
fiadores e correspondentes nas diversas praças da Europa. Em suma, tudo
quanto faz o crédito de um mercador e que em geral ele leva anos e anos
para adquirir. Do mesmo modo, em Leipzig ou em Viena
- cidades que, à margem da Europa de povoamento denso, o desenvolvimento
do século XVIII levanta -, não podemos deixar de nos impressionar com a
fortuna dos mercadores estrangeiros, gente dos Países Baixos, refugiados
franceses depois da revogação do edito de Nantes (os primeiros chegam a
Leipzig em 1688), italianos, saboianos, tiroleses. Não há exceções, ou
quase nenhuma: o estrangeiro tem a sorte a seu favor. Sua origem o liga a
cidades, a praças, a países longínquos que logo o atiram para o comércio
de longa distância, o grande comércio.
Deveríamos pensar, mas seria bonito demais, que "há males que vêm para o
bem"?
141
145
33, da Carrera de Indias. Após 1550, tudo está claro, desenhado em gran,
em termos mecânicos: uma correia roda no sentido dos ponteiros de um de
Sevilha às
Canárias, aos portos da América, ao estreito das Bahamas Flórida, depois
aos
Açores e a Sevilha novamente. A navegação concreti'cuito. Para Pierre
Chaunu, não restam dúvidas: no século XVI, o "movi)niunturalmente motor"
é "o movimento das idas" da Espanha para a, Especifica: "A expectativa
dos produtos da Europa destinados às índias s principais preocupações dos
sevilhanos, no momento das partidas' 134: de Idria, cobre da Hungria,
materiais de construção do Norte e navios
1500
151
eda chinês (lampa) da época de Lu(s XV, Museu Histórico dos Tecidos.
(Clichê
9. 1.242 e 1.243.)
igual qualidade. Este excesso de preço não pode ter outra causa senão o
preço excessivo dos gêneros alimentícios que a Inglaterra fornece às suas
colônias; e, a tal preço, que pode a Inglaterra fazer dos excedentes do
seu açúcar?"
Evidentemente, consurni-los. Uma vez que, é preciso acrescentar, o
mercado interno inglês já é capaz disso.
Em todo o caso, apesar das exportações e revendas dos grandes países
produtores, a nacionalização dos mercados do açúcar, mediante a compra do
açúcar bruto e instalação de refinarias, propagou-se por toda a Europa. A
partir de 1672, aproveitando as dificuldades da Holanda, Hamburgo
desenvolve suas refinarias e aperfeiçoa processos novos cujo segredo
tentará guardar. E criam-se refinarias até na Prússia, na Áustria e na
Rússia, onde são monopólios do Estado. Para conhecermos com exatidão os
movimentos dos mercados do açúcar e os verdadeiros pontos de lucro, seria
necessário reconstituir a complicada rede das ligações entre as zonas
produtoras, as praças financeiras que dominam a produção, as refinarias
que são um meio de controlar parcialmente a distribuição por atacado.
Abaixo destas "manufaturas", as inúmeras lojas de revenda conduzem-nos ao
nível normal do mercado e seus lucros modestos, submetidos a rigorosa
concorrência.
No conjunto da rede, onde situar o ou os pontos altos, os elos
lucrativos?
Agradar-me-ia dizer, a partir do exemplo de Londres, que é na fase do
mercado por atacado, nas imediações dos armazéns onde se empilham caixas
e barris de açúcar, perante os compradores de açúcar branco ou de açúcar
escuro (o melaço)
conforme se trata de refinadores, de confeiteiros ou de simples
compradores. A fabricação do açúcar branco, reservado às refinarias
metropolitanas, acaba por se estabelecer nas ilhas, apesar das primeiras
proibições. Mas não será esse esforço industrial um sinal das
dificuldades que as ilhas produtoras atravessam?
A posição chave no mercado atacadista, em nossa opinião, situa-se depois
das refinarias, que, ao que parece, não tentaram os grandes mercadores.
Mas, para termos certeza disso, seria necessário conhecer melhor as
relações entre negociantes e refinadores.
Mas deixemos o açúcar, ao qual, aliás, teremos ainda ocasião de voltar.
Temos algo melhor à nossa disposição: os metais preciosos, que envolvem
todo o planeta, que nos levam ao plano mais alto das trocas, que
assinalariam, se necessário, essa hierarquização permanentemente retomada
da vida economica que se empenha em realizar proezas e em bater recordes.
Há sempre oferta e procura dessa mercadoria onipresente, sempre cobiçada,
que dá a volta ao mundo.
Mas a expressão "metais preciosos", que vem tão facilmente à pena, é
menos simples do que parece. Designa diferentes objetos:
1) os metais brutos, tal como saem das minas ou das areias da lavra;
, q econumiu em jace aos mercaaos cobrado pelo rei). Aliás, as pinhas são
sempre de contrabando. A prata legal não amoedada fica em lingotes e
barras que se vêem circular muitas vezes na Europa.
Mas a moeda é ainda mais ágil. As trocas fazem-na "fazer acrobacias", a
fraude permite-lhe transpor todos os obstáculos. Para ela, --não há
Pirineus", como diz Louis Dermigny 196. Em 1614, nos Países Baixos,
circulam 40O tipos diferentes; na França, por volta da mesma época,
82197. Não há nenhuma região conhecida da Europa, mesmo entre as mais
pobres, onde as mais inesperadas moedas de vez em quando não se deixam
apanhar, quer no Embrunois alpino do século
X1V198, quer numa região isolada como é Gévaudan dos séculos XIV e XV199.
Por mais que os títulos multipliquem, muito cedo, seus serviços, o
numerário, o "dinheiro na mão", conserva suas prerrogativas. Na Europa
central, onde os europeus do Oeste adquiriram o cômodo hábito de
resolver, ou tentar resolver, seus próprios conflitos, o poder dos
adversários - França ou Inglaterra - é medido por distribuições de
dinheiro vivo. Em 1742, informações venezianas assinalam que a frota
inglesa trouxe grandes somas destinadas a Maria Teresa, "a rainha da
Hungria" 200. O preço da aliança de Frederico 11, em 1756, é, a expensas
da poderosa Albion, trinta e quatro carroças carregadas de moedas a
caminho de BerliM201. E tão logo se anuncia a paz, na primavera de 1762,
os favores passam para a Rússia: "O correio de 9 [de março] de Londres",
escreve um diplomata, "trouxe para Amsterdam e Rotterdam letras de câmbio
para melhor do que [sic] cento e cinqüenta mil moedas para fazer essa
soma passar à corte da
Rússia. 1 1202 Em fevereiro de 1799, transitam por Leipzig "cinco
milhões" de prata inglesa, em lingotes e em espécies; vindo de Hamburgo,
este dinheiro encaminha-se para a Áustria203.
Dito isto, o único, o verdadeiro problema é discernir, se possível, as
causas, pelo menos as modalidades dessa circulação que atravessa o corpo
das economias dominantes de um extremo ao outro do mundo. Parece-me que
essas causas e modalidades ficarão mais compreensíveis se distinguirmos
as três etapas evidentes: produção, transmissão, acumulação. Pois houve
mesmo países produtores de metal bruto, países exportadores regulares de
moeda, países receptáculos de onde a moeda ou metal nunca mais saem. Mas
houve também casos mistos, os mais reveladores, entre os quais a China e
a Europa, ao mesmo tempo importadoras e exportadoras.
Os países produtores de ouro ou de prata são quase sempre países ainda
primitivos, até selvagens, quer se trate do ouro de Bornéu, de Sumatra,
da ilha de Hainan, do Sudão, do Tibete, das Celebes ou das zonas mineiras
da Europa central, nos séculos XI-XIII e, depois, de 147O a 1540, quando
do seu segundo florescimento. Alguns garimpeiros se mantiveram - até o
século XVIII e mais tarde - à beira dos cursos de água da Europa, mas
trata-se de uma produção miserável que não conta muito. Nos Alpes, nos
Cárpatos ou no Erz Gebirge, nos séculos XV e XVI, é preciso imaginar
campos mineiros no meio de perfeitos ermos.
Os homens que lá trabalham levam uma vida muito dura, mas pelo menos são
livres!
Em contrapartida, na África, no Bambuk, que é o núcleo aurífero do Sudão,
as "minas" estão sob o controle dos chefes de aldeia. Lá existe, pelo
menos, uma serni-escravidão204. A situação é ainda mais nítida no Novo
Mundo, onde, para a exploração dos metais preciosos, a Europa recriou em
grande escala a antiga escravatura. Os índios da Mita (o recrutamento
mineiro), que são eles senão escravos? Como, mais tarde, os negros dos
garimpos do Brasil central no século
XVIII. Surgem estranhas cidades, a mais estranha, a de Potosí, a 4 mil
metros de altitude,
167
[to dos Andes, colossal acampamento de mineiros, cancro urbano onde )am
mais de
10O mil seres humanOS205. Ali a vida é absurda, mesmo para uma galinha
chega a valer oito reais, um ovo dois reais, uma libra de cera a dez
pesos, o resto nessa proporção206. Que dizer, senão que o dinheiro v,
alor? E não é o mineiro, nem sequer o dono das minas que ganha aqui as o
mercador, que adianta o.dinheiro em moeda, os víveres, o mercúrio ) às
minas, sendo reembolsado calmamente em metal. No Brasil do século.-odutor
de ouro, é a mesma história. Pelos cursos fluviais e pelos varas
expedições chamadas de monçõeS207 provenientes de São
Paulo, vão senhores e escravos negros das lavras de Minas Gerais e Goiás.
Só esses es enriquecem. Muitas vezes, o que resta aos mineiros é levado
pelo jogo, ão um pouco à cidade. O México será uma capital do jogo por
excelência. te, a prata ou o ouro pesam menos nas balanças do lucro do
que a farinha oca, o milho, a carne seca ao sol, a carne de sol, do
Brasil.
o poderia ser de outro modo? Na divisão do trabalho na escala mundial, ,
e mineiro cabe, repita-se, aos mais miseráveis, aos mais deserdados dos D
que está em jogo é demasiado importante para que os poderosos deste -jam
eles quem forem e estejam onde estiverem, não intervenham com toE também
não deixam fora do seu controle, pelas mesmas razões, a prosdiamantes ou
de pedras preciosas. Tavernier
via, seu papel é modesto, comparado com as funções que a Europa assuala
mundial.
Já antes da descoberta da América, a Europa encontrava -ritório, bem ou
mal, a prata ou o ouro necessários para cobrir o déficit ança comercial
no Levante. com as minas do Novo Mundo, foi confiraigou-se nesse papel de
redistribuidora do metal precioso.
os historiadores da economia, essa corrente monetária, num único sentii-
se uma desvantagem para a Europa, uma perda de substância. Não sear
segundo preconceitos mercantilistas? Imagem por imagem, prefiro dizer )pa
inunda constantemente os países com suas moedas de ouro e sobretu, a,
países que, de outro modo, lhe fechariam ou pouco lhe abririam as ioda
economia monetária vitoriosa não tende a substituir a moeda dos a sua
própria moeda - decerto por uma espécie de tendência natural, ija nisso
uma manobra intencional da sua parte? Assim é que, já no séducado
veneziano (então moeda real) substitui os dinares de ouro egípevante logo
se enche de moedas brancas da Zecca de Veneza enquanto com as últimas
décadas do século XVI, a inundação das moedas de oito ;, batizadas depois
plastras, que são, a distância, as armas da economia [ante do Extremo-
Oriente. Mahé de Ia
Bourdormais11O (outubro de 1729) iigo e sócio de Saim-Malo, Closrivière,
que arrecade fundos e lhos envie Icheri em piastras, para investi-los nas
diversas possibilidades do comérda índia. Se seus comanditários lhe
enviassem grandes capitais, explica nnais, ele poderia tentar a viagem à
China, que requer muito dinheiro, !nte reservada, como meio de fazer
fortuna, aos governadores ingleses a. Torna-se evidente que, neste caso,
uma grande quantidade de moea é a maneira de abrir um circuito, de entrar
nele à força. Aliás, acresDurdormais, "é sempre vantajoso manipular
grandes fundos porque assenhor do comércio, pois os rios sempre correm
para o mar".
i à vista esses efeitos de ruptura também na Regência de Túnis onde, ,
VII, a moeda de oito espanhola se tornou a moeda padrão do paíS221 . a
Rússia, onde a balança de pagamentos acarreta uma larga penetração
primeiro holandesas, depois inglesas. Na verdade, sem essa injeção
monorme mercado russo não poderia ou não quereria responder à procura
- No século XVIII, o sucesso dos mercadores ingleses provirá de seus tos
aos mercadores moscovitas, coletores ou agenciadores dos produdos pela
Inglaterra.
Em contrapartida, os primeiros passos da Companas índias foram difíceis
enquanto esta se obstinou em mandar tecidos r pouco dinheiro vivo aos
seus feitores desesperados, obrigados a constimos localmente.
pa está portanto condenada a exportar uma parte considerável de suas
prata e, às vezes, mas sem a mesma generosidade, de suas moedas de certo
modo, a sua posição estrutural, na qual ela se encontra desde
Moeda veneziana de 1471: a lira do doge Niccoló Tron. É o único doge cuja
efígiefoi reproduzida na cunhagem das moedas. (Clichê B.N.)
mente sem se deter'1222. Claro que é o contrabando ou o comércio
clandestino que aqui se encarregam desse papel econômico necessário. Há
fugas por todo o lado.
Mas são meros expedientes. Onde quer que o comércio esteja no primeiro
plano das atividades, é preciso, mais dia menos dia, que as portas se
abram de par em par e o metal circule intensa, livremente, como uma
mercadoria.
A Itália do século XV reconheceu essa necessidade. Em Veneza, tomou-se
uma decisão liberal quanto à salda de moeda, pelo menos desde 1396 223,
decisão renovada em 1397224, depois em 1O de maio de 1407 por uma medida
dos Pregadi225
que comporta uma única restrição: o mercador que extrair dinheiro (prata,
sem dúvida do Levante) deverá tê-lo importado primeiro e depositará um
quarto dele na Zecca, a casa da moeda da Signoria. Depois, ficará livre
para levar o resto "per qualunque luogo". É tamanha a vocação de Veneza
para exportar a prata para o Levante ou para o Norte da África, que a
Signoria sempre superestimou o ouro, fazendo deste (se assim se pode
dizer) uma "má" moeda abundante na praça e que, evidentemente, expulsa a
boa - a prata. Não é esse objetivo que se tem de atingir? Poderíamos
também demonstrar como Ragusa ou Marselha organizam essas saídas
necessárias e lucrativas. Marselha, vigiada pelas autoridades
monárquicas, só encontra junto delas intrigas e incompreensão. Se lhe
proibirem a livre circulação de piastras na cidade e o envio delas para o
Levante - ela se esforça por explicar, em 1699 -, se exigirem que elas
sejam refundidas nas casas da moeda, irão muito
ite para Gênova ou para Livorno. O sensato seria permitir que não só nas
também as cidades marítimas --corno Toulon ou Antibes ou outras, , em os
pagamentos à marinha' 1226, as exportassem.
onças de ouro nda; em 6 de março, 288 onças de ouro para o mesmo destino
e 2.656
1789, julga necessário observar que --o ouro e a prata [são] mercadorias
no Es231
1 para 14, 4 a 1 para 15, 5`33. Resultado: a França do século XVIII é uma
China em miniatura: a prata aflui para ela. Veneza, Itália, Portugal,
Inglaterra,
Holanda, até a Espanha234 valorizam o ouro. Bastam, aliás, diferenças
mínimas para que o ouro corra para essas valorizações; torna-se então
"uma má moeda", pois expulsa a prata, obriga-a a correr mundo.
A saída maciça da prata não deixou de criar, no interior da economia
européia, freqüentes contratempos. Mas por isso mesmo concorreu para o
triunfo dos títulos, esses paliativos; provocou prospecções mineiras
além-mar; incentivou o comércio a procurar sucedâneos para os metais
preciosos, a enviar para o Levante tecidos, para a China algodão ou ópio
indianos. Enquanto a Ásia se esforçava por pagar a prata com produtos
têxteis, mas sobretudo com produtos vegetais, especiarias, drogas, chá, a
Europa, para equilibrar sua balança, redobrou seus esforços mineiros e
industriais. Não encontrou ela, a longo prazo, um desafio que reverteu em
seu proveito? O certo é que, seja como for, não devemos falar, como
tantas vezes se faz, de uma hemorragia perniciosa para a Europa, como se,
em suma, ela tivesse pagado o luxo das especiarias e das chinesices com o
próprio sangue!
173
AS NACIONAIS `A COMERCIAL ;e trata aqui de estudar o mercado nacional no
sentido clássico da palaJ se desenvolveu de modo bastante lento e
desigual conforme os países.
- seguinte, voltaremos com vagar à importância dessa formação progresi
inacabada no século XVIII, e que fundou o Estado moderno.
ra, gostaríamos apenas de mostrar como é que a circulação coloca frente ;
diversas economias nacionais (para não falar de mercados nacionais), is e
as avançadas, como as contrapõe e classifica. A troca igual e a troca
equilíbrio e o desequilíbrio dos tráficos, a dominação e a sujeição
desenapa geral do universo. A balança comercial permite traçar um
primeiro bal deste mapa. Não que esta seja a melhor ou a única forma de
abordar a, mas, praticamente, são os únicos números que possuímos. E
mesmo rudimentares e incompletos.
, nça comercial é, numa dada economia, algo comparável ao balanço que or
faz no final do ano: ou ganhou, ou perdeu. Lê-se no Discours of the Veal
of this Realm of England (1549), atribuido a sir Thomas Smith: sempre ter
cuidado em não comprar dos estrangeiros mais do que lhes '235 Esta frase
diz o essencial do que é preciso saber sobre a balança, ue sempre se
soube a seu respeito. Pois tal sensatez não é nova: assim, ; de 1549, não
foram os mercadores ingleses obrigados pelo governo a xa a Inglaterra uma
parte das suas vendas superavitárias no estrangeiro i de espécies
monetárias? Por seu lado, os mercadores estrangeiros tinvestir em
mercadorias inglesas o produto de suas vendas antes de abanilha. O
Discourse of Trade... de Thomas Mun, escrito em
1703, se, em vez de comprar no local as provisões das tro; que combatiam
na
Holanda, fossem despachados "cereais, produtos idos e outros produtos- da
Inglaterra, as somas de dinheiro corresponderiam ficar" na ilha. Uma
idéia destas só pode acudir ao espírito de ) obcecado pelo temor de
perder as reservas metálicas. No mesmo ano, como tivesse de pagar os
subsídios em numerário prometidos a Portutado de Methuen, a Inglaterra
propõe saldá-los com exportações de ce, igo "de maneira que se
satisfizessem ao mesmo tempo suas obrigações ) de não deixar sair
numerário efetivo do reino"238.
1u11, o grande porto onde então chegam, vindos em linha reta dos
esmarqueses, os navios ingleses pesadamente carregados que regressam
- ele vê, julga ver o problema com os próprios olhos. Retoma números o
peremptórios: em 1785, nas alfândegas russas, 1.300.00O ú de mercaiadas à
Inglaterra; no outro sentido, 500.000: a vantagem para o Impériria Il é
de
800.00O libras. "Mas, não obstante este lucro aparente e ara a Rússia",
escreve ele, "sempre afirmei e continuo a afirmar que não
Vamos deter-nos por momentos no caso clássico (será, porém, tão bem
conhecido como se pretende?) da balança franco-inglesa. Durante o último
quartel do século
XVII e ao longo dos primeiros anos do século XVIII, afirmou-se repetida e
categoricamente que a balança se inclinava a favor da França. Um ano pelo
ou177
A economia em Jace aos mercados tro, esta tiraria de suas relações com a
Inglaterra um lucro anual de um milhão e meio de libras esterlinas.
Seja como for, é o que se afirma na Câmara dos Comuns, em outubro de
1675, e o que repetem as cartas do agente genovês em Londres, Carlo
Ottone, em setembro de
1676 e em janeiro de 1678111. Ele diz mesmo que cita esses números
baseado numa conversa que teve com o embaixador das Províncias Unidas,
observador pouco benevolente das atividades dos franceses. Uma das razões
admitidas para esse superávit favorável à França vem de seus produtos
manufaturados --vendidos na ilha muito mais em conta do que os que se
fabricam no local, pois o artesão francês contenta-se com ganhos
moderados ..... Estranha situação, uma vez que esses produtos franceses,
proibidos de fato pelo governo inglês, é a fraude que se encarrega de
introduzi-los. Isso só leva os ingleses a desejarem mais "di bilanciare
questo commercio", como explica nosso genovês, numa frase excelente.
E, para tal, obrigar a França a utilizar largamente os tecidos
ingleSeS249.
Nessas condições, a superveniência da guerra é boa oportunidade para pôr
um fim na invasão detestável e detestada do comércio francês. De
Tallard250, embaixador extraordinário em Londres, escreve a
Pontchartrain, em 18 de março de 1699: "...
O que os ingleses tiravam da França antes da declaração da última guerra
[a guerra chamada da Liga de Augsburgo, 1689-1697] chegava, na opinião
deles, a somas muito mais consideráveis do que o que passava da
Inglaterra para nosso país. Estão tão imbuídos desta crença e ficaram tão
persuadidos de que a nossa riqueza vinha de seu país, que, assim que
começou a guerra, fizeram um capital [no sentido de ponto capital?] de
impedir que o vinho ou qualquer mercadoria da
França entrasse no país deles, direta ou indiretamente." Para que este
texto faça sentido, é preciso recordar que, outrora, a guerra não rompia
todas as ligações mercantis entre beligerantes. Portanto, essa proibição
absoluta era em si algo contrário aos costumes internacionais.
Passam-se os anos. Recomeça a guerra, pela sucessão de Carlos 11 da
Espanha (1701). Depois, terminadas as hostilidades, as duas coroas têm de
reorganizar as relações comerciais que, desta vez, foram seriamente
perturbadas. É assim que, durante o ano de 1713, dois "especialistas",
Anisson, deputado de Lyon no
Conselho de Comércio, e Fénellon, deputado de Paris, se dirigem para
Londres.
Como a discussão começa mal e se arrasta interminavelmente, Anisson tem
tempo para compulsar as deliberações dos Comuns e os levantamentos das
alfândegas inglesas. Então, qual não é o seu espanto ao verificar que
tudo o que foi dito a respeito da balança das duas nações é totalmente
inexato! E que "fazia mais de
não é, sem tirar nem pôr, uma verdade de 1786, e vice-versa. Mesmo assim,
após o tratado de Eden (assinado em 1786 entre a França e a Inglaterra),
uma correspondência russa de Londres (1O de abril de 1787) que
179
185, a explosão de alegria popular foi muito mais viva do que rou o
anúncio da paz. Houve em Londres fogos de artifício, ilumina3s variados.
Em Coventry, os tecelões manifestaram-se num longo corm tosão de carneiro
na ponta de uma vara, na ponta de outra uma garinscrição: "no english
woolforfrench wine!" E tudo isso vivia, não om a razão econômica, mas sob
o signo da paixão nacional e do erro"', [temente, teria sido do interesse
bem compreensível das duas nações abrir ente as suas portas. Quarenta
anos mais tarde, David Hume observará que "a maior parte dos ingleses
achariam que o
Estado estava perto os vinhos franceses pudessem ser transportados para a
Inglaterra em ndância [... ] e nós vamos buscar na Espanha e em Portugal
um vinho menos agradável do que aquele que a França poderia fornecer-
nos".
o se fala do Portugal do século XVIII, os historiadores clamam em cozão o
nome de lord Methuen, o homem que vai buscar, em 1702, no je será a longa
guerra de
Sucessão da Espanha, a aliança com o peque1 para apanhar pelas costas a
Espanha fiel ao duque de Anjou, Filipe aceses. A aliança concluída teve
grande repercussão, mas ninguém achou :)rdinário o tratado comercial que
a acompanhava, simples cláusula de se haviam assinado tratados análogos
entre Londres e Lisboa em 1642, Mais ainda, franceses, holandeses,
suecos, em diversas datas e condin obtido as mesmas vantagens. O destino
das relações anglo-portuguesas então atribuído apenas ao tão célebre
tratado. É conseqüência de promicos que acabaram por se fechar sobre
Portugal como uma armadilha. iar do século XVIII, Portugal praticamente
abandonou o oceano índi)os em tempos, envia para lá um navio carregado
com seus delinqüenjoa para os portugueses o que Caiena será para os
franceses ou a Auss ingleses. Essa antiga ligação só readquire interesse
comercial para Por[o as grandes potências estão em guerra. Então, um,
dois, três navios io português, aliás equipados por outros, encaminham-se
para o cabo erança. No regresso, os estrangeiros que participaram desse
jogo perivezes abrem falência; o português tem demasiada experiência para
dei)rudente.
181
Xw W , 1, 1 t - J _, N1
, 1 li -1-- %, 1 - 1 _;
corn lí
5* k
3MU z,
4f
Lisboa no século XVII. (Clichê Giraudon.)
a portuguesa, mas não menos à tenacidade dos ingleses. Em 1759, o futuro
Constituinte, atravessa Portugal, a seus olhos "uma colônia explica:
"Todo o ouro do Brasil passava para a Inglaterra, que mantial sob o seu
jugo. Citarei um único exemplo que denigre a administrabal. Os vinhos do
Porto, único objeto de exportação interessante para, eram comprados em
massa por uma companhia inglesa à qual todos !rios eram obrigados a
vender a preços fixados por comissários ingleque Malouet tem razão. Há
realmente colonização comercial quando ^o tem acesso ao mercado em
primeira mão, à produção.
Ita de 1770-1772, porém, numa época em que parece findo o grande ouro
brasileiro
- mas continuam a chegar navios com ouro e diamanue a conjuntura, em seu
todo, sofre na Europa uma mudança negativa, nglo-portuguesa começa a
mexer-se. Irá inverter-se? Levará ainda al. Em 1772, quanto mais não seja
pelas tentativas de comércio com o Lisboa tenta afrouxar o domínio
inglês, "deter na medida do possível )uro" para LondreS258. Sem grande
sucesso. Entretanto dez anos mais ise uma solução. O governo português
decide finalmente "cunhar muitas prata e muito poucas de ouro". Para
grande descontentamento dos in"não vêem vantagem [em repatriar] prata,
mas sim ouro. É uma pequeconclui o cônsul russo em Lisboa, "que Portugal
trava em surdina' 9259. -eciso esperar ainda dez anos, no dizer do mesmo
cônsul, Borchers, um -rviço de Catarina II, para se contemplar o
espetáculo assombroso de
Todos estes exemplos são bastante claros. Há casos mais difíceis. Assim,
a
Europa de Oeste, em linhas gerais, tem uma balança desfavorável em
relação ao
Báltico, Mediterrâneo do Norte que liga entre si povos hostis e economias
similares: a Suécia, a Moscóvia, a Polônia, a Alemanha além-Elba, a
Dinamarca. E tal balança suscita mais de uma questão embaraçosa.
com efeito, desde o artigo sensacional de S. A. Nfisson (1944) - que só
hoje chega ao pleno conhecimento dos historiadores ocidentais - e após
outros estudos, especialmente o livro de Arthur Attmann traduzido para o
inglês em
183
185
1, 1 (fuUflUfritu erli Ju- - --- --Prova também de que Lyon, presa numa
superestrutura estrangeira, já era uma capital muito à parte, ambígua, da
riqueza da França.
Um documento excepcional chegou até nós, infelizmente incompleto: fornece
com minúcias as importações francesas em cerca de 1556 275 mas o "livro"
seguinte, onde figuravam as exportações, desapareceu. O gráfico da página
186 resume enumeração dessas cifras. O total situa-se entre 35 e 36
milhões de libras; e, como balança de uma França ativa é então certamente
positiva, as exportações ultrapassam em vários pontos essa soma de 36
milhões. Portanto, exportações e importações se elevam, no total, a 75
milhões de libras pelo menos, ou seja, uma soma enorme. Mesmo que acabem
por se anular na balança, essas duas correntes que andam lado a lado,
confluem, criam meandros e movimentos circulares, são milhares de ações e
de trocas sempre prontas a renovar-se. Mas esta economia ágil não é,
repita-se, a atividade total da França - essa atividade total a que
chamamos a renda nacional, que naturalmente não conhecemos, mas podemos
imaginar.
A partir de cálculos que veremos reaparecer ainda uma ou duas vezes no
decorrer de nossas explicações, estimei o rendimento per capita dos
venezianos, por volta de 1600, em 37 ducados; o dos súditos da Signoria
em Terraferma (isto é, no território italiano dependente de Veneza) em
cerca de 1O ducados. Esses números, evidentemente não garantidos, são por
certo demasiado baixos no que se refere à própria cidade de Veneza. Mas
marcam de qualquer modo uma prodigiosa distância entre as rendas de uma
cidade dominante e as do território por ela dominado.
Isto posto, se aceitarmos, em 1556, como renda per capita francesa um
número vizinho do da Terra Firme veneziana (dez ducados, ou seja, 23 ou
24 libras tornesas), poderemos estimar a renda de vinte milhões de
franceses em 46O milhões de libras - soma enorme, mas não mobilizável,
porque avalia em dinheiro uma produção em grande parte não
comercializada. Posso também partir para um cálculo da renda nacional,
das receitas do orçamento da monarquia. São da ordem dos
milhões.
Claro que nem todos podem ganhar nesse jogo. "Ninguém ganha sem que outro
perca:
a reflexão de Montchrestien tem a seu favor o born senso. Outros perdem,
com efeito: como as colônias sangradas até a exaustão, como os países
mantidos na dependência.
193
O mal é que toda a teoria parte dessa distinção baseada (quanto muito) em
algumas sondagens heterogéneas. Por certo nada proíbe que se introduza
numa discussão sobre --a grande transformação" do século XIX o potIatch
ou o kula (em vez da organização mercantil muito diversificada dos
séculos XVII e XVIII).
É o mesmo que recorrer, a propósito das regras do casamento na Inglaterra
no tempo da rainha Vitória, às explicações de Lévi-Strauss sobre os laços
de parentesco. com efeito, não se fez nenhum esforço para abordar a
realidade concreta e diversificada da história e depois partir daí. Nem
uma referência a
Ernest Labrousse, ou a Wilhelm Abel, ou aos numerosos trabalhos clássicos
sobre a história dos preços. Vinte linhas, e está resolvida a questão do
mercado na chamada época "mercantilista' '302. Sociólogos e economistas
no passado, antropólogos hoje, habituaram-nos, infelizmente, ao seu quase
total desconhecimento da história, o que lhes facilita mais a tarefa.
Além disso, a noção de --mercado auto-regulador- que nos é proposta303 é
isto, é aquilo, não é tal coisa, não admite esta ou aquela linha - está
relacionada com um gosto teológico pela definição. Esse mercado em que
"só intervêm a procura, o custo da oferta e os preços, que resultam de um
acordo recíproco"304, na ausência de qualquer "elemento externo", é uma
criação da mente. É demasiado fácil batizar de econÔmica uma forma de
troca e de social uma outra. Na realidade, todas as formas são
econômicas, todas são sociais. Houve, por séculos a fio, trocas sócio-
econômicas muito variadas que coexistiram, a despeito ou por causa da sua
diversidade. Reciprocidade, redistribuição são também formas econômicas
(D. C. North305 tem toda a razão neste ponto), e o mercado a título
oneroso, muito cedo implantado, é também ao mesmo tempo uma realidade
social e uma realidade econômica. A troca é sempre um diálogo e, de vez
em quando, o preço é imprevisível. Sofre certas pressões (a do príncipe,
ou da cidade, ou do capitalista, etc.), mas também obedece forçosamente
aos imperativos da oferta, rara ou abundante, e não menos da procura. O
controle dos preços, argumento essencial para negar o aparecimento, antes
do século XIX, do "verdadeiro"
mercado auto-regulador, sempre existiu e continua a existir. Mas, no que
se refere ao mundo pré-industrial, seria um erro pensar que as listas
oficiais de preços dos mercados suprimem o papel da oferta e da procura.
Em princípio, o controle severo do mercado é feito para proteger o
consumidor, isto é, a concorrência. Em última análise, seria mais o
mercado "livre", por exemplo o private market inglês, que tenderia a
suprimir ao mesmo tempo o controle e a concorrência.
Historicamente, temos de falar, a meu ver, de economia de mercado tão
logo há flutuação e consonância dos preços entre os mercados de uma dada
zona, fenômeno tanto mais característico por se produzir em diferentes
jurisdições e soberanias. Neste sentido, há economia de mercado muito
antes dos séculos XIX e
XX, os únicos que, ao longo de toda a história, segundo W. C. Neale306
teriam conhecido o mercado auto-regulador. Desde a Antiguidade os preços
flutuam; no século XIII, já flutuam conjuntamente em toda a Europa. A
seguir afirmar-se-a a consonância, dentro de limites cada vez mais
restritos. Até os minúsculos burgos do Faucigny, na Sabóia do século
XVIII, numa região de altas montanhas pouco propícia às ligações, vêem
seus preços oscilarem, no mesmo ritmo, de uma semana para outra, em todos
os mercados da região, conforme as colheitas e as necessidades, conforme
a oferta e a procura.
197
Capítulo 3
A PRODUÇÃO OU O CAPITALISMO
EM CASA ALHEIA
Será prudência? Será negligência? Ou o tema é que não lhe era propício? A
palavra capitalismo, até aqui, só me veio à pena umas cinco ou seis vezes
e eu poderia ter-me eximido de empregá-la. Mas não o fez! - exclamarão
todos aqueles que acham que se deve refugar, de uma vez por todas, esta
"palavra de combate"', ambígua, pouco científica, utilizada a torto e a
direito2. E sobretudo, sobretudo, impossível de empregar sem anacronismo
censurável antes da era industrial.
Pessoalmente, após prolongada tentativa, renunciei a expulsar a
importuna.
Pensei que não haveria nenhuma vantagem em me livrar, ao mesmo tempo que
da palavra, das discussões que ela acarreta e que chegam até nós com
certa vivacidade. Pois, compreender ontem e compreender hoje, para um
historiador, é a mesma operação. Será possivel imaginar a paixão da
história detendo-se bruscamente, a uma distância respeitosa da
atualidade, em que seria indecente, até perigoso, dar mais um passo? De
qualquer maneira, a precaução é ilusória.
Põe-se o capitalismo porta afora, ele entra pela janela. Porque há, quer
se queira quer não, mesmo na época pré-industrial, uma atividade
economica que evoca irresistivelmente a palavra e não aceita nenhuma
outra. Embora ela ainda não recorra muito ao "modo de produção"
industrial (que, por meu lado, não creio ser a particularidade essencial
e indispensável de todo capitalismo), mesmo assim não se confunde com as
trocas clássicas do mercado. Tentaremos defini-Ia no capítulo 4.
1 como metáfora: "O senhor de Voltaire vive, desde que está em Paris, i
como chegou/comendo seus fundos com sua renda. (N.T.)
O Comércio, tapeçaria do século XV. (Museu de Cluny, foto Roger-Viollet.)
do capital das suas forças"; seus amigos deveriam "desejar que vivesse
apenas da sua renda", diagnosticava justamente o Dr. Tronchin, em
fevereiro de 1778, alguns meses antes da morte do ilustre escritor23.
Vinte anos mais tarde, na época da campanha de Bonaparte na Itália, um
cônsul russo, refletindo sobre a situação excepcional da França
revolucionária, dizia (já o citei): "faz a guerra com o seu capital",
seus adversários apenas --com os seus rendimentos"!
Observe-se ainda que, neste brilhante comentário, o sentido de capital
designa o patrimônio, a riqueza de uma nação. Já não se trata da palavra
tradicional para uma soma de dinheiro, para o montante de uma dívida, de
um empréstimo ou de um fundo comercial, sentido que encontramos tanto no
Thrésor des trois langues de
Crespin (1627), no Dictionnaire universel de Furetière (1690), como na
Encyclopédie de 1751 ou no Dictionnaire de l'Académiefrançoise (1786).
Mas não estará este sentido antigo ligado ao valor dinheiro, tanto tempo
aceito de olhos fechados? Substituí-lo pela noção de dinheiro produtivo,
de valor trabalho, requererá muito tempo. Percebese, no entanto, esse
sentido em Forbormais e em
Quesnay, já citados; em Morellet
1759: "Não sou grande senhor, [alista. Sou um homem pobre e contente. -28
1790, a situação seria oposta: "As terras mais consideráveis estão na mão
de habitantes de Paris", escreve uma testemunha, --várias foram compradas
há pouco tempo por capitalistas; voltaram as suas especulações para esta
província porque é nela que os fundos são mais baratos, em proporção com
os seus rendimentos."
39
O tom, como se vê, nunca é amistoso. Marat, que desde 1774 adotou o
estilo da violência, chega a dizer: "Nas nações comerciantes, os
capitalistas e os que vivem de renda [fazem] quase todos causa comum com
os arrematantes de impostos, os financistas e os agiotas." 4O com a
Revolução, sobe o tom. Em 25 de novembro de
Mas para que multiplicarmos os exemplos? Todos eles nos levam, sem
hesitação nem mistérios, às reflexões conhecidas dos economistas sobre a
natureza do capital.
Capitais fixos e capitais circulantes
Capitais ou bens capitais (são a mesma coisa) dividem-se em duas
categorias: os capitais fixos, bens de longa ou bastante longa
duraçãofísica que servem de pontos
209
215
9 são leves, as corvéias pouco numerosas, dois ou três dias por ano
(lavra e )rte); os litígios mais violentos se referem apenas à utilização
dos bosques. as muitas coisas mudam de lugar para lugar. Precisaria
multiplicar as viaa Neuburg, na Normandia, com André Plaisse 117 ; a
Montesarchio, no reiápoles, com Gérard
Delille'18; com Yvorme Bézard a Gémeaux, na Borgodentro em breve iremos a
Montaldeo, na companhia de Giorgio Doria. Nauala, evidentemente, a uma
visão direta e precisa, oferecida, na maior parte es, por monografias em
geral excelentes.
is não é esse o nosso único problema. Perguntemo-nos antes, num plano )r
que razões o regime senhorial, milenar, que remonta pelo menos aos
graniínios do
Baixo-Império, conseguiu sobreviver ao princípio da modernidade. io
entanto não lhe faltaram provações. O senhor está preso por cima aos
feudais. E tais vínculos não são fictícios, ocasonam o pagamento de
ren[ais nem sempre leves, há "declarações", ocasião de chicanas; há
também
3se regime pesado não pôde estabelecer-se de um dia para o outro; houve
pro), aclimatação; e não faltaram as violências. Na Hungria, foi logo
depois rota da sublevação de Dosza (1514)147 que o Código de Werbõcz
proclamou etua rusticitas, isto é, a servidão perpétua do camponês. Será
proclamada, o, um século depois, na Assembléia dos Estados de 1608, após
o episódio levação dos Haiduks, os camponeses em fuga que viviam de saque
e de pis contra os turcos.
:)m efeito, a arma dos camponeses contra um senhor muito exigente é a
fuga.
apanhar o homem que, chegada a noite, foge com sua carroça, levando a mus
filhos, os bens empilhados, as vacas? Basta-lhe andar um bocado para enr,
ao longo da estrada, a cumplicidade dos irmãos de miséria; e por fim o
aco, to em outro domínio senhorial ou entre o bando dos fora-da-lei. Em
Lusace, ada a guerra dos Trinta Anos, multiplicam-se as cóleras e as
queixas dos selesados perante o Landtag148. Castiguem-se pelo menos
aqueles que ajudam tivos e os acolhem, pedem; arranquem as orelhas,
cortem o nariz, marquem n ferro em brasa a fronte dos fugitivos. Não será
possível obter do príncipe [a Saxônia, em
Dresden, um Reskript? Mas a lista infindável dos rescritos que im a livre
movimentação dos servos (na Morávia, 163 8, 165 8, 1687, 1699, 1712; sia,
1699,
235
ou o capitalismo em casa alheia im e não. Há uma diferença entre o
criador de Segóvia ou o cerealicultor, que itam a sujeitar-se à lei de um
usurário, e o senhor da Polônia que, desfavorecipraça de Gdansk, é todo-
poderoso em casa. Ele se serviu dessa onipotência )rganizar a produção de
maneira a atender a procura capitalista que só o ssa em função da sua
própria procura de produtos de luxo. Em 1534, escreveo regente dos Países
Baixos o seguinte: --Todos os grandes senhores e mestres lônia e da
Prússia encontraram há cerca de vinte e cinco anos meios de enviar rtos
rios todos o seu trigo a Danzig e ali vendê-lo aos habitantes dessa
cidade. esta causa o reino da Polônia e os grandes senhores se tornaram
muito ri151 Seguindo este texto à letra, imaginaríamos gentlemenfarmers,
empresários impeter. Não é nada disso. Foi o empresário ocidental que
lhes foi bater à pors era o senhor polonês que tinha o poder - como ficou
provado - de pôr erviço os camponeses e boa parte das cidades, de dominar
a agricultura e mesmanufatura, a produção inteira, por assim dizer.
Quando ele mobiliza esse io a serviço do capitalismo estrangeiro, torna-
se ele próprio ator do sistema. le, não há segunda servidão; e sem
segunda servidão o volume da produção cais exportáveis seria
infinitamente menor. Os camponeses prefeririam comer trigo ou trocá-lo no
mercado por outros bens se, por um lado, o senhor não açambarcado todos
os meios de produção, e se, por outro, não tivesse simente matado uma
economia de mercado já bem viva ao reservar para si todos os de troca.
Não é um sistema feudal, uma vez que, longe de ser uma econo, ais ou
menos auto -suficiente, se trata de um sistema em que, como diz o pró.
Kula, o senhor procura por todos os meios tradicionais aumentar as
quantide trigo comercializáveis. Mas é certo que também não se trata de
uma agria capitalista moderna, à inglesa. É uma economia de monopólio,
monopólio )dução, monopólio da distribuição, tudo a serviço de um sistema
internacioimbém ele forte e indubitavelmente capitalista152.
Europa recomeça na América. Oportunidade imensa para ela. Recomeça sua
diversidade, a qual se sobrepõe à diversidade do novo continente.
Í resultado é um feixe de experiências. No Canadá frances, o regime
senhorial uído a partir de cima falha logo de saída. Nas colônias
inglesas, o Norte é egião livre como a Inglaterra - o futuro lhe
pertence. Mas o Sul é escravosão regimes de escravos todas as fazendas,
particularmente as de cana-denas Antilhas e no interminável litoral do
Brasil. Regimes senhoriais esponprosperam nas zonas de pecuária, como a
Venezuela ou o interior do Brasil. imes feudais fracassam na
América espanhola de forte povoamento indíge; camponeses índios chegam a
ser concedidos a senhores espanhóis, mas as iiendas, dadas a título
vitalício, são mais concessões do que feudos: o goverianhol não quis
transformar em feudalidade o mundo reivindicador dos enideros, teve-o
muito tempo na mão.
ntre essas experiências, só nos interessarão as fazendas. Mais
diretamente do domínios da segunda servidão, elas são criações
capitalistas por excelência:
- - --, ~U UtrwiU os, mas como mercadores - primeiro lojistas, por fim
grandes negociantes os irmãos Pellet, de quem já falamos, fazem a sua
grande fortuna a partir tinica.
Souberam escolher o lado certo da barreira e, no momento oporturessar a
Bordeaux e a suas posições dominantes. Ao passo que os prestamisN,
msterdam que julgaram poder fazer adiantamentos calmamente a fazenJas
ilhas dinamarquesas ou inglesas, tal como fariam com negociantes da, ça,
tiveram um belo dia a desagradável surpresa de se verem proprietários
ndas penhoradas168.
caso da Jamaica inglesa condiz com o que dissemos de São Domingos. Na,
lesa, vamos encontrar a Casa grande, the Great House, os escravos
negros ) para cada branco), a onipresença da cana, a exploração pelos
mercadores ies de navios, uma libra colonial inferior à libra esterlina
(uma libra da InL vale 1, 4 da libra jamaicana), as piratarias e as
pilhagens de que, desta vez, a é a Inglaterra, sendo o francês o agressor
(mas nem um nem outro, nos lo Caribe, podem ter a última palavra).
Encontram-se também as chagas igos dos escravos fugitivos, os "maroons",
que se refugiam nas montanhas vindos às vezes do litoral e das ilhas
vizinhas. Desse ponto de vista, a situa169
. Então, tal como nas ilhas francesas, passam para o segundo pla, mílias
dos primeiros colonos que em geral trabalhavam com as próprias mãos jenas
lavouras de tabaco, de algodão, de índigo. A cana-de-açúcar exige gran,
stimentos. É o advento dos possuidores de capitais e das grandes
propriedaestatísticas dão até a impressão de uma propriedade mais vasta e
mais povoacravos, talvez mais rica do que em São Domingos. É um fato,
porém, que bastecida de carne salgada e de farinha pelos ingleses ou
pelas colônias inglekmérica, com o encargo de fornecer à Inglaterra a
metade do seu açúcar, -o a preços mais elevados do que os de São
Domingos e outras ilhas francesas. a como for, tal como as outras ilhas
de açúcar, a Jamaica é uma máquina riqueza, uma máquina capitalista, a
serviço dos ricos171. Como as mesmas ?roduzem os mesmos efeitos, tudo se
passa quase como em
São Domingos, ) grosso da riqueza produzida na colônia incorpora-se à
riqueza da metrós lucros dos fazendeiros seriam de 8 a 101% no MáXiMO172.
O essencial do o de importação e de exportação (para não falar dos lucros
do comércio ivos, que é feito apenas a partir da Inglaterra) "retorna e
circula no reino" os mesmos lucros "que o comércio nacional, como se as
colônias da Amévessem de algum modo grudadas na Cornualha": estas
declarações são de
5aixo se sucedem com muita freqüência'8'. Nem por isso esse rendeiro
deier um personagem novo, possuidor de um capital lentamente acumulado
que wna um empresário.
!j a como for, os amotinados da guerra das farinhas (1775) não se
enganarão: a os grandes rendeiros que voltarão a sua ira, nos arredores
de Paris e em regiões186. Há pelo menos duas razões para isso: de um
lado, a grande ex!o, objeto de inveja, é quase sempre obra de um
rendeiro; do outro, este é ideiro dono do mundo aldeão, tanto quanto o
senhor que reside na sua terra com maior eficácia, pois está mais próximo
da vida camponesa. É ao mesipo o armazenador de grãos, o criador de
empregos, prestamista ou o usurámitas vezes é encarregado pelo
proprietário da "receita dos censos, dos fos banalidades, até do
dízimo...
Em toda a região parisiense [estes rendeiros], a a Revolução, resgatarão
alegremente os bens dos antigos senhores`87. ;e realmente de um
capitalismo que tenta crescer de dentro para fora. É só um pouco e tudo
lhe sorrirá.
nossa apreciação seria ainda mais clara se nos fosse dado ver melhor
esses s rendeiros, conhecer-lhes a vida, julgar, de visu, o modo como
tratam os os cavalariços, os lavradores ou os carroceiros. É oportunidade
que nos e depois nos furta, o início dos Cahiers do capitão Coignet188,
nascido em m Druyes-les-Belles-Fontaines, no atual departamento de Yorme,
mas que, eras ou no princípio da Revolução, se encontra a serviço de um
grande merle cavalos de
Coulommiers, logo ligado aos serviços de coudelaria do Exérolucionário;
esse mercador tem pastos, terras de lavoura, rendeiros, mas ) não nos
permite avaliar a sua posição real. Será ele sobretudo mercador, Iário
explorador ou vive das rendas de suas terras arrendadas? Decerto as sas
ao mesmo tempo. Decerto é, oriundo do meio de grandes camponeses los. Sua
atitude paternal, afetuosa para com seus servidores, a grande mesa )dos
se reúnem, o patrão e a mulher à cabeceira, o "pão alvo como neve", ;o é
muito sugestivo. O jovem Coignet visita uma das grandes propriedades !o,
extasia-se perante a leiteria, "com torneiras por toda a parte"; o
refeitóe tudo reluz de limpeza; a bateria de cozinha, a mesa, encerada,
tal como os. "De quinze em quinze dias", diz a dona da casa, "vendo uma
carroça jos; tenho 8O vacas..." Infelizmente, essas imagens são sumárias
e o velho ) que escreve essas linhas desfia às pressas as suas
recordações.
iós a conquista de seus territórios da Terra Firme, Veneza tornou-se, no
prin)
século XV, uma grande potência agrícola. Já antes dessa conquista os seus
s possuíam terras, tais como "além-Brenta" na rica planície de Pádua.
Mas, Im do século XVI e sobretudo depois da crise das primeiras décadas
do sé11, a riqueza patrícia, numa verdadeira reviravolta, larga o
comércio e, com seu peso, volta-se para a exploração agrícola.
29%. Mas em 1763, ano excelente, é de 130%! Nos bons solos da Brie, entre
1656 e
247
249
Pormenor do mapa dos campos romanos por Eufrosino della Volpaia (1547).
Trata-se de uma região relativamente cultivada do N.-O. de Roma. com
efeito, vemos algumas lavouras, umajunta de bois, mas também enormes
espaços vazios, salpicados de ruinas romanas e de arbustos.
253
255
1789.
Restaria destrinçar as opiniões um pouco contraditórias, verificar a
oposição iasiado simples entre séculos XVII e XVIII. Ver o que se
esconde, por exemplo, :)rovença sob os movimentos anti-senhoriais que,
uma em cada três vezes, parei ter animado as revoltas dos camporieses119.
Um fato é certo: imensas regiões rança, a Aquitânia, o Maciço central, o
Maciço armoricano, estão tranqüilas
Final do Ancien Régime porque nelas subsistem as liberdades, porque nelas
se itêm as vantagens de uma propriedade camponesa ou porque se conseguiu
a ição à obediência e à mediocridade, como na Bretanha. Evidentemente,
pode; perguntar o que teria acontecido às terras da França se não tivesse
ocorrido volução. Pierre
Chauriu admite que a terra camponesa, quando da reação do po de Luís XVI,
se reduziu a 5007o ou 40% da propriedade francesa220. Prosiindo neste
caminho, teria a França chegado rapidamente a uma evolução a ina,
favorável à constituição generalizada de um capitalismo agrário? Esta
pera é do tipo das que ficarão eternamente sem resposta.
CAPITALISMO E pRÉ-INDúSTRIA
Indústria, a palavra não chega a libertar-se completamente do seu sentido
antigo: trabalho, atividade, habilidade - para adquirir, no século XVIII,
e nem sempre, quase o sentido específico com que a conhecemos, num campo
em que as palavras arte, manufatura, fábrica lhe fazem concorrência
durante muito tempo221. Triunfante no século XIX, a palavra tende a
designar a grande indústria. Portanto, aqui falaremos muitas vezes de
pré-indústria (embora a palavra não nos agrade muito). O que não nos
impedirá de, no meandro da frase, escrever indústria sem muitos remorsos
e falar de atividades industriais em vez de pré-industriais. É impossível
qualquer confusão, uma vez que nos situamos antes das máquinas a vapor,
antes de Newcomen, Watt ou Cugnot, Jouffroy ou
Fulton, antes do século XIX a partir do qual "a grande indústria nos
cercou por todos os lados".
Um modelo quádruplo
Por sorte, nesse campo não teremos de fabricar o modelo das nossas
primeiras explicações. Já há muito tempo, em 1924, Hubert Bourgin222
criou um modelo, tão pouco utilizado que ainda hoje é novidade. Para
Bourgin, qualquer vida industrial, entre os séculos XV e XVIII, entra
forçosamente numa das quatro categorias, que ele distingue a priori.
Primeira categoria: dispostas em "nebulosas", as inúmeras, as minúsculas
oficinas familiares, isto é, um mestre, dois ou três companheiros, um ou
dois aprendizes, ou uma família sozinha. É o caso do pregueiro, do
cuteleiro, do ferreiro da aldeia, tal como ainda há pouco tempo o
conhecíamos, e tal como hoje é na África Negra ou na índia, trabalhando
ao ar livre com os ajudantes. Entram nesta categoria a oficina do
tamanqueiro ou do sapateiro, bem como a oficina do ourives, com seus
instrumentos meticulosos e seus materiais raros, ou a atulhada oficina do
serralheiro, ou o quarto onde trabalha a rendeira, quando não o faz à
porta de casa. Ou então, no Delfinado do século XVIII, nas cidades e fora
das cidades, a --horda de pequenos estabelecimentos de caráter restrito,
familiar ou artesanal": após a ceifa ou a vindima, todos põem mãos à
obra... numa família fia-se, noutra tece-se223. Em cada uma dessas
unidades elementares, "mononucleares", "as tarefas são indiferenciadas e
contínuas", a ponto de muitas vezes a divisão do trabalho ser-lhes
inatingível. Familiares, quase escapam ao mercado, às normas habituais do
lucro.
Incluirei também nesta categoria algumas atividades que costumam ser
qualificadas, por vezes apressadamente, de não setoriais: as do padeiro
que entrega o pão, do moleiro que fabrica a farinha, dos queijeiros, dos
destiladores de aguardente ou de bagaceira, e dos açougueiros que, a
partir de uma matéria "bruta", fabricam de certo modo a carne comestível.
Quantas operações a cargo destes últimos, diz um dOcumento inglês de
1791: " They must not only know how to kill, cut up and dress their meat
to advantage, but how to buy a bullock, sheep or calf, standing. 1, 224
~ uu U- - cm CUSU aincia
A característica essencial dessa pré-indústria artesanal é sua
importãncia majorítária, a maneira pela qual, igual a si própria, resiste
às novidades capitalistas (enquanto estas, às vezes, cercam um ofício
perfeitamente especializado que, um belo dia, cai como fruta madura nas
mãos de empresários com grandes recursos). Seria necessária toda, uma
investigação para elaborar a longa lista dos ofícios e artesanatos
tradicionais que se manterão ativos muitas vezes até o século XIX, ou
mesmo O século XX. Ainda em 1838, nos campos genoveses, existia o velho
telaio da velluto, o tear para veludo 225. Na França, a indústria
artesanal tanto tempo prioritária só se tornará secundária em relação à
indústria moderna por volta de
1860226.
Segunda categoria: as oficinas dispersas, porém ligadas entre si. Hubert
Bourgin designa-asffibricas disseminadas (expressão bastante feliz,
tirada de G. Volpe).
Eu preferiria manufaturas disseminadas, mas não importa! Em se tratando
da fabricação de tecidos de lã no Mans, no século XVIII, ou, alguns
séculos antes, por volta de 1350, no tempo de Villani, da Arte della lana
florentina (6O mil pessoas num raio de uns cinqüenta quilômetros ao redor
de Florença e dentro da cidade)227 1 encontramos pontos distribuídos por
grandes extensões, mas ligados entre si. O coordenador, o intermediário,
o mestre-de-obras, é o mercador empresário que adianta a matéria-prima,
leva-a da fiação à tecelagem, ao pisoamento, à tinturaria, à tosadura dos
panos, e cuida do acabamento dos produtos, paga os salários e arrecada,
no fim, os lucros do comércio local ou de longa distância.
Esta fábrica disseminada constitui-se a partir da Idade Média, e não só
no têxtil, mas também "desde muito cedo na cutelaria, na pregaria, nas
ferragens que, em certas regiões, Normandia, Champagne, conservaram até
os nossos dias as características das suas origens' 1228. O mesmo se
passa com a indústria metalúrgica da região de Colônia, já no século XV,
de Lyon no século XVI, ou perto de Brescia, desde o Val Camonica, onde
ficam as serralherias, até as lojas de armeiros da cidade 229. Trata-se
sempre de uma sucessão de trabalhos que dependem uns dos outros até o
acabamento do produto fabricado e a operação comercial.
Terceira categoria: a "fábrica aglomerada", constituída tardiamente, em
datas diferentes conforme os ramos de atividade e as regiões. As forjas a
água do século XIV já são fábricas aglomeradas: diversas operações
encontram-se reunidas num mesmo local, Também as cervejarias, os
curtumes, as vidrarias. Enquadramse melhor ainda na categoria as
manufatUraS23% sejam elas do Estado ou privadas, manufaturas de toda
espécie - mas em sua maioria têxteis - que se multiplicam por toda a
Europa, sobretudo na segunda metade do século XVIII. Sua característica é
a concentração da mão-de-obra em construções maiores ou menores, o que
permite a vigilância do trabalho, uma divisão avançada das tarefas, em
suma um aumento da produtividade e uma melhoria da qualidade dos
produtos.
Quarta categoria: as fábricas equipadas com máquinas que dispõem da força
adicional da água corrente e do vapor. No vocabulário de Marx, são apenas
"fábricas". Na verdade, as palavras fúíbrica e manufatura são empregadas
correntemente uma pela outra, no Século XV111231. Mas nada nos impede de
distinguir, para nossa melhor compreensão, as manufaturas das fábricas. A
fábrica mecanizada, diremos para maior clareza, afasta-nos da cronologia
desta obra e nos introduz nas realidades do século XIX, pelos caminhos da
Revolução industrial. Contudo, eu consideraria a mina moderna típica do
século XVI, tal como a vemos na Europa central por meio dos desenhos do
De re metaltica de
Agricola (15 55), um exemplo,
261
168O 170O 172O 174O 176O 178O .180O 182O 184O 186O 1880
950, isto é, mais ou menos uma em cada cinco. Como tantas vezes, a
verdade não está nem de um nem de outro Grdfico elaborado por 0. Reuter,
Die Manufaktur im
Frânkischen Raum, 1961, p. 8.
263
238
iura do espírito" .
Na China, pelo contrário, na índia, pelo contrário, há na base a riqueza
de artesanato numeroso e hábil, urbano ou rural. Por outro lado, a
indústria têxtil
Gujarate ou de Bengala é uma espécie de constelação de "fábricas
dissemina9 e uma via láctea de oficinas minúsculas. E não faltam as
indústrias da terceira, em ambos os lados. Ao norte de Pequim, as minas
de carvão evocam uma já, centração nítida, apesar do controle do Estado e
da insignificância dos capitais stidoS239. O trabalho do algodão na China
é acima de tudo camponês e famimas, já no final do século XVII, as
manufaturas de Songjiang, ao sul de
Xanempregam de modo permanente mais de 20O mil operários, sem contar os
feiroS240. Su-tcheu, capital do Kiang Su, conta de 3 mil a 4 mil teares
que traiam a seda241. É como Lyon, diz um historiador recente, como Tours
"ou, me.ainda, uma espécie de Luca"242. Também "Kin te chun" possui, em
1793, , s mil fornos para cozer a porcelana [... ] todos acesos ao mesmo
tempo. O que a com que, à noite, a cidade parecesse estar toda em
chamas'>243.
O espantoso é que, tanto na China como na índia, esse artesanato
extraordiamente hábil e engenhoso não tenha produzido a qualidade das
ferramentas i que a história nos familiarizou na Europa. Mais ainda na
índia do que na ChiUm viajante que atravessa a índia em 1782 observa: "Os
ofícios dos indianos cem-nos simples porque em geral empregam poucas
máquinas e eles se servem.ias das mãos e de duas ou três ferramentas para
obras nas quais empregamos s de cem.,, 244
3s chineses: "De manhã, à porta, debaixo de uma árvore, monta o tear que
ionta ao pôr-do-sol. O tear é muito simples; consiste apenas em dois
rolos pous em quatro pedaços de madeira fincados no chão. Dois paus que
atravessam Jidura e são sustentados nas pontas, um por duas cordas
amarradas à árvore lixo da qual está montado o tear, o outro por duas
cordas atadas aos pés do ário [... 1 dãolhe a possibilidade de afastar os
fios da urdidura para passar nela, ma. 1 245 É o tear horizontal
rudimentar usado ainda hoje por certos nômades orte da África para fazer
seus tapetes de tenda.
Por que essas ferramentas imperfeitas que só trabalham à custa do esforço
dos ens? Será por estes serem, na India e na China, demasiado numerosos,
misera- vis? Porque há correlação entre ferramenta e mão-de-obra. Os
operários per
265
mil operários têxteis em 1680? E numa zona vinícola como era a généralité
de.ans, o recenseamento de 1698 enumera 21.84O vinicultores proprietários
e.171
1264
282
- 1 ptuuuç;uu U" " .111 1.-primeira fila 292. Irá a índia inundar a
Europa com seus tecidos? O intruso derruba todas as barreiras. A Europa
tem então de começar a imitar a índia, a tecer, a estampar o algodão. Na
França, a partir de l759293 o caminho fica inteiramente aberto para a
fabricação de tecidos de algodão. As chegadas de matéria-prima a Marselha
serão de 115.00O quintais em 1788, ou seja, dez vezes mais do que em
1700294.
É verdade que, durante a segunda metade do século XVIII, a grande
atividade geral da economia acarreta um grande aumento da produção em
todos os ramos do setor têxtil. Uma febre de novidade e de engenhosidade
técnica invade então as velhas manufaturas. Todos os dias nascem novos
processos, novos tecidos. Só na
França, zona imensa de oficinas, surgem "mignonettes, grisettes,
férandines e burats que são fabricados em Toulouse, em Mimes, em Castres
e em outras cidades e lugares" do Languedoc 295; chegam as
"espagnolettes" apreendidas na Champagne por não obedecerem às normas de
comprimento e largura e que parecem vir de
ChâlonS296; e as étamines de lã, moda nova, fabricadas no Mans, com
urdidura branca e trama castanha297; eis a "gaze soufflée", uma seda
muito leve e estampada por uma prensagem que faz aderir, graças a um
mordente, uma "poeira feita de linho triturado e amido" (grave problema:
deverá pagar direitos como tecido de linho ou como tecido de seda, já que
esta constitui um sexto do seu peso?)298 ; em Caen, uma mescla de linho e
algodão chamada "grenade" e que obteve muita saída na Holanda299 e a
"sarja de Roma" fabricada em ArnienS300, e o burel da Normandia301, etc.
Tal profusão de nomes tem no entanto significado.
E não menos significativa é a multiplicidade dos inventos, em Lyon, entre
os fabricantes de seda, ou as novas máquinas que surgem uma após a outra
na
Inglaterra. Compreende-se que Johann Beckmann302 um dos primeiros
historiadores da tecnologia, se regozige ao ler, na pena de D'Alembert:
"De todos os gêneros que há, acaso se imaginou coisa que revele mais
sutileza do que adamascar o veludo?"
Isso não impede que a primazia do têxtil na vida pré-industrial tenha, a
nossos olhos, algo de paradoxal. É o primado "retrógrado" de uma
atividade "iniciada na mais profunda Idade Média' 303. E, no entanto, as
provas estão à nossa frente.
A julgar por seu volume, por seu movimento, o setor dos têxteis sustém a
comparaÇão com a indústria carbonífera, que no entanto é moderna, ou,
melhor ainda, com as forjas da França para as quais os resultados da
averiguação de
277
1529.
O montante do capital para o investimento impedia, em geral, que algum
mercador, sozinho, se encarregasse sequer de uma só mina. É verdade que,
durante muitos anos, os Fugger assumiram a exploração total das minas de
mercúrio de Almadéri, na Espanha, mas os Fugger são os Fugger.
Habitualmente, tal como a propriedade de um navio se divide em partes, em
carats, a propriedade de uma mina
~U UtrICIU
287
sor, The Discovered Gold Mine' conta como "os manufatureiros, com muitas
despesas, mandam construir grandes edifícios onde os selecionadores de
lã, os cardadores, os fiandeiros, os tecelões, os pisoeiros e mesmo os
tintureiros trabalham juntos". Adivinha-se: a "mina de ouro" é uma
manufatura de tecidos de lã. Mas
- e esta é uma regra quase sem exceções - a manufatura possui sempre,
além de seus operários reunidos, operários dispersos na cidade onde se
situa, ou nos campos próximos, todos trabalhando a domicílio. Está
portanto verdadeiramente no centro de um Verlagssystem. A manufatura de
tecidos finos de Varirobais, em
Abbeville, emprega quase 3 mil operários, mas, deste total, não se
saberia dizer quantos trabalham para ela a domicílio, nos arredoreS355.
Uma manufatura de meias em Orléans, em 1789, tem na sede 80O pessoas, mas
utiliza o dobro fora356.
A manufatura de tecidos de lã fundada por Maria Teresa em Linz conta com
15.60O operários (26 mil em 1775) - não há erro neste número colossal;
aliás, é na
Europa central, onde a indústria tem um atraso para recuperar, que se
encontram os efetivos mais consideráveis. Mas, deste total, dois terços
dizem respeito a fiandeiros e tecelões que trabalham a dorniCílic, 357.
Em geral, na Europa central, as manufaturas recrutam muitas vezes
trabalhadores entre os servos camponeses - como na Polônia, na Boémia -,
o que prova de passagem, uma vez mais, que uma forma técnica se mostra
indiferente ao contexto social que encontra. Aliás, no Ocidente, também
há esse trabalho escravo, ou quase, uma vez que certas manufaturas
utilizam a mão-de-obra das workhouses, das casas onde são presos os
ociosos e os delinqüentes, os criminosos, os órfãos. E isso não os impede
de utilizar, além dessa, a mão-de-obra a domicílio, como as outras
manufaturas.
Poder-se-ia pensar que a manufatura se multiplica, assim, de dentro para
fora, à medida que vai crescendo. Mas é antes o inverso que é verdadeiro,
se pensamos na própria gênese da manufatura. Na cidade, ela é muitas
vezes o término de redes de trabalho a domicílio, o local onde, em última
instância, se completa o processo
1383) abrange umas dez pessoas trabalhando numa loja, enquanto outras
mil, dispersas por mais de 50O kM2 ao redor de Prato, estão a seu
serviço. Mas, pouco
1807.
Em 1702, o restabelecimento da manufatura foi feito graças a arrematantes
Isienses, entenda-se, banqueiros e financistas preocupados então em
proteger
1830, Saint-Gobain conta com 204 acionistas, alguns possuindo frações por
vezes ínfimas - oitavos, dezesseis avos - de deniers. Os preços destes
últimos, quando são estimados como parte de heranças, permitem
reconstituir a alta da cotação atravês dos tempos.
com toda a evidência, o capital aumentou muito. Mas talvez o fato deva
ser atribuído, em parte, ao comportamento dos acionistas. Em 1702,
tratava-se de homens de negócios, de arrematantes; mas, a partir de 1720,
as partes pertenciam às grandes famílias da nobreza em cujas fileiras os
herdeiros dos arrematantes haviam contraído casamento. É o caso da
senhorita Geoffrin, filha do tesoureiro da manufatura, e da senhora
Geoffrin, tornada célebre pelo seu salão, que se casou com o marquês de
La Ferté-Imbault. A manufatura foi portanto passando para o controle de
nobres que viviam de rendas e não de verdadeiros homens de negócios -
nobres que se contentavam com dividendos regulares e comedidos em vez de
exigirem a parte integral dos lucros. Não uma maneira de aumentar, de
salvaguardar o capital?
Sobre os lucros industriais
Seria evidentemente exagerado avançar, arriscar, em matéria de lucros
industriais, um juizo de conjunto. Essa dificuldade, para não dizer essa
quase impossibilidade, pesa muito sobre a nossa compreensão histórica da
vida econômica de outrora e mais precisamente ainda do capitalismo.
Precisaríamos de números, números válidos, séries de números. Se a
investigação histórica, que outrora nos deu uma profusão de curvas de
preços e de salários, nos oferecesse hoje o registro, de forma correta,
da taxa de lucro, os resultados poderiam traduzir-se em explicações
válidas: compreenderíamos melhor por que o capital hesita em procurar na
agricultura outra coisa além de uma renda: por que o universo instável da
pré-indústria se apresenta ao capitalista como uma armadilha ou um
terreno perigoso; por que este tem vantagem em se manter à margem desse
campo de atividade difuso.
O que é certo é que a opção capitalista só pode aumentar a distância
entre os dois andares - a indústria, o comércio. Estando o poder do lado
do comércio, senhor do mercado, os lucros industriais são constantemente
comprimidos pelas retiradas comerciais. Vemo-lo claramente em centros em
que uma indústria moderna não teria tido dificuldade alguma em prosperar:
por exemplo, as malharias de máquina ou a indústria da renda. Esta, em
Caen, no século XVIII, não é, nem mais nem menos, senão a constituição de
escolas de aprendizagem, o aproveitamento da mão-de-obra infantil, a
constituição de oficinas, de "manufaturas", por conseguinte, uma
preparação para a disciplina de grupo sem a qual a Revolução industrial
não teria realizado tão depressa seus "enxertos dilacerantes". Ora, essa
indústria de Caen ficou realmente periclitante e certa firma só se
reergueu porque um jovem empreendedor se lançou no comércio atacadista -
inclusive o de rendas.
299
- - uincia
De modo que quando o negócio prospera de novo é impossível calcular o
lugar ocu)ado pela manufatura.
Naturalmente, nada mais simples do que explicar, em face do enorme setor,
ndustrial, a carência das nossas medições. A taxa de lucro não é uma
grandeza acilmente apreensível; sobretudo, ela não tem a regularidade
relativa da taxa de uro381 que se pode, de certo modo, apreender por
sondagem. Variável, traiçoeia, ela se esquiva. O livro, em tantos pontos
de vista inovador, de Jean-Claude
Perot, demonstrou, porém, que tal busca não era ilusória, que se
conseguia definir personagem, que se poderia mesmo escolher, se
necessário, como unidade de re-rência, na falta da empresa (que aliás nem
sempre nos escapa), a cidade ou a proíncia. A economia nacional? É
preciso não pensar muito nisso.
Em suma, a investigação é possível, embora seja tremendamente cheia de
difiLildades. O lucro é o ponto imperfeito382 de intersecção de inúmeras
linhas;
portrito, essas linhas devem ser determinadas, traçadas, reconstruídas,
imaginadas se reciso. Inumeráveis variáveis, é certo, mas afinal Jean-
Claude
Perrot demonstra ue é possível aproximá-las, juntá-las segundo relações
relativamente simples. Há, -ve haver coeficientes aproximativos de
correlação que podem ser discernidos: colecendo x posso ter uma idéia da
grandeza de y... O lucro industrial está portancomo sabíamos, na
intersecção do preço do trabalho, do preço da matéria-prima, preço do
capital e, para terminar, situa-se na entrada do mercado. É a oportuniide
de J.-C. Perrot constatar que o lucro, o ganho do mercador todopoderoso,
rrói continuamente o "capitalismo" industrial.
Em suma, o que mais falta à investigação histórica nesse domínio é o
modelo um método, o modelo de um modelo. Sem Fraçois Simiand e,
sobretudo, sem nest
Labrousse, os historiadores não teriam empreendido alegremente, como fiam
ontem, o estudo dos preços e dos salários. Faltava encontrar um novo
imIso.
Assinalemos, então, se não as articulações de um eventual método, pelo
mes as exigências que ele deveria satisfazer:
M1NS àR_AIS
- GÕIÃS-1
25 de abril de 1782; "não deve ter outra restrição a não ivilégios das
messageries [entendendo-se por tal os transportes regulares Ies e de
pacotes que não excedam determinado peso]... Nada se deve fa
412
309
419
111 de subida: há equivalência entre as duas correntes, o que dá, por mês
e nos dois sentidos, um pouco menos de quatro viagens, por alto, um ritmo
semanal. A falia de uma ou duas viagens, em dezembro de 1705, explica a
brusca subida das receitas para a primeira descida de janeiro de 1706.
Segundo A.N., 2209.
: dezembro janeiro
- i fevereiro
- = março abril maio junho n
D julho agosto setembro outubro
18001200
0
600
1200
313
1 1< 1co
1, 11- 4
2 /w~ ZZu(-, avec les avaries felon les Us & Coutumes de lá M "' Et pour
ce ei, ir & aCCOMP;1 ie m'obl;ge corps & biens avec mondit Navire, Fret &
Apparaux d'ce1ui.
En témoip-nage de vérize, j'ai fÍg,, trois CotinoitTemens Xune même
tencur, dQnt l'un accorrípli, les autres de null'. V-lCUr.
V A 1 T à Cherb ourg. ce e ) jour d Z-C, ' mil fept celic
- -Conhecimento ou apólice de carga de um patrão de navio de Cherbourg. -
A.N.,
62 AQ
chuvas
1 manhã tarde fim de tarde noite pouco fresco fresco bem fresco muito
fresco muito forte constantes intermitentes muito nublado rublado
ligeiramente nublado tempo encoberto claro ito agitado, ondas altas
agitado calmo m
Por outro lado., é preciso ter em mente - a par da participação que é uma
operação verdadeiramente comercial, com partilha, numa ou noutra
proporção, dos riscos e dos lucros - a prática freqüente do empréstimo de
câmbio marítimo que, pouco a pouco, quase se separa da operação em curso,
da viagem que o barco vai realizar, para se tornar uma especulação quase
puramente financeira. O Com~ pagnon ordinaire du marchand452 tradução
francesa manuscrita de uma obra inglesa escrita em 1698, explica de
maneira saborosa o que pode ser um contrato de câmbio marítimo. Trata-se,
como se sabe, de um empréstimo marítimo, dizia-se mesmo outrora - repare-
se na palavra - usura marina. Para o mutuante, o melhor método é
emprestar para uma viagem a 30, 4O ou 5007o, conforme a extensão da ida e
da volta (tratando-se das índias, ela pode levar três anos ou mais).
Concedido o empréstimo, o mutuante segura imediatamente o dinheiro,
especifiquemos bem: o capital emprestado, mais o juro combinado - seguro
em boa forma, que será concluído a 4, 5 ou 6%. Se o navio naufraga no mar
ou é tomado por um corsário, recupera-se o haver inicial e o lucro
esperado, menos o prêmio do seguro. Ainda se sai ganhando e muito. E o
nosso guia prossegue: "Há hoje gente tão astuta que não só quer que lhes
hipotequem [sic] os navios mas também exigem um born mercador como caução
de seu dinheiro." Se, com mais astúcia ainda, obtémse o dinheiro do
investimento mediante empréstimo, na Holanda, por exemplo, onde o juro
está dois ou três pontos abaixo das cotações inglesas, ganhar-se-á, se
tudo correr bem, sem ficar privado do capital. Trata-se portanto de uma
espécie de transposição, para a área do aparelhamento marítimo, das
práticas bolsistas da época, e o cúmulo da astúcia está em jogar sem
sequer ter dinheiro no bolso.
Entretanto, realiza-se paralelamente outra evolução. Ao crescer, o
transporte marítimo divide-se em diversos ramos. Verdade primeiro
holandesa, depois inglesa. Primeiro sinal: as construções navais
apresentam-se como uma indústria autônoma. Em Saardam, em Rotterdatu453,
empresários independentes recebem as encomendas dos mercadores ou do
Estado e estão aptos a corresponder-lhes com brio, embora a indústria
continue a ser semi-artesanal. E, no século XVI,
Amsterdam não é apenas um mercado de navios novos ou em vias de
construção:
torna-se um enorme mercado para os navios em segunda mão. Por outro lado,
corretores especializam-se nos fretes, encarregando-se de arranjar
mercadorias aos transportadores ou navios aos mercadores. Há também,
claro, seguradores que já não são apenas, como outrora, mercadores que,
entre outras atividades, praticam a dos seguros. E os seguros
generalizam-se, se bem que nem todos os transportadores e mercadores
recorram forçosamente a eles. Mesmo na Inglaterra, onde já assinalei os
seguradores do Lloyd's, que tiveram o brilhante destino que conhecemos.
Há portanto, inegavelmente, uma mobilização de capitais e de atividades,
no século XVII e sobretudo no século XVIII, no setor das grandes viagens
marítimas.
Os financiadores, os armadores (embora a palavra só apareça raramente)
são indispensáveis aos "aprestos- e aos longos circuitos que se estendem
ao longo de anos. Até o Estado insiste em envolver-se, situação que, em
si, não é nova: as galere da mercato, nos séculos XV e XVI, eram barcos
construídos pela Signoria de Veneza e postos à disposição dos mercadores
patrícios para as longas viagens mercantis; também as carracas
portuguesas, esses gigantes dos mares do século
XVI, são bar
, -1 ~UuÇ:UU U. -1--.
por corsários ingleses nas costas da Espanha, em outubro de 1778. Teria
sido agradável obrigar os seguradores londrinos a pagar (o que acontecia
muitas vezes), mas no Tribunal do rei os advogados dos seguradores
sustentam que o
Carnate fora voluntariamente desviado de sua rota a partir da ilha de
France, e ganham o processo. Os banqueiros voltam-se então para os
armadores. Se houve desvio, o erro é-lhes imputável. E eis novo processo
em perspectiva454.
Outro caso: a falência da casa Harelos, Menkenhauser et Cie., de Nantes,
em
177 1455, que em setembro de 1788 ainda não estava resolvida. Entre os
credores encontra-se um certo Wilhelmy, "estrangeiro" (nada mais sabemos
dele) que ficara com uma participação de 9/64 (sobre quase 61.30O libras)
em cinco navios dos armadores, já no mar. Como de costume, os credores
foram divididos em privilegiados (proprietários) e quirografários (de
segunda linha). Encontraramse bons argumentos para classificar Wilhelmy
entre estes últimos - o que é confirmado pelo Conselho de Comércio (25 de
setembro de 1788) contra um aresto do Parlamento da Bretanha (13 de
agosto de 1783). Wilhelrny decerto não recuperou o seu dinheiro. Teria
seguro? Não sabemos. Seja como for, a moral da história é que se pode
perder com todos os trunfos na mão, diante de advogados que desenvolvem
imperturbavelmente a lógica dos seus argumentos. Confesso que me diverti
ouvindo-os.
Mesmo o câmbio marítimo, coberto pelo seguro, está portanto sujeito ao
risco, mas um risco limitado, e o jogo é tentador, sendo o juro
substancial sempre que há comércio de longa distância envolvido, com
grandes fundos investidos, prazos longos, lucros consideráveis. Não é de
admirar que o empréstimo de câmbio marítimo, operação sofisticada e
especulativa que, em profundidade, se dirige mais ao lucro comercial do
que ao lucro do transportador, seja quase a única maneira de o grande
capital se envolver no transporte marítimo. Para os transportes de rotina
a pequena distância (ou por itinerários que, no tempo de
São Luís, teriam parecido desmedidos mas se tornaram familiares), o
grande capital deixa o caminho livre aos pequenos empreiteiros. A
concorrência intervém, e muito, para comprimir o frete em proveito do
mercador. É exatamente a mesma situação dos transportadores das vias
terrestres.
Assim, em 1725, pequenos barcos ingleses se atiram literalmente aos
fretes disponíveis, em Amsterdam e nos outros portos das Províncias
UnidaS456. Oferecem seus serviços para excursões até o Mediterrâneo a
preços tão abaixo da cotação, que os freqüentadores do itinerário,
embarcações holandesas ou francesas de boa tonelagem, com grandes
tripulações e canhões para se defenderem, caso seja necessário, dos
piratas barbarescos, ficam, por assim dizer, sem serviço. Prova, se tal é
preciso, de que os grandes navios não levam vantagem, ipso facto, sobre
as pequenas tonelagens. O contrário é mais provável numa profissão em que
a margem de lucro, quando a podemos calcular, parece comedida. Um
historiador belga, W. Brulez, escreve-me a este respeito: "A
contabilidade de treze viagens de navios neerlandeses durante os últimos
anos do século XVI, quase todas entre a península Ibérica e o Báltico,
bem como uma viagem a Gênova e a Livorno, revela um lucro total líquido
de cerca de 607o. Certas viagens proporcionam, claro, um lucro mais
elevado, mas outras redundam em perdas para o armador, outras apenas
equilibram lucros e perdas." Donde o fracasso, em Amsterdam, em
MAUREPAS
PHELYPEAUX
BONNú NOUVELLE
NECESSAIRE
COMTE DE ROUSSY
PONTCHARTRAIN
ELEONOR DE ROYE
Despesas antes da partida:
Compra do barco Reparações
Equipamento Víveres
Ordenados
Despesas ger,
47.781 libras para 111.517; 46.194 para 115.574; 28.095 para 69.827
(convém notar que se trata de viagens mais curtas do que a dos navios de
Saim-Malo até as costas do Perii)459. Nesses três casos, muito por alto,
2C = F. Quer dizer que se inverteu a situação revelada nos nossos números
de 1706.
Capítulo 4
O CAPITALISMO EM CASA
Se o capitalismo está em casa na esfera da circulação, nem por isso lhe
ocupa todo o espaço. Onde, só onde as trocas são ativas, ele encontra
habitualmente suas linhas e lugares de eleição. Interessa-se pouco pelas
trocas tradicionais, pela economia de mercado de reduzido alcance. Mesmo
nas regiões mais desenvolvidas, há tarefas que ele assume, outras que
partilha, outras que não lhe interessam e deixa claramente de lado.
Nessas escolhas, o Estado ora é seu cúmplice, ora o importuno, o único
importuno que às vezes pode substituí-lo, afastá-lo ou, pelo contrário,
impor-lhe um papel que não teria desejado.
Em contrapartida, o grande negociante não tem dificuldade em se
descartar, todos os dias, passando-as aos lojistas e revendedores, de
certas tarefas de concentração, armazenagem e revenda, ou do
abastecimento normal do mercado, operações menores ou excessivamente
reguladas pelas rotinas e antigos meios de vigilância para deixarem
grande liberdade de manobra.
O capitalismo situa-se assim no interior de um "conjunto" cada vez mais
vasto do que ele, que o transporta e levanta no seu próprio movimento.
Essa posição elevada, no topo da sociedade mercantil, é provavelmente a
mais importante realidade do capitalismo, em virtude do que permite: o
monopólio de direito ou de fato, a manipulação dos preços. Seja como for,
é desse plano elevado que convém descobrir e observar o panorama do
presente capítulo para compreender-lhe o desenvolvimento lógico.
5 tem razão em ser como que obcecado por tal sociedade, pela sua hieraro
própria, sem o que o capitalismo seria mal compreendido. A Espanha, ós a
descoberta da América, dispõe de uma oportunidade inaudita, mas o ;mo
cosmopolita vem disputá-la com sucesso. Constrói-se então toda uma e de
ações escalonadas: na base, os camponeses, os pastores, os cerealiculs
artesãos, os regatones mascates e os emprestadores usuários; acima deles
alistas castelhanos que os têm nas mãos; finalmente, acima destes, a or-
o conjunto, os agentes dos Fugger e em breve, ostentando seu poder, os
es...
a pirâmide mercantil, essa sociedade à parte, nós vamos encontrá-la, sem,
I, por todo o Ocidente e em todas as épocas. Tem seus movimentos pró,
especialização, a divisão do trabalho operam-se habitualmente de baixo
ia. Se chamamos modernização, ou racionalização, ao processo de
distintarefas e de fragmentaçãe das funções, é uma modernização que se
manirimeiro na base da economia. Qualquer ímpeto das trocas determina uma
zação crescente das lojas e o surgimento de profissões especiais entre os
iuxiliares do comércio.
é curioso que o negociante, por sua vez, não siga a regra e, por assim
muito raramente se especialize? Mesmo o lojista que, ao fazer fortuna,
forma em negociante, passa imediatamente da especialização à nãozação. Em
Barcelona, no século XVIII, o botiguer que supera sua situação negociar
com qualquer produto16. Em Caen, um empreendedor fabricandas, André, em
1777, salva a casa paterna, à beira da falência; recupera-a Jo a zona de
compras e de vendas, visitando para isso cidades afastadas, Lorient,
Rotterdam, Nova York... Ei-lo mercador: será de admirar que tão se ocupe
não apenas de rendas, mas de musselinas, gêneros alimentí, S179 A regra
comercial impÔs-se-lhe. Tornar-se e sobretudo ser negocianião o direito,
mas a obrigação de lidar, quando não com tudo, pelo menos tas coisas. Já
disse que essa polivalência, a meu ver, não se explica pela
335
1tfr1" Ufri UU3U ;tá reservada a melhor parte. Em Marselha, contudo, uma
das grandes praças coÉerciais do século XVIII, observe-se, segundo
Charles Carrière 20, que os banquei)s não são reis.
Em suma, há, na constante reestruturação da sociedade mercantil, uma
posiio por muito tempo intangível que, na sua inexpugnabilidade, não
cessa de se eleir, de se valorizar à medida que se vão operando divisões
e subdivisões inferiores: a do negociante polivalente. Na Inglaterra, ele
cresce, em Londres e em todos os )rtos ativos já no século XVII, sendo, a
bem dizer, o único ganhador em tempos m difíceis. Em 1720, Defoe observa
que os negociantes de Londres têm cada vez, ais criados, querem mesmo
terfootmen, lacaios, como os fidalgos. Daí o número finitc, de librés
azuis, tão comuns que são chamados "librés de mercador-, e a cusa dos
nobres em usar essa cor para vestir seus serviçaiS21. Para o grande
merLdor, tudo muda, seu tipo de vida, suas distrações. O exportador-
importador, o erchant, enriquecido no mundo inteiro, torna-se um grande
personagem, de uma asse muito diferente da dos mercadores de middling
sort que se contentam com comércio interno e que, "embora muito úteis nos
seus postos, não têm qualquer reito às honrarias das posições elevadas",
diz uma testemunha de 1763 22.
Também na França, pelo menos a partir de 1622, os grandes mercadores adem
ao luxo. "Vestidos com roupas de seda, casaco de pelúcia", mandam os
empreidos fazer todas as tarefas inferiores. "De manhã, vemo-los no
câmbio [ ... 1, nem trecem mercadores, ou na Pont-Neuf, falando de
negócios no jogo de malha'
923 stamos em Paris, o jogo de malha fica no cais de Ormes, perto dos
Célestins, e "câmbio" no atual Palácio da Justiça). Em todas essas
atitudes, não há nada que mbre o lojista. Aliás, um decreto de 1629 não
permitia aos nobres a prática, sem rda dos foros de nobreza, do tráfico
marítimo? Muito mais tarde, o decreto de
337
1763 22.
ambóm na Frana, pelo menos a partir de 1622, os grandes mercadores
adeluxo.
"Vestidos com roupas de seda, casaco de pelilcia", mandarn os emprefazer
todas as tarefas inferiores. "De manhd, vemo-los no cdmbio [ ... ], nem m
mercadores, ou na Pont-Neuf, falando de negócios no jogo de malha' 23 os
em Paris, o jogo de malha fica no cais de Ormes, perto dos Ulestins, e
ribio" no atual
Paldcio da Justia). Em todas essas atitudes, ndo hd nada que o lojista.
Alids, um decreto de 1629 ndo permitia aos nobres a prdtica, sem dos
foros de nobreza, do trdfico marftimo? Muito mais tarde, o decreto de
bria-lhes o exercfcio do comórcio atacadista. Era uma maneira de
revalorizar uto dos mercadores numa sociedade que continuava a olhd-los
sobranceiraOs mercadores franceses ndo se sentem A vontade, como se v
pela curiosa que apresentam, em 1702, ao Conselho de
Comórcio. O que pedem: nem em menos que uma purga da profissdo que
distinga de uma vez por todas o Jor de todos os trabalhadores manuais,
boticdrios, ourives, peleiros, fabride malhas, mercadores de vinho,
fabricantes de meias em tear, adeleiros "e xos profissionais que sdo
operdrios [sic] e tm qualidade de mercadores". Numa a, a qualidade de
mercador pertenceria apenas dqueles "que vendem a merca;em nada incluir
de seu e sem nada acrescentar de si próprios"".
sóculo XVIII verd assim, em toda a Europa, o apogeu do grande
comercianista-se apenas no fato de ser graas ao desenvolvimento
espontdneo da vida nica, na base, que os negociantes avanam. Flutuam
sobre ela. Ainda que de Schumpeter sobre a primazia do empresdrio
contenha uma parte de veri realidade observada demonstra, nove entre dez
vezes, que o inovador 6 leelo fluxo da maró que sobe. Mas, entdo, qual 6
o segredo do seu &ito? Por palavras, como incluir-se entre os eleitos?
ma condido rege as outras: id estar, no infcio da carreira, numa certa
altuque triunfam a partir de zero sdo tdo raros outrora como hoje. E a
receita
Frontispicio do Parfait NÓgociant, de Jacques Savary, 1675. (Cole(do
Viollet.)
- -11 luau
F, que Claude Carrre dd a respeito da Barcelona do sóculo XV - "A mclhor
manei, 25
6, claro, porque tem trunfos na m5o e sabe servir-se deles; ou, se tudo
corre mal, 6 porque tem meios do se eclipsar, do se pór a salvo como
convóm. Estudando as cifras dos negócios em banco das seis maiores firmas
de Amsterdam, M. G.
Buist verifica que todas atravessarn sem danos a crise brusca e grave de
1763
- salvo uma que, alids, rapidamente se restabelecerd das perdas 29. Ora,
essa crise capitalista de 1763, no desfecho da guerra dos Sete Anos,
abalou o cerne económico da Europa e so assinalou por uma sórie de
falncias e bancarrotas em cadeia, de Amsterdam a Hamburgo, a Londres e a
Paris. SÓ lhe escaparam os prfncipes do grande comórcio.
Dizer que o xito capitalista assenta no dinheiro 6 evidentemente um
trufsmo, se pensamos apenas no capital indispensdvel a todas as empresas.
Mas o dinheiro
florins aos Bardi, 60O mil aos Peruzzi), uma soma desproporcional ao
capital duas sociedades - prova de que haviam comprometido nesses
empróstimos giitescos o dinheiro dos seus depositantes (podendo a
proporgdo ir de I a 10). Essa
Astrofe, "a mais grave de toda a história de Florenga" segundo o cronista
Villapesa sobre a cidade por causa das outras catdstrofes que a
acompanham.
Tanto into Eduardo III, incapaz de pagar suas dividas, a culpada 6 a
recessao que corEto meio O sóculo XIV e traz a peste negra na garupa.
A fortuna bancdria de Florenqa desaparece entao perante a fortuna
mercantil
Genova e de Veneza, e 6 a mais mercantil das suas rivais, Veneza, que
prevaleceio final da guerra de Chioggia, em 1381. A experiencia
florentina, de uma monidade bancdria evidente, nAo sobreviveu A crise
económica internacional.
Reslo a Florenga suas atividades comerciais e sua indfistria; no sóculo
XV, chegard
347
15, autorizaqdo que obtiveram fazia uns vinte anos como recompensa por
sua )articipaAo na criado das grandes manufaturas novas. Os armarinheiros
expli-am que "mant8m e permitem a subsistncia ndo só das manufaturas de
tecidos ias tambóm de todas as outras manufaturas txteis [as sedas] de
Tours, Lyon e utras cidades do Reino"90. E explicam ainda como, em Sedan,
em Carcassonne em
Louviers, com suas iniciativas e vendas, derarn origem As manufaturas de
teci:)s
A maneira da Inglaterra e da Holanda; vendendo-lhes a produ5o no
estrangeiassegurando sozinhos o seu abastecimento em Id da Espanha e
outras matóriasimas, sdo eles que lhes sustentain presentemente a
atividade. Que melhor demons ido de que essa vida industrial estd em suas
mdos?
Tambóm os bens dos paises distantes terminam por chegar As mdos do
portadorexportador: a seda da China ou da PÓrsia, pimenta-do-reino da
fndia de Sumatra, a cancla do Ceildo, o cravo-da-fndia das Molucas, o
atlcar, o tao, o cafó das
11, jeserva priva conduzia a Nagasaki ató 20O Mercadas do s&culo Xv acau
- a nau de trato - 6 25O os anos, a caraca de M oito meses no Japdo,
gastando h vontade a' ay Sete ou veitava e que foi uma cadores que !am
Pass que o Popular japons MU!" aPro . 96- apamil e 3oo mil taels, "c0m e
Inuito arnist0sos a seu respeito -ledo uais eles foram sempr falamos da
viagem anual do ga das razóes pelas q s de urn festim. Tambm id iais dois
mercado5 dispares cujos nhavarn as migalha la. Uma vez n m sentido ou
noutro, de Acapulco, em diretao a Mani ente ao cruzar O oceano nl f
antasticam grandes difereriqas produtos se vajoTizani inicos a lucray
cOn" essas neo aiguns homens, Os ibade
BeliardY, urn cOntempora cobrem de ourO rcadores do Mxico-, diz O, 6rcio
[a viagem do gade preo, -os me s 1nicos iliteressados CM mai"ter tal com
de Choiseul, "sdo 0
363
O capitalismo em casa
Veja-se como procedem os mercadores estrangeiros na França, sobretudo
holandeses (1647): "... mandam aos seus agentes e comissários moedas do
seu país, muito alteradas ou de liga muito inferior às nossas. E pagam
com essas moedas a mercadoria que compram, guardando os melhores
espécimes de nossa moeda que enviam ao seu país" 163.
Nada mais simples, mas, para consegui-lo, é preciso ocupar uma posição
forte.
Eis o que desperta a nossa atenção para as invasões regulares de más
moedas de que está cheia a história geral do monetarismo. Nem sempre são
operações espontâneas e inocentes. Dito isto, que é o que sugere,
exatamente, Issac de
Pinto164 quando dá à Inglaterra, que freqüentemente tem falta de
numerário, este conselho à primeira vista um tanto surpreendente, mas
sério: ela deveria "multiplicar mais a moeda miúda, a exemplo de
Portugal"? Será uma maneira de ter mais moeda para manobrar no nível
superior da vida mercantil? Português e banqueiro, Pinto sabia sem dúvida
do que estava falando.
Mas teremos examinado todos os problemas perversos da moeda? Claro que
não. Não será a inflação o essencial do jogo? Charles Mathon de La Cour
(1788) o diz com espantosa clareza. "O ouro e a prata", explica ele, -que
se extrai contiCasa de câmbio, gravura sobre madeira, século XVI.
(Coleção Viollet.)
377
204.075), rende mais de 120%, ao passo que em 1787 um navio idêntico, com
rie parecido, Le Bailli de Suffren, parte igualmente de Nantes, mas para
as Anas (despesas 97.922, lucros 34.051), e rende apenas 28% 176. E assim
por dianom as conjunturas, mudam os elementos em jogo... Em toda a parte.
Por exemem Gdansk, a compra do centeio no interior da Polônia e a sua
revenda aos indeses, entre 1606
e 1650, daria o enorme lucro médio de 29, 7%, mas com flu:ões
desconcertantes:
máximo, 201, 5% em 1633; mínimo, menos 45, 4% em [177. As conclusões são
naturalmente difíceis.
Entretanto, é certo que o paraíso dos altos lucros só é acessível aos
capitalistas manipulam grandes somas de dinheiro - suas ou alheias. A
rotatividade dos ais - que é também a lei inabalável do capitalismo
mercantil desempenha )apel decisivo. Dinheiro, e mais dinheiro! É
necessário para atravessar as espeis contracorrentes hostis, os percalços
e os atrasos, que nunca faltam. Por exemos sete navios de Saint-Malo que,
em 1706, chegam ao Peru
178 fazem, para r, uma despesa enorme, 1.681.363 libras. A bordo foram
carregadas mercado[o valor de apenas 306.199 libras. Tais mercadorias são
o coração da empresa, vez que o navio nunca leva dinheiro vivo para o
Peru. 12
preciso que, vendidas 'ru, trazidas para a França sob nova forma, o seu
valor se multiplique pelo s por cinco para cobrir, mais ou menos, a
despesa. Se apesar disso o lucro, n, se elevasse a 145% (como é o caso de
um barco de que temos conhecimen1 mesma época e no mesmo trajeto), seria
necessário, mantendo-se todas as s condições, que o valor inicial da
mercadoria tivesse sido multiplicado por Não nos causará portanto
surpresa ouvir Thomas Mun, o diretor da Companglesa das índias
Orientais1explicar, em 1621, que o dinheiro enviado às ín179
183.
Insistamos nessa qualidade essencial para uma história de conjunto do
capitamo:
sua plasticidade a toda a prova, sua capacidade de transformação e de
adap, ão.
Se há, como penso que haja, uma certa unidade no capitalismo, desde a
Itádo século XIII até o Ocidente de hoje, é aí que temos de situá-la e
observá-la i primeira instância. Apenas com algumas atenuantes, não
poderíamos aplicar Ústória do capitalismo europeu, de fio a pavio, estas
palavras de um economista iiericano atual184 sobre o seu próprio país,
cuja "história do século passado pro, que a classe capitalista sempre
soube dirigir e controlar as mudanças a fim de eservar sua hegemonia"? Na
escala da economia global, é preciso evitar a imam simplista de um
capitalismo a que as etapas de crescimento tivessem feito pasr, de fase
em fase, da mercadoria para as atividades financeiras e para a indústria
correspondendo a fase adulta, a da indústria, ao único "verdadeiro"
capitaliso.
Na fase chamada mercantil, tal como na sua fase chamada industrial -
abarndo ambos os termos uma grande variedade de formas -, o capitalismo
teve, mo característica essencial, sua capacidade de passar quase
instantaneamente de na forma para outra, de um setor para outro, em caso
de crise grave ou de dimiiição acentuada das taxas de lucro.
VIEDADES E MPANHIAS
Sociedades e companhias interessam-nos menos por si próprias do que como
"indicadores", como oportunidade de ver, para além dos seus próprios
testemunhos, o conjunto da vida econômica e do jogo capitalista.
A despeito das suas semelhanças e das funções análogas, é preciso
distinguir sociedades e companhias: as sociedades - sociedades comerciais
- interessam o capitalismo em si, e suas formas, que diferem na sua
própria sucessão, assinalam a evolução capitalista; as companhias de
grande porte (como as Companhias das índias) se reportam ao capital e ao
Estado ao mesmo tempo, e este, quando cresce, impõe sua intervenção; cabe
aos capitalistas submeter-se, protestar e, finalmente, tirar o corpo
fora.
edades.- os primórdios ma evolução
Desde sempre, desde que o comércio começou ou recomeçou, alguns
comerciantes se associaram, trabalharam juntos. Poderiam agir de outro
modo? Roma teve sociedades comerciais cuja atividade se estendia, com
facilidade e lógica, a todo o Mediterrâneo. Aliás, os "comercialistas" do
século XVIII ainda se reportam aos precedentes, ao vocabulário, por vezes
ao próprio espírito do direito romano, e sem cometerem grandes desvios.
Para encontrar as primeiras formas dessas sociedades no Ocidente, temos
de remontar a muito longe, se não a Roma, pelo menos ao despertar da vida
mediterrânea, aos séculos IX e X. Amalfi, Veneza e outras cidades, ainda
minúsculas como estas, dão a partida. Reaparece a moeda. Restabelecem-se
os tráficos em direção a Bizâncio e às grandes cidades do Islã, o que
pressupõe o domínio dos transportes e as reservas financeiras necessárias
para longas operações, e portanto unidades mercantis reforçadas.
Uma das soluções precoces é a societas maris, a sociedade marítima
(também chamada societas vera, sociedade verdadeira, "o que leva a supor
que tal forma de sociedade tenha sido, na origem, a única
existente'9)185. É também chamada, com variantes, collegantia ou
commenda. Em princípio, trata-se de uma associação binária entre um
socius stans, um sócio que fica no local, e um socius tractator, que
embarca no navio que vai partir. Seria uma divisão precoce do capital e
do trabalho, como pensou Marc Bloch, depois de alguns outros, se o
tractator - o portador, traduziríamos o mascate - não participasse,
embora de maneira em geral modesta, do financiamento da operação. E são
possíveis combinações inesperadas. Mas deixemos esta discussão, retomada
mais adiante
não são parentes]: "Não serão tomados bens da sociedade a não ser para
sustento e manutenção do lar de cada um, a fim de não alterar os fundos,
e não para outra coisa; e quando um tirar dinheiro avisará o outro, que
tirará o mesmo tanto, e isto para não manter contas a esse respeito..."
198 Essa "interpenetração entre o privado e o comercial é mais exagerada
ainda nas pequenas sociedades comerciais e inanufatureiras - 199es andita
Todas as sociedades em nome coletivo têm de enfrentar a difícil distinção
das responsabilidades - limitadas ou ilimitadas. Mais tarde, surge uma
solução - a da
202
wismo em casa
Inútil insistir nesse capítulo banal. Todavia, graças à sua própria ação,
o
Estalo confere às suas companhias um andamento especial. São mais livres
na
Inglatera, depois da Revolução de 1688, do que na Holanda, onde o peso de
um êxito anti;o se faz sentir. Na França, limitando-nos à Compagnie des
Indes, o governo moiárquico a faz e refaz a seu bel-prazer, a mantém sob
tutela, como que subtraída vida do país, suspensa no ar, incessantemente
administrada por homens pouco cometentes ou incompetentes. Qual o francês
que não nota essas diferenças?
De LonIres, em julho de 1713, um correspondente anuncia a constituição de
uma compahia do Asiento (virá a ser a Compagnie de Ia Mer du Sud, dotada
desde o início o privilégio, obtido há pouco pelos franceses, de
abastecer a América espanhola e escravos negros). Diz a nossa carta: "É a
uma companhia de particulares que stá entregue esse fornecimento; e aqui
as ordens da Corte em nada influenciam os, iteresses dos
particulares...,, 228 É, evidentemente, ir longe demais. Mas, nos
neócios, mesmo em 1713, já há uma grande diferença entre os dois lados da
Mancha.
Em suma, cumpriria poder marcar em que altura e de que modo se desenroim
as relações entre Estado e companhias. Estas só se desenvolvem se aquele
não itervém à francesa. Quando, pelo contrário, a regra é uma certa
liberdade econôiica, o capitalismo entra na praça, adapta-se a todas as
dificuldades e esquisitices dministrativas. Reconheçamos que a Oost
Indische Compagnie - alguns meses iais nova do que a East India Company
inglesa, mas o primeiro êxito espetacular fascinante entre as grandes
companhias -, reconheçamos que ela tem uma arqui-tura complicada e
estranha. com efeito, divide-se em seis câmaras independentes Ãolanda,
Zelândia, DeM, Rotterdam, Hoorn, Enkhuizen) acima das quais fica direção
comum dos XVII Senhores (Heeren Zeventien), dos quais 8
monstro, com uma monarquia forte no desfecho da guerra das Duas Rosas,
com suas corporações sólidas, suas ativas feiras, continua a ser um país
de economia tradicional. Mas a vida mercantil começa a apartar-se da vida
artesanal; a separação é, em linhas gerais, análoga à que se verifica nas
cidades italianas do préRenascimento.
É, obviamente, no âmbito das trocas exteriores que se constituem as
primeiras grandes sociedades inglesas. As duas maiores que podemos
observar - os mercadores exportadores de lã, os Merchants of the Staple,
sendo o entreposto em questão o de Calais, e os Merchant Adventurers,
negociantes de tecidos - têm ainda uma organização arcaica. Os Staplers
representam a lã inglesa, mas esta deixará de ser exportada. Deixemo-la,
portanto, na sombra. Os Merchant
AdventUrerS23O , que mobilizam em proveito próprio a imprecisa palavra
adventurers (que de fato designa todos os mercadores empresários que
participam do comércio externo), são exportadores de tecido cru para os
Países Baixos, com os quais é firmada uma série de acordos (em 1493-1494,
em 1505). Pouco a pouco, os mercers e os grocers de Londres ganham o
primeiro lugar entre todos os adventurers e esforçam-se por afastar os
homens da província que constituem o grupo rival dos mercadores ao norte
do Tweene. A partir de 1475, esses mercadores londrinos passam a agir
todos concertadamente, fretam os mesmos barcos para suas remessas,
organizam-se para o pagamento das alfândegas e para a obtenção de
privilégios, sob a ditadura em breve ostensiva dos mercers. Em 1497, a
realeza intervém para obrigar a companhia, centralizada em Londres, a
aceitar os mercadores de fora da capital. Mas estes só são aceitos numa
posição inferior.
A primeira característica que impressiona na organização dos Merchant
Adventurers é o fato de o seu verdadeiro centro se situar fora da
Inglaterra, por muito tempo em Antuérpia e em Berg-op-Zooni, cujas feiras
disputam entre si a clientela. Estar nos Países Baixos possibilita à
companhia jogar entre as duas cidades e preservar melhor seus
privilégios. Acima de tudo, é nesses mercados do continente que se fazem
as transações essenciais - venda de têxteis, compra de especiarias e
retornos em dinheiro. É aí que é possível se agarrar à mais ativa
economia mundial. Em Londres reinam os mercadores mais idosos, a quem
assustam a viagem e os mercados movimentados. Os jovens estão em
Antuérpia. Em 1542, os que residem em Londres queixam-se ao Privy Council
de que "os jovens de Antuérpia"
não fazem o menor caso da opinião dos seus "amos e senhores" de
LondreS231.
Mas o que nos interessa aqui é que a Merchant Adventurers Company
continua a ser uma "corporação". A disciplina que pesa sobre os
mercadores é análoga à que os corpos de ofícios exercem sobre seus
participantes no espaço restrito de uma cidade. Os seus regulamentos,
concedidos pelo Estado - como a codificação régia de 1608 232 -, definem-
no de forma saborosa. Os membros da companhia são "irmãos" entre si, e
suas mulheres, "irmãs". Os irmãos devem ir todos juntos aos ofícios
religiosos, aos enterros. Estão proibidos de se portar mal, de pronunciar
palavras grosseiras, de se embriagar, de tornar-se espetáculo para os
outros - indo, por exemplo, buscar apressadamente o correio em vez de
esperar na loja, ou carregando em pessoa as mercadorias, de costas
vergadas pelos pesados fardos; estão também proibidas as discussões, os
insultos, os duelos. A companhia é uma entidade moral, uma personalidade
jurídica. Tem o seu governo (governador, deputados, juizes, secretários).
Dispõe de um monopólio comercial e do privilégio da
1664 236 seria suprimida em 1674. Uma série de fracassos, into, mal
compensados pelo relativo sucesso da Companhia oriental das ínEm face
desses fracassos, o êxito inglês e holandês. Tal contraste requer
expli's. Importaria inscrever como entrave das empresas francesas a
desconfiança
239
Peter Laslett243 quis fazer-nos crer que a Companhia inglesa das índias
Orientais e o Banco da Inglaterra, que "já constituíam o modelo das
instituições que finalmente iriam dar forma aos 'negócios' tais como os
concebemos'% não tiveram "antes do início do século XVIII mais do que uma
influência ínfima sobre o conjunto da atividade comercial e industrial"
da Inglaterra. Charles Boxer é ainda mais taxativo, sem apresentar
nenhuma precisão que o apóie244. Para ele, o essencial não _são as
grandes companhias comerciais. W. R. Scott é mais preciso:
estima, em 1703 (após uma subida evidente), a massa dos capitais reunidos
pelas sociedades por ações era 8 milhões de libras esterlinas, ao passo
que, já em
1688, que foi a dos mercadores, a opinião pública está tão exaltada que o
priviégio da East India é suspenso e proclamada a liberdade do comércio
com as ínlias. Mas tudo volta a entrar na ordem em 1698, ou melhor, em
1708, voltando - exclusivo" a ser a norma.
A França passou por idênticas flutuações. Em 1681 (2O de dezembro) e em
1682
"não são negócios para um homem mas para um apaixonado pelo jogo". Uma
vez mais, a linha está traçada. do outro lado dessa fronteira, eis o
discurso que Émile Zola (1891)259 põe i de um homem de negócios em vias
de lançar uma nova sociedade bancária: a remuneração legítima e medíocre
do trabalho, com o equilíbrio sensato nsações cotidianas, a existência é
um deserto de uma monotonia extrema, rasmo em que todas as forças dormem
e vegetam [ ... ] Mas a especulação prio chamariz da vida, o eterno
desejo que impele a lutar e a viver Sem ação, não se fariam negócios."
prime-se aqui sem rebuço a consciência de uma diferença entre dois
munmômicos e duas maneiras de viver e de trabalhar. Literatura? Sim,
claro. ma linguagem muito diferente o abade Galiani (1728-1787), um
século mais ssinala a mesma ruptura econômica e, não menos, humana. Nos
seus Dialor le commerce des bleds (l770)26O lança, contra os fisiocratas,
a idéia es>sa de que o comércio do trigo não pode fazer a riqueza de um
país. E eis rionstração: não somente o trigo é o gênero alimentício "que
vale menos fionalmente ao peso e ao espaço que ocupa", sendo portanto de
transporte Lioso; não somente é perecível, destruído pelos insetos e
pelos ratos, difícil ervar; não somente "atreve-se a vir ao mundo em
pleno verão" e deve ser e ao comércio "na estação mais contrária", a dos
mares encapelados e dos Ds impraticáveis do inverno, como o pior é que
"há trigo por toda a parte. ta em nenhum reino". Nenhum reino tem sua
prerrogativa. Compare-se com e com o vinho, produtos dos climas quentes:
"Seu comércio [é] seguro, te, regular. A Provença há de vender sempre seu
azeite à Normandia [ ... 1 )s anos se faz o pedido de um lado e a entrega
do outro; isso não poderia ... 1 Os verdadeiros tesouros da França, em
matéria de produção do solo, inhos e o azeite. Todo o Norte precisa deles
e o Norte não os produz. Enomércio se estabelece, abre seu canal, deixa
de ser especulação e torna-se 'Quando se trata de trigo, é de esperar que
não haja regularidades; nunca de onde surgirá a procura, nem quem poderá
prover-lhe, nem se chegará mais, depois de outro já ter atendido as
necessidades. Os riscos são granor isso que "pequenos mercadores com
poucos recursos" podem fazer o D do azeite ou do vinho com lucro: "chega
a ser mais lucrativo se feito em i escala. A economia, a probidade fazem-
no prosperar [... ] Mas, para o coem grande escala] dos trigos, há de
procurar as mãos mais poderosas e os aais longos de todo o corpo dos
comerciantes". Só esses poderosos estão dos; só eles podem correr riscos
e, "como a perspectiva do risco suprime ão", ei-los "monopolizadores",
com "lucros na proporção do risco". Tal ção "do comércio externo do
trigo". No plano interno, entre as diversas
Capínilo 5
IE, w
IERARQUIAS SOCIAIS
No singular ou no plural, hierarquia social equivale a designar o
conteúdo banal, mas essencial, da palavra sociedade, aqui promovida, para
facilitar nossa exposição, a um nível superior. Prefiro dizer hierarquias
a estratos, ou categorias, ou mesmo classes sociais. Embora qualquer
sociedade de certo volume possua seus estratos, suas categorias, até suas
castas16 e suas classes, estas exteriorizadas ou não, isto é,
conscientemente sentidas, ou não, com eternas lutas de classes. Todas as
sociedades. Não estou, portanto, de acordo, desta vez, com Georges
Gurvitch, quando este sustenta que a luta das classes implica, condição
sine qua non, a consciência nítida dessas lutas e oposições, consciência
essa que, segundo ele, não existiria antes da sociedade industria118.
Ora, há inúmeras provas do contrário. E, sem dúvida, Alain
Touraine tem razão de escrever: "Toda a sociedade em que uma parte do
produto é retirada do consumo e acumulada" abriga um "conflito de clasyJ9
22: ado, obediência do outro. Diz um texto italiano de 1776 -Uma parte da
huma,, nidade é maltratada até a morte para que a outra se empanturre até
rebentar."
das
A ordem hierárquica nunca é simples, uma sociedade é diversidade,
pluralidade;
divide-se contra si própria e essa divisão é provavelmente o seu próprio
ser.
Tomemos um exemplo: a sociedade chamada "feudal", da qual os
historiadores e economistas marxistas ou marxizantes, que forcejam para
defini-Ia, tiveram de reconhecer e explicar o pluralismo intrínseco23.
Deixem-me dizer, antes de ir niais longe, que sou tão alérgico quanto
Marc Bloch ou Lucien Febvre à palavra feudalismo, utilizada com tanta
freqüência. Este neologiSM02`, derivado do baixo latim (feodum, o feudo),
refere-se, tanto para eles como para mim, apenas ao feudo e ao que dele
depende - nada mais. Não tem mais lógica subordinar a esse vocábulo toda
a sociedade da Europa, entre os séculos X1 e XV, do que à palavra
capitalismo a totalidade dessa mesma sociedade entre os séculos XVI e o
XX. Mas abandonemos esta discussão. Aceitemos mesmo que a sociedade
chamada feudal, outra fórmula corrente, possa designar uma grande etapa
da história social da
Europa, que seja lícito utilizar a expressão como um rótulo côrnodo
quando, afinal de contas, poderíamos dizer igualmente Europa A, usando a
Europa B para designar a etapa seguinte. Seja como for, a articulação de
A para B se delineou a partir da época denominada por ilustres
historiadoreS25 de verdadeiro
Renascimento, entre os séculos X e XIII.
A meu ver, a melhor exposição sobre a sociedade chamada feudal continua a
ser o resumo, seguramente muito breve e autoritário, de Georges
Gurvitch26 que, concebido a partir da leitura atenta do maravilhoso livro
de Marc BIoch27
1remberg36 o poder está, desde o século XVI, nas mãos de uma aristocracia
res
(43 famílias patrícias segundo a lei), isto é, 15O a 20O dos 2O mil
habitantes cidade, mais os 2O mil do seu distrito. Essas famílias têm o
direito exclusivo de 'da ear representantes ao Conselho interno e este
escolhe os Sete Anciãos (que, na oW idade, decidem tudo, governam,
administram, julgam e não prestam contas a,."~ém)
entre as poucas antigas famílias históricas e opulentas que em geral re.
Ulontam ao século XIII. Tal privilégio explica que se repitam sempre os
mesmos --nomes nos fastos de Nuremberg. Miraculosamente indene, a cidade
atravessará os sucessivos tumultos da Alemanha dos séculos XIV e XV. Em
1525, com um gesto decidido, os Herren ÃIteren enveredam para a Reforma.
E tudo estará dito. Em
Londres, em 1603, no fim do reinado de Elisabeth, todos os assuntos estão
sob a tutela de menos de 20O grandes mercadoreS37. Nos Países Baixos, no
século XVII, a aristocracia governante, a dos Regentes das cidades e dos
cargos provinciais, é de lo mil. pessoas para uma população de dois
milhões de indivíduOS38. Em
Lyon,
Os patricios de Nuremberg dançam no salão da Câmara Municipal. Não hd
multidão!
(Stadtbibliothek Nümberg, clichê A. Schmidt.)
4os senhores Cureau, Véron, des Granges, Montarou, Garnier, Nouet, Fréart
e
Bo[ier"42. Dunquerque, no fim do Ancien Régime, enriquecida por seu porto
frano, é uma cidade com pouco mais de 2O mil habitantes, nas mãos de uma
aristocraia de dinheiro, nem um pouco tentada a perder-se deliberadamente
nas fileiras de ma nobreza que, aliás, não está presente intra muros. Na
verdade, para que obter ítulo de nobreza quando se é habitante de uma
cidade franca onde todos têm o norme privilégio de não pagar talha, nem
gabela, nem selo? A exígua burguesia e
Dunquerque constituiu-se numa casta fechada, com "verdadeiras dinastias:
os
1%47.
Não cremos ter aqui um resultado aberrante: uma estimativa para o século
VIII cifra em 1 %, para toda a Lombardia, a porcentagem da nobreza
relativaente à população total das cidades e dos campos, e esse pequeno
número de privigiados detém quase metade da propriedade fundiária48. Num
caso mais restrito, is imediações de Cremona, por volta de 1626, em
1.600.00O pertiche de terras,
51
52
apenas 15O famílias, isto é, 60O a 70O pessoas. -Na França, por volta da
mesma época, a antiga nobreza consta de 8O mil pessoas, o total da
nobreza de 30O mil, "isto é, 1 a 1, 5%" dos franceseS53. Quanto à
burguesia, como distingui-Ia?
Sabemos mais o que ela não é do que o que ela é, e faltam os números. No
total, arrisca Pierre Léon, 8, 4% do conjunto, mas, neste número, quantos
grandes burgueses? A única porcentagem crível refere-se à nobreza bretã
(2%), mas a
Bretanha, com seus 4O mil nobres, está muito acima, como é sabido, da
média do reino 54.
Para encontrar uma porcentagem superior, estabelecida com certa
segurança, temos de trazer à baila a Polônia55, onde os membros da
nobreza representam 8 a 10% da população, "sendo a porcentagem mais
elevada da Europa". Mas esses nobres poloneses não são todos magnatas,
muitos deles são mesmo muito pobres, alguns simples vagabundos "cujo
nível de vida não diferia do dos camponeses". A classe mercantil rica é
mínima. Portanto, aqui, tal como nos outros lugares, a
sexo masculino
260025002400
2300'
22002100'
20001900
1800
1700
1600
15001400
^ ^fescuauc U14
89 Exemplos entre muitos outros. Mas com isso a questão estará dirimida?
Se esses desaparecimentos regulares das firmas comerciais se devem de
algum modo a um desgaste do espírito empresarial, cumpre concluir que a
conjuntura nada tem com isso? Mais ainda, ver nesse fenômeno o aspecto
social mais significativo do capitalismo, que representaria apenas um
momento da vida de uma linhagem familiar, é confundir comerciante com
capitalista. Ora, se todo grande comerciante é um capitalista, a
recíproca não é forçosamente verdadeira. Um capitalista pode ser um
financiador, um fabricante, um financista, um banqueiro, um rendeiro, um
administrador de fundos do Estado... Donde a possibilidade de etapas
internas, ou seja, um comerciante pode tornar-se banqueiro, um banqueiro
mudar para financista, uns e outros passarem a viver das rendas do
capital e assim sobreviver enquanto capitalistas, durante muitas
gerações. Os mercadores genoveses, que se tornam banqueiros e financistas
já antes do século XVI, atravessam indenes os séculos seguintes. O mesmo
se passa em Anisterdam:
cumpriria saber o que se tor
1778, se não terão passado para outro ramo da atividade capitalista, como
é provável, dado o contexto holandês do século XVIII. E mesmo quando esse
capital troca efetivamente a mercadoria pela terra ou pelo cargo, se
pudéssemos seguir durante tempo suficiente o seu caminho através do corpo
social, veríamos que não ficou ipsofacto definitivamente fora do circuito
capitalista, que há voltas à mercadoria, ao banco, às participações, aos
investimentos mobiliários ou imobiliários, até inJustriais ou mineiros,
às vezes estranhas aventuras, quando mais não seja por inermédio dos
casamentos e dos dotes "que fazem os capitais circularem"9'. Não
- espantoso ver, um século depois da colossal falência dos Bardi, alguns
dos seus lerdeiros diretos entre os sócios do banco Médicis919
1
- em comum com a nobreza autêntica são a recusa do trabalho e do
comérgosto pela ociosidade, isto é, pelo lazer para eles sinônimo de
leitura, de dises eruditas com os seus pares. Esta maneira de viver
implica, pelo menos, a inça, e geralmente esses novos nobres têm mais do
que abastança, têm uma fortuna de tríplice origem: a terra explorada com
método; a usura, praticada udo a expensas dos camponeses e fidalgos; os
cargos de magistratura e de, as, tornados transmissíveis e hereditários
desde antes da instauração da Ye, em 1604.
Todavia, mais do que de fortunas construídas, trata-se de fortu!rdadas.
Consolidadas, é certo, até ampliadas, já que dinheiro chama
dinheirmitindo êxitos e conquistas sociais. Mas, no início, a entrada em
órbita foi e a mesma:
a gentry saiu do comércio, o que procura esconder dos olhares retos e
deixa ciosamente na sombra.
Ião que enganem alguém! O Didrio de VEstoile111 nos relata - mas todos an
naquele tempo
Nicolas de Neufville,
- que senhor de Villeroi (1542-1617), ffio de Estado, à frente do governo
durante quase toda a sua vida, lutando maços de papéis [... 1 peles de
pergaminho...
riscos de pena' 1104 é neto de xcador de peixe que comprara três
senhorias em
A sociedade ou --o conjunto dos conjuntoso nobre usa uma longa toga negra
que nem sequer é sinal de sua posição, uma vez que, COMO explica Cesare
VecelliO, nos comentários da sua coletânea de "habiti antichi e moderni
di diverse~ del mundo" (fim do século XVI), a toga é também vestida pelos
'Icittadini, dottori, mercanti et altri". Os jovens nobres, acrescenta,
gostam de usar embaixo da toga negra roupas de seda de cores delicadas,
mas dissimulam tanto quanto possível essas manchas de cor "per una certa
modestia propria di quella Republica"... Não é portanto involuntária a
ausência de ostentação do vestuário por parte do patrício veneziano.
Também o uso da máscara, que não é reservado apenas ao Carnaval e às
festas públicas, é uma maneira de se perder no anonimato, de se misturar
com a multidão, de se divertir sem se exibir. As venezianas nobres
utilizam-na para irem aos cafés, a lugares públicos em princípio
proibidos às senhoras de sua posição. "A máscara, que comodidade!", dizia
Goldoni. "Por trás da máscara, todos são iguais e os principais
magistrados podem diariamente [... ] averiguar pessoalmente todos os
pormenores que interessam ao povo. [... ] Por trás da máscara pode estar
o Doge, que assim passeia muitas vezes." Em Veneza, o luxo é reservado ao
aparelho público, em geral grandioso, ou à vida estritamente privada. Em
Gênova, os nobili vestem-se com certa severidade. As festas decorrem
discretamente nas casas de campo ou no interior dos palácios urbanos, mas
não nas ruas ou nas praças públicas. Bem sei que em Florença, com o
século XVII, se instala o luxo das carruagens, impensável em Veneza,
naturalmente, impossível em Gênova, com as suas ruas estreitas, mas a
Florença republicana morreu com o regresso de
Alexandre de Médicis, em 1530, e a criação do grão-ducado da Toscana, em
1569.
No entanto, mesmo nessa época, Florença vive com simplicidade, quase
burguesmente, aos olhos de um espanhol. Do mesmo modo, o que faz de
Amsterdam a derradeira polis da Europa é, entre outras coisas, a modéstia
voluntária dos seus ricos que impressiona até os visitantes venezianos.
Numa rua de Amsterdam, quem é capaz de distinguir o Grande Pensionário da
Holanda dos outros burgueses com que cruza1149
437
126 (um pouco mais de um para cada três anos). Podemos chamar a estes
choques ou a estas tumultuosas revoltas, motins, tensões, lutas de
classes, incidentes, brigas populares - mas alguns têm tal vigor selvagem
que só lhes convém a palavra revolução. Na escala da Europa, ao longo dos
cinco séculos que este livro abarca, tratase de dezenas de milhares de
fatos, ainda nem todos rotulados como conviria, nem todos ainda retirados
dos arquivos onde dormem. As pesquisas até agora realizadas permitem
porém algumas conclusões, com possibilidades de exatidão no que se refere
aos tumultos camponeses, com muitas possibilidades de engano, em
contrapartida, no que concerne às agitações operárias, essencialmente
urbanas.
Quanto aos tumultos camponeses, e no que concerne à França, foi realizado
um enorme trabalho a partir do livro revolucionário de Boris Porchnev
131. Mas é evidente que a França não é o único caso a considerar, se bem
que, por causa dos historiadores, se tenha tornado, por ora, exemplar.
Seja como for, não há erro possível quanto ao conjunto dos fatos
conhecidos: o mundo camponês não pára de lutar contra o que o oprime, o
Estado, o senhor, as circunstâncias externas, as conjunturas
desfavoráveis, os bandos armados, contra o que o ameaça ou, pelo menos,
incomoda as pequenas comunidades aldeãs, condição da sua liberdade. E
tudo isso tende a unificarse em sua mente. Por volta de 1530, um senhor
manda seus porcos para os bosques comunitários, e uma pequena aldeia do
condado napolitano de Nolise subleva-se para defender seus direitos de
pasto aos gritos de: " Viva il popolo e muora il signore!'Y 13 Donde uma
série contínua de incidentes que dão testemunho das mentalidades
tradicionais, das particulares condições de vida do camponês, e isso até
meados do século XIX. Se, como observava Ingomar Bog, procurarmos uma
ilustração do que possa ser a "longa duração", suas repetições, seu
lenga-lenga, sua monotonia, a história dos camponeses fornecerá com
abundância exemplos perfeitos 133.
A primeira leitura dessa vastíssima história deixa a impressão de que
toda essa agitação nunca acalmada quase consegue triunfar. Revoltar-se é
"cuspir para o alto-134: ai.acquerie da ile-de-France, em 1358; a
sublevação dos trabalhadores ingleses, em 1381: a Bauernkrieg, em 1525; a
revolta das comunas da Guyenne contra a gabela, em 1548; a violenta
sublevação de Bolotnikov, na Rússia, no princípio do século XVII; a
insurreição de Dosza, na Hungria (1614); a enorme guerra camponesa que
sacode o reino de Nápoles em 1647 - todos esses furiosos surtos fra441
;e habituara a esmolarl.
Os arquivos das cidades mostram habitualmente o born pobre, o limite
infede uma vida dura mas ainda aceitável. Em Lyonl55 onde uma enorme
docuttação permite medidas e cálculos para o século XVI, esse limite
inferior, "esse ar de pobreza"
é estabelecido segundo uma relação entre o salário real e o cus[e vida,
isto é, o preço do pão. Regra geral: a renda diária disponível para as )
esas alimentares é metade da renda global. É pois necessário que essa
metade, superior ao custo do consumo de pão da família. Ora, a escala dos
salários uito larga: fixando em
1475-1499 o 1 5
1500-1524 o o 12
1525-1549 o 3 12
1550-1574 o 4 20
1575-1599 1 17 25
457
ESTADO INVASOR
O Estado é a confluência, a principal presença. Fora da Europa, há
séculos impõe um peso insuportável. Na Europa, com o século XV, recomeça
resolutamente a crescer. Os fundadores da sua modernidade são os "três
Magos", como os denomina
Francis Bacon: Henrique VII de Lancaster, Luís XI, Fernando, o Católico.
O seu Estado moderno é inovação, tal como o exército moderno, o
Renascimento, o capitalismo, a racionalidade científica. Um movimento
enorme, na verdade engatilhado muito antes dos Magos. O reino das Duas
Sicílias, de Frederico 11, (1194-1250?) é unanimemente considerado pelos
historiadores o primeiro Estado moderno. Ernst Curtius20O divertia-se
mesmo ao dizer que Carlos Magno havia sido, nessa área, o grande
iniciador.
As tarefas do Estado
Seja como for, o Estado moderno deforma ou quebra as formações e
instituições anteriores: os estados provinciais, as cidades livres, os
senhorios, os Estados de dimensões muito reduzidas. Em setembro de 1499,
o rei aragonês de Nápoles sabe que está, vê-se ameaçado de ruína: Milão
acaba de ser ocupada pelos exércitos de Luís XII, chega a sua vez. Jura
"que se for preciso se fará judeu, não quer perder tristemente o seu
reino. E parece que até com os turcos ameaça"101. Palavras de quem vai
perder tudo - e são uma legião aqueles que, na época, estão perdendo ou
vão perder. O novo Estado alimenta-se da substância deles, levado pelo
impulso da vida econômica que o privilegia. A evolução, porém, não vai
até o fim: nem a Espanha de Carlos V, nem a de Filipe 11, nem a
França de Luís XIV, que se quer imperial, conseguem recriar e confiscar
em seu proveito a antiga unidade da Cristandade. Para esta, a "rnonarquia
universal" é um chapéu que, decididamente, já não lhe cai bem. Todas as
tentativas são frustradas, uma após outra. Será que está velho demais o
jogo praticado por essas políticas ofuscantes de ostentação? É chegada a
hora das primazias econômicas, cuja realidade discreta ainda escapa ao
olhar dos contemporâneos.
Aquilo que Carlos V não consegue - tomar a Europa -, a Antuérpia obtém
com a maior naturalidade. Onde Luís XIV falha, a minúscula Holanda
triunfa: ela é o coração do universo. Entre jogo velho e novo, a Europa
escolhe o segundo ou, mais precisamente, este impõe-se-lhe. O resto do
mundo, pelo contrário, continua a baralhar suas velhas cartas: o Império
dos turcos osmanlis, vindo do fundo da história, repete o Império dos
turcos seljúcidas; o Grão-Mogol aproveita a mobília do sultanato de
Delhi; a China dos manchus continua a China dos Ming, à qual abateu
selvaticamente. Só a Europa inova politicamente, e não só politicamente.
Remodelado, ou até francamente novo, o Estado permanece o que sempre foi,
um feixe de funções, de poderes diversos. As suas principais funções
nunca variam muito, embora os meios estejam sempre mudando.
Primeira tarefa: fazer-se obedecer, monopolizar em proveito próprio a
violência virtual de uma dada sociedade, esvaziá-la de todas as suas
fúrias possíveis, substituindo-as por aquilo a que Max Weber chama a
"violência legítima"202.
século XVIII, no tempo das Luzes, na praça de Grève, onde se sucediam sem
parar as missas de suplício e seus lúgubres preparativos. O povo se
apinha para ver a execução de Lally-Tollendal, em 1766. Ele quer falar no
cadafalso? É amordaçado208. Em
1 - ---~4tuY
Até a Inglaterra passa por tais rigores. Em Londres, as execuções eram
efetua>ito vezes por ano, os enforcamentos são feitos em série, em
Tyburn, mais além nuralhas de Hyde Park, fora da cidade. Em 1728, um
viajante francês assiste wnove enforcamentos simultâneos. Lá estão alguns
médicos, à espera do corpo ompraram dos próprios supliciados, que beberam
"o dinheiro antes". Os pais, ondenados assistem à execução e, como as
forcas são baixas, puxam as vítimas ç pés para abreviar-lhes a agonia.
Contudo, segundo o nosso francês, a Inglater, ria menos impiedosa do que
a França. com efeito, acha ele que "a justiça na aterra não é
suficientemente rigorosa. Creio que há uma política de condenar
ilteadores de estrada apenas ao enforcamento para os impedir de chegarem
ao ssinato, o que raramente fazem". Em contrapartida, os roubos são
freqüentes, mo ou sobretudo ao longo da estrada dos carros rápidos, as
"carruagens voado' de
Dover a Londres. Então não conviria torturar, impor a marca da infâmia
ses ladrões, como na França? Assim, "seriam mais raros'1212.
Fora da Europa, o Estado tem a mesma feição, mais atroz ainda, pois na
Chino
Japão, no Sião, na índia, a execução está banalmente associada ao
cotidia, desta vez, à indiferença pública. No Islã, a justiça é rápida,
sumária. Em 1807, a entrar no palácio real de Teerã, um viajante tem de
passar por cima dos cadá-s de supliciados. Nesse mesmo ano, em Esmirna, o
mesmo viajante, irmão do eral
Gardanne, quando vai visitar o paxá local encontra "um enforcado e um
apitado estendidos na soleira de sua porta" 213. Em 24 de fevereiro de
1772, uma eta anunciava: "O novo paxá de Salônica, com sua severidade,
restabeleceu a na nesta cidade. À sua chegada, mandou estrangular alguns
turbulentos que perDavam a tranqüilidade pública, e o comércio, que
estava suspenso, retomou toa sua atividade.' 1214
E não são os resultados que contam? Essa violência, esse pulso rude do
Estado garantia da paz interna, da segurança das estradas, do
abastecimento seguro ;
mercados e das cidades, da defesa contra os inimigos externos, da
condução, az das guerras que se sucedem umas após outras. Paz interna,
não há bem que he compare! Jean Juvénal des Ursins, por volta de 1440,
durante os últimos anos guerra dos Cem Anos, dizia "que se viesse um Rei
capaz de a dar [aos france1, nem que fosse sarraceno, ter-se-iam colocado
sob sua obediência' 215. Bem is tarde, se Luis XII torna-se o "Pai do
Povo" é por ter tido a sorte, e o favor ; circunstâncias, de restabelecer
a tranqüilidade no reino e de prolongar "o temdo pão barato". Graças a
ele, escreve Claude Seyssel (1519), a disciplina é "tão (r)rosamente
mantida, com a punição de apenas um pequeno número dos mais pados, a
pilhagem í ... 1 a tal ponto castigada que os homens de armas nem ousam
pegar num ovo de um camponês sem o pagar' 216. E não foi por ter
salvaardado esses bens preciosos e precários - a paz, a disciplina, a
ordem que caleza da França, depois das Guerras Religiosas e dos graves
tumultos da
Fron, se restabeleceu tão depressa e se tornou "absoluta"?
Yas superam as receitas:, ao empréstimo
O Estado tem cada vez mais necessidade de dinheiro para realizar todas as
suas refas, à medida que amplia e diversifica a sua autoridade. Já não
pode, como outro, viver das propriedades do príncipe. Tem de deitar mão à
riqueza que circula.
1596,
Jakob Fugger e o seu contador, estampa alemã do século XVI, época em que
a casa de A ugsburgo, a primeira do mundo, empresta somas enormes a
Carlos V. Nos escaminhos de arquivo, os nomes das grandes praças
mercantis da Europa.
(Fototeca A. Colin.)
O drama das finanças espanholas é terem de recorrer sempre a novos
asientos. No tempo de Carlos V, os protagonistas desses adiantamentos, em
geral exigidos inopinadamente, foram os banqueiros da Alta Alemanha, os
Welser e, mais ainda, os Fugger. Não lamentemos esses príncipes do
dinheiro. No entanto, têm razões para se preocupar: bem vêem o dinheiro,
sonante e de lei, sair dos seus cofres.
Para fazê-lo retornar cumpre sempre esperar, ameaçar um pouco, apoderar-
se das fianças: os Fugger se tornarão assim senhores dos Maestrazgos (as
pastagens das
Ordens de Santiago, Calatrava e Alcantara) e exploradores das minas de
mercúrio de Almadén. Pior ainda, para recuperar o dinheiro emprestado é
preciso emprestar mais. Praticamente fora do jogo dos asientos a partir
da bancarrota de 1557, os
Fugger regressam a ele no fim do século, na expectativa de recuperar o
irrecuperável.
Por volta de 1557, começa o reinado dos banqueiros genoveses, os
Grimaldi, os
Pinelli, os Lomellini, os Spinola, os Doria, todos nobili vecchi da
República de
São Jorge. Organizam a partir de 1579, em Piacenza, para as suas cada vez
mais vastas operações, as feiras de câmbio chamadas de Besançon, que irão
durar muito tempo. Desde então passam a ser simultaneamente donos da
fortuna da Espanha, pública e privada (quem na Espanha, nobres ou gente
da Igreja e sobretudo "oficiais", não lhes confiava dinheiro?), e,
indiretamente, de toda a fortuna, pelo menos a mobilizável, da Europa. Na
Itália, todos jogarão nas feiras de
Besançon e emprestarão dinheiro aos genoveses, sem sequer o saber,
arriscando-se a serem surpreendidos9 como os venezianos, pela bancarrota
espanhola de 1596, que lhes saiu muito cara.
, --Jurg~
O que torna os mercadores genoveses indispensáveis ao Rei Católico é eles
transirmarem nunifluxo contínuo a corrente intermitente que traz para
Sevilha a prata L América. A partir de 1567, é preciso pagar
regularmente, todos os meses, às Dpas espanholas que combatem nos Países
Baixos. Exigem ser pagas em ouro, was exigências serão atentidas até o
fim do reinado de Filipe 11 (1598). É portannecessário, ainda por cima,
que os genoveses transformem em ouro a prata da mérica. Terão êxito nessa
tarefa dupla e continuarão a servir o Rei Católico até bancarrota de
1627.
Então, saem de cena. Depois dos banqueiros alemães, é a segunda montaria
ie o cavaleiro espanhol estoura. Nos anos 1620-1630, é a vez dos
cristãos-novos )rtugueses. O conde-duque de Olivares chamou-os com
conhecimento de causa: m efeito, são os homens-de-palha, os testas-de-
ferro dos grandes mercadores prostantes dos Países Baixos. Por meio
deles, a Espanha aproveita os circuitos do édito holandês quando, em
1621, recomeça a guerra contra as Províncias
Unidas.
Não há dúvida de que, no tempo de sua grandeza, a Espanha não soube
coniir empréstimos e deixou-se espoliar pelos credores. Seus dirigentes
tentaram às zes reagir, até vingar-se: Filipe II organizou a bancarrota
de 1575 para se desemiraçar dos genoveses. Em vão. E é voluntariamente
que estes, em 1627, renunciao, ou melhor, se recusarão a renovar os
asientos. O capitalismo em escala intericional já pode agir como dono do
mundo.
ção financeira inglesa:
~ - ~O 4.unjun~
Board of Treasury, um Conselho do Tesouro, em suma, que vigiará o
trânsito das rendas para o Exchequer. Na nossa linguagem atual, diríamos
que houve nacionalização das finanças implicando, nesse lento processo, o
controle do
Banco da Inglaterra (controle que se instaura apenas em meados do século
XVIII, embora o banco tivesse sido fundado em 1694), depois, já em 1660,
a intervenção decisiva do Parlamento no voto dos créditos e dos novos
impostos.
Uma reflexão incisiva, embora infelizmente muito breve, de observadores
franceses permitir-nos-á verificar que essa nacionalização é uma
transformação burocrática profunda, que altera todas as relações sociais
e institucionais dos agentes do Estado. O governo de Luís XIV enviou à
Inglaterra, por duas vezes,
Anisson, deputado de Lyon, e Fenellon, deputado de Bordeaux no Conselho
de
Comércio, para lá negociarem um acordo comercial que, aliás, não se
concluirá.
Eis o que eles escrevem de Londres, em 24 de janeiro de 1713, a
Desmarets, inspetor geral das Finanças: -... como os agentes aqui estão,
como aliás em toda a parte, muito interessados, esperamos chegar a termo
com dinheiro, tanto mais que os presentes que lhes oferecemos não podem
de maneira nenhuma cheirar a corrupção, uma vez que tudo aqui está
estatizado.'y23O A corrupção de um funcionário seria menos visível por
ele em princípio representar o Estado - é o que falta provar. O que é
certo é que, aos olhos dos observadores franceses, a organização inglesa,
bem próxima de uma burocracia no sentido moderno, é original e diferente
da que eles conheciam: "Aqui tudo é estatizado."
Em todo caso, sem esta reapropriação do aparelho financeiro do Estado, a
Inglaterra não poderia ter desenvolvido, como desenvolveu, um sistema de
crédito eficaz, embora por muito tempo vilipendiado pelos contemporâneos.
Não devemos valorizar excessivamente a influência de Guilherme III, o
stadthoudèr da Holanda que se tornou rei da Inglaterra, na instauração do
sistema. E certo que, logo de início, ele contraiu grandes empréstimos,
"à holandesa", para angariar para a sua causa, ainda precária, grande
número de titulares de rendas sobre o Estado.
Mas foi ainda segundo processos tradicionais, até obsoletos, que o
governo inglês pediu empréstimos para fazer face às dificuldades da
guerra da Liga de
Augsburgo (1689-1697), depois da guerra da Sucessão da Espanha (1701-
1713). A novidade decisiva, o empréstimo de longa duração, vai-se
aclimatando lentamente.
Os governantes aos poucos aprendem que há um mercado possível para
empréstimos a longo prazo, a uma taxa de juro baixa; que há uma
proporção, como que preestabelecida, entre o volume real dos impostos e o
volume possível dos empréstimos (podendo este elevar-se sem prejuízo até
um terço da totalidade), entre a massa da dívida a curto prazo e a da
dívida a longo prazo; que o verdadeiro, o único perigo seria destinar ao
pagamento dos juros recursos incertos ou de antemão mal calculados. Essas
regras, longamente discutidas, só ficarão evidendes no momento em que o
jogo for conduzido com lucidez e em grande escala. Pouco a pouco, a
dialética curto prazo-longo prazo será compreendida, o que não é ainda o
caso em 1713, o ano de Utrecht, em que os empréstimos a longo prazo ainda
são chamados "repayable or seIf-fiquidating". Foi como que naturalmente
que o empréstimo a longo prazo se transformou em empréstimo perpétuo. Por
conseguinte, deixa de ser reembolsável pelo Estado, podendo este, ao
transformar sua dívida flutuante em dívida consolidada, não esgotar seus
recursos em crédito ou em dinheiro líquido. Quanto ao credor, pode
transferir o seu crédito para um terceiro - o que era admitido já em 1692
- e portanto reaver sempre que quiser a quantia adiantada. É o milagre: o
Estado não reembolsa, o credor recupera seu dinheiro à vontade.
w uu o conjunio aos conjuntosO milagre não foi gratuito. Foi preciso que
os adversários da dívida, logo monssa, perdessem o grande debate que se
estabeleceu. Tal sistema se baseava no '-dito" do Estado, na confiança do
público; a dívida, portanto, só podia existir ártude da criação, pelo
Parlamento, de rendimentos novos, destinados, a cada ao pagamento regular
de juros. Esse jogo dá a certas camadas da população, roprietários
fundiários (que entregam ao Estado, com o land tax, um quinto eu
rendimento), os consumidores ou os mercadores deste ou daquele produto
do, a sensação de arcar com os custos da operação, diante de uma classe
de Lsitas, de oportunistas: capitalistas, financistas, negociantes (cujos
rendimenrião são tributados), os moneyed men que se pavoneiam e, zombam
da nação alhadora. Não será do interesse desses oportunistas tornar-se
agitadores, dado só têm a lucrar com uma nova guerra que acarrete ao
Estado novos empréstie uma alta das taxas de juros? A guerra contra a
Espanha (1739), primeira ide fratura política do século, será em grande
parte obra deles. Por conseguinnatural que o sistema da dívida
consolidada, em que hoje se pode ver a base ncial da estabilidade
inglesa, tenha sido asperamente criticado pelos contempoos, em nome dos
bons princípios de uma economia sadia. com efeito, não pasde fruto
pragmático das circunstâncias.
São os grandes mercadores, os ourives, as casas bancárias especializadas
no amento de empréstimos, numa palavra, é o mundo dos negócios de
Londres, Lção decisivo e exclusivo da nação, que assegurou o sucesso da
política de emtimos. O estrangeiro também desempenhou seu papel. Em torno
dos anos de ), no limiar do período Walpole e durante todo este período,
o capitalismo holês revela-se artífice decisivo da operação. De Londres,
em 19 de dezembro de ), anunciam-se "novas remessas de mais de cem mil
libras esterlinas com o deio de as empregar nos nossos fundos' 1231.
Funds é a palavra inglesa que desig)s títulos da dívida inglesa. Também
se dirá às vezes securities, annuities. Como explicar as compras maciças,
pelos holandeses, de títulos ingleses? A taxa aros na Inglaterra é muita,
s vezes (nem sempre) superior às taxas praticadas nas dncias Unidas. E os
fundos ingleses, ao contrário das anuidades de Amsterdam, livres de
impostos, o que é uma vantagem. Por outro lado, a Holanda dispõe,
nglaterra, de um saldo comercial positivo: para as casas holandesas
instaladas, ondres, os fundos ingleses representam uma aplicação fácil e
comodamente moável dos seus lucros.
Alguns chegam a reinvestir os rendimentos dos seus títulos. raça de
Amsterdam, a partir de meados do século, forma assim, um bloco com
Londres. A especulação com os fundos ingleses, à vista ou a prazo, é em
ambas raças muito mais ativa e diversificada do que a especulação com as
ações das Comhias holandesas. Em linhas gerais, embora tais movimentos
não possam ser redus a um esquema simples,
Amsterdam serve-se do mercado paralelo dos fundos -ses para reequilibrar
suas operações de crédito a curto prazo. Pretendiam até que olandeses
teriam, em dado momento, possuído um quarto ou um quinto dos funingleses.
É um exagero. Escreve
Isaac de Pinto (1771): "Sei, por todos os banquei]e Londres, que o
Estrangeiro não vai além de um oitavo da dívida nacional., 9 232 Pouco
importa, entretanto!
Não é de admirar que a grandeza da Inglaterra Lça em detrimento de
outrem, dos emprestadores holandeses, mas também dos ceses, dos suíços ou
dos alemães. Nos séculos XVI e XVII, as rendas de Flo:a, de Nápoles ou de
Gênova não teriam sido tão vigorosas sem o subscritor
1771, o tratado de Pinto, que muitas vezes citamos, põe-no nas nuvens235.
Pitt, em
246
raridade. Assim como, no século XVII, a ordem dada pelo Rei Católico à
Sommaria247, o tribunal de contas napolitano, para enviar uma previsão
orçamentária e um orçamento recapitulativo no fim do ano. Essa
racionalidade das repartições madrilenas explica-se pelo desejo de
explorar a fundo todos os recursos do reino de Nápoles. Chegam até a
ameaçar os conselheiros da Sommaria de uma suspensão do total ou da
metade dos seus emolumentos no caso de nãoexecução das
1585. Mas o que está 'ora de dúvida é o aumento das receitas do Estado
francês no século XVII. Se a :onjuntura conduzisse o jogo, essas receitas
deveriam refluir com a queda dos preos. Ora, no tempo de Richefleu (1624-
1642), elas duplicam ou triplicam, como se ) Estado nesse período
desanimador fosse "a única empresa protegida" capaz de Lumentar à vontade
as suas receitas. Não recorda o cardeal, no testamento, que )s
superintendentes das Finanças "igualaram imposto do sal sobre as Salinas,
sozitho às índias do rei da Espanha' 92501?
W3 4 4 9 O 15'00
1. O caso de Veneza
E w
- 1498 1514 21
2. O caso da França
57 60
96 160O ]o
O caso da Espanha
O índice dos preços da prata é tirado de Earl J. Hamilton, Os orçamentos
são calculados em milhões de ducados yteIhanos, moeda de cálculo que não
variou durante o período considerado. As avaliações orçamentárias são
tiradas ! um trabalho inédito de Alvaro Castillo Pintado. Desta vez,
apesar das imperfeições de cálculo das receitas, a coinci!ncia entre a
conjuntura dospreços e o movimento das receitasfiscais é muito mais
nítida do que nos casosprecedens.
Épossíveícalcularfacilmentegráficosprovisórios, análogos aos que traçamos
relativos à Sicilia e ao Reino de NdÚes, e mesmo ao Império0tomano, coisa
que o grupo de OmerLuftiBarkanid empreendeu por sua conta. Fernand,
audel, La
Méditerranée et le monde méditerranéen à 1'époque de Philippe II, 11,
1966 p.
33.
O vínculo que explicaria mais de uma anomalia é o que existe entre a
massa scal e o produto nacional do qual ela é apenas uma cota-parte.
Segundo um cálculo ferente a Veneza21' - mas temos de admitir que Veneza
é um caso muito espeal -, esta cota-parte poderia ser da ordem dos 1O a
15 % do produto nacional bru). Se
Veneza tem uma receita de 1.200.00O ducados em 1600, penso que o produto
acional bruto pode ser da ordem dos 8 a 12 milhões. Os especialistas da
história e
Veneza, com quem discuti o assunto, acham estes últimos números baixos,
senão tensão fiscal seria muito elevada. Seja como for, é evidente (sem
querer arrastar leitor para demasiados cálculos e análises) que a tensão
fiscal de um território mais isto e menos urbanizado do que o de Veneza é
forçosamente inferior, da ordem, ) que parece, dos 5%252. A extensão do
Estado territorial não terá sido favorecii por exigências fiscais menores
do que as dos Estadoscidades de reduzidas dimenSes? Tudo isso é
hipotético.
Mas, se os historiadores tentassem fazer o mesmo cálculo a propósito de
váos países, talvez se pudesse verificar, com a ajuda de algumas
comparações, se
7nancistas
A dupla imperfeição do sistema fiscal e da organização administrativa do
Estado, o recurso sistemático ao empréstimo explicam a posição
precocemente preponderante dos financistas. Constituem um setor à parte
do capitalismo, sólida, estreitamente ligado ao Estado, sendo por isso
que não o abordamos no capítulo anterior. Devíamos apresentar primeiro o
Estado.
1736, ruiria em 1763, com a conquista da Silésia por Frederico II; mais
tarde, será a catástrofe dos empréstimos contraídos pela França, a partir
de 1780.
Este domínio da finança de Amsterdam não é, em si, uma novidade: sempre
houve, desde a Idade Média, num ou noutro país, um grupo financeiro
dominante que impôs seus serviços a toda a Europa. Mostrei com pormenores
a Espanha da Casa da Áustria à mercê dos mercadores da Alta Alemanha no
tempo dos Fugger, depois, após 1552-1557, dos hombres de nègocios
genoveses; a França, séculos a fio sujeita à habilidade dos mercadores
italianos; a Inglaterra do século XIV, controlada em rédea curta pelos
banqueiros mutuantes de Luca e de Florença. No século XVIII, a França
submete-se finalmente à internacional do banco protestante. E é o momento
em que triunfam na Alemanha os Hofjuden, os judeus da corte que
contribuíram para o desenvolvimento e para o funcionamento, em geral
difícil, mesmo para Frederico II, das finanças do príncipe.
A Inglaterra, como tantas vezes, revela-se um caso à parte. Quando
recuperou o controle de suas finanças, afastou a intervenção dos
mutuantes que outrora, como na França, haviam dominado o crédito. Assim,
uma parte do capital da nação foi desviada para os negócios, acima de
tudo para o comércio e para o banco. Mas, enfim, o crédito público não
deixava fora do jogo as potências financeiras do passado. Claro que o
sistema dosfunds, precocemente generalizado, para créditos tanto
477
iiada a partir do mercantil system a que Adam Smith faz guerra na sua
obra clásde 1776. Todavia, por pior que seja, o rótulo reúne comodamente
uma série de
- s e atitudes, projetos, idéias, experiências que marcam, entre o século
XV e o
283. Seja como for, logo que houve um surto de nacionalismo, de defesa ao
longo fronteiras mediante direitos aduaneiros às vezes "violentos' 9284
logo que uma ia de egoísmo nacional se fez sentir, o mercantilismo pôde
reivindicar o seu
1601 s que vão levar a art rcula mal, Não se rernUnecom Pape1302.
ilharia fr nheiro. Já em 1567, com papel, não se arranjará nem ancesa
para a Sabóia, quando o duque de Alba chega a um soldado, nem um xérc'tO,
Os soldos e1as.desPesas são pa Os Países Baixos com ) Filipe Ruiz MartIn
Já demonstrou gos 0111 Ouro, o brigatoriam ente em ouro
O soldado Por falta de melhor, a há m U, -to tempo303 1 que Pode, a troca
por ouro. ceitará a Prata. Ma" Só a Partir de 1598 Trazer a fortuna
S' logo que a recebe, Oedas que se Podem enfiar numa bolsa Ou n consigo'
so , em, uma necessidade b a forma de pequeum cinto, é para O soldado uma
7eis como o pão. A guerra são moedas de ouro Ou de Prata, tão indis
- - -- - citos nem realizar todas as suas tarefas, obrigado, de fato, a
dirigir-se a Outrem e sofrendo as conseqÜências disso.
Se essa obrigação se lhe impõe em todas as direções, é acima de tudo
Porque não dispõe de um aparelho administrativo suficiente. A França
monárquica é apenas um exemplo entre todos os outros. Por volta de 150(),
segundo a estimativa bastan Otimista de um historiador30% ela disporia de
12 mil pessoas a seu ser te viço, numa população de 15 a 2O milhões de
habitantes. E há o risco de este número, 12 mil, ser Um teto: ao que
parece, não fora ultrapassado no reinado de Luís Xjv. Por volta de
1345 já afirma que "o Rei é para o povo conio a chuva é para a
terra'1320. E a propaganda cedo oferece os seus serviços, uma propaganda
tão velha quanto o mundo civilizado. Na França, a este respeito, a única
dificuldade está na escolha. Diz um panfletista de
NS CIVILIZAÇõES
NEN4 SEMPRE DIZEM NÃO
As civilizações ou as culturas - aqui as duas palavras se confundem sem
inconvenientes - são oceanos de hábitos, de pressões, de consentimentos,
de conselhos, de afirmações, todas elas realidades que, para cada um de
nós, parecem pessoais e espontâneas embora nos cheguem em geral de muito
longe. São uma herança, do mesmo modo que a língua que falamos. Numa
sociedade, todas as vezes que tendem a abrir-se fendas ou abismos, a
onipresente cultura as fecha, ou pelo menos as dissimula, acaba por nos
aprisionar na nossa tarefa. O que
Necker dizia da religião (o próprio coração da civilização) - que é para
os pobres "urna forte cadeia e uma consolação cotidiana" 328 _ poder-se-
ia dizer da civilização e para todos os homens.
Na Europa, quando a vida renasce com o século XI, a economia de mercado,
a sofisticação monetária são novidades "escandalosas". Em princípio, a
civilização, pessoa idosa, é hostil à inovação. Dirá portanto não ao
mercado, não ao capital, não ao lucro. Pelo menos, mostrar-se-á
desconfiada, reticente.
Depois, os anos passam, renovam-se as exigencias e as pressões da vida de
todos os dias. A civilização européia é apanhada num conflito permanente
que a divide.
Acontece-lhe então dar, contra a vontade, o sinal verde. E esta
experiência não é apenas a do Ocidente.
Tomar parte na difusão cultural: o modelo do Islã
Uma civilização é ao mesmo tempo permanência e movimento. Presente num
espaço, aí se mantém, grudada, ao longo dos séculos. Ao mesmo tempo,
aceita certos bens que lhe são propostos por civilizações próximas ou
afastadas e propaga fora os seus próprios bens. A imitação, o contágio
funcionam como certas tentações internas contra o hábito, o já feito, o
já conhecido.
O capitalismo não escapa a tais regras. A cada momento da sua história,
ele se apresenta como uma soma de meios, de instrumentos, de práticas, de
hábitos de pensamento que são incontestavelmente bens culturais e que,
como tais, viajam e são trocados. Quando Luca Paccioli publica em Veneza
De Arithmetica (1495), resume, no que toca à contabilidade em partidas
dobradas, soluções há muito conhecidas, por exemplo, em Florença desde o
fim do Século X111329. Quando Jakob
Fugger der Reiche passa algum tempo em Veneza, estuda as partidas
dobradas, que levará na bagagem para Augsburgo. Por uma ou por outra via,
essa contabilidade acabou por conquistar uma parte da Europa mercantil.
Também a letra de câmbio se impôs de praça em praça, mediante difusão, a
partir das cidades italianas. Mas não vinha ela de muito mais longe? Para
E. Aslitor
330, a sutfaya islâmica nada tem a ver com a letra de câmbio do mundo
ocidental.
É profundamente diferente na textura jurídica. Seja. Mas não há dúvida de
que existe muito antes da letra de câmbio européia. Como supor que os
mercadores italianos, que muito cedo freqüentaram os portos e mercados do
Islã, tenham sido desatentos a esse meio de assegurar, por simples
escrita, a transferência para longe de dada soma de dinheiro? A letra de
câmbio (de que os italianos seriam os
wio nas Escalas do Levante, segundo uma miniatura das Viagens de Marco
Polo.
(Covinfl, t ;tos inventores) resolve na Europa o mesmo problema, embora
tenha tido, na ide, de se adaptar a condições diferentes das do Islã,
especialmente às prescriIa
Igreja que proíbem o empréstimo a juros. A inspiração oriental parece-me,
itanto, provável.
>oderia sê-lo igualmente no que se refere à associação comercial do tipo
ienda que, muito antiga no Islã (o Profeta e sua mulher, uma viúva rica,
haconstituído uma commenda33% é a forma habitual do comércio de longa
disL, até a índia, a
Insulíndia, a China. O certo é que, espontânea ou importada, menda surge
na
Itália só nos séculos XI-XII. Começa então a caminhar de uma para outra e
é sem surpresa que vamos encontrá-la nas cidades da Hansa, no XIV, embora
modificada, pois as influências locais desempenham o seu paluitas vezes,
na Itália, o agente
- o contratante que dá seu trabalho e viaja mercadoria - participa do
lucro da operação, ao passo que no meio hanseátiVener recebe
habitualmente uma soma fixa de quem lhe fornece o capital, assuassim o
perfil de assalariado332. Mas há também casos de participação.
lá portanto, às vezes, alteração do modelo. E, em certos casos, a
possibilida;e ter imposto uma mesma solução em lugares diferentes, sem
que tenha sido amente copiada. Neste caso, os séculos obscuros da Alta
Idade Média ocinão nos permitem certezas. Mas, dados os hábitos
itinerantes dos mercadodievais e as rotas conhecidas dos seus tráficos,
deve ter havido transferência, ienos de certo número de formas de troca.
É o que sugere o vocabulário que
avara. O Própr - --u-tção Precoce de que a Europa, Por sua vez, será
bastante io Profeta teria dito- "O mercador usufrui
Mundo como no outro,,., felicidade tanto neste o bastante para i uem
ganha dinheiro agrada a Deus." E isso é quase magina; O c irria de
respeitabilidade ligado à vida qual temos exemplos preci mercantil e do
atrair à Síria e ao
Egito o'sOs. m maio de 1288, o governo dos mamelucos tenta Imagine-se, no
O s mercadores de Sinda, da india, da China e do Iêmen. do seguinte modo*
"D' * ' cidente, um decreto governamental a esse respeito, exprimindo-se
ciantes desejo
111O Indico até nas cidades italianas que cedo estavam a seu serviço
Amalfi, . Mais uM vez prenuncia futuro da Europa ia superioridade
Inonetário comercial, também a. ela apoiassas condições, se fosse Preciso
escolher uma data para marcar o fim das zagens da Europa mercantil na
escola das cidades do Islã e de Bizâncio, a
499
348
501
99353
fella Vacca, Banco dei quatro Pavoni...
a como for, judeus ou cristãos (quando não se trata de membros da Igreja)
os mesmos meios: vendas simuladas, falsas letras de feira, números
fictíescrituras notariais. Tais procedimentos entram nos costumes. Em
Floreni do capitalismo precoce, sente-se isso desde o século XIV, até no
torn de lente ocorrido com
Paolo Sassetti, homem de confiança e sócio dos Médi1384, ele escreve, a
propósito de um câmbio, que seu ganho foi de "piá, zi)
quatrocento cinquanta di interesse, o uxura si voglia chiamare", mais
lorins de juros, ou de usura, se assim se quiser chamar. Não é curioso
ver xgir a palavra juro num contexto que a liberta do sentido pejorativo
da usura3549 Veja-se também com que naturalidade Philippe de Commynes i,
tendo depositado dinheiro na sucursal dos Médicis em Lyon, de ter receps
muito baixos: "Tal rendimento é muito magro para mim" (novembro
355
. Uma vez lançado nessa via, o mundo dos negócios logo não terá mais =er
das medidas da Igreja, ou muito pouco. No século XIV, um cambista, o não
empresta a uma taxa que oscila em torno de 20% e muitas vezes S356? A
Igreja tornou-se tão misericordiosa para com os deslizes dos mercomo para
com os pecados dos príncipes.
isso não elimina os escrúpulos. Ã última hora, antes de comparecer peus,
os remorsos provocam restituições de usuras: 20O menções para um urário
piacentino estabelecido em Nice 357. Segundo B. Nelson, tais arre
Capitel do século XII, catedral de Autun. O diabo representado com um
saco de moedas na mão. (Fototeca A. Colin.)
pendimentos e restituições, que enchem profusamente as escrituras
notariais e os testamentos, já não são muito encontrados depois de
l330358. Entretanto, mais tarde, Jakob Welser, o Velho, ainda se recusa,
por escrúpulo de consciência, a participar dos monopólios que afligem a
Alemanha do Renascimento. Seu contemporâneo, Jakob Fugger, o Rico,
inquieto, consulta Johann Eck, futuro adversário de Lutero, e lhe
financia viagem a Bolonha, para colher informações
367.
medida que o tempo vai passando, desaparecem as objeções. Em 1771, um
bservador se pergunta francamente "se um monte-de-socorro, uma casa de
-es não seriam muito úteis à França e o meio mais eficaz de prevenir as
griusuras que arruínam tantos particulares" 368. Às vésperas da
Revolução, Séi Mercier assinala em
Paris as usuras dos notários que enriquecem particute depressa e o papel
dos "adiantadores", agiotas que são, afinal, a providos pobres, uma vez
que o
Estado, com os seus muitos empréstimos, mobii seu proveito as
possibilidades do crédito 368. Na Inglaterra, a Câmara dos em 3O de maio
de 1786, rejeita um bill que lhe fora proposto, "cuja finalidaautorizar
até 25% de juros às pessoas que emprestam com penhores com detrimento do
poVol'369.
)davia, nessa época, na segunda metade do século XVIII, a página está
defiriente virada. Alguns teólogos retardatários ainda podem esbravejar.
Mas a ão entre usura e taxa de juros está feita. Em 29 de dezembro de
1798, Jeane Roux, mercador opulento e honesto de Marselha, escreve ao
filho: "Penlo vós que a lei do empréstimo gratuito só diz respeito àquele
que é feito -m que toma emprestado por necessidade e não pode ser
aplicado ao nego ciante que contrai empréstimos para realizar
empreendimentos lucrativos e especulações vantajosas." 37O Já um quarto
de século antes o financista português lsaac de Pinto declarava sem
rodeios (1771): "O juro do dinheiro é útil e necessário a todos; a usura
é destruidora e terrível. Confundir esses dois objetos é como querer
proibir o uso útil do fogo porque queima e consome quem se aproxima muito
dele." 371
1590, para o Norte protestante que e então privilegiado. Até aí, talvez
até
japonês do século XVIII. Por Shunsho, que foi um dos mestres de Hokusai.
.tudo, a sociedade não favorece sistematicamente os mercadores; não lhes
ienhum prestígio social, pelo contrário. O primeiro economista japonês,
va Banzan (1619-1691)111, não gosta muito deles e cita, de modo
significaleal da sociedade chinesa. Um primeiro capitalismo japonês, com
toda a i endógeno, autóctone, não deixa, porém, de crescer por si só. Por
meio ra do arroz que os daimios ou os criados dos daimios lhes entregam,
os res estão no próprio ponto de junção da economia japonesa, na linha
deci[ue o arroz (antiga moeda) se monetariza realmente. Ora, o preço do
arroz da colheita, é certo, mas também dos mercadores que dominam o
exceencial da produção. São também senhores do eixo decisivo que liga
Osaitro da produção, a Edo, o centro do consumo, enorme capital parasita
531
- - -j-ttU U", Lunjurilus ais tarde. Evoca o caso do jovem inglês que,
como escrivão (nós diríamos xqueno burocrata), chega a Bengala. "Um
desses novatos passeia pelas ruas cutá, pois seus rendimentos ainda não
lhe permitem ir de carro. Vê escriilguns pouco mais antigos no serviço do
que ele, os vê, digo, deixar-se levar brilhante carruagem puxada por
soberbos cavalos magnificamente ajaezaentão serem transportados com todo
o conforto num palanquim. Vem para conta ao Benjam (baniano), em cuja
casa mora, a figura que faz o seu comro. E que vos impede de igualá-lo em
magnificência?, diz o Benjam. Tenho.-o que chegue, só tendes de o receber
e nem sequer é necessário que vos deis )alho de pedi-lo...O jovem morde a
isca; tem seus cavalos, sua carruagem, [anquim, seu harém; e, ao procurar
fazer uma fortuna, gasta três. Mas, enisso, como é que o Benjam se
indeniza? Sob a autoridade do senhor escrije ascende sempre na carreira e
avança a passos largos para ocupar seu lugar selho, o Benjam ascende
também e comete grande número de exações com dade, estando a prática tão
generalizada que ele dispõe de toda a segurança. assegurar-vos que não
são os nativos da Grã-Bretanha que exercem diretaas opressões, mas os
indianos que, acobertados pela sua autoridade e meobrigações pecuniárias,
abriram caminho para ficar livres de qualquer suação.
[... ] Será [... l de admirar que os homens sucumbam às diferentes tena
que estão expostos? [ ... 1 Um indiano vai a vossa casa; mostra-vos sua
bola de prata. Pede-vos que a aceiteis como presente. Se tiverdes uma
virtude i dessas tentações, ele volta no dia seguinte com a mesma bolsa
cheia de ou) vosso estoicismo se mantiver, ele volta uma terceira vez, e
a bolsa está cheia.iantes.
Se, com medo de serdes descobertos, recusais até essa oferta, ele abre
rdos de mercadorias, armadilha na qual um homem de comércio não pode de
cair. O funcionário fica com essas mercadorias a preço baixo e envia-as n
mercado afastado [note-se, de passagem, esta homenagem prestada ao code
longa distância]
onde ganha 3000lo. Eis, portanto, mais um gatuno à sol)ciedade. " Este
discurso, que cito a partir de uma tradução francesa da époachei
saborosa, é uma defesa pessoal, mas a imagem traçada não é inexata. )
italismo indiano, antigo, ativo, debate-se contra a "subordinação"
perante senhor, vara a pele nova da dominação inglesa.
dos estes exemplos, embora muito condensados e abordados muito depressa,
ineiam uma explicação de conjunto capaz de ser bastante justa, na medida
esses diversos casos têm pontos em comum e, tendo pontos em comum, nos m
uma problemática satisfatória? A Europa teve uma alta sociedade, no
míupla, que, apesar das transformações da história, pôde desenvolver suas
lis sem dificuldades insuperáveis, pois não teve diante de si a tirania
totalizante rania do príncipe arbitrário. Assim, a Europa favorece a
acumulação pacienquezas e, numa sociedade diversificada, o
desenvolvimento de forças e hie; múltiplas cuj as rivalidades podem jogar
em sentidos muito diversos. No que e ao capitalismo europeu, a ordem
social baseada no poder da economia sem aproveitou a sua posição
secundária: ao contrário da ordem social baseada no privilégio do
nascimento, fez-se aceitar por estar sob o signo do comedida sensatez, do
trabalho, de uma certa justificação. A classe politicamente nte
monopoliza a atenção, tal como os picos atraem os raios. O privilégio or
fez, portanto, uma vez mais, esquecer o privilégio do mercador.
CONCLUSÃO
No termo deste segundo livro - Osjogos da troca - parece-nos que o
processo capitalista, considerado em seu todo, só pôde desenvolver-se a
partir de certas realidades econômicas e sociais que lhe abriram ou, pelo
menos, facilitaram o caminho:
- j-- - 'U'tjUrítus ima vez, poderemos segui-Ias sem erro através de uma
história cronológica da opa e do mundo, através de uma sucessão de
sistemas mundiais que são, na Jade, a crônica global do capitalismo.
Dizia-se outrora - mas a fórmula coni boa e diz bem o que quer dizer: a
divisão internacional do trabalho e, claro, s que dela resultarão.
NOTAS
Prefdcio
2. Ibid., I, p. 420.
1972, p. 556.
1975.
23, 24, julhodezembro 1966, pp. 99-118; Alan EVERITT, "The Marketing of
Agricultural Produce", in The Agrarian History of England and Wales, p.p.
M. P. R. FINBERG, IV, 1500-1640, 1967, p. 478.
12. Paul-Louis HUVELIN, Essai historique sur le droit des marches et des
foires,
1897, p. 240.
196 (1705).
15. B.N., Ms. Fr., 21.633, 133, a propósito da feira do cemitório Saint-
Jean.
(1724).
17. B. N., Ms. Fr., 21.633, 153.
20. Etienne BOILEAU, Livre des mitiers, ed. Depping, 1837, pp. 34-35,
citado por
Paul CLAVAL, Gjographie ginirale des marches, 1962, p. 115, notas 9 e 10;
p.
125.
22. Ferdo GESTRIN, Le trafic commercial entre les contries des SlovMes de
Pintirieur et les villes du littoral de I'Adriatique du XHF au XVP sicle,
24. P. CHALMETTA GENDRON, "El Sefior del Zoco" en Espafia, 1973, prefdcio
de
Maxime Rodinson, p. XXXI, nota 46; referncia a Bernal DIAZ DEL CASTILLO,
Historia verdadera de la conquista de la Nueva Espafia.
11, p. 47.
537
kRY DES BRUSLONS, Dictionnaifu commerce, 1761, 111. col. 778. fttc di
Palermo, dal secolo XVI al, in Biblioteca storica e letteraria de
3. di Matzo.
FURIER, Recherches sur les strucde Chdteaudun, 1525-1789, 1969, irestadas
por Jean NAGLE, que estd m trabalho sobre ofaubourg Saint;6culo XVII.
, art. cit., p. 488, nota 4. HMANN, Lefiere del regno di Na7gonese, 1969,
p. 28.
raphy of William Stout ofLancasado por T. S. WILLAN, Abraham
39, p. 197.
LINA, A Comparative Dictionary -overbs, 1972.
DE, Pierre VERGER, "Contribuique des march6s Nagó du Bas'ahiers de
lInstitut de science icoiquie, n? 95, nov. 1959, pp. 33-65, p. 53.
_ 21.633, 49, out. 1660. etembro de 1667.
.-., 21.782, 191.
46 e 67.
NTARINI, Voyage de Perse... en col. 53, in Voyages faits principae dans
les annóes X11' - XIF, acle, 11, 1785.
WALKER, Manners and Customs
967, p. 28.
T, op. cit., I, P. 231.
1967, P. 181.
1935, p. 3.
433-438.
261.
69. Louis BATIFFOL, La vie de Paris sous Louis XIII, 1932, p. 75.
72. J. SAVARY DES BRUSLONS, III, col. 779. Quanto à manteiga, ovos,
queijos,
Abraham du PRADEL, Le livre commode des adresses de Paris pour 1692, p.p.
E.
FOURNIER, 1878, 1, pp. 296 ss.
82. A.N., G 7, 1701, 222, Paris, 4 dez. de 1713, "... desde que o mar se
tornou livre, todas as mercadorias vêm por Rouen a Paris, desembarcar no
porto SaintNicolas.....
83. P. de CROUSAZ CRETET, Paris sous Louis XIV, 1922, pp. 29-31, 47-48.
1968.
87. Embora por vezes "os corsdrios turcos os tomem em frente de Lisboa",
British
Museum, Sloane,
1572.
88. Numerosas referncias. Por exemplo, A.d.S. Veneza, Senato Terra 12,
maro de
1494.
92. Ibid., p. 122. A. S. USHER, The History of the Grain Trade in France,
14001710, 1913, pp. 82,
84, 87.
1967, p. 56.
96. Alan EVERITT, "The Food Market of the English Town", in Munich 1965,
p. 60.
654.
112. Moscou, A.E.A., 50/6, 474, f?, 6O e 61, 13/24 de abril de 1764.
1701, fo 120.
124. Wilhelm ABEL, Agrarkrisen und Agrarkonjunktur, 2 ed., 1966, pp. 124
ss.
1839-1863, VIII, p.
257.
126. Jean MEYER, La noblesse bretonne au XV111' sicle, 1966, 11, p. 897.
333 ss.
128. Yvonne BEZART, La vie rurale dans le Sud de la region parisienne,
14501560, 1929, pp. 68 ss.
130. Le Capital, Ed. Sociales, 11, p. 352: "...o mercado do trabalho que
6
131. J. FREUND, resenha de: Bernhard WILLMS, "Die Antwort des Leviathan,
Th.
Hobbes politische Theorie", in Critique, 1972, p. 563.
135. Marcel POÈTE, Une vie de cite, Paris de sa naissance nos jours,
1924, 1, p.
301.
ss.
Wirtschaftliche und soziale Pro-blichen Entwicklung im 15-16. nach
Ansich-Nieder
Deutschen [do por F. LOTGE, 1968, p. 35. ', Die gewerblichen
Eigenbetriemburg im
Spitmittelalter, 1974. Les artisans et les domestiques. cit., p. 273,
nota 1,
Tallemant )-1692).
IEZ, LeFconomie rurale de la ari IV, 1897, p. 55.
re de Gouberville, 1892, p. 400. de A. TOLLEMER, Un sire de. 27 ss.
, DURIE, op. cit., p. 202. irt. cit., p. 8.
O, a propósito da généralité de igo de Renó GAUCHET.
21.672, V 16 v'.
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17., i8. und 19. Jahrhundert", litik undArbeitsmarkt, p.p. HerBENZ, 1974,
p.
174.
48.
44-448.
476.
RUGLI, Della mercatura e del 0, Brescia, 1602, p. 5O (este liin 1458).
1966, p. 1.830.
277-278, 280-281.
170. É Michelet quem nos diz: havendo uma venda de terra, "não se
apresentando nenhum comprador, chega o camponês com a sua moeda de ouro",
Le peuple, ed. 1899, p. 45.
698-755.
82.
201.
210. Y.-M. BERCÉ, op. cit., 1, pp. 222 e 297 e nas referências à palavra
"cabaret" no índice.
211. Miguel CAPELLA e Antonio MATILLA TAS, CON, Los cinco Gremios mayores
de
Madrid,
1957, p. 13 e nota 23. Cf. LOPE DE VEGA, La nueva victoria de Don Gonzalo
de
Córdoba.
214. The Complete English Tradesman, Londres, 1745, II, pp. 332 e 335.
217. Ver o primeiro volume da presente obra, ed. 1967, pp. 193-194.
1815, p. 23.
1963, pp. 183 ss. Em Basiléia, do século XVI ao fim do século XVIII, os
mercadores de armarinhos e varejistas aumentam em 40%, o conjunto dos
outros ofícios mantémse ou tende a descer.
1667.
228. Albert SOBOUL, Les Sans-Culottes parisiens en Pan 11, 1958, passim e
especialmente pp. 163, 267,
443, 445.
1966, 1, p. 18.
541
132.
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1956;
Médit... I, p. 408.
ELLA, A. MATILLA TASCóN, op.
14 e 22.
, ULCZYKOWSKI, "En Pologne au '-ele: industrie paysane et formation du
ational", in A nnales E. S. C., 1969, pp.
ffi, op. cit., 11, p. 300.
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, OMBARD, "L'évolution urbaine penaut Moyert Age", in Annales E.S.C.,
Édouard
PERROY, Histoire du Moyen ri, c'est-à-dire juifs et chrétiens de lanue",
p. 20.
111, p. 36.
ENIMER, op. cit., p. 604. ANDROU, De Ia culturepopulaire aux UlIT
siècles. La
Bibliothèque bleue de
964, p. 56.
4.E.A. 84/2, 420, f's 10-11, Leipzig, bro de 1798; e 84/2, 421, f 1 3 v',
LeipJe janeiro de 1799.
273. Ver II libro dei vagabondi, p.p. Piero Camporesi, 1973, introdução,
numerosas referências às literaturas européias.
274. Ernst SCHULIN, HandeIsstaat England, 1969, pp. 117 e 195. Mascates
portugueses do princípio do século XVI nos Países Baixos. J. A. GORIS,
Étude sur les colonies marchandes méridionales... à Anvers 1488-1567,
1925, pp. 25-27.
280. Basile H. KER13LAY, Les marchés paysans en U.R.S.S., 1968, pp. 10O
s.
1770-1970, 1970.
292. J. SAVARY DES BRUSLONS, op. cit., no verbete "Landi", col. 508.
293. Félix BOURQUELOT, Études sur les foires de Champagne, 1865, p. 10.
1972, p. 200.
668.
1652.
1908.
1931, p. 73.
1965, p. 133.
1769.
328. Citado por P.-L. HUVELIN, op. cit., p. 30, nota l; referência a
LEROUX DE
LINCI, Proverbes, II, p. 338.
75.
139.
343. F. BOURQUELOT, budes sur les foires de Champagne, II, op. cit., pp.
301320.
55.
37-41.
543
tigo "Foire" em LEncyclopedie, ARY DES BRUSLONS, op. cit., e", col. 647.
X, op. cit., 11, pp. 472 e 479. NN, op. cit., p. 143; E. KROKER, . Note-
se que a palavra Messe (feirn Frankftirt, só passa a set usada irante a
segunda metade do sóculo iando as palavras Jahrmdrkte ou p. 7 1.
479. T, op. cit., IL p. 473..AY, op. cit., pp. 85 ss. ANABRAVA, O com&cio
portuPrata (1580-1640), 1944, pp. 21 ss. )ES BRUSLONS, op. cit., V, col.,
ualmente artigo consagrado a Vera agena.
'HEZ ALBORNOZ, "Un testigo tdiano: Tomds de Mercado y Nueva ?vista de
historia de A merica, 195 9,
W. DAHLGREN, Relations comaritimes entre la France et les cóPacifique,
1909, p.
21.
DA SILVA, "Trafic du Nord, margiorno', finances gónoises: recher2nts sur
la conjoncture A la fin du Revue du Nord, XLL n? 162,
38 ss.
ES BRUSLONS, op. cit., III, verid", col. 765 ss.
, it., verbete "Corde", p. 808.
.', Der moderne Kapitalismus, 11,
CARD, Le Njgoce dAmsterdam ce que doivent savoir les maruiers, tant ceux
qui sont jtatlis a ? ceux des pays itrangers, Amster. 5-7.
mt. 1261-1, 774, p. 18.
36.
RLE, "L'6volution des finances le financement de l'industrialisasi6cle",
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pp, 93-94.
)is-DÓsiró MATHIEU, LAncien
Regime en Lorraine et Barrois... (1658-1789), Paris, 1878, p. 35,
1969, p. 45.
384. J. SAVARY DES BRUSLONS, op. cit., 11; verbete "Entrepót", col. 329-
330.
1934, p. 79.
254 ss.
151-185.
395. Richard EHRENBERG, Das Zeitalter des Fugger, 3 ed., 1922, 1, p. 70.
412. Raymond BLOCH, Jean COUSIN, Rome et son destin, 1960, p. 126.
Notas
1968, p. 165.
417. Ibid., p. 6.
423. Bernard SCHNAPPER, Les rentes au XVF si& cle, Historie d'un
instrument de credit, Paris,
185.
440. A.N., 61 AQ 4.
17.
1789", Annales dhistoire 6conomique et sociale, 11, 1930, pp. 50O c 507.
464. A.N., 61 AQ 4.
1, p. 244, nota.
1972, p. 231.
191.
472. A.N., G 7, 1622.
545
8.
rTA, op. cit., PP. 133-134, referênWZ1, Kitab az-Jitat. Handeisgeschichte
Ãgyptens im
974, p. 219.
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NER, art. cit.
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1 général, INED, 1952, pp. 5 ss. EUR, Indonesian Trade and Society,
499. Abade PRÉVOST, op. cit., VIII, 629; W. H. MORELAND, From Akbar to
Aurangzeb, 1923, pp.
153-158.
500. Jean-Henri GROSE, Voyage aux Indes orientales, 1758, pp. 155 ss. "O
grande comerciante Abdurgafur que dizem ter feito, sozinho, um comércio
tão considerável como o da companhia inglesa..."
193.
76 e 189-190.
584.
1887; Hans HAUSHERR, Wirtschaftsgeschichte der Neuzeit vom Ende des 14.
bis zur
Hõhe des
195 ss.
514. Para os pormenores que se seguem, cf. Abade PRÉVOST, op. cit., 1,
p . 414, e VIII, pp. 139 ss.
662-663
1625.
Capítulo 2
524. "Le marché monétaire au Moyen Age et au debut des Temps moderries",
in
Revue historique,
1970, p. 28.
5. Ibid., p. 64.
703 e nota 5.
12. Ibid., f
1? de outubro de 1729.
41. Armando SAPORI, Studi di storia economica, 3' ed., 1955, 11, p. 933.
547
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PARSAMIANA, Relations russoennes, Erivan, 1953, doc. ri?, 44 e 48-50. GE,
op.
cit., p. 253.
., 1, p. 264.
os de Malta. Liber Bullarum, 423, f' 230, narço e 1? de abril de 1553.
deFrance,
84.
74.
75.
68. Médit... 11, p. 151; Attilio MILANO, Storia degli Ebrei in Italia,
1963, pp. 218-220.
3 vols., 1953-1955.
80. A. P. CANABRAVA, op. cit., pp. 143 ss.; Emanuel SOARES DA VEIGA
GARCIA,
Buenos Aires e Cádiz. Contribuição ao estudo do comércio livre (1789-
1791), in
Revista de História, 1970, p.
377.
82. Ibid., p. 14. Citação de José TORIBIO MEDINA, Historia del Tribunal
del
Santo Oficio de la Inquisición de Cartagena de Ias Indias, Santiago do
Chile,
1899, p. 221.
de feverei~ ro de 1968.
89. Johann Albrecht MANDELSLO, Voyage aux Indes orientales, 1659, 11, p.
197.
90. Balthasar Suarez a Simón Ruiz, em, 15 de janciro de 1590; Simón Ruiz
a Juan de Lago, 26 de agosto de 1584; S. Ruiz aos Buonvisi de Lyon, 14 de
julho de
1968.
1949, p. 159.
107. A. SAPORI, Una Compagnia di Calimala aiprimi del Trecento, op. cit.,
p. 99.
108. Federigo MELIS, "La civiltA economica nelle sue esplicazioni dalla
Versilia alla Maremma (secoli X-XVIII)", in Atti del 60' Congresso
internazionale della "Dante Alighieri", p. 26.
41.
111. F. MELIS, art. cit., pp. 26-27, c "Werner Sombart e i problemi della
navigazione nel medio evo", in L'opera di Werner Sombart nel centenario
della nascita, p. 124.
1766.
1972, p. 471.
122. Midit... 1, p. 47 1.
1714 (A.N., G, 1699); Carlo Ottone, dez. 167O (A.d.S. Gnova, Lettere
Consoli, 12628); Simolin, Londres, 23 maro/3 abril de 1781 (Moscou,
A.E.A. 35/6, 320, fl
125. Fynes MORYSON, An Itinerary containing his Ten years Travell, 1908,
VI, p.
70, citado por Antoine MACZAK, "Progress and Underdevelopment in the Ages
of
Renaissance and Baroque Man", in Studia Historicae Oeconomicae IX,
1974, p. 92.
126. 1. DE PINTO, op. cit., p. 167: "Onde hd mais riqueza, 6 tudo mais
caro... t o que me leva a conjecturar que a Inglaterra 6 mais rica do que
a Frana";
FranCois Quesnay et la physiocratie, ed. do INED, 1966, 11, p. 954.
130. Ver infra, 111, cap. 1. E. J. ACCARIAS DE SERIONNE, op. cit., 1766,
1, pp.
27O ss.
135. Felipe RUIZ MARTIN, El siglo de los genoveses, no prelo, Ruth PIKE,
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139. Thomas GAGE, Nouvelle relation contenant les voyages de Thomas Gage
dans la
NouvelleEspagne, 1676, 4' parte, p. 90.
549
', A, 2 1.
1695, 252.
RY DES BRUSLONS, op. cit., IV, 1762, D, acórddos de 5 de setembro de 1759
e e outubro do mesmo ano, col. 1.022 c
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a, 111, cap. 4.
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dibouJ.B. Say, 1942.
, op. cit., 1, p. 452.
or R. NURKSE, op. cit., p. 16. ) J. ROMEUF, op. cit., 1, p. 372. UITTON,
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933 c os
Copponi, registro pertencente a Ariapori, que teve a gentileza de me
facul;pectivo microfilme.
s conservados na Universidade Bocconi D.
RUGLI, op. cit., p. 145.
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art. cit.,
35.
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201. A.d.S. Ndpoles, Affari Esteri, 796, Haia, 28 de maio de 1756.
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1954.
1945.
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ago. de
211. C. R. BOXER, The Great ship from A macom. Annals of Macao and the
old Japan
Trade,
268-269.
215. Por exemplo, por volta de 1570, a reiado 6 de cerca de 6 na China
contra 12
1, pp. 65-81.
1646, P. 99.
224. Ibid., reg. 47, f' 175 v'. Devo estas informa6es a R. C. Mfiller.
226. A.N., A.E., B111, 235, e Ch. CARRlP-RE, op. cit., 11, pp. 805 ss.
228. State Papers Domestic, 1660-1661, p. 411, citado por E. LIPSON, The
Economic History of England, 1948, 111, p. 73.
240. Renó GANDILHON, Politique economique de Louis XI, 1941, pp. 416-417.
244. Thomas MUN, A Discourse of Trade from England unto the East Indies,
1621, p. 26.
246. Renó BOUVIER, Quevedo, "homme du diable homme de Dieu", 1929, pp.
305-306.
319-320.
255. Moscou, A.E.A., 725, 226, 73 v', 1O de novembro de 1772; 273, 25 v'.
551
1791.
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1971.
k. NILSSON, Den ryska marknaden, citado M. HROCH, "Die Rolle des
zentraleuropdisn Handels im Ausgleich der Handelsbilanz schen Ost- und
Westeuropa, 1550-1650", in :)rnar BOG, op. cit., p. 5, nota 1; Arthur
ATT, NN,
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HROCH, art. cit., pp. 1-27.
AAKKAI, Semana de Prato, abril de 1975 * st KROKER, op. cit., p. 87, 6
formal quanto te ponto.
uivos de Cracóvia, Ital., 382. infra, III, cap. 3.
ripre notar a presenqa de moedas polonesas na rgia (R. KIERSNOWSKI,
Semana de
Prato,
283. Ibid.
1964, p. 141.
1, p. XVII.
75 ss.
1977.
312. OEuvres, t. XXII, 1960, pp. 237, 286 ss., 322 ss.
;Ois PERROUX, Le capitalisme, 1962, p. 5. ert HEATON, "Criteria of
Periodization in Ornic History", in The Journal of Economic >ry, 1955,
pp. 267 ss.
de julho de 1726).
1722.
1, 1828, p. 93.
199.
36. Luigi DAL PANE, Storia del lavoro in Italia, 2 a ed., 1958, p. 116.
324.
41. Henry COSTON, Les financiers que mMem monde, 1955, p. 41; 24 de
setembro de
43, H. COSTON, op. cit., p. 41. RIVAROL, Mjm res, 1824, p. 235.
256 ss.
58. J.-P. CATTEAU-CALLEvILLE, Tableau d mer Baltique, 11, 1812, pp. 238-
239.
27 de julho de 1480.
63. Alice HANSON JONES, "La fortune priv& Permsylvanie, New Jersey,
Delaware (1774)"
C., 1969, pp. 235-249, e Wealth Ese American Middle Colonies, 1774,
8.
;obretudo seu relatório, no congresso
1961, por Charles Estienne: "E preciso a lavrar de maneira que a terra
fi)6 se possivel."
)SSON, "Pour une approche 6cociale du bdtiment. L'exemple des s A Bruges
aux
XIV' et XV' si!tin de la Commission Royale des des Sites, t. 2, 1972, p.
144. LRON, "The Fate of the Gosti in leter the Great.
Appendix: Gost', 's reply to the Government Inquiry 'ah' , iers du monde
russe et sovieti1973, p. 512.
'40VICH, Colóquio da Unesco soout. 1973, p. 33.
art. cit., p. 48.
H. A. MISKIMIN, "The Econoof the Renaissance", in The EcoReview, 1962, n?
3, pp.
408-426. ecidas por Felipe RUIZ MARTIN., ionado por Alois MIKA, La
granBoh6me du sud, XIV-XVI'sieistoricky 1, 1953, e por Josef PEduction
agricole en Bohme dans oith du XVT et au commencesikle, 1964. (Recebi
estas inforANACEK.)
Les rentes au XVF siecle, Paris,
110.
)p. cit., p. 212, 13 de novembro cit., p. 619.
op. cit., p. 324.
:o Prato, Arch. Datini Filza 339, ! abril de 1408.
)sos documentos do A.d.S. de Velencia deste banco, a liquidado, nAo
terminou, 31
de margo de, Dond delle Rose, 26, fl 107. )p. cit., p. 340.
'le 'Betrayal' of the Sixteenthoisie: A Myth? Some Considera84.
85.
86.
87.
88.
89.
90.
91.
92.
93.
94.
95.
96.
97.
98.
99.
100.
1O 1.
102.
103.
104.
105.
106.
107.
108.
109.
110.
111.
112.
113
114
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1970, p. 138.
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testaments,
76.
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Evamaria ENGEL, Benedykt ZIENTARIA, Feudaistruktur, Lehnbiirgertum unit
Fernhandel im Spdtmittelalterlichen Brandenburg, 1967, pp.
336-338.
Marc BLOCH, Mielanges historiques, Paris, 1963,
11, p. 689.
Jacques HEERS, Le clan familial au Moyen Age, Paris, 1974.
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(1346).
Contribution an problme de Tendettement dans les so
Notas ciétés paysannes du Sud-Est de Ia France au bas Moyen Age", in
Bulletin
Philojogique et historique, 1951 e 1952, p. 245.
833.
1961.
121. VAUBAN, Le projet d'une dixme royale (ed. Coornaert, 1933), p. 181,
citado por J. MEYER, op. cit., p. 691, nota 1.
129. Pierre GOUBERT, Beauvais et le Beauvaisis, op. cit., pp. 18O ss.
1962, p 100.
1955, p. 37.
142. A. VON TRANSEHE-ROSENECK, Gutsherr und Bauer im 17. und 18. Jahr.,
1890, p.
34, nota 2.
1892, p. 185.
145. 1. WALLERSTEIN, op. cit., p. 313 e nota 58. No fim do século XVI, as
corvéias raramente atingiam 4 dias por semana; no século XVIII, as
plantações camponesas do mesmo tamanho eram obrigadas a fornecer, regra
geral, 4 a 6 dias de corvéia por semana. Esses números referem-se às
plantações camponesas de maiores dimensões, sendo as corvéias fornecidas
pelas outras menores, pois variavam em função das dimensões da plantação.
Mas a tendência para o aumento dos encargos e especialmente das corvéias
era geral. Cf. Jan RUTKOWSKI, art.
cit., pp. 142 e 257.
ss.
1941.
49, nota 3.
161. G. DEBIEN, art. cit., pp. 67-68.
2.
[BERT, in Histoire du commerce de, pp. 654-655.
)ZET, in Histoire de Bordeaux, op nota 40.
Marchands et spiculateurs... op.
LTIST, At spes non fracta, Hope & ;, 1974, pp. 20-21.
DAN, "The Wealth of Jamaica in
34.
IN, Beitrage zur Oekonomie, Techizei und Cameralwissenschaft, ). 4. Sobre
esta diversidade fundidra, cf. Joan THIRSK, in Agrarian md, op. cit.,
passim, e pp. 8
195. Citado por Jean GEORGELIN, Venise au sikle des Lumi&es, op. cit.,
pp. 758-759.
197. A. REUMONT, Della Campagna di Roma, 1842, pp. 34-35, citado por DAL
PANE, op. cit., p. 53.
1605, p. 74.
202. Canções populares italianas, I dischi del Sole, Ediziom del Gallo,
Mildo (s.d.).
204. Elio CONTI, Laformazione della struttura agraria moderna nel contado
fiorentino, 1, p. 13.
205. Ibid., p. 4.
1-74.
371-375.
221. Paul HARSIN, "De quand date le mot industrie?", in Annales dhistoire
&onomique et sociale, 11, 1930.
1924, p. 3 1.
1954, t. 1, p. 56.
237. Franqois COREAL, Relation des voyages de FranCois Coreal aux Indes
occidentales... depuis 1666 jusqu'a 1697, Bruxelas, 1736, p. 138.
238. Otto von KOTZEBUE, Entdeckungs-Reise in die Siid-See und nach der
BeringsStrasse... 1821, p.
22.
239. M. CARTIER e TENG T'O, "En Chine, du XVII au XVIII' si&le: les mines
de charbon de Men-t'ou-kou", in Annales E.S.C., 1967, pp.
54-87.
240. Louis DERMIGNY, op. cit., 1, p. 66; Jacques GERNET, op. cit., p.
422.
1793 et 1794, Paris, 1798, IV, p. 12; J. GERNET, op. cit., p. 422.
250. Charles de RIBBE, Une Grande Dame dans son minage au temps de Louis
XIV, cl'aprs le journal de ia comtesse de Rochefort (1689), Paris,
111, pp. 265-267, citado por Pierre DOCKES, Lespace dans la pensee
jconomique, op. cit., p. 270.
259. Germain MARTIN, La grande industrie sous le rgne de Louis XIV (mais
particularmente de 166O a 1715), 1898, p. 84.
1544, p. 48 frente.
263. Joan THIRSK, in The Agrarian History of England and Wales, 1967, IV,
p.
46.
1764, pp.
1969, p. 288.
371.
557
3-109.
lance, 1783, p. 351.
de 1759. J. SAVARY DES BRUS)1. 1023.
iTHONY, Lindustrie de la toile a 'n de 1750, 4 185O (Eludes
d'6conornaise, t.
1640, P. 547.
327. Forma de empresa mineira que remonta d Idade MÓdia ató o Tridentiner
Bergwerkgebrduche de
1208.
331
332
1963, p. 410
F. LUTGE, OP.
Cit., p. 265. des .Zur Genesis modernen Kapitaftsmus 1935.
339. Ibid.
? le Bel d'apres des documents H. GERARD, 1837.
fo 9.
' della vita economica medielivio Datini di Prato, I, P. 458. ; de
Genova, 572, f' 4.
in, Fr. 374, fo 171.
342. Marcel ROUFF Les mines de charbon en France au XVIIP siicle, ' 1922,
p.
245, nota 1.
1900,
344.
p. 184. AX, A.E., B', 531, 18 de'fevereiro de 1713.
Notas
1966, p. 265.
721.
;4. F. L. NUSSBAUM, A History of the Economic Institutions of Modem
Europe,
1933, p. 216.
9. Federigo MELIS, Aspetti della vita economica medievale, 1962, pp. 286
ss.,
1970, p. 502.
5 vols., Introdudo.
1948.
F. L. NUSSBAUM, op. cit., p. 215. Ibid., p. 213.
Ibid., p. 213. Ibid., p. 216.
L. A. CLARKSON, op. cit., P. 99. A.N., G 7, 1697, 6.
Ibid. A.N., F 12, 681, 9. A.N., F 12, 516, 13.
Claude PRIS, op. cit., dat., forneceu todos os dados que se seguem.
Sidney HOMER, A History of Interest Rates,
1963.
. Entendo pot ponto imperfeito algo de semelhante ao "chapéu" dos
levantamentos topográficos, em que as linhas de direção coincidem
imperfeitamente.
387. J.-C. PERROT, Gense d' une ville moderne: Caen au XVIIr sikle, 1975,
1, p.
372.
1929, p. 27.
1700-1950, 1955.
394. Sidney POLLARD, David W. CROSSLEY, The Weafth of Britain, 1968, pp.
134 ss.
1966, p. 188.
1966, p. 424.
1801.
36. Falso dilema, diz-me Pierre Gourou. Muitos cavalos significam muito
estrume, e portanto melhores colheitas.
401. GALIANI, Dialoque sur le commerce des bles, citado pot Pierre
DOCKES, p.
321.
1708.
269-270.
559
159/2.
LRT, 11, pp. 330-332. P. 191.
'T, in op. cit., IV, P. 559.
1510.
ARY, Le parfait negociant, 1712, 1,
1. 208-209.
... de Bernardo BIGONI, in Viaggiap. Marziano Guglielminetti, 1967,
DES BRUSLONS, op. cit., IV ria 1251.
, moires, 111, p. 42.
LEZ, De Firma della Faille en de invandel van vlaamse Firma's in de 161
p. 577.
1685, 77.
RT, op. cit., 11, p. 334.
.D, Le nigoce dA msterdam, p. 218, . SOMBART, 11, p. 338. STERFIELD,
Middlemen in English rticulary between 166O and 1760,
ZT, op. cit., 11, p. 329.
UN, op. cit., p. 14.
DES BRUSLONS, op. cit., I (1759), caq6es que se seguent sobre Roan[as da
memória datilografada de De7tellerie et gens de rivi&e 4 Roanne le de
IAncien Regime, Universidade
2.
c H 2933 (em especial o memorane retoma o histórico do problema).
447. Ibid.
448. Ibid.
1930, 1, pp.
223-224.
8. Sobre tradesman e merchant, cf. D. DEFOE, op. cit., 1, pp. 1-3; sobre
mercatura e mercanzia, cf. COTRUGLI, op. cit., p. 15.
RS, in Revue du Nord, janeiro de -107; Peter MATHIAS, The First ion, an
Economic
History of Bri4, 1969, p. 18.
p. cit., p. 294.
386.
ERT, Louis XIV et vingt millions
966.
, "Das Genuesische Unternehrnerrika unter den Katolischen Kõni-buch für
Geschichte von Staat, d Gesellschaft Latem-amerikas, . 30-74.
B, Studies in the Development of ed., 1950, pp. 109 ss., 191 ss.
65, 75.
USCHAT, Gewürze, Zucker und istriellen Europa... citado por WilEmige
Bemerkungen zum Land, im spãtmittelalter, p. 25.
z a Simórt Ruiz, 26 de fevereiro de s Ruiz, Valladolid.
6.
IARDY, Idée du commerce, B.N.,
31O v'.
LI CARERI, op. cit., IV, p. 4. N, RD, op. cit., p. 113.
r MANDELSLO, op. cit., 11, p.
Dialogues sur le commerce des austo Nicolini, 1959, pp. 178-180
de agosto de 1779.
116. Bonvisi a S. Ruiz, citado por J. GENTIL DA SILVA, op. cit., p. 559.
88-89.
3.
138. UIrich de HOTTEN, Opera, ed. 1859-1862, 111, pp. 302 e 299, citado
por
HõFFNER, op. cit., p. 54.
155. Geminiano MONTANARL Trattato del valore delle monete, cap. 111, p.
7, citado por J. GENTIL DA SILVA, op. cit., p. 400.
144.
22O ss.
1970, p. 137.
179. Thomas MUN, A Discourse of Trade from England into the East Indies,
Londres, 1621, p. 55, citado por P. DOCKES, op. cit., p. 125.
180. HACKLUYT (1885), pp. 70-71, citado por J.-C. VAN LEUR, op. cit., p.
67.
294-295.
201. F. MELIS, Tracce di una storia economica, op. cit., pp. 50-51.
563
886.
e parfait nigociant, ed. 1712, se:). 15 ss.
E, "Deutsche Stddte am Ausgang ", in Die Stadt am A usgang des
153.
iota 26.
HER, op. cit., pp. 316, 385 e
66.
A, f's 19 v1-2O v'.
MELON, Essai politique sur le
4, pp. 77-78.
L'armement nantais..., op. cit.,
L'armement nantais... op. cit., 'E, op. cit., 11, pp. 879 ss.
cit., 1, p. 215.
se nao aparece. Citado por LITise", p. 1.438, em FENELON, Tj1699,
casional reflexdo de Isaac de PIN). 335.
'TTI, Greffuthe, Montz et C'.,
16; cf. J. EVERAERT, op. cit., p. alemds em Cddiz por volta de 170O
aerosas.
, The London Merchant, with the y of George Barnwell, 173 1, p. 27. r,
op. cit.,
II, p. 580.
Z DIAS, O capitalismo mondrqui1415-1549), Sdo Paulo, 1957, tese Ito.
INDEN, Les origines de la civiliue, 1966, pp. 11-12 e 164. GNY, La
Chine*et
POccident, le 'anton... op. cit., 1, p. 86.
172-173.
peito, a explicação (que remete a iografia) de Eirgen WIEGANDF,
Adventurers'
Company auf dem Zeit der Tudors und Stuarts, 1972. CHER, op. cit., p.
310.
- 304.
26 ss.
150-151.
1969, p. 192.
149.
1698), cf. A.E., CP. Ing., 208, f' 115: carta de Tallard a Pontchartrin
(21 de agosto de 1698), cf. A.N., A.E., B', 759.
191, nota 1.
252. Charles MONTAGNE, Histoire de la Compagme des Indes, 1899, pp. 223-
224.
253. M. LtVY-LEBOYER, op. cit., p. 417, nota 2.
141-142.
Capftulo 5
1937.
6. Op. cit., p. 9.
7. Josef SCHUMPETER, op. cit., 1, p. 23.
365 ss.
23. Para Arthur Boyd HIBBERT, in Past and Present, 1953, n' 3, e ClauUe
CAHEN, in La Pensée, julho de 1956, pp. 95-96, o feudalismo não é a
negação do comércio. Ponto de vista ortodoxo: Charles PARAIN e Pierre
VILAR, "Mode de production féodal et classes sociales ensystóme
prócapitaliste", 1968, Les cahiers du Centre dEtudes et Recherches
marxistes, n?
59.
26.
261 ss.
1940.
1974.
32. Delle lettere di Messer Claudio Tolomei, Veneza, 1547, f" 144 v'-145.
Esta passagem foi-me assinalada per Sergio BERTELLI.
21-22.
6045, c. 11-8.
7.
1966, p. 21.
215-216.
1953, p. 67.
50. Phyllis DEANE e W. A. COLE, British Economic Growth, 2' ed., 1967,
pp. 2
ss.; S. POLLARD
565
6, p. 8.
BERT, LAncien RÓgime, 1969, 1, pp.
in Histoire iconomique et sociale de
1971, 24, pp. 3O e 39. RSON, "Decline of the Moghol Eme Journal of Asian
Studies, fevereip. 223: 8 mil privilegiados num Ima 7O milh6es de homens.
- - "
The 8. 00O he empire."
P. VIII.
Julien FREUND, op. cit., p. 25. TONE, "The Anatomy of the Eliza;tocracy",
in The
Economic History
14. jeat, cf. New Encyclopedia BritanniVI, p. 319; sobre Wollaton Hall,
ibid sobre Burghley House, cf. J. AlfQ rchitecture of the Renaissance in
En)4, pp. 13; sobre Holdenby, cf. Henry etails of Elizabethan
Architecture, '-ETT, op. cit., p. 166.
'REVOR-ROPER. "The General Criventeenth Century", in Past and Pre:nov.
1959), pp. 31-64, e discussdo des)r E. H. KOSSMANN, E. J. HOBSH. HEXTER,
R. MOUSNIER,
J. H. L. STONE e resposta de H. R.
OPER, in Past and Present, n? 18, pp. 8-42. O livro geral de Lawrence es
causes de la Rivolution anglaise, )74; J. H. HEXTER, Reappraisals in
54, pp. 71, 72, 78. As proporaes, rcao conjunto da populaAo, sdo, para
1581, 4, 5% de nobres e 5, 30/o de cittadini, e, para 1586, de 4, 30/o e
5,
107o, respectivamente.
72. Werner SHULTHEISS, "Die Mittelschicht Niimbergs im Sp5tmittelalter",
in
Stddtische Mittelschichten, p.p. E. MASCHKE e J. SYDOW, nov. de 1969.
mil habitantes.
26 ss.
76. Segundo Andi-6 PIETTRE, Les trois dges de V&onomie, 1955, p. 182,
citado por
Michel LUTFALLA, Litat stationnaire, 1964, p. 98.
1, pp. 45, 51; [Roma]: Jean DELUMEAU, op. cit., 1, p. 458: "Quando inicia
o século XVIL os grandes senhores de outrora [nos campos romanos],
esmagados pelas suas dívidas, liquidam seus bens imóveis e desaparecem
perante uma aristocracia nova e dócil, sem passado guerreiro."
1922.
98. M. COUTURIER, op. cit., pp. 215-216. Pot exemplo, nos curtumes
distingue-se o "mestre curtidor" e os "mercadores de curtumes", chamando-
se a estes últimos, 'respeitáveis".
1613, p. 100.
1909, p. 33105. Seu astrólogo, Primi Visconti, segundo Henry MERCIER, Une
vie d'ambassadeur du Roi-Soleil,
1939, p. 22.
1603, citado por David BITTON, The French Nóbility in Crisis 1560-1644,
1969, pp. 96 e 148, nota 26.
1974, p. 11.
115. Witold KULA, "On the Typology of Economic Systems", in The Social
Sciences,
Problems and Orientations, 1968, p. 115.
32-33.
1796.
125. Entre 1575 e 1630, cerca de metade dos peers investiu no comércio,
ou seja, um em cada dois, ao passo que, se considerarmos o conjunto da
nobreza e da gentry, a proporção será de um para cinqiienta. Th. K.
RABB, Enterprise and Empire, 1967, nota 16 e p. 27.
1.233.
130. Para os exemplos que se seguem: Y.-M. BERCE, op. cit., 11, p. 681
1875, p. 269.
143. Para os três parágrafos seguintes, cf. POSTHUMUS, op. cit., 111, pp.
721729; 656-657, 674;
145. Peter LASLETT, Un monde que nous avonsperdu, 1969, pp. 172- 173; A.
VIERKANI), Die Stetigkeit im Kulturwandel, 1908, p. 103: "Quanto menos
desenvolvido for o homem mais sujeito estará a sofrer esta influência do
odeIo da tradição e da sugestão." Citado por W. SOMBART,
567
1974.
La Révolution industrielle en e, 1970, P. 19- 164. ires... op. cit., 111,
p. 107. Ou a intes àa mendicidade pública", 165.
129. Na Espanha, os hampones, kEN, op. cit., P. 187, nota 36; na, Aurelio
LEPRE, op. cit., p. 27.
7 1709.
)grafada da Sra. BURIEZ, L'as? au XVIII' siècle, Faculdade de, ON
"Economie et pauvreté aux siècies: Lyon, ville exemplaire et in Études
sur Phistoire de Ia paup. M. MOLLAT, 11, 1974, pp. 747, -srno sentido,
uma observação de NG, art.
cit., p. 27.
, op. cit., pp. 54-55. p. cit., p. 382.
rmações que me foram fornecidas p(r)r M. KIJUCYKOWSKY e M. ;ra. BURIEZ,
op. cit.
Em Cahors, 0O pobres para 1O mil habitantes, RIM, estudo inédito,
Toulouse, da). 53; nas
Causses, em Chanac, 6O ra 338 contribuintes de talha, Paul Uéconomie des
Causses du GévauI' siècle", in Congresso de Mende, em La Rochelle, em
1776, 3.668 para
11, p. 52, nota e geral, Olweri HUFION, "Towards nding of the Poor of
Eighteenth
Cen', in French Government and Society, ).p. J. F. BOSMER, 1975, pp. 145
ss.
referências para 1749, 1759, 1771, , rquivos departamentais da Alta Sa,
P1 2938; C 135, H.S.; C 142, 194,
1843, p. 34.
Yves DURAND, in Cahiers de doléances des paroisses du bailliage de Troyes
pour les Étáts généraux de 1614, 1966, pp. 39-40. Não se deve perder de
vista a distinção pobres-mendigos e pobresdesempregados. Jakob van
KLAVEREN, "Población y ocupación", in Económica, 1954, n? 2, assinala com
razão que MaltIms fala de pobres, não de desempregados.
Nas cidades da Alemanha em 1384, 1400, 1442,
1446, 1447.
E. COYECQUE, "L'assistance publique à Paris au milieu du XVY siècle", in
Bulletin de Ia société de Phistoire de Paris et de l'!1e-de-France,
1888, p 117.
Ibid., pp. 129-230, 28 de janeiro de 1526: 50O pobres de Paris enviados
para as galés.
Variétés, VII, p. 42, nota 3 (1605). Envio para o Canadá de "vagabundos"
irlandeses que se encontram em Paris. Vagabundos de Sevilha mandados para
o estreito de Magalhães. A.d.S Veneza, Senato Spagna Zane ao Doge. Madri,
3O de outubro de 1581.
d Protector Somer168. C. S. L. DAVIES, "Slavery an set; the Vagrancy Act
of 1547", in Economic History Review, 1966, pp. 533-549.
1748, p. 25 1.
170. Cf. Ol~ H. HUFTON, The Poor of the 18th Century France, 1974, pp.
139-159.
171. A., A.E., B1 521, 19 de abril de 1710. Cf. AI) XI, 37 (1662), ao
redor de
Blois poucos são os caminhos que não estão cobertos de cadáveres".
172. A.d.S. Veneza, Senato Terra 1 [Venezal; DELAMARE, op. cit., 1710, p.
Ló12
3O de maio de 1780.
162 ss.
1 muitos estavam
232. doc
1974, p. 483.
375-385.
çaise so 1 pp. 425, 438, 512, etc.
189. Médit..
MANCERON, oP. cit., LINffi, citado por
190. De
1, p. 169: "No exército, dar-se bem menos valor pora ipador do que a um
cavalo de carg a um s, que o cavalo de carga é muito caro e o soldado.."
Seria melhor quantificar do não custa nada. z uma que descrever, mas
faltam números. Talve gundo uma notícia de ordem de grandeza: se e agosto
de 1783, os efeFrankfürtam-Main, 9 d, elevar-se-iam a dois mida tica, se
- -- 1 1 XVIII antes do século Xviii e durante o secu o migrações
compensatórias de pobres?
198. op. cit., p. 58. Declarações análogas, e muitO ulail tardias na pena
de
BAUDRY DES LoZIÈRES, é à ia Louisiane, 1802, pp. 103 ss.
Voyage it., P. 119.
199. P. DECHARME, op. p. 40.
184 e 196.
210. Diarii OP. cit., I, P- 111* -1598), ed. crí211. Livre e main des Du
Pouget (1522 use, 1964, tica por M. i. PRIM, D.E.S.,
Toulo datilografado.
ajante anônimo, 1728, Victoria and Albert Mu212. Vi seum 86 NN2, f's 196
ss Biblio213. Segundo a cópia conservada no F. Fr. da teca Lenin, em
MOscOu f0.s 5 e 54.
reiro de 1772, p. 327.
42.
175-176.
tão ce, p. 3071, p. 400191. R. GASCON, OP- Cit- yen, 1754, p. Journal du
Cit monnoyes de France, 1692, PPL de
192. JÈZE
Paris, do Parlamento
1302).
ôt, 1971, 1,
2 maio de 1947, p. 118, NNE OP. cit- P século XIII H. PIRE esde e;préstin
- to da o
226.. eiro grande onto de vista, e mutatis mu~ 35 nota 2. O Prun lia da
Gucravo tros homens. Deste p Frnça seria o de 1295 para a canipan tandis
sempre houve galés." atres et yerme contra a
Inglaterra: Ch. FLORANGE, CuAbade C. FLEURY, Les devoirs des M iosités
financières *, 1928, P. I. e podem ser des domestiques, 1688 , p.
73. Análoga reflexão 227. rão quis multiplicar. as referências qu em dar
c0leva 1. de PINTO, quase um século depois (1771), facilmente encontradas
em Medir... r, ipe RUIZ, a escrever (OP. cit- P- 257): 1
197.
69.
43).
.A., 35/6, 390, 114.
.A., 3516, 320, 167, Carta de Simo23 de março-3 de abril de 1781.
2li, Serie seconda, Veneza, 1912. LAT, Comptes généraux de l'État entre
1416 et
1420, 1964.
p. 33 e gráfico. li.
o de S. J. SHAW (The Budget of t, 1596-1597, 1968) de um orçamentomano. E
sobretudo os trabalhos Dmer Lufti BARKAN.
MACARTNEY, op. cit., IV, p. 119 iões de libras; por exemplo, R. VIi
Museum,
Acid. 18287, fO 49, ló32 [e escudos de ouro).
'OST, Voyages, op. cit., X, pp, (1720) ou A.E., Rússia M. e D., (por
volta de 1779).
,.T, LÉtat desfinances de 1523, 1923. RACCIOLO, Il regno di Napoli nei,
VVII,
1966, 1, p. 106.
ORBONNAIS, Recherches... sur e France, 1758, pp. 429 ss.
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1969.
1963, p. 358.
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p. 283
1603).
1669.
11, p. 88.
34-36.
1961, p. 99.
311. L-F. BOSHER, op. cit., pp. 276 ss.; a palavra burocracia surge pela
primeira vez em GOURNAY, 1745, cf. B. LESNOGORSKI, Congresso
Internacional de
Ciências Históricas, Moscou,
1970.
317. Ver o brilhante quadro de Régine PERNOUI), op. cit., 11, pp. 8 ss.
1564-1566, 1937.
319. Britisli Museum, Add. 28368, f' 24, Madri, 16 de junho de 1575.
320. L. PFANDL, Philipp II. Gemalde eines Lebens und einer Zeit, 1938;
trad. fr.
1942, p. 117.
36-37.
586.
91.
332. Hans HAUSHERR, op. cit., p. 33, e Philippe DOLINGER, La Hanse, 1964,
pp.
207 e 509.
339. TURGOT, Mémoire sur les prêts d'argent, ed. Daire, 1844, p. 110. In
OEuvres, ed. Schelle, 111, pp. 180-183.
571
3.
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th6orie,
1952, 1, p. 5.
kKOF, Les banchierijuifs et le SaintIII, au XVIF sicle, p. 81. iovembro
de 1915, citado por L. POp. cit., p. 59, nota 5.
.OF, op. cit., p. 96.
?s marchants icrivains Florence, ). 274.
)VER, op. cit., p. 56, nota 85.
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169.
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EZ, Disputationes tridentinae... t.
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376. Economie et religion, une critique de Max Weber, ed. sueca 1957,
francesa
1971.
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378. Studies in the Development of Capitalism, 1946, P. 9.
380. Aldo MIELI, Panorama general de historia de la ciencia, 11, pp. 260-
265.
633-634.
387. Citado por Basil S. YAMEY, "Accounting and the Rise of Capitalism",
in
MÓ1anges Fanfani,
1972, p. 164.
1967.
11, p. 21.
409. Jean-Henri GROSE, Voyage aux Indes orientales, 1758, pp. 156, 172,
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1974, p, 118.
1, p. 226.
417. Denis RICHET, Unefamille de robe, Paris du XVF au XVIIF si&le, les
Siguier, tese datil., p. 52.
1958-1959.
108.
286-281.
423. Lord CLIVE, Discurso Cdmara dos Comuns; extratos dados aqui segundo
uma traduqdo francesa, Cracóvia, acervo Czartorisky.
SUMARIO
PREFÁCIO ........................ ***""'*"'*
CAPITULO 1 - OS INSTRUMENTOS DA TROCA 7
199
rcvult<su- trigiesa:
535
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