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A ineficiência das plantas rígidas e os edifícios genéricos posto em

debate no contexto pandêmico

Adriane Pacheco1, Bruna Ferian,2 Kaique Ribeiro3

Resumo

O presente artigo tem por objetivo discutir a influência do mercado imobiliário


nos projetos de arquitetura atuais, bem como entender o impacto que tais tipologias
construtivas rígidas em sua materialidade e genéricas em sua forma trazem ao
cotidiano do usuário. A análise desse cotidiano se concentra nas mudanças
causadas pela pandemia do SARS-CoV-2, levantando questões acerca das
necessidades e usos das pessoas em relação ao espaço de suas residências, como
por exemplo a adaptação de ambientes para home-office. Por fim são apresentadas
estratégias e hipóteses sobre como o mercado vai reagir às mudanças,
apresentando exemplos de projetos que de alguma maneira respondem a estas
questões.

Palavras chave: arquitetura e mercado; flexibilidade; mercado imobiliário; edifícios


genéricos; moradia de interesse social; isolamento social;

Abstract

This article aims to discuss the influence of the real estate market on current
architectural projects, as well as to understand the impact that such construction
types that are rigid in their materiality and generic in their form bring to the daily life of
the user. The analysis of this daily life focuses on the changes caused by the SARS-
CoV-2 pandemic, raising questions about the needs and uses of people in relation to
the space of their homes, such as the adaptation of environments for home-office.
Finally, strategies and hypotheses are presented on how the market will react to
changes, presenting examples of projects that somehow answer these questions.

1 Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/04/10/em-isolamento-tomar-


sol-na-janela-viraliza-nas-redes-sociais.htm Acesso em: 20/03/2021
2 Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais
3 Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais
Keywords: architecture and market; flexibility; real estate market; generic buildings;
social interest housing; social isolation;

1 INTRODUÇÃO

Este artigo pretende questionar a padronização das plantas imposta pelas


construtoras, com foco nas habitações verticalizadas e populares, além disso como
a falta de individualidade afeta a vivência dos habitantes. O objetivo é problematizar
as consequências advindas da reprodutibilidade incentivadas pelo mercado
imobiliário e no que concerne às moradias sociais, aos bancos que disponibilizam os
créditos imobiliários. Diante disso, várias questões foram levantadas em relação aos
agentes formadores do mercado, como esses condicionam a racionalização que
pode ser considerada opressora para quem habita tais moradias.
Visto que essa situação já se apresenta problemática, com a pandemia o
desconforto por residir em ambientes tão enrijecidos ficou mais evidente levando
várias pessoas a buscarem novas alternativas para driblar as dificuldades impostas
pela atual situação. Entretanto, tais adaptações para atender tarefas que não foram
previstas no projeto esbarram em plantas rígidas, as quais permitem pouca
apropriação. Sendo assim, a figura do arquiteto é de grande relevância para a
criação de espaços de qualidade, não apenas depois de construídos como nos
casos apresentados, mas desde a concepção projetual.
Para tanto, o estudo baseou-se nos conceitos sobre funcionalidade,
flexibilidade e espaços genéricos. No que diz respeito à funcionalidade, segundo
Hertzberger (2015), são espaços em que a segregação das funções prevalecem
sobre a integração, criando ambientes com rápida obsolescência. Em relação a
flexibilidade, o autor defende que para tal, os edifícios são neutros a fim de servir a
vários usos, porém isso gera a ausência de identidade, ou seja, embora seja
possível adaptá-lo a cada mudança que surja, essa nunca será a melhor e mais
adequada solução. Além desses conceitos, também foi usado como parâmetro o
estudo sobre cidades genéricas de autoria do arquiteto Rem Koolhaas, que será
aprofundado durante o desenvolvimento do presente artigo.

2 DESENVOLVIMENTO
2.1 A INFLUÊNCIA DO MERCADO NAS HABITAÇÕES

A supervalorização do espaço urbano, muito presente nas grandes cidades


contemporâneas, se consolidou inicialmente com a ascensão do método de
produção capitalista. A influência do capital foi capaz de exercer sobre o espaço da
cidade uma nova forma de estabelecer as questões de necessidade e posse, em
que a terra urbana se torna um produto de alto custo e alta competição.
No cenário do século XIX a nova população trabalhadora vinda do campo
necessitava de uma forma de morar barata e próxima dos parques industriais, onde
a produção industrial era realmente efetivada. Inicialmente encontraram nos cortiços
e habitações coletivas uma forma de habitar, sob o preço de altos aluguéis
incompatíveis com os baixos salários. As tipologias de uso e de edificação das
residências visavam uma maximização do aproveitamento do espaço ao concentrar
em um mesmo espaço muitas famílias. Engels (1887) descreve a situação das
habitações:

[...] A expansão das grandes cidades modernas dá um valor


artificial, colossalmente aumentado, ao solo em certas áreas,
particularmente nas de localização central; os edifícios nelas construídos,
em vez de aumentarem esse valor, fazem no antes descer, pois já não
correspondem às condições alteradas; são demolidos e substituídos por
outros. [...]O resultado é que os operários vão sendo empurrados do centro
das cidades para os arredores, que as habitações operárias e as habitações
pequenas em geral se vão tornando raras e caras e muitas vezes é mesmo
impossível encontrá-las, pois nestas condições a indústria da construção, à
qual as habitações mais caras oferecem um campo de especulação muito
melhor, só excepcionalmente construirá habitações operárias

Muitas vezes o industrial exercia o papel duplo de agente do mercado


imobiliário e detentor do meio de produção, uma vez que oferecia habitação
mediante ao pagamento do aluguel ao mesmo tempo em que era o empregador,
provedor do salário. Essa dualidade já não é tão marcada na atualidade, uma vez
que a indústria construtora e imobiliária se consolidou como pólo independente
dentro do sistema capitalista, participando fortemente como agente transformador
do espaço físico das cidades.
O preço do espaço urbano nas regiões desenvolvidas e dotadas de
infraestrutura permanece alto e cada vez mais objeto de competição, condicionando
os projetos de arquitetura a se conformar cada vez mais com programas e partidos
que maximizem a rentabilidade do empreendimento. Essa prática põe em risco as
possibilidades de apropriação do espaço da residência pelo usuário ao propor
métodos construtivos que impossibilitam a realização de grandes intervenções
futuras e diminuição drástica nas áreas das unidades.
A alvenaria estrutural, por exemplo, tem sido largamente utilizada pelas
construtoras por possibilitar um método de construção econômico e rápido, por
demandar uma menor variedade de materiais empregados. O que por um lado pode
gerar uma redução no preço final da unidade, por outro torna a planta praticamente
fixa, sem a possibilidade de alterações nas divisões espaciais por parte do morador.
Essas características podem ser observadas em empreendimentos como os
do programa Minha Casa Minha Vida, lançado em 2009 com o objetivo de fornecer
em larga escala habitações de interesse social. Os responsáveis pelas decisões
relativas às características do projeto são as construtoras, que visando o baixo custo
do conjunto produzem habitações menores, sem prever a possível variabilidade das
famílias instaladas e com técnicas construtivas rígidas que impossibilitam as
transformações posteriores. A imagem 1 traz a planta de um andar tipo sugerido
pelo programa da Caixa, nessa proposta cada unidade conta com 37 m²,
objetivando acomodar uma família de 4 pessoas.

Imagem 1: Planta de andar tipo do Minha Casa Minha vida

Fonte: Cartilha do programa minha casa minha vida (2020)4

O caso das habitações de interesse social é crítico em relação à flexibilidade


4 Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais
e a variabilidade porque os moradores se encontram em uma faixa de renda menor.
No exemplo da tipologia das plantas da imagem 2 a faixa de renda das famílias é
de até três salários mínimos. Entretanto pode-se observar as mesmas
características de rigidez e generalidade em imóveis destinados a outras faixas de
renda, fora dos programas governamentais de habitação.
Os prédios das imagens 2 e 3 encontram-se na mesma rua, na cidade de
Contagem, em Minas Gerais. Os projetistas exploraram os mesmos recursos de
composição das fachadas, posicionamentos de aberturas e até uma mesma escolha
de cores. Os tipos de apartamentos encontrados nesses prédios se enquadram
dentro da tendência observada por Brandão (2002): as tipologias mais frequentes
são de três quartos com uma suíte e dois quartos com uma suíte.
Koolhaas (1995) define a falta de identidade nas cidades como elemento
básico para a formação da cidade genérica. O mercado imobiliário fomenta a
tendência de criação de cidades genéricas com edificações repetitivas ao entregar
sempre as mesmas tipologias de edificações voltadas para um público que não
existe - ou se existe não compõe a mesma generalidade das edificações que cada
vez mais as possibilidades de novos usos e novas formas de apropriação do mais
íntimo dos lugares, o lar.

Figura 2: Edifício de habitação multifamiliar localizado na cidade de Contagem-MG

Fonte: Google street view (2021).5

Figura 3: Edifício de habitação multifamiliar localizado na cidade de Contagem-MG

5 Disponível em: CartilhaCaixa.pdf (ademi.org.br). Acesso em 17/03/2020


Fonte: Google street view (2021).6

2.2 PANDEMIA E A PERCEPÇÃO DO ESPAÇO HABITADO

A pandemia do coronavírus impôs muitas restrições às pessoas, uma delas


foi a mobilidade, visto que uma das medidas para frear o avanço do vírus é o
isolamento social, portanto ficar mais tempo em casa. A permanência nesse
ambiente mudou a percepção que temos do nosso lar, muitas questões surgiram,
principalmente para quem vive em residências com plantas rígidas. Esse novo olhar
despertou também o interesse pela qualidade do espaço no que diz respeito a um
local que deve refletir a personalidade e necessidades dos moradores.
A casa é um dos ambientes mais vivenciados pelas pessoas, pois se trata de
um espaço de intimidade e segurança, as residências podem ser consideradas
como um refúgio do desconhecido, espaço de relaxamento, descanso e
revitalização. Todas essas características são perceptíveis, principalmente, por
quem possui a rotina agitada e só chega em seus lares ao fim do dia, esperando
encontrar um lugar aconchegante que reflita sua identidade.
Outro aspecto peculiar aos lares, diz respeito à rotina, seja pelos horários em
que as tarefas corriqueiras são desempenhadas ou pela apropriação dos cômodos
para a realização de tais atividades. Com isso, percebe-se certa rigidez na
funcionalidade desses ambientes, como cozinha, quarto, sala de jantar e TV, porém
fundamentais para a manutenção desse modo de vida em um cenário de
“normalidade”. Com o isolamento social, as pessoas ficaram condicionadas a
6 Imagens retiradas do Google street view da Rua Roque da silva, 126, Novo Eldorado, Contagem-
MG. Acesso em Março de 2021.
praticar todas as atividades possíveis em suas casas.
A vivência diária do lar, com atividades que não foram previstas para este
lugar, levantou vários questionamentos sobre como nos relacionamos com o espaço
de habitação e a adaptabilidade do mesmo para novas demandas. Sendo assim,
aqueles cômodos que antes exerciam bem suas funcionalidades agora dificultam
outras formas de apropriação, normalmente são flexibilizados, como por exemplo a
mesa de jantar que se transforma em escritório, entretanto essas mudanças podem
gerar transtornos para outros moradores, além de ser desconfortável. A percepção é
que os espaços parecem não darem conta da imprevisibilidade defendida pelo
arquiteto Paulo Mendes da Rocha (2018) “A casa se transforma. No fundo, a
arquitetura somos nós, e uma cidade é feita mais dos comportamentos dos homens
do que das construções. A arquitetura ampara essa imprevisibilidade da vida.” e o
que se nota é a dificuldade da arquitetura abarcar essa mudança do comportamento
humano.
Diante do exposto, fica evidente a urgência de repensarmos como os espaços
são concebidos, principalmente as construções genéricas, visto que muitas dessas
construções possuem sistema estrutural que impossibilita grandes mudanças. É
preciso pensar em ambientes polivalentes, que possuam a forma útil para diversos
usos sem a necessidade de grandes mudanças e que seja possível de ser realizada
pelo usuário, diferente do espaço flexível que é o conjunto de todas as soluções
inadequadas para um problema (HERTZBERGER, 2015).
Outro ponto que chama a atenção, é a qualidade ambiental das residências
em relação à iluminação, ventilação e espaço que permitam o contato com a
natureza, como jardins, quintais ou até mesmo uma sacada. Possuir uma casa ou
apartamento com esses atributos se tornou privilégio potencializado pela pandemia,
e um meio muito importante para aliviar a ansiedade, estresse e proporcionar
qualidade de vida. Com isso, várias imagens de indivíduos buscando uma forma de
se adaptar ao momento, repercutiram pela Internet, como por exemplo moradores
de um prédio tomando sol na janela (Imagem 4).

Imagem 4: Moradores de apartamento tomando sol


Fonte: Daniella Xavier (2020)7.

Essa questão sobre o conforto ambiental está relacionada diretamente à


capacidade das pessoas conseguirem manter o isolamento social, de acordo com a
pesquisa realizada pelo Departamento de Ambiente, Saúde e Segurança do Instituto
Federal de Pernambuco. Esse estudo aponta que possuir área verde em casa
aumenta em 0,923 pontos percentuais a probabilidade de uma pessoa manter o
isolamento total em relação a quem não possui esse espaço. Outros fatores citados
que corroboram para alguém se manter em casa são espaços de convivência,
temperaturas internas, riscos de acidentes domésticos, qualidade da água,
qualidade do ar, ruído e acessibilidade (SILVA et al., 2020). Possuir espaço para
práticas de atividade física também se mostraram importantes.
Posto isto, fica claro que as habitações, ditas genéricas, não estão atendendo
as atividades extras impostas pela pandemia nem as demandas básicas para a
manutenção da saúde física e mental humana. Outro fator que deve ser observado é
7 Imagens retiradas do Google street view da Rua Roque da silva, 159, Novo Eldorado, Contagem-
MG. Acesso em Março de 2021.
se essas moradias suprem questões referentes à salubridade, pois para diminuir a
chance de contágio pelo coronavírus e também outras doenças é necessário que as
moradias tenham no mínimo ventilação e iluminação adequados, por exemplo.

2.2.1 Reformas sem responsável técnico

Diante da nova forma de se relacionar com as habitações impostas pela atual


situação de pandemia, muitos questionamentos em relação a esse lugar surgiram,
posto que antes eram pouco percebidos devido ao curto tempo de permanência no
espaço. Como desdobramento, muitas pessoas começaram a buscar formas de
tornar o lar mais acolhedor e adaptado para as novas atividades, entretanto muitas
reformas são dificultadas pela impossibilidade de ampliação ou escassez de
recursos financeiros.
A fim de realizar a reforma e promover as mudanças desejadas, muitas
pessoas optam por fazer o serviço sem orientação técnica, que dependendo do grau
de dificuldade pode ser realizada pelos próprios moradores, como pintar paredes e
mudar móveis de lugar. Além disso, a decoração dos ambientes passou a ser mais
explorada pelos usuários, como evidencia a Associação Brasileira de Comércio
Eletrônico (ABComm), que registrou um aumento de 23,61% no número de vendas
online de móveis e itens de decoração no período entre 1º de março e 30 de abril de
2020.
Nesse sentido, o aumento de reformas maiores também foi identificado, tendo
um crescimento de 37,5% no número de vendas de material de construção de março
a novembro de 2020, como aponta o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA).
Embora a procura por arquitetos em 2020 também tenha aumentado em 112% em
relação a 2019, segundo pesquisa realizada pelo aplicativo de serviços GetNinjas, a
reforma autogerida é uma realidade muito presente no país, mais de 80% dos
brasileiros realizam obras sem arquiteto ou engenheiro (CAU-BR, 2015) .
A realização dessas reformas sem auxílio técnico podem causar vários
problemas, dentre eles: segurança pessoal, riscos de comprometer a estrutura
existente, causar danos que podem gerar prejuízos e a dificuldade de criar espaços
de qualidade. Contudo, existe o desconhecimento da profissão, nesse sentido, surge
o questionamento de qual deve ser o papel do arquiteto nessas situações. Lefebvre
(1976, p. 88 apud BALTAZAR e KAPP, p. 02) explicita que ser arquiteto é resolver
questões derivadas pelo momento vivido:
“Por séculos a tarefa dos arquitetos foi proteger um espaço contra a
natureza, tornando-o abstrato, isolando-o atrás de muros e
preenchendo o vazio com símbolos religiosos e políticos, com
artifícios correspondentes à ordem estabelecida. Hoje, sua tarefa
deveria ser produzir um espaço protegendo-o do poder e tornando-o
propício a relações livres de constrangimentos.”

Desta forma, o trabalho do arquiteto fica limitado em construções com


sistemas tão rígidos, mas ainda sim muito importante para adequações possíveis.
Entretanto, essa não deve ser uma resolução baseada apenas em seus
conhecimentos técnicos. Segundo Baltazar e Kapp (2006), o arquiteto não deve
fazer o projeto resolvendo as questões que foram apresentadas pelos moradores de
forma unilateral, mas sim com a participação dos usuários, os quais assumem
parcialmente o poder de decisão do planejador.
Desse modo, se torna mais urgente criar alternativas de mostrar à população
os benefícios de contratar um profissional da área. Além disso, é sabido que muitas
famílias não possuem condições financeiras para contratar tal agente, sendo assim
se faz necessário a criação de meios para tal, como por exemplo programas por
intermédio dos órgão reguladores em que profissionais oferecem seu serviço a
essas pessoas, sem a desvalorização da categoria.

2.2.2 Experiências pessoais

Os parágrafos a seguir são relatos do ponto de vista dos autores em relação


ao tipo de conexão estabelecida entre o lar e o indivíduo durante o período de
quarentena causado pela epidemia de SARS-CoV-2. Cada uma das visões é
baseada em experiências vividas em tipos de casas diferentes, enquanto uma vive
em um imóvel em área rural de uma cidade do interior, outra vive em um
apartamento na região metropolitana de Belo Horizonte e outro vive em uma casa
também na grande BH.
A experiência de passar 24h por dia, 7 dias da semana em um apartamento
tipo de planta rígida é desafiador. O que mais faz falta é uma área descoberta que
possibilite o contato com a terra, mas a dificuldade de adaptar a casa para as novas
demandas também é problemático. Após um ano em isolamento, já nos adaptamos,
mas no início foram muitas mudanças até encontrar uma forma mais adequada,
como estudar na mesa de jantar, mudar para o quarto e ir para sala, até que por fim,
após algumas alterações no layout, transformar um quarto em “escritório” . Existe a
dificuldade de adaptar um cômodo de descanso para área de trabalho, dado que
torna o ambiente cansativo, como estudar onde costumamos assistir um filme muda
a percepção do ambiente que antes era uma lugar aconchegante passa a ser
cansativo.
Mesmo após essas adaptações, a todo momento percebemos algo que
queríamos melhorar em nossa residência, como algumas ampliações, que
infelizmente não são viáveis, mas também a mudança das cores e alguns móveis,
bem como a alteração do layout. E ainda assim, existe a vontade de mudar para um
apartamento maior ou uma casa que garanta maior dinamicidade do ambiente.

A experiência de confinamento mostra-se como um desafio na grande maioria


das habitações. Em um contexto de habitação no meio rural, o espaço natural do
entorno e o grande espaço aberto é com certeza um facilitador para diminuir a
sensação de enclausuramento. Além da liberdade para caminhadas sem medo de
contato com outras pessoas e disseminação do vírus, é possível desenvolver
atividades como plantio e ter contato com animais.
Entretanto, essa realidade não é isolada do contexto de home office então
muitas vezes é necessário passar muitas horas em um só cômodo para trabalho e
estudo, portanto, as qualidades ambientais da edificação são muito importantes,
tornando-se incômodos elementos como a iluminação artificial pouco efetiva e a
iluminação natural pouco aproveitada. Como supracitado a vontade de alterações na
moradia, que surgiu em muitos indivíduos, também foram recorrentes nesse caso, e
como muitas das habitações atuais, demolições são dificultadas pelo sistema
estrutural. Porém, no meu caso, muitos projetos de reforma foram idealizados e já
existem planos da contratação de um arquiteto para realizá-las. Essa possibilidade
de alteração e até ampliação é facilitada por ser um imovel próprio e não alugado
com muito espaço livre no entorno.
Morar na região metropolitana de Belo Horizonte sempre trouxe uma
experiência de estar muito longe para estar perto e ao mesmo tempo muito perto
para estar longe. O isolamento social trouxe um contraste imenso entre uma rotina
que envolvia sair de casa cedo, enfrentar o transporte público de uma das maiores
metrópoles do país, fazer uma boa caminhada para então chegar na faculdade e
outra que envolve o autocontrole e a responsabilidade de estudar, assistir aula e
cumprir com as obrigações acadêmicas no mesmo ambiente do descanso, do ócio.
Essa maior permanência e as novas atividades em um mesmo lugar
permitiram o surgimento de novos olhares sobre o espaço: “e se eu mudar essa
mesa de lugar, será que a imagem melhora na vídeo chamada”, “essa parede ficaria
muito melhor pintada de cinza”, ou “porque eu não abro essa janela?”. Morar em
uma casa com um certo espaço de quintal também tem certa importância no
momento de distanciamento social. Sem poder sair para uma praça, para um
parque, os poucos metros quadrados de gramado serviram de espaço para tomar
sol, talvez fazer um lanche ao ar livre?

2.3 O FUTURO DO MERCADO IMOBILIÁRIO

Como supracitado, a produção de edifícios para o mercado imobiliário afeta


diretamente o projeto arquitetônico, já que quando inserida no processo de
acumulação de capital, as demandas para o projeto arquitetônico deixam de ter foco
nas reais necessidades do habitante e passam a voltar-se para atrativos que
garantam a venda da arquitetura como produto. Para tanto, estratégias de
marketing são utilizadas a fim de criar um desejo que se transformará em demandas
para o consumidor, através da divulgação de características que relacionam a
edificação ao ganho de status, tecnologia e segurança, sobressaindo as qualidades
da edificação (VARGAS,1997). Dessa forma, a determinação formal e venda de um
estilo arquitetônico recebe maior importância que as necessidades dos habitantes,
indo na contramão da metodologia defendida por Koolhaas de priorização do
processo de projeto sobre a forma (MARTINS, 2015).
De acordo com o Professor e Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade de São Paulo, Nuno Fonseca (2004), o produto imobiliário depende do
cálculo da lucratividade pela fórmula: “taxa de retorno = lucro líquido / capital
empregado x tempo”, ou seja, busca-se o aumento do lucro a partir redução do
tempo e do capital empregado. Ele completa afirmando que o mercado imobiliário
encontra dificuldades para a produção em massa , o que eleva o valor da
mercadoria, devido ao maior tempo de construção. Diante disso, busca-se outras
maneiras para alcançar maiores lucros, como a utilização de todo o potencial
construtivo do terreno - o mínimo aceitável pelos investidores -, possibilitando maior
facilidade de venda, e a racionalização dos processos construtivos
(FONSECA,2004). O professor ressalta que muitas construtoras utilizam da
racionalização dos processos construtivos para padronizá-los. Entretanto, embora
ocorra a diminuição do tempo de produção, esse processo contribui para rigidez dos
projetos e para a diminuição do controle de decisões que os escritórios de
arquitetura podem deter sobre os trabalhos: “Esses exemplos mostram o nível de
controle das construtoras sobre a definição de tecnologias e procedimentos de obra,
que acabam por conformar o projeto de arquitetura em algum nível”
(FONSECA,2004).
Dessa forma, como aponta Lefebvre (KAMINER, 2013, p.55, apud. MARTINS,
2015, p. 07) a arquitetura deixa nítida as condições sociais de um período,
mostrando um alinhamento à ideologia dominante, à economia política e à
sociedade. Nesse sentido, Simone Villa (2006) destaca que em 1930, por exemplo,
o modernismo mostrava-se fortemente vinculado a um contexto social de
valorização do progresso e avanço técnico, alinhado à crescente demanda de
habitações, fruto da metropolização. No período, o aluguel de moradias ganhou
força junto ao aumento do número de edifícios verticalizados de apartamentos,
marcando a maneira de morar da classe média. A autora ainda destaca que essas
edificações tinham como característica a racionalização dos espaços, os quais
geralmente eram destinados para a classe média, e possuíam grande setorização e
compartimentação, não explorando aspectos do Modernismo como a planta livre e a
sobreposição de funções em espaços mínimos. Segundo Villa (2006), a muitos anos
a produção de edificações é dominada pela especulação imobiliária e grande parte
dos edifícios atuais ainda conta com espaços internos semelhantes aos do século
passado. Entretanto, com as modificações da sociedade ao longo dos anos torna-se
essencial a adequação dos espaços aos novos modos de vida dos moradores e às
suas reais necessidades.
Diante do exposto é evidente que as alterações no modo de vida,
ocasionadas pela pandemia, terão algum efeito sobre o mercado imobiliário. Posto
que a maior meta deste é a acumulação de capital, se a qualidade do projeto
arquitetônico e o atendimento às novas necessidades for um requisito para
incorporação de valor, estes serão objetivos a serem buscados. Então, torna-se
claro que, apesar da pesquisa de oferta das construtoras, muitas vezes, não se
relacionar às necessidades do usuário, as relações sócio-econômicas podem
condicionar o produto arquitetônico, a partir do momento que ocorre o aumento da
procura por edificações mais flexíveis.
A tendência de procura por moradias que melhor se adequem ao momento
atual já está pulsante. De acordo com uma matéria do Jornal Nacional de agosto de
2020, a busca por imóveis com quatro quartos aumentou consideravelmente.
Segundo a reportagem, isso pode estar relacionado à adesão ao home office, de
acordo com alguns entrevistados, já que o apartamento que era geralmente
destinado para dormir passa a ser onde o indivíduo permanece o dia inteiro.
Portanto, começa a haver a demanda para a residência atender outros aspectos
como lazer, educação e trabalho. Se antes a localização da edificação, próxima a
centralidades comerciais, era um diferencial para agregar valor, as qualidades
espaciais passaram a ser priorizadas nas compras. Nesse sentido matéria expõe
uma grande alteração na busca de imóveis, predominando aqueles que são maiores
e podem agregar as novas necessidades:
“Uma plataforma digital que negocia imóveis em 30 cidades das maiores
regiões metropolitanas do Brasil percebeu essa mudança. O número de
pessoas em busca por imóveis com quatro quartos aumentou 58%; por três
quartos, 9%. Já a procura pelos menores diminuiu. Para os de dois quartos
caiu 22%, e para um quarto, despencou 37%. “ (PORTAL G1, 2020)

O exemplo anterior mostra, ao mesmo tempo, o surgimento de uma nova


demanda e a ausência de flexibilidade das residências em se adequar a ela,criando
a necessidade de troca de imóveis. Embora o tema ainda não seja tão recorrente
entre as grandes construtoras, alguns escritórios de arquitetura já demonstram
atenção a essa nova realidade e à necessidade de flexibilização.O escritório
paulistano Hiperstudio, é um exemplo de empresa que vem debatendo sobre novas
propostas de edificações nas cidades. De acordo com Romullo Baratto (2020), os
arquitetos Matheus Marques, Ricardo Goncalves, Luis Favilla e Rolando Figueiredo,
buscam trazer uma ideia para o pós-pandemia, que parte da conversão edifícios
comerciais monofuncionais em conjuntos de uso misto, a partir da incorporação de
unidades residenciais e espaços de uso público.
O projeto consiste da articulação de andares residenciais e de escritório, de
forma que o apartamento e o local de trabalho irão se conectar verticalmente, de
forma que essa separação espacial ao mesmo tempo que mantenha o contato com
a moradia diminui as interferências dessa no ambiente de trabalho:
“[...] criamos um sistema de encaixe de diferentes tipos de apartamento que
se conectam verticalmente a pelo menos um módulo de escritório. Desse
modo, os moradores garantem um espaço de trabalho adequado, livre das
interferências domésticas mas com ligação direta ao lar. Em contrapartida,
os escritórios podem permanecer funcionando com acesso independente
em seus pavimentos exclusivos, mantendo uma atmosfera adequada às
relações profissionais com os clientes e equipe externa" ( HIPERSTUDIO,
apud. BARATTO, 2020)

Imagem 5: Isométrica com proposta para as unidades. 8

fonte: Site ArchDaily. Acesso em

Imagem 6: Isométrica com possibilidades de modulação.9

8 Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/942646/hiperstudio-propoe-transformar-edificios-


comerciais-em-conjuntos-de-uso-misto-apos-pandemia Acesso em: 21/03/2021
9 Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/942646/hiperstudio-propoe-transformar-edificios-
comerciais-em-conjuntos-de-uso-misto-apos-pandemia Acesso em: 21/03/2021
fonte: Site ArchDaily

Imagem 7: Isométrica com detalhamento dos módulos.10

10 Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/942646/hiperstudio-propoe-transformar-edificios-


comerciais-em-conjuntos-de-uso-misto-apos-pandemia Acesso em: 21/03/2021
fonte: Site ArchDaily

Além disso, o prédio possuirá uma cobertura destinada ao convívio público e


lazer, além de garantir o contato com a vegetação. Alguns vazios produzidos pelos
módulos (Imagem 6) poderiam ser utilizados como pequenos espaços de
convivência.
Outro ponto importante é que a divisão vertical dos módulos, proposta pelo
Hiperstudio, é vantajosa por permitir a diversificação de usos do espaço, já que cada
pavimento pode ser utilizado para uma atividade, ou subdividido em várias. Mostra-
se, portanto, como uma nova forma de implantação que facilitaria o dia-a-dia de
indivíduos que buscam a diversificação do uso da moradia. Além disso, a variação
do formato permite que o habitante escolha o módulo que mais se adeque à sua
realidade. Apesar de não determinar a utilização das divisões dos módulos, não
foram encontradas informações sobre a existência de possibilidade de ampliação
desses módulos, entretanto, como seriam adaptações em edifícios comerciais já
existentes, pode-se concluir que grandes alterações no ambiente seriam inviáveis
devido ao caráter mais restritivo do próprio sistema estrutural de grande parte dos
edifícios comerciais tradicionais.
A proposta do escritório Hiperstudio mostra a adaptação da arquitetura a um
novo contexto social, econômico e cultural e, portanto, retoma a ideia de Koolhaas
de que é necessário ter fé na arquitetura como veículo de mudança, fortalecendo-a,
pois a falta de fé a deixaria enfraquecer longe da renovação (MARTINS, 2015, p.
08).
É importante ressaltar que embora os exemplos anteriores considerem a
adequação do mercado às novas demandas dos consumidores, uma parcela
significativa da população não se enquadra entre aqueles que poderiam optar pela
troca de apartamento ou que compõem o mercado consumidor mais buscado pelas
construtoras. A população de baixa renda, além de ser a mais atingida pelas
consequências da pandemia, também por uma questão habitacional, não tem voz no
mercado e as alterações de suas necessidades não são ouvidas.
No primeiro caso, as casas muito pequenas para abrigar famílias, na grande
maioria das vezes, composta por mais de duas pessoas inviabiliza o isolamento,
dificultando a não contaminação de todos os integrantes do núcleo familiar no caso
de um indivíduo ser contaminado. Em segundo lugar, as questões apresentadas de
necessidade de adequação às atividades de trabalho e lazer na habitação já eram
comuns dentro dessa classe social antes mesmo do cenário epidêmico.
De acordo com Caio Amore, Lúcia Shimbo e Maria Beatriz Rufino (2015,
p.188-190) , no caso das moradias do programa Minha Casa Minha Vida, por
exemplo, algumas famílias têm a necessidade de desenvolver o trabalho
remunerado dentro das suas residências, seja para complementar a renda ou para
“aliar atividades de reprodução com as de produção". Entretanto, como exposto no
primeiro capítulo, o único arranjo interno não engloba a diversidade de tipos de
família e de necessidades, além dos apartamentos possuírem pouca flexibilidade
para alterações nas habitações. Os autores destacam que 65% das famílias
estudadas não adequam-se à conformação de dois quartos estabelecida pelo
programa e acrescenta:
“[...] projeto fechado, fortemente vinculado ao sistema construtivo,
inviabiliza-se a expansão da unidade ou o acréscimo de novo cômodo em
função da implantação de edifícios multifamiliares justapostos, geminados,
bastante adensados, inclusive comprometendo a privacidade das famílias
beneficiadas.” (AMORE;SHIMBO; RUFINO, 2015, p. 160)

A partir da consciência dessas incompatibilidades e como estratégia de


aquecimento do mercado, em 2009 é criado o Minha Casa Minha Vida “Entidades”,
baseando-se em políticas habitacionais autogestionárias e envolvendo movimentos
de luta por moradia e reforma urbana (CAMARGO, 2016). O projeto é voltado para
famílias com renda até R$ 1600,00 e baseia-se, em discurso, da relação entre
entidades sociais - ligadas diretamente aos projetos- que teriam a responsabilidade
de contato com os futuros moradores, discutindo suas necessidades, e também pela
pela construção, seja através da contratação de construtoras ou compra de materiais
e mão-de-obra para empreitadas (CAMARGO, 2016).
Camila de Camargo (2016, p. 234-236) ressalta que houveram alguns
problemas na atuação do programa, como por exemplo os níveis distintos de
engajamento das entidades e assessoria técnica. Em alguns casos analisados pela
autora, o profissional técnico contratado mostrou-se muito integrado à entidade
social responsável, porém em outros, como no conjunto Sonho Meu, a assessoria
técnica não tinha mediação política ou ideológica com a entidade, os projetos
técnicos foram desenvolvidos sem o contato com os futuros moradores e os
profissionais só apareciam semanalmente para a visita técnica. Além disso, o
programa foi marcado por casos de priorização de famílias por indicação de caráter
privado (CAMARGO, 2016, p. 234-236). Outra questão recorrente relaciona-se à
inserção mercadista que mostra-se presente de diversas formas, por exemplo, em
casos de associações civis que mudaram seu campo de atuação e passaram a se
voltar para a construção civil, como o caso da AMOVA, trazido por Camargo :
“[...] ao longo do tempo e, principalmente, das transformações políticas,
econômicas e sociais provocadas pelo neoliberalismo, foi se adaptando e se
profissionalizando até tornar-se, não sem antes passar pelos difusos
programas de capacitação e geração de renda, uma “máquina de produzir
moradia”.” (CAMARGO, 2016, p.234)

Diante disso, a iniciativa do Minha Casa Minha Vida “Entidades” possui um


potencial para melhoria da adequação às necessidades dos moradores, devido ao
processo de autogestão, entretanto, como supracitado, o processo possui algumas
falhas relevantes que precisam ser corrigidas para uma efetiva melhoria na
qualidade das edificações, com destaque ao necessário engajamento da assessoria
técnica e dos beneficiários.
A priorização da qualidade de vida da população de baixa renda mostra-se
novamente minorizada e é improvável que as alterações do mercado imobiliário
venham a atendê-los. Entretanto, existem alguns projetos de habitação de interesse
social que permitem a flexibilização e mostram-se como uma alternativa nesse
contexto, como o caso dos famosos projetos do escritório chileno Elemental, do
ganhador do Prêmio Pritzker em 2016, Alejandro Aravena que alinha a
autoconstrução , com a boa qualidade e baixo custo.
De acordo com a matéria do Site ArchDaily, que coletou depoimentos do
escritório em questão, no projeto de Quinta Monroy, por exemplo, deveria ser
projetado dentro de um programa específico do Ministério da Habitação comum
subsídios de US$ 7500 por família, para despesas como compra de terreno, trabalho
de infraestrutura e arquitetura. O projeto priorizou a construção de edificações que
fossem permeáveis, para possibilitar o crescimento desta dentro da estrutura, como
resultado tem-se edificações muito diversas internamente.

Imagem 8: Diversidade de fachadas após as modificações realizadas pelos


moradores.
11

Foto: Cristobal Palma (apud. Site ArchDaily)

Imagem 9: Diversificação interna das habitações.12

Foto: Cristobal Palma (apud. Site ArchDaily)

Imagem 10: Diversificação interna das habitações.13

11 Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-28605/quinta-monroy-elemental?


ad_medium=office_landing&ad_name=article Acesso em: 21/03/2021
12 Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-28605/quinta-monroy-elemental?
ad_medium=office_landing&ad_name=article Acesso em: 21/03/2021
13 Idem
Foto: Cristobal Palma (apud. Site ArchDaily)

Imagem 11: Diversificação interna das habitações.14

Foto: Cristobal Palma (apud. Site ArchDaily)

Nesse sentido, apesar do cenário mercado imobiliário,como supracitado, não


demonstrar nenhum interesse pelas classes de baixa renda existe a esperança de que o
país adeque seus programas de habitação de interesse social para garantir a maior
integração com as famílias beneficiárias e suas necessidades reais, cujas realidades
tornaram-se ainda mais difíceis com o cenário pandêmico.

14 Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-28605/quinta-monroy-elemental?


ad_medium=office_landing&ad_name=article Acesso em: 21/03/2021
3 CONCLUSÃO

Diante do exposto fica claro que a pandemia da Covid-19 foi capaz de


evidenciar problemas de qualidade de vida e falta de flexibilidade nas habitações. A
moradia que deveria ser um local de conforto e bem estar passa a ser enclausurante
e incapaz de atender às necessidades de lazer, trabalho e estudo. Os indivíduos
passam a perceber a necessidade da qualidade das habitações, de uma iluminação
que se adeque às suas tarefas, de algum contato com a natureza e de conseguir
modificar seu lar da mesma forma que sua realidade está modificada.
As diversas demandas que envolvem a rotina dos indivíduos precisaram
ocorrer em casa, mas como se o modelo construtivo predominante é rígido?
Questões recorrentes no dia a dia de indivíduos de classe social baixa - fruto da
inadequação já existente das moradias populares ao seu modo de vida -, como a
dificuldade de alinhar o trabalho em uma moradia pouco adaptável, foi
experienciada, em parte e de maneira bem mais confortável, pela classe média que
passa a ter que se adequar ao home office. Entretanto, nos moldes capitalistas a
realidade pode ser alterada de acordo com as mudanças de demanda. O
reconhecimento da necessidade de moradias mais adequadas com as necessidades
do dia-a-dia, pelas classes mais abastadas, tende, então, a surtir efeito no mercado
imobiliário que visa antes de tudo o lucro. Enquanto isso, a população de baixa
renda segue convivendo com moradias que não atendem à sua realidade e limitam
quaisquer modificações.

4 BIBLIOGRAFIA

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