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sobre a f ábrica t reduzmdo a a um acan íedmeniú
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í ori de Deccs . 1962
Copyright & by Edgar Salvat
Dacca, Et
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O nascirnení u daí làbrlcag / Edgar SaWadori de Dacca. -
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Nunca temos tempo para sonhar 11
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Uma máquina ef ábrica incrí vel 41
Bibliografia
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1 Fábucas - Historie i Titulo indicaçõ es para leitura . . . . . . 72
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Índices gora calálogo sistemá tico:
t. f ábricas : Histórias : Economia 330.476703
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INTRODU ÇÃO
Hard dmes in the mill transforma ção positiva do significado verbal da pró
pria palavra trabalho , que at é a é poca Moderna sem -
.Am t it enough to break your heart ? pre foi sin ó nimo de penaliza çã o e de cansaços insu -
Have work all day and at night it s dark
ro port á veis , de dor e tie esforço extremo, de tal modo
It T hard times in the mill my love que a sua origem só poderia estar ligada a uni estado
extremo de misé ria e pobreza . Seja a palavra latina e
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O Nascimento das Fá bricas 9
A Edgar Sahadori de Decca
nalam a dor e o esforço inerentes à condi ção do sociedade , Assim , a f á brica ao mesmo tempo que
- COEI firmava a potencialidade criadora do trabalho
homem , e algumas como ponos t Arbeit t ê m a ines
ma raiz etmològica que pobreza { penia e Armut em anunciava a dimensão ilimitada da produtividade
grego e a íeru ã o , respectivamente ) . humana através da maquinaria .
Essa transformação moderna do significado da Para esse pensamento movido pela cren ç a do
poder criador do Lrabaiho organizado, a presen ça da
pró pria palavra trabalho, em sua nova positividade ,
representou tamb ém o momento em que, a partir do máquina definiu de uma vez por todas a f á brica
século XVI , o pr ó prio trabalho ascendeu da " tnais corno o lugar da supera çã o das barreiras da pr ó pria
humilde e desprezada posição ao nível mais elevado e condição humana . LlA inven çã o da m á quina a vapor
e da m á quina para trabalhar o algod ão , escrevia
"
à mais valorizada das atividades humanas, quando
Engels em 1844, “ deu lugar como é sobejamente
Locke descobriu que o trabalho era a fonte de toda a
propriedade . Seguiu seu curso quando Adam Smith conhecido a uma Revolu çã o Industrial , que trans-
afirmou que o trabalho era a fonte de toda a riqueza , formou toda a sociedade civil ." Essa imagem crista -
e alcan çou seu ponto culminante no "sistema de lizada j á no pensamento dos homens do século XIX
trabalho" de Man. onde o trabalho passou a ser a apagou todo o percurso sinuoso da organizaçã o do
fonte de toda a produtividade e expressão da pr ó pria trabalho da é poca Moderna, ao reduzir definitiva -
humanidade do homem " ( Hannah Arcndt. La Can - mente a f ábrica a um acontecimento tecnológico.
íiiciòn Humana , p. 139) ,
Contudo , os ecos das resistê ncias dos homens
pobres a se submeterem aos r ígidos padr ões do tra -
A dimensão crucial dessa glorificação do tra -
balho encontrou suporte definitivo no surgimento da balho organizado são aud í veis desde o século XVII ç
f á brica mecanizada, que se tomou a expressão su - assinalam a presen ça da fabrica a partir de um mar -
prema dessa utopia realizada, alimentando , inclu - co distinto daquele definido pelos pensadores do sé -
sive, as novas ilusões de que a partir dela n ã
o hã culo XIX .
Aqueles primeiros homens , que se viram cons -
limites para a produtividade human a .
Essa descoberta delirante da f á brica como lu - trangidos pela prega ção moral do tempo ú til c do
trabalho edificante, sentiram em todos os momentos
gar , por excelê ncia, no qual o trabalho pode se apre-
sentar em toda a sua positividade n ão só alimentou de sua vida co Li dia na o poder destrutivo desse novo
as projeçóes dos apologistas da sociedade burguesa , princípio normativo da sociedade. Sentiram na pró -
como també m a de seus próprios crí ticos , na medida pria pele a transforma çã o radical do conceito de
em que ela foi entendida como u momento de uma trabalho , uma vez que essa nova positividade exigiu
liberação sem precedentes das forças produtivas da do homem pobre a sua submiss ã o completa ao maxi -
do do palr ão .
lntrojetar um relógio moral no coração de cada
trabalhador Foi a primeira vit ó ria da sociedade bur -
guesa, e a f á brica apareceu desde logo como unia
realidade estarrecedora onde esse tempo util encon -
trou o seu ambiente natural , sem que qualquer modi-
fica çã o tecnol ógica livessc sido necess á ria . Foi alravés
da poria da f á brica que o homem pobre , a partir do
século XVI 11 , foi introduzido ao mundo burguês , NUNCA TEMOS
A reflexão que agora propomos visa ultrapassar
a imagem cristalizada que o pensamento do século TEMPO PARA SONHAR
XIX produziu sobre a f á brica, reduzindo a a um -
acOíitecimen Lo tecnológico.
Nosso intuito è desfazer o manto da mem ória da "Todas as pessoas que se encontram traba -
sociedade burguesa e reencontrar a f á brica cm todos lhando nos teares mecâ nicos est ão ali de modo
os lugares e momentos onde esteve presente uma forçado , porque não podem existir de nenhum
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0 Nascimento daí Fábricas 13
12 Edgar Salvador ! de Dec ca
dos homens a pró pria dimensã o do pensar . bricar balas, por exemplo , n ão significa imediata -
mente que n ã o tenhamos condições de impor t ée-
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como algo alé m do já dado . nicas de produção eficazes para a concorr ê ncia
no
Dentro daquilo que nos interessa , determinadas
mercado. Um outro mecanismo antecede essa ilusã o .
respostas j á s ã o bastante conhecidas. Por exemplo ,
quando falamos da produ çã o de conhecimentos t.éc - O que nos é vetado, antes de mais nada , é justa -
mente a possibilidade de pensarmos o ato mesmo de
nicos que n ão conseguem se impor socialmente * bus
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pr
ó prio poder fabricar balas. Alguma coisa já se hipostasiou ,
camos a resposta, via de regra , no n í vel do
ganhou apar ê ncia de “ condi ções objetivas": o fa -
mercado. Assim , lima tecnologia é ineficaz porque
bricar balas já encontrou sodalmente um determi -
n ão consegue romper a barreira da concorrê ncia im - nado estatuto e. a n ão ser para alguns espí ritos recal-
posta por uma ordem implac á vel . Nesse sentido , a
citrantes que insistem em fazer festas , balas devem
conclusão é imediata . N ã o existem outras tecnologias
- ser reconhecidas como produto da eficiê ncia de in -
alé m daquelas conhecidas, porque o próprio mer
cado se responsabiliza em eliminar as "menos efi -
d ústrias alta mente conceituadas , segundo seus pa -
dr ões de qualidade.
cazes". Contudo* dever íamos ser menos ingé nuos em Somos induzidos , ent ã o , a pensar dentro de
quest ões que colocam explicita men te em jogo as re - uma lógica definida , que n ão é ditada por leis de
la ções de domina çã o social . Hm outras palavras , as
mercado , mas sim regida por mecanismos sutis de
relações de mercado vã o bem ruais alé m do que as
puras determina ções económicas. O estabelecimento controle social . Portanto , vejamos bem o que é esse
do mercado é també m o estabelecimento de um dado
pensar , pois há nisso tudo um modo de pensar , pró -
prio da esfera desse controle. At é agora nos referimos
registro do real. no qual os homens pensam e agem -
à possibilidade de emergê ncia de saberes que inter
conforme determinadas regras do jogo. Assim , o rompiam uma lógica de identificação social . Isto é ,
mercado n ã o só imp õe aos homens determinadas
tecnologias “ eficazes" , como também impede que um nãvsaber , porque se situava na esfera daquilo
que n ão poderia ser pensado. Pensar, portanto , é
lhes seja possí vel pensar outras tecnologias. pensar segundo regras já definidas , e o seu contra -
Da í falarmos em impot ência social . N ã o é isto ponto , no nivel da sociedade , é justamente a impos -
mn mecanismo regulado por leis econ ô micas do mer - sibilidade de pensar al é m das regras .
ca do , mas uma esfera de dom í nio social na qual os Portanto, ao falarmos em mercado ou em dm
homens se v éem impossibilitados de pensar alé m de são social do trabalho n ã o estamos nos referindo â
registros que se imp õem à vista de todos como uma
quest ã o de maior ou menor produtividade do tra -
ordem natural.
Portanto , quando nos sentimos incapazes dc fa - balho, mas sim à apropriação mesma dos saberes .
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1* Edgar Saí vadori de Decca 0 Nascimento das Fá bricas
Deve , assim , existir um mecanismo social no qual reconhecimento supõem a imposi çã o de normas e
aquele que deté m um saber se torna imprescind ível valores pr óprios de determinados setores da socie-
para a imposiçã o do pr ó prio processo de trabalho , j á dade e que v ã o aparecer dotados de universalidade .
que aos outros homens está vetada a possibilidade Por exemplo, quando pensamos o desenvolvimento
desse saber, da ordem burguesa no seio da sociedade feudal , logo
Evidenlemeitie. a solu ção para este impasse n ã o imaginamos a instituiçã o do mercado como esfera
é reivindicar um direito para todos produzirem ba - universal]zante e universal!/ adora de uma nova or-
las , j á que isto seria uma saí da cdulcorada para o dem que se impõe .
problema . Contudo , até nisso h á uma dose de refle - Essa imposição de normas e valores por um
x ã o . Como restituir aos homens saberes que lhes determinado setor da sociedade pode ser percebida
foram retirados e que hoje servem para reger uma decisiva men te quando tomamos a noçã o de tempo
ordem de dom í nio polí tico , técnico , cultural etc. que ú til , produzida pela ampliação da esfera do mercado
e que n ã o só disciplina a classe burguesa como lam -
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Edgar Salvador: de Decca O Nascim en to das Fá b riccis 17
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rico quando faz bom uso do seu tempo ( E, P . dominantes de toda a sociedade através de um persis-
Thompson , hempo , Disciplina de Trabajo y tente e minucioso trabalho de í ntrojeçã o de novas
Capitalismo , p , 280). normas e valores , islo é , pela introjeçao definitiva da
imagem do tempo como moeda n ó mercado de t r a -
balho.
ou ent ã o ;
atendei aos “ Posto que nosso tempo est á redu /.ido a um
"Observai as horas de intercâ mbio ,
Padr ã o , e os Metais preciosos do dia acunhados
mercados: h á é pocas especiais que ser ão favo - em horas , os industriosos sabem empregar cada
rá veis para despachar vossos negócios com faci - parcela de tempt ) em verdadeiro benef ício de
lidade e fartura ; as é pocas de fazer ou receber
1 1
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respondia , peça lhe que se console , que n ã o po
- de ser menos" ( E, P. Thompson , p . 283) ,
Hssa mudanç a de destinatá rio do discurso mora
li / ante do tempo ú til nos d á a medida de como as Entretanto , a instituição do mercado també m
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ideias de uma classe dominante torn aram se as id éias
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Edgar Salvador O Nascimento das Fá bricas 19
supõe desde o princípio a divisão social do trabalho , torne - se també m o lugar ( imagin á rio e real ) onde
e portanto a afirma ção da ciasse burguesa . O mer - se opera efetivamente a divisão do social . Em nutras
cado transforma -se. assim , em uma entidade uni - palavras, a produ çã o histó rica de uma classe de pro-
versal através da qual os homens se reconhecem a si priet á rios dos meios de produ çã o , ao mesmo tempo
próprios c se opõem a qualquer dispositivo imagi- que uma nutra classe se constiuri como assalariada e
n á rio que coloque a ordem social fora do â mbiLo despossu í da . decorre de um confronto que , no final,
desse novo universo. faz. aparecer para os sujeitos sociais a imagem de que
Mas tenhamos cuidado com essas reflexões. Se existe a imper íosidade da figura do capitalista , como
esse mercado designa o registro do real , pelo qual a elemento indispensá vel para o pró prio processo de
sociedade reconhece a si mesma, isto é , torna -se a trabalho.
dimensã o normativa a partir da qual os homens pen - V á rios autores estudaram esse processo de en -
sam e agem , liã o devemos perder de vista que essa gendramento das relações sociais da ordem burgue -
universalizaçã o que ocorre no interior do social re - sa. Contudo, nem todos pensaram esse processo,
presenta . fundamental mente, o modo pelo qual as justamente , na dimensã o de uma luta .
ideias de uma classe dominante se tomam ideias Stephen Marglin , preocupado com a an á lise da
dominantes para toda a sociedade. Por isso podemos constituição do sistema de f ábrica , como sistema,
falar de um imagin á rio do mundo burguês e, desde por excelência , da divis ão e do parcelamento do tra -
já , descartar a ideia de que , por exemplo , os setores balho , isto á, como locus privilegiado do controle
dominados desla mesma sociedade estejam subme social no â mbito da sociedade burguesa , procura
tidos a uma enorme mentira ou a um engano uni - pensar, em seu livro Para que Servem OJ Patrões ,
versal , isto porque a presença histórica das classes quais os caminhos desenvolvidos por um confronto
nessa sociedade se d á justamente a partir da univer - que produz as classes sociais.
saliza çã o desse imagin á rio burgu ê s , e . nessa medida , .Seu ponto de partida é , jus íamente, o movi -
a produ çã o mesma das classes est á intimamente li - mento de constituição do mercado no interior da
gada ao modo pelo qual essa sociedade impõe os ordem feudal e a progressiva constituiçã o da figura
registros do imagin á rio para o seu próprio reconhe- do negociante como elemento indispensá vel para o
cimenlo . funcionamento do pr ó prio processo de produção ar -
Portanto, há uma luta ali mesmo onde as classes tcsanal . Em outras palavras , Marglin est á preocu -
sc produzem . Isto quer dizer que, se pensarmos na pado em acompanhar o desenvolvimento clássico do
gestação da sociedade burguesa, a ordem do mer - “ putting -out system '' r primei ta configuraçã o da pro -
cado, dimensão na qual os homens pensam e agem . du çã o capitalista . Os passos de Marglin s ã o extre-
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mamente importantes, posto que a interposição
produ çã o
figura do negociante entre o mercado e a
artesanal , segundo ele , representou o momento
pelo
qual se imp ôs a essa produ ção a figura indispensável
do capitalista , criando uma hierarquia social sem
a
qual , desde ent ão, o próprio processo dc trabalh
o
í ica impossibilitado de existir . Isso ocorreu porque os
produtores diretos , embora dominassem o proces
so
de trabalho , se viram obrigados a depender da í
igura
do negociante para que sua produ ção se efetivasse
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O Nascimento das Fábricas 23
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do processo pro- Orar Ira ns Ferir esse controle da prod ti ção quo
se resume no controle tecnológico PSLAVA nas n ã os dos trabalhadores para as m ã os do
lista tem o
dutivo . No “ putting - out system , o capita
"
s capitalista n ão significou , absolutamente . segundo
acesso ao mercado e veta aos trabalhadores diretoo Marglin , maior eficácia tecnológica nem tampouco
ditam
esse contato , mas , ainda assim esses últimos im - uma maior produtividade , O que se verificou , isto
processo de produ ção. Essa divisão social torna sim , foi uma maior hierarquização e disciplina no
processo
periosa a figura cio capitalista no interior do trabalho e a supressão de um controle determinado:
produtivo, e o trabalhador , distante do merca -
do ,
ma o controle técnico do processo de trabalho e da pro -
tanto para a obtenção de maté ria - prima como seus dutividade ditado pelos próprios trabalhadores. En-
téria - prima como para a comercializa
çã o de
ole fatizamos , mais uma vez , que essa transferencia ,
produtos, detém , única e exclusivamente , o contr ainda conforme esse autor , não significou progresso
que a
do processo de trabalho. Claro est á . nesse caso parti -
,
t écnico ( coisa que muitos afirmam ) , resumido nos
razã o técnica , estando sob o domí nio de quem enta termos de um desenvolvimento tecnol ógico que teria
repres
cipa do processo de trabalho , ainda n ão posto por 1 erra o 'putting - out system ante o sistema
' "
trabalhadores que ainda detinham os conhecimen produ - refere - se à perspectiva dos capitalistas , já que do
técnicos e impunham a din âmica do
processo
ponto de vista dos trabalhadores domésticos do put-
“
lado
tivo. E isso é muito importante , uma vez que do da ting - out system ” cia representava uma resist ência à
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dus trabalhadores estava a resposta ao proble perda do próprio controle do processo de trabalho .
eficácia técnica c da produtividade .
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senvolvido um sistema de fichas, al é m da cria çã o de las que tomaram inevit á vel a concentração das ativi-
umaamplac detalhada sé rie de instru ções relativas á dades produtivas sob a forma de f á bricas. Dickson
disciplina do trabalhador dentro da f á brica , estabe - afirma , por exemplo, que “ ura tear holandês que
podia tecer de modo simult â neo vinte e quatro tiras
lecendo inclusive a categoria especial dos capatazes
responsá veis pela vigil â ncia do processo de trabalho. estreitas , e uma complexa estrutura manual para a
Assim como os tecelões , os ceramistas n ã o esta- elaboração do ponto para o tecido de malha para a
confccç lo de calç as e meias , ambos instrumentos
vam acostumados com esse novo tipo de disciplina.
Segundo um historiador inglês , “ os ceramistas ha - perfeílamente adaptados à ind ú stria doméstica, fo-
viam gozado dc uma independ ê ncia durante muito ram abandonados rapidamente dando lugar a má -
tempo para aceitar amavelmente as regras Wedg - quinas rti í is amplas , cuja superioridade mecâ nica
wood procurava implantar, a pontualidade , a pre - eliminou paulatinamente as formas tradicionais dc
sen ça constante , as horas prefixadas, as escrupulosas produ ção manual ” ( Dickson , p , 60) , E acrescenta ,
regras de cuidado c de limpeza , a diminuição do “ os exemplos mats importantes destas inova ções me-
desperd ício, a proibi çã o de bebidas alcoólicas” . Mas câ nicas foram a estrutura hidrá ulica de Arkwright
apesar de todas as resistê ncias desse trabalhador an - ( 1768b desenhada a fim de utilizar a energia hidr á u -
te o regime fabril , Wedgwood , aferrado em seus lica para a fiaçã o de algod ão, o Lear mecâ nico de
princí pios , afirmava , após 10 anos de exist ê ncia de Cartwright ( 17S4 ) , que podia funcionar por meio dc
sua f á brica , que havia transformado esses " traba - rodas hidr á ulicas , ou de m á quinas a vapor , e as
lhadores lentos e bê bados e in ú teis ” em um " magn í- m á quinas intermitentes de fiar, de Crompton , desen -
fico conjunto de m ã os", volvidas em J 779 e capazes de produzir fios fortes e
Mas pró prias palavras de Wedgwood, a f á brica finos apropriados para numerosos up os dc elabo-
se materializa como uma nova organiza çã o do tra - rações t ê xteis. A comparativamente ampla produçã o
balho , sem a necessidade de ocorr ê ncia de qualquer dessas m á quinas representou uma rá pida superaçã o
transformaçã o profunda do aparato tecnol ó gico . En - da capacidade das pequenas correntes dc á gua que
faziam funcionar os moinhos. Em 1875 se realizou o
tretanto, ainda podemos avan ç ttr alguns esclareci-
mentos a respeito do uso das m á quinas durante a ú ltimo passo lógico ao se adaptar a m á quina de
Revolução Industrial. Tanto Dickson como Marglin vapor de Watt à s fun ções de proporcionar energia
nos fazem supor que as m á quinas criadas e usadas para aquelas outras m á quinas. Cada um desses de-
durante os anos cruciais da revolu çã o industrial n ã o senvolvimentos foi crucial no que se refere ao esta -
foram apenas e tio- somente aquelas que substitu í- belecimento do sistema fahrii , e contribuiu para a
ram o trabalho manual , mas , principal men te , aque- efetiva çã o de uma disciplinarizaçâ o geral na for ça de
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Edgar Salvador: de Decca 0 Nascimento das Fá bricas 31
30
hm outras palavras , o ê xito da revolu çã o estava inti - in ú meras atividades de destruição carregaram impli -
citamente uma profunda hostilidade contra as novas
ma mente ligado à afirma çã o de novas rela ções dc m á quinas e contra o novo marco organizador da
poder hier á rquicas e autorit á rias.
produçã o que essa tecnologia impunha . Nesse caso ,
Alguns historiadores ingleses afirmam mesmo "as m á quinas n ã o s ó supunham uma amea ça com
que o exito alcan ç ado por alguns empresá rios capi-
respeito aos postos de trabalho , mas contra todo um
1alistas , em meio a tantos fracassos que rodearam as
primeiras tentativas de instalaçã o das f á bricas, de - modo dc vida que compreendia a liberdade, a digni-
dade- e o sentido de parentesco do artesã o" ( Dickson ,
veu - se muito mais à qualidade de direçã o dessas p . 61) , Os destruidores de m á quinas da regi ã o do
empresas do que a uma substancial mudan ça dc
Lancashire nos anos de J 778 a 1780 ilustram , inclu -
qualidade do trabalho ou das m á quinas.
Nesse sentido, a despeito de a historiografia tra - sive , a maneira criteriosa de como essa luta era de -
sencadeada n ã o contra a mecaniza çã o em geral , mas
dicional sobre a revolu çã o industrial negligenciar as
cm direçã o a determinadas m á quinas em particular.
dimensões tio fracasso das primeiras experiê ncias fa- "Estes destruidores de m á quinas distinguiram enlre
bris , ai ] ida assim podemos afirmar que a resist ê ncia aqudes tornos de fiar que tinham vinte e quatro ou
do trabalhador ante os avan ços do sistema de f á brica
foi decisiva durante esse período. Afinal , nem todos
menos lusos , apropriados para a produ çã o domés-
tica , e que n ã o destru íam , e entre aqueles outros
os homens se renderam diante das forças irresist í veis mais amplos , apropriados exclusiva men te pum a sua
do novo mundo fabril , e a experiência do movimento utilização em f ábricas , que destru í am " ( Dickson .
dos quebradores de m á quina demonstra uma inequ í - p. 62).
voea capacidade dos trabalhadores para desencadear Apesar de toda a resist ê ncia c das vit ó rias al -
uma luta aberta contra o sislema de f á brica. Essa can çadas pelos quebradores de m á quinas já por volta
luta ganhou contornos dram áticos mas , acima dc de 1820, "os avan ços tecnológicas adicionais muda -
tildo, muito difusos , se procurarmos levar em conLa
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34 Edgar Salvador! de Decca O Nascimento das Fá bricas 35
guir ao mesmo tempo um controle intermitente do â mbito da técnica produtiva e, lugo em seguida ,
trabalhador, com o intuito de assegurar a utiliza ção transformasse todo o registro dos saberes t écnicos.
dessas mesmas m á quinas com o má ximo de capaci - Isto significou , por fim , a criaçã o de um imagin á rio
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ção de de milhares e de dezenas de milhares de pessoas .
o lugar privilegiado para a produ çã o e efetiva urdem Aqui , poderemos nos deter no que está sendo
saberes t é cnicos , n ã o tent os seus limites na ão denominado sistema de fábrica e chamar a aten ção
capitalista. Pensemos , por exemplo, o caso da Uni para o faLo de que, comumeiUe , as an á lises soltadas
Sovié tica , reconhecida por muitos como alternativa de para essa quesl ã o reduzem a f á brica à quilo que ela
hist ó rica do capitalismo. Lá lamb é m o sistema Leni tie mu is imediato , isto é. d sua mate ri alidade
.
f ábrica ao se implantar , trouxe consigo todas con
as se - Esse reducionismo iraz como consequ ência um vi és
quelas relacionadas â disciplina,
hierarquia e -
é apli - analítico em que as vari á veis em jogo sã o apenas
trole do processo de trabalho , e o saber cnico prios
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pró aquelas capazes de medir o desenvolvimento das for -
cado esteve muito longe de ser detido pelos ças produtivas ou os progressos é tcnicos. Qualifi -
trabalhadores. i- caçà o que . na maioria das vezes escamoteia o que é
,
Enfim , o sistema de f ábrica introduz determ
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Agora , temos condições de avaliar o que está
, progresso
trás noções do tipo eficácia , produtividade
para
etc., quando elas est ão reduzidas a parâ metros
avaliar e diagnosticar a realidade social. Todas essas
ideias reforçam uma estratégia que perpa
ssa o con-
junto do social , produzindo uma permanente apro-
pria ção do saber que se impõe a todos como ó
l gica
inquestioná vel , dissimulando o fato de que n existe
ão
so de
aumento das capacidades técnicas no proces apn UMA MAQUINA
trabalho sem que haja concomitantemente um >
E FÁ BRICA INCR ÍVEL
sobre
fundamento das relações de poder e de controle
o trabalhador. partir
Enfim , as relações sociais , produzidas a
——
da expansão do mercado capitalista e o sistem
a de "CíWíO trato e negócio principal do Brasil e de
fábrica é seu ' ' est á gio superior ” -
, tornaram pos a çúcar , cm nenhuma outra coisa se ocupam
engenhos e habilidades dos homens tonto como
s í vel o desenvolvimento de uma determinada tecno
-
expro- inventar artif í cios com que o façam ,' e por
logia, isto é , aquela que supõe a priori a ventura por isso lhe chamam engenhos .
pro-
priaçã o dos saberes daqueles que participam do
sistema de
cesso de trabalho , Nesse seu lido , foi no impor Fftd Vicante Salvador { 1627)
, n ão
f ábrica que uma dada tecnologia pode se
apenas como instrumento para incrementar a produ - Àté agora , discutimos aquilo que classicamente
nte,
tividade do trabalho, mas , muito princí palme - se tornou conhecido como sistema de f á brica . Nessa
para controlar , disciplinar c hie
como instrumento medida , foi possí vel acompanhar alguns momentos
rarquizar esse processo de trabalho. significativos que permitiram o surgimento desse sis -
tema , a partir da instituição das próprias rela ções
do
mercado. Tal procedimento lev a - nos a induzir que o
sistema de f á brica , como produçã o hist ó rica do mer -
Europa ,
cado capitalista , deu - se primeiramente na
para somente depois se transferir para as á reas da
periferia desse mesmo mercado. Isto sup õe , necessa -
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43
Edgar Salvador t de Decai O Nascimento das Fábricas
42
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nada mais corriqueiro do que determinar * génese da out system ” n ão foi a ú nica pela qual sc tornou
ind ústria e do capitalismo , no Brasil , no final do possí vel aparecer o sisterna de f ábrica como produ
t -
século X Í X , no momento em que o pa í s se reposi- çã o e engendramento das relações sociais e da divisã o
eionou na órbita do mercado mundial , incorporando do trabalho no capitalismo .
o processo de trabalho tí pico do capitalismo hege - No momento histórico do desenvolvimento do
‘putting-out system ' na Europa , a partir do século'
1
ganos irrepar á veis, posto que a exist ê ncia de relações XVI , nas á reas coloniais a concentração de trabalha
capitalistas deixa de ser percebida em determinadas dores destitu ídos de meios de produção e expropria -
formas de organiza çã o da produ çã o e do trabalho dos de qualquer saber técnico apareceu como a orga -
que se produzem uas lais zonas perif é ricas do sis - nização do trabalho mais eficiente para se levar a
tema . Nessa medida , nada mais corriqueiro do que cabo os interesses do lucro capitalista , e ah també m a
figura do empresá rio se tornou imprescindível para o
encontrarmos an á lises nas quais o capitalismo bra -
44
sileiro ” aparece dotado de qualificativos do tipo atra - processo de produ çã o. Disciplina , ordem , hierar -
-
sado , lardio , dependente. - quia , foram elementos sempre presentes durante Lo
o
do o período em que se desenvolveu a produ
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Edgar Salvador! de Decca 0 Nascimento das Fábricas 49
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Filipinas ) . Dá destaque particular, ainda , à s t écnicas aos borbot ões de cada unia pelas duas bocas uu
produtivas que eram capazes de organizar o processo ventas , por onde respiram o incê ndio; os et ío-
de produ çã o , alé m de sugerir a import â ncia c o papel pes , ou ciclopes banhados em simr t ã o negros
imprescind ível cio mando capitalista para organiza - como robustos que sub minis tram a grossa e
ção do trabalho nos engenhos de açúcar . dura mat é ria ao fogo, e os for ç ados com que o
Essas quest ões , dentre outras
 monil é uma fonte documental inestim ável
—
e o livro de
, po-
— revolvem e atiçam ; as caldeiras em lagos fer
ventes. com os canhões sempre batidos e reba -
-
dem oferecer uma id éia bem mats clara daquilo que tidos , j á vomitando espumas , exalando nuvens
procuramos definir como o sistema de f ábrica , desde de vapores , mais de calor que de fumo , e tor -
que sc entenda aí, contudo , a maneira pela qual o nando-se a chever para outra vez os exalar; o
engenho de a çú car nas coló nias representou , inequi- ru í do das rodas , das cadeias , da gente toda de
vocamente , uma das expressões ma is contundentes cor da mesma noite , trabalhando vivamente , e
dessa peculiar organização do trabalho do mundo gemendo tudo ao mesmo tempo sem momento
capitalista, sem que a mesma possa ser confundida de tréguas , nem tie descanso; quem vir enfim
com a cl ássica forma manchcsteriana . toda a máquina e aparato confuso e estrondoso
Ao nos aproximarmos dos textos de viajantes e daquela Babil ó nia , n ã o poderá duvidar , ainda
de habitantes de coló nia que descreveram em porme- que tenha visto Ethnas e Vesú vios , que é uma i
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Edgar Salvador! de Dacca O Nascimento das Fá bricas 51
50
e os escravos em equipes ;
— revezadamente ocupam os seus postos de
trabalho . Os escravos num certo sentido n ã o
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O Nascimento das Fá bricas
53
57 Edgar Salvadors de Deccú
a
Contudo , a disciplina requerida e legitimad
trita disciplina. A manuten ção desta e a efi - por um có digo n ão poderia resolver totalmente o
ci ê ncia . de modo geral , do regime escravo tor - problema da integração do escravo na economia do
nava m - se possí veis com a adoçã o da violência e engenho, uma vest que a coerção só poderia sc dar
coação como padrões aceitos no trato do es- para a execução de tarefas reconhecidamente possí-
cravo. Aliás, as condi ções norm ítis do trabalho veis de serem realizadas por escravos considerados
escravo exclu í am , de modo geral , outras mo- boç ais ou ladinos. Era preciso , portanto , que atrav és
tivações , exceto o castigo e a possibilidade re -
de uma rela çã o de extrema autoridade ( as penali-
mota de folga , apôs o cumprimento das tarefas. dades previstas no código) o escravo introjetasse
uma
As Ordenações Filipinas sancionavam legal - disciplina de rotina de trabalho na execu çã o de ta -
menLe a morte e a mutilação , em caso de ofensa à refas de produ çã o c outras complementares à vida do
pessoa do senhor, c o tormento por a çoite para engenho. Em outros termos, era preciso submeter
o
obter a declaração do domicílio dos escravos escravo ao cumprimento dc tarefas consideradas roti , -
fugidos , 0 regimento elaborado por João Fer-
neiras no engenho e mensuráveis quantitativamente
nandes Vieira em 1663, com respeito ao castigo E, por isso mesmo, a produtividade do trabalho es -
do escravo , estipulava que ' depois de bem a çoi- cravo era decorrente da eficaz aplicaçã o do controle
tado. o mandará pisar com navalha ou faea que disciplinar , este sim o elemento capaz de garantir
corte bem , e dar-lhe -á com sal , sumo de lim ão, e que o sistema n ão desmoronasse.
urina e o meter á alguns dias na corrente , e sen - Sugere- nos a autora , inclusive, algo bastante
do fêmea, ser á açoitada à guisa de baiona den - interessante a esse respeito , ao afirmar que a distri -
tro de casa com o mesmo açoiLe , com a proi - buição das tarefas de competência de escravos num
1
biçã o de lhes bater com pau , pedra ou tijolo. engenho obedecia a uma certa especialização : num
É claro que as penalidades devem ser vistas no n ível , as
nível, a divisão de tarefas por sexo; noutro
enquadramento pr ó prio da é poca , quanto à sen - fases fundamentais do processo de integraçã
o e de
sibilidade e o conceito de escravo , como també m adapta ção do escravo ao trabalho no engenho
mar -
em seus condicionamentos quanto á personali- cam o momento cm que se discriminavam dentre
os
dade do senhor . Teria havido senhores mais escravos aqueles considerados apLos para o trabalho
brandos ou mais cru éis , e que se traduzia nas no engenho e aqueles capacitados somente
para as
condi ções morais e materiais da exist ê ncia do tarefas complementares. H é muito importante frisar
escravo ' ( Alice P . Canabrava , ' João Antonio
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ire os escravos estabelecia um certo tipo de escala de avaliado nos seguintes relatos de Antoni] , reorde-
valorização capaz de aparecer como mecanismo efi- nadas por Alice Canabrava:
caz para garantir a disciplina no engenho.
Como afirma Antonio B , Castro , os escravos " No topo da hierarquia do trabalho qualificado
adquiridos pelos senhores
teriam por
— — 65 a 70 % dos cativos
destino os engenhos ser ã o introduzidos
se situava o mestre de a çú car : pelos seus conhe-
cimentos sobre o preparo do produto íazia jus à
na engrenagem do engenho através das tarefas mais mais alta remuneração , 120S000 por safra , o
simples. Seu aprendizado que o levar á de " boçal a 1
que expressa o julgamento social de sua habili -
" ladino , é també m um processo de valorização, co - ta çã o especí fica . De tal modo se impunha a sua
1
mo atesta Antonil , para quem um escravo adaptado capacidade t écnica que os sal á rios vigentes para
e treinado ' vale por quatro boç ais’. Somente entre os os outros postos de chefia n ão traduzem uma
' ladinos ' ser ã o escolhidos os caldeireiros , tacheiros , hierarquia gradual dc remuneraçã o , caindo seus
carapinas, calafates , barqueiros e marinheiros” I An - ní veis imediatamente a 50% para o Feitor- mor
tonio B . Castro, p , 17) , e o carapina da moenda , e mais baixo ainda
A tarefa disciplinadora , como se sabe, cabia aos para os outros. Assim acontecia porque , no es-
feitores e mestres de a çú car, e só a eles , na medida t á gio de desenvolvimento da técnica de produ -
cm que era de sua inteira responsabilidade extrair o ção do açú car, o mestre , sendo um empí rico,
maior rendimento possí vel cio trabalho tio escravo: deveria possuir altas qualidades de inteligência ,
“ Deveria se descobrir seus limites dc resist ê ncia , es - observaçã o , dedica ção e experiência , esta adap -
tabelecer normas para o reforço de alimenta çã o nas tada às circunstâncias locais , como acentua An -
tarefas que o exigiam , e bem assim , no trato dos dreoni. Cabia ao feitor uma á rea ampla de ati -
enfermos" ( Antonio B . Castro , p , 17). vidade . qual seja , ‘governar a gente c reparti- la
A hierarquia do trabalho começava ai , entre os a seu tempo , como é bem , para o serviço' . Seria
mestres de açú car e feitores, isto é. começava e ter - o que poder íamos chamar , em linguagem de
minava no trabalho qualificado, remunerado e téc- hoje , o administrador do pessoal . Sua autori-
nico do engenho. A í , a especializa ção das tarefas dade c clara mente definida , devendo ele con-
alé m de se colocar como imprescindí vel era condi çã o formar -se estritamente com os padrões prescri-
para se garantir a disciplina no trabalho , como Lam - tos de a çã o , ou seja , contentar - se em ser ' os bra -
bem , do ponto de vista estritamente técnico , fazer ços de que se vale o senhor de engenho' , e n ã o
frente ao crescimento da produ çã o e do n ú mero de arvorar - se em cabeç a. O cotejo do texto de Àn-
trabalhadores nela envolvidos. Isto pode ser bem dreoni com o regimento dadu por Jo ã o Fcrnan -
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56 Edgar Salvador! de Decca O Nascimento das Fábricas 57
des Vieira em 1663 mostra com nitidez, um de- pois trabalhava por tarefa , isto é, por quanlidade
senvolvimento no sentido da especialização das estipulada . Se ultrapassasse esse limite , pelo desen -
chefias , ou pelo menos , de que modo se resolvia volvimento de uma nova técnica , esse novo limite
o problema em engenhos menores . Em Cultura passava a ser incorporado a seu trabalho, sem que
e Opulência , as fun ções do feitor- mor se pren - houvesse algum 1 ipo de compensação. No mínimo ,
dem de modo especial ã distribuição dos escra - ficava disponível para a execu çã o de outras tarefas
vos pelas tarefas do engenho e às que mant é m n ão qualificadas no engenho de açú car. Pelo lado do
com o senhor , como preposto de seus interesses , senhor de engenho, a solução para os necessá rios
donde derivavam , naturalmente , encargos im - aumentos da produção de açú car era encontrada de -
pl ícitos quanto à conservaçã o do patrim ónio. No forma explicita , jLá que se tratava de trabalhadores
regimento do século XVII , encontram - se afetas
ao feitor - mor tarefas mass amplas , que inclu íam
-
escravos n ão qualificados . Isto é , antes que houvesse
o bloqueio ao trá fico negreiro , a partir de meados
supervisã o t écnica , atribu í das ao purgador e ao do século XIX , imposto pela Inglaterra , os aumentos
caxeiro , como chefes de serviço , no texto de An - de produção se davam pelo aumento das horas dedi -
dreoni . A especialização e a multiplicidade de cadas ao trabalho, quase sempre até o limite da
chefias mostra o aperfeiçoamento das tarefas de exaustão f ísica , bem como pela introdução de mais
supervisão , imposto pelo desenvolvimento quan - escravos no processo de trabalho. Quanto a isso , a
titativo da produ ção e o maior numero de tra - autora Alice Canabrava n ão poderia ser mais expl í-
balhadores nela engajados " ( Alice P . Canabra -
-
va, pp . 62 63) ,
cita— para ela , também * a quest ão central passava
pelas técnicas de minar as resist ências ao trabalho:
Nesse sentido , diante de uma estrutura cie par - “ N ão se tratava apenas da elaboração de uma
celamento do trabalho extremamente rí gida e de es
cassa mobilidade social , já que ao escravo estava
- t écnica de controle da rentabilidade do trabalho
escravo, adaptada à sua mentalidade rudirnen -
deslinada a realiza ção de trabalho nâo qualificado ,* tar , mas visava também vencer sua resistê ncia
c diante de sua utiliza ção de forma extensiva ( era passiva com respeito às tarefas impostas’ " ( Alice
propriedade do senhor ) , n ão se colocava de maneira P. Canabrava , p. 58).
decisiva para o processo de Lrabalho no engenho a
necessidade de se desenvolver t écnicas capazes de Essas resistências ( o assassinio do senhor , as
elevar a produtividade do trabalho escravo. Pelo lado fugas para os mocambos ou matos , o suicí dio , a
do escravo , nenhuma destreza poderia lhe ser ú til, , embriaguez-, o aborto , as práticas fetichistas. bem
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Eclgur Saivadori de Decca O Nascimento das Fábricas
como as enfermidades de natureza psí quica des- — ções fosse bastante eficaz para proceder à hierar -
consolo c melancolia — etc. ) , contr á rias ao processo
de ajustamento ao trabalho servil no engenho , econ -
quiza çã o ( espiritual) de papéis do trabalho es-
cravo nos engenhos de açúcar , ele foi insuficiente
travam , como afirma esta autora, mecanismos de para fazer frente ãs resistências, já que a existência
compensação e amparo aos desagravos sofridos no de um código disciplinar não deixa margem à d ú -
interior da economia do engenho na libertação espi
ritual . Libertação esta que, utilizando-se de todo um
- vida .
Quanto às técnicas , como resposLa a mais ade-
conjunto de instituições ( saeralizadas ou n ão), criava quada possí vel para os objetivos da organiza çã o capi -
ao mesmo tempo a hierarquizaçã o de papéis que a talista do trabalho nos engenhos, estas aparecem
execu çã o do trabalho não-qualificado n ão poderia descritas de maneira minuciosa no decorrer dc toda a
proporcionar no processo produtivo, O seguinte re- obra de Aníonil. Sen a ociosa uma descri ção porme-
lato. nesse particular, é bastante esclarecedor: norizada das t écnicas e dos maquinados utilizados
para a produção de açúcar nos engenhos. Gosta -
“ Hntre os aspectos positivos , como ações volun íamos , apenas, de chamar a atençã o para o fato de
r
tá rias do escravo, estava a sua integração nas que essas técnicas n ã o eram incompatí veis com a
irmandades. Corresponderia , segundo Ren é Ri - organização do trabalho no sistema de f á brica repre-
beiro , ao seu desejo natural de encontrar u m sentado pelo engenho, e aí talvez fique patente a
lugar na estrutura social , independente dos la - maneira pela qual a tecnologia atendeu de forma
ç os de escravidão, mas sob o amparo da Igreja, exemplar aos imperativos da organiza çã o disciplinar
e assegurar para si , ao morrer, uma sepultura e hierá rquica do trabalho.
condigna. Do mesmo modo , os reinados do É preciso , porém , que se esclareça nesse ponto
Congo mencionados por Andreoni, entrosados que se o trabalho servil , aqui identificado como tra-
com as'irmandades dos pretos, com seu sistema balho n ão- qualificado , rotineiro, era pouco propenso
pr ó prio de papé is hierarquizados , conferiam a absorver novas técnicas capazes de elevar a sua
status com a organizaçã o de suas cortes e reis . A produtividade , n ã o se pode concluir que entre este e
alusão do jesu í ta aos ‘feitiços’ e às ‘artes diabó- o progresso técnico houvesse uma terr ível incompa -
licas’ mostra a continuidade da prática dos ritos tibilidade , baseada exclusivamente na incapacidade
feíichistas das suas religi ões cm suas p á trias de Intelectual do escravo para acompanhar os avanços
origem ” ( Alice P , Canabrava , pp. 59-60) , tecnológicos requeridos pelo sistenta de fá brica . Con -
vém lembrar , recorrendo mais uma vez a Maria Syl -
Contudo, ainda que esse conjunto de institui- via de C . Franco , que os vínculos entre Metrópole e
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das t écnicas . Quanto à metalurgia, esta encontrava qualquer forma , é bom frisar que os avan ços tecno-
a í pouca utiliza çã o, e limitava-se a algumas peças e lógicos obedeciam , ao lado dos imperativos da disci-
superf ícies submetidas a grande desgaste. Assim , a plina e da hierarquia no trabalho , às necessidades da
roda dc dentes, que era conhecida há muito tempo , acumulação de capital , eF por isso mesmo , os aper-
e o engatamento das rodas de dentes , em uso h á fei çoamentos adotados nas Antilhas , por exemplo,
v á rios séculos , eram de madeira , o que teria valo - n ão deveriam encontrar, necessariamente, grande
rizado sobremaneira o trabalho de carpintaria , mais correspond ê ncia 1105 engenhos dc açú car no Brasil;
conhecido como carapina da moenda.
“ Nas duas grandes á reas de produçã o aç uca -
“ Na casa da moenda, participamos de um inun - reira da Am é rica , nas Antilhas e no Brasil, a
do da t écnica, ainda em seu esplendor , mas moenda dc três tambores conserva os mesmos
fadado a desaparecer com o desenvolvimento da elementos Fundamentais. Todavia , nas ilhas ,
metalurgia que começ ava a avan çar no século desde o fim dc século XVII , a redução dos três
XVII. Por esse motivo , o carpinteiro , ou melhor , tambores a um tipo ú nico com as mesmas di-
o carapina da moenda , indispensá vel durante mensões, indica a linha dos aperfeiçoamentos
toda a sa í ra, deveria ser um assalariado alta - n ã o adotados no Brasil , ma is condizentes com
mente qualificado. Ali ás , sua remuneraçã o ele- o menor custn dc feitura e facilidade de subs -
vada , de S500 por dia dc trabalho ( cerca de tituição do que , propriamente , de melhoria dc
ÓQÍOOO por safra ) , equivalente à de um feitor * rendimento na produ çã o ’ ( Alice P , Canabrava ,
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0 Nascimento das 1'âkricua 65
64 Edgar Salvador! de Becca
zida , aumento do n ú mero de escravos em virtude das apenas em razã o de ter moenda com roda
necessidades de ampliar a produçã o, o que. prova - d ’água , mas ' por terem todas as partes de
velmente . deve ter provocado tamb é m o parcela - que se compõem e todas as oficinas , perfei -
mento tlas tarefas consideradas qualificadas e das tas , cheias de grande n ú mero de escravos ,
nã o- qualificadas etc . Sem d ú vida , o seu emprego , coin muitos canaviais próprios e outros obri -
onde quer que tenha se dado, representou um mo - gados à moenda: e principalmente por terem a
mento importante para a acumulação capitalista. Às realeza de moerem com á gua, à diferença de
considerações da autora a esse respeito são bastante outros , que moem com cavalos e bois e sã o
interessantes: menos providos e aparelhados: ou , pelo menos,
com menor perfeição e largueza , das oficinas
"O fato de ter penetrado no Brasil com as capi - necessá rias e com pouco n ú mero de escravos ,
tanias . indica o í ndice elevado dos investimen - para fazerem , como dizer , o engenho moente e
tos que a economia a ç ucareira podia capear. Por corrente ( Alice P. Canabrava, pp . óíí- 69}.
IS
época colonial , tais como a dificuldade para tudo , em sua opulê ncia , em seu prest ígio e em sua
dignidade. É um homem de cabedal e governo ’ ,
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mento do caldo. Deste modo, s ão reais n ã o nho deveria ostentar aquelas qualidades que ex -
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Caitabrava , p. 43) ,
Ou ainda , "
A nova indú stria fez a poder crescer a um
grau notável . "
” No conjunto da organiza çã o do trabalho , o de- J . L. e Barbara Hammond ( 191 ó
sempenho do senhor de engenho est á exclusi-
va men te ligado à quelas a ções que d à o cunho
pessoal às rela ções com os lavradores o que ten -
urns pergunta
Agora temos condições de fazer
dem a afirmar o seu prestigio em face deles
ou à defesa do patrim ó nio, o que també m ex - I: crucial: por que uma determinada torr a de expres -
pressava prest í gio e autoridade , pelas articu - ! são do sistema de f á brica —
aquela que se deu a
partir da concentração de trabalhadores despossu í
i
—
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lações com os organismos de c ú pula que se fa-
ziam necessá rias. Dc qualquer forma , em seu s dos e assalariados se tornou vitoriosa ante a quais -
\ quer outras ?
desempenho, o senhor de engenho agia como
N ã o há como deixar de reconhecer que a res -
posta estaria , justamente , no desenvolvimento acele -
representante do poder e do prest í gio de todo
o sistema de produçã o” ( Alice P, Canabrava , processo
p , 63) . rado das bases t écnicas que organizaram o
cie trabalho. Contudo , mais uma vez, enfatizamos
que tais bases técnicas se tornaram importantes mui-
_
to mais em funçã o das necessidades dc disciplina e
controle do trabalho do que pela sua eficácia . Isto
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Edgar Salvador! de Decca O Nascimento das Fábricas 71
71) .
encontrou possibilidades para a sua produ ção. As- reza dessa transformar ã o , já tji-ic boa parle da biblio -
grafia acaba reduzindo o problema à discussões do
sim , no interior do pr ó prio mercado capitalista , a
tecnologia iria aparecer como elemento determinan - lipo: formas arcaicas e pré-capitalistas de produção
te. uma vez que , constitu ído esse mercado, a sua versus produção capitalista. Muito pelo contrá rio o ,
expans ão passou a se dar a partir da produ çã o e do que esteve em jogo nessa transformaçã o n ão foi a
passagem de Lima organiza çã o social do trabalho
consumo crescente de bens de produ ção ( bens de
consumo produtivo). Esse é o momento no qual as -
pré capitalist a para uma organização capitalista do
próprias categorias e instâ ncias do capital aparecem trabalho , mas sim o modo pelo qual no interior da
autonomizadas , e a t écnica, agora apropriada c de- organização social capitalista do trabalho , j á no sé -
senvolvida pelo capital , passa a determinar de potita culo XIX . determinadas formas sc impuseram sobre
a ponla a lógica do pró prio mercado, impondo uma nutras a usina de açú car superou o engenho .
progressiva e crescente divisão social do trabalho. Nessa medida , vale ressaltar que em plena se -
gunda metade do século X Í X , o aparecimento tam -
Por isso mesmo, ao falarmos de tecnologia , tor -
ita -se dif ícil isolá -la num ponto em que torne possí vel
bé m da ind ú stria t ê xtil no Brasil respondeu a exigê n -
avaliá - la sob as noções de eficá cia e produtividade , cias muito precisas de organização social do trabalho
uma vez que, na ló gica mesmo do mercado capitalis- no mundo capitalista, E!a representou , aqui no Bra -
ta , ela cumpre o seu papel determinante naquilo que sil , uma transformação radical na pró pria estrat é gia
se refere à acumulação de capital. Assim , o sistema de de organizaçã o do trabalho levada a cabo pelo man -
fábrica manchesterianot a nosso ver, tornou - se vito- do capitalista, e superou , a panir de suas bases t écni-
cas. todas as outras formas de organização do traba -
rioso porque nele desenvolveram - se as condições
para que a tecnologia pudesse se transformar num lhocuiaobten ç ao do lucro estivesse garantida por me-
canismos menos eficientes de controle c disciplina.
elemento prioritá rio da acumulação capitalista. Mo
â mbito desse mesmo mercado capitalista , portanto, O cortejo tecnológico que acompanhou mun -
uma determinada express ã o do sistema de f á brica , dial men te o sei or manufatureiro , no século X E X ,
inevitavelmente , acabou se impondo sobre outras
exclu ía do mercado capitalista n ã o apenas as peque -
formas de organização social do trabalho , posto que nas iniciativas individuais , como també m , tornando
—
essa expressão manchestoriana respondia de maneira
estrat égica às próprias necessidades da acumula çã o
do capital. Nessa medida , o engenho deu lugar às
imprescind í vel a figura do capitalista
— c a í estava
em jogo o papel do grande capital , organizava o
processo dc trabalho sob a égide de uma disciplina
imposta pelo pr ó prio funcionamento do aparato tec -
usinas de a çú car , para usarmos uma expressão cor -
rente que nem sempre consegue apreender a nalu - nol ógico .
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zaçã o social do trabalho no per íodo colonial '', in Ingla terra . Chamamos a aten ção. particularmente,
para a segunda parte do livro onde Thompson critica
Discurso n ? 8 ( maio de 1978) , Preocupada com o
problema da instituição do trabalho na sociedade minuciosa mente os autores que definiram a classe
burguesa , a autora critica as an á lises h is toriogr á ficas oper á ria, a partir de um marco tecnológico , isto é , a
que estabelecem uma rela çã o de exterioridade entre partir do momento da Revolu çã o Industria ] Inglesa .
a colónia e as metró poles europeias, na suposição dc i Procurando superar uma dada concepção marxista
que sc contrapõem ou se complementam duas tem - que reduzo conceito de classe a Lima mera relaçã o de
poralidades diferentes. Através de uma an á lise teó- produ çã o , o amor nos desvenda o imensamente rico
rica minuciosa das categorias centrais do pensa- universo de cultura da Inglaterra do século XVIII e
mento burgu ês
—a propriedade c o trabalho , a
autora no® remete a uma reflex ã o decisiva, ou seja , a
definição da figura do trabalho e do trabalhador na
nos aponta os in ú meros caminhos percorridos pelo
trabalhador pobre em sua consLituiçã o como classe
social ,
organiza çã o social , econ ó mica e polí tica do mundo A presen ç a da classe trabalhadora na vida coti-
burgu ês . Em seu artigo o trabalho escravo da coló nia diana das grandes cidades europeias do século XTX .
foi recente mente estudada no livro de Maria Stella
ao invés de receber qualificativos que o distanciam
da noção de trabalho produzida pelo pensamento
burguês , aparece como uma das expressões histó-
M . Bresciani
— Londres e Paris no século XIX —
espetáculo dapohreza , Sã o Paulo , Brasiliense , 1982.
A autora nos oferece subsidies para entender a pro
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ricas da efetivaçã o das relações sociais no capita -
jeçã o da figura do trabalhador para alé m dos muros
lismo. As indica ções teó ricas da autora sobre a orga -
niza ção s ú cia! do trabalho na coló nia sã o funda - da f á brica. Esse personagem que circula nas ruas das
grandes cidades coberto com os sinais da misé ria ,
mentais para o estudo do processo de trabalho dos
engenhos de açúcar , que tê m como fundamento a questiona a utopia liberal que acreditava >er o sis-
escraviza çã o do negro africano. tema de f ábrica o ambiente ideal para a solu çã o do
Ainda como referê ncias importantes situamos o problema da pobreza e da moraliza ção do " homem
pobre ” .
livro de E , P, Thompson The Making of ike English
Ao lado do artigo de Maria Sylvia , a primeira
-
working class , Londres , Penguin Books , 1968 e a
parte da rese de A . B , Castro nos dá in ú meras pistas
tese de doutoramento de Antonio Barros de Castro
Escravos e senhores nos engenhos do Brasil , UNi - para o esludo do processo de trabalho no engenho.
CAMP , 1976 [ mimeo.). A obra de E - P. Thompson Analisando em pormenores os relatos de viajantes
j ã tem uma tradu çã o em espanhol e é indispensável dos séculos XVI e XVII , dentre eles Fernando Car-
para o estudo do surgimento do sistema de f ábrica na dim . Magalh ã es Gandavo, André Joã o Antonil , o
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autor nos apresenta também o engenho como uma 1978 e J . L. C Barbara Hammond — The village
labourer, Londres. Longman , 1978. Os dois ú ltimos
organizaçã o social do trabalho pr ó prio do mundo
burgu ês . livros sã o reedições , já que apareceram em p ú blico
Alé m dessas refer ê ncias , sã o igual men te rele - peia primeira vez., em i 917 e 1911 , respeclivamente,
Chamamos , por fim . a aten çã o para uma ques -
vantes para o estudo da forma çã o do sistema de
f á brica inglês, os artigos de Siepbin Magiin " Para
que servem 05 Palr óes ? ( origens e fun ções das ta -
rifas}" de colet â nea organizada por Andr é Gnrz.
— —
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t ã o bibliogr á fica muito importante. Os trabalhos ci-
tados dc L , P. Thompson . Stepbin Ma&Jin, David
Dickson c Paul M â ntoux , s ã o referencias obriga -
Divisão Social do Trabalho e Modo de Produ ção t ó rias para aqueles que pretendem aprofundar os
- —
Capitalista , Lisboa , F scorpiã o , 1976; e 0 32 capí tulo
do livro de David Dickson Tecnologia Alternativa .
estudos sobre as resistê ncias e .as kit as dos iraba -
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