Você está na página 1de 266

GUIA TÉCNICO

Restauração ecológica com


Sistemas Agroflorestais
Como conciliar conservação com produção
Opções para Cerrado e Caatinga
Andrew Miccolis
Fabiana Mongeli Peneireiro
Henrique Rodrigues Marques
Daniel Luis Mascia Vieira
Marcelo Francia Arco-Verde
Maurício Rigon Hoffmann
Tatiana Rehder
Abilio Vinicius Barbosa Pereira
Andrew Miccolis
Fabiana Mongeli Peneireiro
Henrique Rodrigues Marques
Daniel Luis Mascia Vieira
Marcelo Francia Arco-Verde
Maurício Rigon Hoffmann
Tatiana Rehder
Abilio Vinicius Barbosa Pereira

GUIA TÉCNICO

Restauração ecológica com


Sistemas Agroflorestais
Como conciliar conservação com produção
Opções para Cerrado e Caatinga

ICRAF
BRASILIA
2016
Realização

Parceria

FINANCIAMENTO

Restauração Ecológica com Sistemas Agroflorestais: como conciliar conservação com produção. Opções para Cerrado e
Caatinga / Andrew Miccolis ... [et al.]. Brasília: Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN/Centro Internacional de
Pesquisa Agorflorestal – ICRAF, 2016.
266 p.: il.: color. 26,5 cm x 18,5 cm.
ISBN: 978-85-63288-18-9

1. Sistemas Agroflorestais. 2. Restauração Ecológica. 3. Cerrado. 4. Caatinga. 5. Código Florestal. 6.Agricultura Familiar.
I. Miccolis, Andrew. II. Peneireiro, Fabiana Mongeli. III. Marques, Henrique Rodrigues. IV. Vieira, Daniel Luis Mascia. V. Arco-
Verde, Marcelo Francia. VI. Hoffmann, Maurício Rigon. VII. Rehder, Tatiana. VIII. Pereira, Abilio Vinicius Barbosa. IX. Título.

Esta publicação é resultado de uma parceria entre IUCN e ICRAF financiada pelo Projeto KNOWFOR (“Melhorando como o
conhecimento sobre florestas é compreendido e utilizado internacionalmente”) por meio de uma doação concedida ao
IUCN. KNOWFOR é financiado pela UK Aid do Governo do Reino Unido. A realização da publicação foi coordenada pelo ICRAF
Brasil em parceria com a Embrapa, o Instituto Sociedade População e Natureza – ISPN, no âmbito do Programa de Pequenos
Projetos Eco-sociais – PPP ECOS/GEF/PNUD e a União Internacional para a Conservação da Natureza – UICN. Este projeto
conta, ainda, com apoio dos doadores do Programa de Florestas Árvores e Agroflorestas [Forests Trees and Agroforestry] –
FTA do CGIAR –http://www.cgiar.org/who-we-are/cgiar-fund/fund-donors-2/.

As opiniões expressas nessa publicação são exclusivamente dos autores e não refletem necessariamente a visão do ICRAF
nem tampouco a das outras instituições parceiras e apoiadoras.
resumo

Este livro tem como principal objetivo orientar a adoção de sistemas


agroflorestais (SAFs) na restauração e recuperação de áreas alteradas
e degradadas por meio de estratégias que conciliem a conservação
com benefícios sociais. Sua construção foi fruto de um processo
participativo e de pesquisa envolvendo técnicos, agricultores, pes-
quisadores, formuladores de políticas e praticantes nos temas da
restauração e SAFs. Primeiro, foram analisadas as normas que regem
o uso de SAFs em áreas de proteção ambiental (Áreas de Preservação Per-
manente – APPs e Reservas Legais – RLs) a fim de esclarecer, para técnicos,
agricultores e formuladores de políticas, suas implicações práticas no campo.
Uma ampla revisão da literatura analisou a viabilidade de SAFs e sistemas mais
adequados para cumprir com os objetivos ecológicos e sociais da restauração.
Em maio de 2015, no seminário participativo “Conservação com Agroflorestas:
caminhos para restauração na agricultura familiar”, 70 participantes elaboraram
princípios e critérios para conciliar conservação com produção e sistematizaram
19 experiências de SAFs a fim de extrair lições para replicação de boas práticas.
Foram visitadas 16 famílias de agricultores inovadores, que trouxeram exemplos
de sistemas e práticas de manejo promissores, e realizadas consultas a especia-
listas. Com base neste conjunto de subsídios, propomos recomendações para
superar os desafios dos SAFs e regulamentar a implementação do novo código
florestal, bem como metodologia de diagnóstico socioambiental e planejamento
de SAFs moldados às aspirações e condições da família e do ambiente que ela
ocupa. Para alguns dos contextos mais comuns, como pastagens degradadas a
áreas de vegetação nativa em regeneração, apresentamos 11 opções agroflores-
tais que podem ser adaptadas de acordo com as especificidades da proprieda-
de. Dentre as espécies recomendadas para estas opções, 19 espécies-chave para
recuperação de áreas degradadas são descritas detalhadamente e 130 espécies
consideradas importantes para restauração com SAFs compõem uma tabela geral
de atributos funcionais. Por fim, apresentamos orientações técnicas sobre as normas
que regem APPs e RLs, destacando obrigações de conservação e recuperação e o
papel de SAFs nestes contextos. Embora este livro seja focado nos biomas Cerrado
e Caatinga, a metodologia de diagnóstico socioambiental, os princípios e critérios
para seleção de espécies e desenho de sistemas, assim como as técnicas de im-
plantação e manejo, podem ser aplicados em outras regiões.

5
Restauração ecológica com Sistemas Agroflorestais
Como conciliar conservação com produção – Opções para Cerrado e Caatinga

Autores
Andrew Miccolis – ICRAF – Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal
Fabiana Mongeli Peneireiro – Mutirão Agroflorestal
Henrique Rodrigues Marques – ISSA– Instituto Salvia de Soluções Socioambientais
Daniel Mascia Vieira – Embrapa Cenargen – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Recursos Genéticos e Biotecnologia
Marcelo Francia Arco-Verde – Embrapa Florestas – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Maurício Rigon Hoffmann – Inkóra Florestal
Tatiana Rehder – ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
Abilio Vinicius Barbosa Pereira – WWF Brasil

COORDENAÇÃO GERAL
Andrew Miccolis

Revisores
Alexandre Bonesso Sampaio – Centro para Estudo e Conservação do Cerrado e Caatinga/Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade – CECAT/ICMBIO
Clarissa Aguiar – Serviço Florestal Brasileiro – SFB
Eduardo Malta Campos Filho – Instituto Socioambiental – ISA
Graciema Rangel Pinagé – Serviço Florestal Brasileiro – SFB
Isabel Benedetti Figueiredo – Instituto Sociedade População e Natureza – ISPN
Janaina de Almeida Rocha – Serviço Florestal Brasileiro – SFB
José Felipe Ribeiro – Embrapa Cerrados– Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Lidiane Moretto – Serviço Florestal Brasileiro – SFB
Patrícia Pereira Vaz da Silva – Mutirão Agroflorestal
Rebecca de Araujo Fiore – Serviço Florestal Brasileiro – SFB
Rubens Benini – Instituto de Conservação Ambiental The Nature Conservancy do Brasil – TNC Brasil
Rubens Ramos Mendonça – Serviço Florestal Brasileiro – SFB

Agricultores e técnicos visitados:


Iara e Erivaldo – Comunidade Serra dos Campos Novos – Uauá – BA
Francisco Antônio de Sousa (Técnico/agricultor) – Viçosa do Ceará – CE
Nelson Mandela (Técnico), José da Silva Reis, Cleber de Jesus Brito e Elton Simões da Silva – EFASE. Lagoa do Pimentel e Lagoa
da Capivara – Monte Santo – BA
Leôncio de Andrade – Comunidade Lagoa do Saco – Monte Santo – BA
Antônio Braga Mota e Bueno do Missi – Irauçuba – CE
Ernaldo Espedito de Sá e Maria Marleide de Souza – Comunidade Letreiro – Distrito de Juá dos Vieiras – Tianguá – CE
Moacir Santos (Técnico)– IRPAA – Juazeiro – BA
Gilberto dos Santos – Comunidade Pau ferro – Curaçá – BA
Antônio José Sousa de Moraes – Distrito de Juá dos Vieiras – Viçosa do Ceará – CE
Alberto Cardoso dos Santos – Comunidade Salgado – Monte Santo – BA
Juã Pereira – Sítio Semente – DF
Marcelino Barberato – Sítio Gerânium – DF
Ginercina de Oliveira Silva – AMERA – Barro Alto – GO

Assistentes de pesquisa para sistematização de experiências:


Artur de Paula Sousa, Carolina Guyot, Ana Elena Muler

design gráfico
Capa e Projeto Gráfico: Wagner Soares
Diagramação: Guilherme Werner, Wagner Soares e Wagner Ulisses

Croquis
Guilherme Werner

Ilustrações
Zoltar Design e Patrícia Yamamoto
agradecimentos

Agradecemos todos que contribuíram para


a construção dos princípios e critérios
que formam os alicerces deste livro,
incluindo 70 participantes do se-
minário Conservação com Agro-
florestas, realizado em Brasília
em maio de 2015, e agricultores
experimentadores que nos re-
ceberam nas visitas de campo,
além de técnicos e consultores.
Gostaríamos de ressaltar a contribuição e obra
de Ernst Götsch, cujas pesquisas e práticas inovadoras ao
longo dos últimos 30 anos permitiram o desenvolvimento
e a disseminação dos sistemas agroflorestais sucessionais
citados aqui, influenciando gerações de técnicos e agri-
cultores em diversas regiões do país. Agradecemos ao Juã
Pereira e a Carolina Guyot que sistematizaram o estudo de caso do Sítio Semente,
DF, que inspirou a Opção 1. Estendemos também nossa gratidão ao Miguel Calmon
e Chetan Kumar da UICN pela coordenação geral do projeto KnowForFLR
(Gestão de Conhecimento para a Restauração Florestal e de Paisagens), pela
estreita colaboração neste projeto e importantes sugestões às primeiras ver-
sões deste livro. Somos gratos ao Instituto Sociedade População e Natureza –
ISPN pelo seu papel primordial como parceiro deste projeto e por trazer a
este livro experiências exitosas e inovadoras a partir da sua rede de agriculto-
res familiares beneficiários do Programa de Pequenos Projetos Ecossociais –
PPP-ECOS, que conta com apoio do GEF/PNUD. Agradecemos, ainda, os reviso-
res, que leram as primeiras versões e deram valiosas contribuições para o seu
aprimoramento. Agradecemos também ao Instituto Salvia – ISSA, Renata Marson
Teixeira de Andrade e ao Mutirão Agroflorestal pelo seu importante apoio e parti-
cipação em diferentes momentos da elaboração do livro. Por fim, gostaríamos de
reconhecer o DFID – Ministério para o Desenvolvimento Internacional do Reino
Unido pelo apoio financeiro a este projeto e ao Programa Forest Trees and Agro-
forestry – FTA do CGIAR pelo apoio aos esforços do ICRAF – Centro Internacional
de Pesquisa Agroflorestal.

7
sumário

Parte 1
diagnóstico, desenho e implantação de safs em diferentes contextos................... 10

Introdução................................................................................................................................. 12
1. Contexto: o Cerrado e a Caatinga..................................................................................... 16
2. Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais.............................. 22
2.1 O que são sistemas agroflorestais (safs)?........................................................................... 22
2.2 O que se entende por restauração ecológica?..................................................................... 25
2.3 Safs para restauração e conservação.................................................................................. 27
2.4 Benefícios dos safs.............................................................................................................. 29
2.5 Desafios para o sucesso dos SAFs no Cerrado e na Caatinga............................................... 43
2.6 Aprendizados e recomendações para superar desafios dos safs........................................ 47
2.7 Princípios e critérios para conciliar funções sociais e ecológicas nos safs.......................... 49
3. Como fazer sistemas agroflorestais para restauração............................................. 52
3.1 Entender o contexto: diagnóstico socioambiental participativo.......................................... 52
3.1.1 Ferramentas para o diagnóstico participativo............................................................... 53
3.1.2 Conteúdos do diagnóstico............................................................................................. 54
3.2 Tomada de decisão no nível da paisagem............................................................................ 62
4. Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais............................................... 64
4.1 Seleção e planejamento da área: localização na paisagem e elementos do desenho......... 67
4.2 Seleção de espécies.............................................................................................................. 73
4.3 Planejamento econômico..................................................................................................... 82
4.3.1 Passos no planejamento financeiro de empreendimentos agroflorestais...................... 82
4.3.2 Planejamento do arranjo agroflorestal........................................................................... 86
4.3.3 Análise financeira............................................................................................................ 87
4.3.4 Análise integrada dos indicadores financeiros................................................................ 92
4.4 Implantação.......................................................................................................................... 96
4.4.1 Preparo: materiais, ferramentas e mão de obra............................................................. 97
4.4.2 Métodos para estabelecimento de safs....................................................................... 100
4.5 Manejo: como fazer?.......................................................................................................... 111
4.5.1 Técnicas de manejo..................................................................................................... 111
4.5.2 Manejo de poda........................................................................................................... 113
4.5.3 Dicas para o manejo de poda...................................................................................... 115
4.5.4 Tipos de podas............................................................................................................. 118
4.5.5 Orientações para o manejo......................................................................................... 122
5. Opções de safs para diferentes contextos.................................................................... 124
5.1 Safs no Cerrado e na Caatinga: aprendendo com experiências existentes....................... 124
5.2 Opções de safs voltadas para diferentes contextos.......................................................... 126
OPÇÃO 1: Agrofloresta sucessional para o Cerrado com manejo intensivo............................. 127
OPÇÃO 2: Agrofloresta biodiversa para restauração de APP................................................... 134
OPÇÃO 3: Agroflorestas em faixas intercaladas com enriquecimento do Cerrado.................. 139
OPÇÃO 4: Enriquecimento e manejo de capoeiras (regeneração natural) com Agrofloresta.. 143
OPÇÃO 5: Agroflorestas para restauração de áreas degradadas com espécies adubadeiras.. 147
OPÇÃO 6: Restauração em áreas de declive do Cerrado com Agroflorestas........................... 154
OPÇÃO 7: Agroflorestas para restauração de áreas de declive ou de Reserva Legal na Caatinga........158
OPÇÃO 8: SAF forrageiro para a Caatinga................................................................................ 163
OPÇÃO 9: Restauração de áreas degradadas na Caatinga com agroflorestas.......................... 170
OPÇÃO 10: Proteção e restauração de nascentes com Agroflorestas...................................... 176
OPÇÃO 11: Quintais agroflorestais........................................................................................... 179
5.3 Implantação das opções: passo-a-passo em diferentes contextos.................................... 182
5.4 Espécies-chave para recuperação de áreas degradadas.................................................... 186
Algaroba – Prosopis juliflora.................................................................................................. 187
Leucena – Leucaena leucocephala........................................................................................ 189
Feijão guandu – Cajanus cajan.............................................................................................. 191
Palma forrageira – Opuntia fícus-indica................................................................................ 193
Mandacaru – Cereus jamacaru............................................................................................. 195
Sisal - Agave sisalana............................................................................................................ 197
Sabiá ou sansão do campo – Mimosa caesalpiniaefolia........................................................ 198
Gliricídia – Gliricidia sepium.................................................................................................. 200
Umbu – Spondias tuberosa................................................................................................... 202
Cajá – Spondias mombin....................................................................................................... 204
Margaridão – Tithonia diversifolia........................................................................................ 205
Ingá – Inga spp...................................................................................................................... 207
Mutamba – Guazuma ulmifolia............................................................................................ 209
Banana – Musa spp.............................................................................................................. 211
Urucum – Bixa orellana......................................................................................................... 212
Eucalipto – Eucalyptus spp................................................................................................... 214
Capim mombaça – Panicum maximum................................................................................. 218
Capim andropogon – Andropogon gayanus.......................................................................... 219
Capim elefante – Pennisetum purpureum cv. Napier........................................................... 221

Parte 2
regras para implementação dO código florestal..................................................... 232

6. Áreas de conservação e safs na legislação.................................................................. 234


6.1 Qual a importância da app e rl?........................................................................................ 236
6.2 O que mudou na lei para os agricultores familiares?......................................................... 238
6.3 Recomendações para regulamentação da Lei Florestal no Brasil...................................... 240
6.4 Quais áreas devem ser protegidas?.................................................................................... 244
6.4.1 Proteção em áreas de preservação permanente – APP.................................................. 244
6.4.2 Proteção na Reserva Legal – RL....................................................................................... 251
6.5 Quais áreas deverão ser recuperadas?............................................................................... 254
6.5.1 Restauração em áreas consolidadas nas faixas de app................................................... 255
6.6 O que diz a lei sobre safs para restauração das apps?...................................................... 257
6.7 Restauração, uso e manutenção da Reserva Legal com agroflorestas............................... 259

Referências citadas - para saber mais................................................................................. 261


PARTE 1
Diagnóstico, desenho e implantação
Foto: Fabiana Peneireiro

10
PARTE 1
de SAFs em diferentes contextos
Foto: Daniel Vieira

11
introdução

O mundo está enfrentando uma crise ambiental sem precedentes.


Em diversas regiões, as formas de uso do solo praticadas ao longo
dos últimos séculos degradaram os recursos naturais e agravaram a
vulnerabilidade social.

No meio rural, o desmatamento e as áreas, cuidando dos solos e das águas,


atividades agropecuárias praticadas introduzindo e manejando espécies
de forma predatória vêm causando vegetais e animais que dificilmente se
extinção de espécies de plantas e ani- estabeleceriam sozinhas naquela situ-
mais, redução da quantidade e quali- ação. Além disso, as comunidades ru-
dade de água disponível, aumento de rais, povos indígenas e comunidades
temperatura, mudanças no regime de tradicionais podem obter benefícios
chuvas, diminuição da produtividade diretos da vegetação natural, quando
agrícola, erosão do solo e até mesmo bem manejada, sem necessariamente
a desertificação de extensas áreas. Tal gerar degradação. Assim, essa estra-
degradação ameaça inclusive a pró- tégia pode desempenhar papel fun-
pria permanência dos seres humanos damental na manutenção das funções
nestas regiões, fazendo com que po- ecossistêmicas dos ambientes, os cha-
pulações rurais se desloquem para as mados serviços ambientais, incluindo
cidades à procura de emprego, o que a regulação do ciclo de água, adapta-
agrava os problemas sociais, econô- ção a mudanças climáticas, controle
micos, ambientais e inclusive culturais de erosão e ciclagem de nutrientes.
com a perda da identidade campone- Da mesma forma, áreas em processo
sa, gerando um ciclo vicioso. de restauração podem desempenhar
funções socioambientais importantes,
Ao mesmo tempo, agricultores, téc- como: segurança e soberania alimen-
nicos e cientistas vêm desenvolven- tar e também nutricional; geração de
do e praticando formas de produção renda; aumento da qualidade de vida;
que buscam reverter o processo de e manutenção dos recursos hídricos,
degradação. Em muitas situações a do equilíbrio climático e da biodiver-
própria natureza é capaz de recuperar sidade, dentre outras. Ao viabilizar a
áreas alteradas. Todavia, o ser huma- restauração ecológica com os meios
no pode acelerar a restauração destas de vida, os agricultores deixam de ser

12
INTRODUÇÃO

agentes que geram o problema e pas- com SAFs em áreas de conservação


sam a ser agentes que trazem a solução. ambiental (Áreas de Preservação Per-
manente - APP e Reserva Legal - RL)
Apesar do crescente reconhecimento no contexto da agricultura familiar.
quanto à importância do envolvimen- No entanto, os princípios e as técnicas
to do ser humano para a sustentabi- discutidas neste livro também podem
lidade dos processos de restauração e devem ser adotados nas áreas de
ecológica, ou seja, conservação, mui- produção agrícola em geral.
tas iniciativas de “restauração de áre-
as degradadas” ou de “recomposição A fim de alcançar seus objetivos, reco-
da vegetação nativa” não levam em mendamos que esta publicação seja
conta as necessidades e potencialida- disseminada junto a agricultores, téc-
des das pessoas e comunidades que nicos e órgãos de assistência técnica e
ocupam aquelas terras. Em vista dos extensão rural, fomento, crédito agro-
altos custos e falta de retorno finan- pecuário, capacitação, fiscalização e
ceiro de projetos de restauração com gestão ambiental, e que suas orien-
métodos convencionais, é preciso en- tações sejam discutidas, adequadas e
contrar formas de restauração mais internalizadas junto aos formuladores
eficientes e que considerem as pessoas de políticas públicas em nível nacional
que habitam e portanto atuam sobre e estadual.
a paisagem, de forma a envolvê-las
permanentemente na conservação As orientações técnicas apresentadas
e manejo dos recursos naturais. Os aqui são voltadas principalmente para
sistemas agroflorestais (SAFs) trazem o contexto de agricultores familiares,
diversas oportunidades para incluir o no entanto, cabe ressaltar que as di-
ser humano nos processos de restau- versas técnicas e opções também po-
ração das áreas alteradas e, ao mes- dem ser aplicadas por agricultores de
mo tempo, incorporar árvores nas médio e grande porte que queiram
paisagens agrícolas. recuperar suas RLs e/ou outras áreas
alteradas fora de APPs com sistemas
O principal objetivo desta publicação agroflorestais. De fato, os princípios,
é orientar técnicos, agricultores e for- critérios e orientações se aplicam a
muladores de políticas a desenvolver qualquer agricultor que queira conci-
e estimular o uso de sistemas e prá- liar a produção e outros benefícios so-
ticas que consigam conciliar a produ- ciais com a conservação dos recursos
ção de alimentos com os bens e servi- naturais, desde que se atentem aos
ços ambientais por meio de sistemas pressupostos da legislação. Servem
agroflorestais. Este livro procura in- também para os que são obrigados a
clusive subsidiar ações de restauração restaurar suas áreas e ainda querem

13
INTRODUÇÃO

obter outros benefícios econômicos sentamos os passos que devem ser


e/ou sociais nas mesmas146. Embora tomados para o planejamento eco-
este volume seja focado nos biomas nômico e dos arranjos agroflorestais,
Cerrado e Caatinga, boa parte das op- bem como diversas técnicas e méto-
ções propostas pode ser adaptada a dos de implantação e manejo (Seção
outros biomas. No entanto, para tal é 4). Na Seção 5, descrevemos 11 op-
preciso alterar a lista de espécies re- ções de sistemas agroflorestais que
comendadas e modificar algumas prá- podem ser adotadas em alguns dos
ticas de manejo. contextos mais comuns destes dois
biomas, incluindo informações sobre
Esta publicação é dividida em duas as características de cada contexto,
partes principais: a primeira concen- objetivos dos agricultores, espécies-
tra-se em como fazer SAFs de forma chave e orientações para implantação
a conciliar objetivos ambientais e e manejo de cada opção. Em seguida,
sociais, do diagnóstico participativo apresentamos uma descrição deta-
e desenho de sistemas até a implan- lhada de 19 espécies-chave para a re-
tação e manejo. A segunda parte ex- cuperação de áreas degradadas, suas
plica as principais normas e recomen- principais características, funções e
dações referentes à implementação orientações para o seu manejo, além
e regulamentação da Lei Florestal e de uma Tabela Geral das Espécies ci-
como isto se relaciona ao uso de SAFs tadas no livro e consideradas impor-
em APPs e RLs. tantes para a restauração com SAFs no
Cerrado e na Caatinga.
Na parte 1, após a introdução e con-
textualização (Seção 1), discutimos os Na Parte 2, apresentamos e analisa-
benefícios e desafios socioambientais mos as informações importantes na
dos SAFs a partir de um resumo da legislação federal a respeito do uso de
literatura (Seção 2), e apresentamos sistemas agroflorestais para restaura-
orientações para superar estes desa- ção de áreas protegidas. Esta Seção
fios. Nas Seções 3 e 4 apresentamos resume conceitos, princípios e defini-
sugestões, recomendações e técnicas ções importantes e esclarece algumas
para fazer restauração com sistemas normas específicas sobre o papel de
agroflorestais. Primeiro, detalhamos SAFs na restauração e conservação
uma metodologia de diagnóstico so- de APPs e RLs, além de apresentar
cioambiental para desenhar opções algumas recomendações para a regu-
de SAFs que levem em consideração lamentação e implementação destas
os diversos fatores limitantes bem normas por parte dos estados.
como as potencialidades de cada
contexto (Seção 3). Em seguida, apre- A descrição das espécies é feita com

14
INTRODUÇÃO

nome comum no texto e com nome Nosso intuito é que ele possa também
científico na Tabela Geral de Espécies, ajudar técnicos e agricultores familia-
exceto quando a espécie é mencio- res a desenvolver e implementar so-
nada uma única vez. Nestes casos, o luções para a conservação ambiental,
nome científico acompanha o nome ou seja, que incluam o componente
comum no texto. Ao longo deste livro, humano nos espaços protegidos pela
apresentamos ainda em caixas de tex- lei (APP e RL) e, ao mesmo tempo,
to, dicas práticas e falas de agriculto- permita que formuladores de políticas
res e técnicos que participaram das vi- criem condições para a inclusão de ár-
sitas de campo e do seminário, assim vores em áreas de produção agrícola,
como alguns estudos de caso a partir gerando assim benefícios socioam-
de experiências exitosas. bientais para a propriedade rural e a
sociedade como um todo.
Esperamos que este livro possa ser-
vir como ferramenta para superar os Desejamos a todos uma boa leitura se-
desafios da restauração das áreas al- guida de bons plantios agroflorestais!
teradas, inclusive as previstas por lei.

15
1. Contexto:
o Cerrado e a Caatinga

CERRADO: O BERÇO DAS ÁGUAS Mirante das Janelas. Chapada dos Veadeiros.
São Jorge – GO

O Cerrado reúne ampla variedade de


paisagens compostas de veredas, mor-
ros, chapadas, planaltos e vales, e alta
diversidade de tipos de vegetação,
desde campestre e savanas a flores-
tas densas. É considerado o berço das
águas do país, pois abriga as principais
nascentes de importantes rios brasi- O Cerrado brasileiro é a savana mais
leiros, distribuindo as águas para oito biodiversa do planeta, com 13.140 es-
das doze grandes bacias hidrográficas: pécies de plantas, aproximadamente 3
Amazônica, Tocantins-Araguaia, Par- mil espécies de animais vertebrados1
naíba, Atlântico Norte/Nordeste, São e 67 mil espécies de invertebrados129.
Francisco, Atlântico Leste, Paraná e Além disso, o Cerrado é a base para
Paraguai75,107. Na maior parte do bio- a sobrevivência de diversos povos e
ma, o período das chuvas se estende comunidades tradicionais, incluindo
de outubro a abril e a época seca de extrativistas, indígenas, quilombolas,
maio a setembro. A precipitação pode agricultores familiares e outras97, que
variar entre 800 mm nas regiões próxi- possuem por sua vez valiosa diversi-
mas ao semiárido e 2000 mm em áre- dade cultural. Algumas dessas comu-
as de transição com florestas úmidas55. nidades se estabeleceram na região
Estende-se por uma vastidão de apro- há centenas de anos, aprendendo
ximadamente 200 milhões de hecta- com o tempo a conviver com a sua
res, abrangendo praticamente toda a diversidade e a manejar e extrair os
região Centro-Oeste e áreas adjuntas seus recursos naturais de forma sus-
nas regiões Sudeste, Norte e Nordes- tentável, ao passo que outras ainda
te, ocupando quase um quarto do ter- dependem de técnicas tradicionais de
ritório nacional129. Atualmente, a re- derrubada e queima para viabilizar a
gião abriga cerca de 470 mil pequenas produção. Vale destacar que no Cer-
propriedades rurais, em grande parte rado encontramos mais de 80 etnias
pertencentes a agricultores familiares indígenas e na Caatinga (descrita em
e comunidades tradicionais130. seguida) são mais de 70.

16
Foto: Helena Maltez

Contexto: o Cerrado e a Caatinga

17
Contexto: o Cerrado e a Caatinga

O bioma Cerrado é considerado um Em vista destas ameaças, é fundamen-


dos domínios mais ameaçados do tal estimular e valorizar as atividades
mundo devido à expansão do cul- tradicionais sustentáveis desenvolvi-
tivo mecanizado de culturas anuais das pelas comunidades rurais e pro-
em monocultura, como soja, milho mover formas inovadoras de manejo
e algodão, a abertura de novas áreas da paisagem que permitam aliar a pro-
de pastagem, plantios florestais para dução com a restauração e conserva-
produção de celulose e carvão e a ção dos recursos naturais. Para tal, são
construção de barragens para geração essenciais políticas públicas que valori-
de energia elétrica55,107,108. Em decor- zem produtos do Cerrado, sua riqueza
rência dessas atividades, muitas vezes cultural e o manejo sustentável de suas
praticadas de forma predatória, o des- paisagens. Sistemas agroflorestais são
matamento no Cerrado atingiu cerca excelente alternativa neste contexto,
de 30 mil quilômetros quadrados por pois respeitam o potencial dos recur-
ano, ou seja, 1,5% de sua vegetação é sos locais bem como o potencial ecoló-
convertida todos os anos108. Hoje res- gico e produtivo da região.
tam apenas 55% da vegetação natural
deste bioma76.
Geraizeiros atravessando vereda no
Foto: Peter Caton/ISPN Cerrado do norte de Minas Gerais.

18
Foto: Do Design

Paisagem com mata seca da Caatinga.


CAATINGA, A MATA BRANCA DO
NORDESTE BRASILEIRO
A Caatinga é o principal bioma da Grande do Norte, Piauí, e também
região nordestina do Brasil. Possui está presente em faixas pequenas do
também diversos tipos de vegetação, Maranhão e de Minas Gerais54.
desde campos, florestas arbustivas a
florestas altas, com estrato herbáceo Bioma exclusivo ao Brasil, é respon-
efêmero e muitas plantas espinhentas sável por abrigar cerca de 2 mil es-
e suculentas. As árvores e arbustos pécies vegetais, sendo mais de 300
perdem as folhas durante a estação endêmicas desse ambiente. Além
seca e os troncos e ramos esbran- disso, possui uma ampla diversidade
quiçados conferem uma fisionomia de fauna, com 178 espécies de ma-
de mata esbranquiçada, origem de míferos, 591 de aves, 177 de répteis,
seu nome na língua Tupi - (Caa) Mata 79 espécies de anfíbios, 241 de pei-
(Tinga) Branca72,90. O bioma ocupa xes e 221 de abelhas72. A precipita-
cerca de 85 milhões de hectares do ção média anual oscila entre pouco
território brasileiro, abrangendo pra- menos de 300 mm, na região dos
ticamente todos os estados nordesti- Cariris Velhos, na Paraíba, até pou-
nos, entre eles Ceará, Bahia, Sergipe, co mais de 1500 mm, nas zonas que
Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio fazem transição com outros biomas.

19
Contexto: o Cerrado e a Caatinga

Em sentido oposto, a evapotranspi- A região vem sofrendo impactos seve-


ração tende a ser bem maior que as ros desde os tempos da ocupação do
chuvas, em geral, entre 1500 mm e território brasileiro pelos colonizadores
2000 mm anuais54,74. europeus, principalmente por causa da
introdução do gado e pela extração da
A maior parte da Caatinga é composta madeira para a produção de carvão ve-
por solos rasos, clima quente e chuvas getal. Até hoje, estas são as principais
irregulares. Quando somados estes atividades desenvolvidas nesta região
fatores, o ambiente apresenta-se ex- e também são os principais fatores de
tremamente sensível e vulnerável à degradação dos ecossistemas da Caa-
desertificação. A região abriga cerca tinga7,54. Sua cobertura vegetal foi redu-
de 27 milhões de pessoas, sendo boa zida em quase 50% até o ano de 2009,
parte agricultores familiares e depen- mesmo assim, observa-se que as ações
dentes dos recursos da própria região para a restauração ou conservação
para subsistência. O regime de chuvas deste bioma são poucas ou insuficien-
bastante irregular na Caatinga torna a tes74. De fato, dentre todos os biomas
vida do sertanejo extremamente difí- brasileiros, a Caatinga é o que possui o
cil, induzindo-o a buscar alternativas menor número de unidades de conser-
de adaptação e convivência com a vação (UCs), que cobrem apenas 7,5%
seca no semiárido54,107. do seu território54.

Agricultores fazendo a colheita do Umbu, árvore típica da Caatinga. Foto: Do Design

20
Contexto: o Cerrado e a Caatinga

Fonte: adaptado de IBGE, 2006

Assim, as pessoas que vivem neste Serão apresentadas também algumas


bioma enfrentam grandes desafios dicas colhidas a partir de práticas re-
relacionados à proteção dos seus re- alizadas por agricultores e técnicos
cursos naturais, à convivência e adap- experientes neste contexto, e que
tação à seca, à restauração e manejo demonstram ações humanas que po-
adequados e à redução das desigual- dem contribuir para evitar e até mes-
dades socioeconômicas. Diante deste mo reverter quadros de desertificação
cenário, são necessárias ações efica- na Caatinga.
zes para reverter a degradação dos so-
los e dos recursos naturais da região, Nestes contextos dos biomas Cerra-
incluindo o aperfeiçoamento dos sis- do e Caatinga, é preciso desenvolver
temas de criação de animais e formas e disseminar técnicas de produção
de utilização da vegetação nativa. que permitam o manejo da vegeta-
ção nativa em consórcio com espé-
Na Caatinga, os sistemas agroflores- cies cultivadas de forma a equilibrar
tais direcionados para a produção de funções ecológicas e sociais na escala
forragem animal, bem como culturas da paisagem, formando mosaicos in-
de ciclo curto e fruteiras, são alter- terligados por corredores entre áreas
nativas para aliar a conservação com de produção e de preservação. Como
a qualidade de vida dos agricultores. veremos na seção seguinte, sistemas
Algumas estratégias específicas ao agroflorestais trazem, na prática, inú-
contexto da Caatinga, como criação meras oportunidades para equilibrar
de animais, são tratadas neste livro. estes diferentes objetivos.

21
2. Sistemas
agroflorestais:
benefícios e desafios árvores, arbustos, palmeiras, bam-
socioambientais bus, etc., são deliberadamente utili-
zadas nas mesmas unidades de área
com culturas agrícolas e/ou animais,
Sistemas agroflorestais (SAFs) podem num determinado arranjo espacial e
gerar renda e promover diversos ser- temporal”82,83. Outra definição, ainda
viços ambientais. SAFs são sistemas do ICRAF, é que SAFs são “sistemas
de produção que vêm sendo desen- baseados na dinâmica, na ecologia e
volvidos em todo o mundo, há milê- na gestão dos recursos naturais que,
nios, principalmente pelas populações por meio da integração de árvores na
tradicionais, proporcionando sustento propriedade e na paisagem agrícola,
de pelo menos 1,2 bilhão de pessoas diversificam e sustentam a produ-
(cerca de um sexto da humanidade)84. ção com maiores benefícios sociais,
Somente há 50 anos, no entanto, a ci- econômicos e ambientais para todos
ência tem se dedicado a estudar esses aqueles quem usam o solo em diver-
sistemas, seus benefícios e custos e as sas escalas”58.
complexas interações entre os compo-
nentes vegetais, animais e humanos. Há diversos tipos de SAFs, desde
sistemas simplificados, com poucas
2.1 O que são sistemas agroflorestais (SAFs)? espécies e baixa intensidade de ma-
nejo, até sistemas altamente com-
Os SAFs podem ser definidos de di- plexos, com alta biodiversidade e
versas formas. Uma das primeiras de- alta intensidade de manejo, e entre
finições de sistema agroflorestal, de esses, vários tipos intermediários.
1977, é a seguinte: “sistema de ma- Para cada um deles existem denomi-
nejo sustentável da terra que busca nações distintas que variam de acor-
aumentar a produção de forma geral, do com os principais produtos gera-
combinando culturas agrícolas com dos em cada sistema.
árvores e plantas da floresta e/ou ani-
mais simultânea ou sequencialmente, Alguns SAFs são voltados para a cria-
e aplica práticas de gestão que são ção animal por meio da associação
compatíveis com os padrões culturais entre pastagens e árvores, denomi-
da população local”14. nados sistemas silvipastoris. Vale,
no entanto, lembrar que a presença
O Centro Internacional de Pesquisa de animais domésticos como bovi-
Agroflorestal (ICRAF) sugere outra de- nos, caprinos, equinos, ovinos, buba-
finição: “Agrofloresta é um nome ge- linos, suínos e galinhas em sistemas
nérico para sistemas de uso da terra agroflorestais para fins de restau-
onde espécies lenhosas perenes como ração de APP é bastante polêmica,

22
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

uma vez que estes animais podem de ovinos e caprinos). Ao mesmo


causar impactos negativos sobre a tempo, reconhece-se a importância
vegetação e o solo. Esses animais po- do componente animal para as es-
dem compactar o solo, especialmen- tratégia de meios de vida e adapta-
te se estiver bastante úmido. Podem ção a mudanças climáticas dos agri-
também deixá-lo descoberto e revol- cultores familiares, principalmente
vido, esgotar as plantas quando se na região semiárida, portanto, no
alimentam indiscriminada e continu- contexto de recomposição de APPs e
amente, principalmente das brota- RLs, é preciso encontrar meios para
ções novas, e quando roem as cascas conciliar a criação de animais com a
das árvores (muito comum no caso recomposição da vegetação.

Sistema Silvipastoril: gado na pastagem ecológica.


Fazenda Ecológica Santa Fé do Moquém. Nossa Senhora
do Livramento, Mato Grosso. Foto: Jurandir Melado

23
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

Quando há presença de espécies agrí- agrossilvipastoris. Já sistemas agros-


colas e florestais simultânea ou sequen- silviculturais se referem a consórcios
cialmente à criação dos animais, os sis- em que culturas agrícolas anuais se
temas são denominados de sistemas associam a espécies florestais.

Sistema Agrosilvicultural Sistema Agrosilvipastoril

Os sistemas mais diversificados e simi- sucessão natural das espécies. Ernst


lares aos ecossistemas florestais natu- Götsch e outros técnicos e agriculto-
rais do lugar são conhecidos por agro- res que se inspiram no seu trabalho
florestas sucessionais ou biodiversas, ao longo dos anos têm desenvolvido e
caracterizadas por alta diversidade de disseminado esse tipo de sistema em
espécies e cujo manejo baseia-se na diversos biomas do Brasil46, 50, 88.

Agrofloresta Sucessional ou Biodiversa Foto: Fabiana Peneireiro

24
Foto: Andrew Miccolis

Quintal agroflorestal

Os quintais agroflorestais são um 2.2 O que se entende por Restauração


tipo de SAF que associa árvores com Ecológica?
espécies agrícolas e/ou animais, me-
dicinais e outras de uso doméstico. A definição amplamente reconheci-
Situados próximo às residências, estes da de restauração ecológica é a da
sistemas normalmente são altamente Sociedade de Restauração Ecológica
produtivos e contribuem de maneira (SER), que define essa prática como
importante para a segurança alimen- “o processo de auxiliar a recuperação
tar e o bem estar da família. de um ecossistema que foi degrada-
do, danificado ou destruído”134. Neste
Para efeito deste livro, nossa principal conceito, o ecossistema restaurado
referência será a definição de siste- contém um conjunto de espécies que
mas agroflorestais adotada na legis- ocorrem no ecossistema de referên-
lação brasileira: “sistemas de uso e cia. Os grupos funcionais (compos-
ocupação do solo em que plantas le- tos por espécies que desempenham
nhosas perenes são manejadas em as- diferentes funções ecológicas) estão
sociação com plantas herbáceas, ar- presentes ou em processo de coloni-
bustivas, arbóreas, culturas agrícolas, zação da área e as ameaças potenciais
forrageiras em uma mesma unidade à saúde e integridade do ecossiste-
de manejo, de acordo com arranjo ma foram eliminadas ou reduzidas.
espacial e temporal, com diversidade Ademais, o ecossistema restaurado é
de espécies nativas e interações entre suficientemente resiliente para supor-
estes componentes.” tar os eventos normais de estresse, é

25
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

autossustentável e possui o potencial


para persistir indefinidamente sob as Da mesma forma, a definição da
condições ambientais existentes134,101. Aliança de Restauração Ecológica
dos Jardins Botânicos, uma coalizão
Este conceito da SER vem evoluindo e, global, ressalta que “a restauração
mais recentemente foi descrito como: ecológica pode e deve ser um com-
“a ciência, prática e arte de assistir e ponente fundamental dos programas
manejar a recuperação da integridade de conservação e de desenvolvimen-
ecológica dos ecossistemas, incluindo to sustentável no mundo inteiro em
um nível mínimo de biodiversidade e função da sua capacidade inerente de
de variabilidade na estrutura e fun- prover as pessoas com oportunidades
cionamento dos processos ecológicos, de não somente reparar os danos eco-
considerando-se seus valores ecológi- lógicos, mas também melhorar a con-
cos, econômicos e sociais. [...] busca- dição humana”138.
se garantir que a área não retornará
à condição de degradada, se devida- Por outro lado, também encontra-
mente protegida e/ou manejada”135. mos definições mais voltadas para
objetivos ecológicos, como a do Sis-
Ainda, segundo o Ministério do Meio tema Nacional de Unidades de Con-
Ambiente, a restauração ecológica servação, de que “a restauração é a
tem relação direta com a recupera- restituição de um ecossistema ou de
ção de áreas degradadas – RAD e se uma população silvestre degradada
baseia nesta mesma definição da SER o mais próximo possível da sua con-
mencionada acima136. dição original”139.

Algumas visões da restauração ecoló- É importante entender que não há


gica desenvolvidas por instituições re- uma fórmula pré-estabelecida para a
conhecidas internacionalmente têm restauração, pois cada ambiente de-
preconizado a importância do bem gradado possui sua história, estando
estar humano como resultado dos sujeito a um conjunto de característi-
processos de restauração. Por exem- cas que merecem estratégias especí-
plo, a Parceria Global para a Restaura- ficas. Isso reforça que qualquer estra-
ção de Florestas e Paisagens - GPFLR tégia que vise ao restabelecimento de
considera que “Restauração ecológi- processos ecológicos deve ser catego-
ca é o processo que tem como objeti- rizada como ações de restauração163.
vo recuperar a integridade ecológica e A restauração, assim, requer um arca-
incrementar o bem estar humano em bouço conceitual bem definido, tanto
paisagens com florestas degradadas em aspectos relacionados ao estado
ou desmatadas”137. de degradação quanto à dinâmica das

26
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

florestas. Na distinção entre os ter- toa dos objetivos previstos para tais
mos mais utilizados para conceituar as áreas.
ações, o horizonte espacial, temporal
e a participação da espécie humana Já no contexto agropecuário, é funda-
para a obtenção do resultados deve mental uma abordagem de restaura-
prevalecer. Além disso, os indicadores ção ecológica que inclua o agricultor ou
para avaliar a sustentabilidade de áre- proprietário rural, tanto no seu planeja-
as restauradas devem focar, além de mento, como na sua implantação e ma-
aspectos ecológicos, aspectos econô- nejo. Neste contexto, sistemas agroflo-
micos e sociais, implicando na cons- restais podem viabilizar a restauração,
trução de indicadores para áreas onde ao restabelecerem processos ecológi-
há múltiplos usos da terra . Assim,
163
cos, estrutura e função do ecossistema
mesmo que a participação humana a um nível desejado, ao mesmo tempo
não seja necessária permitindo um retor-
na restauração de “Os princípios da natureza são no econômico, ma-
áreas para preserva- cooperação e não concorrência. nutenção dos meios
ção, ela é fundamen- A nossa função no Planeta como de vida, bem como
tal na conservação de do conhecimento e
seres biológicos é de dispersor
ambientes, principal- da cultura locais125, 140.
mente quando utiliza-
de sementes e dinamizador de Neste caso, as pessoas
da a estratégia de Sis- processos de vida.” são vistas como parte
temas Agroflorestais. integrante da nature-
(Ernst Götsch) za e protagonistas nos
Contudo, os diferen- processos de restaura-
tes entendimentos sobre restaura- ção141, 142. Esta é a visão que utilizamos
ção ecológica variam de acordo com para o desenvolvimento dos argumen-
o contexto e com os objetivos que se tos e sugestões de práticas para restau-
quer alcançar. Por exemplo, em uni- ração com SAFs neste livro.
dades de conservação de uso restrito,
onde o objetivo é restaurar ao máxi-
mo a composição e a estrutura da co- 2.3 SAFs para Restauração e Conservação
munidade vegetal originalmente pre-
sente (ainda que esta referência seja Os estudos científicos analisados neste
difícil de ser definida), é essencial o livro, assim como as experiências dos
estabelecimento de espécies da flora agricultores, mostram que os tipos de
que ocorram no lugar, independente- SAFs mais recomendados para fins de
mente de sua importância socioeco- restauração e conservação ambiental,
nômica. Nesse caso, o uso de espécies são os complexos, biodiversos ou su-
exóticas não é recomendado pois des- cessionais, pois estes se assemelham

27
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

aos ecossistemas originais do contex- Neste livro, defendemos a ideia de


to local, principalmente em termos de que a ação humana não necessaria-
processos e funções, e são manejados mente é prejudicial ao meio; pelo
de acordo com a lógica da sucessão contrário, pode ser benéfica, gerado-
natural. Estes tipos de SAF também ra de mais vida e recursos, de modo
permitem a inclusão do conceito am- que a sua presença seja positiva para
plo de conservação onde o ser huma- o ambiente. Partimos da premissa de
no é incluído na restauração ecológica, que a espécie humana faz parte da
uma vez que o sistema fornece alimen- natureza. A principal questão é a qua-
tos e outros benefícios sociais, inclusi- lidade da ação humana no seu meio.
ve renda, ao mesmo tempo em que A percepção e a atitude com relação
desempenha uma série de funções ao cuidado com a água, com o solo,
ecológicas importantes. Com base nos e com todas as outras formas de vida
aprendizados das experiências acumu- devem ser desenvolvidas, estimula-
ladas com SAFs complexos, podemos das e aprimoradas na nossa espécie.
concluir que o principal fator que leva Há práticas produtivas de uso da terra
um SAF a ser bem sucedido em termos que empobrecem a área e degradam
de sustentabilidade é a qualidade do o solo, mas há aquelas que enrique-
manejo realizado na área, ou seja, a cem e protegem o solo e a vegetação.
ação do ser humano. Tudo depende da visão de mundo que
o agricultor terá no seu modo de tra-
Em nossa sociedade a degradação dos balhar, do uso e manejo da terra e dos
ecossistemas e das formas de vida é recursos naturais.
comumente associada a atividades
agropecuárias. Por este motivo, as A atual legislação brasileira de prote-
áreas reservadas para preservação ção da vegetação nativa (conhecido
são “protegidas” do ser humano, sem como “Nova Lei Florestal”) abre cami-
sua presença, ou quando há, é pre- nhos para a possibilidade de restau-
conizado que seja de forma bastante ração ecológica com sistemas agro-
controlada. florestais (veja Parte 2), contanto que
estes sistemas mantenham ou mesmo
aprimorem as funções ecológicas bá-
sicas da área. Por isso, como orienta-
ção geral, precisamos estar atentos
para que o resultado da intervenção
humana seja benéfico para si e para
os outros seres envolvidos.

28
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

A fim de aliar produção agropecuária 2.4 Benefícios dos SAFs


com conservação, é preciso agir obser-
vando os princípios da natureza, levar Quais são os benefícios dos SAFs para o
em conta a vocação das pessoas e do meio ambiente e para as pessoas?
lugar (condições ambientais), a função
de cada espécie (inclusive do ser hu- Inúmeros estudos realizados em diver-
mano), e assim aju- sas regiões do mun-
dar na escolha de es- “O ser humano pode se incluir, do apontam para os
pécies mais eficientes
fazer parte do sistema, vivendo múltiplos benefícios
e aliar formas de ma- ambientais, econô-
dele sem degradar os recursos
nejo que cumpram micos e sociais dos
com diferentes fun- para a vida (solo, água, biodiver- SAFs, que variam em
ções socioambientais sidade), ou, melhor ainda, poden- grau e importância
ao longo do tempo, do contribuir para aumentá-los. de acordo com o con-
de forma a consolidar Ao procurar incluir o ser humano texto, o tipo de siste-
mais vida e recursos nas áreas de conservação, é ma praticado e o ma-
naquele local. Assim, preciso que se incluam também nejo dos sistemas ao
a ética do cuidado
as espécies que permitem com longo do tempo. Sa-
deve estar sempre be-se que os SAFs po-
presente no planeja-
que possa viver naquele ambien- dem desempenhar
mento e no desenho te, e isso inclui também espécies uma série de funções
de soluções. exóticas e pressupõe sua inter- ambientais, muitas
venção com plantios e podas. O das quais são consi-
Quando estes prin- critério principal deve ser sempre deradas importantes
cípios são seguidos, o ecossistema natural e original.” para os seres huma-
os SAFs podem ge- nos, por isso os cha-
rar simultaneamente mamos de benefícios
(Ernst Götsch)
benefícios sociais e socioambientais. Os
ambientais. A seguir, SAFs podem ajudar a
resumem-se os prin- proteger e alimentar
cipais benefícios sociais e ambien- a biodiversidade, mitigar as mudanças
tais dos SAFs com base na revisão de climáticas e aumentar a capacidade
estudos científicos realizados prin- de adaptação a seus efeitos. Podem
cipalmente no Brasil, mas também promover, ainda, a regulação do ciclo
em outras regiões do mundo. Apre- hidrológico, controle da erosão e do
sentam-se também os desafios mais assoreamento, ciclagem de nutrientes
importantes para o sucesso de SAFs e e, portanto, aumento da fertilidade do
uma série de orientações para superar solo, melhorando suas propriedades
estas barreiras. físicas, biológicas e químicas. Além

29
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

disso, os SAFs geram uma série de pro- • regulação de águas pluviais e me-
dutos úteis aos seres humanos e que lhoria da qualidade da água;
podem ser comercializados, como ali- • mitigação e adaptação a mudanças
mentos, remédios, fibras, sementes, climáticas.
matérias primas para abrigo e energia.
SAFs contribuem para a estocagem de
Embora ainda haja poucos estudos carbono, adaptação e resiliência
científicos sobre SAFs para restaura-
ção de áreas de preservação e seus Estudos científicos demonstram que
impactos, principalmente no Cerrado os SAFs em pleno desenvolvimento
e na Caatinga, alguns estudos nestes podem fixar quantidades muito sig-
biomas, e diversos outros no Brasil e nificativas de carbono, pois quanto
no mundo, demonstram que SAFs po- maior o metabolismo e taxa fotossin-
dem contribuir para a conservação e tética, maior a absorção de carbono
restauração dos recursos naturais e pelas plantas83,117.
fortalecimento dos meios de vida dos
agricultores. Nesta seção, apresenta- O potencial das agroflorestas em se-
mos um resumo de uma ampla revisão questrar carbono é muito variável pois
da literatura científica a respeito dos depende do tipo de sistema, da com-
benefícios e desafios dos SAFs com posição das espécies, da idade das
foco nos biomas Cerrado e Caatinga. espécies componentes, da localização
geográfica, de fatores ambientais (cli-
Dentre os inúmeros benefícios dos SAFs, ma e solo) e de práticas de manejo58.
vale destacar: SAFs adotados por pequenos agricul-
tores, principalmente os mais comple-
a) Benefícios ambientais e serviços xos, podem atingir taxas de sequestro
ecossistêmicos: de carbono próximo aos valores ob-
• combate à desertificação; servados em florestas tropicais.78
• conservação do solo;
• restauração da fertilidade e estru- Em um estudo de avaliação da dinâmi-
tura do solo; ca de carbono em SAFs de 4 a 15 anos,
• sombra e criação de microclimas; manejados por agricultores familiares na
• aumento de produtividade animal Mata Atlântica no Estado de São Paulo,
por bem-estar (sombra) e qualida- foi identificado um incremento médio
de nutricional das pastagens; anual de 6,6 toneladas de carbono to-
• corredores ecológicos; tal por hectare117. Da mesma forma, um
• favorece a biodiversidade de for- estudo em SAFs com dendê (Elaeis gui-
ma geral, incluindo a disponibilida- neensis) no estado do Pará demonstra
de de agentes polinizadores; valores elevados de acúmulo líquido de

30
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

carbono nos primeiros anos (6,6–8,3 se que os SAFs desenvolvidos nessas


toneladas de carbono por hectare por regiões possuem potencial de fixação
ano), em média, superiores à floresta de carbono maior que o das áreas de
secundária adjacente com aproximada- vegetação nativa83. Geralmente, quanto
mente 10 anos de idade143. maior a diversidade de espécies e a den-
sidade das árvores, maior é o potencial
Cabe ressaltar que o sequestro de car- de sequestro de carbono no solo58.
bono, apesar de fundamental para mi-
tigação de mudanças climáticas, não Os SAFs também são considerados
deve ser considerado como fator pre- sistemas altamente resilientes às mu-
ponderante na tomada de decisão so- danças climáticas, pois estendem a
bre os sistemas mais adequados para época de colheita, amenizam os efei-
cumprir outras funções ecológicas es- tos de eventos extremos como secas
senciais. Por exemplo, monoculturas prolongadas e enchentes, modificam
de eucalipto sequestram grandes quan- temperaturas, proporcionam sombra
tidades de carbono porém não neces- e abrigo, e agem como fontes alterna-
sariamente contribuem para a manu- tivas de alimentos durante os perío-
tenção e aumento da biodiversidade. dos de cheias e secas59.

De maneira geral, agroflorestas locali- Sabe-se que as agroflorestas têm ca-


zadas em regiões áridas ou semiáridas pacidade de modificar o microclima,
apresentam menor potencial em fixar proteger as culturas sensíveis do sol
carbono, quando comparadas com direto, reduzir a velocidade do vento
agroflorestas em regiões mais úmidas. ao funcionar como quebra-vento, re-
Apesar do clima ser menos favorável duzir as temperaturas e aumentar a
em regiões de fortes estiagens, avalia- umidade relativa do ar56.

Figura 1 – SAFs
apresentam
importantes
benefícios ambientais
e desempenham
importantes serviços
ecossistêmicos
como manutenção
da biodiversidade,
proteção dos recursos
hídricos e conservação
dos solos.

31
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

SAFs contribuem para a manutenção e Além disso, em alguns estudos foi


incremento da biodiversidade identificado o aumento de espécies
nativas florestais e o avanço sucessio-
Áreas com plantios agroflorestais nal como resultados da implantação
apresentam grande potencial para de SAFs que possuem semelhanças
promover o aumento da biodiversi- com florestas em estágio secundário
dade e contribuem para diminuir a de sucessão61 (matas secundárias ou
pressão humana sobre as florestas “capoeiras”). No entanto, vale salien-
nativas devido à sua multifunciona- tar que o mesmo não se aplica neces-
lidade no nível da propriedade e da sariamente para tipos de vegetação
paisagem57. Oferecem suporte à inte- savânica ou campestre36.
gridade dos ecossistemas florestais,
possibilitando a criação e ampliação Na mesma corrente, outros estudos
de corredores ecológicos e zonas de evidenciaram significativo aumento
amortecimento112. Assim, fornecem na riqueza de espécies nos SAFs com-
habitats para espécies que toleram parado com os valores obtidos em flo-
certo nível de distúrbio. restas adjacentes15,80.

Figura2 – SAFs apresentam


grande potencial para promover o
aumento da biodiversidade, aliando
conservação com produção.

32
Figura 3 – A contínua manutenção da cobertura do solo
com matéria orgânica intensifica a vida do solo e promove
a ciclagem dos nutrientes.

SAFs contribuem para a conservação


e manutenção da fertilidade do solo e
ciclagem de nutrientes Quanto mais o sistema agroflorestal
for similar aos ecossistemas naturais,
O papel dos sistemas agroflorestais mais sustentável este será no que diz
na manutenção e melhoria do solo é respeito à sua estrutura e função, o
amplamente conhecido na literatura, que torna mais efetiva a ciclagem de
principalmente devido ao uso de es- nutrientes, diferentemente de mo-
pécies geradoras de biomassa com noculturas, sejam agrícolas ou flores-
alta capacidade de disponibilização tais83. Da mesma forma, SAFs com-
de nutrientes. Os SAFs podem propor- plexos e bem manejados possibilitam
cionar a restauração de áreas onde o boa cobertura do solo, que favorecem
solo está com baixa fertilidade86,125,64, o aumento das populações e ação da
pois disponibilizam quantidade subs- macrofauna do solo18. Estes ambien-
tancial de matéria orgânica, promo- tes aceleram a ciclagem de nutrientes
vendo a ciclagem de nutrientes43,46, e a partir da ação das raízes associada
reduzem o risco de erosão do solo e à vida do solo e propiciam contínuo
desmoronamentos41. aporte de matéria orgânica8,22.

33
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

SAFs contribuem para a conservação resultados positivos observados nas


e manutenção dos recursos hídricos agroflorestas, que utilizam ampla co-
(água) bertura de espécies arbóreas, favo-
recendo a velocidade de infiltração
A utilização de SAFs gera impacto po- da água no solo e a melhoria da sua
sitivo sobre as propriedades hídricas qualidade12,144. Agroflorestas com am-
do solo e influenciam diretamente na pla cobertura de espécies arbóreas,
recarga das águas subterrâneas. Tais com 100% de fechamento de copas,
efeitos devem ser considerados quan- podem interceptar até 70% da preci-
do se avalia o impacto do plantio de pitação pluviométrica em determina-
árvores como parte do planejamento das regiões e contribuir na redução
das propriedades rurais, principal- do escoamento superficial, evitando
mente em ambientes com períodos tanto a erosão do solo como as enxur-
de seca prolongada, como na Caatinga radas39. Ademais, os SAFs implantados
e Cerrado. nas proximidades de rios e córregos
como forma de proteção podem re-
A proteção dos recursos hídricos e o duzir significativamente sedimentos
potencial para a regulação da quan- e poluentes carreados para os corpos
tidade e disponibilidade hídrica são hídricos109,119.

Figura 4 – A influência dos SAFs na manutenção dos recursos hídricos.

34
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

Além dos benefícios ambientais, os • a mão de obra é melhor distribuída


SAFs também podem contribuir com ao longo do ano;
importantes benefícios sociais e eco- • há maior estabilidade do fluxo de
nômicos, resumidos abaixo: caixa ao longo do ano e anualmen-
te em todo o ciclo do sistema;
B) Benefícios sociais e econômicos: • promove a manutenção e melho-
• gera produção de: ria do rendimento (aumento na
–– alimentos produção) ao longo do tempo;
–– commodities, como, por exemplo, • promove o fortalecimento das mu-
café, cacau e latex lheres (quando exercem papel de
–– madeira destaque ao assumirem a lideran-
–– matéria-prima para abrigo (palhas ça na produção agroflorestal) con-
e madeira) tribuindo para relações de gênero
–– energia mais igualitárias;
–– plantas medicinais • há menor suscetibilidade a pragas
–– forragem e doenças nos cultivos, resultando
–– mel (pasto apícola) em menos perdas na produção;
–– matéria prima para artesanatos • há melhor qualidade do trabalho e
(sementes, fibras, etc.) de vida (trabalho na sombra);
–– bens culturais e espirituais • fortalece a organização social e a
• promove soberania e segurança união, contribuindo com a consoli-
alimentar e nutricional; dação de laços comunitários;
• potencializa a produção de mel de • promove a manutenção da agro-
abelhas (Apis e nativas/sem ferrão), biodiversidade e dos conhecimen-
que pode ser mais um produto ali- tos associados;
mentício a se somar com os inúme- • promove restauração ecológica e
ros disponibilizados pelos SAFs; florestal com custo menor que mé-
• aumenta a eficiência no uso dos todos convencionais;
fatores de produção (água, luz, nu- • contribui para a beleza cênica, pro-
trientes); piciando possibilidades de lazer e
• otimiza o uso do espaço (intensifi- aumentando o bem estar humano;
cação); • promove o resgate de saberes tra-
• apresenta menor necessidade e dicionais, ações de solidariedade
otimização no uso de insumos ex- como os mutirões, e proporciona
ternos; uma remuneração digna, além de
• reduz risco econômico, pois é me- melhorar a qualidade de vida;
nos sensível à variações negativas • pode aumentar o sentimento de
de preço e climáticas; pertencimento do agricultor com
• gera e diversifica renda; a área restaurada quando compa-

35
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

rada à restauração convencional, tivas aos sistemas convencionais


já que nos SAFs geralmente os de uso dos recursos naturais93;
agricultores estabelecem relações • possuem melhor relação custo
com estas áreas, cuidando para -benefício quando comparados à
que não haja ocorrência de even- restauração florestal convencio-
tos como incêndios e entrada de nal devido às práticas de manejo
animais que podem prejudicar em e o aproveitamento dos produtos
muito a recuperação ambiental. dos SAFs77;
• possibilitam produção diversifica-
SAFs contribuem para a segurança da, devido à existência de várias
alimentar e redução de riscos culturas consorciadas40, o que
alivia a sazonalidade, fenômeno
É importante observar que as paisa- comum no setor agropecuário117;
gens agrícolas que associam o culti- trazem menor risco por ataques de
vo de florestas multifuncionais com pragas e doenças69 e contribuem
outros usos da terra podem trazer para o aumento da produção de
opções interessantes e soluções cria- alimentos e renda rural, em espe-
tivas para os modos de vida sustentá- cial gerada por meio de produtos
veis14,127,24. No contexto dos serviços florestais, como madeira, frutos,
socioambientais, os SAFs: sementes e óleos116.
• fornecem alternativas mais produ-

Figura 5 – a produção diversificada no tempo e a


biodiversidade contribuem para menor risco econômico
por sazonalidade e ataque de “pragas” e “doenças”.

36
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

Fala do
agricultor
Perspectiva do agricultor sobre agrofloresta e pecuária
“Vejamos que 1 ha de capim alimenta 5 cabeças de gado na chuva e
uma na seca aqui na região do Araguaia. Por sua vez 1 ha de mandioca
na agrofloresta me dá de 70 a 80 sacos de farinha. Hoje, um saco de
farinha está sendo comercializado por R$ 350,00 (o que dá uma mé-
dia de R$ 26.250,00). Em contrapartida, uma cabeça de gado depois
de 4 anos está sendo comercializada por no máximo R$ 1.200,00 (o
que daria R$ 300,00 por ano). Portanto, é uma diferença muito gran-
de. Além disso, para a gente que mexe com as duas atividades, logo
vê que o gado gera muita despesa, já a mandioca são duas roçadas no
inverno e pronto. Se considerar a mandioca na agrofloresta, você vai
ali cuidando de suas mudas, que em breve te darão renda também.

Quem tem um sistema como esse quer sempre se enraizar mais na


comunidade, não fala em vender a terra, quer só aumentar a área.
Quem tem só gado, já fala muito mais em vender a terra. Então a
agrofloresta é um sistema que enraíza as pessoas na terra.

A agrofloresta é o meio que encontrei de ter a minha sobrevivência


garantida, e vejo que a minha felicidade mora ali na minha agroflores-
ta, que serve de exemplo para que outros tomem a mesma atitude.”

Luiz Pereira Cirqueira – Assentamento Dom Pedro, São Félix do Ara-


guaia – MT. Fonte: Agricultores que cultivam árvores no Cerrado145.

SAFs podem ser economicamente viáveis

No Brasil, os SAFs têm se mostrado cionais de restauração, que normal-


como atividade economicamente viável mente dependem de investimentos
em diferentes contextos, no entanto, sem qualquer retorno econômico, os
essa viabilidade depende da realiza- SAFs têm potencial de gerar resulta-
ção de um bom planejamento econô- dos financeiros positivos e podem aju-
mico, que inclui pesquisa de mercado dar a pagar os custos da restauração.
e a execução com técnicas adequa- Como vemos na Tabela 1, a restaura-
das102,104,105. ção ecológica convencional pode ser
muito onerosa para o agricultor pois,
Diferentemente dos métodos conven- além de envolver altos custos, não

37
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

prevê retorno econômico. Os SAFs,


por outro lado, apresentam claramen-
te o potencial de transformar o ônus
financeiro da restauração em bônus.
No contexto da restauração ecológica,
o principal desafio é desenvolver sis-
temas que conciliem o retorno econô-
mico com serviços ambientais exigidos
para áreas de preservação. Como vemos
na Tabela 1, os SAFs sucessionais (com
maior diversidade de espécies ao lon-
go do tempo) apresentam resultados
financeiros mais favoráveis (segundo sistemas para a restauração ecológica
o indicador Valor Presente Liquido) pois são mais favoráveis também em
que os SAFs mais simples, o que re- termos de serviços ambientais, con-
força a importância de priorizar tais forme vimos na seção anterior.

Tabela 1: Dados publicados de custos e resultados econômicos para diferentes métodos de


restauração ecológica de APP e RL e Sistemas Agroflorestais.

Atividades realizadas, local,


Métodos de Res- Resultados finan-
Custos (R$/ha) Fonte ano e referência de custos e
tauração Ecológica ceiros (R$/ha)
resultados econômicos
Pasto abandonado em áreas de
baixa aptidão agrícola ou pouco
MMA produtivas com acompanhamento
Regeneração Natural 1.400,00 - 1.400,00
(2015)73 ao longo de 5 primeiros anos. Es-
timativa de valor médio feita em
diversas regiões.
Restauração florestal mediante
plantio de mudas de espécies ar-
Cury e Car-
bóreas nativas em ilhas, região de
802,69 -802,69 valho Jr.
Canarana - MT. 2011. Custos se
(2011)30
referem somente à implantação
inicial.
Regeneração Assistida
– Plantio de algumas Condução e indução da regeneração
mudas e sementes natural, incluindo isolamento da
área e retirada de fatores de distúr-
bio na região da barragem do Rio
2.131,09 - 2.131,09 Lira (2012)62
Siriji, Vicência – PE. 2011. Custos se
referem a valores médios para as
atividades citadas. Tempo de inter-
venção não especificado.

38
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

Atividades realizadas, local,


Métodos de Res- Resultados finan-
Custos (R$/ha) Fonte ano e referência de custos e
tauração Ecológica ceiros (R$/ha)
resultados econômicos
Semeadura direta mecanizada de
sementes de espécies arbóreas
Cury e Car-
nativas e leguminosas arbustivas
749,80 -749,80 valho Jr.
e herbáceas, região de Canarana,
(2011)30
Mato Grosso. 2011. Custos se refe-
rem apenas à implantação.
Plantio direto mecanizado de se-
mentes florestais (em solo coberto
com matéria orgânica) nos anos
Restauração florestal Hoffmann de 2012 a 2015, desenvolvida em
5.375,00 -5.375,00
com plantio meca- (2015)49 10 propriedades rurais localizadas
nizado de sementes no município de Alta Floresta - MT.
florestais Custos se referem à implantação e
manejo até o 3º ano.
Custo em dólares por hectare usan-
do semeadura direta de muvuca de
sementes com três anos de manu-
Campos-filho tenção da área. Região do Alto rio
4.298,85* -4.298,85*
et al. (2013)25 Xingu – MT. 2013. Custos se referem
à média de valores de plantio e
manejo ao longo de três anos em 26
propriedades.
Formação de mata ciliar com plan-
tio de espécies nativas, preparo do
Chabaribery solo mínimo com perfuração para
5.122,33 -5.122,33
et al. (2008)29 plantio de mudas e 1ª manutenção.
Município de Gabriel Monteiro – SP.
2007. Custos para o 1º ano.
Implantação e manutenção de pro-
jeto de restauração florestal usando
espécies nativas na Mata Atlântica,
Rodrigues
Restauração com 6.920,00 -6.920,00 em espaçamento de 3x2m. Ano não
(2009)101
plantio de mudas especificado. Custos incluem plantio
e todos os tratos silviculturais ne-
cessários até dois anos pós plantio.
Plantio total (1.666 mudas por hec-
tare) com base em estimativas de
custos médios em diversas regiões
MMA
10.000,00 -10.000,00 do país. Anos não especificados.
(2015)73
Custos incluem implantação, mane-
jo e acompanhamento ao longo dos
primeiros cinco anos.

39
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

Atividades realizadas, local,


Métodos de Res- Resultados finan-
Custos (R$/ha) Fonte ano e referência de custos e
tauração Ecológica ceiros (R$/ha)
resultados econômicos
Implantação, manutenção e explo-
ração de plantio de espécies nativas
para aproveitamento econômico
Restauração com de produtos madeireiros. Receitas
plantio de mudas e do modelo de plantio considerando
17.092,25 29,177.65 IIS (2013)51
aproveitamento eco- o cenário de valoração da madeira
nômico mais pessimista de espécies nativas
da Mata Atlântica. Custos e resul-
tados financeiros projetados para
40 anos.
Sistema com produção de castanha-
do-brasil, cupuaçu, banana, pimen-
ta do reino. Machadinho do Oeste
Gama – RO. 2002. Custos incluem serviços
18.254,90 45.865,26
(2003)42 de implantação, manejo e colheita
até o10° ano. Resultados financeiros
se referem ao VPL (Valor Presente
Líquido) no mesmo período.
SAFs simples
Sistemas menos intensivos e pouco
diversificados com base em cinco
experiências em diversas regiões do
Brasil. Os plantios nestes sistemas
Hoffmann variaram entre três e dez espécies.
2.204,00 a 9.709,00 1.099,00 a 49.262,00
(2013)50 Os valores dos custos e resultados
financeiros representam uma faixa
de todas as experiências, incluindo
custos de implantação e manejo no
1° ano e do VPL até o 10° ano.
Sistema agroflorestal sucessional
com culturas anuais, frutíferas semi
-perenes, árvores nativas e exóticas,
gramíneas e outras espécies adu-
Hoffmann badeiras, no Distrito Federal. 2013.
29.790,00 121.601,00
(2013)50 Custos incluem serviços de implan-
tação, manejo e colheita. Custos e
VPL são projetados até o 10° ano
SAF sucessional com base em dados de produção
nos primeiros dois anos.
Sistema agroflorestal sucessional
com tubérculos, frutíferas semi-pe-
renes, árvores nativas e exóticas, es-
pécies adubadeiras, no Sul da Bahia.
Hoffmann
8.934,00 88.323,00 2013. Custos incluem serviços de
(2013)50
implantação, manejo e colheita.
Custos e VPL são projetados até o
10° ano com base em dados de pro-
dução nos primeiros dois anos.
*Valor convertido no ano de referência do estudo à taxa cambial de 2.33 Reais/dólar.

40
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

Detalhamento dos métodos de restauração ecológica


apresentados na Tabela 1:
Regeneração natural assistida ou regeneração
ativa - consiste no isolamento da área (cercas e
aceiros), enriquecimento com mudas e semen-
tes, quando necessário, e retirada dos fatores
de distúrbio, deixando que ela se recupere
pela dinâmica natural da vegetação.

Plantio mecanizado de sementes – consiste no


plantio de sementes nativas por meio de maquiná-
rio agrícola adaptado. São utilizadas máquinas tanto para o preparo da
área como para o plantio das sementes nativas junto com espécies de
adubação verde.

Plantio de mudas – consiste no estabelecimento de mudas, geralmente


no espaçamento 3x3m ou 2x3m, conforme a sucessão florestal, geral-
mente associado à correção e adubação do solo, ao acompanhamento
e monitoramento das mudas, controle de insetos, capina, bem como
isolamento e retirada dos fatores de distúrbio.

Plantio florestal com aproveitamento econômico – consiste no plantio


de mudas nativas e exóticas visando o retorno econômico utilizando
espaçamentos variados a depender das espécies escolhidas, podendo
ser em linhas ou em faixas.

SAFs simples – consiste em sistemas agroflorestais que utilizam pouca


variedade de espécies. Geralmente as culturas são plantadas em faixas
ou em linhas visando otimizar o processo produtivo e a geração de re-
ceitas, podendo ser silviagrícola, silvipastoril ou agrossilvipastoril.

SAF sucessional (também denominado biodiverso ou complexo) –


consiste em sistema agroflorestal com alta diversidade de espécies, na-
tivas e/ou exóticas, com dinâmica de manejo (sucessional) e produção
escalonada ao longo do tempo. Trata-se de sistema mais complexo e
exigente em manejo e mão de obra visando criar abundância no siste-
ma e otimização da produção agroflorestal.

41
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

Quando bem planejados, os SAFs po- entre o 1° e 2° ano, o que é fundamen-


dem retornar o investimento e gerar lu- tal para a agricultura familiar. Em outros
cro para a família agricultora em pouco casos, na ausência de culturas agrícolas
tempo, a depender do tipo de sistema. de ciclo curto, o retorno sobre o investi-
Por vezes, este retorno pode aparecer mento pode demorar alguns anos17.

A renda (ou ingressos) de 10 a 20 hectares de sistemas agroflorestais é


aproximadamente a mesma que da pecuária em 400 a 1200 hectares (Pye-
Smith, 2014)95

Um indicador econômico considerado SAFs em todo o país, são poucas as


importante para a agricultura familiar publicações com dados suficientes
é a Remuneração da Mão de Obra para a análise da RMOF, sendo neces-
Familiar – RMOF, que expressa o va- sários dados de produção total, mão
lor gerado por uma diária de serviço de obra utilizada ao longo do tempo,
do trabalhador rural. Embora existam custos fixos e variáveis.

RMOF é um indicador que representa o valor da diária que a atividade


(neste caso, o SAF), paga pelo trabalho familiar, e pode ser medida em
Reais por unidade de trabalho (ut) por dia (Hoffmann, 2013)50, ou seja,
equivalente ao valor pago pelo trabalho de uma pessoa por dia.

Em um levantamento de 77 casos de dos trabalhadores agroflorestais foi


SAFs analisados economicamente maior que a média da diária de um
por diversos pesquisadores no Bra- trabalhador rural50.
sil, foram encontrados 6 casos que
apresentaram os dados primários O indicador econômico Benefício Cus-
completos para período maior que to – B/C, que pode ser utilizado no
8 anos. Nestes casos, a RMOF apre- contexto da agricultura familiar ou de
sentou valores entre R$ 53,00/ut.dia projetos em maior escala, expressa a
e R$ 462,00/ut.dia (esses cálculos razão entre o valor dos benefícios e o
foram atualizados e calculados com valor dos custos, atualizados ao mo-
base no salário mínimo vigente na mento presente pela taxa de descon-
época de R$ 680,00). Essa grande va- to, sendo o projeto mais interessante
riação se deve às culturas econômi- aquele que apresenta o maior valor
cas utilizadas e ao manejo. O estudo de B/C. Ou seja, a relação Benefício
mostrou que a remuneração diária Custo acima de 1 indica que recebe-

42
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

mos uma quantia maior que aquela e escala nas iniciativas de restauração.
que investimos. Destes casos de SAFs Algumas destas dificuldades são espe-
citados acima, 5 dos quais apresenta- cíficas ao contexto local, portanto pre-
ram dados até 25 anos, houve ampla cisam de soluções práticas desenvol-
variação dos resultados: entre 1,8 e vidas na escala da propriedade e da
10,2, no entanto, todos apresentaram paisagem na qual está inserida. Ou-
valor considerado favorável para o tras são comuns à grande maioria dos
agricultor, ou seja, acima de 1. contextos, questões mais estruturais
como o baixo acesso a políticas públi-
Além da RMOF e relação B/C, existem cas de desenvolvimento rural (ATER,
outros indicadores financeiros con- capacitação e crédito rural), por isso
siderados importantes para avaliar a dependem de soluções de governan-
viabilidade econômica de SAFs, entre ça a médio e longo prazo.
eles: Valor Presente Líquido (VPL),
Taxa Interna de Retorno (TIR) e Tem- Nos contextos mais comuns dos bio-
po de Retorno do Investimento (TRI). mas Cerrado e Caatinga, as principais
Cabe ressaltar que a viabilidade eco- causas de insucesso dos SAFs em es-
nômica, no final das contas, deve ana- cala local são:
lisar o conjunto destes indicadores de
forma integrada, conforme explicado • baixo acesso a conhecimento;
em maiores detalhes na Seção 4.3. • baixa disponibilidade de mão de
obra;
O potencial de um SAF gerar benefí- • fatores limitantes do meio físico;
cios econômicos depende também da • baixo acesso a insumos;
capacidade do agricultor de superar • falta de planejamento agroflores-
barreiras criadas por fatores adversos, tal e econômico adequado.
alguns dos quais são gargalos estrutu-
rais no segmento agropecuário brasi- Acesso a conhecimento
leiro, resumidos a seguir.
Entre os vários gargalos para o sucesso
2.5 Desafios e limitações para sucesso nos dos SAFs, destaca-se o baixo acesso a
SAFs no Cerrado e na Caatinga conhecimento e assistência técnica
sobre boas práticas de manejo neces-
Apesar dos inúmeros benefícios dos sárias para viabilizar e equilibrar as
sistemas agroflorestais elencados aci- diversas funções dos SAFs. Em muitas
ma, sua apropriação por técnicos e situações, a assistência técnica do
agricultores familiares enfrenta bar- sistema de ATER não conta com capa-
reiras e limitações que precisam ser citação em SAFs e Agroecologia, tam-
vencidas para aumentar a sua adoção pouco em metodologias participativas

43
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

que permitam a construção, junto que os agricultores deram prioridade


aos agricultores, das soluções tecno- para outras atividades produtivas que
lógicas mais apropriadas para o seu eles sabem manejar e dos quais eles
contexto. dependem a curto prazo, como roças,
animais, hortas ou pomares.
Os SAFs mais complexos, como os bio-
diversos ou sucessionais, ao mesmo A alta demanda por mão de obra em
tempo que trazem mais benefícios SAFs pode ser suprida parcialmente
socioambientais que os SAFs simples, com a utilização de algumas máqui-
também trazem desafios significativos nas, no entanto, ainda há carência
em função da ampla diversidade de de máquinas e equipamentos adap-
espécies e complexidade de manejo, tados especificamente para SAFs. O
necessários para manter a produtivi- trabalho em mutirões também é uma
dade e a resiliência do sistema. estratégia importante, pois mobiliza
mão de obra coletiva e fortalece os
Mão de obra laços sociais, entretanto, para o bom
funcionamento deste sistema coletivo
A alta demanda por mão de obra é necessário ter um grupo com consi-
pode ser outro fator extremamente derável coesão e organização interna.
limitante para a condução dos SAFs,
pois o trabalho é intensivo e constan- Acesso a insumos e fatores ambientais
te, e muitas vezes há falta de pessoas
no meio rural para suprir esta deman- Em muitos contextos de áreas de-
da. Isso pode representar um proble- gradadas, principalmente quando os
ma a mais para a recomposição de agricultores têm pouco acesso a in-
APPs e RL em projetos convencionais sumos, um risco é a baixa produtivi-
de plantio de mudas nativas em espa- dade inicial das culturas alimentícias
çamento definitivo, já que o custo de e comerciais. Mesmo quando há in-
implantação e manutenção é alto e o sumos disponíveis no mercado legal,
retorno econômico direto é inexisten- seus preços muitas vezes estão acima
te, ou geralmente considerado baixo da capacidade financeira dos agricul-
nos casos de atividades de extrativis- tores e sofrem grande variação de
mo ou de projetos de Pagamentos por acordo com mercados internacionais,
Serviços Ambientais37. o que deixa os agricultores mais vul-
neráveis a fatores externos.
A mão de obra também pode ser fa- • A implantação de SAFs biodi-
tor limitante em SAFs planejados ou versos em grandes áreas requer
manejados de forma inadequada, que grandes quantidades de material
às vezes recebem pouca atenção por- de plantio: sementes, mudas,

44
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

estacas e rizomas, para permitir Falta de planejamento agroflorestal e


alta densidade de mudas sobre- econômico e manejo inadequado
viventes nos primeiros anos. Em
muitos contextos, quando estes Do ponto de vista econômico, diver-
materiais não estão disponíveis sos fatores podem impedir o sucesso
na propriedade, podem ser en- dos SAFs, incluindo o alto custo inicial
contrados na microrregião, mas de implantação comparado com algu-
geralmente não há planejamento mas monoculturas, a ineficiência no
nem logística para coleta, estoca- planejamento e gestão de recursos
gem e processamento mínimo de econômicos e humanos, falta de con-
grandes quantidades de sementes troles econômicos, de fluxo de caixa,
e produção de mudas93,87. baixa diversificação dos SAFs, combi-
• O meio físico também apresenta nações e componentes dos SAFs ina-
uma série de desafios nos biomas dequados e preços baixos dos produ-
Caatinga e Cerrado, como a má dis- tos escolhidos91,92.
tribuição de chuvas, a baixa dispo-
nibilidade de nutrientes em solos Além disso, muitos SAFs são bem sucedi-
degradados e terrenos acidenta- dos nos primeiros anos de implantação,
dos, que muitas vezes se encon- mas com o tempo, produtos comerciais
tram lixiviados, compactados, áci- deixam de ser produzidos como pode-
dos e com pouca matéria orgânica. riam, nos anos subsequentes, devido
Estes fatores são especialmente li- à falta de manejo ou manejo inade-
mitantes quando conjugados com quado. Um exemplo disso acontece
o baixo acesso a insumos, mão de quando a poda das árvores de rápido
obra e conhecimento. crescimento que sombreiam as frutíferas
não é realizada, então a produção das
frutas declina.

45
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

Existem outros gargalos estruturais


para o desenvolvimento de SAFs rela-
cionados a políticas e mecanismos de
governança socioambiental, que va-
riam de acordo com o contexto:

Limitações estruturais para o desenvolvimento de SAFs


• Baixo acesso a ATER, que conta com pouquíssimos técnicos para aten-
der a demanda de agricultores familiares em geral; poucos possuem
capacitação suficiente para orientar sobre a aplicação de princípios
agroecológicos e sobre a restauração com sistemas agroflorestais47,93;
• Os sistemas produtivos recomendados muitas vezes são baseados em
pacotes tecnológicos específicos que podem estar desalinhados com
a vocação e as condições do agricultor e seu acesso aos recursos ne-
cessários para o sucesso daquela tecnologia (conhecimento, insumos,
mão de obra, etc.);
• Baixo acesso ao crédito rural para sistemas agroflorestais e agroecoló-
gicos: mesmo havendo algumas linhas de crédito elas ainda são pouco
acessadas, pois há falta de informação dos pequenos agricultores em
como acessar estas fontes43,58 e poucos técnicos com experiência e co-
nhecimento suficiente para assessorá-los na elaboração de projetos
de SAFs; 93
• Dificuldades para cumprir complexas normas fiscais e sanitárias para
processamento e comercialização de produtos e também para licen-
ciamento de unidades de processamento;93
• Pouco conhecimento, por parte dos consumidores, sobre os produtos
agroflorestais, agroecológicos e agroextrativistas e sua origem;
• Longas distâncias, estradas precárias, falta de transporte para escoar
a produção;
• Baixa qualificação técnica e administrativa das famílias, associações e
cooperativas para realizar planejamento, organização da produção e
gestão do beneficiamento, bem como da comercialização;
• Falta de desenvolvimento de mercados específicos e um desconhecimen-
to generalizado dos benefícios dos SAFs pela sociedade consumidora.70

46
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

Com base em experiências práticas de promovida, por meio de combina-


agricultores e técnicos que atuam na ções e intervenções adequadas;
implementação de SAFs, seguem al- • é realizado preparo do solo adequa-
gumas orientações que podem contri- do, com adubação se necessário;
buir para superar esses desafios. • o plantio e semeadura são feitos
na época adequada e de maneira
2.6 Aprendizados e recomendações para correta quanto à profundidade e
superar desafios dos SAFs densidade/espaçamento;
• a área está protegida do fogo e da
Os SAFs com objetivos de restauração entrada de animais domésticos;
e produção têm maiores chances de • há facilidade de acesso a insumos
sucesso quando: como adubos orgânicos, sementes
• a questão fundiária está resolvi- e mudas;
da, de modo que o agricultor te- • o SAF é devidamente manejado e
nha tranquilidade para investir em cuidado;
culturas perenes na terra; • o manejo é feito de forma a con-
• a proposta é construída conjunta- ciliar objetivos (alimentar, comer-
mente “com” e “entre” os agricul- cial, ambiental/conservação);
tores, considerando seus desejos, • a intervenção humana promove o
vocações, objetivos, conhecimen- aumento da biodiversidade, seja
tos e capacidades; pelo estímulo à regeneração natu-
• compreende-se bem o contexto do ral, seja por introdução de semen-
agricultor, das limitações e oportu- tes e mudas destas espécies;
nidades e da paisagem; • o solo está permanentemente co-
• é feito um bom planejamento, re- berto com matéria orgânica, o que
sultando em escolhas adequadas o mantém protegido e possibilita a
em função de um bom diagnósti- ciclagem de nutrientes;
co: a escolha da área a ser restau- • são utilizados quebra-ventos;
rada considera sua localização na • é adotado manejo ecológico de
paisagem; a escolha das espécies pragas e doenças;
a serem plantadas leva em conta • a sucessão ecológica evolui, com
acesso ao mercado e suas deman- aumento de quantidade e qualida-
das, as condições ambientais e a de de vida;
vocação dos agricultores; a elabora- • há troca de experiências e os agri-
ção do desenho e recomendações cultores e técnicos se sentem se-
de adubação e manejo são condi- guros para intervir no SAF;
zentes com o acesso das pessoas à • há assessoria técnica em quan-
mão de obra e outros insumos; tidade e qualidade suficiente ao
• as sinergias entre as espécies é longo do tempo;

47
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

• há agregação de valor aos produ- neira a coleta e troca de sementes;


tos, incluindo certificação e outras • Dar preferência para variedades
formas de economia solidária. crioulas que possam ser replicadas
depois (evitar sementes híbridas e
A seguir são compartilhados os princi- não utilizar transgênicas);
pais aprendizados dos que têm reali- “Quando se tem a diversidade você não preci-
zado restauração com SAFs no Cerra- sa trazer adubo de fora.”
do e na Caatinga:
• Trabalhar em parceria;
• Fazer junto: técnicos e agricultores “Os órgãos ambientais precisam se envolver.”
experientes em agrofloresta orien-
tam outros bitécnicos e agricultores; • Envolver os jovens. Criar espaços
• Trabalhar em mutirões; comunitários para compartilhar
“Os mutirões contribuem para os aprendi- conhecimentos inclusive aproxi-
zados.” mando pessoas da cidade;
“O aprendizado vem com a prática. Observar
• Aprender com os erros e acertos. e refletir sobre o resultado das intervenções
Não ter medo de errar, mas não é a melhor maneira de aprender.”
cometer os mesmos erros;
“Aprender com a natureza e com quem está • Formar multiplicadores;
praticando agrofloresta.” “O maior instrumento de convencimento é
ter uma experiência para mostrar e/ou rea-
• Buscar assessoria de quem sabe lizar intercâmbio de experiências.”
trabalhar com agrofloresta;
“Para que haja mudanças, é preciso de capa- • Promover a organização comunitária;
citação e organização.”
O componente humano é funda-
• Ocupar os espaços de participação, mental! Quem vai cuidar do sis-
intercâmbios, feiras e encontros; tema deve se identificar com ele
• Promover diálogo entre os conhe- e estar à vontade para intervir.
cimentos tradicionais e científicos
(das universidades, das ONGs, das
• Trabalhar com certificação sócio
empresas e institutos de pesquisa);
-participativa e no sistema de CSA
• Promover troca de experiências
(Comunidade que Sustenta a Agri-
entre agricultores;
cultura) agrega valor ao produto e
“Utilizar a metodologia campesino a campe-
gera aprendizados;
sino (ou camponês a camponês), baseada no
• Projetos e técnicos devem incenti-
diálogo de saberes.”
var a contrapartida dos agricultores.
• Planejar e realizar de forma roti-

48
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

Fala do
agricultor
motivação para fazer agrofloresta
“Quando eu assumi, essa área estava muito feia, muito degradada mes-
mo, porque não existia nada. Eu morei aqui, mas estive fora....Eu morava
aqui com meus pais, minha família toda morava aqui. Mas o sistema do
meu pai era de agricultor bem tradicional, queima tudo, não sobra nada,
o negócio é destocar e queimar tudo, e é por isso que essa terra aqui tava
pronta mesmo pra desertificar. É queimando e plantando, queimando e
plantando, só fazia tirar, ia produzindo e ia tirando. Tem a temporada que
a terra fica descansando, mas como é que descansa sem nada em cima,
sem ter o que comer, sem ter nada pra proteger, você deixou ela descan-
sando pegando sol o dia todo...mas quando eu conheci o Chico e o Elviro,
que estavam envolvidos nesse trabalho de SAFs, comecei a me envolver
com eles. Faz uns 10 anos. Eu já tinha andado fora e conhecido muita
coisa bacana, muito plantio, e cheguei em nossa área, onde não tinha
tradição de plantar nem o próprio alimento...aí comecei a trabalhar....o
sonho era produzir tanto a comida pra mim, tanto produzir pra natureza,
onde qualquer espécie da natureza pudesse se alimentar aqui dentro sem
correr o risco. Um pássaro se alimentar de uma manga ou caju sem correr
o risco de uma espingarda o matar.”

Ernaldo Expedito de Sá - Tianguá faz parte da APA Ibiapaba - CE

Fala da
agricultora trabalhar com amor
“Trabalhar com amor. Acredite que é bom!” “Quem mantém a floresta
viva não precisa de volume morto (dos reservatórios de água)”.

Fátima Cabral - Pipiripau - GO

2.7 Princípios e critérios para conciliar critérios com o intuito de convergir as de-
funções sociais e ecológicas nos SAFs mandas sociais com as ambientais. Estes
princípios foram propostos inicialmente
A fim de lançar as bases para orientar in- no Seminário Conservação com Agro-
tervenções e práticas agroflorestais nos florestas: caminhos para restauração na
mais variados contextos, foram construí- agricultura familiar, realizado em maio
dos junto aos diversos atores com expe- de 2015, e resumidos a seguir (lista dos
riência em SAFs uma série de princípios e participantes do Seminário na página 51).

49
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

Princípios gerais para conciliar objetivos erosão quando necessário;


sociais e ambientais nos SAFs: vii) manter permanentemente a cober-
i) conservação dos recursos hídricos, tura do solo com matéria orgânica;
do solo e da biodiversidade; viii) controlar os fatores de degradação,
ii) manutenção dos modos de vida como animais domesticados (res-
dos agricultores. tringindo o uso da área para pasto-
reio), fogo (aceiros e abandono da
Estes podem ser divididos nos seguintes prática da queimada nas áreas vi-
princípios e critérios mais específicos : zinhas) e deriva de agrotóxicos (se
aplicar em áreas vizinhas, realizar
a) com relação às funções ecológicas: em horários sem vento e manter
i) considerar a propriedade integral- uma faixa de segurança);
mente e sua função na paisagem ix) realizar manejo de espécies visando
para, então, planejar as áreas prio- o sucesso do estabelecimento do
ritárias para Reservas Legais, APPs e sistema ao longo do tempo.
outras áreas de aptidão para SAFs; e...
ii) não utilizar adubos sintéticos e
agrotóxicos, priorizando-se o uso b) com relação às funções sociais:
de insumos locais, adubação verde, i) prover os modos de vida dos agri-
esterco, pó de rocha, produtos na- cultores familiares, isto é, contri-
turais ou caseiros para controle de buir para a segurança e soberania
“pragas” e doenças e aceitos pelas alimentar e nutricional, bem como
normas de agricultura orgânica; gerar renda;
iii) realizar a recomposição e a manu- ii) promover a autonomia dos agri-
tenção da fisionomia da vegetação cultores, o que significa depender
original, considerando o manejo o mínimo possível de insumos ex-
da regeneração natural e plantios ternos, priorizar o uso dos recursos
adensados, com alta biodiversi- locais, valorizar os conhecimentos
dade e espécies adequadas ao tradicionais, trocar conhecimentos
contexto (nativas, introduzidas e entre o saber popular e o saber
exóticas) é a chave para o bom fun- científico, e realizar a construção
cionamento do SAF e diz respeito a coletiva do conhecimento;
planejamento e manejo; iii) promover o envolvimento dos agri-
iv) otimizar o uso da luz solar por cultores na concepção do sistema,
meio da estratificação; incluindo escolha das espécies,
v) garantir que o preparo do solo não considerando questões de gênero
cause impactos negativos como com- e geração;
pactação e susceptibilidade à erosão; iv) contemplar os interesses de toda a
vi) utilizar métodos de controle da família;

50
Sistemas agroflorestais: benefícios e desafios socioambientais

v) considerar a cultura, a visão de (alimentar, ornamental, adubo


mundo e a espiritualidade no de- verde, medicinais, de valor cultural
senvolvimento das agroflorestas; e espiritual, produtora de biomas-
vi) escolher espécies e desenho em sa, com função criadora de outras
função dos recursos disponíveis e da espécies, armazenadoras de água,
capacidade de manejo da família; etc.);
vii) escolher espécies observando sua viii) promover a agrobiodiversidade, prio-
multifuncionalidade socioambiental rizando o uso de sementes crioulas.

LISTA DOS PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO, BRASÍLIA, maio 2015


Alana Casagrande, Alexandra Ferreira Pedroso, Ana Elena Muler, André Brunckhorst,
Antonio Weber, Cainã Feraz e Silva, Carolina Guyot, Claudia Zulmira Cardoso Oli-
veira, Claudionísio de Souza Araújo, Cosmo Nunes da Paixão, Delman de Almeida
Gonçalves, Denise Barbosa, Donald Sawyer, Eduardo Barroso de Souza, Elder Stival
Cezaretti, Fábio Vaz Ribeiro de Almeida, Fátima Cecília Paim Kaiser Cabral, Fernanda
de Paula, Francisco Antonio de Sousa, Ginercina de Oliveira Silva, Guilherme Ma-
mede, Helena Maria Maltez, Isabel Figueiredo, Renato Araújo, Igor Aveline, Igor de
Carvalho, Ítalo Veras Eduardo, Jéssica Lívio, Joangela Oliveira de Moura, Joel Araújo
Sirqueira, José Augusto da Silva, José Fernando dos Santos Rebello, José Melchior,
José Moacir dos Santos, Leosmar Antônio Terena, Mara Vanessa Fonseca Dutra,
Marcelino Barberato, Márcio José de Sousa, Márcio Silveira Armando, Marcos Rug-
nitz Tito, Mariana Aparecida Carvalhaes, Martin Meier, Mateus Motter Dala Senta,
Paulo José Alves de Santana, Pedro Oliveira de Souza, Raimundo Deusdará Filho,
Regina Helena Rosa Sambuichi, Renata Zambello de Pinho, Ricardo Ribeiro Rodri-
gues, Rivelino da Silva, Robert Ramsay Garcia, Rodrigo Mauro Freire, Sandra Regina
Afonso, Selma Yuki Ishii, Silvia Teixeira da Silva, Tatiana Rehder, Thomas Ludewigs,
Welligton Gouveia de Morais, Gabriela Berbigier Gonçalves Grisolia, Lia Mendes
Cruz, Daniel Costa Carneiro, Daniel Mascia Vieira, Fabiana Mongeli Peneireiro, An-
drew Miccolis, Henrique Rodrigues Marques, Ana Cláudia, Fernanda Oliveira do
Nascimento, Artur de Paula Souza, Caio Sampaio, Silvana Bastos.

Foto: Andrew Miccolis


3. Como fazer Sistemas
Agroflorestais para
restauração

3.1 Entender o contexto: diagnóstico


socioambiental participativo quais as estratégias utilizadas pela
família para usar os recursos e alcan-
Por meio do diagnóstico socioambien- çar seus objetivos, e como lidam com
tal participativo, procura-se analisar e estresses e choques (p.ex. seca, osci-
entender quais são os principais obje- lações de mercado, saúde, etc.) para
tivos/vocação da família agricultora, reduzir suas vulnerabilidades. O diag-
quais os recursos disponíveis naquele nóstico é a base para o planejamento
contexto e se as pessoas têm acesso, das intervenções.

Figura 6: um bom diagnóstico e


planejamento participativo são
essenciais para o sucesso dos SAFs

52
Como fazer Sistemas Agroflorestais para restauração

3.1.1 Ferramentas para o Diagnóstico Caminhada transversal


Participativo pela propriedade

O diagnóstico socioambiental deve ser Esta técnica envolve andar pelos ar-
construído junto ao agricultor com as redores das casas e pela propriedade
seguintes ferramentas participativas: como um todo, observando o históri-
co de uso da área, a lógica e dinâmica
“Mapa” da propriedade (ou mesmo da de ocupação ao longo do tempo e as
microRregião). atividades produtivas desenvolvidas
atualmente. A caminhada transver-
Essa atividade lúdica deve preferen- sal permite também compreender as
cialmente envolver todos os membros estratégias ligadas à água, gestão de
da família. Ela estimula a percepção resíduos e fluxos de trabalho na pro-
espacial sobre a propriedade, o uso da priedade, bem como a situação da
terra, as conexões entre as unidades propriedade no atendimento às nor-
de uso da terra (os chamados agroe- mas da legislação ambiental.
cossistemas) e a relação com a vizi-
nhança. Sugere-se que a família dese- Conhecer bem os quintais, as roças e
nhe sua propriedade, demonstrando áreas de reserva é fundamental para
no mapa as áreas e seus usos. Pode compreender as vulnerabilidades e
ser útil considerar também os usos estratégias adotadas pela família.
da terra e as condições da vizinhança, Deve-se observar, então, que tipo de
sejam geográficas, socioeconômicas, plantas e animais são produzidos,
produtivas, ambientais, entre outras. como estes são manejados e utiliza-
dos. Avalia-se em que medida as pes-
Análise da imagem aérea da propriedade soas aproveitam os recursos dispo-
e entorno níveis no local. Quando comparamos
estas informações com os objetivos
A imagem pode ser obtida no compu- dos agricultores, podemos inferir se
tador utilizando o programa Google as estratégias de modos de vida ado-
Earth TM. Comparar o “mapa” produ- tadas ali são as mais apropriadas para
zido pela família com a imagem gera- enfrentar os problemas específicos
da no Google Earth TM traz ainda mais daquele local.
elementos para perceber como está a
paisagem, as possíveis conexões entre Esta caminhada permite levantar in-
fragmentos, onde estão as áreas de- formações por meio da observação
gradadas, as fontes de água, ás áreas direta. Ao ver e pegar a terra, se per-
de vegetação nativa, etc. cebem seus atributos; ao observar os
animais é possível constatar seu estado

53
Como fazer Sistemas Agroflorestais para restauração

de sanidade e nutrição; ao observar a 3.1.2 Conteúdos do diagnóstico


área a ser restaurada, se pode identifi-
car se há erosão do solo, qual o cami- Objetivos, aspirações e
nho da enxurrada e as plantas indica- sonhos da família agricultora
doras; ao observar os cursos d´água é
possível avaliar o grau de assoreamen- Os agricultores são o principal compo-
to; ao ver e conhecer a família, é pos- nente do SAF, pois são eles que coloca-
sível estimar a mão de obra familiar rão a energia pessoal para realizar esse
disponível, e assim por diante. empreendimento. Para que eles estejam
motivados a experimentar algo novo, é
Entrevista semiestruturada e fundamental que seus objetivos e aspira-
conversa descontraída ções estejam contemplados no desenho
dos sistemas e na seleção das espécies.
A fim de complementar os outros mé-
todos, uma entrevista semiestrutura- Assim, o diálogo com a família agricultora
da ou conversa descontraída e contex- deve iniciar-se com uma conversa sobre
tualizada no local do agricultor muitas seus objetivos, sua vocação e seus so-
vezes é mais eficaz do que pedir que nhos, preferencialmente envolvendo os
o mesmo responda a um complexo diferentes membros da família: mulheres,
questionário. Durante essa conversa, a homens, jovens e idosos. Isto ajudará a
escuta sensível e atenta faz toda a di- contemplar as necessidades diferentes
ferença. Um ambiente de confiança e dos integrantes da família no desenho dos
cumplicidade traz à tona muitas infor- sistemas e seleção de espécies e aumen-
mações que não apareceriam na frieza tará a chance dos agricultores se envolve-
de um questionário. Para tanto, uma rem profundamente com a proposta.
visita com a apresentação do técnico,
uma conversa sobre o trabalho a ser Primeiro, devemos perguntar o que
realizado, sobre a família, sua origem, os membros da família gostariam de
sua história, etc., vai abrindo portas e fazer com a sua área, qual sua visão
criando um ambiente favorável para o para a propriedade como um todo e
aprofundamento da relação entre téc- para áreas específicas (incluindo APP
nico e agricultor por meio de um clima e RL). É útil entender não só o que se
de confiança mútua. quer plantar e produzir, mas também
sua visão de futuro para aquela área.

O diálogo é a principal Desde o início, o processo de planejamen-


ferramenta para um to e desenho dos sistemas e construção
bom diagnóstico. das soluções técnicas deve ser feito
junto com o agricultor ou quem efe-

54
Como fazer Sistemas Agroflorestais para restauração

tivamente trabalha na terra, toma as Acesso a Recursos e Estratégias de


decisões e é impactado por elas. Nes- Modos de Vida
se processo, essas pessoas poderão
propor formas de alcançar seus objeti- Neste ponto, busca-se compreender
vos e implementar sua visão, ao mes- se, e como, as pessoas usam os dife-
mo tempo em que o técnico traz in- rentes recursos para alcançar seus ob-
formações e ideias novas sobre como jetivos e implantar sua visão de futuro,
viabilizar aqueles objetivos na prática e até que ponto estas estratégias es-
e como garantir as outras funções am- tão tendo êxito ou não. Assim, deve-
bientais que a área deve desempenhar se identificar como a falta de acesso
em conformidade com a legislação. ou má utilização dos recursos podem
aumentar a vulnerabilidade dos agri-
Em seguida, deve ser feito um levanta- cultores. É importante observar tam-
mento dos recursos – e o acesso da fa- bém se as diferentes estratégias de
mília a estes recursos – na propriedade e utilização dos recursos estão deixando
na microrregião. Isto ajudará a construir os agricultores mais ou menos vulne-
o conhecimento sobre as principais vul- ráveis a certos riscos e ameaças como,
nerabilidades das famílias, mas também por exemplo, mudanças do clima e
levantará algumas potencialidades que eventos extremos, flutuações de mer-
às vezes nem a própria família percebia. cado (preços de produtos e custos de
insumos que sobem e descem), ata-
Para saber sobre os objetivos da família que de pragas e/ou doenças, mudan-
agricultora, sugere-se indagar sobre ças de políticas públicas ou privadas.
as seguintes questões:
A análise de recursos permite um diá-
logo a respeito das tendências ao
Qual é o desejo da família agricultora? longo do tempo, seja de aumento ou
O foco do SAF é mais voltado para: diminuição, de cada recurso individual-
• Conservação/restauração? mente e da base geral dos recursos.
• Segurança e soberania alimen- Esta análise permite avaliar os impactos
tar e nutricional? das atuais estratégias de uso do solo,
• Retorno econômico? das consequências de diferentes tipos
• Ou uma combinação destes ob- de manejo e de possíveis mudanças
jetivos? de rumo.
• Qual é a vocação das pessoas
que vão trabalhar com SAF? Nesta seção serão explicados os diferentes
• Que espécies os agricultores tipos de recursos, principalmente com
desejam produzir? foco nas suas implicações para o manejo
agroflorestal. Estes conceitos de recur-

55
Como fazer Sistemas Agroflorestais para restauração

sos foram desenvolvidos originalmen- cies e a complexidade do sistema de pro-


te por pesquisadores do Instituto para dução estão diretamente relacionados a
Estudos do Desenvolvimento – IDS no esses recursos, principalmente à disponi-
Reino Unido147,33 como parte da Aborda- bilidade de mão de obra e ao acesso ao
gem de Meios de Vida Sustentáveis128. conhecimento. A quantidade e qualida-
de da mão de obra disponível será fator
RECURSOS HUMANOS determinante para desenhar e decidir
sistemas e práticas de manejo condi-
Recursos humanos incluem conheci- zentes com a realidade da família. Por
mento, habilidades, saúde e outros ele- exemplo, em casos onde há pouca mão
mentos menos concretos porém impor- de obra, devem ser priorizadas espécies
tantes como, por exemplo, fé, esperança, mais facilmente manejadas segundo as
solidariedade e espiritualidade. habilidades e possibilidades dos mem-
bros da família. Além disso, se os agri-
O desenho do SAF, a escolha das espé- cultores tiverem conhecimento sobre as
Foto: Daniel Vieira espécies e práticas agroflorestais, estes
terão mais segurança e habilidade para
intervir no SAF e, portanto, mais chances
de sucesso no final das contas.

A fim de identificar as potencialidades


de intervenção nos SAFs, é importante
perguntar:

• Quem vai fazer os trabalhos de


plantio? Qual o tempo disponível?
• Quem vai fazer os trabalhos de
manejo? Qual o tempo disponível?
• Qual a condição física dos
trabalhadores? Quais as suas
habilidades?
• Há pessoas em condições de
beneficiar os produtos?
• As pessoas que intervirão no
SAF tem conhecimento sobre as
espécies e práticas agroflorestais?

56
Foto: Daniel Vieira

RECURSOS SOCIAIS

Os recursos sociais, que dizem respeito à como a ATER e crédito rural, ações de so-
relação da família agricultora com um co- lidariedade (mutirões, práticas de ajuda
letivo (comunidade local, regional e socie- mútua), apoio do coletivo, etc.
dade), também condicionam o sucesso
ou não do empreendimento agroflores- Para identificar os aspectos relaciona-
tal. Esses recursos incluem a organização dos a esse tipo de recurso, sugere-se
social (grupo, associação ou cooperativa), no diagnóstico indagar sobre as se-
representação, acesso a políticas públicas guintes questões:

• Qual o grau de organização social da família agricultora?


• Há acesso a políticas públicas relacionadas diretamente ou
indiretamente aos SAFs? (ex: crédito, compra antecipada, distribuição
de sementes de mudas).
• Há acesso ao serviço de ATER? Qual a frequência e tipo de assistência
na atuação do técnico junto à família?
• Há atividades de cunho solidário, como mutirões, ajuda mútua, troca
de diárias, etc.?
• Há alguma ação em que se identifica apoio do coletivo à família
agricultora? (ex: alguém da comunidade representa o agricultor em
feiras).
• Há envolvimento em esferas de participação social (comitês, comissões,
fóruns, etc.)?

57
Como fazer Sistemas Agroflorestais para restauração

RECURSOS NATURAIS de espécies importantes para a suces-


são naquele local, quando a resiliência
Recursos naturais são tudo aquilo que está baixa e há predominância de gra-
vem da natureza e podem estar dispo- míneas exóticas na área.
níveis em diferentes medidas às pes-
soas que habitam uma área, incluindo Algumas plantas indicadoras permitem
ar, água, plantas, animais, solos, luz avaliar as condições do solo. A guanxu-
solar, dentre outros. Entender o esta- ma (Sida rhombifolia), por exemplo,
do e a disponibilidade desses recursos indica solo compactado. O sapé (Impe-
nos permitirá analisar as principais rata cilindrica), o capim rabo de burro
limitações e potencialidades da área (Andropogon bicornis) e a samambaia
como fator decisivo para a escolha de (Pteridium sp.) são indicadores de so-
espécies e desenho de sistemas ade- los ácidos e degradados. A trapoera-
quados às condições ambientais lo- ba (Commelina erecta), a beldroega
cais no momento da intervenção. (Portulaca oleracea) e o joão gomes
(Talinum patens) são plantas que indi-
Nas iniciativas de restauração ecológi- cam solo com fertilidade média a alta.
ca, é particularmente relevante anali- Muitos agricultores sabem afirmar pela
sar o estado em que se encontra a ve- presença de determinadas espécies se
getação que ocorre espontaneamente, aqueles solos serão produtivos ou não
assim como as condições do solo, a para as culturas agrícolas, portanto
fim de introduzir espécies adaptadas esta informação deve ser valorizada. É
a essas condições e que possam pro- útil fazer um levantamento das culturas
duzir sem depender de grande volume adaptadas ao ecossistema regional, ou
de insumos externos. A vegetação que presentes nas propriedades da região,
se desenvolve plenamente em solos observando condições de microclima
conservados nos trará a referência de específicos da propriedade em ques-
que situação de biomassa e estrutura tão, além das variedades desenvolvidas
do SAF poderemos alcançar. Para tal, por órgãos de pesquisa e do conheci-
precisamos avaliar a resiliência ecoló- mento tradicional com capacidade de
gica da área, o que diz respeito à ca- adaptação e alta produtividade.
pacidade de regeneração e estágio de
sucessão natural da vegetação nativa Conhecer as fontes locais de nutrientes
pela presença de regenerantes (se- (calcário, pó de rocha, esterco, cinzas,
mentes ou mesmo raízes vivas). Esta pó de serra, subprodutos de agroindús-
avaliação apontará para a necessidade tria – torta de mamona, casca de café,
de enriquecimento e manejo por capi- etc.) para suprimento de nutrientes
na seletiva e poda, quando a resiliên- dos plantios é fundamental para o pla-
cia está média ou alta, ou introdução nejamento do SAF, podendo baratear

58
Como fazer Sistemas Agroflorestais para restauração

e potencializar o desenvolvimento das vizinhança ou microrregião (semen-


plantas, e inclusive, condicionar o tipo tes, mudas, rizomas e estacas) pode-
de SAF mais adequado e manejo para rá reduzir substancialmente os custos
aquele contexto. Entretanto é impor- de implantação dos SAFs e ao mesmo
tante notar que algumas espécies nati- tempo aumentar a diversidade de es-
vas dos biomas considerados não acei- pécies a serem introduzidas. Portanto,
tam adubação excessiva. Por estarem é aconselhável mapear bem a localiza-
“adaptadas” aos solos ácidos e de pou- ção destas fontes assim como a época
ca fertilidade. O pequi (Caryocar brasi- de produção de sementes, de forma a
liense), por exemplo, não tolera calcário inserir a coleta destes materiais como
no momento do plantio de suas mudas. parte obrigatória do planejamento.

Levantar os possíveis materiais de pro- Perguntas importantes sobre o am-


pagação presentes na propriedade, biente local e recursos naturais:

• Qual é a precipitação média no local?


• Em quais meses se concentra o período chuvoso e de plantio?
• Há presença de vento predominante? Qual a direção deste vento? Em
que época?
• O solo está degradado ou não? Até que ponto?
• Qual o nível de fertilidade?
• Quais culturas estão produzindo na região em condições ambientais
similares?
• Quais espécies ocorrem espontaneamente em ambientes degradados?
• Qual a possibilidade de conexão com fragmentos florestais?
• Há presença de vegetação nativa nas proximidades?
• Há presença de regeneração natural ou não?
• Qual a intensidade desta regeneração?
• O terreno encharca ou não?
• O terreno é declivoso ou não?
• O solo é compactado ou não?
• O solo é bem drenado ou não?
• Há fonte de água próxima?
• Há fonte de nutrientes nas proximidades (calcário, pó de rocha, pó de
serra esterco, subprodutos de agroindústria, cinzas)?
• Há fonte de materiais de plantio nas proximidades (sementes, mudas
e estacas)?
• A propriedade está adequada às normas ambientais?
• Foi realizado o Cadastro Ambiental Rural?

59
Como fazer Sistemas Agroflorestais para restauração

RECURSOS FÍSICOS RECURSOS FINANCEIROS

É preciso também colher informações Os recursos financeiros dizem res-


sobre os bens físicos, como instala- peito à capacidade de investimento,
ções, equipamentos e ferramentas. custeio, recursos de “poupança“, que
Essas informações também ajudarão às vezes podem ser animais ou árvo-
na escolha das espécies, no desenho, res madeireiras, ou fontes de renda,
implantação e manejo do SAF. Por acesso a crédito e acesso ao mercado.
exemplo, se há pouca mão de obra, Além do transporte, distância do mer-
mas há uma roçadeira, o tamanho da cado e condições das vias de acesso,
área e o tipo de manejo podem ser é relevante também conhecer as de-
bem diferentes do que com a mesma mandas do mercado.
mão de obra escassa e sem disponi-
bilidade do equipamento. Da mesma Fazer um estudo das cadeias curtas
forma, a presença de energia elétrica de comercialização (de mercados lo-
aponta para a possibilidade de proces- cais) é excelente opção, e pode ser
samento de produtos como, por exem- realizado nas principais feiras das ci-
plo, polpa de frutas congelada, o que dades e povoados próximos, além de
seria inviável se tal recurso não fosse mercados e comércios de hortaliças
disponível, e a disponibilidade de água e frutas, por meio de levantamen-
em abundância para irrigação amplia to dos seguintes tópicos: produtos
muito a possibilidade de cultivar hortali- existentes e demandados, preço de
ças e frutíferas exigentes em água. venda, volume de venda, padrão de
qualidade, demandas não atendidas.
Perguntas importantes sobre recur-
sos físicos:

• Quais as principais
instalações e equipamentos
disponíveis na propriedade?
(cercas, galpões, água
encanada, luz, etc).

• Quais ferramentas e
equipamentos estão
disponíveis, tanto para
produção, quanto
armazenamento e
processamento de produtos?

60
Como fazer Sistemas Agroflorestais para restauração

Este levantamento deve dimensio- Com base nas informações levantadas


nar o mercado local, ou seja, enten- no diagnóstico, é possível identificar
der o tamanho da demanda, oferta, onde estão as maiores vulnerabilida-
preço, e indicar estratégias de co- des na utilização de recursos e estraté-
mercialização e logística de entrega gias de meios de vida, assim como as
da produção. potencialidades que frequentemente
são pouco aproveitadas. Estes devem
Perguntas importantes sobre acesso ser os principais fatores a serem con-
a mercados: siderados para a tomada de decisão
na próxima etapa de planejamento. A
• Como as pessoas acessam intenção é desenhar sistemas e solu-
o mercado: feiras, venda ções que reduzam a vulnerabilidade
direta ao consumidor, socioambiental e também econômica,
mercados institucionais e garantam que as diferentes funções
em programas do governo sociais e ambientais previstas para
(p.ex. PAA, PNAE)? propriedades rurais sejam cumpridas.
• Qual a distância desses No final das contas, a conversa deve
mercados? tocar em como os diversos recursos
• Como são as condições de (humanos, sociais, naturais, físicos,
transporte e das vias de financeiros) podem ser gerenciados
acesso? de tal forma que o aumento (ou a di-
• Quais produtos tem mais minuição) de um determinado recur-
aceitação no mercado? so não prejudique a base dos outros
• Onde os produtos seriam recursos como um todo.
comercializados?
• O preço deste produto Associado ao diagnóstico, é recomen-
no mercado compensa os dado conhecer experiências inspira-
custos, incluindo mão de doras sobre restauração com SAFs, de
obra, insumos e outros? preferência por agricultores na mesma
• Qual o volume demandado região. A fim de motivar os agricultores
de cada produto (local e para implantação de SAFs, é estratégico
regional)? implantar pequenas áreas experimen-
• Qual o preço de venda pago tais planejadas de maneira conjunta, ou
ao agricultor? (tanto para mesmo iniciar pelo enriquecimento de
vendas diretas como para quintais, para só então expandir para
outros revenderem). áreas maiores. Esta estratégia reduzirá
• Qual o padrão de qualidade os riscos associados a tais iniciativas e
comum ao produto? aumentará a possibilidade de adapta-
ção e ajustes dos sistemas.

61
Como fazer Sistemas Agroflorestais para restauração

3.2 Tomada de decisão no nível da paisagem para simular cenários de desenvolvi-


mento e facilitar planejamento e to-
As iniciativas de restauração e con- mada de decisão sobre uso do solo no
servação devem ocorrer muito além nível de uma paisagem, de um estado
da propriedade, pois os impactos e ou de uma região.
interações entre os fatores de degra-
dação e variáveis ambientais ocorrem O LDSF é uma dessas ferramentas
no nível da paisagem, de bacias hidro- que utiliza tecnologia de ponta para
gráficas, ou até mesmo de microrre- avaliar e informar o grau de degrada-
giões. Nesta escala, é preciso adotar ção e restauração de uma determina-
estratégias de gestão participativa de da área e auxiliar a tomada de deci-
recursos naturais envolvendo os di- são sobre os usos do solo, de forma
versos atores presentes naquele con- a permitir o monitoramento e avalia-
texto e respaldada por informações ção de impactos123.
confiáveis a respeito dos diversos
usos do solo e seus impactos em ter- Outra ferramenta é o LUMENS32 que au-
mos de serviços ambientais e fatores xilia na negociação e tomada de decisão
socioeconômicos. Existem algumas simulando, por meio de modelagem, di-
ferramentas e métodos que podem ferentes cenários de desenvolvimento
ser extremamente úteis para apoiar numa determinada região e suas pro-
processos de negociação e tomada de váveis consequências, o que permite
decisão sobre uso do solo. avaliar os custos/benefícios (trade-offs)
em termos de indicadores de serviços
Uma metodologia desenvolvida pela ambientais, incluindo carbono, biodi-
UICN chamada ROAM121 (Metodolo- versidade e recursos hídricos124.
gia de Avaliação de Oportunidades de
Restauração), é muito útil para mape-
ar oportunidades e definir prioridades Para maiores informações
de restauração em nível subnacional sobre estas e outras
ou nacional por meio de um proces- ferramentas e metodologias,
so de concertação entre os diferentes consulte a Caixa de
atores envolvidos. Ferramentas de Apoio à
Negociação do ICRAF124.
O ICRAF desenvolveu ao longo dos http://blog.
anos um conjunto de ferramentas que worldagroforestry.org/
combinam métodos avançados de index.php/2013/12/20/
sensoriamento remoto com metodo- negotiation-support-toolkit-
logias participativas associadas tam- for-learning-landscapes/
bém à ciência de tomada de decisão

62
Foto: Daniel Vieira

Como fazer Sistemas Agroflorestais para restauração

63
4. Planejamento e
desenho dos sistemas
agroflorestais

A fim de planejar sistemas agroflorestais dadas ou concluem seu ciclo de vida,


que consigam equilibrar as funções deixam como resultado os benefícios
sociais e ambientais, precisamos com- de sua presença. Estes benefícios in-
preender melhor os caminhos aponta- cluem todo o material deixado por ela
dos pela própria natureza. A sucessão no solo e os resultados das interações
ecológica é a mola propulsora para o com outras espécies vegetais, animais
desenvolvimento dos ecossistemas e microbianas, que resultam na dispo-
e avança no sentido de aumento dos nibilização de nutrientes e melhoria
recursos para a vida. É o caminho de das condições do solo, tanto em ter-
retorno do ecossistema após um dis- mos de estrutura quanto de fertilida-
túrbio ou degradação. de e umidade.

Neste processo, diferentes conjuntos Cada espécie ocupa um estrato, equi-


de espécies se sucedem ao longo do valente a um andar na vegetação,
tempo. As espécies surgem, se desen- que refere-se à sua altura em rela-
volvem, se estabelecem, se reprodu- ção às outras plantas e necessidades
zem e morrem, transformando o am- que a espécie tem de receber luz do
biente para as próximas espécies que sol quando adulta. Plantas do estrato
as sucederão. Essa dinâmica se dá em emergente necessitam de luz direta
função das espécies terem diferentes durante o dia inteiro em grande ex-
ciclos de vida e necessidades ecofisio- tensão da copa, ao passo que plantas
lógicas (condições ambientais propí- do estrato alto toleram sombras oca-
cias para o seu desenvolvimento – luz, sionais por alguns momentos do dia.
umidade, temperatura, nutrientes, Plantas do estrato médio toleram um
etc.), e capacidades de colonização pouco mais de sombreamento e as do
de ambientes. As espécies com ciclos estrato baixo vão bem com sombre-
de vida similares formam os grupos amento mais intenso, sendo capazes
sucessionais. Ao interagir com o am- de realizar a fotossíntese com luz fil-
biente elas desempenham diferentes trada pelas plantas dos estratos mais
funções e o modificam. Plantas que altos. Quando diferentes espécies de
duram menos tempo se desenvolvem diferentes estratos são combinadas,
juntamente com plantas que vivem otimiza-se a ocupação do espaço e
mais tempo, e quando aquelas são po- permite-se o melhor aproveitamento

64
Sucessão agroflorestal no Cerrado baseada nos
sistemas desenvolvidos por Ernst Götsch

dos recursos (água, luz, nutrientes e se “choque” de luz direta apenas para
organismos “companheiros”, como induzir a floração, podendo logo após
fungos e bactérias benéficos). Assim, voltar a se abrigar sob a sombra do
é possível ter mais sucesso no estabe- dossel rebrotado, produzindo seus
lecimento dos SAFs. frutos plenamente. Isso significa que
muitas vezes, dependendo do clima
Há ainda que se considerar, em ter- a que pertence, é preciso se pensar
mos de necessidade de luz do sol, a mais nas mudanças que a floresta (ou
dinâmica da floresta de onde a espé- a agrofloresta) naturalmente realiza
cie é nativa e com ela co-evoluiu por ao longo do ano do que numa taxa
milhares de anos. Por exemplo, em estática de percentagem de sombre-
um clima com estação seca muito amento designada para uma espécie
definida, a floresta é decídua e as es- de tal vegetação.
pécies de dossel tendem a perder as
folhas. Em consequência, as plantas Outras espécies são típicas de flores-
dos estratos médio e baixo recebem tas que sofrem regularmente muitos
muito mais luz direta e adequam-se distúrbios, por exemplo, por estarem
fisiologicamente a essa dinâmica. O localizadas próximas a rios, onde os
cafeeiro, por exemplo, necessita des- ventos são constantes. Normalmente,

65
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

essas espécies são de estrato médio exigentes em solos com alta fertilida-
ou baixo, mas necessitam de abertu- de, e há aquelas que se desenvolvem
ras regulares do dossel, como a jabu- bem em solos considerados pobres.
ticabeira (Myrciaria cauliflora). Há plantas que necessitam de bastan-
te água disponível e outras adaptadas
Portanto, precisamos considerar o ci- a condições restritas de disponibilidade
clo de vida e o estrato que cada plan- de água. Em regiões com pouca água
ta irá ocupar para planejar os SAFs por longos períodos, como é o caso da
de forma que sejam eficientes, prin- Caatinga e do Cerrado, há plantas que
cipalmente no desenvolvimento das acumulam água em sua estrutura e, as-
plantas que atendam os objetivos da sim, são adaptadas a estas condições e
família agricultora. ajudam as outras plantas também a se
desenvolverem. Muitas plantas nativas
Além de diferentes necessidades de luz, são mais adaptadas a estas condições
as plantas também têm diferentes exi- e portanto podem contribuir para o su-
gências com relação à fertilidade do solo cesso dos SAFs. Assim, dependendo do
e disponibilidade de água. Há plantas contexto e das principais limitações e

Figura 7: planejar bem a estratificação significa otimizar


recursos: água, luz e nutrientes.

66
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

potencialidades encontradas em cada • Funções socioambientais da


situação, opta-se por determinadas área escolhida
combinações de espécies, ou arranjos. APP, RL, quebra-vento, área de pro-
dução, faixa entre duas áreas produti-
A presença de espécies herbáceas e vas. O desenho e escolha das espécies
arbustivas (que podem ser agrícolas também estão condicionados à fun-
ou nativas) é muito importante para ção da área escolhida. Áreas com fun-
o estabelecimento de árvores a partir ção prioritária de preservação (APP)
de sementes, pois funcionam como devem ser manejadas com operações
viveiro natural. É o caso, por exemplo, menos impactantes e exigem presen-
do abacaxi, da mandioca, do feijão de ça marcante de espécies nativas.
porco e do feijão guandu, conhecidas
por “plantas cuidadoras” ou “plantas- • Conexões dentro da paisagem
mãe”. Podemos utilizar espécies alta- Observar onde há fragmentos de
mente eficientes na produção de bio- vegetação nativa e tentar conectar
massa como fontes de matéria orgâni- essas áreas com desenho de SAFs
ca a ser concentrada para melhorar a que facilite a movimentação de ani-
fertilidade e dinamizar a vida do solo mais silvestres, crie conexões entre
e manter a umidade para as outras es- fragmentos de vegetação nativa e
pécies na sucessão ecológica. aumente os benefícios dos serviços
ecológicos para os SAFs como, p.ex.
Assim, no planejamento e desenho dos controle natural de “pragas” e pro-
SAFs, devemos estar atentos a como as dução de matéria orgânica. Assim,
espécies e suas diferentes funções são procure estabelecer os SAFs a partir
distribuídas no espaço e ao longo tempo. das bordas dos fragmentos, de onde
O desenho dos sistemas deve ser feito a fica mais fácil colonizar áreas altera-
partir dos aprendizados e observações das. Observar, nesse caso, a neces-
no diagnóstico socioambiental e obede- sidade de realizar poda na borda da
cer algumas orientações para cada um mata para evitar influência das ár-
dos passos apresentados a seguir. vores velhas sobre as jovens do SAF.
O material da poda da borda deve
4.1 Seleção e planejamento da área: ser utilizado para cobrir o solo da
localização na paisagem e elementos do nova área adjacente plantada.
desenho
• Sol
Primeiro, o planejamento deve conside- Deve ser observada a direção do
rar, para qualquer área onde será feita a sol no posicionamento dos SAFs
intervenção, qual é o seu papel e ligação para que as espécies que mais
com outros elementos, incluindo: precisam de luz aproveitem mais

67
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

horas de sol e as espécies que que mesmo a pouca água retida


precisam de mais sombra no iní- no solo possa ser mantida. Outra
cio fiquem protegidas por outras estratégia é o uso de quebra-ven-
plantas nas horas de sol mais forte, tos, muito importantes para reduzir
geralmente do meio dia à tarde. perdas de umidade nos sistemas.
Por exemplo, quando há canteiros
ou ilhas de hortaliças numa borda • Declividade
de um SAF, estes devem estar ini- Observar a direção e grau do decli-
cialmente no lado que recebe o ve e planejar os SAFs de forma a fa-
sol da manhã e as plantas maiores cilitar o plantio, manejo e colheita.
devem ocupar o lado do canteiro É importante observar também o
mais voltado para o sol da tarde. É efeito da declividade com relação
importante lembrar que algumas à incidência da luz solar (direção
dessas irão demorar para crescer do sol). No Brasil (e no hemisfério
por ter o ciclo mais longo e não sul em geral), faces de morros vol-
chegarão a atrapalhar as hortaliças tadas para o norte recebem mais
de ciclo mais curto. Outro exemplo sol no inverno e encostas voltadas
é com relação ao plantio de esta- para o sul recebem mais luz no ve-
cas, que devem apontar para o sol rão. A fim de evitar a erosão, é re-
poente (oeste), já que a incidência comendável trabalhar com curvas
dos raios solares será paralela à es- de nível e terraços, que podem ser
taca e portanto sua superfície será longos ou curtos e, principalmen-
menos queimada pelo sol forte. te, a cobertura do solo com maté-
ria orgânica de forma completa e
• Água generosa.
Observar a direção em que a água
corre, possíveis pontos de erosão dicas
Em áreas declivosas, a água
e formas de desviar a água, quan- práticas
infiltrará mais no solo e os
do necessário, e assim aumentar a nutrientes serão retidos se fo-
infiltração no lugar, incluindo ter- rem feitos terraços pequenos
raços ou pequenas bacias que con- ou em curva de nível, ou seja,
tribuem para que a água infiltre e perpendicular (atravessado)
permaneça no terreno. Adicional- em relação à direção da água,
mente, canaletas podem ser cons- no terreno como um todo.
truídas para drenar água quando A matéria orgânica também
for necessário. Onde há maior ne- deve ser organizada de for-
cessidade de água, principalmen- ma a reter a água de chuva,
te no período da seca, concentrar seguindo a curva de nível.
mais matéria orgânica, de forma

68
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

• Condições do solo: umidade embora, até que as plantas


Verificar a textura, se os solos são fechem os estômatos.
mais arenosos ou mais argilosos.
Os solos arenosos são mais drena- Estômatos: Pequenos orifícios
dos e os solos mais argilosos retêm presentes nas folhas por onde
mais água e por isso encharcam a planta realiza as trocas gaso-
com mais facilidade. É importante sas e água com o ambiente.
ainda observar também o teor de
O vento também pode transportar
matéria orgânica. Solos considera-
insetos, como mosca branca, e se-
dos bons, com alto teor de matéria
mentes de espécies não desejadas
orgânica, costumam ser mais es-
no sistemas, portanto, proteger as
curos, ter cheiro característico (de
plantas e a área do vento forte é
húmus, neutro e agradável) e sua
muito importante. Um bom quebra
estrutura geralmente é granular, o
vento pode aumentar de forma sig-
que contribui para o solo ser fofo e
nificativa a produção de uma área
poroso. Outro aspecto importante
agroflorestal ou de horticultura.
é observar se há sinais de compac-
tação. Solos que sofreram mecani-
• Fogo
zação periódica podem apresentar
Se for o caso, observar de onde pode
o chamado “pé de grade”, que é a
vir fogo e planejar os sistemas com
camada compactada a 20 a 30 cm
aceiros (faixas capinadas) e cercas
abaixo da superfície do solo. Existem
vivas para impedir a passagem do
métodos simples de avaliação das
fogo, preferencialmente compostas
condições de solo que não necessi-
de espécies que dificilmente quei-
tam de análise laboratoriais caras e
mam. Alguns exemplos de espécies
podem ser realizados no próprio lu-
com essas características são o ave-
gar entre técnico e agricultor13.
loz (Euphorbia tirucalli), janaúba (Sy-
nadenium grantii), diferentes tipos
• Vento
de agaves (piteira, sisal), orapronobis
Observar principalmente o(s) lado(s)
(Pereskia aculeata), margaridão (Ti-
de onde vêm os ventos predominan-
thonia diversifolia), palma forrageira
tes e mais fortes para colocar barrei-
(Opuntia fícus indica) e sabiá (Mimo-
ras de vento prioritariamente nestes
sa caesalpiniaefolia), dentre outras.
lados e plantar as espécies mais sen-
síveis ao calor atrás de outras plantas
• Logística
mais resistentes, de forma que fi-
Diz respeito ao acesso à – e dentro
quem mais protegidas destes ventos.
da – área para trazer insumos e es-
O vento pode quebrar plantas ou
coar produtos. Observe qual será
causar estresse hídrico, pois leva a

69
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

o local de entrada e saída da área de mão de obra para manejo e as


e como a produção será escoada, principais funções daquela espécie
inclusive se será preciso haver fai- como parte do sistema (adubação,
xas para trafegar máquinas. Plane- produção de biomassa, frutas, som-
je estrategicamente de modo que bra, etc.).
haja o mínimo de pisoteamento
e trânsito de máquinas pela área Espaçamento: como regra geral, res-
destinada ao plantio. peitar o mesmo espaçamento reco-
mendado para cada espécie agrícola
• Estratégia de modos de vida (principalmente frutíferas) de quando
Qual será o impacto na vida das são plantadas em monocultura.
pessoas ao trocar um sistema de
produção por outro, uma espécie Seguem algumas dicas práticas sobre
vegetal por outra no desenho? espaçamento:
Como cada escolha afetará os re-
cursos e as vulnerabilidades da • Para áreas com baixa fertilidade,
propriedade ou da família identi- recomendam-se espécies “adu-
ficadas no diagnóstico? A seleção badeiras” em alta densidade e
de espécies e práticas de manejo as árvores frutíferas deverão ser
devem pensar não só no ganho plantadas com menor espaçamen-
econômico ou ambiental (p.ex. to, já que as árvores serão menos
carbono e biodiversidade), mas exuberantes que em terras de alta
também na resiliência geral do sis- fertilidade;
tema, na saúde das plantas e dos • Quando houver pouca quantidade
animais (criados e silvestres) e no de certas sementes ou mudas de
bem estar das pessoas envolvidas. espécies consideradas preciosas,
plantar estas espécies no espaça-
Para determinar o melhor espaça- mento definitivo;
mento e adubação para cada espécie • Quando há pouco material de pro-
ou técnica de estabelecimento, é im- pagação de uma espécie (semen-
portante levar em conta os diversos tes e/ou mudas) indica-se plantar
fatores levantados durante o diagnós- uma área menor porém mais com-
tico, principalmente: a fertilidade do pleta, a não ser que aquela espécie
solo, disponibilidade de material de consiga se espalhar bem e ocupar
plantio (sementes, estacas, mudas), os espaços deixados vazios;
fontes de matéria orgânica (folhas, ga- • Não se preocupe em plantar denso
lhos, madeira) e adubos (esterco, cinza, demais se tiver possibilidade de ma-
composto, pó de rocha, pó de serra e nejo de raleamento. Considere, ain-
etc.), bem como a disponibilidade da, que haverá raleamento natural

70
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

feito por formigas, cupins, lagartas grandes quantidades de adubo


e outros organismos; para produzir bem, é possível que
• Evitar juntar espécies que ocupam não seja a espécie mais adequada
o mesmo estrato (espaço vertical para aquele local naquele momen-
relativo à necessidade de luz) ao to. Em muitos contextos, optar por
mesmo tempo; espécies menos exigentes pode
• Deixar espaço suficiente entre li- ser escolha menos arriscada. As
nhas de plantas (árvores e outras) espécies mais exigentes podem
para permitir o manejo; ser incorporadas na medida em
• Dimensionar canteiros, ilhas ou que a fertilidade do solo vai me-
núcleos de acordo com as pesso- lhorando;
as que irão manejá-los (alcance do • Planejar adubação de forma que
braço); diferentes espécies consigam
• Árvores e arbustos considerados aproveitar o adubo em diferentes
ótimos produtores de biomassa momentos. Por exemplo: hortali-
podem ser plantados mais próxi- ças, seguidas por outras herbáce-
mos a outras árvores que perma- as, arbustos e árvores;
necerão mais tempo no sistema e • A médio e longo prazo, o melhor
que crescem mais devagar (madei- adubo para restauração dos solos
ras de lei, frutíferas) contanto que é a própria vegetação picada sobre
estes produtores de biomassa pos- o chão, principalmente a madeira,
sam ser podados periodicamente. cuja decomposição, com a ajuda
de fungos, bactérias e insetos, for-
Com relação à adubação, seguem mais necerá os nutrientes necessários
algumas dicas: para manter a produtividade da
área;
• Em APPs, deve ser utilizada aduba- • É preciso sempre pensar
ção orgânica e técnicas agroeco- qual planta, ou con-
lógicas para controle de pragas e junto de plantas,
doenças; cumprirá o papel
• A adubação deve levar em conta de adubadeira
a fertilidade do solo, as exigências em diferentes
das plantas e a sua disponibilidade momentos
na propriedade ou vizinhança; do desenvol-
• Deve ser avaliado até que ponto o vimento futuro do
investimento no adubo será com- sistema.
pensado pelo aumento da pro-
dutividade daquela espécie. Ge-
ralmente, se uma espécie requer

71
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

dicas
práticas Adubação
Uma prática utilizada tanto nas áreas alagadas como nas áreas mais se-
cas é a “adubação orgânica”, como faz o agricultor Luizão. Essa aduba-
ção é feita por meio do acúmulo de matéria seca no pé da árvore. “A
rodinha é pra ficar úmida. Isso é adubação verde, com feijão-de-porco e
essa cama de capim. Quando a gente coloca a cama no chão eles cres-
cem mais rápido”. A adubação é feita nos pés das árvores mesmo quan-
do elas ainda são mudas.

O agricultor aproveita suas viagens à feira da cidade para obter a serra-


gem que compõe sua adubação. A serragem ou pó de serra é colocada da
forma que sai da serraria, sem necessidade de fermentação, “joga aí no
pé que ela curte por conta própria. Esquenta o pé, quanto mais crua ela
vier, mais desenvolve a planta, ela vai engrossando. Quanto mais esquen-
ta, menos aparece o cupim e a formiga, eles não resistem lá dentro. No
buriti, no cupuaçu, todas elas crescem rápido com este adubo. A laranja
que não gosta muito não”.

O capim que cresce ao redor da planta e a adubação verde são capina-


dos periodicamente para compor a adubação. “Quando eu capino jogo
tudo em cima. A época boa é a época chuvosa, que aproveita isso aí tudo.
Na chuva, puba [fermenta] e desenvolve a planta. Na época da seca dei-
xa parado”. Na época da seca não se faz capina. Por isso, nesse tempo
a adubação vai se decompondo e diminuin-
do de tamanho. “Aí chega a chuva e eu
capino, antes de esmorecer. Capino só
ao redor da planta. Entre as plantas
deixo à vontade. Quanto mais deixar
capim perto, mais aguenta na seca.
O capim que está do lado é melhor,
mas a serragem também é boa”.

Luiz Pereira Cirqueira – Assentamento


Dom Pedro, São Félix do Araguaia – MT.
Fonte: Agricultores que cultivam árvores no Cerrado145.

72
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

4.2 Seleção de espécies conforme a disponibilidade e qua-


lidade da mão de obra disponível;
Espécies mais adequadas para determinados • Tenha potencial de acesso a mer-
contextos cado, principalmente quando este
é um objetivo;
Algumas espécies são especialmente • Se encaixe bem com outras espé-
estratégicas para a restauração com cies no consórcio em termos do es-
agroflorestas porque apresentam ca- paço que ocupa ao longo do tem-
racterísticas que potencializam a che- po e do seu ciclo de vida.
gada de outras espécies, melhoram as
condições do solo e favorecem a dis- Algumas espécies multifuncionais são
ponibilidade de água. apresentadas na lista geral de espé-
cies indicas para restauração no Cer-
A fim de garantir que os SAFs consi- rado e Caatinga (veja o Quadro 03 na
gam equilibrar as diferentes funções seção 5.4).
sociais e ambientais, é importantíssi-
mo incluir no desenho inicial dos sis- A escolha das espécies deve aconte-
temas espécies que cumpram com os cer de maneira compatível com as
critérios abaixo. Quando há espécies condições do local, assim como dos
que cumprem com diversos destes interesses e demandas com os agri-
critérios, estas são consideradas es- cultores. Por exemplo, em áreas onde
pécies chave. há alagamento, é importante que as
espécies escolhidas sejam tolerantes
Assim, devem ser priorizadas espécies ao encharcamento. Se o foco do siste-
que: ma, além da restauração, for gerar re-
torno econômico, é preciso escolher
• O agricultor deseja cultivar, ou espécies que tenham potencial de
seja, espécies que ele tenha afini- mercado. Se o solo está degradado, é
dade ou gosto; necessário selecionar espécies espe-
• Se desenvolvam e produzam bem cialmente eficientes para recuperar a
naquele lugar, considerando con- fertilidade do solo, e assim por diante.
dições de clima, solo, luminosida-
de, água, insumos disponíveis; Espécies que apresentam estratégias
• Apresentem alta capacidade para de armazenamento de água são espe-
melhorar o solo e o ambiente, de- cialmente indicadas para condições ex-
sempenhando múltiplas funções tremas de déficit hídrico, ou seja, para
em diferentes momentos (curto, os biomas Caatinga e Cerrado, onde o
médio e longo prazo); período de estiagem é definido e ex-
• O agricultor dê conta de manejar tenso. Plantas suculentas, que são

73
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

túrgidas e que armazenam água em sua para os animais e plantas, e mesmo para
estrutura como os cactos (palma, man- as pessoas, e mantêm o verde na paisa-
dacaru, xique-xique), são fonte de água gem onde todo o resto é cinzento.

Palma forrageira na Caatinga. Mandacaru ao centro. O verde na Caatinga seca.


Fonte: site maisbahia.com.br - https://goo.gl/ygQTtI Fonte: http://www.panoramio.com/photo/61423522

Outras plantas apresentam estrutu- apresentam essas estruturas subter-


ras em suas raízes, que funcionam râneas chamadas de xilopódio e que
como verdadeiras caixas d´água. O as ajudam a sobreviver mesmo em
mamuí (ou jaracatiá), o umbu e o ca- condições de falta d’água por longos
já-mirim são algumas espécies que períodos.

Raiz do umbuzeiro. Fonte: site maisbahia.com.br - https://goo.gl/ygQTtI Xilopódio: verdadeiras caixas-d´água. Fonte: https://goo.gl/0x4Q0z

74
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

No Cerrado, as palmeiras armaze- (Attalea oleifera), o coquinho azedo


nam água em seus caules e folhas, (Butia capitata), o coquinho babão ou
trazendo o verde para a vegetação jerivá (Syagrus romanzoffiana), baba-
na época de estiagem. Exemplos de çu (Orbignya speciosa), guariroba ou
palmeiras que ocorrem no Cerrado gueroba (Syagrus oleracea), brejaúba
são o buriti (Mauritia flexuosa), a ma- (Astrocaryum aculeatissimum), juçara
caúba (Acrocomia aculeata), o indaiá (Euterpe edulis), dentre outras.

Área com grande concentração de Palmeiras Juçara (Euterpe Edulis) contribuem para
Foto: Henrique Marques aumentar a resiliência em épocas de estiagem no Cerrado. Sítio Gerânium - DF.

75
Foto: Andrew Miccolis

Troncos de bananeira cortados ao meio e dispostos de forma organizada no solo. Sítio Semente – DF.

As bananeiras também são muito efi- eucalipto, a ingazeira, a mutamba, o


cientes em armazenar e disponibilizar margaridão, bem como algumas gra-
água para o sistema. Quando corta- míneas, e para a Caatinga, a gliricídia,
das, seu pseudocaule (tronco), se par- a algaroba, o sabiá, o sisal e a palma
tido ao meio e disposto sobre o solo, forrageira. Essas espécies podem ser
mantém a umidade, aporta nutrientes constantemente podadas e seu mate-
importantes como potássio e melhora rial, quando depositado sobre o solo,
a vida do solo. o protege contra a erosão e melhora
as características de fertilidade. Algu-
Outra característica desejável é a alta mas espécies com essas qualidades
produção de biomassa e boa res- são consideradas exóticas, ou seja, fa-
posta à poda. Algumas espécies são zem parte de outros biomas que não a
especialmente boas produtoras de Caatinga e o Cerrado, porém se adap-
biomassa para o sistema, que favo- tam muito bem às condições de clima
recem a ciclagem dos nutrientes, a e solo e podem ser extremamente
proteção e a vida do solo. Dentre elas, benéficas para melhorar os recursos
podemos citar, no caso do Cerrado, o para a vida no lugar.

76
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

dicas
práticas algaroba
A algaroba é uma espécie com grande capacidade de colonização e promove
rapidamente povoamentos homogêneos. Com o passar do tempo, o povo-
amento vai raleando sozinho, em que as plantas mais fracas e menores vão
morrendo. Moacir mostra como a algaroba em um curto espaço de tempo
consegue crescer. Em apenas um ano, após realizado o controle com foice,
e até motosserra, retirando todos os indivíduos, toda uma capoeira fechada
com altura média de quatro metros estava formada. Como elas possuem uma
alta capacidade de rebrota, o corte raso não é suficiente para eliminar todos
os indivíduos, e pela raiz elas retornam. Nesta área, a intenção é facilitar o
retorno natural das plantas nativas e realizar plantios.

A braúna é uma outra espécie que consegue conviver, ou competir com a algaroba,
ao contrário da maioria das outras espécies da região. Na área, alguns indivíduos de
braúna permanecem. A algaroba necessita de manutenção anual, caso contrário,
pode causar problemas de invasão a outras áreas. Essa espécie gosta de ambientes
úmidos, e as beiras de riachos e rios são dominadas quando ela aparece.

Em outra área, um raleamento foi feito objetivando estabelecer um sistema


silvipastoril, seguindo modelo da Embrapa Caprinos, com capim e algaroba.
Foram deixados pés de algaroba a cada 20 metros. Atualmente todo o mate-
rial advindo do raleamento está no chão, então está sendo esperado que boa
parte desse material se decomponha, melhorando a condição do solo.

O raleio anual já foi iniciado no sistema retirando as árvores maiores e mais ve-
lhas, e vendendo a madeira de algaroba, que possui boa saída de mercado. As
plantas mais novas também podem ser tiradas na manutenção. Após retirado
todo o material durante a manutenção, novas espécies podem aparecer e nes-
se momento o capim será semeado. Quando o capim estiver em estado mais
avançado, poderá ser feito o uso controlado da pastagem, soltando os animais.

No sistema, a algaroba vai gerar o principal produto para a alimentação dos


animais, a vagem. A colheita da vagem é feita quando ela já está no chão, po-
dendo ter caído ou ter sido derrubada sobre uma lona. O comércio da vagem
de algaroba já acontece na região. Um saco de vagem custa em média dez
reais (preço praticado em 2015), e uma planta com dez metros de copa pode
produzir até um saco e meio por temporada. A produção acontece na época
de seca. No espaçamento de mais ou menos 20 m entre plantas (50 plantas
por hectare), a partir do segundo ano, pode-se obter uma produção média de
50 sacos de vagem por hectare anualmente.

Moacir dos Santos – Centro de Treinamento do Instituto Regional de Pequena


Agropecuária Apropriada – IRPAA – Juazeiro – BA

77
Foto: Daniel Vieira

Algarobas – Prosopis juliflora.

Por outro lado, algumas destas espé- Quando o ambiente está degradado e
cies apresentam grande poder de co- há disponibilidade para manejos peri-
lonização, ou seja, podem se espalhar ódicos, é altamente recomendável o
pela paisagem, dominando o ambien- uso dessas espécies muito eficientes
te e inibindo que as espécies nativas como produtoras de biomassa, mes-
se estabeleçam, processo conhecido mo que consideradas potencialmente
como invasão biológica. Exemplos invasoras, desde que adequadamente
disso são o margaridão (Tithonia di- manejadas ou em áreas onde estas
versifolia) e a leucena (Leucaena leu- espécies já estejam bastante disper-
cocephala) no Cerrado, algaroba (Pro- sas. Nas proximidades de unidades de
sopis juliflora) na Caatinga, e algumas conservação e remanescentes de ve-
espécies de capins, como: Panicum getação nativa não invadida por estas
maximum, Brachiaria decumbens, espécies e em áreas onde o manejo
Andropogon gayanus. Por isso, reco- não pode ser intensivo, não se reco-
menda-se o uso dessas espécies com menda o uso dessas espécies com po-
potencial invasor apenas em sistemas tencial invasor para restauração com
onde será feito manejo, que significa agrofloresta. Recomendamos, nestes
podas periódicas na época adequada, casos, a busca por espécies nativas
evitando a invasão dessas espécies, também eficientes em produção de
com o devido controle. biomassa. Ainda que haja um manejo

78
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

adequado das espécies invasoras, Se houver componente animal, é im-


é difícil eliminar completamente o portante escolher espécies vegetais
risco destas espécies escaparem ao que sejam compatíveis com a cria-
controle e causarem o abafamento ção animal, ou seja, que apresentem
de plantas nativas em áreas vizinhas potencial forrageiro e que possam
de vegetação natural ou em áreas de se associar bem com as plantas for-
produção vizinhas onde estas espé- rageiras e espécies nativas. Além de
cies podem não ser desejadas. Por gramíneas, animais se alimentam de
isso devemos despender todo o cui- outras plantas, inclusive arbustivas
dado para o seu uso. e arbóreas. Por exemplo, o sansão
do campo é excelente espécie para
Considere ainda para a escolha das es- a criação de caprinos. Árvores que
pécies, aquelas com alta aptidão para apresentam sombra pouco densa, e
serem intercaladas com outras em que fixam nitrogênio, são excelentes
função de características como: perda para sombreamento de pastagens,
de folhas em determinados períodos em sistemas silvipastoris. Árvores
(o que permite maior entrada de luz cujos frutos alimentam animais,
para as plantas que estão abaixo de- como pequi, jaca, manga, baru e
las), sombreamento (intensidade e cajá, também são indicadas para se-
tipo), capacidade de rebrota, etc. rem associadas aos pastos.

Figura 8: Sistema silvipastoril –


o gado em pasto sombreado sente maior
conforto térmico e conta com alimentação variada.

79
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

gia pode ser uma demanda tanto dos


Para que não haja impactos agricultores quanto de mercado.
dicas negativos sobre o solo e vegeta-
práticas ção, em sistemas com animais O ideal é que as espécies apresentem
recomenda-se que as plantas usos múltiplos, ou seja, que possam
sejam podadas e oferecidas no servir tanto para alimentação huma-
cocho, sem o livre acesso dos na, quanto para alimentar animais,
animais sobre as plantas. Assim, pasto apícola, produção de biomassa,
fica mais fácil a coleta do ester- etc. O feijão guandu é um bom exem-
co animal, que deve ser retor- plo pois, além de produzir os grãos
nado ao local da produção para que podem ser consumidos verdes
boa ciclagem de nutrientes. ou maduros, fornecendo importante
Além de retornar os nutrientes, fonte de proteína para as pessoas,
o esterco disponibiliza-os rapi- também é apreciado pelos animais,
damente e também dinamiza a e sua biomassa, rica em nutrientes,
vida microbiana do solo. pode ser utilizada como adubo verde,
cobrindo e descompactando o solo.
Além disso, essa espécie é bastante
adaptada à estiagem e já faz parte
Ainda quanto à escolha das espécies,
da cultura do sertanejo. O sansão do
identifique culturas de ciclo curto que
campo é outra espécie de uso múlti-
possam ser cultivadas na “janela” de
plo conhecida também do sertanejo e
plantio da estação chuvosa, assim o
muito útil para alimentar animais, ge-
tempo de produção é ampliado, au-
rar lenha, fazer cercas e adubar o solo.
mentando o potencial produtivo e
de retorno financeiro. Por exemplo,
no Cerrado, o gergelim, o feijão, o
Adubo verde são plantas
amendoim, o sorgo, devem ser plan-
que contribuem com pro-
tados entre o meio e final da estação
dução de biomassa de alta
chuvosa, depois do milho, abóbora, e
qualidade para ser podada
outras, para que as sementes sejam
e utilizada como cobertura
colhidas no início da estação seca.
do solo. Como exemplos
podemos citar: feijão de
Há algumas culturas que apresentam
porco, feijão guandu, crota-
alto potencial energético, tanto for-
lária, mucuna, estilozantes,
necedoras de lenha, como o sansão
milheto, sorgo, mamona e
do campo, o carvoeiro, a mutamba, o
murici, quanto de óleos, como a ma- margaridão.
mona, o pequi, e outras. Gerar ener-

80
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

dicas
práticas umbuzeiro e licuri: plantas-chave no semiárido
O licurizeiro e o umbuzeiro são deixados no meio da roça porque são
adaptadas ao clima, podem oferecer frutos e favorecem outras espécies
“O povo costumava perfurar o tronco para tirar o broco do licuri. Os licu-
rizeiros eram furados para as pessoas verem se tinham uma espécie de
palmito. Os que tinham, eram derrubados, rachados e o palmito retira-
do. Depois batiam e faziam farinha pra comer. Era tempo de fome, não
tinha o que comer”. O óleo de licuri é usado para fabricação de sabão. Já
o umbuzeiro, apesar de ter uma copa densa e extensa, é muito bom para
alimentar os animais e as pessoas.

Alberto Cardoso de Souza – Comunidade Salgado, Casserengue – PB

É importante que a escolha das espé- Por exemplo, mulheres muitas vezes
cies seja adequada em termos socio- escolhem espécies diferentes das que
culturais para o contexto de agriculto- os homens escolheriam, como plan-
res familiares, por exemplo, espécies tas medicinais, certas alimentícias e
valorizadas pelos agricultores por mo- outras que servem para artesanato.
tivos culturais associados a múltiplas Todas essas possibilidades devem ser
funções155,156,157. Dê preferência para levadas em conta.
espécies já conhecidas e utilizadas
na região e para as quais assistência Veja na seção 5.4 algumas
técnica é menos essencial. Conside- espécies-chave para recupe-
re também espécies que apresentem ração de áreas degradadas
benefícios claros identificados pelos no Cerrado e Caatinga.
diferentes moradores da comunidade.

Umbuzeiro.
www.embrapa.br

81
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

4.3 Planejamento econômico ração florestal ou agroflorestas envol-


vendo plantio e manejo intensivos.
Uma vez escolhidas as principais es- O grande desafio de um bom plane-
pécies que se deseja plantar no SAF, jamento agroflorestal no contexto de
é possível iniciar o planejamento eco- áreas de proteção é encontrar certa
nômico. Para tal, é preciso valorizar seleção, composição e manejo de es-
e planejar o manejo dos diferentes pécies ao longo do tempo que permi-
produtos da biodiversidade, que per- tam manter as funções ecológicas exi-
mite retornar os custos necessários gidas e equilibrá-las com a produção e
à restauração ecológica e pode gerar os objetivos sociais planejados para a
bônus econômico, tanto no contex- área, incluindo o retorno econômico.
to da agricultura familiar quanto em
propriedades maiores em Reservas Os agricultores familiares que opta-
Legais e áreas produtivas, onde se rem por desenvolver um sistema agro-
queira aliar produção com conserva- florestal com objetivo principalmente
ção ambiental. econômico devem priorizar áreas
que não sejam APP e RL. No entanto,
Desde que os sistemas atendam aos quando se pretende aliar restauração
critérios ambientais, podem ser inclu- ecológica à produção, é possível fazê
ídas diversas espécies com função de -lo nestas áreas voltadas para preser-
gerar também outros benefícios para vação (APP e RL), conforme preconiza
a família, como segurança e soberania a Lei Florestal.
alimentar, remédios, fibras, energia
e materiais para construção (veja Se- 4.3.1 Passos no Planejamento Financeiro de
ção 2.4 sobre Benefícios). Com esse Empreendimentos Agroflorestais:
intuito, é importante incluir espécies
comerciais e com outras funções im- O processo de planejamento finan-
portantes para os agricultores nos di- ceiro de empreendimentos agroflo-
ferentes grupos sucessionais. restais é gradual, e depende também
da aprendizagem das técnicas agroflo-
A restauração ecológica das áreas restais. Com a finalidade de aumentar
de proteção em propriedades rurais a eficácia do planejamento e dar se-
pode ser realizada por meio de méto- gurança nas tomadas de decisão por
dos mais passivos e geralmente mais parte do agricultor, sugerimos os se-
baratos, como ações de preservação guintes passos básicos:
e proteção ambiental que permitam a
regeneração natural, ou mediante sis- • O diagnóstico socioambiental per-
temas mais ativos e geralmente mais mitirá conhecer as características
caros, como reflorestamento, restau- dos agricultores a serem atendidos

82
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

como: sua composição familiar, estratos, o espaçamento é definido


origem, disponibilidade de mão-de como se fosse apenas uma espécie.
-obra e aptidão agrícola; as carac- Já espécies de grupos diferentes
terísticas edafoclimáticas, infraes- podem estar próximas umas das
trutura e logística do local, avaliar outras. As espécies econômicas po-
a fertilidade e características físicas dem seguir o espaçamento geral-
dos solos, obter dados da preci- mente recomendado como se fos-
pitação anual e se há período de se em monocultivo, considerando
estiagem durante o ano, tempera- a ressalva das porcentagens de co-
tura média anual e os meses com bertura em função do estrato que a
temperaturas extremas, altitude, espécie ocupa. As espécies aduba-
ocorrência de ventos que venham deiras, inclusive arbóreas, devem
a causar prejuízos aos cultivos, ca- ser plantadas adensadas para que
racterísticas do relevo, qualidade e possam ser podadas, raleadas e in-
intensidade de luz ao longo do ano, corporadas como matéria orgânica.
distância das propriedades ao local
de comercialização dos produtos, • Calcular a demanda de mão de
verificar se as estradas são trafegá- obra, sazonalidade e a disponibili-
veis durante o ano todo. dade familiar. Montar um calendá-
rio indicando em que época do ano
• Após o diagnóstico socioambien- cada espécie produz e os respecti-
tal e econômico, montar a tabela vos tratos culturais.
de arranjo agroflorestal (conforme
explicação mais adiante) procuran- • Listar as atividades para as receitas e
do compor os grupos sucessionais custos, dados fundamentais para a
(ciclo de produção e estratos), com análise financeira. Para as receitas
espécies produtoras de biomassa (entradas) será necessário obter os
e espécies com objetivo comercial, preços de venda dos produtos dos
culturas agrícolas, entre outras. Se- SAFs e estimar sua produtividade
lecionar espécies de alta rentabili- em todos os períodos (Tabelas 2 e
dade (hortaliças, ornamentais, me- 3 apresentadas adiante). Para a ob-
dicinais, frutas e madeira) e listar as tenção dos custos (saídas) devem-
espécies indicando suas respectivas se listar todas as atividades que
utilidades e mercados em potencial. serão realizadas nos SAFs desde o
preparo de área, plantio, replantio,
• Elaborar um croqui, planta baixa do limpezas, manejo e manutenção
plantio, compondo o arranjo nos das espécies até a fase de colheita
espaçamentos e linhas. Para espé- e comercialização (Tabela 4).
cies do mesmo ciclo de produção e

83
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

• Obtenção dos coeficientes técni-


cos (CT): após detalhar as ativida-
des de campo para cada espécie do
SAF, deve-se estimar o tempo ne-
cessário para realizar cada ativida-
de listada em todos os momentos
que cada atividade ocorrer, sendo
definidos os coeficientes técnicos
para cada atividade de custo. Os
Sítio Semente – DF. Foto: Andrew Miccolis
coeficientes serão calculados para
as atividades considerando dados econômicas de forma a gerar me-
de mão-de-obra e de insumos. lhores fluxos financeiros, desde que
Para mão-de-obra, o tempo esti- mantendo as funções ecológicas.
mado será representado por diá-
rias (homem-dia), ou seja, quantas • Analisar a competitividade do em-
pessoas trabalharam em uma de- preendimento, comparando o cus-
terminada área (1 ha por exemplo) to de produção (R$/kg) e do preço
para realizar determinada ativida- de mercado (R$/kg) nos canais de
de (limpeza ou plantio, por exem- comercialização almejados.
plo) em um dia (Tabela 4). Caso o
agricultor utilize maquinário, o co- • Definir o capital financeiro necessá-
eficiente técnico será apresentado rio para investimento em produção,
em hora-máquina, e para os insu- instalações, máquinas e equipa-
mos, as unidades dos CT variam de mentos. E avaliar o tempo de retor-
acordo com cada produto (kg/ha, no do investimento (TRI), ou seja,
t/ha, l/ha, m3/ha, por exemplo). tempo necessário ao negócio até o
fluxo de caixa se tornar positivo.
• Para o registro e análises dos fluxos
financeiros dos dados, pode-se utili- • Definir as estratégias financeiras,
zar a planilha AmazonSAF, que pode técnicas e empreendedoras neces-
ser acessada no link apresentado sárias ao negócio, principalmente
mais adiante. Esta ferramenta per- para ultrapassar o ponto de equi-
mite modelar o arranjo agroflorestal líbrio em hectares, volume de pro-
mudando espaçamentos e culturas dução e vendas mensais.

Diagnóstico Planejamento de arranjos


Análise de Indicadores Decisões estratégicas

84
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

dicas
práticas o sistema “Casadão” para
transformação de pastos em SAFs
Foto: Abílio Vinícius
Para iniciar a transformação do
pasto em agrofloresta, não se per-
mite a entrada do gado. Após a
retirada dos animais, faz a roça de
toco, realizando a queimada du-
rante o veranico, que é o períodos
seco durante a estação chuvosa. A
experiência de plantio é a lavoura
de milho, mandioca, melancia e
outras plantas com ciclos bianuais.
Passou por plantas de ciclo inter-
mediário como o abacaxi, a bana-
na e o cajuzinho do Cerrado. Com a evolução do plantio, a produção de
frutas de árvores de ciclo longo como o cupuaçu, o cacau e o jatobá, além
das espécies madeireiras aparece.

Valdo utiliza o sistema de roça de toco avançando para o sistema com


árvores chamado localmente de Casadão. “A vantagem do Casadão é
ter coisa diferente ou ter finalidade comercial. Para o sistema e para ser
ecológico seria melhor nem roçar. A vantagem é econômica. Eu tenho
a mandioca, então tenho o saco de farinha, que hoje está custando R$
300,00. As vantagens das árvores são as frutas, a madeira também e,
para mim, ainda mais é o estudo. Eu estou vendo o desenvolvimento de
cada uma.(...)”

Valdo assim nos explica “Os espaçamentos no início eram maiores, hoje
eu mesmo uso o espaçamento zero por zero, variando conforme a finali-
dade do plantio. Buscamos trabalhar dentro dos princípios da agroecolo-
gia, utilizando adubação verde, trabalhando a decomposição dos restos
de culturas, compostagem, entre outras. No manejo buscamos evitar o
uso do fogo na época seca, e as práticas culturais da poda, roço, coroação
das mudas e a capina, apenas quando necessário”.

Valdo da Silva, agricultor, poeta e militante. Porto Alegre do Norte – MT.


Fonte: Agricultores que cultivam árvores no Cerrado145.

85
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

4.3.2 Planejamento do arranjo agroflorestal

Com base no diagnóstico participativo, a composição das espécies produtivas


realiza-se a composição do arranjo agro- nos diferentes ciclos e estratos flores-
florestal, organizando em um quadro tais, conforme ilustrado no Quadro 2.

Quadro 2: Exemplo de um planejamento de arranjo agroflorestal, contendo os grupos sucessionais


incluindo espécies para fins comerciais e funções ecológicas nos diferentes fluxos ou ciclos de produção e
estratos de vegetação.
Ciclo de
% de Até 6 10 a 20 20 a 50 Mais de
produção e 1 a 3 anos 3 a 10 anos
sombra meses anos anos 50 anos
Estrato

Mutamba Aroeira
Periquiteira (fruto e lenha) (mourão), Aroeira
(pau pólvo- Tamanqueiro Eucalipto (madeira)
Milho ou Mamão ou ma- ra) ou fumo Carvoeiro (madeira) ou Jatobá
Emergente 15%
sorgo mona bravo ou (lenha) Cinamomo ou
Eucalipto Cajá-mirim Mandiocão Ipê roxo ou
(mourão) (fruto e mou- Carvoeiro Pau rei
rão-vivo) (lenha)

Ingá de metro Abacate


Feijão de Mandioca, guan-
(fruto e lenha) Aroeira pimen- Indaiá ou Copaíba
Alto 35% corda ou du ou Banana
ou Banana teira (fruto) manga
caupi nanica
prata Jatobá (fruto)

Berinjela +
mudas de Mudas de ár- Urucum ou
Médio 45% Citrus Citrus Sapoti
árvores vores pitanga

Inhame ou Gen-
Açafrão
Abóbora gibre Jabuticaba Jabuticaba
(cúrcuma), ou Café ou helicô-
Baixo 80% + mudas de + mudas de ou Café ou Café
taioba ou café neas
árvores árvores
ou helicôneas

Fonte: construída pelos autores com base na abordagem de classificação em


grupos sucessionais em ciclos e estratos desenvolvida por Ernst Götsch.

86
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

O planejamento econômico do arran- cios e otimizará as receitas, uma vez


jo agroflorestal deve ser pensado de que poderá identificar quais as ativi-
forma que cada grupo contenha pelo dades mais custosas e em que mo-
menos uma espécie comercial, e que mento elas ocorrem, assim como os
possibilite uma produção escalonada períodos críticos de demanda de mão
e constante. Cada espécie ou cultura de obra, por exemplo. Com a visão de
agrícola deve formar uma camada ou futuro, pode-se corrigir ou até mesmo
estrato florestal. Estas camadas de ve- substituir atividades ou espécies que
getação formam a estrutura florestal não representam os anseios do agri-
que precisa ser planejada em termos cultor. Em relação ao planejamento
de manejo, colheita e sombreamento. das receitas, será possível observar se
Assim, a otimização do uso do espa- as expectativas do agricultor se reali-
ço e dos recursos ao longo do tempo, zam, ou seja, se as principais espécies
com diferentes estratos em cada gru- plantadas geram receitas suficientes
po sucessional, é a chave para manter para suprir os custos, e em que mo-
a viabilidade econômica do sistema. mento isto acontece.

4.3.3 Análise financeira Tomando por base o diagnóstico reali-


zado, o arranjo agroflorestal (Quadro 2),
A análise financeira começa antes os dados sobre produtividade, preço
mesmo de observarmos os resultados de venda de cada cultura, juntamente
numéricos. É preciso ter certeza que com os custos, insumos e serviços para
o SAF foi elaborado adequadamente, implantação e manejo do SAF, é possí-
seguindo os requerimentos sociais, vel realizar o cálculo dos indicadores
biofísicos e ecofisiológicos. Desta for- financeiros. Recomenda-se utilizar as
ma estaremos minimizando os resul- planilhas do programa Amazon SAF10,
tados indesejáveis provenientes de desenvolvidas pelos pesquisadores da
um projeto mal elaborado. Embrapa Marcelo Arco-Verde e Ge-
orge Amaro, que permitem analisar
Ao se realizar uma análise financeira, o fluxo de caixa e outros indicadores
o agricultor e técnico organizará me- financeiros.
lhor suas informações de campo por
meio de uma ferramenta de planeja- O fluxo de caixa completo é
mento de custos e receitas nas dife- calculado pela diferença de
rentes fases de desenvolvimento das todas as entradas e saídas,
espécies, desde o preparo da área, atualizados os valores e
plantio, manutenção até a colheita e acumuladas ao longo do
comercialização dos produtos. Desta tempo do projeto desejado.
forma, o agricultor evitará desperdí-

87
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

Esta ferramenta permite prever quais Os dados serão obtidos de três for-
as despesas necessárias para implan- mas: a) mensurando-se diretamente
tar o SAF, quando este terá retorno as atividades de implantação e ma-
financeiro e quais os investimentos nutenção dos SAFs; b) por meio do
necessários para garantir o sucesso e resgate de dados com técnicos e agri-
a continuidade do projeto. Com a aná- cultores; c) pela busca de informações
lise dos indicadores financeiros, o téc- bibliográficas. No entanto, é mais
nico e o agricultor poderão verificar a prático e um processo extremamente
rentabilidade e, consequentemente, a rico aplicar esta ferramenta num am-
viabilidade do seu projeto. biente de oficina, que propicia trocas
de conhecimento entre agricultores
Para maiores informações e técnicos presentes a respeito das
sobre análise financeira atividades dos sistemas de produção,
de SAFs e a ferramenta dos custos associados a elas, bem
AmazonSAF,consulte: como dos mercados e outros fatores
https://www.infoteca. relevantes para os agricultores.
cnptia.embrapa.br/infoteca/
bitstream/doc/1014392/1/
Doc.274ArcoVerde.pdf
Figura 9: Uma boa análise financeira depende de
Veja também as planilhas informações confiáveis sobre produção, custos
atualizadas no link: e receitas. Portanto, é essencial estimular os
agricultores a anotar estes dados num caderno. Isso
https://www.embrapa.br/ reduzirá consideravelmente a margem de erro dos
codigo-florestal/sistemas- indicadores financeiros.
agroflorestais-safs

88
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

Para análise de rentabilidade serão Nos exemplos que seguem, vemos o


considerados os fluxos de caixa de levantamento de preços de venda,
entrada (receitas ou benefícios prove- produtividade e custos associados ao
nientes de cada cultura que compõe o plantio e manejo de diferentes produ-
SAF) e saídas (custos para cada cultura tos dos SAFs:
que compõe o SAF).

Tabela 2 – planilha ilustrativa das informações dos preços dos produtos comercializados
Preço de Venda dos Produtos
Espécie
Produto Unidade Preço
Milho grãos de milho kg R$ 1.00
Feijão carioca grãos de feijão carioca kg R$ 10.00
Feijão guandu grãos de feijão guandu kg R$ 6.00
Mandioca raiz de mandioca kg R$ 0.70
Banana fruto de banana kg R$ 3.50
Urucum semente de urucum kg R$ 4.00
Curcuma (açafrão) pó de curcuma kg R$ 3.50
Café grãos de café saca R$ 432.00
Cajá mirim polpa de cajá kg R$ 10.00

Fonte: elaborada pelos autores utilizando AmazonSAF

Tabela 3 – Planilha ilustrativa da produtividade dos produtos ao longo do período de


avaliação do SAF
Período
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Produtos Unidade
grãos de milho Kg/ha 750.00
grãos de feijão carioca Kg/ha 1,000.00 200.00 300.00 100.00
grãos de feijão guandu Kg/ha 300.00 150.00
raiz de mandioca Kg/ha 4,000.00
fruto de banana Kg/ha 500.00 1,000.00 750.00
sementes de urucum Kg/ha 150.00 300.00 500.00 500.00
pó de curcuma Kg/ha 50.00 50.00 50.00 50.00
polpa de cajá Kg/ha 8.00 10.00 12.00 12.00 12.00 12.00 12.00

Fonte: elaborada pelos autores utilizando AmazonSAF

89
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

tabela 4 – Planilha ilustrativa com lista das atividades de custos de mão-de-obra e insumos
e seus devidos coeficientes técnicos durante o período de avaliação de uma das espécies
(banana) presentes no SAF.
Descrição Unidade Preço 1 2 3 4 5
Atividades 822.50 105.00 455.00 455.00 455.00
retirada de mudas homem/dia 70.00 2.50
balizamento homem/dia 70.00 0.25
coveamento homem/dia 70.00 6.00
plantio homem/dia 70.00 3.00

colheita homem/dia 70.00 1.50 1.50 1.50 1.50


adubação de cobertura homem/dia 70.00 5.00
manejo de poda homem/dia 70.00 5.00 5.00

Insumos 835.00 0.00 0.00 300.00 0.00


esterco de gado l 0.06 10,000.00 5,000.00
pó de rocha t 600.00 0.10
yoorin unid 45.00 3.00
calcário unid 20.00 2.00

Fonte: elaborada pelos autores utilizando AmazonSAF

A partir da definição do fluxo de caixa cos: a) Valor Presente Líquido (VPL), b)


anual do sistema, inicia-se a análise fi- Relação Benefício-Custo (B/C), c) Taxa
nanceira dos sistemas de produção uti- Interna de Retorno (TIR), d) Tempo de
lizando os seguintes indicadores técni- Retorno do Investimento (TRI)148, 85.

Sítio Semente – DF. Foto: Andrew Miccolis

90
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

principais indicadores para análise financeira


O Valor Presente Líquido (VPL) apresenta os valores líquidos do projeto atuali-
zados ao instante considerado inicial, descontando-se o investimento inicial do
projeto. Quando o resultado é um valor superior a zero, diz-se que o projeto apre-
senta viabilidade econômica. O VPL, por considerar o efeito do tempo em seu
cálculo e, com isso, o valor financeiro descontado, é sensível à taxa de juros.

O Valor Anualizado Equivalente (VAE) é a parcela periódica e constante, necessária


ao pagamento de uma quantia igual ao VPL. Quanto maior for o VAE calculado,
maior a viabilidade do projeto.

A Relação Benefício/Custo (B/C) indica o quanto os benefícios superam ou não


os custos totais. O critério para a condição de viabilidade do projeto, segundo
Börner (2009), é que o valor obtido seja maior ou igual ao valor do custo.

A Taxa Interna de Retorno (TIR) pode ser entendida como a taxa percentual do
retorno do capital investido. Se a TIR for maior do que a taxa de desconto exigida
pelo investimento, conclui-se pela viabilidade do projeto.

O Tempo de Retorno do Investimento (payback, em inglês) (TRI) é o tempo ne-


cessário para retornar o capital investido, ou seja, é o tempo decorrido entre o
investimento inicial e o momento no qual o lucro líquido acumulado se iguala ao
valor investido.

Fonte: adaptado de Arco-Verde e Amaro 2015148.

Para realizar a análise financeira, é jeto viável quando o VPL e o VAE são
importante observar e comparar os positivos, a relação B/C é maior que 1
resultados dos indicadores citados e a TIR é superior à taxa de mercado
acima, de forma conjunta, para me- utilizada. Já o TRI poderá variar de
lhor compreensão da situação finan- acordo com os dados do projeto, mas
ceira do projeto avaliado. Um dos de modo geral se espera que aconteça
erros mais comuns na elaboração de o mais rápido possível.
uma análise financeira é subestimar
os custos e superestimar as receitas. O que se poderia fazer para reduzir o
Podemos identificar tais erros ao lon- tempo de retorno do investimento?
go do fluxo de caixa e ao comparar os Podem-se elencar algumas práticas
resultados dos indicadores. de desenho e manejo nos sistemas
agroflorestais que poderiam atender
De forma geral, considera-se um pro- a este questionamento:

91
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

• Intensificar o uso de culturas anu-


ais nos modelos agroflorestais. De-
ve-se melhorar as práticas de ma- Sítio Semente – DF. Foto: Andrew Miccolis
nejo para cada espécie, otimizar o
uso de fertilizantes e mão-de-obra • Realizar uma detalhada análise
e selecionar variedades mais ade- técnica das espécies componen-
quadas para o local de plantio. tes dos SAFs, visando implantar os
sistemas em três ou quatro anos.
• Selecionar espécies perenes co- Desta forma, os custos de implan-
mercializáveis de alto valor, cujos tação e mão-de-obra empregada
produtos possam ser armazena- nos sistemas seriam melhor dis-
dos por longo período e que não tribuídos, contribuindo para o uso
sofram danos durante o transpor- mais intensivo das culturas anuais.
te. Desta forma pode-se desenhar
SAFs e definir a densidade dos • Desenhar e implantar aleias per-
seus componentes observando a manentes nos sistemas agroflores-
proporcionalidade entre as espé- tais visando a produção de culturas
cies de maior valor em relação às anuais durante todo o ciclo do SAF.
de menor valor econômico, respei-
tando as características edafocli- Além dos indicadores de viabilidade
máticas, biofísicas e demais crité- financeira, outro indicador impor-
rios para sua seleção. tante é o ponto de equilíbrio do em-
preendimento agroflorestal, o qual
• Aumentar a frequência do plantio permite definir estratégias para o de-
das culturas anuais. Normalmente senvolvimento do empreendimento
o plantio de culturas anuais é viável até que este ultrapasse o ponto em
até o terceiro ano de implantação que os custos são pagos e o agricultor
dos SAFs, uma vez que o crescimen- comece a receber os primeiros Reais
to das copas das espécies arbóreas de lucro.
aumenta o sombreamento sobre as
culturas agrícolas. Neste caso, de- 4.3.4 Análise integrada dos indicadores
ve-se otimizar o plantio de espécies financeiros
anuais principalmente nos primei-
ros três anos de implantação, des- São escassos os estudos científicos que
de que seja realizada uma avaliação apresentam e analisam conjuntamen-
das condições de solo com a finali- te estes diversos indicadores financei-
dade de suprir as necessidades nu- ros considerados mais importantes.
tricionais destas culturas. Esta análise integrada dos diferentes

92
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

indicadores torna-se fundamental Tabela 5 abaixo, apresentamos alguns


para permitir um melhor planejamen- estudos que analisaram os principais
to econômico dos sistemas em rela- indicadores financeiros: VPL, B/C, TIR
ção aos objetivos dos agricultores. Na e TRI em quatro SAFs diferentes.

Tabela 5 – Valor Presente Líquido (VPL), Relação Benefício Custo (B/C), Taxa Interna de
Retorno (TIR) e Tempo de Retorno do Investimento (TRI) de diferentes modelos agroflorestais
avaliados durante 20 anos.

INDICADORES SISTEMAS AGROFLORESTAIS


FINANCEIROS SAF 1 SAF 2 SAF 3 SAF 4
Valor Presente Líquido (VPL) R$ 3.134,00 7.006,00 29.453,00 90.400,00
Relação Benefício Custo (RB/C) 1,46 1,89 1,6 2,4
Taxa Interna de Retorno (TIR) % 14,83 23,00 28,66 75,00
Tempo de Retorno do Investi-
11 8 7 3
mento (TRI) anos
Arco-Verde Anna Kharine
Arco-Verde Arco-Verde
REFERÊNCIAS (2015). Dados (2016). No
(2008)9 (2008)9
não publicados prelo

Obs: todos os indicadores foram avaliados para uma área de 1 ha.


SAF 1: localizado em Roraima, composto por castanheira, pupunheira, cupuaçuzeiro, bananeira, ingazeiro, arroz, mandioca.
Preparo da área: gradagem e correção da fertilidade e acidez do solo
SAF 2: localizado em Roraima, composto por castanheira, pupunheira, cupuaçuzeiro, bananeira, ingazeiro, milho, mandioca.
Preparo da área: sistema de plantio direto
SAF 3: localizado em Rondônia, composto por castanheira, pupunheira, cupuaçuzeiro, arroz, mandioca
SAF 4: localizado no Pará, composto por andiroba, paricá, cupuaçu, açaí, pimenta-do-reino

Na Tabela 5 acima, pode-se observar tempo, nível de mecanização, perdas


uma ampla diversidade de valores e reduções na produtividade dos culti-
em cada um dos indicadores financei- vos devido a fatores climáticos, pragas
ros analisados. O VPL dos SAFs apre- e doenças, armazenamento e trans-
sentados variam de pouco mais de porte dos produtos, bem como pro-
R$ 3.000,00 no SAF 1 a aproximada- cessos de comercialização. É preciso
mente R$ 90.000,00 no SAF 4. A fim saber, ainda, qual foi o tempo e a área
de melhor entender tais diferenças, considerados no projeto, e correlacio-
é preciso considerar as atividades nar com o valor do projeto.
de preparo de solo e manejo das es-
pécies, a intensidade e demanda de O VPL apresentará o valor para todo o
mão-de-obra utilizada ao longo do período avaliado, mas também pode-

93
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

mos observar o VAE, que apresentará maior proporção de cupuaçuzeiros em


o valor médio em cada ano do proje- relação aos demais componentes.
to. O VAE ajuda a melhorar o entendi-
mento do projeto mas não podemos Em Machadinho d´Oeste, Rondônia,
crer que um VAE positivo ocorrerá em 2003, foram avaliados três arran-
desde o primeiro ano até o seu final. jos agroflorestais por um período de
Para se obter informações detalhadas 15 anos42. O primeiro, T1, foi compos-
é preciso analisar o Fluxo de Caixa atu- to por castanha do Brasil, banana, pi-
alizado anual e acumulado. menta do reino e cupuaçu, o segun-
do, T2, por freijó, banana, pimenta do
Outros estudos apresentam valores reino e cupuaçu e o terceiro, T3, por
comparáveis a estes da Tabela 5. Em pupunha, banana, pimenta do reino
2000, três modelos agroflorestais fo- e cupuaçu. Com uma taxa de juros
ram analisados no projeto RECA (Re- de 10% ao ano, estes autores calcula-
florestamento Econômico Consorcia- ram VPL de R$ 35.883,65 por ha, R$
do Adensado), em Nova Califórnia, no 5.334,85 por ha e R$ 6.584,64 nos
estado de Rondônia102. Utilizando uma sistemas T1, T2 e T3, respectivamen-
taxa de juros de 9% e período de ava- te. Dos modelos estudados, o T3 foi
liação de 20 anos, foi calculado um VPL o que apresentou o VPL semelhante
de R$ 11.761,89 por hectare e B/C de ao SAF 2 na Tabela 5 e o resultado do
1,92 para o modelo agroflorestal com- modelo T1 foi mais próximo do SAF 3.
posto, em um hectare, de 238 plantas Os valores encontrados para a B/C nos
de cupuaçuzeiro, 60 plantas de pupu- arranjos T2 e T3 foram de 1,44 e 1,51,
nheira e 60 plantas de castanheira, sen- respectivamente, semelhantes aos
do cerca de 60% superior ao resultado resultados encontrados para o SAF 1
encontrado para o SAF 2 (mencionado (1,46) e SAF 3 (1,6) e inferiores ao SAF
na Tabela 5). Os outros dois SAFs estu- 2 (1,89), ao passo que o T1 apresentou
dados, compostos pelas mesmas espé- valor superior, de 4,08. Segundo os
cies descritas anteriormente, mas com autores, o menor lucro nos sistemas
diferentes densidades, apresentaram T2 e T3 comparado com o obtido no
VPL de aproximadamente R$ 3.600,00 T1 pode ser atribuído à baixa produ-
por hectare, podendo ser compara- ção nos primeiros anos em função de
dos aos resultados obtidos no SAF 1 combinações de espécies em termos
na Tabela 5. Para estes dois últimos de densidade e espaçamento.
SAFs, no estudo realizado no projeto
RECA102, os valores da B/C foram de Outro estudo avaliou sistemas agro-
1,56 e 1,52. Os melhores resultados, florestais localizados no município
tanto de B/C como do VPL, foram ob- de Tomé Açu, Pará, com uma taxa de
tidos nos modelos agroflorestais com juros de 8% durante o período de 15

94
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

anos149. Estes SAFs, compostos por o somatório das receitas acumuladas


pimenta-do-reino, maracujá, cacauei- supera o somatório dos custos acu-
ro, cupuaçuzeiro, mogno e castanhei- mulados. O TRI do SAF 2 na Tabela 5
ra, obtiveram valores de VPL de R$ foi de 8 anos, ou seja, nos primeiros
15.373,11 por ha e B/C de 1,87. Es- sete anos de implantação e manejo os
tes valores foram simulados para um custos foram superiores às receitas. A
modelo agroflorestal selecionado por partir do oitavo até o vigésimo ano do
produtores rurais residentes no mu- estudo, todos os custos anuais foram
nicípio do estudo. Esta mesma expe- recuperados pela geração de receitas.
riência apresentou TIR de 87% para o Observa-se que o agricultor recupera
mesmo período de 15 anos, pratica- todo seu capital investido cinco anos
mente quatro vezes maior ao encon- antes no SAF 4 (TRI de 3) em relação
trado para o SAF 2, mas bastante pró- ao SAF 2 (TRI de 8 anos). Já o TRI nos
ximo ao valor calculado para o SAF 4, modelos agroflorestais estudados no
localizado na mesma região do Pará. município de Benevides, Pará, variou
A Taxa Interna de Retorno é a taxa do de acordo com o modelo agroflores-
projeto, que é comparada com a taxa tal150. No modelo composto por ca-
de mercado, utilizada em todas as caueiro e pupunheira, o TRI foi de seis
fases do projeto. Busca-se encontrar anos e, no SAF com cacaueiro e açai-
valores da TIR superiores à taxa de zeiro, o TRI foi de nove anos.
mercado (rendimento da poupança, Diante do exposto, para melhor com-
fundos de investimento ou outros). preender os resultados de uma aná-
lise financeira, é preciso “conversar”
A TIR nos modelos agroflorestais es- com os indicadores financeiros, ou
tudados no município de Benevides, seja, é necessário entender o conjun-
Pará, com taxa de juros de 8%, variou to dos indicadores para verificar a via-
de acordo com o modelo agroflores- bilidade financeira e estudar possíveis
tal150. No modelo composto por ca- mudanças para otimizar as receitas e
caueiro e pupunheira, a TIR foi de reduzir os custos do projeto ao mes-
28,38 % e no SAF com cacaueiro e mo tempo em que se busca atender
açaizeiro, a TIR foi de 19,50 %. os objetivos e as condições do agri-
cultor (por exemplo, em relação à
Um dos indicadores mais questiona- disponibilidade de mão de obra), que
dos por produtores e técnicos é o Tem- também podem mudar com o passar
po de Retorno do Investimento (TRI), do tempo.
ou seja, em quanto tempo o projeto
irá se pagar ou ainda podemos dizer Assim, é importante lembrar que,
quando o projeto passará a ser ren- além dos indicadores financeiros, de-
tável. Este momento ocorre quando vemos observar no Fluxo de Caixa a

95
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

distribuição das receitas e custos ao onde a dificuldade de transporte limita


longo do tempo, evitando-se períodos o acesso ao comércio ou em que a fa-
sem a geração de receitas e/ou gran- mília não conta com dinheiro disponí-
des variações nas receitas e custos vel o tempo todo para comprar estes
para o agricultor. alimentos na cidade. Estas culturas
anuais também podem ter grande
Com base em todos estes estudos po- importância cultural e para viabilizar
demos concluir que SAFs podem ser a criação de animais, os quais são es-
economicamente viáveis, no entanto, senciais para alimentação da família e
esta viabilidade varia enormemente também como “poupança” ou reser-
em função da composição de espécies va em tempos de escassez ou emer-
e dos arranjos escolhidos. gências.

Mas será que o sistema considerado Uma vez realizado o planejamento do


mais rentável financeiramente é, ne- arranjo agroflorestal considerando os
cessariamente, a melhor opção para o objetivos do agricultor, a disponibili-
agricultor? dade de mão de obra, o retorno finan-
ceiro esperado e outros benefícios de-
No final das contas, a análise de via- sejados dos SAFs, passa-se para a fase
bilidade deve ser não apenas finan- de implantação.
ceira mas também social. Portanto,
é fundamental entender também em 4.4 Implantação
profundidade quais as questões mais
importantes para o agricultor, pois Nessa fase é importante organizar to-
em muitos casos estes indicadores fi- dos os materiais necessários, como
nanceiros podem não parecer muito sementes, mudas, estacas e ferramen-
favoráveis à primeira vista mas o que tas. É preciso identificar também quem
se produz no sistema e a forma de fa- vai participar do plantio (se será feito
zê-lo podem corresponder melhor às pela família agricultora, se será preci-
demandas e prioridades do agricul- so contratar mão de obra externa, se
tor. Por exemplo, em muitos casos o será realizado em mutirão). É muito
plantio de lavoura branca (p.ex. mi- importante a participação do técnico
lho, arroz, feijão) não parece muito que está orientando o agricultor na
atrativo do ponto de vista financeiro, atividade prática de implantação, pois
no entanto, pode ser extremamente é quando poderá ajudar mostrando os
interessante para a família pois garan- detalhes práticos. A implantação deve
te segurança alimentar e maior auto- ser realizada conforme as orientações
nomia, principalmente em situações dos seguintes passos:

96
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

4.4.1 Preparo: materiais, ferramentas e colher matrizes com características


mão de obra desejáveis como produtividade, rus-
ticidade, resistência a doenças, qua-
Coleta, aquisição, preparo de materiais de lidade do fruto, e assim por diante155.
plantio: sementes, mudas, estacas
Armazenamento de sementes
Os SAFs biodiversos e complexos re-
querem grande quantidade e ampla A melhor maneira de usar uma se-
diversidade genética de material mente é colocando-a na terra para
propagativo para plantio. Portanto, que produza mais sementes e possa
é preciso investir valores significati- ser multiplicada cada vez mais. To-
vos (que normalmente seriam usa- davia, se for necessário armazenar
dos para compra de materiais) na as sementes até a época de plantio,
coleta de sementes e estacas e pro- é importante estar atento para que
dução de mudas. Para tal, uma vez estejam em local arejado, fresco e
escolhidas as principais espécies a escuro. Garrafas PET (de plástico) são
serem plantadas, é preciso identifi- excelentes recipientes para acondi-
car a localização de matrizes (plantas cionar as sementes. O ideal é que a
mãe) consideradas boas em termos garrafa seja cheia com sementes até
de produção, qualidade dos fru- a tampa, assim ficará menos oxigênio
tos, adaptação às condições locais disponível na garrafa. Outra dica é co-
ou outras características desejáveis locar cinzas, pimenta do reino ou pó
para os SAFs e as pessoas. A fim de de algumas folhas secas repelentes
garantir o sucesso de plantios onde de insetos como eucalipto, gliricídia
somente alguns indivíduos perma- ou alfavaca. As sementes que apre-
necerão, após vários anos de manejo sentam dormência, que geralmente
e seleção natural, é preciso coletar têm a casca dura, como o tamboril,
sementes de diferentes indivíduos urucum, leucena, jatobá e carvoeiro,
de árvores (matrizes) em diferen- podem ser armazenadas por muito
tes condições, o que aumentará a tempo. Já as sementes que logo per-
variabilidade genética e, portanto, dem sua capacidade de germinação
a possibilidade do surgimento de (recalcitrantes), como a pitanga, a
plantas mais adaptadas ou com mais mangaba, o ingá e o ipê, não podem
características funcionais desejáveis. ser armazenadas por muito tempo e
Sempre que possível, recomenda-se devem ser plantadas logo após a co-
selecionar matrizes locais já adap- lheita, seja diretamente na terra, seja
tadas àquelas condições climáticas em saquinhos ou tubetes e mantidas
e de solos. Costuma-se também es- em viveiros de mudas155.

97
Foto: Andrew Miccolis

segundos (até que estalem) antes de


passar na água fria. Esse choque tér-
mico cria fissuras na casca, que facilita
a entrada de água para a germinação
da semente155.

Ferramentas adequadas

Boas ferramentas, bem afiadas e es-


colhidas de maneira correta para as
respectivas atividades, são essenciais
para um trabalho de qualidade, em
menos tempo e com menor esforço.
Utilizar a ferramenta de forma corre-
ta para o manejo agroflorestal tam-
bém é essencial. Por exemplo, um
facão mal amolado – ou mal utilizado
– pode aumentar muito o tempo para
se podar uma árvore, a tal ponto até
Quebra de dormência de sementes de inviabilizar a operação, e ao mes-
(escarificação e choque térmico) mo tempo danificá-la no processo, o
que pode prejudicar a rebrota e facili-
A fim de acelerar a germinação das tar a entrada de doenças, bem como
sementes que apresentam dormên- atrair insetos que podem causar da-
cia, tais como jatobá, tamboril, mu- nos à planta.
tamba, sabiá, leucena, carvoeiro,
dentre outras, é preciso fissurar ou As ferramentas geralmente utilizadas
romper a casca impermeável da se- na implantação são: facão, enxada,
mente para que a água possa entrar enxadão, picareta, alavanca, sacho,
para a parte interna da semente. Há rastelo, garfo, pá, foice e carrinho de
métodos físicos, ou mecânicos, e quí- mão. Entre as máquinas mais utiliza-
micos. Aqui vamos apresentar apenas das no preparo de áreas para SAFs,
alguns métodos físicos ou mecânicos. vale destacar: roçadeira, moto-en-
Uma possibilidade é dar um pequeno canteirador, tratorito, trator com sub-
corte na casca da semente com uma solador, trator com enxada rotativa,
tesoura de poda ou alicate, ou então trator com grade pesada. Serrote de
lixá-la manualmente ou no esmeril. poda, tesoura de poda e motosserra
Outra possibilidade é mergulhar as se- também poderão ser úteis na implan-
mentes em água fervente por alguns tação do SAF se for necessário podar

98
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

ou cortar árvores e arbustos presen- plo, quando se pretende realizar enri-


tes na área ou na borda. Um tritura- quecimento de capoeira com poda das
dor pode ser útil se houver material árvores, é importante realizar primei-
lenhoso para ser triturado e utilizado ro as operações de plantio das espé-
como cobertura do solo. Além dessas cies que ficarão de baixo do material
ferramentas, é fundamental também podado (por exemplo, sementes de
sempre utilizar equipamentos de pro- árvores, rizomas de banana e manivas
teção individual - EPIs, incluindo: lu- de mandioca que serão enterrados),
vas, botas, óculos, chapéu, perneiras caso contrário será necessário retirar a
onde há risco de picada de cobras. Em matéria orgânica depois da poda. No
situações onde será necessária poda caso de plantio de mudas de árvores, e
alta de árvores, é importante também também abacaxi, sisal, e estacas, deve
utilizar cordas e escada. ser feito após a poda para que não
sejam danificadas. Esta organização
Planejamento estratégico do trabalho das operações é particularmente im-
e técnicas: quem faz o que, sequência das portante de ser esclarecida nos casos
operações, logística da implantação. em que se pretende implantar áreas
em mutirões ou cursos, de forma que
Quem faz o que: para definir que as pessoas sejam mobilizadas para as
pessoa vai realizar que atividade, é operações que mais lhe cabem e no
importante levar em consideração a momento mais apropriado .
vontade da pessoa, as suas habilida-
des e condição física. Algumas opera- O que e como (logística da im-
ções requerem mais força física e ou- plantação): Garanta que todos os
tras mais atenção a detalhes. Quando insumos e ferramentas, máquinas e
se planeja e se esclarece de antemão equipamentos estejam à disposição e
todas as operações, então as pessoas próximos à área. As ferramentas de-
poderão identificar para qual ativida- vem estar afiadas e bem encabadas.
de se sentem mais aptas a contribuir. Quando há mudas para o plantio na
área, assegure-se de que estejam bem
Quando (sequência das operações): protegidas, na sombra, e que sejam
Há diferentes maneiras de realizar as molhadas no período em que a área
tarefas, todavia, algumas maneiras está sendo implantada. Certifique-se
trazem resultados com melhor quali- de que as sementes estejam acondi-
dade e menos trabalho. A ordem cor- cionadas, que não serão molhadas, e
reta das operações faz toda a diferen- nem ficarão expostas ao calor antes de
ça, pois evita retrabalho, desperdício ir para o chão. Manivas e rizomas tam-
de tempo e recursos, além de tornar bém deverão estar na sombra e em
o trabalho mais agradável. Por exem- local úmido antes de serem plantados.

99
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

4.4.2 Métodos para estabelecimento de SAFs

As seguintes técnicas podem ser utiliza-


das para estabelecer diferentes combi-
nações de árvores, grãos, raízes, horta-
Sítio Semente – DF Foto: Andrew Miccolis
liças e plantas adubadeiras, conforme
diferentes níveis de acesso a recursos, pode ser feita poda de raleamento e
e em diferentes contextos biofísicos. estratificação nas árvores, e cobertura
dos canteiros e caminhos com o mate-
Horta agroflorestal: canteiros de rial podado. Este também é o momen-
hortaliças com árvores to ideal para estabelecer outras árvores
desejadas no sistema, já que a poda
A implantação de hortas pode ser uma possibilita a entrada de luz e aporte de
ótima forma de estabelecer árvores, nutrientes. Esta estratégia é ideal para
principalmente em áreas degradadas, quem quer colonizar pastos ou outras
pois a grande quantidade de insumos áreas degradadas com árvores que
necessários para produzir hortali- normalmente teriam muita dificuldade
ças (mão de obra, adubo, água) cria de se estabelecer naquele local, des-
condições muito propícias para o de- de que haja acesso a insumos. É reco-
senvolvimento de mudas de árvores. mendado, também, nos casos onde há
Nesta técnica, as mudas ou sementes falta de mão de obra e/ou espaço para
de árvores nativas mais adequadas plantar hortaliças e árvores separada-
ao contexto local são plantadas dire- mente. Assim, a horta permite estabe-
tamente dentro dos canteiros, junto lecer as árvores que, quando podadas,
com as hortaliças, preferencialmente devolvem os nutrientes necessários
no mesmo momento, mas as árvores para produzir hortaliças novamente no
também podem ser plantadas após o futuro. No caso de plantio de hortali-
primeiro ciclo de hortaliças. ças a partir de sementes, é importante
observar que a cobertura de matéria
De modo geral, as hortaliças são pro- orgânica sobre o solo permita o desen-
duzidas por 1 ou 2 anos até que as volvimento das plantinhas, não abafan-
árvores nativas e frutíferas cresçam e do seu crescimento. Para tanto, quan-
sombreiem demais os canteiros. Nes- do houver muito material (biomassa
te momento, é possível introduzir es- de poda), que cubra bem o solo, reco-
pécies herbáceas tolerantes à sombra menda-se que seja afastado no local do
como salsinha, hortelã, taioba, cúrcu- sulco de semeadura ou que a camada
ma, gengibre, dentre outras. Caso se de cobertura seja suficientemente fina
queira voltar e reutilizar o mesmo espa- para que deixe as plantas recém-germi-
ço para hortaliças ou grãos, no futuro, nadas atravessarem.

100
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

Ilhas de fertilidade está sobre o solo (viva ou morta).


A retirada da matéria viva deve ser
Compostas de bananeiras, mudas ou criteriosa. Por exemplo, se a área
sementes de árvores nativas e exóticas tiver braquiária, primeiro corte as
(de acordo com espécies e em proporção folhas do capim rente ao chão e
adequada ao contexto específico), reserve. Depois, com uma enxada
hortaliças, mandioca (em situações de afiada retire apenas o rizoma (raiz
baixo ou médio acesso a insumos), le- esbranquiçada e mais grossa, en-
guminosas, trepadeiras. Esta técnica é tre as raízes e as folhas) e separe
composta pelas seguintes operações, para plantio posterior.
que devem ser realizadas seguindo al-
gumas orientações técnicas: 2. Preparo do berço: uma vez
a área limpa, raspe a terra da ca-
1. Preparo de área: no local onde mada superficial (numa área bem
será aberto o berço para formar a maior que a que vai usada para se
ilha, retira-se toda a cobertura que abrir o buraco) e separe num mon-
te, e então se abre o buraco com a
Foto: Andrew Miccolis cavadeira ou enxadão e coloca-se
em outro monte. Esse detalhe é re-
comendado porque a terra de cima
geralmente é mais fértil e rica em
matéria orgânica que a de baixo,
e é essa primeira terra que deverá
prioritariamente preencher o ber-
ço. A inclusão de adubo (esterco,
pó de rocha, calcário, etc.) deve ser
feito nos montes, ainda fora do bu-
raco, e então a terra é colocada já
adubada. O tamanho do berço va-
ria conforme o tamanho do torrão
da muda. Recomenda-se que seja
maior que o tamanho do torrão,
de maneira que em volta do torrão
possa ser colocada terra adubada.
Ao colocar a terra do lado do tor-
rão, é importante apertar com as
pontas dos dedos para a retirada de
bolsões de ar, que poderiam impe-
dir o desenvolvimento das raízes.

101
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

3. Plantio de mudas de árvores: nível do solo, como as cítricas, e


recomenda-se que o fundo do sa- outras um pouco abaixo, como as
quinho seja cortado com um facão palmeiras. Ao final, cubra o solo
afiado, assim, evita-se que a raiz, com matéria orgânica de modo a
que pode ficar enovelada no fundo manter a forma côncava, de uma
do saquinho, se estrangule com o bacia ou ninho, assim, a água po-
tempo. Quanto à profundidade de derá se acumular mais na direção
plantio da muda, em geral, o colo da muda. Para a cobertura, pro-
da muda (ponto de transição entre cure colocar troncos e galhos em
caule e raiz) deve ficar no mesmo contato com o solo e folhas por
nível que a superfície do solo ao cima dessa camada. Atenção para
redor. Algumas mudas preferem não amontoar a matéria orgânica
ser plantadas um pouco acima do no caule da muda.

102
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

4. Plantio da bananeira: neste contribui para adubação da muda.


caso, o tamanho do berço deve ser Em um plantio de mudas que será
maior, variando de 60 cm a 80 cm, feito em uma área juntamente
dependendo do tamanho do rizo- com sementes, é importante que
ma e da qualidade do solo. Solos as mudas sejam plantadas em pri-
mais fracos devem ter um berço meiro lugar, caso contrário, o revol-
maior e mais adubado. Após o vimento de solo pode prejudicar
plantio dos rizomas, o solo deve as sementes. Não se esqueça de
ser coberto com matéria orgânica marcar com uma estaca a muda e
(se for o caso onde havia braqui- também o berço onde foi plantada
ária, utilize as folhas do capim), a bananeira para fácil visualização.
sendo disposta no formato de um Aproveite o revolvimento de terra
ninho (veja ilustração). Os rizomas e adubação para incluir sementes
do capim, que foram separados, de árvores, hortaliças e/ou adubos
podem ser então utilizados no verdes. Para finalizar, cubra o solo
fundo dos berços das bananeiras, com matéria orgânica de modo a
assim o capim não volta a brotar e manter a forma côncava.

103
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

OBSERVAÇÕES
As bananeiras podem ser plantadas por muda originária de cultura de
tecidos em tubetes ou saquinhos, neste caso, é plantada assim como
muda de árvore, todavia um pouco mais abaixo que o nível da superfície
do solo, ou então pode ser plantada por mudas retiradas da touceira da
bananeira. Nesse caso podem ser dos tipos chifrinho, chifre ou rizoma,
e em todos eles, é importante fazer uma limpeza do rizoma, cortando
todas as raízes, e observando se há presença de broca (orifício feito por
larvas de besouro). Depois disso, no caso de chifre e chifrinho, corta-se a
parte aérea e planta-se o rizoma, tendo o corte que o separou da planta-
mãe voltado para cima. Se a muda for proveniente de um grande rizoma,
com vários olhos (ou gemas), este pode ser cortado em vários pedaços,
desde que permaneça pelo menos um olho em cada pedaço. Nesse caso,
deve-se plantar o olho (ou gema) voltado para baixo.
Foto: Fabiana Peneireiro.

Foto: www.agencia.cnptia.embrapa.br

Bananeira em Agrofloresta na
Aldeia do Altiplano, Brasília – DF.

104
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

5. Plantio de mandioca ou ma-


caxeira com árvores: no caso
de utilizá-la como criadoras de ár-
vores, o plantio da maniva deve se
dar de forma orientada, de maneira
que quando se colher a mandioca,
as árvores permaneçam na terra, não
sendo arrancadas. Para tanto, a ma-
niva, que deve ter aproximadamente
20 cm e conter pelo menos de 3 a
4 olhos (gemas), deve ser plantada
com a parte do pé da maniva para
baixo, inclinada a 45 graus. Faça
alguns piques (cortes) com o facão
para estimular o enraizamento (de-
senho). Atente para que a gema es-
teja orientada para cima.

As sementes das árvores que serão


criadas pela mandioca deverão ser
colocadas à frente da maniva.

105
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

6. Plantio de milho com árvores: quiabo, abóbora, pepino) e as se-


em situações em que há pouca mentes de árvores são colocadas
mão de obra e material para plan- na superfície cobrindo-as com um
tio de árvores por mudas, reco- pouco da terra adubada. Além de
menda-se estabelecer árvores com proteger as plântulas das árvores,
plantio direto por sementes no o milho e hortaliças também ser-
mesmo berço do milho. Primeiro vem como marcação para facilitar
realiza-se a capina, cava-se o berço encontrar e manejar as árvores
onde será plantado o milho, adu- plantadas. Incluir sementes de feijão
ba-se com esterco ou composto guandu na mistura das sementes é
e semeia-se o milho (2 sementes) indicado, pois quando o milho e as
na profundidade de 5 cm, e algu- hortaliças saem, o guandu continua
ma hortaliça mais rústica (maxixe, protegendo as arvorezinhas.
Foto: Andrew Miccolis

106
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

7. Para o preparo de canteiros verdes, feijão, batata-doce, con-


ou núcleos ou ilhas: a opera- forme o caso. Canteiro é uma faixa
ção segue a mesma lógica que a de plantio com formato alongado.
apresentada acima: limpar o terre- Núcleos apresentam formato cir-
no, separando a matéria orgânica, cular e têm uma área menor que
plantar mudas de árvores (se for o os canteiros. Geralmente se planta
caso) e afofar o canteiro ou núcleo no centro do núcleo uma ou algu-
juntamente com adubo. Cobrir o mas mudas de árvores, ou então
canteiro com a matéria orgânica, uma muda de banana, com ou não
plantar mudinhas de hortaliças uma muda de árvore, e no redor se
(se for o caso) e semear desco- plantam mandioca, sementes de
brindo pequenos sulcos (no caso árvores e plantas herbáceas (hor-
de hortaliças) ou com a ponta do taliças ou milho ou feijão ou feijão
facão (para sementes de árvores, de porco, conforme o caso). Ilhas
milho, e outras). Se não houver podem ser ainda menores que os
abundância de matéria orgânica núcleos, com uma árvore ou bana-
na área, preencher o canteiro com neira no centro e plantas herbáce-
sementes de hortaliças ou adubos as ao redor.

107
Foto: Andrew Miccolis

Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

Semeadura direta: o “plantio”


de árvores diretamente por sementes
pode ser feita em “muvuca” (diversos
tipos de sementes misturadas com terra
ou não, e/ou esterco para aumentar o
volume) sobre o solo preparado ou com
a ajuda da ponta do facão ou qualquer
outro implemento de plantio.

As espécies a serem semeadas devem


ser adequadas ao contexto local (ver
Foto: Andrew Miccolis
Seção 4.2). Sementes grandes, como de
manga, abacate, baru, tingui, são seme-
adas separadamente da “muvuca”. O
“plantio” de árvores por sementes pode
ser feito de maneira adensada, para de-
pois ralear e deixar as plantas mais vi-
gorosas, na diversidade e espaçamento
desejados. As sementes que apresen-
tam dormência devem ser devidamen-
te “acordadas” antes da semeadura. A
profundidade da semeadura depende
do tamanho das sementes. Sementes
maiores podem ser semeadas a uma
profundidade maior. O milho, por exem-
plo, deve ser semeado a 5 cm de profun-
didade para evitar tombamento do pé.

108
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

dicas
práticas Semeadura direta
“A gente trabalha com pouca muda. Mais com semente mesmo. As se-
mentes são jogadas a lanço, só as mais sensíveis é que são plantadas no
pé do abacaxi. Porque ali a gente sabe que vai estar protegido, às vezes
no trato cultural você planta de qualquer jeito e pisa. Então onde há um
pé de abacaxi você sabe que ali tem uma semente, pra você não pisar, pra
não cortar”. Depois de colher o milho, a abóbora e a mandioca “o trato
diminui depois de dois anos, mas ainda é necessário coroar as mudas”.

Valdo da Silva, agricultor. Porto Alegre do Norte – MT.


Fonte: Agricultores que cultivam árvores no Cerrado145.

Em geral, se utiliza a regra da profundidade ca sobre elas, como o feijão, por exemplo.
de semeadura ser o dobro do tamanho Outras são inibidas com a cobertura do
da semente. Algumas sementes germi- solo por matéria orgânica grossa, como as
nam com uma camada de matéria orgâni- hortaliças e outras sementes pequenas.

Para mais informações sobre semeadura direta, veja Guia de Restauração


do Cerrado, Volume 1. Semeadura direta de sementes.103

Foto: Andrew Miccolis

109
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

Plantio de estacas: é uma técnica partir de estacas devidamente prepa-


muito útil, barata e eficiente para o es- radas, com pouco trabalho se planta
tabelecimento de SAFs, pois estas rapi- grandes áreas. Para preparar uma boa
damente rebrotam e assim podemos estaca, é preciso fazer uso de um facão
logo contar com o estabelecimento de bem afiado e cortar a estaca em bisel.
indivíduos arbóreos na área. Estacas No momento de retirar a estaca, rea-
compridas apresentam vantagem em lize o corte de baixo para cima, a fim
áreas com capim, pois rebrotam acima de evitar que rache a planta da qual a
dos capins e assim não são suprimidas. estaca está sendo retirada. Já para o
Outro ponto a favor é que podem ser preparo da estaca, faça um corte de
utilizadas como poleiro para pássaros, cima para baixo na ponta da qual sai-
que trarão sementes de outras árvores rão as raízes (normalmente é a ponta
para povoarem a área. Também apre- mais grossa da estaca e estava ligada à
sentam a vantagem de ser um mate- planta que a originou), a fim de que a
rial abundante e de fácil replicação. A estaca não fique rachada.

Para casos em que a estaca será finca- Observe que a estaca fique sempre di-
da no chão, recomenda-se fazer uma recionada corretamente, assim como
ponta como se fosse lápis, assim pe- na planta da qual foi retirada (pé para
netrará mais facilmente sem danificar baixo, gemas apontadas para cima).
a casca da estaca e, portanto, aumen- Plantá-la ligeiramente inclinada, en-
tado a possibilidade de enraizamento. fiada pelo menos 1/3 de seu tamanho

110
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

no solo e bem fixada (não frouxa no dão, cedro, sabiá, dentre outras.
solo) são dicas para o sucesso em seu
pegamento. Podemos utilizar estacas Este sistema de plantio de estacas pode
de cajá, amora, seriguela, umbu, ca- ser associado a plantio com mudas e/
já-manga, hibisco, gliricídia, margari- ou plantios por sementes.

4.5 Manejo: como fazer? vem próximas às mudas de árvores, de


maneira seletiva, deixando as plantas
4.5.1 Técnicas de manejo que permanecerão na área. Ela pode
ser feita arrancando as plantas com as
As principais práticas de manejo em mãos, ou ainda cortando com facão ou
SAFs são: i) roçagem; ii) capina sele- tesoura de poda. Essa é uma atividade
tiva; iii) desbaste ou raleio e iv) poda. bastante delicada, que exige observa-
ção e conhecimento sobre as plantas,
A roçagem é feita por meio de corte muitas delas espontâneas. Arrancar ou
de plantas adubadeiras como capins e cortar as plantas herbáceas envelhe-
margaridão. Ela pode ser efetuada por cidas acelera a sucessão e favorece o
máquinas ou manualmente. Por má- desenvolvimento das árvores.
quinas geralmente se utiliza roçadeira
ou motoserra, e manualmente se utili- É importante observar se há necessida-
za facão, alfanje, serra, tesoura de poda de da realização do manejo de plantas
ou ainda machado (essas três últimas rasteiras que estão impedindo o desen-
opções especialmente para o margari- volvimento das culturas desejáveis e
dão). As espécies da regeneração natu- árvores nativas. Muitas vezes o “mato”
ral devem ser identificadas para serem é visto como um vilão na restauração
poupadas no momento da roçagem. convencional, mas dentro da agroflo-
resta o capim pode se tornar um bom
A capina seletiva é a prática do arran- aliado ao fornecer grandes aportes de
quio ou corte de plantas herbáceas biomassa, nos estágios iniciais da su-
como capins e outras que se desenvol- cessão, contanto que seja manejado.

111
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

Em locais em que se deseja estabelecer o retorno do capim no local plantado.


outras culturas, e o capim é dominante, Em locais em que é estratégico a pre-
este deve ter suas touceiras arrancadas sença do capim para produção de bio-
pela raiz, sacudidas e viradas para cima, massa, este é roçado periodicamente e
sendo colocadas sobre o material po- o seu material depositado nas áreas de
dado, para evitar novo enraizamento e plantio como cobertura.

O desbaste ou raleio é feito quando o Toda plantação precisa de cuidados


plantio ocorreu de maneira adensada e periódicos para manter a produtivida-
as plantas passam um processo de sele- de e saúde do sistema como um todo
ção dos indivíduos, deixando-se os mais (plantas, solo, animais, água). Nos plan-
vigorosos e saudáveis, enquanto que tios agroflorestais, as podas desempe-
os menos desenvolvidos são cortados nham papel importante para manter a
rente ao chão. O desbaste geralmente produtividade e as funções ecológicas
é realizado quando as copas das árvo- importantes para a conservação am-
res que ocupam o mesmo estrato estão biental. Primeiro, permitem entrada de
sobrepostas e há concorrência por luz. luz e, portanto, o desenvolvimento de

112
Foto: Henrique Marques

plantas em diferentes estratos. Além


disso, aportam nutrientes e melhoram
a estrutura do solo, promovendo a me-
lhoria da sua fertilidade e qualidade, e
aumentam a capacidade do sistema de
se adaptar a eventos climáticos extre-
mos, como secas e chuvas torrenciais.
São importantes também para enrique-
cer matas secundárias pela introdução
de outras espécies ainda não presentes
na área a partir de sementes ou mudas,
pois permitem o desenvolvimento das
plântulas presentes no sub-bosque.
Assim, podas periódicas nos SAFs repli-
cam e potencializam os processos de
renovação que ocorrem naturalmente
pelo vento, raios, inundação e inter-
venção de outras espécies (formigas,
cupins, besouro serra-pau, etc.). Pode-
mos acelerar alguns destes processos res-
peitando o ciclo e estrato de cada planta
e observando o momento de sucessão mais tempo no SAF). Observando a
ecológica do sistema como um todo. interação entre elas, é possível dife-
renciar plantas que fazem sombra
4.5.2 Manejo de Poda demais em cima de outras, espécies
que não estão no seu devido porte e
Diferentes plantas exercem diferentes estrutura, e plantas que competem
funções de acordo com sua estrutura entre si por luz ou nutrientes. É im-
e outras características em diferentes portante observar e anotar quais são
momentos do desenvolvimento dos os fatores que estão limitando o de-
plantios agroflorestais. Em fases ini- sempenho do sistema (adubação ina-
ciais de restauração de áreas degrada- dequada, correção do solo, estresse
das, plantas colonizadoras rústicas são hídrico, podas excessivas ou sombrea-
importantes para a recuperação da mento inadequados, pouca cobertura
fertilidade e estrutura dos solos. Plan- de matéria orgânica, etc.). A análise
tas pioneiras de crescimento rápido destes fatores, que deve basear-se na
são importantes para o sombreamen- observação frequente e em diferentes
to inicial e sobrevivência de outras épocas do ano, permitirá orientar o
espécies do futuro (que permanecem melhor manejo de poda.

113
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

dicas
práticas Plantio de Sombra
Existe uma necessidade de sombreamento para determinadas espécies,
como o cupuaçu. Houve uma experiência com o plantio de feijão andu com
ipê, embora com o passar de dois anos o andu morreu e não deu tempo
para os ipês crescerem e fazerem sombra para o cupuaçu. “Aqui é plantio
de sombra, tudo na casinha. Aí não morre nessa época, uma proteção feita
com três folhas de palmeira similar a uma cabana, para as plantas de som-
bra não morrerem pela exposição direta ao sol. E a árvore que vai fazer
sombra é essa aqui, o ipê. O andu estava dando sombra para o cupuaçu,
mas aí o andu morreu e por isso estamos plantando o urucum. A função do
urucum é também dar adubação orgânica e semente para vender para a
Rede de Sementes”. Neste sistema o andu cumpre papel essencial, aliando
sombra, adubação e descompactação do solo. Com dois a três anos ele
cumpre o seu ciclo de vida, sendo necessário replantá-lo ou já ter plantada
uma espécie que sobreviva por mais tempo, como o urucum.

Luiz Pereira Cirqueira – Assentamento Dom Pedro, São Félix do Araguaia – MT.
Fonte: Agricultores que cultivam árvores no Cerrado145.

Em sistemas dinâmicos e produtivos, a faz o manejo. Uma vez que o sistema


poda também deve ser frequente mas apresente árvores e arbustos já de-
não existe uma regra única para todas senvolvidos, a poda consiste no corte
as situações, pois o manejo de poda de parte da porção aérea dessas plan-
depende do momento, dos fatores tas. Essa prática pode ser feita com
ambientais e dos objetivos de quem motosserra ou serrote de poda, ou
Foto: Andrew Miccolis ainda tesoura de poda ou facão afiado
(para pessoas habilidosas com facão).
O material podado deve ser picado ou
triturado. O cuidado de colocar o ma-
terial lenhoso em contato com o solo,
dispondo as folhas e galhos finos por
cima, acelera a decomposição do ma-
terial e promove uma boa cobertura
do solo, permitindo também um me-
lhor aproveitamento dos nutrientes e
da umidade da matéria orgânica.

114
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

dicas
práticas manejo das árvores de uso múltiplo
(enriquecimento)
“Quando eu cheguei nessa área, já tinha cajueiro, então fui incluindo ou-
tras frutíferas e manejando as árvores que já existiam. Aqui já havia uma
diversidade muito boa de vegetação nativa e eu venho tentando manejar
para diversos fins. Além da alimentação dos animais, também pra extra-
ção de madeira.”

As árvores que estão regenerando naturalmente na área são manejadas


com poda, mas também são selecionadas: algumas permanecem e outras
são retiradas. O marmeleiro, por exemplo, é uma espécie que vem mui-
to, e é sempre retirado. O marmeleiro serve para lenha. Outras, como a
rabuja (Machaerium acutifolium) e o mororó (Bauhinia cheilantha), são
boas para madeira e produzem bastante matéria orgânica ou servem pra
forragem, então elas são mantidas.

Antônio José Morais – Sítio Flor de Jasmim, Comunidade Juá dos Vieiras,
Viçosa do Ceará – CE.

Nas agroflorestas cada espécie apre- 4.5.3 Dicas para o manejo de poda
senta características e funções den-
tro do sistema, que devem ser co- • Não são recomendadas podas em
nhecidas previamente para que o época de lua crescente ou cheia,
produtor possa realizar intervenções pois a lua exerce grande influência
precisas no tempo mais adequado. sobre as plantas e a seiva (“sangue”
As podas devem respeitar a época das plantas) está presente em maior
certa e feitas de forma a garantir a quantidade no caule, nos ramos e
funcionalidade de cada espécie. nas folhas. Podar, neste momento,
enfraquece a planta. Podas em lua
Não tenha medo de experimentar. minguante promovem maior for-
Observe o resultado e aprenda com mação de raízes novas antes da re-
a experiência, pois nem sempre se brota da parte área das plantas.
acerta da primeira vez a melhor
forma de se podar uma planta. • Observe a planta sob um ângulo
mais geral, considere sua arquitetura
(forma) e o objetivo da poda (poda

115
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

de produção, renovação, formação, • Algumas plantas que produzem


limpeza, rebaixamento, etc.). frutos do meio para o final das
chuvas, como, por exemplo, a
• Observe a época de frutificação manga, o biribá e o cajá, podem
e floração de cada espécie: geral- ser podadas também após a fru-
mente, estes momentos não são tificação uma vez que entrarão
propícios para poda. em dormência e rebrotarão no
início das próximas chuvas. Este
• Procure realizar as podas no final da tipo de poda também é adequa-
seca ou início das chuvas, pois, geral- do quando o objetivo é plantar
mente, as plantas estão com sua sei- culturas anuais ou outras que
va menos ativa e são mais tolerantes requerem sol e nutrientes alguns
à poda nesta época do ano. Quando meses depois, nas próximas chu-
o objetivo é rebrota, é preferível po- vas, quando a matéria orgânica
dar no início da época chuvosa. mais fina já estará decomposta.

Figura 10 – Influência da lua na dinâmica da seiva das plantas.

116
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

Figura 11 – Organização de material podado no solo.

• Comece a poda por partes, reti- adequados (tesouras de poda,


rando primeiro os galhos e troncos serras, serrotes, podões, facão,
mais leves, partindo das extremi- motosserra, luvas, cordas, entre
dades para o interior da planta. outros), tanto para sua segurança
e facilitar a poda como para não
• Podas mais intensas em árvores prejudicar a planta.
e indivíduos altos exigem maior
conhecimento e cautela, por isso • Observe se todo o material lenhoso
é importante usar cordas para que foi podado encontra-se bem or-
apoiar galhos mais pesados e equi- ganizado e em contato direto com o
pamentos de segurança. solo, o que ajuda na decomposição
e favorece a microvida do solo bem
• Utilize ferramentas e equipamentos como o caminhar na área depois.

117
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

4.5.4 Tipos de Podas zada com as demandas de nutrientes


e luz de espécies que virão na sequ-
Há diferentes tipos de poda. Há, por ência. O manejo adequado da matéria
exemplo, poda de formação, muito orgânica (coroamento, enleiramento,
recomendada para as árvores frutífe- etc.) é importante para concentrar
ras. Neste caso, se deseja que a copa nutrientes e manter umidade para as
seja ampla, com ramos horizontais, espécies mais exigentes e importan-
o que favorece a frutificação e facili- tes para o produtor, e para o sistema
ta a colheita. Já para as árvores que como um todo.
têm a madeira como objetivo de pro-
dução, a poda deve retirar os ramos Poda de Formação e estratifica-
laterais, de modo que o fuste (tronco) ção – Podam-se os galhos laterais e
fique longilíneo (longo e reto). Há ain- inferiores visando a estruturação da
da podas de estratificação, em que se copa da planta (para que esta ocupe
ajusta a disposição das copas de dife- o espaço mais adequado no sistema)
rentes espécies entre si, e poda para direcionamento do caule e formação
adubação ou produção de biomassa, da copa. São podas feitas também
em que se deseja que a planta rebro- para sincronizar o sistema, quando a
te vigorosamente e produza muitos intenção é a realização de plantios em
ramos com folhas, de forma sincroni- baixo das árvores podadas.
Foto: Andrew Miccolis

118
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

Figura 12 – Poda de formação e estratificação

Poda de limpeza – é uma poda simples realizada para retirar as partes secas
e velhas da planta, folhas amareladas e galhos doentes, visando o rejuvenesci-
mento do indivíduo e eliminação de pontos de entrada para doenças.

Figura 13 – Orientações para poda de limpeza 119


Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

Poda de produção ou frutifica- Podas de renovação e regenera-


ção – Esse tipo de poda é feita geral- ção – São intervenções mais intensas
mente em espécies frutíferas visando no sistema como um todo e visam pro-
aumentar a produtividade, sendo rea- duzir uma grande quantidade de bio-
lizada, de modo geral, após a produção massa. São feitas por meio de vários
de frutos ou entre safras. Busca-se re- tipos de podas (rebaixamento, limpe-
tirar os galhos ou ramos chamados de za, estratificação, etc.) na intenção de
ladrão ou chupão, que se alimentam aumentar a quantidade de matéria or-
e dividem a seiva com o ramo princi- gânica do solo, permitir a entrada de
pal. A ideia é reduzir a quantidade de luz direta, promover a rápida ciclagem
galhos de frutificação para canalizar a de nutrientes e aumentar a fertilidade
energia da seiva nos ramos principais do solo. Muitas vezes são realizadas
e aumentar a qualidade dos frutos. É para abrir espaço para o desenvolvi-
recomendado também, com a poda, mento de espécies exigentes em luz
liberar ramos que estejam se roçando e nutrientes, como a mandioca, o mi-
e pressionando, ou que estejam so- lho, abóbora e outras espécies anuais
brepostos. e de ciclo curto, ou para permitir que

Figura 13 – Poda de renovação e regeneração

120
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

espécies do futuro, tanto madeireiras poda, é importante que a madeira (tron-


quanto frutíferas, possam surgir do cos e galhos) sejam cortados em tama-
sub-bosque para ocupar os estratos nhos e de modo que fiquem em contato
mais altos no lugar das espécies pio- direto com o solo, e então cobertos com
neiras iniciais. Estas podas ajudam a as folhas e galhos mais finos. Ao plantar
sincronizar o sistema e aceleram o seu em uma área onde há já a presença de
desenvolvimento geral. árvores, é importante realizar a poda
para sincronizar o seu desenvolvimento
Se há necessidade de poda de renova- com as novas plantas, e também possi-
ção ou regeneração com o intuito de bilitar matéria orgânica para a cobertura
enriquecer o sistema, primeiro se reali- do solo. O plantio sob árvores podadas
zam os plantios para então podar e or- resulta em plantas vigorosas, diferen-
ganizar o material da poda sobre a área temente se realizado abaixo de plantas
plantada. Ao organizar o material de adultas que não foram podadas.

dicas a cobertura do solo


práticas com material de poda é fundamental
As árvores de porte alto irão criar as de médio porte, depositando muita
matéria na terra. A timbaúba (ou torém) é um bom exemplo de criadora.
O pajeú produz bastante matéria. Também cultivo aqui a azeitona preta
e gosto muito do assa peixe. Eu gosto do torém porque é de fácil decom-
posição; a gente tritura, faz cobertura, ele acaba, e ali o toco dele ligeiro
fronda de novo. A gliricídia é usada também para fazer cobertura do solo.

A área de cultivo de milho, feijão e fava é sempre manejada para manter


a roça aberta e poder cultivar anualmente. O solo é mantido bem prote-
gido com essas espécies que ele corta e tritura. “Eu levo o milho, mas eu
devolvo o sabugo, devolvo a palha”. A casca do coco que vem do coqueiral
mais abaixo também é trazida para fazer cobertura na roça. A gliricídia é
plantada em toda a área sem espaçamento definido, e é podada cons-
tantemente para cobertura. Com a poda ele faz cobertura nas áreas mais
pobres. A poda da gliricídia é a principal fonte de adubação para a roça. O
sabiá é mantido na roça sempre podado, mas não produz muita matéria.
Ele é usado como madeira para mourão e lasca. Enquanto a gliricídia é
plantada, o sabiá muitas vezes nasce espontaneamente.

Ernaldo Expedito de Sá, agricultor – Tianguá – APA Serra Ibiapaba – CE

121
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

4.5.5 Orientações para o manejo

Para escolha da espécie e momento do manejo, as seguintes perguntas ajudam na


orientação nos diferentes momentos de desenvolvimento dos sistemas agroflorestais:

• Existem espécies que estão competindo pelo mesmo espaço ou aba-


fando e não permitindo o desenvolvimento de outras?
• Há devida formação e manutenção de cobertura de matéria verde e
seca no solo, ou pelo menos, acumular na coroa das mudas?
• Há presença de espécies não desejáveis e seu controle está sendo re-
alizado devidamente, por meio de capina seletiva, poda ou desbaste?
• Estão sendo ocupados os espaços para o desenvolvimento adequado
das espécies perenes, tanto nativas quanto exóticas?
• As espécies necessitam de podas de formação visando à produção de
biomassa ou fortalecimento da estrutura para obtenção de madeira?
• As espécies necessitam de podas visando melhorar a produção de frutos?
• Como está a influência dos fatores externos como, por exemplo, as
bordas do sistema agroflorestal? Há necessidade de intervenção para
controle destes fatores?
• Existem animais, insetos ou doenças acometendo as plantas? Onde e
quais são as possíveis causas?
• A diversidade e quantidade de plantas são suficientes para atender
aos objetivos da implantação do sistema (por exemplo, restauração ou
produção)?
• De acordo com as condições locais, as espécies plantadas estão sau-
dáveis e seu desenvolvimento é condizente com o seu tempo de vida?

Em situações em que a APP apresenta vegetação em recuperação) com


vegetação nativa em recuperação (ca- intuito de aumentar a biodiversi-
poeiras ou matas secundárias), a fim dade e ao mesmo tempo permitir
de não descaracterizar a cobertura ve- produção de culturas alimentícias
getal nativa, e nem prejudicar a função a curto prazo e
ecológica da área, conforme estabele-
cido na legislação atual, é importante • voltado para a manutenção da pro-
distinguir dois tipos de manejo: dutividade e funções ecológicas do
sistema como um todo, atenden-
• voltado para o enriquecimento do também aos interesses sociais,
de matas secundárias (áreas com a médio e longo prazo. Conside-

122
Planejamento e desenho dos sistemas agroflorestais

rando estes aspectos, não se reco- ção das funções ecológicas. O manejo
menda o corte raso, nem tampou- nessas áreas, no final das contas, deve
co o uso do fogo para intervenções priorizar o aumento da diversidade
nessas áreas. biológica e a manutenção das diferen-
tes funções ambientais, como: produ-
Devem sim ser permitidas podas pe- ção de biomassa para cobertura do
riódicas na vegetação, contanto que solo e controle da erosão, ciclagem de
as copas das árvores sejam recupera- nutrientes, produção de frutos para a
das após rebrota, e que seja mantida fauna, corredor ecológico, infiltração
a dinâmica sucessional e estrutura da de águas pluviais, dentre outras.
vegetação. Na prática, isso significa
que é importante manter indivíduos Nos contextos em que há pouca pre-
e espécies ocupando diferentes estra- sença de espécies da vegetação nativa,
tos ao longo do tempo. Ainda nesse poucos regenerantes, ou seja, em que
sentido, também deve ser permitida a resiliência ecológica é considerada
a supressão de alguns indivíduos se- baixa e os solos estão degradados, al-
nescentes ou em declínio (que este- gumas espécies-chave podem ser de-
jam em fase final de seu ciclo de vida, cisivas para a recuperação dos solos
apresentando parte de sua copa seca, e para criar as condições necessárias
tronco oco ou brocado), ou presentes ao bom desenvolvimento de outras
em alta densidade, pois essa inter- espécies que virão no futuro, inclusive
venção leva ao avanço da sucessão, e as nativas. Estas espécies estão des-
portanto, contribui para a manuten- critas na Seção 5.4.
Foto: Andrew Miccolis

123
5. Opções de SAFs para
mesmo tempo, tais opções devem
diferentes contextos ser flexíveis o suficiente para serem
ajustadas a situações semelhantes,
porém com características distintas
Um dos maiores desafios para o su- de tal forma a permitir sua adoção
cesso dos SAFs é o aumento da esca- em escala maior.
la de adoção, o que requer o desen-
volvimento de opções tecnológicas 5.1 SAFs no Cerrado e na Caatinga:
que possam ser adaptadas a contex- aprendendo com experiências existentes
tos específicos de forma que as so-
luções levem em conta os objetivos Apesar da escassez de pesquisas volta-
dos agricultores e acesso a recursos, das para a restauração ecológica com
bem como as condições ambien- SAFs na Caatinga e no Cerrado, alguns
tais encontradas no nível local. Ao estudos já apresentam opções e arran-
jos de SAFs em diferentes contextos
Foto: Andrew Miccolis
destes biomas. Na região do semiárido
cearense, alguns estudos recomendam
o uso de sistemas silvipastoris para a
manutenção da qualidade do solo e a
produção de alimentos. Nestes siste-
mas, o componente animal é chave,
em interação com árvores, arbustos e
herbáceas, geralmente em pasto, ou
que forneçam forragem no cocho99,60.
Os sistemas agrossilvipastoris também
são recomendados nesses contextos
pois valorizam a interação entre os
componentes animal, agrícola e flores-
tal em sua composição. A combinação
pode ser temporal, em rotação, ou em
consórcio.

Em alguns destes sistemas, a forra-


gem é produzida e fornecida para os
animais, que ficam em outra área (em
pasto ou confinado). Em outros, os
animais são soltos para forragear em
área onde foram produzidas culturas

124
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Andrew Miccolis

agrícolas e depois são introduzidas ár-


vores madeireiras e/ou fruteiras. Há
também os sistemas de ILPF – Integra-
ção Lavoura Pecuária e Floresta, pre-
conizados pela EMBRAPA, geralmente
compostos por uma espécie arbórea
incluindo eucalipto (Eucalyptus spp.),
teca (Tectona grandis), mogno afri-
cano (Khaya senegalensis), entre ou-
tras, plantada em fileiras amplamente
espaçadas e, nas entrelinhas, grãos e
gramíneas para bovinos60.

Os quintais agroflorestais são ob-


servados frequentemente em pe-
quenas propriedades rurais. Esses
sistemas, altamente produtivos, são
caracterizados por ampla diversida-
de de espécies, incluindo frutíferas,
melíferas, hortaliças, medicinais, e
também, eventualmente, pequenos
animais (galinha, porco)26,39,2. O ob-
jetivo fundamental desses sistemas,
que ficam situados próximos à resi-
dência, é contribuir para a soberania que nutrem a planta em períodos críti-
e segurança alimentar e nutricional, cos de água.7 No Cerrado, tais sistemas
a saúde e o bem estar da família. A também são implementados, como o
mulher geralmente desempenha pa- exemplo do SAF com ênfase nos com-
pel fundamental na manutenção e ponentes: gueroba (Syagrus olerace-
manejo dos quintais agroflorestais48. ae), mogno (Swietenia macrophylla) e
nim indiano (Azadirachta indica) 11.
Os sistemas agrossilviculturais se ca-
racterizam por consórcios entre espé- As agroflorestas biodiversas suces-
cies arbóreas e agrícolas. Na Caatinga, sionais ou regenerativas representam
alguns estudos mostram que é dada proposta mais avançada quanto à es-
ênfase para culturas resistentes à seca, trutura e função se comparadas aos
especialmente aquelas com presença outros SAFs mencionados Estas exi-
de xilopódios que armazenam reservas gem um manejo intensivo por meio

125
Opções de SAFs para diferentes contextos

de capina seletiva e podas seguindo de acordo com as particularidades de


a lógica sucessional. A concepção das cada contexto descrito a seguir. Cabe
agroflorestas sucessionais foi desen- ressaltar que algumas das opções
volvida pelo agricultor-pesquisador apresentadas podem ser mais indica-
Ernst Götsch, sendo encontradas das para APP e outras mais para RL,
experiências promissoras46,50,81,88 no no entanto todas também podem ser
Cerrado, na Caatinga, na Mata Atlân- adotadas em áreas de produção fora
tica e na Amazônia. de APP e RL, quando se deseja conci-
liar produção com objetivos ambien-
Assim, a depender do contexto, são tais. Embora algumas opções sejam
recomendadas diferentes estratégias indicadas para determinado bioma,
de intervenção, que variam de acordo podem ser adotadas em outro bioma
com o acesso a insumos e ao estágio desde que sejam utilizadas outras es-
de sucessão encontrado na área. pécies e práticas de manejo adequa-
das àquele bioma. Foram contempla-
5.2 Opções de SAFs voltadas para diferentes dos alguns contextos mais comuns
contextos bem como algumas possibilidades
de intervenção sem, no entanto, es-
Nesta seção, algumas destas estraté- gotar todas as soluções possíveis.
gias de implementação de SAFs estão Portanto, é fundamental a flexibilida-
organizadas em opções tecnológicas de, o olhar crítico e a criatividade de
compostas por estruturas gerais as- combinar as opções com as técnicas
sociadas a técnicas específicas (de- e práticas de manejo apresentadas
talhadas anteriormente nas Seções anteriormente e outras praticadas no
4.5 e 4.6) que devem ser adaptadas local que se mostram exitosas.

126
Opções de SAFs para diferentes contextos

OPÇÃO 1: Agrofloresta sucessional


para o Cerrado com manejo intensivo
Esta opção se baseia no SAF desenvolvido por Juã Pereira – Sítio Se-
mente - Núcleo Rural Lago Oeste, em Brasília – DF. Essa experiência
de sucesso foi sistematizada por Juã Pereira e Carolina Guyot e é
resultado dos ensinamentos e orientações de Ernst Götsch.

Contexto: solo degradado, baixa rege- independentemente da resiliência


neração, predominância de gramíneas ecológica (capacidade de regenera-
exóticas tais como andropogon, bra- ção) e estágio de sucessão natural, ou
quiária; solo bem drenado, RL ou áre- seja, mesmo em solos bastante de-
as de produção, bioma Cerrado, alta gradados, as condições são propícias
disponibilidade de mão de obra, fácil para implantar sistemas complexos e
acesso ao mercado. Neste contexto, com alto aporte de insumos.

Foto: Fabiana Peneireiro

Canteiros sucessionais com culturas anuais e hortaliças consorciadas com linhas de espécies
adubadeiras e nativas. Local: Sítio Semente, Brasília/DF.

127
Opções de SAFs para diferentes contextos

Objetivo principal: produção para o cada uma composta por quatro can-
mercado. teiros, sendo que o primeiro apresen-
ta uma linha de árvores e frutas junta-
Objetivos secundários: segurança ali- mente com hortaliças, e os outros três
mentar e restauração da vegetação. com somente consórcios de hortaliças
e culturas anuais. As parcelas vão sen-
Visão geral: Nestas condições, será pos- do repetidas sequencialmente ao lon-
sível produzir hortaliças, grãos, tubércu- go da área, podendo ser escolhidas
los (raízes) e frutas nos primeiros anos espécies diferentes para compor cada
para pagar rapidamente o custo de es- parcela. As espécies de ciclo curto
tabelecer as árvores do futuro (que per- criarão as condições para o estabeleci-
manecerão mais tempo no SAF), acele- mento das árvores nativas e frutíferas
rar os processos de restauração, e ainda do futuro, introduzidas por muda ou
gerar renda a curto e médio prazo. semente nos primeiros 3 anos. Após 3
a 4 anos, as hortaliças que necessitam
Elementos do desenho do sistema: o de muito sol saem e as árvores e ar-
SAF em questão é definido pela repe- bustos ficam. Nos canteiros onde só
tição de parcelas de 5 por 40 metros, havia hortaliças e culturas anuais são

Foto: Andrew Miccolis

Local: Sítio Semente, Brasília/DF.

128
Opções de SAFs para diferentes contextos

introduzidas árvores de sub-bosque para plantar o consórcio de culturas


como por exemplo café. anuais, que vão depender da época
do ano, do mercado local e, princi-
Nas linhas das árvores e frutas são plan- palmente, do interesse do agricultor.
tados sempre banana, café e eucalipto, Na base desse consórcio busca-se co-
formando a base do sistema. Além des- locar sempre uma raiz (ex: mandioca,
tas, são colocadas sementes de árvores inhame ou batata-doce) e mais três
para fruta e madeira próximas às mu- ou quatro culturas de hortaliças (ex:
das de eucalipto (ex: jatobá, copaíba, rúcula, alface, couve, milho, brócolis,
cedro, xixá, caju, mogno, manga, jaca, couve-flor, tomate, etc.). O espaçamen-
cinamomo). O espaçamento da banana to da mandioca e do milho é de 1 m, da
é de 3 m, o eucalipto e o café são plan- alface e da couve é de 0,5 m. Da rúcu-
tados a cada 1,5 m e o espaçamento da la na borda do canteiro é de 0,25 m e
fruta escolhida pode variar de 3 ou 6 m dentro do canteiro é de 0,5 m.
dependendo da espécie.
Após três meses da implantação de uma
Entre os canteiros das árvores e fru- parcela do sistema as hortaliças (rúcula,
tas das parcelas há três canteiros couve, alface) são colhidas, após quatro

Foto: Andrew Miccolis

Local: Sítio Semente, Brasília/DF.

129
Opções de SAFs para diferentes contextos

meses o milho é colhido e após dez me- com a biomassa produzida principal-
ses a mandioca é colhida e então se re- mente pela poda do eucalipto e da
pete o plantio. Desta forma, é possível banana. É importante realizar análise
fazer de três a seis plantios de consór- de solo para orientar a adubação.
cios nas três linhas do meio da parcela,
dependendo da espécie de raiz escolhi- Manejo: o manejo desse sistema é
da (ex: inhame colhe-se após seis me- fundamentado na concentração de
ses do plantio), até que as espécies das biomassa, principalmente por meio
linhas das árvores e frutas comecem a da poda das árvores e bananeiras,
fazer sombra nos canteiros do meio. cujo material é cortado ou triturado e
disposto como cobertura do solo tan-
Critérios para seleção de espécies: Espé- to nos canteiros quanto nos caminhos
cies e variedades de alta produtividade, entre os canteiros.
com alto valor econômico e outras volta-
das para conservação, espécies com alto No início, quando o sistema ainda não
potencial de produção de biomassa. produz a biomassa necessária para a
cobertura, o agricultor deve procurar
Espécies-chave: eucalipto, cinamomo, esse material fora do sistema. É pos-
banana, café, citrus, árvores nativas e sível utilizar o próprio capim roçado
outras frutíferas (ex. nativa ou exótica, para fazer esta cobertura, caso não
como lichia, jaboticaba, pitanga, etc.) haja uma fonte externa de material. A
partir do momento em que é possível
Implantação: Para o preparo do solo fazer a poda do eucalipto e da bana-
pode-se utilizar um motocultivador, na, reduz-se a necessidade de trazer
que levanta os canteiros e mistura o material de fora da propriedade para
adubo, ou ainda, de forma manual. cobrir o solo. A poda das árvores e
Neste caso, considerando que o solo fruteiras, realizada pelo menos duas
é de baixa fertilidade, a primeira adu- vezes por ano, é essencial para o su-
bação foi feita com 500 gramas/m² cesso deste sistema. Caso não seja
de pó de rocha, 10 litros/m² de ester- possível podar o eucalipto com tal
co curtido, 500 gramas/m² de cinza frequência recomenda-se as seguin-
e 300 gramas/m² de farinha de osso tes adequações do sistema: aumentar
(por cima do canteiro). Ao se realizar o espaçamento entre os eucaliptos e
um novo plantio na parcela, repete- as frutíferas que se pretende produ-
-se essa mesma adubação, exceto pó zir; e contar com outras fontes de
de rocha. Porém, a tendência é ir di- biomassa para a cobertura do solo.
minuindo a quantidade, uma vez que A decisão de poda depende muito do
o próprio sistema irá se alimentando que o agricultor necessita em cada

130
Opções de SAFs para diferentes contextos

momento. Se for necessário entrar bordas do sistema e fazer aceiros para


mais luz para fazer mais horta, é mo- proteger contra o fogo.
mento de podar. Quando o agricultor
decide refazer o sistema é necessário Para o manejo se utilizam alguns
derrubar a vegetação da área como equipamentos como: roçadeira cos-
um todo, ou 80%, para que haja luz tal (para roçar as bordas do sistema e
suficiente para fazer horta novamen- fazer aceiros); motosserra (para fazer
te. É importante lembrar que neste podas e cortar madeiras); triturador
momento o solo estará muito melhor (para triturar madeira para otimizar e
do que no primeiro plantio, uma vez alimentar o próprio sistema).
que as espécies foram enriquecendo
o solo ao longo do tempo. A partir do terceiro ano de implantado
o sistema, além das espécies de árvores
A capina do sistema deve ser seletiva nativas e exóticas estabelecidas na área
e manual a cada três ou quatro meses, por meio de mudas sementes, se esta-
dependendo de como está o siste- belecerão espécies nativas trazidas por
ma. Além disso, é necessário roçar as dispersores, como exemplo a copaíba,

CROQUI DA OPÇÃO 1: Agrofloresta sucessional Momento


para o Cerrado com manejo intensivo do primeiro
plantio

EUCALÍPTO
+ SEMENTES
DE ÁRVORES
E FRUTAS

BANANA

FRUTEIRAS
(MUDAS)

CAFÉ

MANDIOCA

MILHO

RÚCULA

COUVE FOLHA

ALFACE

131
Opções de SAFs para diferentes contextos

2 a 3 anos

7 a 10 anos

OPÇÃO 1: Agrofloresta sucessional para o Cerrado com manejo intensivo | vista na direção norte-sul

embaúba, pimenta de macaco, landim, Manejo a longo prazo/configura-


entre outras em toda a área. No futuro, ção do sistema: Dossel aberto e
se continuar essa dinâmica, muitas ou- acúmulo de biomassa durante os 5
tras espécies estarão presentes no local. primeiros anos de manejo intensivo.
Para tanto, o manejo deverá favorecer Dependendo da situação, as árvo-
o estabelecimento de árvores nativas res adubadeiras podem continuar a
trazidas pelos dispersores. Na prática, ser podadas por alguns anos a fim
isso significa podar e ralear as espécies de manter a produção das linhas
nativas da regeneração seletivamente. de frutíferas. As árvores nativas de

132
Opções de SAFs para diferentes contextos

2 a 3 anos

7 a 10 anos

OPÇÃO 1: Agrofloresta sucessional para o Cerrado com manejo intensivo | vista na direção leste-oeste

crescimento mais lento são deixa- anos, o sistema pode ser renovado
das até que uma copa encontre com por meio de podas drásticas e reini-
a outra, momento em que será pos- ciado o ciclo de produção com culti-
sível deixá-las fechar copa ou serem vos anuais para então deixar nova-
manejadas para manter a produti- mente o dossel fechar.
vidade nas espécies comerciais nos
estratos baixo e médio. Em área de Além de RL, este sistema também é
produção ou RL, uma vez que as fortemente recomendado para áreas
árvores cresceram, cerca de 5 a 10 voltadas para produção.

133
Opções de SAFs para diferentes contextos

OPÇÃO 2: Agrofloresta biodiversa para


restauração de APP
Esta opção se baseia no SAF desenvolvido por Marcelino
Barberato – Sítio Geranium – Taguatinga, DF. Essa expe-
riência é resultado dos ensinamentos e orientações de
Ernst Götsch.

Contexto: solo de média a alta fer- inferior, manter um microclima úmido


tilidade; baixa regeneração; predo- e substituir gramíneas, o que será de
minância de gramíneas exóticas tais grande importância para evitar incên-
como braquiária, colonião, napier; dios florestais. Além disso, poderão
drenagem boa ou média; APP de mata servir como fonte complementar de
ciliar; bioma Cerrado; baixa a média renda para o agricultor familiar.
disponibilidade de mão de obra; fácil
acesso ao mercado. Elementos do desenho do sistema: as
linhas de árvores são espaçadas entre
Objetivo principal: produção para si a uma distância de 5 m. As árvores
mercado. são introduzidas por mudas e semen-
tes, dispostas na linha em espaça-
Objetivos secundários: segurança ali- mento de 1,5m, e são selecionadas de
mentar e restauração. acordo com seu desenvolvimento. Nas
entrelinhas das árvores são plantadas
Visão geral: restauração de APP de as espécies ornamentais, medicinais
mata ciliar com produção de flores, e alimentícias, podendo ser dispostas
alimentos e plantas medicinais. Nes- de maneira alternada (cada entreli-
tas áreas não deverão ser utilizados nha com uma determinada espécie)
quaisquer agroquímicos (adubação para facilitar o manejo e o desenvol-
química ou agrotóxicos) e nem má- vimento das plantas. Nas entrelinhas
quinas pesadas. Linha de árvores para das árvores, caso a escolha seja plan-
frutas, madeira e produção de bio- tar bastão do imperador, as mudas, a
massa (além de banana), seguida de partir de rizomas, devem ser dispostas
linhas de plantio de plantas ornamen- em duas linhas com o espaçamen-
tais, alimentícias e medicinais. Muitas to de 2 metros entre si e 1,5m entre
destas espécies também terão fun- plantas na linha. No caso de helicô-
ção importante de ocupar o estrato neas, estas deverão ser introduzidas

134
Opções de SAFs para diferentes contextos

também por mudas provenientes de total no espaçamento de 1m por 0,5


rizomas, formando três linhas, sendo m (3 sementes por berço a 5 cm de
o espaçamento de 1,5m entre linhas e profundidade). No caso dessas plantas
1,5m entre plantas. O jaborandi pode de sub-bosque, com exceção do inha-
seguir o mesmo espaçamento das he- me e cúrcuma, as mesmas deverão ser
licônias. Nas entrelinhas das árvores introduzidas no segundo ano, quando
podem ser introduzidas as plantas ali- já houver sombreamento promovido
mentícias e medicinais como inhame, pelas árvores e bananeiras. No primei-
cúrcuma, gengibre, e cardamomo, es- ro ano introduz-se milho, mandioca,
paçadas de 60 a 80 cm entre si. Estas abóbora, e hortaliças rústicas (maxixe,
espécies também podem ser introdu- mostarda, quiabo, salsa).
zidas nas linhas das árvores, ocupan-
do o espaço entre as árvores (1,5m), Critérios para seleção de espécies: as
ou seja, podem ser introduzidas duas espécies escolhidas para o sub-bos-
plantas, a partir de rizomas, de inha- que deverão ser adaptadas às condi-
me, cúrcuma ou gengibre, entre uma ções de sombreamento após os pri-
árvore e outra. Ainda, poderá ser se- meiros anos e devem permitir manejo
meado o milho na fase inicial em área menos intensivo e frequente.

Foto: Marcelino Barberato

Agrofloresta com espécies ornamentais, alimentícias.


Local: Sítio Geranium, Samambaia-DF.

135
Opções de SAFs para diferentes contextos

Espécies-chave de cultivos agrícolas e da biodiversidade nativa, recomenda-


outros usos econômicos: plantas orna- -se pinha do brejo, landim, ipê roxo,
mentais: helicônias, bastão de impera- jatobá, gomeira, mirindiba, copaíba,
dor; plantas alimentícias, culinárias e puçá, bacupari da mata e jenipapo.
medicinais: milho, madioca, hortaliças Para a produção de frutas recomenda-
rústicas (nos primeiros anos), gengi- -se: banana, manga, jaca, abacate,
bre, cúrcuma, inhame, araruta, carda- cajá, buriti, juçara, jabuticaba, lichia.
momo, taioba e jaborandi.
Implantação: em áreas onde prevalecem
Espécies-chave de árvores: na linha gramíneas de touceiras grandes, roçar e
de árvores devem ser introduzidas es- separar a biomassa para depois capinar,
pécies de múltiplas funções, com ênfa- retirando todo rizoma. Os rizomas po-
se para os serviços ambientais. Com o dem ser enterrados no fundo dos berços
objetivo principal de produção de bio- das bananeiras ou batidos para retirar a
massa mediante poda, recomenda-se terra e deixados virados secando ao sol.
ingá de metro e outros ingás da mata Se as gramíneas não forem grandes, po-
ciliar, urucum, capororoca, sangra de-se realizar somente capina conforme
d´água, pau pombo, tapiá, pimenta de explicado. Na linha das árvores, as espé-
macaco. Com objetivo de composição cies arbóreas são plantadas por mudas,
florestal para fins de enriquecimento conforme disponibilidade de material e

CROQUI DA OPÇÃO 2:
Agrofloresta biodiversa
para restauração de APP

BANANA

Á RVORES PARA PODA

CAFÉ OU JABOTICABA

FRUTAS

BASTÃO DO IMPERADOR
OU HELICÔNIAS

CÚRCUMA

INHAME

GENGIBRE

136
2 a 3 anos

7 a 10 anos

20 anos

OPÇÃO 2: Agrofloresta biodiversa para restauração de APP


137
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Marcelino Barberato

momento da colheita das flores e fru-


tos e também sua biomassa deve ser
devidamente cortada e disposta sobre
o solo. As plantas medicinais e alimen-
tícias são colhidas (metade a dois ter-
ços) e o restante dos rizomas fica no
solo permitindo seu reestabelecimen-
to. As árvores produtoras de biomassa
são podadas periodicamente para co-
bertura do solo com matéria orgânica,
organizada de maneira a permitir que
se caminhe bem pela área (madeira em
contato com o solo e folhas por cima).
As árvores que não tem necessaria-
mente essa finalidade devem ser ma-
nejadas com podas de raleamento, for-
mação e estratificação (ver seção 4.5.4)
mão de obra, e por sementes, interca- conforme a necessidade e os objetivos.
ladas com bananeiras. As sementes são
plantadas no mesmo berço do milho e Manejo a longo prazo/configura-
hortaliças rústicas, ou ainda com a man- ção do sistema: Floresta com dossel
dioca conforme explicado na seção 4.4.2. fechado após cerca de 7 a 10 anos,
A adubação é feita com esterco ou com- mesmo com a dinâmica de podas se-
posto nos berços das árvores, bananeira, letivas. O manejo deve favorecer o
rizomas, milho e hortaliças. A biomassa estabelecimento da regeneração na-
do capim é disposta próxima às linhas tural, deixando-se as plântulas das ár-
dos plantios cobrindo todo o solo. Entre vores nativas que permitirão o avanço
as linhas das árvores, plantam-se as es- da sucessão ecológica.
pécies ornamentais ou alimentícias ou
medicinais nos espaçamentos recomen- Observações: As espécies exóticas
dados a partir de rizoma. podem e devem ser podadas ou des-
bastadas seletivamente nos primeiros
Manejo: Capina seletiva e podas perió- anos, de forma a escolher alguns indi-
dicas. Após a colheita do milho, a plan- víduos que produzirão frutos e outros
ta do milho deverá ser cortada e seu para produção de biomassa, que sai-
material utilizado para cobrir o solo. rão do sistema a médio e longo prazo.
As touceiras de flores tropicais e bana- A área ocupada pelas espécies exóti-
neiras são podadas periodicamente no cas não deverá ultrapassar 50%.

138
Opções de SAFs para diferentes contextos

OPÇÃO 3: Agroflorestas em faixas intercaladas


com enriquecimento do Cerrado

Contexto: solo de média fertilidade; espécies frutíferas, tanto nativas


alta regeneração; predominância de quanto exóticas.
arbustos e plântulas com algumas
árvores; drenagem boa; RL; Cerrado; Elementos do desenho do sistema:
disponibilidade de mão de obra varia- em situações em que se deseja plan-
da (média ou baixa); acesso variado a tar apenas culturas de ciclo curto nas
insumos (alto, média ou baixa); existe faixas cultivadas, recomenda-se que
acesso ao mercado. essas faixas possuam no máximo 6
metros (facilitando a mecanização),
Objetivo principal: produção para e as faixas de vegetação nativa se-
mercado e consumo. jam mais largas (de no mínimo 15m).
Caso o agricultor tenha alta disponi-
Objetivos secundários: restauração bilidade de mão de obra, pode ser
com enriquecimento das áreas de ve- implantado, na faixa de cultivo, um
getação nativa. sistema consorciado de espécies agrí-
colas com árvores adubadeiras e frutí-
Visão geral: Em áreas com alta re- feras, incluindo bananeiras e palmei-
siliência, ou seja, com presença de ras. Nesse contexto, em que se deseja
alto número de regenerantes, as introduzir espécies perenes nas faixas
culturas agrícolas podem ser intro- cultivadas (incluindo espécies nati-
duzidas em faixas alternadas com vas), estas faixas podem ser mais lar-
a vegetação nativa. A escolha das gas, até 18 m, sendo que as faixas de
culturas agrícolas deve focar nas vegetação nativa intercaladas tenham
espécies que o agricultor deseja no mínimo a mesma largura, ou seja, a
plantar naquele contexto. As espé- largura das faixas cultivadas não deve
cies alimentícias podem ser batata ultrapassar a largura das faixas de na-
doce, mandioca, banana, inhame, tivas, portanto, não devem ultrapas-
milho, feijão. Essas faixas cultivadas sar 50% do total da área. Nas faixas de
podem ser aproveitadas para pro- regeneração natural podem-se plan-
dução de frutíferas e madeireiras. tar ilhas de fertilidade com mudas de
Já nas faixas de vegetação nativa árvores nativas para enriquecimento
pode ser feito enriquecimento com (ver sessão 4.4.2).

139
Opções de SAFs para diferentes contextos

2 a 3 anos

7 a 10 anos

OPÇÃO 3: Agroflorestas em faixas intercaladas com enriquecimento do Cerrado

Critérios para seleção de espécies: Espécies-chave de culturas agrícolas


Espécies de interesse econômico de (contextos com baixo acesso a insu-
alta produtividade e fácil manejo. In- mos): mandioca, batata doce, abaca-
trodução de espécies arbóreas nati- xi, feijão caupi ou de corda. Em con-
vas para enriquecimento. textos com maior acesso a insumos,

140
Opções de SAFs para diferentes contextos

podem ser plantadas espécies mais ou manual. Primeiramente derru-


exigentes em fertilidade como, p.ex, bam-se as árvores e arbustos da
milho, feijão carioca, abóbora ou ger- faixa a ser cultivada, organizando a
gelim, banana e inhame. biomassa nas laterais. Se a implanta-
ção for da forma mecanizada, após
Espécies-chave de árvores: murici, o corte das árvores, passa-se uma
mangaba, baru, pequi, jatobá, copaíba, grade aradora, incorporando a adu-
aroeira, xixá, amburana, ipê roxo, ipê bação, que pode ser com pó de ro-
amarelo, indaiá, gueroba, macaúba, cha, calcário, esterco (para espécies
mutamba, periquiteira, pitanga, jabuti- mais exigentes) ou não (para espé-
caba, araçá, ingá mirim, cajá, algodão cies menos exigentes). As faixas po-
arbóreo, angico, copaíba, carvoeiro. derão ser preparadas com adubos
verdes (feijão de porco, crotalária,
Implantação: o preparo da área etc.) semeados a lanço ou na seme-
pode ser feito de forma mecanizada adora, anteriormente ao plantio das

CROQUI DA OPÇÃO 3: Agroflorestas em faixas


intercaladas com enriquecimento do Cerrado

SEMENTES E MUDAS
CULTURAS AGRÍCOLAS REGENERANTES
DE ÁRVORES NATIVAS
CONSORCIADAS OU NÃO
OU BANANEIRA

141
Opções de SAFs para diferentes contextos

espécies agrícolas. Caso a implanta- orgânica resultante deve ser concen-


ção seja manual, primeiramente é trada ao redor das plantas que os agri-
feita a capina seletiva, depois a der- cultores consideram mais preciosas
rubada seletiva da vegetação pre- entre as nativas ou, alternativamente,
sente na faixa cultivada, deixando carregada para as faixas cultivadas.
as espécies de interesse econômico, Este tipo de manejo também irá aju-
que deverão ser podadas. O espaça- dar a reduzir as gramíneas e arbustos
mento das espécies agrícolas deverá que pertencem aos estágios iniciais
seguir aquele comumente utilizado da sucessão, de tal forma a reduzir o
pelo agricultor. O plantio das árvo- combustível para incêndios florestais,
res e bananeiras poderá ocorrer em bem como a dominação de espécies
ilhas ou linhas. Recomenda-se que menos desejáveis no estrato baixo.
as árvores de maior porte sejam Especialmente as bordas (na faixa de
plantadas na faixa da área cultivada vegetação nativa adjacente às faixas
que terá manejo menos intensivo. cultivadas) deverão ser podadas de
É muito importante também incluir forma que as plantas mais próximas
espécies adubadeiras na borda das à faixa cultivada sejam mais baixas
faixas de vegetação nativa, as quais e as mais distantes sejam podadas
deverão ser podadas para adubar mais altas, de maneira a formar uma
as faixas cultivadas. O enriqueci- diagonal. O material da poda deverá
mento das faixas de regeneração ser carreado para a faixa de plantio ou
deverá ser por plantio de mudas ou disposto ao redor das mudas na faixa
sementes de árvores nativas em pe- de vegetação nativa.
quenas ilhas nas aberturas presentes
no meio da vegetação ou em locais Manejo a longo prazo/configuração
onde há presença de gramíneas e do sistema: Uma vez que as árvores
outras herbáceas, que deverão ser tiverem crescido, em cerca de 7 a 10
capinadas para se efetuar o plantio. anos, o sistema pode ter o dossel fe-
Quando necessário, algumas arvores chado ou então pode ser renovado
presentes na faixa de nativas podem com a poda das árvores. Caso tenham
ser podadas para o estabelecimento sido plantadas espécies madeirei-
dessas ilhas. ras, no momento da colheita deve-
-se tomar cuidado para não impactar
Manejo: Manejo intensivo nas faixas negativamente as outras plantas. A
cultivadas e capina seletiva e poda biomassa das copas deve ser devida-
nas faixas de regeneração natural vi- mente picada e distribuída organiza-
sando o avanço sucessional. A matéria damente cobrindo o solo.

142
Opções de SAFs para diferentes contextos

OPÇÃO 4: Enriquecimento e manejo de capoeiras


(regeneração natural) com Agrofloresta

Contexto: solo com média fertilida- espécies arbóreas nativas e exóticas


de; alta regeneração; predominância (frutíferas e madeireiras) intercaladas
de arbustos e plântulas de árvores, em pequenas aberturas em meio às
com algumas árvores adultas; drena- espécies da regeneração. Como estra-
gem boa; APP ou RL; bioma Cerrado; tégia produtiva, recomenda-se incluir
disponibilidade de mão de obra va- espécies agrícolas que toleram algum
riada (alta, média ou baixa); há aces- sombreamento como as apresenta-
so ao mercado. das na Opção 2. A apicultura também
é alternativa muito interessante nes-
Objetivo principal: restauração. te contexto.

Objetivos secundários: segurança ali- Elementos do desenho do sistema:


mentar e produção para mercado. área de regeneração enriquecida por
pequenos núcleos ou ilhas com bana-
Visão geral: Neste contexto, a regene- neiras, mudas ou sementes de árvores
ração natural pode ser manejada com e espécies agrícolas.
o objetivo de enriquecimento da capo-
eira, a fim de aumentar a diversidade Critérios para seleção de espécies:
de plantas, introduzir espécies multi- Espécies arbóreas nativas e exóticas,
funcionais consideradas úteis para os para usos múltiplos e espécies agríco-
agricultores, principalmente a partir las menos exigentes, principalmente
de sementes e estacas, mas também as de sub-bosque tolerantes à som-
de mudas quando houver disponibili- bra. Caso não haja esterco animal dis-
dade de mão de obra. Embora o prin- ponível na propriedade ou vizinhança,
cipal objetivo seja a restauração, será as culturas alimentícias devem ser
possível conciliar com a produção de espécies e variedades rústicas adapta-
alimentos (com potencial econômico) das a solos com baixa fertilidade.
por meio de espécies como bananei-
ra, árvores e arbustos medicinais e Espécies-chave de árvores: mandio-
frutíferas apreciados pela fauna e pe- cão, sangra d´água, urucum, juçara,
las pessoas. Neste caso, não devem pau pombo, gomeira, pimenta de ma-
ser feitas faixas e sim enriquecimento caco, ingá de metro e outros ingás,
em pequenas ilhas ou núcleos, com cajá, bacupari da mata (Cheiloclinium

143
Opções de SAFs para diferentes contextos

cognatum), puçá (Mouriri sp.), mirin- de corda (Vigna sp.), maxixe (Cucumis
diba (Buchenavia tomentosa), amora anguria), sorgo (Sorghum spp.), man-
(Morus nigra), buriti (Mauritia flexuo- dioca (Manihot esculenta). Em casos
sa), jatobá da mata (Hymenaea cour- onde a fertilidade do solo é elevada ou
baril), ipê roxo (Tabebuia impetigino- há abundância de adubo disponível,
sa), copaíba (Copaifera langsdorfii), então é viável se plantar milho, feijão,
manga (Mangifera indica), abacate abóbora, maracujá (Passiflora edulis).
(Persea americana), jaca (Artocarpus
heterophyllus) e café (Coffea spp.). Implantação: identificar pontos es-
tratégicos (pequenas clareiras) para
Espécies-chave de culturas agrícolas: enriquecimento. Marcar com estaca
banana, inhame (Colocasia esculenta), mudas existentes de árvores do fu-
helicônias (Heliconia spp.), gingibe- turo, roçar (se houver presença de
ráceas (gengibre - Zingiber officinale, capim ou herbáceas envelhecidas),
cardamomo - Elettaria cardamomum, ou ralear/podar arbustos e árvores
etc.). Em casos onde a fertilidade do de ciclo curto que estejam concluin-
solo não é elevada ou não há como do seu ciclo de vida. Preparar o berço
adubar recomenda-se plantar feijão de plantio (afofar, adubar, cobrir com
caupi (Vigna unguiculata) ou feijão matéria orgânica) e semear árvores e

CROQUI DA OPÇÃO 4:
Enriquecimento e
manejo de capoeiras
com Agrofloresta

BANANA

FEIJÃO

MILHO

MANDIOCA

MUDAS DE FRUTAS

A BÓBORA

SEMENTES E MUDAS
DE ÁRVORES NATIVAS
OU BANANEIRA

REGENERANTES

144
Opções de SAFs para diferentes contextos

vista aérea: 3 a 4 meses

vista aérea: 2 a 3 anos

OPÇÃO 4: Enriquecimento e manejo de capoeiras (regeneração natural) com Agrofloresta | vista aérea

145
Opções de SAFs para diferentes contextos

espécies agrícolas, podendo também introduzidas sementes de árvores à


incluir estacas, rizomas (bananeira e frente de cada maniva de mandioca.
outras espécies de interesse alimen- Nesse caso, observe que são planta-
tar e econômico). No caso de bana- das mais árvores e espécies anuais
neira (sessão 4.4.2), plantar antes de conforme explicação na Sessão 4.4.2.
cobrir com matéria orgânica. Manter
a estaca para marcar o local de plan- Manejo: Capina seletiva e podas peri-
tio. A escolha se o plantio será feito ódicas visando o avanço da sucessão.
em ilhas ou núcleos dependerá do As espécies melíferas de ervas, arbus-
tamanho da clareira ou abertura em tos e árvores deverão ser manejadas
meio às plantas regenerantes. Se o de forma a beneficiar a produção de
plantio for feito em ilhas, em peque- mel. Em linhas gerais, o principal ma-
nas áreas abertas em meio às plantas nejo é a capina seletiva e poda da
regenerantes, os círculos de plantio regeneração natural assim como nas
poderão ter aproximadamente 60 cm pequenas ilhas ou núcleos.
a 1 m de diâmetro e serem compostos
por uma muda ou estaca ou semen- Manejo a longo prazo/configuração
tes de árvores (ou então um rizoma do sistema: Floresta com dossel fe-
de bananeira) no centro, rodeada(s) chado após cerca de 5 anos, mesmo
por mandioca (que deve ter a mani- com a dinâmica de podas seletivas.
va direcionada com a parte das raízes Obs: As espécies exóticas não devem
para fora do círculo, no caso de plan- ultrapassar 50% do total da área ma-
tio de árvores) (ver sessão 4.4.2) e/ou nejada. Plantas que se reproduzem
espécies anuais (milho, feijão) ou de por estacas podem ser especialmente
adubo verde (feijão de porco, guandu, estratégicas nesse contexto.
crotalária). Os núcleos são um pouco
mais complexos e podem cobrir uma
área maior (de aproximadamente 2
m de diâmetro). No caso em que no
centro da ilha ou núcleo for plantada
uma bananeira, as manivas de man-
dioca podem ter as raízes direciona-
das para dentro do círculo (distantes
aproximadamente 80 cm do centro)
para se desenvolverem na terra fofa
retirada para a confecção do berço da
bananeira. E como mandioca é exce-
lente criadora de árvores, podem ser

146
Opções de SAFs para diferentes contextos

OPÇÃO 5: Agroflorestas para restauração de


áreas degradadas com espécies adubadeiras
Esta opção se baseia no SAF desenvolvido por Fabiana Peneireiro –
Ecovila Aldeia do Altiplano – Altiplano Leste, em Brasília – DF. Essa ex-
periência é resultado dos ensinamentos e orientações de Ernst Götsch.

Contexto: solo com baixa fertilidade; Objetivo principal: restauração.


baixa regeneração; predominância
de gramíneas e arbustos de estágios Objetivos secundários: segurança ali-
iniciais da sucessão como sapé, capim mentar e comercialização.
gordura, braquiária e assa-peixe; so-
los bem drenados; APP de mata ciliar Visão geral: Recuperação de área de-
e RL; bioma Cerrado; disponibilidade gradada com SAF biodiverso plantado
de mão de obra variada (alta, média em faixas ou ilhas ou núcleos (seção
ou baixa); há acesso ao mercado. 4.4.2) com espécies que produzem

Foto: Fabiana Peneireiro

Agrofloresta com espécies “adubadeiras” em faixas.


Local: Aldeia do Altiplano, Brasília-DF.

147
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Fabiana Peneireiro

grandes quantidades de biomassa, e culturas agrícolas de ciclo curto, além


que crescem bem em solos de Cerrado de árvores frutíferas e nativas. Alter-
com baixa fertilidade. O sistema apre- nativamente, as árvores podem ser
senta baixa intensidade de manejo e introduzidas em núcleos ou ilhas.
produção adequada para viabilizar a
restauração. A ênfase é dada para es- Critérios para seleção de espécies
pécies perenes, como banana e outras (espécies-chave): As espécies agrí-
frutíferas, com produção de espécies colas e arbóreas deverão ser aquelas
anuais apenas no estágio inicial do SAF. bem adaptadas a solos de baixa fer-
tilidade (pouco exigentes) e as espé-
Elementos do desenho do sistema: cies adubadeiras deverão ser eficien-
plantio de faixas de 3 a 5 metros de tes em produção de biomassa. Caso
largura com espécies que produzem se utilize alguma adubação na im-
grandes quantidades de biomassa, plantação, pode-se utilizar espécies
como por exemplo capim e margari- agrícolas mais exigentes.
dão, e que crescem bem em solos de
Cerrado com baixa fertilidade. Estas Espécies-chave de culturas agríco-
devem ser intercaladas com cantei- las: milho, inhame, mandioca, ma-
ros de 1 m de largura, compostos por mão, banana.

148
Opções de SAFs para diferentes contextos

Espécies-chave de árvores: mandio- roçar e separar a biomassa para de-


cão, urucum, juçara (introduzir depois pois capinar, retirando todo rizoma.
do 3o ou 4o ano), pimenta de macaco, Os rizomas podem ser enterrados no
ingá de metro e ingá feijão, mutamba, fundo dos berços das bananeiras ou
periquiteira, cajá, puçá, mirindiba, ja- batidos para retirar a terra e deixa-
tobá da mata, ipê roxo, copaíba, man- dos virados secando ao sol. Se as gra-
ga, abacate, jaca, pitanga, jabuticaba, míneas não forem grandes, pode-se
goiaba, araçá, jenipapo. No caso de realizar somente a capina conforme
RL, incluir angico e carvoeiro. explicado. As faixas de plantas adu-
badeiras deverão ter de 3 a 5 metros
Espécies-chave na faixa de adu- de largura, e são intercaladas com
badeiras: leguminosas (crotalária, canteiros de 1 metro de largura ou
guandu, mucuna preta, estilosantes, linhas com culturas agrícolas de ciclo
feijão de porco), capim elefante, ca- curto, também adaptadas a estes ti-
pim mombaça, andropogon, marga- pos de solos (espécies mais rústicas),
ridão, gliricídia. juntamente com árvores frutíferas
e nativas. Para a implantação, deve-
Implantação: em áreas onde prevale- -se marcar o local das faixas e dos
cem gramíneas de touceiras grandes, canteiros. Preparar o solo, adubar,

149
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Fabiana Peneireiro

plantar mudas, cobrir o solo com central do canteiro no espaçamento


matéria orgânica do local. Mudas de normalmente recomendado. O mar-
árvores frutíferas e bananeiras são garidão é plantado nas bordas dos
introduzidas na linha central do can- canteiros a partir de estacas de 20
teiro, de acordo com o espaçamen- cm (inclinadas e toda enterrada), no
to recomendado para a espécie. Por espaçamento de 0,5 m entre estacas.
exemplo, se o carro-chefe for banana Nas faixas de plantas adubadeiras,
e citrus, então elas são plantadas in- planta-se o capim elefante, mombaça
tercaladamente no canteiro com 3 m ou andropogon no espaçamento de
de distância entre elas. São plantadas 0,5m entre touceiras. Podem ser se-
duas manivas de mandioca com as ra- meadas outras plantas adubadeiras,
ízes direcionadas para as laterais do como leguminosas a lanço. Sementes
canteiro, e as sementes das árvores, de guandu e estacas de gliricídia po-
juntamente com mamão, algodão, dem ser plantadas em linha no cen-
mamona, são dispostas à frente da tro da faixa das espécies adubadeiras.
maniva (ver seção 4.4.2). As espécies Dessa forma, poderão ser poupadas
agrícolas como milho, quiabo e horta- durante a roçagem. O guandu e gliri-
liças (no caso de haver adubação) de- cídia serão podados e sua biomassa
verão ser semeadas também na linha carreada para os canteiros.

150
Opções de SAFs para diferentes contextos

Nos casos em que há pouca mão de plantio em ilhas ou núcleos pode ser
obra disponível, recomenda-se plan- feito preparando um berço adubado,
tar as mesmas espécies, porém em onde é plantando o rizoma (batata)
núcleos ou ilhas espalhados pela área da banana e, ao redor, uma mistura
ao invés de canteiros e faixas. Neste de sementes de árvores, mandioca
caso, a biomassa podada e qualquer e espécies leguminosas (veja seção
adubo disponível na propriedade ou 4.4.2). O acúmulo da biomassa em
vizinhança (como esterco animal, cin- torno destas ilhas melhora a fertilida-
za, folhas do quintal, serragem, etc.) de e inibe o crescimento de plantas
devem ser concentrados nos núcleos não desejadas, também conhecidas
ou ilhas de árvores consorciadas com como ervas “daninhas”, o que favo-
culturas agrícolas. As árvores devem rece o desenvolvimento das espécies
ser plantadas por mudas, estaca e cultivadas e árvores do futuro incluí-
sementes em alta densidade, de for- das na mistura de sementes.
ma que somente algumas das mais
resistentes e com melhor desenvol- Manejo: Uma vez estabelecidas, as
vimento sejam selecionadas depois, espécies adubadeiras devem ser ro-
junto com culturas agrícolas e frutífe- çadas sistematicamente, geralmente
ras como bananeiras. Este sistema de três ou quatro vezes por ano no caso

151
Opções de SAFs para diferentes contextos

do margaridão e dos capins, e a ma- acumulado sobre os canteiros pró-


téria orgânica deve ser acumulada ximos às plantas que estão na linha
no canteiro (ou núcleos e ilhas) com central. O manejo das bananeiras
culturas agrícolas e árvores cultiva- ocorre quando se colhe o cacho ou
das. Geralmente se faz o manejo no quando as touceiras já envelhecidas
início da estação chuvosa, no meio da precisam ser desbastadas. As árvores
estação chuvosa e no início da esta- são podadas de acordo com a neces-
ção seca, podendo, ainda, haver mais sidade de raleamento, formação ou
um manejo durante a estação chuvo- sincronização (seção 4.5.2).
sa, dependendo do desenvolvimento
das plantas. Os canteiros com espé- Manejo a longo prazo/configuração do
cies agrícolas e árvores devem ser sistema: Depois de aproximadamente
manejados mediante capina seletiva 5 a 7 anos de manejo, as plantas adu-
e podas. No entanto, mesmo quan- badeiras do início (gramíneas, legumi-
do há pouca mão de obra, mas há nosas e outras) serão sombreadas e a
maquinário simples como roçadeira fonte de biomassa será de árvores efi-
costal, recomenda-se fazer a roçagem cientes para essa função. As faixas das
na faixa de espécies adubadeiras com adubadeiras poderão então ser enri-
roçadeira. O material roçado deve ser quecidas com espécies de sub-bosque.

CROQUI DA OPÇÃO 5:
Agroflorestas para
restauração de áreas
degradadas com
espécies "adubadeiras"

MARGARIDÃO

CAPIM

MILHO

BANANA

MANDIOCA

MAMÃO

SEMENTES
DE ÁRVORES

MUDA DE ÁRVORE

152
3 meses

2 a 3 anos

7 a 10 anos

OPÇÃO 5: Agroflorestas para restauração de áreas degradadas com espécies adubadeiras


153
Opções de SAFs para diferentes contextos

oPÇÃO 6: Restauração em áreas de declive do


Cerrado com Agroflorestas
Esta opção se baseia no SAF desenvolvido por Andrew Miccolis –
Instituto Sálvia – Núcleo Rural Córrego do Urubu, em Brasília – DF.

Contexto: APP de declive ou RL; solos Critérios para seleção de espécies:


com baixa fertilidade, predominante- Culturas anuais resistentes e árvores
mente rochosos e cascalhentos; baixa a frutíferas e nativas, especialmente as
média regeneração; predominância de mais rústicas que pegam facilmente
gramíneas e arbustos; bioma Cerrado; de estaca ou semente.
disponibilidade de mão de obra baixa;
acesso ao mercado baixo a médio. Espécies-chave: guandu, carvoeiro,
tingui, baru, jatobá, ipê, copaíba, an-
Objetivo principal: restauração. gico, mangaba, amora, cajá, agave
(Agave spp.).
Objetivos secundários: produção de
alimentos, espécies medicinais e or- Implantação: nos casos em que há
namentais. pouca mão de obra ou o terreno apre-
sentar declive muito acentuado, prepa-
Visão geral: Em áreas de declive, va- rar pequenas bacias em forma de meia
las em curva de nível e pequenos lua (com 0,5m a 1,5m de diâmetro) ou
terraços são importantes para con- pequenos terraços acompanhando a
trolar erosão, acumular nutrientes e curva de nível do terreno (com 2 a 3m
aumentar infiltração de água no solo. entre linhas). Estes terraços devem
Árvores nativas e frutíferas são plan- ser localizados em pontos estratégicos
tadas de muda em pequenas ilhas, e do terreno, por exemplo, onde ocorre
de semente na área inteira junto com mais acúmulo, o solo é um pouco mais
milho, culturas anuais e leguminosas profundo, onde há espaço entre as
rústicas, entre fileiras de agave, amo- pedras para facilitar a construção dos
ra e margaridão. terraços e aumentar a infiltração de
água e acúmulo de matéria orgânica e
Elementos do desenho do sistema: solo. Em terrenos com declive menos
pequenos terraços ou valas de infiltra- acentuado podem ser construídos ter-
ção em curva de nível para controle da raços utilizando-se máquinas agrícolas.
erosão e estabelecimento das árvores. No processo de construção do terraço

154
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Andrew Miccolis


Áreas de declive do Cerrado (ou áreas de uso restrito - AUR) com Agroflorestas em terraços.
Instituto Sálvia, Brasília – DF.

formam-se valas e morrotes. É funda- O material roçado e a poda das árvo-


mental que os terraços sejam cobertos res nativas também deve ser concen-
com matéria orgânica, tanto as valas trado nestes pequenos terraços após
quanto os morrotes. Realiza-se então plantar sementes de árvores e cobrir
capina seletiva. com adubo disponível na proprieda-
de ou vizinhança, como esterco, cinza
Árvores, arbustos, leguminosas e ou composto. Junto com as árvores
gramíneas de rápido crescimento são planta-se, em pequenos berços com
plantados diretamente por semen- esterco, milho com algumas hortali-
tes ou por estacas na parte de baixo ças rústicas como maxixe, jiló, tomate
dos morrotes resultantes ou dentro cereja, pepino caipira e abóbora me-
das partes mais baixas das valas ou nina. Quando houver disponibilidade,
dos berços para as espécies que pre- calcário e pó de rocha também podem
ferem solos mais úmidos. Grandes ser usados para reduzir a acidez e tra-
terraços também são eficazes para zer nutrientes para estes solos. No
concentrar água e nutrientes, além morrote (onde a terra está mais fofa)
de controlar erosão, porém exigem planta-se mandioca a cada 80 cm, com
mais mão de obra. Outra opção é as raízes direcionadas para dentro do
plantar no morrote leguminosas e morrete. Então inserem-se as semen-
agave (piteira ou sisal) para usar sua tes de árvores à frente das pontas das
matéria orgânica como cobertura do manivas (ver seção 4.4.2). Hortaliças
solo mediante poda. rústicas podem ser plantadas dentro

155
Opções de SAFs para diferentes contextos

Bacias de contenção Terraços CROQUI DA OPÇÃO 6:


Restauração em áreas
de declive do cerrado
com Agroflorestas

A BÓBORA, PEPINO
OU MAXIXE

HORTALIÇAS RÚSTICAS

FEIJÃO GUANDÚ

AGAVEAS

MANDIOCA

MAMÃO

SEMENTES E MUDAS
DE ÁRVORES NATIVAS
Sentido OU FRUTAS
do declive

dos pequenos terraços, onde foi adu- dos morretes ou acima das valas e
bado, junto com as sementes ou mu- devem ser podadas. Ainda abaixo dos
das das árvores. As agaves são plan- morretes ou onde for possível, plantar
tadas a cada 50 cm na parte de baixo estacas de margaridão e amora. Ain-
da com objetivo de estabelecimento
das árvores, recomenda-se o plantio
de sementes de árvores com milho
em pequenos berços adubados com
esterco ou composto (ver seção 4.4.2)
em área total, em lugares estratégicos
com acúmulo de matéria orgânica e
solo. Realiza-se então semeadura a
lanço de espécies leguminosas tais
como crotalária, mucuna, estilosantes
e feijão guandu. Por fim, realiza-se a
poda das árvores presentes na área.
O material é devidamente organizado
de modo que a madeira possa reforçar
os terraços e servir como contenção

156
Opções de SAFs para diferentes contextos

em outros locais do terreno. As folhas podas é disposto ao redor das árvores


são picadas e acumuladas nos berços consideradas mais preciosas.
de plantio e onde o solo está exposto.
Manejo a longo prazo/configuração
Manejo: realizar capina seletiva e po- do sistema: SAF com estrutura e fun-
dar as leguminosas e o margaridão ção semelhantes à floresta nativa de
nos primeiros 3 anos. Acumular a declive, todavia com maior densida-
biomassa nos terraços e ao redor das de de espécies frutíferas. Realizam-se
árvores introduzidas. Para evitar a dis- desbastes de árvores que estiverem
persão das sementes da mucuna é im- em grande densidade e poda seletiva
portante podá-la antes da frutificação. das árvores remanescentes para man-
A partir do terceiro ano podam-se as ter a produção das espécies frutíferas
agaves e as amoreiras. O material das implantadas.

2 a 3 anos

oPÇÃO 6: Restauração em áreas de declive do Cerrado com Agroflorestas | Vista em perspectiva

157
Opções de SAFs para diferentes contextos

OPÇÃO 7: Agroflorestas para restauração


de áreas de declive ou de Reserva Legal na
Caatinga
Esta opção se baseia no SAF desenvolvido por Gilberto dos
Santos, Comunidade Pau Ferro, município de Curaçá/BA.

Contexto: solo com baixa a média fer- recursos (água, mão de obra, esterco)
tilidade; baixa a média regeneração; disponíveis são melhor aproveitados.
predominância de arbustos, cactáce-
as e árvores de baixo porte; drenagem Elementos do desenho do sistema:
boa; RL; bioma Caatinga; disponibi- Pequenas bacias ou pequenos terra-
lidade de mão de obra baixa, médio ços ou valas de infiltração em curva
acesso ao mercado. de nível para controle da erosão e
estabelecimento das árvores. Enri-
Objetivo principal: convivência com quecimento com uso de esterco rico
o semiárido, produção de alimentos e em sementes de espécies forrageiras
outros produtos. da Caatinga junto com sementes de
espécies frutíferas e madeireiras, in-
Objetivos secundários: restauração. cluindo nativas e exóticas.

Visão geral: No caso da Caatinga, a Critérios para seleção de espécies:


principal diferença desta opção em Culturas anuais resistentes e árvores
relação à Opção 6 é a importância do frutíferas, especialmente aquelas que
componente animal, incluindo o uso se propagam facilmente por estacas e
de esterco de caprinos ou ovinos para sementes.
semear espécies nativas de árvores e
arbustos forrageiros. Além disso, de- Espécies-chave de culturas agríco-
vem ser selecionadas espécies mais las: guandu, gergelim, maxixe, feijão
adaptadas ao período mais longo de de corda.
estiagem e condições mais secas da
Caatinga. Mesmo em áreas com pou- Espécies-chave de árvores: umbu,
co declive, também devem ser utiliza- seriguela, cajá, caju, juazeiro, fave-
das pequenas bacias ou pequenos ter- la, mulungu, graviola, tamarindo
raços para estabelecer árvores e obter (Tamarindus indica), pinha (Annona
alguma produção já que os poucos squamosa).

158
Opções de SAFs para diferentes contextos

Implantação: Árvores, arbustos, legu- do morrote deixado após cavar berços


minosas e gramíneas de rápido cres- para plantar mudas mais valorizadas
cimento podem ser plantados direta- e exigentes em termos de umidade e
mente por sementes ou por estacas na nutrientes. Também pode ser plantada
parte de baixo dos morrotes resultan- em todo o terreno em curva de nível. A
tes das valas de infiltração ou dentro matéria orgânica do material roçado e
dos terraços, pequenos terraços ou das podas das árvores nativas também
berços utilizados para plantar mudas. A deve ser concentrada nestes pequenos
parte cavada destas estruturas deve ser terraços após plantar sementes de ár-
coberta com esterco animal e matéria vores e cobrir com adubo disponível na
orgânica a fim de aumentar a infiltra- propriedade ou vizinhança, como es-
ção, evitar erosão, melhorar a fertilida- terco, cinzas ou composto. Juntamente
de e promover a regeneração por meio com as sementes de árvores, planta-se
de sementes introduzidas pelo esterco. guandu e também algumas hortaliças
Agave (piteira ou sisal) deve ser plan- mais rústicas como maxixe, jiló, to-
tada a cada 50 cm na parte de baixo mate cereja, pepino caipira e abóbora

Foto: Daniel Vieira Bacias em curva de nível para controle da


erosão e estabelecimento das árvores.

159
Opções de SAFs para diferentes contextos

menina nestes berços no primeiro ano.


Observa-se que na Caatinga, a A bacia pode ter de 1 a 2 m de diâme-
APP é muito utilizada para a pro- tro, caracterizando-se como meia lua
dução, pois é o local que mais para segurar a água. Dentro da bacia
viabiliza o desenvolvimento das pode ser feito um plantio como se
culturas agrícolas. Conciliar pro- recomenda em ilhas. Como exemplo,
dução com conservação nesse pode-se plantar uma muda de árvore
caso é fundamental, e sistemas adaptada (espécie-chave), e também
agroflorestais possibilitam isso. uma estaca de árvore, juntamente
As próximas três opções se refe- com três raquetes de palma ou esta-
rem ao bioma Caatinga. cas de mandacaru distribuídas pelo
local, e também guandu a partir de 5
Na abordagem de convivência
ou 6 sementes, espaçados de 0,5m. As
com o semiárido preconizada
espécies anuais, como feijão de corda,
para a Caatinga, os sistemas agro-
gergelim, maxixe podem ser plantadas
florestais devem ser associados a
em espaçamento de acordo com o cos-
sistemas de captação, armazena-
tume do agricultor. Por fim, realiza-se
mento e reuso de água, incluindo
a poda das árvores presentes na área.
tecnologias sociais como cister-
O material é devidamente organizado
nas, barraginhas, poço amazôni-
de modo que a madeira possa reforçar
co, dentre outras, que viabilizam
os terraços e servir como contenção
a disponibilidade de água para o
em outros locais do terreno. As folhas
consumo humano, para os ani-
são picadas e acumuladas nos berços
mais e irrigação das plantas.
de plantio e onde o solo está exposto.

Manejo: realizar capina seletiva. Acu-


Palma como fonte de água para mudas de árvores. mular a biomassa nos terraços e ao re-
Foto: Cinara Del’Arco Sanches dor das árvores introduzidas. A partir
do terceiro ano podam-se as agaves.
O material das podas do guandu e das
agaves é disposto cobrindo o solo ao
redor das árvores mais preciosas.

Manejo a longo prazo/configuração


do sistema: SAF com estrutura e fun-
ção semelhante à floresta nativa da Ca-
atinga, todavia com maior densidade
de espécies frutíferas e outras úteis.

160
Opções de SAFs para diferentes contextos

esterco de cabra para


semear plantas na Caatinga
O esterco de cabra é um ótimo material para a restauração
da Caatinga. Além da matéria orgânica, ele tem todos os ta-
manhos de sementes, de ervas a árvores. “A sementeira que
a gente vai ter é o esterco. Marí, umbu, juá, tudo nascendo!
O esterco de cada época tem uma composição de sementes
diferente seguindo a época de produção das espécies. Para
recuperar áreas degradadas com solo exposto é importante
trabalhar com as ervas que cobrem o solo e seguram a matéria
para não escorrer superficialmente. O esterco traz alta densi-
dade de sementes de ervas que germinam bem.”

José Moacir dos Santos – IRPAA - Juazeiro – BA

CROQUI DA OPÇÃO 7:
Agroflorestas para
restauração de áreas
de declive na Caatinga

ESTERCO DE CAPRINOS

MANDACARÚ

FEIJÃO DE CORDA

FEIJÃO GUANDÚ

SISAL

ESTACAS DE ÁRVORES
(CAJÁ, SERIGUELA,
MULUNGU)

Sentido
do declive SEMENTES E MUDAS
DE ÁRVORES NATIVAS
OU FRUTAS

161
Opções de SAFs para diferentes contextos

isolamento e restauração de
áreas degradadas na Caatinga
Cercar o “limpo” foi o primeiro passo para recuperar a área. Não
se sabe ao certo, ou melhor, parece que vários fatores contri-
buem para a formação dos “limpos”, como o agrupamento das
cabras nestas áreas (malhadores), períodos consecutivos de
seca, solos frágeis.

Gilberto faz covas e microbacias em forma de meia-lua rodeando


as covas. A água é permitida entrar na bacia e infiltrar na cova, mas
fica impedida de escoar superficialmente. A altura destas curvas é
de 20 cm e o diâmetro é de 1 metro. Essas bacias são feitas em todo
o terreno, formando uma escadaria de bacias. Nas covas ele planta
o umbuzeiro, pois ele quer que seu alto investimento em mão de
obra se transforme em frutas para consumir e comercializar. O es-
paçamento dos umbuzeiros é de 10 x 10 m.

Gilberto cerca a área e espalha esterco com a pá, em camadas bem


finas. Sobre o esterco nascem capins e outras ervas. Essas ervas
secam sem água, mas criam uma palhada que segura água e solo,
então sempre nascem novas ervas sobre essa palhada quando mo-
lha. A cerca impede que as cabras comam o capim. Não somente
nas bacias, mas em todo o terreno estão nascendo ervas e árvores,
trazidas com o esterco e germinadas e estabelecidas por causa da
exclusão das cabras, das bacias que conservam água e do esterco
que conserva água e disponibiliza nutrientes. A aplicação do esterco
é frequente, e é feita nas áreas em que o solo ainda está “limpo”.

Gilberto dos Santos – Comunidade Pau Ferro, Curaçá – BA

162
Opções de SAFs para diferentes contextos

OPÇÃO 8: SAF forrageiro para a Caatinga


Esta opção é baseada na experiência da EFASE – Escola
Familia Agrícola Sertão – Monte Santo/BA

Contexto: solo com média fertilidade; Visão geral: Caatinga em regenera-


baixa a média regeneração; predomi- ção, podada e manejada de forma a
nância de arbustos, cactáceas, e árvores permitir pastejo dos capinos/ovinos e
de baixo porte; drenagem boa; RL ou manutenção da biodiversidade e ou-
APP; bioma Caatinga, disponibilidade de tros serviços ambientais.
mão de obra baixa; acesso ao mercado.
Em vista do papel essencial dos animais
Objetivo principal: convivência com neste contexto, principalmente cabras
o semiárido (produção de alimentos e e ovelhas, para garantir o sustento de
geração de renda com foco na criação agricultores familiares na Caatinga, os
de animais) sistemas agroflorestais produtores de
forragem são muito importantes. Estes
Objetivos secundários: restauração. fornecem alimentos para os animais

Foto: Daniel Vieira

Agroflorestas forrageiras.

163
Opções de SAFs para diferentes contextos

entre o meio e final do período de seca


até o início das águas, assim como no
meio das chuvas. Por outro lado, a pre-
sença de árvores cria condições de mi-
croclima mais amenas que contribuem
para o bem estar e, portanto, a pro- Produção de feno e silo:
dutividade dos animais neste período alimentação dos
mais crítico. Adotado cada vez mais na animais na seca
Caatinga, este sistema agrossilvipasto-
ril permite cultivar outras espécies de Para produção de feno utilizam
culturas agrícolas e fornecer alimentos o sorgo, o pau ferro, que é nati-
aos animais7,110 por meio de poda das vo. Além do pau ferro, utilizam
árvores forrageiras da Caatinga8. outras espécies nativas como
pau de rato, quebra facão, ma-
Elementos do desenho do sistema: niçoba, mandioca brava. Eles
Estabelecimento das árvores por es- retiram e guardam para o ve-
tacas, sementes e mudas, com linhas rão, então misturam com o
intercaladas de palma, sisal e culturas sorgo, cortam o capim buffel,
agrícolas e forrageiras em ilhas ou nú- armazenam tudo e fazem feno
cleos. Aproximadamente uma dúzia de para dar aos animais na época
espécies nativas forrageiras são planta- da seca.
das junto com algumas forrageiras exó-
ticas como gliricídia e leucena. Para guardar o feno fazem uma
bancada e fecham com sisal
Espécies-chave de culturas agrícolas: acima do chão para não ficar
milho, guandu, gergelim, maxixe, fei- em contato com a umidade do
jão de corda. chão, evitando o bolor.

Espécies-chave de árvores e outras: Para fazer o silo juntam cinco


gliricídia, leucena, palma, sisal, umbu, ou seis pessoas da família, fa-
cajá, caju, emburana, jucá, juazeiro, zem um buraco no chão e vão
catingueira, sabiá (sansão do campo). pisoteando para compactar,
passam a lona e tiram o ar.
Implantação: é feito o enriquecimento
a partir de plantios de ilhas ou núcleos Associação Regional Distrito
em pequenas clareiras que existem na- Caldeirão do Almeida –
turalmente em meio à vegetação em Uauá – BA
regeneração, com ênfase em espécies

164
Opções de SAFs para diferentes contextos

sistema silvipastoril para


criação de cabras e ovelhas
Antônio destina 7 hectares para a criação. Hoje os sete hectares
são de Caatinga com os animais soltos. Há um chiqueiro que ele
serve o capim e o milho frescos ou fenados. Ele vai piquetear
toda a área. Serão instaladas cercas elétricas de 12 volts, com
três fios, dividindo a área em 5 piquetes. Cada piquete será usa-
do por 2,5 meses. A solta na Caatinga garante alimentação du-
rante boa parte do ano.

Antônio pretende deixar uma área natural com a entrada de ca-


bras apenas os 2,5 meses do ano. Nos outros piquetes vai fazer re-
baixamento na catingueira, no mororó (Bauhinia cheilantha), na
cantanduva (Ptyricarpa moniliformis), para que rebrotem a uma
altura que as cabras comem. Outras árvores que os animais só
comem as folhas secas, podemos deixar crescer sem podas. Este é
o princípio do sistema silvipastoril da Caatinga. Ele pretende tam-
bém deixar algumas arbóreas para colher madeira no futuro.

Antônio José de Morais – Sítio Flor de Jasmim, Comunidade


Juá dos Vieiras, Viçosa do Ceará – CE

Foto: Daniel Vieira Foto: Daniel Vieira

165
Opções de SAFs para diferentes contextos

forrageiras. Identificar pontos estraté- Com o objetivo de aumentar a biodi-


gicos (pequenas clareiras) para enri- versidade, mais espécies com múltiplas
quecimento. ­Marcar com estaca mudas funções, incluindo espécies frutíferas e
existentes de árvores do futuro, roçar madeireiras, podem ser adicionadas a
(se houver presença de capim ou her- esta mistura de sementes. A palma aju-
báceas envelhecidas). Preparar o berço da a proteger o solo e manter a umi-
de plantio (afofar, adubar, cobrir com dade, servindo como “proteção” para
matéria orgânica) e semear árvores as mudinhas de árvores que crescerão
(incluindo leucena, gliricídia e algaroba ao seu lado, além de fornecer água e
junto a sementes de espécies nativas nutrientes aos animais. O esterco dos
como sabiá, por exemplo), a gliricídia animais é carregado e utilizado como
pode também ser plantada por estacas, adubo nestes sistemas, o que também
bem como o cajá, seriguela, umbu, se aumentará a quantidade e diversidade
houver disponibilidade. São introduzi- de sementes de árvores e arbustos que
das também mandacaru, palma forra- farão a cobertura do solo e ampliarão a
geira no espaçamento de 0,5 m entre diversidade de funções ecológicas e so-
plantas, sisal, também a cada 0,5 cm, e ciais. Por fim, ralear e podar arbustos e
espécies agrícolas, em espaçamento ge- árvores presentes na área e utilizar o
ralmente utilizado pelo agricultor. material da poda para cobrir o solo. A

CROQUI DA OPÇÃO 8:
SAF forrageiro para
a Caatinga

SISAL

PALMA FORRAGEIRA

LEUCENA

GLIRICÍDIA

FEIJÃO GUANDÚ

MILHO

FEIJÃO DE CORDA

MAXIXE

SEMENTES E MUDAS
DE ÁRVORES NATIVAS
OU FRUTAS

REGENERANTES

166
Opções de SAFs para diferentes contextos

sistema silvipastoril
com caprinos e caju
Eu crio cabra de baixo do caju pra fazer a capina do caju. No caju tem
mororó, tem o sabiá que foi rebaixado, que rebrota, toda vez que ela
come ele vai lá e rebrota, tem a jurema branca, tem a jurema preta,
tem a catingueira. A catingueira elas não comem verde, elas preferem
fenada, aí eu tiro e faço o feno. Tenho dois piquetes e metade do ano
fica em um e metade no outro. Na área que não tem caju, elas podem
ficar pastando até maio, que o pasto ainda se recupera pra ela comer
seco no final, depois da safra do caju. Nessa época elas passam pra
dentro do caju, pra começar a limpar o cajueiro, pra dar menos tra-
balho no roço. É nessa época que a catingueira tá bem alta, e a gente
tira e fena pra elas comerem. Eu comecei com cinco matrizes, um re-
produtor, agora já tem 10. E elas estão todas prenhas já. Como eu fiz
um banco de proteína do lado, eu quero aumentar pra vinte, eu quero
estocar alimento. Eu já tenho alimento estocado; ano passado elas não
deram conta de comer o feno da catingueira não.

O banco de forrageira tem milho consorciado com gliricídia e leucena, e


tudo que tinha dentro. Nessa área que eu rocei, era sabiá e jurema, e aí
isso tudo é pasto. Agora eu estou colhendo o milho e tem essas moitas
todas pra tirar, e aí vou fazer o controle da gliricídia pra fenar, a partir de
dois anos, porque ela só é boa de podar a partir de dois anos.

As cabras comem o caju e deixam a castanha no chão. Você só colhe


a castanha. E como você deixou limpo, porque você deixou as cabras
um tempão ali, fica facinho de pegar a castanha. Na área que elas não
pastam eu colho o caju, tiro a castanha, e seco o caju. Quando está
bem sequinho, eu passo na forrageira, e boto junto com o milho mo-
ído, como suporte forrageiro, elas comem bem demais. Esse sistema
silvipastoril está com dois hectares, dividido ao meio.

Ernaldo Expedito de Sá – Tianguá faz parte da APA Ibiapaba – CE

167
Opções de SAFs para diferentes contextos

fim de compatibilizar os animais com os Manejo: Podas das árvores para cober-
objetivos de restauração da vegetação tura do solo e produção de forragem
e de produção agroflorestal, durante (feno) para os animais. Introdução de
os primeiros anos de estabelecimento, espécies úteis (frutíferas, apícolas,
os animais deverão ficar fora das áreas madeireiras) por meio de estacas e se-
recém implantadas, o que permitirá a mentes, incluindo as que vêm no ester-
regeneração a partir de sementes, raí- co. As árvores são manejadas por meio
zes e brotos novos em galhos. de podas regulares para colheita de
folhas e galhos finos para alimentação
Critérios para seleção de espécies: dos animais. As palmas são podadas e
Espécies engenheiras acumuladoras servidas aos animais no cocho.
de água e espécies agrícolas e forra-
geiras adaptadas às condições de cli- Manejo a longo prazo/configuração
ma e solo. Caprinos rústicos e espé- do sistema: Realização de podas das
cies vegetais altamente eficientes em árvores e cactáceas para produção de
produção de biomassa e tolerantes à forragem e biomassa, de modo a dei-
seca; culturas agrícolas e árvores fru- xar passar suficiente luz para o cresci-
tíferas adaptadas às condições edafo- mento de espécies gramíneas e arbus-
climáticas do semiárido. tivas no sub-bosque.

Foto: Daniel Vieira

168
Opções de SAFs para diferentes contextos

milho e capim para os


animais junto com fruteiras
A roça de milho está consorciada com capim, ambos para alimentar
os animais, e fruteiras novas. O terreno vem sendo recuperado com
o material das podas das árvores que já estavam presentes rebro-
tando no terreno, e de matéria orgânica que o agricultor consegue
facilmente de fora, principalmente o bagaço de cana e de carnaúba,
além do esterco de cabras e ovelhas. Antônio poda o capim a cada
três meses na chuva, para cobrir a terra e para fenar para os ani-
mais na época seca. Foram plantados cajueiros variedade anão pre-
coce e atas. No futuro, a ideia é deixar a mata ao longo do córrego.

“Plantei ata, caju e deixei algumas árvores que já estavam no terre-


no. Algumas árvores são conduzidas, podadas para gerar matéria
orgânica e desenvolver um fuste. Essa história da poda vai ficando
muito legal, as plantas menores conseguem sair na boa. Eu conse-
gui um podão sueco com uma vara longa que alcança alto e tem o
serrote bem afiado.”

As árvores são podadas para entrar mais luz para o capim, o milho
e as mudas novas. O capim é capinado todo ano quando se planta
o milho, para o milho crescer mais rápido e prosperar. Esse capim
pode ser arrancado na raiz e deixado sobre o solo, que ele enraíza no-
vamente. Esse manejo é interessante, pois atrasa bastante o capim
enquanto o milho se desenvolve. O capim ajudou muito no processo
de restauração, mas agora está chegando a hora de deixar o milho e
o estilosantes, pois o capim está muito agressivo.

Antônio José Sousa de Morais – Sítio Flor de Jasmim,


Comunidade Juá dos Vieiras, Viçosa do Ceará – CE

169
Opções de SAFs para diferentes contextos

OPÇÃO 9: Restauração de áreas degradadas


na Caatinga com agroflorestas
Esta opção é baseada na experiência de Henrique Sousa,
com orientações de Ernst Götsch em Cafarnaum/BA.

Contexto: solo com baixa fertilidade restauração de solos, estabelecimento


(tendendo à desertificação); baixa rege- de árvores e armazenamento de água
neração; drenagem boa; RL, bioma Ca- na vegetação).
atinga; disponibilidade de mão de obra
média a alta; há acesso ao mercado. Elementos do desenho do sistema: Es-
pécies engenheiras plantadas em altís-
Objetivo principal: restaurar área sima densidade em fileiras e podadas
degradada, reverter processo de de- regularmente ou utilizadas como for-
sertificação. ragem. Os sistemas agroflorestais são
plantados em linhas de palma (Opun-
Objetivos secundários: fortalecer meios tia ficus-indica) a cada 1 metro de dis-
de vida da família agricultora e gerar ren- tância (dependendo do tamanho da
da com foco na criação de animais, con- área e disponibilidade de mudas) e 1m
vivência com o semiárido. entre plantas, que também podem ser
intercaladas, na linha, com sisal. Nas
Visão geral: Estes sistemas são voltados entrelinhas são semeadas espécies de
para restauração de áreas em estágio árvores frutíferas e forrageiras junto
avançado de degradação, inclusive áre- com leguminosas e grãos
as em processo de desertificação. Os
solos são recuperados e as agroflores- Critérios para seleção de espécies: Es-
tas são estabelecidas incialmente por pécies engenheiras acumuladoras de
meio de espécies “engenheiras” rústi- água e espécies agrícolas forrageiras
cas e resistentes à seca com alta capaci- e apícolas adaptadas às condições de
dade de retenção de água que também clima e solo, altamente eficientes em
possam ser utilizadas como forrageiras. produção de biomassa e tolerantes à
As espécies engenheiras são plantadas seca; culturas agrícolas e árvores frutí-
em altíssima densidade em fileiras e po- feras adaptadas às condições edafocli-
dadas regularmente ou utilizadas como máticas do semiárido.
forragem, dependendo dos objetivos
do agricultor (criação de animais, cul- Espécies-chave de culturas agrícolas:
turas anuais ou produção de frutas, ou milho (quando houver possibilidade de

170
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Cinara Del’Arco Sanches

Foto: Cinara Del’Arco Sanches

Estágio inicial do consorcio com alta densidade de espécies forrageiras, culturas agrícolas e árvores
nativas. Município de Cafarnaum/BA.

171
Opções de SAFs para diferentes contextos

esterco) ou sorgo, guandu, gergelim,


maxixe, feijão de corda.

Espécies-chave de árvores e outras:


gliricídia, leucena, palma, umbu, cajá, Plantio de culturas
caju, emburana, jucá, juazeiro, catin- anuais com sisal e
gueira, sabiá (sansão do campo), morin-
ga, maniçoba, baraúna, licuri, aroeira,
palma no sertão
algaroba, mamona.
Ernst, a partir de sua experiên-
cia no semiárido, recomenda
Implantação: São plantadas as raque-
plantar o sisal de maneira bem
tes de palma intercaladas com sisal
adensada (a cada 20 cm). Com
no espaçamento de 0,5 na linha e 1m
um ano corta-se 3/4 (a cada se-
entre linhas. Entre as linhas, coloca-se
gunda fila). Pode-se usar roça-
em sulco um mistura de sementes de
deira. Sisal, com 7 anos, chega
árvores forrageiras, incluindo gliricí-
a acumular 10 cm de biomassa
dia, leucena, mulungu e sabiá. Junto
sobre o solo. Essa espécie reco-
às sementes das forrageiras inserem-
lhe água da atmosfera (sereno)
-se também mamuí e caju, além de
na seca. Assim que roçar o sisal,
estacas de umbu, cajá, juazeiro71, bem
planta-se o milho e também fei-
como outras espécies adaptadas ao
jão, e mesmo com o mínimo de
contexto. Com o objetivo de aumentar
água colhe-se bem. Junto com
a biodiversidade, mais espécies com
o milho pode-se plantar tam-
múltiplas funções, incluindo espécies
bém o sorgo. Se as condições
frutíferas e madeireiras, podem ser
ambientais não forem favorá-
adicionadas a esta mistura de semen-
veis para o milho, o sorgo ainda
tes. Caso haja disponibilidade de ester-
pode produzir. Intercalado ao
co dos animais, ele é carregado e uti-
sisal, no segundo ano, planta-
lizado como adubo nestes sistemas, o
se palma forrageira. Existem
que também aumentará a quantidade
outras espécies da família do
e diversidade de sementes de árvores e
sisal (Agavaceae) que também
arbustos que farão a cobertura do solo
podem ser utilizadas na ausên-
e ampliará a diversidade de funções
cia desta espécie.
ecológicas e sociais. Com as árvores
também é semeado o milho ou sorgo,
Ernst Götsch – Piraí do
feijão guandu a cada 1m (3 sementes).
Norte – BA
Feijão azuki ou de corda também pode
ser acrescentados, bem como abóbora

172
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Cinara Del’Arco Sanches

Foto: Cinara Del’Arco Sanches

Agrofloresta estabelecida consorciada com alta densidade de espécies forrageiras, culturas


agrícolas e arvores nativas. Umburanas – BA.

173
6 meses

2 a 3 anos

7 a 10 anos

OPÇÃO 9: Restauração de áreas degradadas na Caatinga

174
Opções de SAFs para diferentes contextos

e maxixe em espaçamento que o agri-


cultor utiliza. Uma outra possibilidade é Palma: água
semear as árvores por meio de estacas em forma de raquete
e sementes junto à palma e sisal, assim
aproveita-se melhor a umidade e cria-se A palma é podada e a parte
um microclima favorável ao estabeleci- cortada é colocada próximas às
mento das árvores. plantas para virar adubo.

Associação Regional Distrito


Manejo: Podas sistemáticas das plantas
Caldeirão do Almeida
engenheiras, corte e carreamento para
cobertura do solo das árvores e culturas
anuais. Poda das espécies forrageiras, dos animais. Com o tempo faz-se o ralea-
que são oferecidas aos animais. Os ani- mento das árvores que foram semeadas
mais são mantidos fora da área e alimen- em alta densidade.
tados no cocho com forragem in natura
ou em forma de silagem ou feno nos pri- Manejo a longo prazo/configuração do
meiros anos, e depois dentro da área em sistema: Podas das árvores e produção
rotação. As árvores são manejadas por de forragem e biomassa, de modo a dei-
meio de podas regulares para colheita xar passar suficiente luz para o cresci-
de folhas e galhos finos para alimentação mento de espécies no sub-bosque.

CROQUI DA OPÇÃO 9:
Restauração de áreas
degradadas na Caatin-
ga com Agrofloresta

SISAL

PALMA FORRAGEIRA

LEUCENA

GLIRICÍDIA

FEIJÃO GUANDÚ

MILHO

FEIJÃO DE CORDA

SEMENTES E MUDAS
DE ÁRVORES NATIVAS
OU FRUTAS

175
Opções de SAFs para diferentes contextos

OPÇÃO 10: Proteção e restauração de


nascentes com Agroflorestas

Contexto: APP de nascente; bioma Portanto, a primeira medida a ser to-


Cerrado; solos encharcados; tipica- mada na maioria dos casos é cercar a
mente pouco aerados; podendo ser área das nascentes de forma a evitar
em alguns casos muito ácidos e pouco a entrada de animais, o que por si só
produtivos ou, em outros, com acidez será um passo muito importante para
e fertilidade média e ainda possibilita- apoiar os processos de regeneração
rem alguma produção. natural. O fogo também represen-
ta grande ameaça às nascentes, pois
Como as áreas de nascentes são extre- favorece as gramíneas, que têm me-
mamente delicadas, qualquer inter- lhores chances de rebrotar após quei-
venção deve ser estudada e avaliada madas, e, assim como os animais, ten-
com muito cuidado. Em muitos casos, dem a eliminar as pequenas mudas de
as áreas de nascentes ainda apresen- arbustos e árvores típicos destas áreas
tam regenerantes e, portanto, podem e essenciais para o futuro daquela nas-
ser restauradas simplesmente prote- cente. Em algumas culturas, as áreas
gendo-as de ameaças externas como de nascentes apresentam valor espiri-
animais de criação e fogo. Os animais tual inestimável, e a relação com as es-
de grande porte, principalmente o pécies locais e cuidado da área trans-
gado bovino, podem prejudicar áreas cende a visão utilitarista sobre a água.
de nascentes pelo pisoteio, que leva à
compactação do solo, redução da in- Objetivo principal: conservação e au-
filtração – e, portanto, da recarga – e mento da quantidade e qualidade da
contaminação das águas devido às fe- água; restauração ecológica.
zes dos animais. Assim como o gado
bovino, as cabras e ovelhas também Objetivo secundário: produção de
podem prejudicar a restauração na- espécies alimentícias, medicinais e or-
tural de nascentes pois comem mu- namentais.
das pequenas de árvores e arbustos
que estão ressurgindo naturalmente, Visão geral: proteção contra fatores
seja pelo banco de sementes e raízes de degradação (animais domésticos
no solo, seja por animais dispersores e fogo), manejo da regeneração na-
como pássaros, macacos e outros. tural e enriquecimento de áreas de

176
Opções de SAFs para diferentes contextos

nascentes incluindo espécies de inte- dispostos em círculos concêntricos ou


resse para o ser humano. em curva de nível.

Elementos do desenho do sistema: Critérios para seleção de espécies


Manutenção das espécies da regene- (espécies-chave): Espécies adaptadas
ração natural e enriquecimento com a ambientes encharcados e de inte-
mudas e sementes de espécies que se resse do agricultor.
desenvolvem bem nas condições da Espécies-chave de culturas agrícolas:
área, utilizando-se plantios em ilhas, inhame, taioba, gengibre, cana do
núcleos (ver seção 4.4.2) ou sulcos brejo (Costus spicatus).

CROQUI DA OPÇÃO 10: Proteção e restauração de nascentes com Agroflorestas

177
Opções de SAFs para diferentes contextos

Espécies-chave de árvores: ingá (Inga núcleos ou ilhas de fertilidade com


sp.), capororoca (Rapanea gardneria- plantio de mudas, bananeiras, além
na), pinha do brejo  (Talauma ovata), de estacas e sementes junto com es-
landim (Calophyllum brasiliense), bu- pécies agrícolas. Caso a mão de obra
riti (Mauritia flexuosa), juçara (Eu- seja escassa, recomenda-se fazer o
terpe edulis), sangra d´água, quares- plantio das árvores por meio de se-
meira (Tibouchina stenocarpa), pau mentes acompanhadas de rizomas ou
pombo (Tapirira guianensis) e jenipa- estaca de espécie de interesse.
po (Genipa americana).
Manejo: capina seletiva com corte
Implantação: cercar a área para pro- frequente de capim, principalmente
teger contra animais domésticos. as espécies exóticas que queimam
Identificar as espécies de arbustos e com muita facilidade, para evitar en-
árvores nativas que estão presentes trada do fogo. Podar as árvores exis-
naquele local e proteger as plantas tentes o suficiente para permitir o
para que não sejam cortadas nem pi- estabelecimento das espécies intro-
soteadas no preparo da área. Quan- duzidas, cuidando para que as plan-
do possível, introduzir mais indivídu- tas presentes da regeneração natural
os destas mesmas espécies. No caso possam se desenvolver com sucesso.
de haver dominância de gramíneas O material orgânico roçado e prove-
exóticas, é importante o seu manejo niente de podas deve ser organizado
na implantação de forma a permitir o em leiras ou ao redor das mudas para
estabelecimento das mudas e evitar a evitar que o fogo se espalhe caso
entrada do fogo, com roçada e con- consiga entrar na área. É necessário
centração da palha do capim ao redor também fazer aceiros para evitar a
das mudas de árvores e espécies agrí- entrada do fogo e facilitar o seu com-
colas. Em contextos com baixa densi- bate. Se possível, implantar aceiro
dade e diversidade de regenerantes, vivo com espécies que não permitam
introduzir espécies nativas, seja por a entrada do fogo.
meio de mudas, diretamente por
semente, estaca (cana do brejo), ou Manejo a longo prazo/configuração
rizoma (taioba). Em nascentes com do sistema: Vegetação com estrutura
potencial produtivo, podem ser plan- e função semelhante à floresta nativa
tadas espécies (hortaliças, medicinais adjacente a nascentes. Realizar podas
e ornamentais) adaptadas ao solo seletivas de árvores a fim de favorecer
encharcado. Quando houver dispo- o avanço da sucessão e manutenção
nibilidade de mão de obra, preparar da produção de algumas espécies.

178
Opções de SAFs para diferentes contextos

oPÇÃO 11: Quintais agroflorestais

Contexto: Biomas Cerrado ou Caatin- tensivo e aproveitamento de resíduos


ga; solos bem drenados; fertilidade domésticos.
variada (média ou alta); proximidade
com a casa; APP, RL ou outras áreas. Elementos do desenho do sistema:
Vegetação bastante diversificada, com
Objetivo principal: produção de ali- espécies alimentícias, medicinais,
mentos e espécies multifuncionais. ornamentais, dispostas de maneira
irregular (sem desenho definido), e
Objetivos secundários: restauração; presença de criação de pequenos ani-
melhoria do microclima. mais, como galinhas e porcos. Possibi-
lidade de aproveitamento de resíduos
Visão geral: agroflorestas biodiversas de alimentos, cinza de fogão a lenha,
multiestratificadas, com manejo in- esterco da criação animal, água cinza

Foto: Andrew Miccolis

Loren Ipsum

179
Opções de SAFs para diferentes contextos

(pia da cozinha, chuveiro) e uso de Implantação: o plantio é feito próxi-


água da chuva (cisterna). mo à casa, de forma dinâmica, com
enriquecimento constante da área. A
Critérios para seleção de espécies: escolha do local de plantio se dá em
espécies diversas de usos múltiplos, função das necessidades das espé-
incluindo alimentícias (grãos, frutas, cies. As árvores, de múltiplas funções,
temperos), medicinais, ornamentais, e são introduzidas a partir de mudas,
pequenos animais. As espécies devem sementes ou estacas, em ilhas, núcle-
ser adaptadas às condições locais. os ou canteiros. O plantio de árvores
junto com hortaliças, permite o apro-
Espécies-chave de culturas agrícolas: veitamento de mão de obra e outros
coentro, couve, maxixe, guandu, fei- recursos, facilitando também o seu
jão de corda, batata doce, mandioca, estabelecimento. Utilizam-se esterco,
maracujá, mamão, banana, taioba, cinzas, composto e folhas para aduba-
inhame, cará, orapronobis. ção das plantas. Há diferentes compo-
sições possíveis, ou seja, um mosaico
Espécies-chave de árvores: frutí- constituído por plantios consorciados
feras em geral e nativas, incluindo ou não, geralmente áreas pequenas
adubadeiras. com plantas ornamentais, medicinais,

CROQUI DA OPÇÃO 11:


Quintais agroflorestais

MEDICINAIS
OU HORTALIÇAS

BANANA
FEIJÃO

MILHO
MANDIOCA
MUDAS DE FRUTAS

A BÓBORA
SEMENTES E MUDAS
DE ÁRVORES NATIVAS
OU BANANEIRA

REGENERANTES

180
Opções de SAFs para diferentes contextos

frutíferas, adubadeiras, pequenos ani-


mais, roça. A cobertura do solo com
matéria orgânica, embora não seja um
costume cultural, é fundamental para
a manutenção da fertilidade do solo e
manutenção da umidade no quintal.

Manejo: O manejo é realizado basi-


camente com facão e são realizadas
capina seletiva e poda. Pode ser feita
irrigação com água da chuva armaze-
nada em cisterna, principalmente para
espécies mais exigentes em disponi-
Quintal produtivo.
bilidade de água como hortaliças. Os
O manejo é realizado com fa-
animais são alimentados com produ-
cão, fazendo-se capina seletiva
ção do próprio quintal (restos de ver-
e poda. As espécies encontra-
duras e frutas, e inclusive grãos, como
das no quintal do Sr. Chico Antô-
guandu para galinhas). Troncos, galhos
nio foram: acerola, amburana,
e pedras são utilizados para delimitar
aroeira, banana, batata doce,
caminhos e permitir acúmulo de ma-
cajá, caju, canafístula, capim
téria orgânica. Com o manejo pode ser
elefante, catimbira, catinguei-
obtida lenha, que é uma importante
ra, cedro, crotalária, eucalipto,
matéria prima para a manutenção das
fava, feijão, feijão de porco,
famílias agricultoras em geral.
gergelim, gliricídia, goiabeira,
graviola, guandu, jucá, laranja,
Manejo a longo prazo/configuração
leucena, macaxeira, mamoeiro,
do sistema: capinas seletivas e podas.
mamona, manga, milho, morin-
O sistema caracteriza-se como uma
ga, pau branco, pau brasil, pau
floresta diversificada, com clareiras
jaú, sisal, sorgo e tamarindo.
e com dinâmica em função da poda,
desbaste e enriquecimento com mu-
Sr. Chico Antônio – Sítio
das e sementes. Uma vez que as ár-
Recanto do Beija-flor,
vores estejam envelhecidas, estas
Viçosa do Ceará – CE
podem ser manejadas inúmeras vezes
com intuito de possibilitar a reintro-
dução de espécies exigentes em luz e
fertilidade do solo.

181
Opções de SAFs para diferentes contextos

5.3 Implantação das opções: passo-a-passo em


diferentes contextos
A estratégia de implantação das opções de SAFs descritas acima pode variar de
acordo com a situação encontrada, incluindo o acesso à mão de obra e outros
insumos, e o estágio de sucessão e densidade de vegetação em regeneração. No
entanto, cada situação requer alguns passos no preparo de área, implantação
e manejo dos sistemas. É importante que estes sejam realizados na sequência
correta, a fim de otimizar o trabalho, reduzir os custos e aumentar as chances de
êxito. Os seguintes passos podem ser adotados em diversos tipos de vegetação.

Mata secundária Mata secundária


Acesso a mão de obra e insumos: Acesso a mão de obra e insumos:
médio alto. Estágio de sucessão: baixo. Estágio de sucessão: inicial.
inicial a médio.
• capina seletiva (vegetação rasteira,
• medir e piquetear; incluindo gramíneas, principalmen-
• realizar capina seletiva; te exóticas, e ervas anuais, podando
• identificar e marcar mudas exis- arbustos);
tentes; • preparo e plantio de núcleos ou ilhas
• podar vegetação para raleamen- com milho, hortaliças, leguminosas,
to, renovação e enriquecimento mandioca, árvores (descrito acima);
(grau e altura da poda depende • preparo de berços simples para mu-
do sistema a ser implantado); das que o agricultor quer introduzir
• preparar e plantar canteiros ou (quando houver disponibilidade
núcleos ou ilhas; mínima de mudas e mão de obra e,
• podar vegetação secundária, por ventura, um pouco de adubo),
para raleamento, renovação e de espécies mais rústicas, incluindo
enriquecimento, dependendo do nativas;
estágio de sucessão da área, picar • poda de limpeza/raleamento da ve-
e concentrar material podado e/ getação (árvores), organizando ma-
ou de fora, nos canteiros ou ilhas. terial podado na área toda;
• plantio e manejo de bordas e co-
nexões com outros componentes
da paisagem.

182
Opções de SAFs para diferentes contextos

Pastos com predominância Área degradada com


de gramíneas alguma regeneração
Acesso a mão de obra e insumos: bai- Acesso a mão de obra e insumos: baixo
xo a alto. Estágio de sucessão: inicial. a alto. Estágio de sucessão: inicial.

• medir e piquetear a área, podem • medir e piquetear;


ser usadas estacas que peguem • capina seletiva (gramíneas/ervas
com facilidade nas bordas e den- anuais), poda seletiva de ralea-
tro (se fizerem parte do desenho); mento (arbustos), identificação,
• roçagem em toda a área e capina marcação e concentração de ma-
em faixas alternadas retirando os téria orgânica de quaisquer árvo-
rizomas ou, quando houve maior res podadas;
disponibilidade de mão de obra, • plantio: técnica varia de acordo
capina na área como um todo; com disponibilidade de mão de
• preparo de canteiros, núcleos ou obra e insumos, bem como com
ilhas nos locais capinados; os objetivos do agricultor;
• organização/concentração da pa- • manejo das gramíneas;
lha nos canteiros; • plantio e manejo de bordas e co-
• plantio e manejo de bordas e co- nexões com outros componentes
nexões com outros componentes da paisagem.
da paisagem.

183
Opções de SAFs para diferentes contextos

Quadro 2: Matriz síntese de opções de SAFs para diferentes contextos


Opção/ Resiliência ecológica Área de pre- Solos: feritlidade e Necessidade
Bioma
Contexto /sucessão natural servação drenagem” de insumos
baixa regeneração, predominân-
degradado;
1 cia de gramíneas exóticas tais Cerrado Reserva Legal Alta
bem drenado
como andropogon e braquiária

baixa regeneração, predominân- média a alta ­fertilidade;


APP de mata
2 cia de gramíneas exóticas tais Cerrado drenagem Média
ciliar
como braquiária, colonião boa ou média

alta regeneração, predominân-


média fertilidade;
3 cia de arbustos e plântulas de Cerrado Reserva Legal Variada
drenagem boa
árvores

alta regeneração, predominân-


média fertilidade, drena-
4 cia de arbustos e plântulas de Cerrado APP e RL Baixa
gem boa
árvores

baixa regeneração, predomi-


nância de gramíneas e arbustos
baixa fertilidade, bem
5 de estágios iniciais da sucessão Cerrado APP e RL média
drenado
como sapé, capim gordura, bra-
quiária e assapeixe

baixa a média regeneração,


baixa fertilidade, casca- média
6 predominância de gramíneas e Cerrado APP de declive
lhentos ou baixa
arbustos

baixa a média regeneração, pre-


baixa a média fertilidade, média
7 dominância de arbustos, cactáce- Caatinga Reserva Legal
drenagem boa ou baixa
as e árvores de baixo porte

baixa a média regeneração com


Reserva Legal
8 alguns arbustos, cactáceas, e Caatinga drenagem boa baixa
ou APP
árvores de baixo porte

Reserva Legal baixa fertilidade (tenden-


baixa regeneração, área degra-
9 Caatinga ou área degra- do à desertificação), bem média
dada
dada drenado

encharcados, tipicamente
10 baixa, média ou alta regeneração Cerrado APP nascente baixa
pouco aerados

Variável, porém geralmente


Cerrado/ APP, RL ou bem drenados, áreas com
11 baixa a alta alta
Caatinga outras áreas grande aporte de nutrientes
oriundos da casa

184
Opções de SAFs para diferentes contextos

Acesso ao Disponibilidade Objetivos do(a)


Tipo de sistema
mercado mão-de-obra agricultor(a)

produção para mercado, produção de Agrofloresta sucessional para o Cerrado


alto Alta
alimentos e restauração. com manejo intensivo

produção para mercado, alimentos e Agrofloresta biodiversa para restaura-


alto baixa a média
restauração. ção de APP

produção para mercado, alimentos e Agrofloresta em faixas intercaladas com


médio Variada
restauração enriquecimento do Cerrado

restauração e segurança alimentar, Enriquecimento e manejo de capoeiras


alto Variada
alguma comercialização. (regeneração natural) com Agrofloresta

Agroflorestas para restauração de


restauração e viabilizar seus meios de
alto variada áreas degradadas com espécies
vida
adubadeiras

restauração e viabilizar seus meios de Restauração em áreas de declive do


baixo a médio alta
vida Cerrado com Agroflorestas

Agroflorestas para restauração


restauração e meios de vida, convivên-
médio baixa de áreas de declive ou de Reserva Legal
cia com o semiárido.
na Caatinga

restauração, meios de vida e renda.


médio baixa criação de animais. convivência com o SAF forrageiro para a Caatinga
semiárido.

restauração, reverter desertificação,


Restauração de áreas degradadas
alto média a alta meios de vida e renda, criação de ani-
na Caatinga
mais, convivência com o semiárido

Aumentar a quantidade e qualidade da Proteção e restauração de nascentes


variado variada
água e meios de vida com Agroflorestas

Produção de alimentos, remédios,


variado alta Quintais agroflorestais
combustível, sombra, lazer

185
Opções de SAFs para diferentes contextos

5.4 Espécies-chave para recuperação de


áreas degradadas
Espécies-chave para a recuperação disponibilizá-la para plantas meno-
de áreas degradadas são aquelas res pelas suas raízes;
que ajudam a viabilizar e equilibrar
as funções sociais e ambientais nos • São boas companheiras para ou-
SAFs, abrindo a porta para a abun- tras espécies devido à sua estru-
dância e o bem estar. São as espé- tura e/ou por causa de relações
cies que crescem e se desenvolvem simbióticas com organismos bené-
bem nos ambientes mais adversos e ficos como fungos e bactérias, que
degradados, e favorecem a chegada ajudam a disponibilizar nutrientes,
das demais, principalmente aquelas como o fósforo, geralmente não
que apresentam diversos atributos disponível para as plantas em áre-
dentre os listados acima nos crité- as degradadas;
rios para seleção de espécies (Seção
4.2.1), além de outras com caracte- • Criam microclimas amenos (luga-
rísticas semelhantes identificadas res mais frescos e úmidos durante
junto aos agricultores e técnicos no a seca) que favorecem o estabe-
contexto específico de iniciativas lecimento e desenvolvimento das
agroflorestais. Essas espécies apre- outras espécies que precisam de
sentam características que as diferen- condições mais amenas para o seu
ciam das outras: desenvolvimento.

• Geralmente são mais eficientes A seguir apresentaremos algumas


em utilizar recursos (água, luz e destas espécies consideradas estraté-
nutrientes) e em produzir biomas- gicas para o Cerrado e a Caatinga, o
sa, principalmente em condições contexto em que são recomendadas
adversas; e suas características especiais, assim
como seu centro de origem, usos e
• Melhoram a fertilidade, estrutura funções. Além disso, apresentamos
e microvida dos solos; orientações a respeito do manejo
para garantir que estas cumpram com
• São capazes de armazenar água suas funções desejadas sem, no en-
em condições inóspitas ou captar tanto, prejudicar o desenvolvimento
água de zonas profundas do solo e de outras plantas.

186
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Daniel Vieira

Algaroba Prosopis juliflora

Características: árvore leguminosa Usos e funções: árvore de uso múl-


que produz vagens adocicadas, frutifi- tiplo: madeira (mourões, tábuas,
ca a partir do segundo ou terceiro ano. dormentes, estacas para cercas, le-
nha, carvão) e forragem (folhagem,
Origem: regiões mais secas do Méxi- rama, vagens e sementes); proteção
co, América Central, e norte da Amé- do solo contra erosão; sombreamen-
rica do Sul (Peru, Equador, Colômbia e to; conservação e melhoramento de
Venezuela). pastagens; como pasto apícola; pro-
dução de tanino e goma. Seus frutos
Condições ambientais favoráveis: são importante fonte de carboidra-
pluviosidade média anual – entre 150 tos e proteínas, principalmente para
mm e 1.200 mm (produz mais vagens as regiões mais secas. A polpa doce
quando a precipitação é em torno de dos frutos e as sementes concentram
300-500 mm), é resistente a perío- cerca de 34-39% de proteínas e 7-8%
dos de estiagem de até mais de nove de óleos. Como forragem, as vagens
meses; altitude – do nível do mar até possuem cerca de 13% de proteína
1.500 m; temperatura média anual – bruta e apresentam digestibilidade
superior a 20oC; solos – rochosos, are- acima de 74%. Nas folhas, que têm
nosos ou salinizados. baixa palatabilidade, o teor de pro-

187
Opções de SAFs para diferentes contextos

teína é de 18%, digestibilidade 59% indicado, o de imergir as sementes


e tanino 1,9%. Melhora a fertilidade em água quente, após a ebulição, re-
do solo por meio do incremento dos tirando-as após 3 a 5 minutos. Os ani-
teores de matéria orgânica, nitrogê- mais propagam as sementes com fa-
nio e fósforo, além de contribuir para cilidade, pois quebram a dormência
a redução do pH do solo (para solos das sementes ao passar pelo seu tra-
muito alcalinos). Apresenta capaci- to digestivo, quente e ácido. Trata-se
dade de associação simbiótica com de uma espécie exótica e com grande
bactérias do gênero Rhizobium, que potencial invasor, por se desenvolver
fixam nitrogênio. rapidamente e espalhar muitas se-
mentes, ocupando, muitas vezes, o
Por todas essas características, a al- espaço que outras espécies nativas,
garoba tem sido recomendada para mais lentas, poderiam ocupar. No
plantios consorciados, principalmen- entanto, pode-se controlar o poten-
te em sistemas silvipastoris na Ca- cial invasor da algaroba por meio de
atinga. Segundo pesquisadores da desbaste e poda das árvores, corte
Embrapa, a algaroba é considerada das mudas (capina) e coleta manual
uma espécie potencial para resta- das vagens maduras, isolamento das
belecer a fertilidade e produtividade áreas invadidas para evitar o pastejo
de solos sódicos degradados, já que direto, e processamento das vagens
há estudos apontando que tem sido para servir aos animais no cocho. Ou
plantada, principalmente na Índia, seja, em condições em que a área
para recuperação de solos alcalinos pode ser manejada, essa espécie é
improdutivos. importante aliada, inclusive no com-
bate à desertificação, pois cresce
Propagação e observações: se repro- bem mesmo em áreas extremamen-
duz por semente e por estaquia. Suas te degradadas. Além disso, o estresse
sementes, por possuírem certa dor- hídrico é uma barreira natural à sua
mência, devem receber tratamento proliferação desordenada por gran-
à base de escarificação mecânica ou des áreas do semiárido. Fontes con-
química, ou ainda, pelo método mais sultadas: 38,98

188
Opções de SAFs para diferentes contextos

Leucena Leucaena leucocephala

Foto: Andrew Miccolis

Características: Árvore leguminosa,


da família Mimosaceae, de rápido
crescimento, podendo chegar a 20 m
de altura, com 30 cm de diâmetro à
altura do peito. Produz grande quanti-
dade de sementes, que se espalham e
podem ocupar áreas com intensidade.
Responde bem à poda, rebrotando
com vigor.

Origem: América Central.

Condições ambientais favoráveis:


pluviosidade anual – entre 650 mm a
3000 mm. Desenvolve-se melhor em
solos calcáricos. Não tolera condições
de alta acidez e nem de alagamento.
Apresenta tolerância à seca, suportan-
do bem períodos longos de estiagem;
temperatura – de 10o C a 40 oC; solos
– bem drenados, profundos, de média
a alta fertilidade, e com um pH varian-
do de 5,5 a 7,5. Apresenta simbiose
Leucena
com bactérias fixadoras de nitrogênio.

Usos e funções: melhoradora dos que disponibilizam fósforo para a leu-


solos, dada a qualidade de sua fo- cena, e por sua vez, o libera para a
lhagem, sendo um excelente adubo utilização por outras culturas. Podas
verde. Devido à simbiose com bacté- periódicas aceleram os processos de
rias fixadoras de nitrogênio, a leuce- ciclagem de nutrientes. Além desse
na chega a disponibilizar até 400 kg/ potencial, a leucena é recomendada
ha.ano de nitrogênio. Além disso, a para a alimentação animal, por sua
planta também apresenta associação palatabilidade, alto valor nutritivo,
com fungos do gênero Mycorrhizae, alta produtividade e capacidade de

189
Opções de SAFs para diferentes contextos

rebrota (inclusive na época da seca), Propagação e observações: contém


e qualidade da forragem. Apresenta uma substância chamada mimosina, a
cerca de 20% proteína bruta nas fo- qual, se consumida em grande quanti-
lhas, sendo que na folhagem e nos dade pelos animais (caso o consumo
frutos mais novos os teores chegam a pelos animais exceda 50% do volu-
até 35%. Pode ser usada na formação me da forragem), pode causar perda
de banco de proteínas, sendo apon- de pelo, salivação excessiva e perda
tada como uma das forrageiras mais de peso. Este problema pode ser fa-
promissoras para a região semiárida. cilmente resolvido se a leucena for
Pode ser utilizada para pastejo dire- retirada da dieta dos animais. Essa le-
to, para produção de forragem verde, guminosa, como ração para ruminan-
feno e silagem, além de produção de tes, deve ser introduzida aos poucos,
sementes. Pode ser usada ainda na devendo atingir um máximo de 20% a
alimentação de galinhas, com a capa- 30% da dieta.
cidade de deixar as gemas mais aver-
melhadas pela alta concentração de Suas sementes têm uma casca mui-
beta caroteno nas folhas. Pesquisa- to dura, e para se obter uma boa
dores da Embrapa recomendam que germinação recomenda-se colocar
“na época chuvosa a leucena pode em água fervida (fora do fogo) por
ser cortada a cada 42 dias, sendo aproximadamente três minutos, me-
aproveitado para adubação verde, si- xendo bem. Em seguida, coloque as
lagem e fenação, ou para alimentação sementes para secar em local ven-
direta dos animais. Já na época seca, tilado. Essas sementes podem ser
os cortes deverão ser feitos a cada 84 armazenadas ou plantadas no dia
dias. Em Sobral, no Ceará, foram re- seguinte. Outra possibilidade é co-
gistradas produções de matéria seca locar as sementes de molho de um
entre 1539 kg/ha.ano e 5387 kg/ dia para o outro em água com tem-
ha.ano. Sob irrigação, a leucena pode peratura ambiente. Essas sementes
ser cortada a cada quatro a cinco se- devem ser plantadas logo em segui-
manas ao longo do ano, incremen- da. O plantio da leucena deve ser fei-
tando a oferta de forragem de boa to no início do período chuvoso. Da
qualidade.” A leucena ainda pode ser mesma maneira que a algaroba, seu
utilizada para fornecimento de lenha, potencial invasor pode ser controla-
carvão e celulose, sombreamento de do por meio de raleios e podas peri-
pastagem (em sistemas silvipastoris) e ódicas, principalmente em momento
outras culturas, quebra-vento, cerca- propício que evite a semeadura. Fon-
-viva e também como pasto apícola. tes consultadas: 34,35,113

190
Opções de SAFs para diferentes contextos

Feijão guandu Cajanus cajan

Características: arbusto, leguminosa com 4 a 5 meses, que podem conter


da família Fabaceae; pode atingir até sementes comestíveis de cores que
4 m de altura e seu ciclo de vida pode variam de branco, amarelo, casta-
ser de 1 a 5 anos. Apresenta caule le- nho, a preto, dependendo da varie-
nhoso e uma raiz principal pivotante dade, podendo, ainda, apresentar
que pode penetrar até 2 m, contri- cores claras salpicadas de marrom
buindo para descompactar solos. Co- ou púrpura. Embora ocorra natural-
meça a floração e a produzir vagens mente alto índice de autopoliniza-
ção, o feijão guandu apresenta 20%
Foto: Fabiana Peneireiro de polinização cruzada, e as abelhas
visitam intensamente suas flores.

Origem: Índia, Paquistão e Indonésia.

Condições ambientais favoráveis:


pluviosidade anual – na faixa de 400
a 2500 mm; apresenta tolerância à
seca, suportando bem períodos de
estiagem; temperatura – entre 18 oC
a 38 oC; solos – drenados e profun-
dos, de média fertilidade; apresenta
simbiose com bactérias fixadoras de
nitrogênio. Não tolera solos enchar-
cados e nem salinos.

Usos e funções: pode ser consumido


como alimento humano (grãos verdes
in natura ou maduros cozidos). Apre-
senta altos teores de proteína de boa
qualidade, na faixa de 18 a 32%. Suas
sementes são recomendadas como
suplementação alimentar nas cria-
ções de galinhas caipiras. Segundo o
IAPAR e a EMATER do Paraná, na re-
Feijão guandu
191
Opções de SAFs para diferentes contextos

gião de Ivaiporã, “nas condições dos lo ao crescimento das árvores, quan-


agricultores, a produção de ovos e do podado frequentemente. Embora
carne de galinha/frangos caipiras foi seu ciclo de vida não seja tão longo,
multiplicada por 5 quando a ração de pode ser usado com sucesso como
milho exclusiva foi substituída pela quebra-vento, principalmente próxi-
mistura de 67% de milho com 33% de mo a hortas. Também é uma planta
guandu.” A produção de grãos, de- apícola. Seus ramos e hastes podem
pendendo da variedade e do sistema ser usados para fazer cestos. Seu cau-
de cultivo, varia de 500 a 1.500 kg/ le pode ser usado como lenha e tam-
ha. O guandu também pode fornecer bém é fonte de celulose para confec-
forragem para animais ruminantes ção de papel de boa qualidade. Suas
ou não, e também ser usado como folhas tem uso medicinal pelas po-
cultura para adubação verde. A for- pulações tradicionais. Pode ainda ser
ragem produzida pelo guandu apre- utilizado como suporte para outras
senta de 14 a 22% de proteína bruta, plantas como tomateiro.
dependendo da relação entre folhas,
vagens e hastes do material colhido. Propagação e observações: recomen-
A planta produz aproximadamente da-se o plantio do guandu juntamente
35 t/ha de massa verde, correspon- com o milho. Quando este completa
dente a 10 t/ha de massa seca sobre seu ciclo, o guandu permanece na área.
o solo, e pode fixar de 41 a 280 kg de Sendo bastante adaptado a condições
nitrogênio por hectare, em simbiose de escassez de água, o guandu pode
com bactérias do gênero Rhyzobium. ser o único alimento encontrado no
O feijão guandu também é excelen- semiárido em épocas de seca extrema.
te companheiro para árvores jovens, Quando podado após produzir suas va-
funcionando como um viveiro natural gens, o guandu rebrota e pode produzir
e como fonte de nutrientes e estímu- novamente. Fontes consultadas: 38,89,63

192
Opções de SAFs para diferentes contextos

Palma forrageira Opuntia fícus-indica

Foto: Fabiana Peneireiro

Características: planta xerófila, da fa-


mília das Cactaceas, apresenta a espe-
cificidade de armazenar água em sua
estrutura e realizar fotossíntese mes-
mo com os estômatos fechados (de
metabolismo tipo CAM). Esta planta
é frequentemente citada como sendo
uma solução para as zonas de pouca
chuva e sem possibilidade de irriga-
ção. É um verdadeiro reservatório de
água, armazenada em suas raquetes
(estruturas também chamadas de cla-
dódios). Suas flores podem ser amare-
lo, laranja ou vermelhas e seus frutos,
vermelhos, conhecidos como figo da
Índia, são bastante apreciados pelos
serem humanos e animais.

Origem: México.

Condições ambientais favoráveis: so-


los – a palma não é exigente quanto ao
solo. Apresenta associação simbiótica
com bactérias fixadoras de nitrogênio Palma forrageira.

do gênero Azozpirillum. As caatingas


altas, o agreste e as serras onde chove zados na medicina natural na preven-
pouco são os seus habitats preferidos. ção de asma, tosse, vermes, proble-
No Sertão, Seridó e no litoral, apresen- mas na próstata e dores reumáticas.
ta menor rendimento vegetativo. É bastante utilizada na alimentação
animal, podendo ser servida no campo
Usos e funções: pode ser utilizada na mediante pastejo direto ou no cocho
alimentação humana, já que seus fru- numa mistura com outros alimentos
tos são comestíveis e também as ra- como feno, silagem, restolho de sorgo,
quetes jovens podem ser preparadas de milho, de feijão ou mesmo capim
refogadas. Os frutos são também utili- seco, bem como fontes de proteína, a

193
Opções de SAFs para diferentes contextos

fim de aumentar o consumo de maté-


ria seca e proteína pelo animal e evi-
tar diarreias que podem advir quando Dicas sobre a Palma
oferecida isoladamente ou à vontade.
A melhor época para manejar a
palma é no “verãozão, quando
Receitas com palma você encontra
o tempo levanta”, ou “de agos-
no site: http://come-se.blogspot.
to em diante”, podendo se es-
com.br/2010/03/palma-ou-nopal
tender até as primeiras chuvas.
-um-jeito-sertanejo-de.html.
Nesse período a palma se en-
contra com uma menor concen-
Ao mesmo tempo em que fornece nu- tração de água. “Se você cortar
trientes, também é fonte de água para quando ela está cheia de água,
os animais. Sua composição pode va- ela não sai, agora de agosto em
riar de 10 a 15% de matéria seca, e de diante, que ela está bem seca, é
3,5 a 5% de proteína, dependendo da você cortando e ela saindo.” O
variedade. Sua capacidade de arma- manejo da palma auxilia o seu
zenar água permite utilizá-la como se desenvolvimento, e aumenta
fosse uma fonte de irrigação natural, sua produtividade.
ao cortar suas raquetes para cobrir o
solo. Também se recomenda picar suas Mosso – monitor da EFASE.
folhas e forrar o berço de plantio com Monte Santo – BA
elas, o que mantém o local úmido para
outra planta poder se desenvolver.
Quanto mais se cortam suas raque-
tes, mais ela produz. É uma excelente
Berço se refere ao buraco aber- companheira de outras plantas e esta-
to no solo para plantio de mu- cas. Se plantada próxima, suas raízes
das, sementes ou estaca. liberam exsudatos, deixando úmido o
solo ao redor de suas raízes e, conse-
quentemente, das plantas adjacentes.
Propagação e observações: pode ser A palma pode hospedar a cochonilha
plantanda no início das águas em so- do carmim (Dactylopius coccus), que
los bem drenados e do meio para o fi- não causa danos à planta, quando
nal do período chuvoso em solos mal bem manejada, e produz um corante
drenados a fim de evitar o apodreci- vermelho (carmim), podendo ser uti-
mento das raquetes. Para plantá-la lizada também para fins econômicos.
basta enterrar um terço da raquete. Fontes consultadas: 106,16

194
Opções de SAFs para diferentes contextos

Mandacaru Cereus jamacaru

Características: Cactaceae de grande Origem: espécie nativa da Caatinga


porte, arbóreo, de tronco grosso ramifi- brasileira.
cado, de base lenhosa. Seu tronco prin-
cipal pode chegar a 50 cm de diâmetro Condições ambientais favoráveis:
à altura do peito (DAP). Permanece temperatura – dos 7 oC até 45 oC, po-
verde o ano todo, mesmo nos períodos dendo, eventualmente até exceder os
de seca mais prolongada. Pode crescer 45 oC; pluviosidade média anual – de
até 16 m de altura se estiver no meio da 500 mm (ou até abaixo) a 2600 mm
mata fechada. Tem flores brancas que anuais; solos – arenosos, pedregosos,
se abrem à noite. Os frutos, de cor vio- bem drenados e calcários, com pH en-
leta forte, tem polpa adocicada branca tre 5,0 e 7,2.
com sementes pretas minúsculas.
Usos e funções: planta ornamental,
Foto: Daniel Vieira de frutos comestíveis, alimento para
os seres humanos e também para di-
versas aves típicas da caatinga, como
a gralha-cancã e o periquito-da-ca-
atinga. Os frutos são comidos crus,
retirando a polpa da casca. O caule
pode ser utilizado para se fazer doce,
e do qual também se extrai fécula.
Pode ser utilizada para alimentação
animal, principalmente quando o
período de seca é prolongado, pois
tem a capacidade de acumular muita
água em seus ramos, que servem ao
mesmo tempo para alimentar gado
e amenizar a sede. Quando há pre-
sença de muitos espinhos nas hastes
(cladódios), se faz necessário não
apenas cortar as hastes em pedaços,
mas também raspar ou queimar seus
espinhos antes de oferecer o man-
dacaru aos animais. A presença do
Mandacaru

195
Opções de SAFs para diferentes contextos

mandacaru na composição da vege- te semi-sombreado, na vertical e a


tação no semiárido armazena água base encostada na terra. Assim que
no sistema e contribui para que todo enraizarem, poderão ser plantadas
o conjunto de plantas prospere. no lugar definitivo e frutificarão a
partir do terceiro ano. As sementes
Propagação e observações: A re- devem ser semeadas logo que colhi-
produção do mandacaru pode ser das em substrato composto de 50%
por meio de pedaços de cladódios de areia e 50% de folhas secas mo-
(hastes) que devem ser cortados ídas. A germinação ocorre em 25 a
preferencialmente nos internódios 45 dias. Plantas oriundas de semen-
para facilitar o enraizamento. As tes começam a frutificar com 6 a 7
estacas devem ficar em ambien- anos de idade. Fontes consultadas: 4

Sisal Agave sisalana

Características: Conhecida popular- Condições ambientais favoráveis: O


mente como piteira ou agave, esta es- sisal pode suportar secas prolonga-
pécie perene é extremamente adap- das e até mesmo temperaturas ele-
tada ao clima semiárido do Nordeste vadas. Os tipos de solo mais apro-
brasileiro. Suas folhas, pontiagudas, priados para o cultivo do sisal são
são dispostas em torno de um eixo. solos arenosos, permeáveis, profun-
No final de seu ciclo de vida, após dos e que apresentam boa média de
cerca de cinco a dez anos do plantio, fertilidade.
a planta emite uma inflorescência
denominada de escapo floral ou, po- Usos e funções: produção de fibra
pularmente, “poste” ou “pendão de natural a partir de suas folhas, a qual,
agave”, na qual estão flores, frutos e mediante industrialização, resulta
sementes, ou apenas bulbilhos (es- em cordas, cordéis, tapetes, compos-
trutura reprodutiva), e então ocorre a tos para a indústria automotiva, de
morte do sisal. móveis, eletrodomésticos e também
utilizada na construção civil. Na in-
Origem: México. dústria química são extraídos gordu-

196
Opções de SAFs para diferentes contextos
Foto: Fabiana Peneireiro.

Foto: Henrique Marques

Sisal

ras, cera, glicosídeo, álcool, ácidos e contribuindo para a vida do solo e a


adubos. Os resíduos oriundos da ex- melhoria de sua estrutura.
tração da fibra do sisal, também co-
nhecidos por bagaço, que constituem Propagação e observações: o sisal
de suco ou seiva vegetal, partículas e pode ser multiplicado por meio de
pedaços de folhas e fibras de dife- bulbilhos (“mudinhas” do pendão)
rentes tamanhos, podem ser usados ou rebentos (“mudinhas” do rizoma
para alimentação animal e também da base da planta mãe), que são es-
como adubo. Também é útil para truturas de propagação vegetativa.
restauração ecológica no semiárido Enquanto os bulbilhos necessitam de
porque, por se tratar de uma plan- enviveiramento se muito pequenos,
ta que vegeta em alta temperatura os rebentos não, e, portanto, podem
e em níveis baixos de precipitação e ser plantados diretamente no campo.
acumula água em suas folhas (80% A época mais apropriada para o plan-
das folhas do sisal é água), quando tio é quando as plantas disponibilizam
podadas, servem para cobrir o solo, o material vegetativo, geralmente no
disponibilizando nutrientes e umida- início ou um pouco antes da estação
de para outras espécies, bem como chuvosa. Fontes consultadas: 3,45

197
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Fabiana Peneireiro

Sabiá ou Sansão do campo Mimosa caesalpiniaefolia

Características: leguminosa perene, da entre 20 e 28 oC; solos – férteis e pro-


família Mimosaceae, que atinge a altu- fundos, com pH entre 5,5 e 8,5, mas
ra de 7 a 8 m. É considerada uma plan- também se desenvolve em solos de
ta de rápido crescimento no semiárido baixa fertilidade. Possui a capacidade
por apresentar acréscimo de 1 m de de associação simbiótica com bacté-
altura por ano. Apresenta boa capaci- rias fixadoras de nitrogênio do gênero
dade de rebrota quando podada. Rhizobium e, por essa razão, é citada
por pesquisadores da Embrapa, como
Origem: região Nordeste do Brasil, sendo muito importante para florestas
mais especificamente nos Estados do em regeneração e, principalmente, em
Rio Grande do Norte, Piauí e Ceará. áreas de reflorestamento.

Condições ambientais favoráveis: pre- Usos e funções: espécie de uso múlti-


cipitações anuais – 600 a 1.000 mm, plo; madeira para estacas para cercas,
mas também ocorre em áreas mais inclusive como cercas vivas, no Nordes-
secas e também em áreas mais úmi- te (já ao término do terceiro ao quarto
das do Cerrado; temperaturas médias ano); para energia (lenha e carvão);

198
Opções de SAFs para diferentes contextos

como tutores, principalmente


em plantações de uva no nor-
deste; em indústrias de transformação Sabiá ou sansão do campo:
para produção de celulose e aglomera-
dos; forragem para grandes e peque-
potencial econômico
nos ruminantes (folhas e vagens, tanto
Atualmente se vende por R$3,50 a
verdes como secas), principalmente
R$5,00 o mourão. A madeira legal é
na época da seca. As folhas contêm vendida por R$4,00, aquela que tem
aproximadamente 17% de proteína. As a licença pra tirar. Tem um jovem que
flores são melíferas e a casca tem sido está fazendo manejo só de sabiá, em
usada para fins medicinais. Apresenta 15 hectares. A ideia dele é tirar só a
ainda boas características para ser utili- madeira que está madura. O sabiá nas-
zada como quebra-vento ou cerca-viva, ce muito quando você faz o roçado. O
funcionando como eficiente barreira pai dele tinha desmatado tudo, então
principalmente por efetivar um bom regenerou somente o sabiá. A ideia
fechamento e por apresentar espinhos era deixar ele num espaço correto, de
nos ramos jovens. Para a função de 1,5 m X 1 m, no máximo com três re-
cerca-viva, recomenda-se a variedade brotas em cada touceira. Se você faz o
corte raso, daqui a 6 - 8 anos você vol-
que apresenta acúleos (“espinhos”);
ta para cortar outra vez. Ali no carras-
para fins de estacas ou manejo para ali-
co é 10 anos, mas aqui nessa região,
mentação animal, recomenda-se sem
se o sabiá for manejado, com cinco ou
acúleos. A espécie é utilizada, ainda, seis anos, e se não for manejado, com
para enriquecimento e melhoramento sete ou oito anos. Você tira 22 mil las-
de solos, sombra para cultivos, contro- cas por hectare.
le de erosão.
O sabiá prolifera muito depois que
Propagação e observações: apresenta você faz o roçado. No sistema sombre-
boa capacidade de regeneração na- ado ele desaparece praticamente.
tural e se propaga facilmente por se-
mentes, sendo considerada invasora O que mais desestimula o manejo do
quando encontra condições favoráveis sabiá é que pra conseguir uma licença é
para seu desenvolvimento e propaga- muito doloroso. E o preço de venda é o
mesmo que o retirado da mata nativa.
ção. Sua multiplicação pode ser feita
por sementes ou por estacas. Suas se-
Ernaldo Expedito de Sá – Tianguá
mentes apresentam dormência e para
agricultor e morador da APA Serra do
quebrá-la recomenda-se imergi-las,
Ibiapaba – CE
fora do fogo, em água recém-fervida,
por um minuto. Fontes consultadas: 100

199
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Fabiana Peneireiro.

Gliricídia Gliricidia sepium

Características: leguminosa arbórea da mm anuais, com estações defini-


família Fabaceae, pode atingir até 15 m das, todavia, tolera estresse hídri-
de altura, e diâmetro de até 30 cm. A co; solos –pH de 4,5 a 5,0, e não se
árvore inicia sua floração de cor rosada desenvolve bem em solos muito al-
já nos primeiros cinco anos de idade, e, calinos ou muito ácidos, preferindo
se plantada por estaca, ainda antes. solos profundos, bem drenados e de
maior fertilidade; temperatura – en-
Origem: América Central e amplamen- tre 15 e 30 oC. Apresenta associação
te difundida pelos trópicos. simbiótica com bactérias fixadoras
de nitrogênio do gênero Rhizobium.
Condições ambientais favoráveis:
altitude – desde o nível do mar até Usos e funções: planta de uso múl-
1.600 m, em regiões sub-úmidas e tiplo, pode ser utilizada como: que-
secas; precipitação – de 600 a 3500 bra-vento, cerca-viva, espécie para

200
Opções de SAFs para diferentes contextos

sombreamento tanto em sistemas sil- inseticida, as folhas secas podem ser


vipastoris quanto em sistemas agros- colocadas nos ninhos de galinhas para
silviculturais, como forrageira, e ainda evitar piolhos, e também junto a se-
como espécie madeireira. Também mentes para evitar caruncho no arma-
apresenta grande potencial na recu- zenamento. Como raticida, as folhas
peração da fertilidade dos solos, como ou cascas da raiz da gliricídia devem
adubo verde, já que fixa nitrogênio, ser misturadas com milho cozido. É
apresenta sistema radicular profundo, também uma planta apícola.
tolera bem poda, apresentando re-
brota vigorosa e grande produção de Propagação e observações: sua pro-
biomassa, sendo que, em aproximada- pagação pode ser feita por meio de
mente quatro meses já tem sua copa sementes e estacas. As sementes não
restabelecida após a poda. Produz apresentam dormência, podendo ser
grande quantidade de matéria seca, semeadas logo após sua colheita.
aproximadamente 7,7 t/ha.ano, e suas Quando o plantio for feito por meio
folhas têm elevado teor de proteína de sementes, é importante atentar
bruta: 24%. Pode ser utilizada como que se estas tenham sido armazena-
banco de proteínas para fornecimento das por pelo menos um ano, então se
de forragem aos animais cortando-se recomenda que as deixem de molho
seus ramos verdes, sempre deixando em água fria por 24 horas ou então
gemas para rebrotar. Esse material imersas em água quente (90 oC) por
(folhas e ramos mais finos) pode ser dois a três minutos.
oferecido diretamente no cocho, ou
então pode ser transformado em feno No caso de multiplicação por estacas,
ou silagem com o objetivo de arma- para seu bom estabelecimento, de-
zenar alimentos para os animais não vem ser plantadas assim que corta-
sofrerem em períodos de estiagem. das, na posição vertical, com cuidado
Pastagens sombreadas promovem o para que as gemas estejam voltadas
bem estar animal, as plantas forragei- para cima. Para o plantio, as estacas,
ras apresentam melhor qualidade nu- que enraízam com facilidade, podem
tricional, e o solo é melhorado. É uma ter 4 cm de diâmetro e 2 m de com-
espécie estratégica para estabelecer primento e devem ser enterradas em
cerca-viva, servindo como mourão- bersos de 30 cm de profundidade. As
-vivo. Suas folhas apresentam uma estacas podem ser plantadas no local
substância que funciona como inse- definitivo ou então enviveiradas. Fon-
ticida e também como raticida. Como tes consultadas: 96, 6, 31

201
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Daniel Vieira

Umbu Spondias tuberosa

Características: planta xerófita que estiagem. É planta longeva, podendo


pertence à família Anacardiaceae. viver mais de 100 anos, melífera, com
Umbu, na língua tupi-guarani “y-mb suas flores brancas e perfumadas. Os
-u”, significa “árvore-que-dá-de-be- frutos do umbuzeiro estão disponíveis
ber”, e Euclides da Cunha a chamou de no período chuvoso. As necessidades
“árvore sagrada do Sertão”. Suas raí- ecológicas do umbuzeiro são simila-
zes, com estruturas tuberosas conhe- res às do sisal, do caroá, da palma, do
cidas como xilopódio, são como verda- aveloz, e cresce em associação natural
deiras caixas d´água. Trata-se de uma com o facheiro, mulungu, macambira,
árvore de pequeno porte, atingindo canudo, malva e muitas cactáceas.
em torno de 6 m de altura, de tronco
curto e copa em forma de guarda-chu- Origem: nativa do semiárido do Nor-
va, que perde as folhas no período de deste brasileiro.

202
Opções de SAFs para diferentes contextos

Condições ambientais favoráveis: so- refogadas, e também podem ser ofe-


los – profundos, bem drenados, are- recidas como forragem para animais
nosos, não suportando encharcamen- domésticos (bovinos, caprinos, ovi-
to; temperatura – entre 12ºC e 38ºC; nos) além de servir de alimento para
precipitação – de 400 mm a 800 mm, animais silvestres (veados, cágados,
todavia, ainda pode viver em locais dentre outros).
com maiores níveis de precipitação,
de até 1.600 mm/ano. Propagação e observações: o plantio
do umbu pode ser feito por semente,
Usos e funções: melhora o ambiente de preferência despolpada. Para ace-
para outras espécies e fornece uma lerar sua germinação, recomenda-se
ampla gama de produtos, muitos dos fazer um corte em bisel na parte distal
quais são originários dos frutos, das do caroço (oposta ao pedúnculo do
raízes, das folhas verdes e frescas, e fruto). Também se pode obter mu-
ainda do caule. Dos frutos podem ser das a partir de estacas do interior da
feitos sucos, sorvetes, doces, geleias, copa da planta, que devem ser colhi-
vinho, vinagre; do caroço torrado e das entre os meses de maio e agosto
moído faz-se uma bebida; da raiz se com 3,5 cm de diâmetro e com cerca
faz farinha, extrai-se água medicinal de 40 cm de comprimento. As estacas
(utilizada como vermífugo e antidiar- podem ser plantadas diretamente no
reico). A raiz sacia a fome do serta- local definitivo, enterrando 2/3 de seu
nejo em épocas de seca acentuada. comprimento, em posição inclinada,
Do caule se faz remédio e também se ou ainda serem enviveiradas em subs-
extrai madeira leve e mole. As folhas trato de areia para enraizamento pré-
verdes e frescas são alimento para se- vio para depois serem levadas a cam-
res humanos na forma de saladas ou po. Fontes consultadas: 65

203
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Fabiana Peneireiro

Cajá Spondias mombin

Características: árvore da família re aceita bem a poda, é de fácil mane-


Anarcadiaceae, apresenta crescimen- jo, e possui alta capacidade de rebrota
to rápido e pode alcançar até 25 m e produção de biomassa, até mesmo
de altura. Resiste bem a períodos de em condições pouco favoráveis.
seca por apresentar uma estrutura de
adaptação chamada de xilopódio (raí- Origem: América tropical.
zes tuberosas que armazenam água),
embora não tão exuberante quanto às Condições ambientais favoráveis: é
do umbu, e também é bem adaptada tolerante à maioria dos solos e pode
a terrenos mal drenados. Entra em suportar encharcamento por 2 a 3 me-
produção a partir do terceiro ou quar- ses ao ano. Precipitação: média anual
to ano de idade quando plantadas de de 1500 mm.
estaca” após “3 a 4 anos de idade. Os
frutos da cajazeira são de coloração Usos e funções: seus frutos são saboro-
amarelo-laranja, apresentam casca sos. São colhidos no chão, após serem
fina, polpa ácida e saborosa. Esta árvo- liberados pela árvore. Uma única árvore

204
Opções de SAFs para diferentes contextos

de cajá pode produzir até mil quilos de de mourão vivo, já que enraízam bem.
frutos. A polpa suculenta do cajá pode A casca e as flores são utilizadas na me-
ser utilizada na produção de geleias, dicina popular.
sucos, sorvetes, compotas, licores e
sobremesas. Suas folhas e tubérculos Propagação e observações: a propa-
também são comestíveis. É uma planta gação da cajazeira se dá por sementes
melífera. Ainda se faz uso medicinal de ou estacas do tipo lenhosa. No caso de
suas folhas, casca e raízes. Suas folhas plantio por estaca, a mesma deve ter
podem ser alimento para porcos e para por volta de um metro de comprimen-
o gado. Sua madeira pode ser utilizada to e 4 a 8 cm de diâmetro, e pode ser
como lenha e também apresenta carac- plantada diretamente no campo, desde
terísticas favoráveis para fabricação de que haja condições de irrigação até o
papel. As estacas do cajá podem servir pegamento. Fontes consultadas: 65, 28, 67

Margaridão Tithonia diversifolia

Foto: Andrew Miccolis


Características: de porte considerado
herbáceo ou arbustivo, pode atingir
1,5 a 4,0 m. Possui ramos fortes, e em
sua fase reprodutiva, apresenta inflo-
rescências em forma de capítulos, na
cor amarela. É uma espécie conside-
rada rústica, e pode suportar podas
ao nível do solo, com rebrota intensa
e vigorosa, até mesmo após ter sido
queimada. É recomendada como es-
pécie-chave no Cerrado e em algumas
regiões da Caatinga com maior pluvio-
sidade. Dependendo da região, na Ca-
atinga o margaridão muitas vezes não
se estabelece com sucesso devido ao
longo período seco.

Origem: América Central.

Margaridão.
205
Opções de SAFs para diferentes contextos

Condições ambientais favoráveis: por se cola e fornece alimentação complemen-


adaptar a uma ampla faixa de situações tar para os animais. A planta também é
ambientais e tolerar solos ácidos e com utilizada como fitoterápico contra hepa-
baixa fertilidade, encontrou condições fa- tite e algumas infecções, malária, infla-
voráveis para seu ótimo desenvolvimento mações, diarreia, ameba, etc. As flores
nos solos e clima do Cerrado. e sementes servem de alimento em es-
pecial para a avifauna silvestre, na época
Usos e funções: A espécie tem sido uti- seca. Quando adulto e pouco maneja-
lizada na área agrícola como pasto apí- do, o margaridão substitui capins como
cola e como adubo verde para melhoria a braquiária e, como um viveiro, forma
de solos por apresentar excelente capa- ambiente propício para germinação e
cidade de produção de biomassa, rápido recrutamento de muitas espécies arbó-
crescimento e baixa demanda de insu- reas nativas ou exóticas, normalmente
mos para seu cultivo. Estudos ressaltam dispersas pela fauna que a planta atrai.
que o margaridão “restaura a fertilidade Quando adulto e muito forte, o manejo,
do solo, incrementando a produtivida- preferencialmente com corte de todas
de de culturas subsequentes, devido ao as hastes bem próximo ao solo, torna-se
elevado nível de nutrientes na fitomassa necessário para que as mudas de árvo-
[biomassa da planta]”, principalmente res cresçam vigorosas.
fósforo, potássio e nitrogênio, e mostra-
ram que a matéria seca do margaridão Propagação e observações: sua pro-
possui altos teores de proteína, princi- pagação pode ser feita por estacas
palmente antes da floração. Isso significa de 20 a 30 cm de comprimento das
que o acúmulo de biomassa do margari- hastes verdes (trecho mais maduro),
dão por podas periódicas contribui para apresentando, desta forma, bom pe-
melhorar substancialmente a fertilidade gamento. Assim como algumas outras
do solo. O grande volume das suas raí- espécies-chave, ou espécies-engenhei-
zes e simbiose com micro-organismos ras, altamente adaptadas e eficientes,
do solo conferem ao Margaridão uma o margaridão é uma espécie exótica,
excepcional capacidade de disponibilizar com grande potencial invasor. A plan-
nutrientes normalmente pouco disponí- ta produz um número muito elevado
veis nos solos ácidos do Cerrado, prin- de sementes, que são dispersas pelo
cipalmente fósforo e nitrogênio. Além vento. Todavia, se for manejada ade-
do aspecto da fertilidade química, sua quadamente, com podas periódicas an-
influência se dá também na melhoria tes da florada, a espécie pode ser uma
das características físicas e biológicas do excelente aliada dos agricultores na re-
solo. Além disso, o Margaridão ajuda a cuperação de solos degradados. Fontes
controlar erosão, serve como pasto apí- consultadas: 31, 114

206
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Fabiana Peneireiro

Ingá Inga spp.

Características: leguminosa arbórea com sementes envoltas em uma pol-


que pertence à família Mimosaceae. pa branca, macia, adocicada, e mui-
Existem aproximadamente 300 es- to procurados pela fauna silvestre.
pécies lenhosas do gênero Inga, com O ciclo de vida do ingá de metro é
diferentes características de estatura de aproximadamente 10 a 12 anos,
e ciclo de vida. O nome Inga, de ori- enquanto que outros ingás, como o
gem Tupi, significa “que tem semen- ingá feijão (Inga marginata), podem
te envolvida”. Sua presença é comum viver muito mais tempo. Os ingás
na beira de rios e planícies aluviais, possuem associação com bactérias
por exemplo o ingá de metro (Inga fixadoras de nitrogênio, produzem
edulis), preferindo solos úmidos até grandes volumes de biomassa, e, de
brejosos nas matas ciliares e flores- modo geral, aceitam podas anuais
tas ripárias, no entanto, algumas es- intensivas, por isso são altamente
pécies também se adaptam a matas recomendados para consórcios em
secas. Os frutos são do tipo vagem, sistemas agroflorestais.

207
Opções de SAFs para diferentes contextos

Origem: América do Sul tropical, seu uso em sistemas agroflorestais


com ocorrência natural do México para sombreamento (especialmente
ao Uruguai. na produção de café e cacau) e para
fornecer biomassa quando podada,
Condições ambientais favoráveis: contribuindo substancialmente para
variam de acordo com a espécie. Há a ciclagem de nutrientes, inclusive,
espécies que se desenvolvem bem adicionando cálcio e nitrogênio ao
em solos ácidos, de baixa fertilidade sistema, este último pela fixação sim-
e secos, como o ingá mirim, e outras biótica. Tolera poda e rebrota bem.
preferem solos mais férteis e úmidos, Suas folhas podem servir como forra-
como o ingá de metro, que tolera so- gem para o gado. Apresenta resistên-
los encharcados por 2 a 3 meses. To- cia a patógenos radiculares como o
davia, essa espécie também suporta nematóide do gênero Meloidogyne.
períodos de seca de até 6 meses. As Sua madeira é utilizada para lenha e
condições ótimas de pluviosidade mé- também para embalagem, caixotaria
dia para sua ocorrência são de 1200 e construção civil leve interna, por
mm. Os ingás têm associação com sua baixa resistência e durabilidade.
bactérias endofíticas do gênero Rhi- A ingazeira é uma árvore melífera e,
zobium, que fixam nitrogênio, e/ou por florescer de 4 a 5 vezes por ano,
endomicorrizas simbiontes, fungos torna-se estratégica nessa função.
que auxiliam na disponibilização de
nutrientes. Observações: Suas sementes são re-
calcitrantes, ou seja, perdem o poder
Usos e funções: Os frutos, cujas se- germinativo se secarem. Muitas ve-
mentes são envoltas em uma polpa zes, ao retirar do fruto, as sementes
branca, macia e adocicada, são con- já estão germinadas. Desse modo, as
sumidos pelo ser humano e muito sementes, assim que colhidas, devem
procurados pela fauna silvestre. É ir imediatamente para a terra, em se-
também utilizado na medicina po- meadura direta no local definitivo, ou
pular, no tratamento de bronquite para saquinhos de mudas. Fontes con-
e como cicatrizante. Recomenda-se sultadas: 94, 5, 115, 31

208
Opções de SAFs para diferentes contextos

Mutamba Guazuma ulmifolia

Características: árvore da família Ster- quanto úmidos, tendo preferência por


culiaceae, perenifólia, sua presença é solos de textura arenosa.
comum nos cerradões e em matas de
galeria. A espécie apresenta rápido Usos e funções: planta de usos múl-
crescimento, podendo atingir até 30 tiplos, seus frutos apresentam uma
m de altura, e sua copa é densa. Seu substância viscosa e doce, muito
ciclo de vida é mediano, podendo atin- apreciada pela fauna, em especial ma-
gir 15 anos ou pouco mais. Suas flores cacos e cotias, e também pelo gado. A
são polinizadas por abelhas e outros madeira da mutamba pode ser usada
pequenos insetos. Inicia a produção
de frutos a partir do terceiro ou quar- Foto: Fabiana Peneireiro.

to ano de idade. Os frutos são do tipo


cápsula, seca, de cor verde a negra,
dura, e medem de 1,5 cm a 3,5 cm de
comprimento, contendo aproximada-
mente 50 pequenas sementes envolvi-
das por polpa doce e mucilaginosa. As
sementes são dispersas por aves, pei-
xes e outros animais, incluindo o gado.

Origem: América tropical, é comum


na Mata Atlântica, Amazônia, Panta-
nal, Cerrado e até mesmo na Caatinga.

Condições ambientais favoráveis: é


característica das formações secun-
dárias e capoeiras abertas, ocorrendo
em lugares abertos, margens de cór-
regos e rios e ambientes alterados.
Desenvolve-se bem em regiões com
precipitação de 600 mm a 1.500 mm e
onde a temperatura média anual é de
24 oC. Não é exigente quanto a solos
e é adaptada tanto a ambientes secos
Mutamba.

209
Opções de SAFs para diferentes contextos

para fabricação de celulose e papel. degradados. Os frutos podem ser


Também é considerada excelente utilizados na alimentação humana,
combustível para uso como lenha e consumidos frescos, secos, crus ou
carvão. Sua madeira também pode cozidos. Há povos indígenas que pre-
ser usada para fabricação de móveis. param um tipo de mingau e bebida.
As folhas servem de alimento para o Os indígenas da etnia Karajá usam a
gado em geral. A espécie perde ape- mutamba para alisar os cabelos. Os
nas parte das folhas na estação seca frutos e as folhas também podem
por isso é muito boa para integração ser utilizados para fins medicinais. O
com animais no campo. De acordo cozimento de pedaços de seu caule
com pesquisadores da Embrapa, um gera um extrato mucilaginoso utiliza-
dos maiores usos potenciais para do na fabricação de rapadura como
essa espécie é em consórcios agros- clarificador do caldo de cana duran-
silvipastoris, para arborização de te a fervura. Atualmente, é possível
pastos. O gado aprecia a folhagem e encontrar sorvete de mutamba a
os frutos novos da mutamba, princi- venda em algumas cidades brasilei-
palmente no período da seca. A for- ras. As flores da mutamba são melí-
ragem da mutamba apresenta de 17 feras, oferecendo néctar abundante
a 28% de proteína bruta. Também é que atrai a fauna apícola, que, por
recomendada para quebra-ventos sua vez produz mel saboroso, muito
quando plantadas de 3 a 5 m entre agradável e de alta qualidade.
árvores. É altamente recomendada
para recuperação de áreas degra- Propagação e observações: respon-
dadas e, para tal, deve ser mantida de bem à poda, rebrotando vigoro-
manejada mediante podas frequen- samente. Para a semeadura direta da
tes, por seu rápido crescimento, alta mutamba, recomenda-se a quebra de
produção de biomassa, vigorosa re- dormência das sementes, mergulhan-
brota e por atrair fauna. Sua copa é do-as em água fervente (com fogo
densamente coberta por folhas, que, desligado) por 15 segundos e depois
se podada, produz grande quantida- de escorrer a água quente, mergulhe
de de biomassa de alta qualidade, as sementes em água fria. Este cho-
excelente como forragem e também que térmico “acordará” as sementes.
para recuperar a fertilidade de solos Fontes consultadas: 27

210
Opções de SAFs para diferentes contextos

Banana Musa spp.

Características: A bananeira é da famí- infrutescência formada por pencas, e


lia Musaceae e considerada uma planta resulta do lançamento das flores a par-
herbácea gigante. Apresenta caule sub- tir do “coração” da bananeira. A altura
terrâneo, do tipo rizoma, de onde saem da planta pode variar de 1,8 a 8,0m.
as raízes, do tipo fasciculada, e brotam
os perfilhos, formando uma touceira de Origem: Asiática.
bananeiras. Cada bananeira apresenta
um pseudocaule suculento, formado Condições ambientais favoráveis: a
pelas bainhas das folhas superpostas. bananeira é uma planta tropical, já
As folhas, além das bainhas, apresen- que se desenvolve melhor em regi-
tam pecíolo longo e limbo foliar com- ões quentes. A faixa de temperatura
prido e largo. O cacho de banana é uma considerada ótima para o bom desen-
volvimento da bananeira é de 15 a 35
Foto: Fabiana Peneireiro o
C. Precipitação: acima de 1300 mm
e bem distribuída durante o ano, em-
bora tolere períodos de seca. Não é
tolerante à geada. Solos: prefere solos
férteis, profundos, bem drenados.

Usos e funções: A bananeira é muito


apreciada pelos seus frutos, que po-
dem ser comidos in natura, assados,
fritos, ou processados ainda verdes
na forma de chips, farinha, ou ainda
desidratados para produzir banana
-passa. Fibras do pseudocaule e das
folhas da bananeira podem ser utili-
zadas para vários tipos de artesanato
como esteiras, chapéus, bolsas, etc.,
e seu coração (mangará ou umbigo)
é comestível. Por armazenar bastan-
te água e nutrientes (principalmente
potássio) em seus tecidos, contribui
para que outras espécies prosperem.
Banana

211
Opções de SAFs para diferentes contextos

O seu pseudocaule cortado longitu- tando a conexão que o broto tem


dinalmente e disposto aos pés das com o rizoma, próximo à planta-
outras plantas fornece água e nu- -mãe. Também há mudas de bana-
trientes durante vários meses, esti- neira produzidas em laboratório,
mulando a vida do solo e evitando oriundas de cultura de tecido (do
o surgimento de ervas ou gramíneas meristema apical), normalmente
indesejadas. Por apresentar folhas em tubetes.
grandes, a bananeira apresenta alta
evapotranspiração, o que a leva a ser Observações: Em sistemas agroflo-
eficiente em criar microclimas, si- restais ou para recuperação de áre-
tuações mais úmidas e sombreadas as degradadas, a bananeira pode e
essenciais para o desenvolvimento deve ser manejada intensamente
de sementes ou mudas de árvores com o intuito de produzir biomas-
nativas e frutíferas exóticas que se sa e cobrir o solo, cortando-se a
desenvolvem bem nos seus estágios grande maioria dos pseudocaules
iniciais sob a copa das bananeiras. (“troncos”), ou até mesmos todos, à
altura do chão. Algumas variedades
Propagação: Sua propagação é por de banana como, por exemplo, a
meio vegetativo, a partir das mudas prata e o nanicão, adaptam-se bem
de rizomas produzidas por perfilha- à sombra e podem continuar produ-
mento da touceira. As brotações zindo por muitos anos em sistemas
menores devem ser destacadas da agroflorestais manejados para per-
planta maior retirando-se o solo em mitir a entrada de luz no sub-bos-
redor, rompendo-se as raízes e cor- que. Fontes consultadas: 151

Urucum Bixa orellana

Características: Árvore da família Bi- sementes vermelhas. Urucu, na lín-


xaceae, perenifólia (mantém a copa gua tupi significa vermelho. Começa a
sempre com folhas), chega à altura produzir a partir do terceiro ano. Ge-
de cerca de 3 a 4 metros. Suas folhas ralmente ocorre ao longo dos rios, da
são simples, suas flores belas, róseas, Amazônia à Bahia.
e seus frutos, em cachos, são secos e
se abrem expondo suas dezenas de Origem: América tropical.

212
Opções de SAFs para diferentes contextos

Condições ambientais favoráveis: de- alimentícia como corante chamado


senvolve-se bem em temperaturas de colorau. É também utilizado nas in-
20 a 26 oC, em regiões em que as tem- dústrias de cosméticos e farmacêu-
peraturas oscilam entre mínima de tica. Também pode ser usada como
15 oC e máxima de 38 oC. Não suporta produtora de biomassa mediante
geadas. Precipitação: de 1200 a 3000 poda. Responde bem a poda drástica,
mm. Solos: medianamente férteis, ao nível do solo.
profundos, úmidos e frescos. Tolera
encharcamento. Desenvolve-se bem
com certo sombreamento. Observações: Para acelerar a
germinação das sementes reco-
Usos e funções: Suas sementes pos- menda-se deixá-las imersas na
suem um pigmento, a bixina, que é água por 24 horas.
utilizado na culinária e na indústria

Foto: Fabiana Peneireiro

Urucum

213
Opções de SAFs para diferentes contextos

Eucalipto Eucalyptus spp.

Características: o gênero Eucalyptus, m, com precipitação média anual


da família Myrtaceae, abarca mais variando de 250 a 625 mm, e tem-
de 700 espécies, Dentre as espécies peraturas de 11 a 35 oC, no entanto,
arbóreas podemos citar algumas das desenvolve-se bem em condições
mais plantadas no Brasil: E. camal- com mais precipitação encontradas
dulensis, E. citriodora, E. grandis, no Cerrado e em outros biomas bra-
E. urophyla, E. saligna, E. dunnii, E. sileiros. Cada espécie de eucalipto
urophylla. Há hibridação entre as responde diferentemente quanto à
espécies. Cada espécie ou híbrido pluviosidade, à tolerância à geada,
apresenta características próprias re-
lativas às suas necessidades edafocli- Foto: Henrique Marques
máticas (de clima e solo), e também
de tamanho, forma e constituição,
o que as diferenciam quanto ao seu
potencial de uso. As espécies mais
utilizadas são árvores de rápido cres-
cimento. Suas folhas são simples, ge-
ralmente lanceoladas, e suas flores
têm grande quantidade de estames
exuberantes, responsáveis pelo po-
der atrativo dos insetos pelas flores.
Seus frutos são lenhosos, ligeiramen-
te cônicos, e possuem válvulas que
se abrem para dispersar as sementes
extremamente pequenas. As espé-
cies mais comuns no Brasil atingem
de 20 a 60 m de altura.

Origem: Austrália e outras ilhas da


Oceania.

Condições ambientais favoráveis:


ocorre naturalmente em áreas de
altitudes variando entre 30 e 600
Eucalipto

214
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Henrique Marques


à deficiência hídrica, e à fertilidade
do solo. Solos: profundos e bem dre-
nados; não tolera solos rasos. Clima:
são espécies adaptadas a longos pe-
ríodos de seca, que variam de 4 a 8
meses ou mais.

Usos e funções: O eucalipto tem


múltiplos usos e funções, dentre os
quais se destacam a madeira para
construção civil, toras para serraria,
toras para laminação, postes, mou-
rões e estacas, madeira para gera-
ção de energia na forma de carvão,
biocombustíveis ou lenha, ou ainda
para celulose utilizada na fabricação
de papel. Suas flores são melíferas
e suas folhas são utilizadas para fins
medicinais, bem como para extração
de óleo essencial. Além disso, o eu-
calipto também pode ser utilizado
para produção de biomassa com o
intuito de recuperar solos e áreas
Eucalipto
degradadas, no entanto, para tal,
deve ser manejado por meio de po-
das frequentes e em alta intensida-
de. Por fim, pode ser utilizado ainda
para sombreamento e como planta
ornamental.

Cabe ressaltar que as diversas espé-


cies de eucaliptos apresentam carac-
terísticas específicas que as tornam
mais adequadas de acordo com a
função que se deseja cumprir e as
condições ambientais, conforme re-
sumido a seguir:

215
Opções de SAFs para diferentes contextos

espécies de eucalipto • Caixotaria: E. dunnii, E. gran-


indicadas em função dis, E. pilularis e E. resinifera.
do uso:
• Construções: E. alba, E. bo-
• celulose: E. alba, E. dunnii, E. tryoides, E. camaldulensis, E. citrio-
globulus, E. grandis, E. saligna, E. dora, E. cloeziana, E. deglupta, E.
urophylla e E. grandis x E. urophylla maculata, E. microcorys, E. panicu-
(híbrido). lata, E. pilularis, E. resinifera, E. ro-
busta, E. tereticornis e E. tesselaris.
• Lenha e carvão: E. brassiana,
E. camaldulensis, E. citriodora, E. • Dormentes: E. botryoides, E. ca-
cloeziana, E. crebra, E. deglupta, E. maldulensis, E. citriodora, E. cloezia-
exserta, E. globulus, E. grandis, E. na, E. crebra, E. deglupta, E. exserta,
maculata, E. paniculata, E. pellita, E. maculata, E. maidenii, E. micro-
E. pilularis, E. saligna, E. tereticor- corys, E. paniculata, E. pilularis, E.
nis, E. tesselaris e E. urophylla. propinqua, E. punctata, E. robusta e
E. tereticornis.
• Serraria: E. camaldulensis, E.
citriodora, E. cloeziana, E. dunnii, E. • Postes: E. camaldulensis, E. ci-
globulus, E. grandis, E. maculata, E. triodora, E. cloeziana, E. maculata,
maidenii, E. microcorys, E. panicula- E. maidenii, E. microcorys, E. pani-
ta, E. pilularis, E. propinqua, E. punc- culata, E. pilularis, E. punctata, E.
tata, E. resinifera, E. robusta, E. sa- propinqua, E. tereticornis e E. resi-
ligna, E. tereticornis e E. urophylla. nifera.

• Móveis: E. camaldulensis, E. ci- • Estacas e moirões: E. citriodo-


triodora, E. deglupta, E. dunnii, E. ra, E. maculata e E. paniculata.
exserta, E. grandis, E. maculata, E.
microcorys, E. paniculata, E. pilula- • Óleos essenciais: E. camaldu-
ris, E. resinifera, E. saligna e E. te- lensis, E. citriodora, E. exserta, E.
reticornis. globulus, E. smithii, E. salicifolia.e E.
tereticornis.
• Laminação: E. botryoides, E.
dunnii, E. grandis, E. maculata, E. • Taninos: E. camaldulensis, E. ci-
microcorys, E. pilularis, E. robusta, E. triodora, E. maculata, E. paniculata
saligna e E. tereticornis. e E. smithii.

216
Opções de SAFs para diferentes contextos

Espécies de eucalipto Espécies de eucalipto


indicadas em função do clima: indicadas em função do solo:

• Úmido e quente: E. camaldulen- • Argilosos: E. citriodora, E. clo-


sis, E. deglupta, E. robusta, E. tereti- eziana, E. dunnii, E. grandis, E. ma-
cornis e E. urophylla. culata, E. paniculata E. pellita, E.
pilularis, E. pyrocarpa, E. saligna, e
• Úmido e frio: E. botryoides, E. E. urophylla.
deanei, E. dunnii, E. globulus, E. gran-
dis, E. maidenii, E. paniculata, E. pi- • Textura média: E. citriodora,
lularis, E. propinqua, E. resinifera, E. E. cloeziana, E. crebra, E. exserta, E.
robusta, E. saligna e E. viminalis. grandis, E. maculata, E. paniculata,
E. pellita, E. pilularis, E. pyrocarpa, E.
• Subúmido úmido: E. citriodora, saligna, E. tereticornis e E. urophylla.
E. grandis, E. saligna, E. tereticornis e
E. urophylla. • Arenosos: E. brassiana, E. ca-
maldulensis, E. deanei, E. dunnii, E.
• Subúmido seco: E. camaldulen- grandis, E. robusta E. saligna, E. tere-
sis, E. citriodora, E. cloeziana, E. macu- ticornis e E. urophylla.
lata, E. pellita, E. pilularis, E. pyrocar-
pa, E. tereticornis e E. urophylla. • Hidromórficos: E. robusta.

• Semiárido: E. brassiana, E. ca- • Distróficos: E. alba, E. camaldu-


maldulensis, E. crebra, E. exserta, E. lensis, E. grandis, E. maculata, E. pa-
tereticornis e E. tessalaris. niculata, E. pyrocarpa e E. propinqua.

Fonte: IPEF 2005, disponível em http://www.ipef.br/identificacao/eucalyptus/indicacoes.asp

Propagação e observações: O eucalip- res e também promove a boa saúde


to geralmente é plantado a partir de ambiental; ao contrário, se plantado
mudas, feitas por estacas (clone) ou em monocultivo, adensado, pode ser
sementes. Se plantado consorciado, prejudicial ao ambiente. Depois de
espaçado e manejado frequentemen- cortado na base, o eucalipto rebro-
te mediante poda, o eucalipto pode ta, podendo se efetuar outros cortes.
ser um excelente aliado dos agriculto- Fontes consultadas: 52, 152, 153, 154

217
Opções de SAFs para diferentes contextos

Capins

Pertencentes à família Poaceae, os rado e na Caatinga. Além disso, há


capins, por serem plantas do tipo C4 diferentes espécies adaptadas a solos
(cadeia de 4 carbonos no primeiro com distintos graus de fertilidade e
produto de fixação de carbono dessas possuem a característica de solubili-
plantas), apresentam a capacidade zar e disponibilizar nutrientes pouco
de maior aproveitamento da energia disponíveis. Sua biomassa, rica em
solar em fotossíntese mesmo em tem- carbono, contribui para aumentar os
peraturas mais altas, diferentemente teores de matéria orgânica no solo,
de outras plantas do tipo C3 (todas as protegendo-o das chuvas torrenciais,
árvores e a maioria das espécies her- da insolação direta e dinamizando a
báceas), que paralisam seu metabolis- vida do solo. A seguir apresentaremos
mo quando a temperatura é elevada três espécies-chave de capim indica-
e a luminosidade intensa, condições das para a conservação aliada à pro-
encontradas frequentemente no Cer- dução no Cerrado.

Capim Mombaça Panicum maximum

Características: variedade do capim Condições ambientais favoráveis: plu-


colonião, gramínea de crescimento viosidade – entre 800 e 1000 mm anu-
cespitoso (forma touceiras). É alta- ais porém se adapta bem a condições
mente produtivo e tolera sombrea- com pluviosidade maior; temperatu-
mento. A zona de raízes acidificada ras – entre 15 oC e 35 oC; solos – média
favorece a solubilização de fósforo a alta fertilidade.
e outros nutrientes, que são absor-
vidos e disponibilizados pelo capim. Usos e funções: é excelente forra-
Essa variedade apresenta produção gem para o gado (bovino, caprino e
de biomassa de até 130% a mais que ovino), com boa qualidade nutricio-
o Colonião e até 28% a mais que a nal e alta produção de biomassa. A
Tanzânia. biomassa da planta apresenta teores
de proteína bruta de 11 a 15%. Uma
Origem: África. vez que o capim favorece a disponi-

218
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: Fabiana Peneireiro

relativamente mais lentamente, per-


manecendo mais tempo protegendo
o solo. Essa proteção mantém a umi-
dade e estimula a vida do solo, crian-
do condições favoráveis para o de-
senvolvimento das raízes de espécies
vegetais associadas à palhada acu-
mulada. Como forragem, pode ser
utilizada em pastejo direto ou então
oferecida para os animais no cocho.
O capim mombaça, por suas raízes
potentes, também pode ser utilizado
na estabilização de erosão.

Propagação e Observações: pode ser


multiplicado por meio de sementes.
Deve ser utilizado em situações onde
Capim Mombaça.
possa ser manejado intensamente,
bilidade de fósforo do solo, quando seja manual ou mecanicamente, a
podados ou ingeridos por ruminan- fim de cumprir sua função de pro-
tes, podem ser importante fonte dos dução de biomassa e melhoria das
nutrientes para o sistema produtivo. condições de solo sem, no entanto,
Sua biomassa apresenta altos teores impedir o surgimento de árvores e
de carbono, o que contribui para que arbusto nativos, principalmente em
a matéria orgânica se decomponha APPs. Fontes consultadas: 126, 122, 120

Capim andropogon Andropogon gayanus

Características: capim cespitoso, Além disso, sua matéria orgânica


bastante adaptado às condições rica em carbono, de decomposição
do Cerrado brasileiro. Da mesma bem mais lenta que das legumino-
forma como os outros capins, apre- sas, permanece por mais tempo
senta a característica de solubilizar protegendo o solo.
e disponibilizar nutrientes dos solos
pobres, principalmente o fósforo. Origem: África.

219
Opções de SAFs para diferentes contextos

Foto: blog.bioseeds.com.br/andropogon-gayanus-secas-prolongadas

Capim Andropogon.

Condições ambientais favoráveis: de- manecendo mais tempo protegendo o


senvolve-se bem a pleno sol, em solos solo. Essa proteção mantém a umida-
ácidos, e em condições de fertilidade de e estimula a vida do solo, criando
mais baixa que a exigida pelo momba- condições favoráveis para o desenvol-
ça e capim elefante; precipitação anu- vimento das raízes de espécies vege-
al de 1000 a 2000 mm. tais associadas à palhada acumulada.
Como forragem, pode ser utilizada
Usos e funções: é uma boa forragem principalmente em pastejo direto.
para o gado (bovino, caprino e ovino)
no Cerrado, com qualidade nutricional Propagação e observações: pode ser
mediana e alta produção de biomassa. multiplicado por meio de sementes.
Uma vez que o capim favorece a dispo- Deve ser utilizado em situações onde
nibilidade de fósforo do solo, quando possa ser manejado intensamente,
podados ou ingeridos por ruminan- seja manual ou mecanicamente, a fim
tes, podem ser importante fonte dos de cumprir sua função de produção
nutrientes para o sistema produtivo. de biomassa e melhoria das condi-
Sua biomassa apresenta altos teores ções de solo sem, no entanto, impedir
de carbono, o que contribui para que o surgimento de árvores e arbusto na-
a matéria orgânica se decomponha tivos, principalmente em APPs. Fontes
relativamente mais lentamente, per- consultadas: 126, 122, 111

220
Opções de SAFs para diferentes contextos

Capim elefante Pennisetum purpureum cv. Napier

Características: trata-se de uma varie- fonte dos nutrientes para o sistema


dade de napier, gramínea perene, de produtivo. Sua biomassa apresenta
hábito cespitoso, e apresenta folhas altos teores de carbono, o que con-
largas e colmos grossos. tribui para que a matéria orgânica se
decomponha relativamente mais len-
Origem: África. tamente, permanecendo mais tem-
po protegendo o solo. Essa proteção
Condições ambientais favoráveis: mantém a umidade e estimula a vida
cresce exuberantemente em condi-
ções tropicais, pluviosidade – entre Foto: Fabiana Peneireiro

800 e 4000 mm anuais; temperatu-


ras de 18 a 30oC. É exigente em so-
los com média a alta fertilidade, bem
drenados, e não tolera solos ácidos ri-
cos em alumínio, no entanto, também
produz quantidades significativas de
biomassa em solos arenosos com bai-
xa fertilidade. É altamente produtivo
e se desenvolve bem a pleno sol. Sua
rizosfera acidificada favorece a solubi-
lização de fósforo e outros nutrientes,
que são absorvidos e disponibilizados
pelo capim.

Usos e funções: o capim elefante, as-


sim como o capim mombaça, é exce-
lente forragem para o gado (bovino,
caprino e ovino), com boa qualidade
nutricional e alta produção de bio-
massa. Uma vez que o capim favorece
a disponibilidade de fósforo do solo,
quando podados ou ingeridos por
ruminantes, podem ser importante
Capim Elefante.

221
Opções de SAFs para diferentes contextos

do solo, criando condições favoráveis alizado rente ao chão para que as ge-
para o desenvolvimento das raízes de mas basais possam brotar. Deve ser
espécies vegetais associadas à palha- utilizado em situações onde possa ser
da acumulada. Como forragem, o ca- manejado intensamente, seja manual
pim pode ser utilizado em pastejo di- ou mecanicamente, a fim de cumprir
reto ou então plantado em capineiras sua função de produção de biomassa
e oferecido para os animais, triturado, e melhoria das condições de solo sem,
no cocho. Pode ainda ser armazenado no entanto, impedir o surgimento e
na forma de silagem. O capim elefante, desenvolvimento de espécies nativas e
por seu porte, pode ser usado ainda cultivadas, principalmente em APPs. O
como quebra-vento e por suas raízes capim elefante dificilmente se propaga
potentes, na estabilização de erosão, por sementes portanto não apresen-
inclusive em encostas e barrancos de ta risco de se tornar espécie invasora.
córregos ameaçados pela degradação. Fontes consultadas: 126, 122, 79
O capim napier triturado pode ser ex-
celente cobertura para canteiros agro- A seguir, apresentamos uma lista de es-
florestais com hortaliças. pécies de uso múltiplo sugeridas para
o Cerrado e a Caatinga, escolhidas a
Propagação e observações: a propaga- partir dos critérios e das características
ção do capim elefante é feita por meio descritos na seção 4.2 Seleção de espé-
vegetativo, plantando-se seus colmos cies. Esta lista não pretende ser exaus-
(estacas), como cana, em valas, ou tiva e, sim, um ponto de partida para o
enterrados, aos pedaços, inclinados. planejamento de SAFs, já que existem
Recomenda-se que seu corte seja re- muitas outras espécies importantes.

222
Foto: Andrew Miccolis

223
Opções de SAFs para diferentes contextos

Quadro 1. Lista geral de espécies indicadas para restauração no Cerrado e Caatinga, SUAS CARAC
Boa
Exigência por Ciclo de Alimento
Nome popular Nome científico Estrato* produtora de
fertilidade vida humano
biomassa
Abacate Persea americana alta perene alto sim sim
Abacaxi Ananas spp. baixa-média anual baixo não sim
Abóbora de rama Curcubita pepo média semestral baixo sim sim
Acerola Malpighia glabra L. média perene alto não sim
Agave Agave spp. baixa perene baixo sim não
Algaroba Prosopis juliflora baixa perene alto sim sim
Amora Morus nigra L. média perene médio sim sim
Andropogon Andropogon gayanus baixa perene alto sim não
Angico Anadenanthera colubrina baixa-média perene emergente sim não
Angico de bezerro Piptadenia obliqua baixa perene alto sim não
Araruta Maranta arundinacea alta perene baixo Não sim
Aroeira Myracrodruon urundeuva alta perene alto não não
Bacaba Oenocarpus bacaba alta perene alto Sim sim
Bacupari da mata Cheiloclinium cognatum alta perene alto não sim
Banana Musa paradisiaca alta perene médio sim sim
Barú Dipteryx alata média perene alto não sim
Batata doce Ipomoea batatas média-alta anual baixo não sim
Biribá Rollinia mucosa média perene alto sim sim
Braquiária Brachiaria brizantha baixa perene alto sim não
Braúna Melanoxylon brauna baixa perene alto não não
Braúna do sertão ou Schinopsis brasiliensis média perene alto não não
pau preto
Buriti Mauritia flexuosa média-alta perene alto não sim
Café Coffea spp alta perene baixo não sim
Cajá mirim Spondias mombin média perene médio não sim
Caju Anacardium occidentale média perene emergente não sim
Canafístula Senna spectabilis média perene alto sim não
Capim elefante Pennisetum purpureum média perene alto sim não
Capororoca Myrsine (ex-Rapanea) guianensis baixo perene alto não não
Carnaúba Copernicia prunifera alta perene emergente não sim
Carvoeiro Tachigali vulgaris (ex-Sclerolobium baixa perene alto sim não
paniculatum)
Catingueira Caesalpinia pyramidalis baixa perene médio sim não
Cedro Cedrela fissilis média perene alto não não

224
Opções de SAFs para diferentes contextos

TERÍSTICAS E PRINCIPAIS FUNÇÕES


Potencial
Atração de fauna e Potencial Potencial Ocorrência predominante/
Forrageira de renda e
polinizadores madeireiro Medicinal bioma indicado
mercado
sim não não sim sim Cerrado
sim não não sim sim Cerrado/Caatinga
sim não não não sim Cerrado/Caatinga
sim não não não sim Cerrado/Caatinga
sim sim não não sim Cerrado/Caatinga
sim sim não sim sim Caatinga
sim sim não sim sim Cerrado
não sim não não não Cerrado
sim sim sim sim sim Cerrado/Caatinga
sim sim sim sim sim Caatinga
não sim não sim sim Cerrado
sim não sim sim sim Cerrado/Caatinga
sim sim não sim sim Cerrado
sim não sim não não Cerrado
sim sim não não sim Cerrado
sim não sim não sim Cerrado
não não não não sim Cerrado/Caatinga
sim sim sim sim sim Cerrado
não sim não não não Cerrado
sim não sim sim não Cerrado/Caatinga
sim não sim sim sim Caatinga

sim sim não sim sim Cerrado


sim não não sim sim Cerrado
sim sim não não sim Cerrado/Caatinga
sim não não sim sim Cerrado/Caatinga
sim não sim não não Cerrado/Caatinga
não sim não não não Cerrado
sim não não não não Cerrado
sim sim não sim sim Caatinga
sim não sim não sim Cerrado

sim sim sim sim sim Caatinga


sim sim sim sim sim Cerrado

225
Opções de SAFs para diferentes contextos

Quadro 1. Lista geral de espécies indicadas para restauração no Cerrado e Caatinga, SUAS CARAC
Boa
Exigência por Ciclo de Alimento
Nome popular Nome científico Estrato* produtora de
fertilidade vida humano
biomassa
Cinamomo Melia azedarach baixa perene emergente sim não
Copaíba Copaifera langsdorfii média perene alto não não
Crotalária Crotalaria sp. média anual emergente sim não
Cúrcuma Curcuma longa média anual baixo não sim
Embaúba Cecropia spp baixa-média perene emergente não não
Embiruçu Pseudobombax tomentosum média perene alto não não
Emburana-de-cheiro Amburana cearensis média perene alto sim não
Espinheiro Acacia glomerosa média perene médio sim não
Estilozantes Stylosantes sp. baixa perene baixo sim não
Eucalipto Eucaliptus sp. média perene emergente sim não
Faveleira Cnidoscolus phyllacanthus baixa perene médio sim sim
Faveira Parkia platycephala média perene alto sim não
Feijão bravo Canavalia brasiliensis baixa bianual alto não não
Feijão de corda Phaseolus vulgaris média anual baixo não sim
Feijão de porco Canavalia ensiformis baixa anual baixo sim não
Feijão guandu Cajanus cajan média bianual alto sim sim
Gengibre Zingiber officinale média perene baixo não sim
Gliricídia Gliricidia sepium alta perene alto sim não
Goiaba Psidium guajava L. média perene alto não sim
Gomeira Vochysia pyramidalis média Perene médio- sim Não
alto
Gonçalo alves Astronium fraxinifolium baixa perene alto não não
Graviola Annona muricata alta perene alto não sim
Gueroba Syagrus oleracea baixa perene alto não sim
Indaiá Attalea apoda média perene alto não sim
Ingá de metro Inga edulis média perene alto sim sim
Ingá mirim Inga nobilis baixa perene alto sim sim
Inhame Colocasia esculenta alta anual baixo Não sim
Ipê amarelo Handroanthus serratifolius média perene alto não não
Ipê roxo Handroanthus impetiginosus média perene emergente não não
Jaborandi Piper hispidum alta bianual baixo sim Sim
Jaca Artocarpus altilis média perene alto sim sim
Jatobá Hymenaea courbaril baixa perene emergente não sim

226
Opções de SAFs para diferentes contextos

TERÍSTICAS E PRINCIPAIS FUNÇÕES


Potencial
Atração de fauna e Potencial Potencial Ocorrência predominante/
Forrageira de renda e
polinizadores madeireiro Medicinal bioma indicado
mercado
sim sim sim sim sim Cerrado
sim não sim sim sim Cerrado/Caatinga
sim não não sim sim Cerrado/Caatinga
não não não sim sim Cerrado
sim não não sim não Cerrado
Sim não não sim não Cerrado/Caatinga
sim não sim sim sim Cerrado/Caatinga
sim não sim Sim não Cerrado/Caatinga
sim sim não Não sim Cerrado
sim não sim Sim Sim Cerrado
sim sim não Sim sim Caatinga
sim sim não Não não Caatinga
sim sim não Não não Cerrado/Caatinga
sim sim não Sim sim Cerrado/Caatinga
sim sim não Não sim Cerrado/Caatinga
sim sim não Sim sim Cerrado/Caatinga
não não não Sim sim Cerrado/Caatinga
sim sim não Sim não Cerrado/Caatinga
sim não sim Sim sim Cerrado
Sim Não Sim Não Não Cerrado

sim não sim Sim sim Cerrado


sim não não sim sim Cerrado/caatinga
sim não não não sim Cerrado
sim não não sim não Cerrado
sim sim não sim não Cerrado
sim sim sim sim não Cerrado/Caatinga
não não não sim sim Cerrado/caatinga
sim não sim sim sim Cerrado
sim não sim sim sim Cerrado/Caatinga
Sim Não não sim sim Cerrado
sim não sim não sim Cerrado/Caatinga
sim não sim sim sim Cerrado/Caatinga

227
Opções de SAFs para diferentes contextos

Quadro 1. Lista geral de espécies indicadas para restauração no Cerrado e Caatinga, SUAS CARAC
Boa
Exigência por Ciclo de Alimento
Nome popular Nome científico Estrato* produtora de
fertilidade vida humano
biomassa
Jenipapo Genipa americana média perene alto não sim
Jiló Solanum gilo média anual alto não Sim
Juazeiro Zizyphus joazeiro baixa perene alto sim sim
Jucá Caesalpinia férrea baixa perene médio sim não
Juçara mirim Euterpe edulis alta perene alto não sim
Jurema branca Piptadenia stipulacea média perene alto não não
Jurema preta Mimosa tenuiflora média perene alto não não
Landim Calophyllum brasiliense média perene alto não não
Leucena Leucaena leucocephala média perene alto sim não
Lichia Litchi chinensis alta perene médio sim sim
Licuri Syagrus coronata média perene emergente não sim
Lixeira Curatella americana baixa perene médio não sim
Lobeira Solanum eryanthum média perene médio não sim
Macaúba Acrocomia aculeata média perene alto não sim
Mamão Carica papaya alta bianual emergente não sim
Mamona Ricinus communis média perene emergente sim não
Mamoninha ou mel- Mabea fistulifera baixa perene médio sim não
zinho
Mamoninha-do-mato Esenbeckia febrifuga média perene médio não
Mamuí ou Jaracatiá Jaracatia corumbensis Alta perene alto não sim
Mandacaru Cereus jamacaru média perene alto sim sim
Mandiocão Schefflera morototoni média perene emergente sim não
Manga Mangifera indica média perene altoz sim sim
Mangaba Hancornia speciosa baixa perene alto não sim
Maniçoba Manihot glaziovii média perene alto sim não
Maracujá do Cerrado Passiflora cincinnata média bianual alto não sim
Margaridão Tithonia diversifolia média perene alto sim não
Marmelada Alibertia macrophylla baixa perene médio não sim
Marmeleiro Croton sonderianus baixa perene médio sim sim
Maxixe Cucumis anguria média anual rasteiro não sim
Mirindiba Buchenavia tomentosa baixa perene alto não sim
Mogno Swietenia macrophylla alta perene alto não não
Mombaça Panicum maximum média perene médio sim não

228
Opções de SAFs para diferentes contextos

TERÍSTICAS E PRINCIPAIS FUNÇÕES


Potencial
Atração de fauna e Potencial Potencial Ocorrência predominante/
Forrageira de renda e
polinizadores madeireiro Medicinal bioma indicado
mercado
sim não sim sim sim Cerrado/Caatinga
sim não não sim sim Cerrado/Caatinga
sim sim não sim sim Caatinga
sim sim sim sim sim Caatinga
sim não não não sim Cerrado
sim não sim sim não Caatinga
sim não sim sim não Caatinga
sim não sim Sim sim Cerrado
sim sim não sim não Cerrado/Caatinga
sim não não não sim Cerrado
sim não não sim sim Cerrado/Caatinga
sim não não sim não Cerrado
sim não não sim não Cerrado
sim sim sim sim sim Cerrado
sim não não sim sim Cerrado
sim não não sim sim Cerrado/Caatinga
sim sim não não não Cerrado

sim Cerrado
sim não não sim sim Cerrado/Caatinga
sim sim não não Caatinga
sim sim sim Cerrado
sim não não não sim Cerrado/Caatinga
sim não não sim sim Cerrado/Caatinga
sim sim não não não Caatinga
sim não Não sim sim Cerrado
sim sim Não sim não Cerrado
sim não Sim sim sim Cerrado
sim sim sim sim sim Caatinga
não não não sim Cerrado/Caatinga
sim sim sim sim sim Cerrado
sim sim sim Cerrado
não sim não Cerrado

229
Opções de SAFs para diferentes contextos

Quadro 1. Lista geral de espécies indicadas para restauração no Cerrado e Caatinga, SUAS CARAC
Boa
Exigência por Ciclo de Alimento
Nome popular Nome científico Estrato* produtora de
fertilidade vida humano
biomassa
Moringa Moringa oleífera alta perene alto sim sim
Mucuna Mucuna sp. média anual alto sim não
Mulungu Erythrina velutina baixa-média perene alto sim não
Murici Byrsonima sp baixa perene médio não sim
Mutamba Guazuma ulmifolia média perene alto sim não
Oiticica Licania rigida média perene médio sim sim
Pajeú Triplaris gardneriana média perene médio sim não
Palma forrageira Opuntia fícus-indica média perene médio sim sim
Pau-pombo Tapirira obtusa alta perene alto sim não
Pepino caipira Cucumis sativus média anual baixo não sim
Pequi Caryocar brasiliense média perene alto não sim
Periquiteira Trema micrantha baixa perene alto sim não
Pimenta de macaco Xylopia aromatica média perene alto sim sim
Pinha do brejo Magnolia ovata média perene alto sim não
Puçá Mouriri sp. baixa perene médio não sim
Pupunha Bactris gasipaes média perene emergente não sim
Quaresmeira Tibouchina candolleana média perene alto sim não
Sangra-d’água Croton urucurana média perene alto não não
Sansão do campo Mimosa caesalpiniaefolia baixa perene alto sim não
Sapoti Manilkara zapota média perene médio não sim
Sisal Agave sisalana baixa perene baixo sim não
Sorgo Sorghum sp. média anual alto sim não
Taioba Xanthosoma sagittifolium média/alta perene baixo sim sim
Tamboril Enterolobium spp. média perene alto não não
Tingui Magonia pubescens baixa perene alto não não
Tomate cereja Solanum lycopersicum  média anual médio não sim
Turco Parkinsonia aculeata média perene baixo a sim não
médio
Umbu Spondias tuberosa média perene médio não sim
Urucum Bixa orellana média perene médio sim sim
Xixá Sterculia striata média perene emergente não sim
Xique-xique Pilosocereus gounellei média perene baixo sim não

* Estrato se refere à necessidade de luz na fase adulta


Fontes Consultadas: 23, 44, 53, 68, 118, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 162

230
Opções de SAFs para diferentes contextos

TERÍSTICAS E PRINCIPAIS FUNÇÕES


Potencial
Atração de fauna e Potencial Potencial Ocorrência predominante/
Forrageira de renda e
polinizadores madeireiro Medicinal bioma indicado
mercado
sim sim não não Cerrado/Caatinga
sim sim não Cerrado/Caatinga
sim sim sim sim sim Caatinga
sim não não sim não Cerrado
sim sim sim sim Cerrado
não não Caatinga
sim não sim não sim Caatinga
sim sim não sim não Caatinga
sim não não não não Cerrado
sim não não sim sim Cerrado/Caatinga
sim não sim sim sim Cerrado
sim sim sim sim Cerrado
sim não não sim não Cerrado
sim Cerrado
sim Cerrado
sim não não não sim Cerrado
sim não não sim não Cerrado
sim Não sim sim Não Cerrado
sim sim sim sim Caatinga/Cerrado
sim não sim sim Caatinga
sim não não sim Caatinga
sim sim não não não Cerrado/Caatinga
não sim não não sim Cerrado
sim sim sim sim sim Cerrado
sim não sim sim sim Cerrado
sim não não não sim Cerrado/Caatinga
sim sim sim sim sim Caatinga

sim não não sim sim Caatinga


sim não não sim sim Cerrado
sim não sim Cerrado
sim sim não sim não Caatinga

231
Regras para implementaç ão do Código Florestal

PARTE 2
Regras para implementaç

232
PARTE 2
Regras para implementaç ão do Código Florestal

ão do Código Florestal

233
Regras para implementaç ão do Código Florestal
6. Áreas de
conservação e
SAFs na legislação Por que a data
de julho de 2008?
Foi nesta data que entrou em
O nova Lei Florestal (lei 12.651/2012)21, vigor o Decreto 6.514 que re-
também conhecida como Novo Código gulamentou as regras estabele-
Florestal, retoma instrumentos de pre- cidas na Lei 9.605/98, mais co-
servação e conservação como as Áreas nhecida como a Lei de Crimes
de Preservação Permanente (APPs) e Ambientais.
Reserva Legal (RL) tratados no Código
Florestal de 1965 (lei no 4.771/1965), Com relação aos percentuais de RL
e traz a possibilidade de introduzir e APPs a serem mantidas com vege-
sistemas agroflorestais nessas áreas, tação nativa, uma nova métrica foi
para recomposição de RL e APP, em incorporada em virtude da implanta-
propriedades com até quatro módulos ção de um novo regime jurídico rela-
fiscais, como atividade de baixo im- tivo às áreas consolidadas (áreas com
pacto de base comunitária e familiar. ocupação antrópica anterior a 22 de
julho de 2008 – data da promulgação
Uma série de mudanças vieram com da Lei de Crimes Ambientais). Essa
a aprovação dessa nova lei, no sen- métrica favoreceu, principalmente, os
tido de promover a regularização de detentores de pequena propriedade
passivos ambientais para quem ocu- ou posse rural familiar, reduzindo em
pa terras rurais no Brasil. A inscrição algumas situações as áreas a serem
no Cadastro Ambiental Rural – CAR mantidas como APP e RL, e possibili-
trouxe a possibilidade ao proprietá- tando a continuidade das atividades
rio ou possuidor que detinha passi- de exploração agroflorestal66.
vo ambiental aderirem ao Programa
de Regularização Ambiental – PRA e
assim, mediante a assinatura de um Os agricultores familiares,
termo de compromisso, ficarem isen- pequenos proprietários e as
tos de autuação por infrações come- comunidades tradicionais
tidas antes de 22 de julho de 2008, terão apoio para realizar
relativas à supressão irregular de o cadastramento de sua
vegetação em APP, RL e também nas propriedade no Sistema de
Áreas de Uso Restrito (AURs). Para tal, Cadastro Ambiental Rural.
a proposta feita pelo técnico ou agri- Para saber mais consulte o site
cultor só poderá ser implementada do SICAR: www.car.gov.br
após a aprovação do PRA pelo órgão
ambiental.

234
Regras para implementaç ão do Código Florestal

Além disso, muitos incentivos foram da área total a ser recomposta para
oferecidos com a nova lei a fim de es- os imóveis que se enquadram na
timular os agricultores a cumprirem descrição de pequena propriedade
a legislação, como a compensação de ou posse rural familiar;
passivos ambientais utilizando as Co- • Nas áreas consolidadas em RL,
tas de Reserva Ambiental – CRAs, os é possível o proprietário ou pos-
Pagamentos por Serviços Ambientais suidor regularizar o seu imóvel
e, ainda, a possibilidade de retorno adotando a recomposição com o
econômico com o manejo de recur- plantio de espécies exóticas com-
sos florestais madeireiros e não ma- binado com as espécies nativas de
deireiros. ocorrência regional. O plantio de
espécies exóticas deverá ser com-
O uso de Sistemas Agroflorestais (SAF) binado com as espécies nativas de
é mencionado pela nova Lei Florestal ocorrência regional, desde que as
em vários dos seus dispositivos, entre espécies exóticas não excedam a
eles estão algumas das situações lista- 50% (cinquenta por cento) da área
das abaixo: total a ser recuperada. 
• Como uma atividade eventual ou • Nas áreas de APP de: a) encostas
de baixo impacto ambiental, quan- com declividade superior a 45o; b)
do a exploração agroflorestal for bordas dos tabuleiros ou chapadas;
comunitária ou familiar, incluindo c) topo de morros, montes, monta-
a extração de produtos florestais nhas e serras, com altura mínima
não madeireiros, desde que não de 100 (cem) metros e inclinação
descaracterizem a cobertura ve- média maior que 25° e d) áreas
getal nativa existente nem prejudi- em altitude superior a 1.800 (mil e
quem a função ambiental da área; oitocentos) metros, qualquer que
• Nas áreas de uso restrito de incli- seja a vegetação, é admitida a ma-
nação entre 25° e 45°, onde é per- nutenção de atividades florestais,
mitido o exercício de atividades culturas de espécies lenhosas, pe-
agrossilvipastoris; renes ou de ciclo longo, bem como
• Nas áreas consolidadas em APP é da infraestrutura física associada
autorizada, exclusivamente, a con- ao desenvolvimento de atividades
tinuidade das atividades agrossil- agrossilvipastoris, porém proibida
vipastoris e, quando se trata da re- a conversão de novas áreas para
composição, é permitido o plantio uso alternativo do solo.
intercalado de espécies lenhosas,
perenes ou de ciclo longo, exóticas No entanto, apesar da nova Lei Flo-
com nativas de ocorrência regional, restal listar uma série de situações
em até 50% (cinquenta por cento) onde é possível o uso de SAF, ainda

235
Regras para implementaç ão do Código Florestal

falta a regulamentação sobre o seu Na nova lei, permaneceu a necessida-


uso para restaurar áreas de APP, no de de manter as áreas denominadas
caso de agricultores familiares, e de de Áreas de Preservação Permanente,
Reserva Legal, no caso de agricultores que são as áreas no entorno de rios,
de médio e grande porte, o que gera veredas, lagos e nascentes, topos de
insegurança tanto para os agricultores morro, áreas com alta declividade, en-
quanto para os técnicos e fiscais so- tre outras. A vegetação situada nessas
bre como interpretar as novas normas faixas de proteção tem um importante
gerais. Portanto, esta situação limitou papel tanto para proteger e manter os
na prática a sua utilização, ao inibir os recursos hídricos, como para conser-
técnicos de recomendar e também var a diversidade de espécies de plan-
os agricultores de adotar SAFs nes- tas e animais que nela existem, bem
tas áreas. Para restaurar APPs e RLs, como para prestar serviços ambien-
conforme exige a nova Lei Florestal, tais. Essas áreas ajudam a controlar
é preciso superar a falta de conheci- a erosão do solo e reduzir a poluição
mento sobre os custos e benefícios da dos cursos d’água, além de funciona-
restauração florestal, além de desen- rem como refúgio para os animais e
volver regras claras sobre quais espé- plantas, formando corredores ecoló-
cies econômicas podem ser plantadas gicos e interligando os remanescentes
e que contribuem para gerar renda de vegetação nativa. Esses corredores
adicional, de modo a fortalecer os são essenciais para que os animais
modos de vida dos agricultores66. transitem e se reproduzam, carregan-
do pólen e sementes e mantendo o
6.1 Qual a importância da APP e RL? fluxo gênico da biodiversidade entre
as áreas de vegetação nativa.
A Reserva Legal e as Áreas de Preser-
vação Permanente, instituídas pelo Apesar da obrigatoriedade de restau-
Código Florestal, são espaços espe- ração nas áreas de APP, a intervenção
cialmente protegidos de relevante ou supressão da vegetação nativa po-
função socioambiental, considerados derá ocorrer nas hipóteses de utilidade
essenciais ao uso sustentável dos re- pública, de interesse social ou de baixo
cursos naturais, à conservação e à re- impacto ambiental que são listadas
abilitação dos processos ecológicos, à no art. 3º do novo Código Florestal,
conservação da biodiversidade e ao a exemplo do que já foi mencionado,
abrigo e proteção da fauna e flora na- ou seja, a exploração agroflorestal de
tivas. A vegetação nativa garante à po- base comunitária e de agricultores fa-
pulação serviços ambientais que são miliares.
essenciais para a nossa sobrevivência.

236
Regras para implementaç ão do Código Florestal

dicas
práticas
APP na Caatinga
Na Caatinga a APP é justamente a beira de riacho, que é a terra que a
gente mais usa pra plantar, que é mais frio, mais fresco, então temos que
conciliar. O governo diz que tem que deixar lá a natureza tomar conta, mas
temos que comer dali, então como conciliar? A ideia que tá dando certo
na região do litoral é a agrofloresta, que é plantar a agricultura dentro do
mato. Na área longe da drenagem só a palma mesmo vinga, e esse capim
que nasceu aí, capim buffel (Cenchrus ciliarisque)”.
José Moacir dos Santos – Instituto Regional da Pequena Agropecuária
Apropriada – IRPAA – Juazeiro – BA

Outra regra importante que foi mantida tais. Por exemplo, a biodiversidade dos
diz respeito ao percentual mínimo de ecossistemas locais contribui para equili-
área no interior das propriedades com brar populações de “pragas” na agricul-
a atribuição de preservar uma parte tura, pois há predadores naturais como
da vegetação natural, conhecida como pássaros, anfíbios, insetos, aranhas e
Reserva Legal. A porção da proprieda- mamíferos que se alimentam dos insetos
de destinada à RL varia de acordo com que podem causar danos aos plantios.
o bioma e a região onde está situada a
propriedade. Muitos proprietários ainda Sendo assim, tanto as APPs como RLs
não entendem que manter a vegetação são espaços extremamente importan-
nativa dentro da sua área de produção tes para a manutenção dos recursos na-
é bastante vantajoso e proporciona inú- turais e provisão de serviços ambientais
meros benefícios econômicos e ambien- fundamentais para os seres humanos.

dicas
práticas no policultivo não temos tantos problemas com pragas
Uma coisa que é interessante numa área como essa é a questão das pragas,
por exemplo: se você tiver uma área com uma planta só, se vem uma espécie
de praga ou lagarta, ou o que seja, come tudo, mas se você tiver várias va-
riedades, acontece que ela come um tipo de planta, mais já não come outro.
A palma tem uma praga própria dela, mas na região tem muito pouco. É uma
“lêndia branca” (cochonilha) que ela tem. No policultivo ela é rara, porém,
em áreas de monocultivo ela é bem comum, e causa grandes prejuízos.
José – Técnico da Escola Família Agricola do Sertão – EFASE – Monte Santo – BA

237
Regras para implementaç ão do Código Florestal

6.2 O que mudou na lei para os agricultores processo de regularização ambiental


familiares? também passou a ter procedimentos
simplificados e critérios diferenciados,
A nova Lei Florestal traz um tratamen- como, por exemplo, o registro gratuito
to especial à agricultura familiar, que da RL, devendo o poder público pres-
ganhou capítulo próprio, o qual apre- tar apoio técnico e jurídico, e procedi-
senta a possibilidade do poder públi- mento simplificado para a realização
co incluir medidas indutoras e linhas do CAR. Este tratamento foi estendido
de financiamento para atender, prio- às propriedades e posses rurais com
ritariamente, os imóveis pertencentes até 4 (quatro) módulos fiscais que de-
à agricultura familiar nas iniciativas senvolvam atividades agrossilvipasto-
de implantação de sistemas agroflo- ris, às terras indígenas demarcadas e
restais e agrossilvipastoris, além de às demais áreas tituladas de povos e
outras iniciativas como a própria re- comunidades tradicionais que façam
cuperação das áreas de APP e RL. O uso coletivo do seu território.

Pequena propriedade ou posse rural familiar


Conforme o Novo Código Florestal, a pequena propriedade ou posso ru-
ral familiar é aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor
familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e pro-
jetos de reforma agrária, e que atenda aos requisitos disposto no art. 3º
da Lei 11.326 de 2006, como por exemplo, não possuir área maior do que
4 (quatro) módulos fiscais.

Foto: Henrique Marques


O que é o módulo fiscal?

No Brasil, o módulo fiscal é uma uni-


dade de medida agrária, expressa
em hectares, que varia e é fixada para
cada município, podendo ser de 5 a
110 hectares, dependendo das ativi-
dades econômicas desenvolvidas e a
renda que se pode obter com elas no
município. No caso de alguns municí-
pios situados no Cerrado, um proprie-
tário de 4 módulos fiscais pode chegar
a ter 400 ha e na Caatinga até 260 ha.

238
Regras para implementaç ão do Código Florestal

O Novo Código Florestal classifica os imóveis rurais como:


• Pequena propriedade – o imóvel de área inferior ou igual a 4 (quatro)
módulos fiscais, incluindo as posses rurais, as terras indígenas e as áreas
de povos e comunidades tradicionais.
• Média propriedade – o imóvel rural de área superior a 4 (quatro) e até
15 (quinze) módulos fiscais;
• Grande propriedade – o imóvel rural de área superior 15 (quinze) mó-
dulos fiscais.
Encontre aqui o tamanho do módulo fiscal do seu município:
http://goo.gl/JNjaKI

A nova legislação e seus regulamentos das normas na prática, alguns dos quais
contêm diversos conceitos e termos estão resumidos na caixa de texto que
que são importantes para interpretação segue.

Conceitos e definições relacionados


a SAFs no Código Florestal
Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou
não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os re-
cursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade,
facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem
-estar das populações humanas.
Área rural consolidada: área de imóvel rural com ocupação antrópica
preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades
agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio;
Área degradada: área que se encontra alterada, em função de impacto
antrópico, sem capacidade de regeneração natural.
Área alterada: área que, após o impacto, ainda mantém a capacidade
de regeneração natural.
Atividades agrossilvipastoris: são as atividades desenvolvidas em
conjunto ou isoladamente, relativas à agricultura, à aquicultura, à pecuária, à
silvicultura e demais formas de exploração e manejo da fauna e da flora,
destinadas ao uso econômico, à preservação e à conservação dos recursos
naturais renováveis (IN 02 MMA/2014)20.

239
Regras para implementaç ão do Código Florestal

Reserva Legal – RL: área localizada no interior de uma propriedade ou posse


rural, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos
recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação
dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem
como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.
Sistema agroflorestal: sistema de uso e ocupação do solo em que
plantas lenhosas perenes são manejadas em associação com plantas her-
báceas, arbustivas, arbóreas, culturas agrícolas, forrageiras em uma mes-
ma unidade de manejo, de acordo com arranjo espacial e temporal, com
alta diversidade de espécies e interações entre estes componentes.
Manejo sustentável: administração da vegetação natural para a ob-
tenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os
mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e conside-
rando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espé-
cies madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora,
bem como a utilização de outros bens e serviços.

6.3 Recomendações para regulamentação Enquanto este processo não se conclui,


da lei florestal no Brasil as indefinições deixam margem para
interpretações por parte de técnicos,
Embora o Novo Código Florestal te- agricultores e gestores públicos quanto
nha inserido os sistemas agroflores- à priorização e definição das áreas que
tais como parte dos processos de res- devem ser restauradas e/ou conserva-
tauração e conservação dos recursos das. No processo de regulamentação
naturais, ele não define como isto da Lei Florestal, os estados devem levar
deve ocorrer em diferentes contextos em conta e buscar esclarecer as se-
e momentos. Ou seja, não determina guintes questões. Algumas das dúvidas
como, onde e quando o ser humano persistem quanto às APPs e RLs:
pode e deve intervir, como equilibrar
as funções ambientais e sociais no • Quando ou segundo que critérios, a
nível da propriedade e da paisagem. área, após passar por uma interven-
Para isso, os estados devem desen- ção de restauração, deixa de ser “de-
volver normas que regulamentem as gradada” ou “alterada” e passa a ser
regras instituídas na nova lei. considerada como “recuperada”?

240
Regras para implementaç ão do Código Florestal

• Que tipo de manejo pode ser feito madeireiros, como por exemplo,
nestas áreas protegidas? ( a lei não es- fibras, folhas, frutos ou sementes;
pecifica o que significa “recuperar” e • Manutenção das mudas estabele-
“conservar” na prática, e o que pode cidas, plantadas e/ou germinadas,
ou não ser feito nas duas condições). mediante coroamento com cober-
tura do solo, controle de fatores de
• Como agir para promover a função eco- perturbação como espécies com-
ló­gica da área, conforme exige a lei? petidoras, insetos, fogo ou outros,
e cercamento ou isolamento da
A fim de ajudar a esclarecer algumas área, quando necessário e tecnica-
destas questões, vale consultar outras mente justificado;
normas legais como Resoluções do • Uso e manutenção não poderão
Conselho Nacional do Meio Ambiente comprometer a estrutura e as fun-
(Conama) anteriores ao novo código, ções ambientais destes espaços,
que já estabeleciam orientações im- especialmente:
portantes quanto às práticas para res- – estabilidade das encostas e
tauração de APPs, tais como: margens dos corpos de água;
• Manutenção permanente da co- – manutenção da qualidade das
bertura do solo; águas;
• Estabelecimento de quantidade – manutenção dos corredores de
mínima de indivíduos por unidade flora e fauna;
de área; – manutenção da drenagem e dos
• Determinação de número mínimo cursos de água intermitentes;
de “espécies nativas de ocorrência – manutenção da biota;
regional” que deverão compor o sis- – manutenção da vegetação nativa;
tema, com vistas à alta diversidade;
• Limitação do uso de insumos sinté- Apesar destas orientações em outras
ticos, como é o caso de agrotóxicos normas legais, da necessidade que o
e adubos químicos, priorizando o Novo Código traz da União, Estados e
uso de adubação verde; Distrito Federal instituírem os PRAs,
• Restrição do uso da área para pas- incluindo a evolução da regularização
tejo de animais domésticos; das propriedades e posses rurais bem
• Manutenção e controle na utiliza- como definir o grau de regularidade
ção de espécies agrícolas e exóticas do uso de matéria-prima florestal, ain-
com vistas a garantir a manutenção da restam questões que precisam ser
da função ambiental da APP; regulamentadas no âmbito dos esta-
• Consorciação de espécies perenes, dos, quanto ao uso de sistemas agro-
nativas ou exóticas, destinadas à florestais em APPs e RLs, incluindo:
produção e coleta de produtos não • Definição de que tipo de manejo

241
Regras para implementaç ão do Código Florestal

pode ser feito em áreas de conser- rar solos muito degradados?;


vação, incluindo diferentes tipos • Os animais podem ser utilizados
de poda em diferentes momentos; como parte das estratégias de re-
• Possibilidade de corte seletivo e composição de APP e RL? Sob que
poda para manter luminosidade tipo de manejo? Esta questão é
para culturas de estratos inferiores de essencial importância especial-
até determinado valor de abertura mente para os sistemas silvipasto-
de dossel ou cobertura de copas ris, como os da Caatinga, dos reti-
ou área basal; reiros em várzeas e no Pantanal;
• Possibilidade de podas e roçagem da • Definição das espécies ameaçadas
regeneração natural (espécies nati- de extinção locais ou regionais que
vas regionais germinadas ou rebrota- deverão ser incentivadas no plan-
das) para favorecimento das culturas tio e boas práticas de manejo;
agrícolas e árvores de valor comer- • Possibilidade de comercialização
cial e/ou para enriquecimento; de produtos madeireiros de es-
• Definições, principalmente em pécies nativas (plantadas, no caso
APPs, quanto ao uso de equipa- dos SAFs), pois é preciso viabilizar
mentos e ferramentas conside- a emissão de documentos de ori-
rados apropriados no preparo e gem florestal (DOF) pelos órgãos
manejo da área dos SAFs (ex. mi- ambientais para efetivar a venda
crotratores, motosserra, motoco- legalizada destes produtos.
veadora, roçadeira, entre outros);
• Determinação de espécies exóticas É fundamental também regulamentar e
com potencial invasor e seu ma- estruturar, tanto no âmbito federal e es-
nejo requerido. Até que momento tadual, a implementação de programas
estas podem ser utilizadas como de apoio técnico, bem como de incen-
fonte de biomassa e formação de tivos financeiros para impulsionar a im-
cobertura vegetal a fim de restau- plementação da Lei Florestal com SAFs.

PARA SABER MAIS CONSULTE A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL


• Lei Federal 12.651/2012: Institui a nova legislação ambiental e apre-
senta as regras para proteção e restauração da vegetação nativa.
• Decreto Federal 7.830/2012: Dispõe sobre o Sistema de Cadastro Am-
biental Rural, o Cadastro Ambiental Rural e estabelece normas de ca-
ráter geral aos Programas de Regularização Ambiental.
• Instrução Normativa 2/2014 do MMA: Dispõe sobre os procedimentos

242
Regras para implementaç ão do Código Florestal

para a integração, execução e compatibilização do Sistema de Cadastro


Ambiental Rural-SICAR e define os procedimentos gerais do Cadastro
Ambiental Rural-CAR.
• Decreto nº 8.235 de 5 de maio de 2014 - Estabelece normas gerais
complementares aos Programas de Regularização Ambiental.
• Resolução Conama 429/2011: Dispõe sobre a metodologia para Res-
tauração de APP.
• Resolução Conama 425/2010: Trata de critérios para Agricultura Fa-
miliar dos povos e comunidades tradicionais como de interesse social
para fins de produção, intervenção e restauração de APP.
• Resolução Conama 369/2006: Considera de utilidade pública, interesse
social ou de baixo impacto ambiental as agroflorestas realizadas em Área
de Preservação Permanente em propriedade de Agricultura Familiar.
• Instrução Normativa 005/2009 do MMA: trata de procedimentos me-
todológicos para restauração e recuperação das APP e RL, incluindo as
agroflorestas como forma de restauração.
• Lei Federal 9.985/2000: Apresenta regras para as áreas protegidas no Brasil,
instituindo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC.
• Lei Federal 11.326/2006: Apresenta definições para a Agricultura Fa-
miliar e Empreendimentos Familiares Rurais.

A atual legislação permite recuperar com as APP e RLs, adotando mode-


áreas de preservação com SAF na los adequados e adaptados para res-
agricultura familiar. Nesta seção ex- tauração e manutenção dessas áreas
plicamos o que é permitido e o que para além do método convencional de
não é pela lei, incluindo as principais plantio de mudas de árvores nativas.
regras para proteção, restauração e
uso da vegetação nativa. Há duas situações: áreas a serem pro-
. tegidas, que apresentam remanes-
Primeiro, apresentamos as principais cente de vegetação nativa; e áreas a
regras para a adequação ambiental serem recuperadas, em que a vegeta-
relacionadas à proteção e restauração ção foi suprimida e apresentam-se de-
das pequenas propriedades rurais, de gradadas ou alteradas. A lei estabelece
modo a contribuir para que os técni- as regras que determinam o tamanho
cos e agricultores possam visualizar das áreas que deverão ser protegidas,
sob quais circunstâncias os SAFs são e são diferentes daquelas regras para
permitidos, e como poderão interagir as áreas que deverão ser recuperadas.

243
Regras para implementaç ão do Código Florestal

6.4 Quais áreas devem ser protegidas? ainda traz em suas disposições tran-
sitórias a nova métrica de delimita-
6.4.1 Proteção em Áreas de Preservação ção dessas áreas, considerando o uso
Permanente - APP consolidado, conhecida como “ regra
da escadinha”. Vamos primeiramente
A lei estabelece quais são as áreas de apresentar as regras gerais de quais
APP, em zonas rurais ou urbanas, e são essas áreas a serem protegidas.

FIgura 15 – Exemplo de propriedade rural ambientalmente adequada.

244
Regras para implementaç ão do Código Florestal

I - Entorno dos cursos d’água


O proprietário deverá manter e preservar as matas existentes no entorno de
qualquer curso d’água natural que seja perene ou intermitente nas seguintes
larguras mínimas:

FAIXA DE PROTEÇÃO LARGURA DO CURSO D’ÁGUA


30 (trinta) metros Menor que 10 (dez) metros
50 (cinquenta) metros Entre 10 (dez) e 50 (cinquenta) metros
100 (cem) metros Entre 50 (cinquenta) e 200 (duzentos) metros
200 (duzentos) metros Entre 200 (duzentos) e 600 (seiscentos) metros
500 (quinhentos) metros Superior a 600 (seiscentos) metros

Figura 16 – Métricas de largura da faixa de APP de acordo com a largura do curso d´água. As faixas de proteção devem ser medidas a partir da
borda da calha do leito regular do rio, onde corre água durante o período da seca.

245
Regras para implementaç ão do Código Florestal

II – Nascentes:
As áreas de mata no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, deverão
ser mantidas num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros.

Os cursos d’água que possuem fluxo de água apenas durante a época das
chuvas são considerados efêmeros e não necessitam de faixas de proteção
de APP. Geralmente são grotas ou sulcos em terrenos acidentados formados
naturalmente, ou mesmo os canais superficiais formados artificialmente.

FIgura 17 – Largura de APP no entorno de nascentes.

246
Regras para implementaç ão do Código Florestal

III - Entorno de reservatórios, lagos e de energia elétrica, abastecimento


lagoas em zona rural: público e outros empreendimentos
sociais deverão respeitar as condicio-
No entorno de lagos e lagoas forma-
nantes do Licenciamento Ambiental,
dos por processos naturais, que pos-
observando-se a faixa mínima de 30
suam superfície do espelho d’água
(trinta) metros e máxima de 100 (cem)
entre 1 e 20 hectares, a faixa de pro-
metros em área rural, e a faixa mínima
teção deverá ser de 50 metros.
de 15 (quinze) metros e máxima de 30
Para lagos e lagoas naturais acima de (trinta) metros em área urbana.
20 hectares de espelho d’agua, a faixa
Não será exigida APP para lagoas e
será de 100 metros.
reservatórios criados de forma natural
Áreas no entorno dos reservatórios d’água ou artificial que possuam um espelho
artificiais, decorrentes de barramento ou d’água inferior a 1(um) hectare. Tam-
represamento de cursos d’água naturais, bém não será exigida APP no entorno
a faixa de APP deverá ser definida na li- de reservatórios artificiais de água que
cença ambiental do empreendimento. não decorram de barramento ou re-
Reservatórios artificiais para geração presamento de cursos d’água naturais.

Figura 18 – largura de APP no entorno


de reservatórios, lagos e lagoas.

247
Regras para implementaç ão do Código Florestal

V – Encostas:
Os proprietários deverão estabelecer como APP as encostas que possuam uma
declividade superior a 45°. Isso equivale a 100% na linha de maior declive, quan-
do realizada a medição em porcentagem.

Figura 19 – Encostas de morros, montanhas ou serras devem ser revegetadas.

248
Regras para implementaç ão do Código Florestal

VI - Topo de Morro e Montanhas:


Também serão consideradas como APP as áreas localizadas no topo de morros,
montes, montanhas e serras, que possuírem uma altura mínima de 100 metros
e inclinação média maior que 25°. Além disso, a vegetação em áreas em altitude
superior a 1.800 metros também são faixas de APP que deverão ser mantidas.
As áreas de proteção no topo de morro e montanhas serão delimitadas a partir
da curva de nível correspondente a 2/3 da altura. A medida sempre será em
relação à base do morro, sendo definida pelo plano horizontal determinado por
planície ou espelho d’água mais próximo ou, nos relevos ondulados, pela cota
mais baixa ao lado do morro ou montanha.

Figura 20 - Topos de morro, montanhas ou serras devem ser revegetados.

249
Regras para implementaç ão do Código Florestal

VII - Chapadas e Bordas de Tabuleiros:


Nas regiões onde existam bordas de ta- em no mínimo 100 (cem) metros, que
buleiros ou chapadas, as faixas de pro- deve ser medida tomando como base o
teção de APP devem ser estabelecidas início da borda do tabuleiro ou chapada.

Figura 21 –APPs de bordas


de chapadas e de tabuleiros
devem se situar a pelo menos
100 m da borda.

VIII – Veredas:
Nas veredas, a faixa de proteção deve- tros a partir do espaço brejoso, que
rá possuir a largura mínima de 50 me- fica encharcado constantemente.

Figura 22 –APP em veredas

250
Regras para implementaç ão do Código Florestal

6.4.2 Proteção na Reserva Legal - RL

A legislação diz que todos os imóveis preservada como RL pode variar confor-
rurais do país deverão manter uma me o bioma e os planos de uso e orde-
área mínima com cobertura de vegeta- namento territorial de cada região. Como
ção nativa, a título de RL, sem prejuízo regra geral, para os imóveis situado nos
da aplicação das normas sobre as APP. Biomas da Caatinga e Cerrado os proprie-
tários deverão preservar o percentual
A quantidade de vegetação que deve ser mínimo de 20% da área total do imóvel.

Figura 23 –20% da propriedade nos biomas Cerrado e Caatinga devem ser preservados como RL.

A localização da RL deverá considerar os as de maior importância para a conser-


aspectos ambientais, os instrumentos vação da biodiversidade; e as áreas de
de conservação já existentes na região, maior fragilidade ambiental.
bem como as regras de uso do solo do
local, caso existam, como por exem- A lei apresenta também um tratamen-
plo: o plano diretor de bacia hidrográ- to diferenciado para as áreas conso-
fica; o Zoneamento Ecológico-Econô- lidadas em RL. Os proprietários de
mico – ZEE; a formação de corredores áreas iguais ou menores a 4 módulos
ecológicos com outra Reserva Legal e fiscais, que possuam vegetação rema-
APP; Unidades de Conservação, ou ou- nescente em quantidade inferior ao
tra área legalmente protegida; as áre- estabelecido na lei, podem constituir

251
Regras para implementaç ão do Código Florestal

a RL com o que sobrou de vegetação III - o proprietário ou possuidor tenha


nativa, ou seja, a área da RL será do requerido inclusão do imóvel no
tamanho da área ocupada com vege- Cadastro Ambiental Rural – CAR.
tação nativa existente até 22 de julho
de 2008. Inclusive, poderão conside- Por exemplo, caso o proprietário tenha
rar até mesmo a APP como sendo par- 10% de vegetação nativa fora da APP
te ou toda a RL para atingir a porcen- e mais 10% dentro da APP, ele poderá
tagem mínima, desde que atenda as contabilizar as duas áreas como sendo
seguintes condições: a sua RL, somando os 20% necessários
I - o cômputo não implique a conver- para regularização ambiental.
são de novas áreas para o uso al-
ternativo do solo; Em áreas de Cerrado dentro da região
II - a área a ser computada esteja con- definida como Amazônia Legal, que é o
servada ou em processo de recu- caso do norte do estado do Tocantins
peração, conforme comprovação e da região do oeste do Maranhão, o
do proprietário ao órgão estadual proprietário deve preservar 35% da
integrante do Sisnama; e área do imóvel como Reserva Legal.

Figura 24 –Os proprietários de áreas iguais


ou menores a 4 módulos fiscais, que possuam
vegetação remanescente em quantidade inferior ao
estabelecido na lei, podem constituir a RL com o que
sobrou de vegetação nativa,

252
Regras para implementaç ão do Código Florestal

Já em outro exemplo, se o agricultor esta como a sua Reserva Legal, lem-


possuir em sua propriedade os 20% brando que o mesmo deverá atender
de vegetação nativa localizada apenas às condições trazidas nos termos da
nas faixas de APP, ele poderá indicar lei, que já foram mencionadas.

Figura 25 –Se o agricultor


(de até 4 módulos fiscais)
possuir em sua propriedade
os 20% vegetação nativa
localizada apenas nas
faixas de APP, ele poderá
indicar esta como a sua
Reserva Legal.

Além disso, ele também poderá indi- imóvel (no bioma Amazônico este va-
car como parte ou toda a sua RL os lor é de 80% para vegetação do tipo
plantios consorciados de nativas com florestal e 35% para vegetação do tipo
árvores frutíferas, ornamentais ou Cerrado) o proprietário poderá utili-
madeireiras, compostos por espécies zar instrumentos previstos no Código
exóticas, cultivados em sistemas agro- Florestal para incentivar a proteção
florestais. destas áreas destinando-as como ser-
vidão ambiental. 
A Reserva Legal será registrada por
meio da inscrição do imóvel no Ca- Os proprietários que não possuem ve-
dastro Ambiental Rural. Se a RL regis- getação nativa para formar sua reserva
trada no CAR tiver a vegetação nativa legal poderão se regularizar compen-
conservada e sua área ultrapassar o sando a área faltante de seu imóvel com
percentual de 20% da área total do a de outro imóvel que tiver vegetação

253
Regras para implementaç ão do Código Florestal

nativa excedente. Dentre algumas op- 6.5 Quais áreas deverão ser recuperadas?
ções, há as Cotas de Reserva Ambien-
tal (CRA), que é um título nominativo Após saber qual o tamanho das áreas
representativo de área com vegeta- que deverão ser preservadas, tanto
ção nativa, existente ou em processo para as APP como RL, o próximo pas-
de recuperação, cuja emissão deverá so é verificar se o proprietário deve-
ser realizada pelo órgão ambiental rá realizar ou não a restauração da
competente e a área averbada na ma- vegetação nativa. Nesta seção serão
trícula do imóvel como tal. Este ins- apresentadas apenas as regras de res-
trumento permite aos proprietários e tauração para as faixas de APP, que va-
ocupantes de terras com déficit de ve- riam em função do tamanho do imó-
getação nativa (área menor do que a vel rural, e o tipo de ambiente em que
legislação determina) compensar suas estas se encontram, sejam nascentes,
obrigações de restauração da vegeta- beira de rio ou córrego, lagos e lagoas
ção, pagando proprietários de outras ou veredas.
terras que tenham áreas conservadas A lei determina que a restauração da
ou em processo de restauração acima vegetação das faixas de APPs poderá
das obrigações mínimas, na forma de ser realizada por meio da condução
cotas. É necessário que estas áreas es- da regeneração natural; plantio de es-
tejam localizadas no mesmo bioma e, pécies nativas (sementes, estacas ou
preferencialmente, no mesmo estado. mudas); ou por meio do plantio de es-
Embora as CRAs ainda não estejam re- pécies lenhosas, perenes ou de ciclo
gulamentadas, estes títulos represen- longo, misturando nativas e exóticas,
tativos de vegetação voluntariamente em até cinquenta por cento da área
preservada já estão sendo lançados e total a ser recomposta. Ou seja, 50%
negociados no mercado. da área da APP poderá ser ocupada
por espécies exóticas desde que inter-
caladas com nativas. Apenas os pro-
A servidão ambiental é uma restri-
prietários com até 4 módulos fiscais
ção instituída voluntariamente pelo
poderão se utilizar dessa última forma
proprietário de um imóvel rural, o
de restauração a fim de promover a
qual, por meio dela, abre mão de
regularização ambiental de suas áreas.
desmatar parte de seu imóvel, mes-
mo sendo esse permitido por lei.
Dessa forma, foi permitido aos produ-
tores de pequeno porte e agricultores
familiares adotarem os sistemas agro-
Para saber mais sobre as Cotas de
florestais como uma das técnicas de
Reserva Ambiental – CRA, acesse -
restauração e intervenção nas faixas
http://csr.ufmg.br/cra/
de APP.

254
Regras para implementaç ão do Código Florestal

6.5.1 Restauração em áreas consolidadas metros de faixa de APP;


nas faixas de APP • Imóveis rurais com área entre 1 e 2
módulos fiscais deverão recuperar
Nas faixas das APPs o proprietário 8 metros de faixa de APP;
poderá continuar desenvolvendo as • Imóveis rurais com área entre 2 e 4
atividades agrossilvipastoris, de eco- módulos fiscais deverão recuperar
turismo e de turismo rural, desde que 15 metros de faixa de APP;
sejam áreas rurais consolidadas até • Imóveis rurais com área entre 4 e
22 de julho de 2008. No entanto, os 10 módulos fiscais deverão recupe-
proprietários deverão firmar um ter- rar 20 metros de faixa de APP, nos
mo de compromisso com órgão am- cursos d’água com até dez metros;
biental da região se comprometendo • Imóveis acima de 10 módulos fis-
a recuperar parte da área da APP que cais deverão recuperar uma faixa
foi degradada ou alterada, obedecen- correspondente à metade da lar-
do as seguintes regras: gura do curso d’água, observando
• Imóveis rurais com área de até 1 um limite mínimo de 30 metros e
módulo fiscal deverão recuperar 5 máximo de 100 metros.

Figura 26 –Métricas
para a largura
da faixa de APP
de acordo com o
tamanho do imóvel.

255
Regras para implementaç ão do Código Florestal

Nascentes e olhos d’água volvendo atividades agrossilvipasto-


Nos casos das áreas no entorno de ris, de ecoturismo ou de turismo ru-
nascentes e olhos d’água perenes, o ral, mas terá que fazer a restauração
proprietário poderá continuar desen- de no mínimo de 15 metros de raio.

Figura 27 –A restauração de nascentes


deve ser no mínimo de 15 metros de raio.

Entorno de lagos e lagoas


naturais
No entorno de lagos e lagoas
naturais o proprietário de-
verá realizar a restauração
de faixa de APP com largura
mínima de:
• 5 (cinco) metros, para
imóveis com área de até
1 módulo fiscal;
• 8 (oito) metros, para
imóveis com área entre 1
e 2 módulos fiscais;
• 15 (quinze) metros, para
imóveis com área entre 2 e
4 módulos fiscais; e
• 30 (trinta) metros, para
imóveis com área supe- Figura 28 –métricas para faixa de APP a ser restaurada em
rior a 4 módulos fiscais. função do tamanho das propriedades.

256
Regras para implementaç ão do Código Florestal

Veredas social e de baixo impacto ambiental, que


Nos casos das veredas, o proprietário podem ser realizadas em áreas de APP.
com área de até 4 módulos fiscais de- No entanto, apresentou também algu-
verá realizar a recomposição das fai- mas ressalvas, entre elas, que as agro-
xas de APP na largura mínima de 30 florestas só poderão ser realizados em
metros, que devem ser delimitadas a APPs na pequena propriedade ou posse
partir do espaço brejoso e encharcado. rural familiar, de forma que não desca-
Para os demais imóveis rurais com área racterize a cobertura vegetal nativa, ou
acima de 4 módulos, o proprietário de- impeça sua restauração, além de não
verá recuperar uma faixa de 50 metros. prejudicar a função ecológica da área.
Este tema também foi tratado em outras
6.6 O que diz a lei sobre SAFs para normativas posteriores (IN 04/2009 do
restauração das APPs? MMA; IN 05/2009 do MMA; CONAMA
425/2010; CONAMA 429/2011).
Muitas experiências têm mostrado que
os plantios agroflorestais nas áreas de O nova Lei Florestal incorporou grande
APP podem conciliar a produção com parte dos fundamentos apresentados
a conservação dos serviços ambientais, nas normativas acima citadas, desta
principalmente quando se trata do uso forma, reforçou a ideia, e reconhece
dessas áreas pelos agricultores familia- que, nas pequenas propriedades com
res e comunidades tradicionais. A reso- até 4 módulos fiscais, em comunidades
lução n° 369 do Conselho Nacional do indígenas e tradicionais, a exploração
Meio Ambiente (CONAMA), aprovada agroflorestal de vegetação nativa nas
em 2006, absorveu esta ideia. Esta nor- APPs poderá ser reconhecida como
ma considerou o manejo agroflorestal atividades eventuais ou de baixo im-
como uma das atividades de interesse pacto ambiental.

Figura 29 : os plantios agroflorestais nas


áreas de APP podem conciliar a produção com a
conservação dos serviços ambientais.

257
Regras para implementaç ão do Código Florestal

O empoderamento e a inclusão dos Conforme a definição apresentada


agricultores familiares e das comunida- no decreto 7.830/201219, as ações
des tradicionais nos espaços protegi- de plantios em sistemas agroflores-
dos são fundamentais na busca por es- tais nas faixas de APP incluem o uso
forços de conservação e manutenção de “plantas lenhosas perenes em as-
dos ecossistemas. Desta forma, é de sociação com plantas herbáceas, ar-
extrema importância garantir o direito bustivas, arbóreas, culturas agrícolas
ao território e o uso da propriedade a e forrageiras, com alta diversidade de
estes grupos, os quais, com ferramen- espécies, bem como o manejo ade-
tas adequadas e métodos de manejo quado de acordo com arranjo espacial
sustentáveis, poderão gerar impactos e temporal estabelecido”. Tais inter-
positivos e promover tanto benefícios venções poderão ser realizadas desde
ambientais, como aqueles estabeleci- que não descaracterizem a cobertura
dos nas áreas já conservadas. vegetal nativa existente e nem preju-
dique a função ambiental da área.
No entanto, a lei não deixa claro o
detalhamento das atividades agroflo- Desta forma, os plantios de espécies
restais, bem como os arranjos e for- nativas produtoras de frutos, semen-
matos que deverão ser desenvolvidos tes, castanhas e outros produtos vege-
(consórcios, espaçamento, espécies, tais poderão ser realizados livremen-
manejo, etc.). Mesmo assim, pode- te, bem como a extração de produtos
mos nos basear nas principais regras florestais não madeireiros.
de uso e manejo já estabelecidas por
lei para apontar as possibilidades de A lei também orienta que o plantio de
manutenção da vegetação nativa ao culturas temporárias e sazonais de va-
longo do tempo. zante de ciclo curto na faixa de terra
que fica exposta no período de vazan-
Para desenvolver os plantios agroflo- te dos rios ou lagos também pode ser
restais em áreas de APP o agricultor realizado, desde que não seja realiza-
deverá apresentar uma simples de- da a retirada da vegetação nativa de
claração ao órgão ambiental compe- novas áreas, e seja conservada a qua-
tente. Além disso, o seu imóvel preci- lidade da água e do solo e a proteção
sa estar devidamente inscrito no CAR. da fauna silvestre.
Não existe um modelo único definido
para esta declaração, portanto, é im-
portante consultar o órgão ambiental
da região para saber mais detalhes
sobre o modelo e tipo de declaração
adotado.

258
Regras para implementaç ão do Código Florestal

6.7 Restauração, uso e manutenção da Reserva Legal com Agroflorestas

Figura 30: a RL pode ser utilizada


com sistemas agroflorestais.

É importante saber que de acordo tuídas como RL poderão ser utilizadas


com as novas regras as áreas consti- com plantios agroflorestais.

Agroflorestas para restauração de RL


em propriedades acima de 4 módulos
A nova lei permite que os donos de imóveis rurais acima de 4 módulos pos-
sam realizar a restauração da RL por meio dos SAFs, que poderá ser interca-
lando espécies exóticas com nativas de ocorrência regional. Nesses casos, a
área a ser recuperada com exóticas não poderá exceder 50% da área total
da RL. Além disso, admite a sua exploração por meio do manejo sustentável,
tanto para consumo no interior da propriedade como também para utiliza-
ção econômica, devendo, para isso, o proprietário solicitar autorização ao
órgão ambiental e apresentar um plano de manejo sustentável.

A lei estabelece que para as áreas de vivência dos indivíduos e das espécies
RL, é livre a coleta de produtos flores- coletadas.
tais não madeireiros tais como, flores,
folhas, cascas, óleos, resinas, cipós, O uso da RL para retirada de lenha ou
bulbos, raízes e etc. Entretanto, é pre- madeira serrada destinada a constru-
ciso levar em conta alguns critérios, ções, ou para uso energético dentro
tais como: respeitar os períodos de da propriedade, sem propósito co-
coleta e volumes fixados em regula- mercial direto e indireto, não precisa-
mentos específicos, quando houver; rá de autorização do órgão ambiental,
observar a época de maturação dos e será limitado à retirada anual de 2
frutos e sementes; e utilizar técnicas (dois) metros cúbicos de madeira por
que não coloquem em risco a sobre- hectare por unidade familiar. Entre-

259
Regras para implementaç ão do Código Florestal

tanto, o manejo previsto para uso do- manejo seletivo, estimativa do vo-
méstico, por propriedade, não poderá lume de produtos e subprodutos
comprometer mais de 15% (quinze florestais a serem obtidos com o
por cento) da biomassa da RL, nem manejo seletivo, indicação da sua
ser superior a 15 (quinze) metros cú- destinação e cronograma de exe-
bicos de lenha por ano. cução previsto.

Assim, caso existam várias famílias em O Plano de Manejo Florestal Susten-


uma mesma propriedade, como nos tável (PMFS) deverá ser elaborado
casos de posse coletiva de populações por aqueles que visam a exploração
tradicionais ou de agricultura familiar, da vegetação nativa com a finalidade
os limites de exploração serão adota- de obtenção de benefícios econômi-
dos por unidade familiar. Ou seja, se cos, sociais e ambientais derivados
em uma propriedade existir 3 (três) dos múltiplos produtos e subprodutos
famílias residentes, cada uma poderá desta vegetação, sejam eles madei-
retirar 2 metros cúbicos de madeira reiros ou não madeireiros. Conforme
por hectare no mesmo imóvel, fican- orientado na lei, o MFS da vegetação
do o limite para este imóvel de 6 me- da RL não poderá descaracterizar a
tros cúbicos por hectare. Entretanto, cobertura vegetal e nem prejudicar a
esse limite deve respeitar o máximo conservação da vegetação nativa da
de 15 metros cúbicos por ano em toda área, devendo assegurar a manuten-
a propriedade. ção da diversidade das espécies da
área. No entanto, no caso dos produ-
Para os pequenos produtores e agricul- tores de pequeno porte e agricultores
tores familiares, o manejo florestal ma- familiares que estabelecerem novas
deireiro da RL com propósito comercial áreas de árvores nativas com plantios
depende de autorização simplificada realizados pelo próprio agricultor, não
do órgão ambiental competente, de- haverá necessidade de elaboração de
vendo o interessado apresentar, no mí- PMFS para sua exploração econômica.
nimo, as seguintes informações:
• Dados do proprietário ou possui- Esperamos que com essas informa-
dor rural; ções sobre práticas e ideias de opções
• Dados da propriedade ou posse de SAFs no Cerrado e na Caatinga, e
rural, incluindo cópia da matrícu- sobre as novas regras estabelecidas
la do imóvel no Registro Geral do pelo Novo Código Florestal, os agricul-
Cartório de Registro de Imóveis ou tores possam aproveitar melhor sua
comprovante de posse; propriedade, fortalecendo seus meios
• Croqui da área do imóvel com in- de vida, gerando mais renda e benefí-
dicação da área a ser objeto do cios ambientais.

260
Referências citadas – Para Saber Mais

Referências citadas –
Para Saber Mais
1. AGUIAR, L. M. S.; MACHADO, R. B.; FRANÇOSO, R. D.; NEVES, A. N.; FERNANDES, G. W.; PEDRONI, F.; LACERDA, M. S.; FERREIRA, G. B.;
SILVA, J. DE A.; BUSTAMANTE, M.; DINIZ, S. Cerrado Terra Incógnita do Século XXI. Ciência Hoje. V. 330, p. 33 – 37. 2015.
2. AGUIAR, M. V. DE A. Quintais agroflorestais nos cerrados da morraria – espaço de construção de biodiversidade nas suas múltiplas
dimensões. VII Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais. Anais. Brasília, DF: EMBRAPA, 2009.
3. ALVARENGA JUNIOR, E. R. Cultivo e aproveitamento do sisal (Agave sisalana). Dossiê Técnico. Fundação Centro Tecnológico de Minas
Gerais (CETEC). 2012.
4. ANDRADE, M do C. Mandacaru. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.
br/pesquisaescolar/. Acesso em: 13 dez. 2015.
5. ANTÔNINO, J. Flora do cerrado. Disponível em: https://www.sites.google.com/site/jantoninolima/flora-do-cerrado. Acesso em: 13 dez. 2015.
6. ARAGÃO, A. S. L.; MAURÍCIO, R. M. Utilização da gliricídia (Gliricidia sepium) na alimentação de ruminantes. Escola Veterinária Uni-
versidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA9G4AG/utilizacao-gliricidia-
na-alimentacao-ruminantes. Acesso em: 12 dez. 2015.
7. ARAÚJO FILHO, J. A. DE. Manejo pastoril sustentável da caatinga. Recife, PE. Projeto Dom Helder Camara. 200 p., 2013.
8. ARAÚJO, G. G. L.; ALBUQUERQUE, S. G.; GUIMARÃES FILHO, C. Opções no uso de forrageiras arbustivo-arbóreas na alimentação ani-
mal no semiárido do nordeste. In: CARVALHO, M. M.; ALVIM, M. J.; CARNEIRO, J. C. (Eds). Sistemas agroflorestais pecuários: opções de
sustentabilidade para áreas tropicais e subtropicais. Embrapa Gado de Leite/FAO. Juiz de Fora, MG. p. 111-137, 2001.
9. ARCO-VERDE, M. F. Sustentabilidade Biofísica e Socioeconômica de Sistemas Agroflorestais na Amazônia Brasileira. Universidade
Federal do Paraná – UFPR. Curitiba, PR. (Tese Doutorado). 188 p. 2008.
10. ARCO-VERDE, M. F.; AMARO, G. Cálculo de Indicadores Financeiros para Sistemas Agroflorestais. Documentos. Embrapa Roraima. Boa Vista, RR. 2011.
11. ARMANDO, M. S.; BUENO, Y. M.; ALVES, E. R. D. S.; CAVALCANTE, C. H. Agrofloresta para Agricultura Familiar. Circular Técnica, Embrapa
Amazônia Oriental, v. 16, 2002.
12. BARGUÉS TOBELLA, A.; REESE, H.; ALMAW, A.; BAYALA, J.; MALMER, A.; LAUDON, H.; ILSTEDT, U. The effect of trees on preferential
flow and soil infiltrability in an agroforestry parkland in semiarid Burkina Faso. Water Resources Research, v. 50, p. 2108–2123, 2014.
13. BARRIOS E.; COUTINHO H. L. C.; MEDEIROS C. A. B. InPaC-S: Integração Participativa de Conhecimentos sobre Indicadores de Qualida-
de do Solo – Guia Metodológico. World Agroforestry Centre – ICRAF, Embrapa, CIAT. Nairobi. 178p., 2011.
14. BENE, J.G.; BEALL, H.W.; CÔTÉ, A. Trees, food, and people: land management in the tropics. International Development Research
Centre. 52 p., 1977.
15. BHAGWAT, S. A; WILLIS, K. J.; BIRKS, H. J. B.; WHITTAKER, R. J. Agroforestry: a refuge for tropical biodiversity? Trends in Ecology and
Evolution, v. 23, n. 5, p. 261–267, 2008.
16. BORBA, M. A. P.; SILVA, D. S.; ANDRADE, A. P. A palma no Nordeste e seu uso na alimentação animal. In: Congresso Nordestino de
Produção Animal, 5; Simpósio Nordestino de Alimentação de Ruminantes, 11.; Simpósio Sergipano de Produção Animal, 1;. Anais.
Sociedade Nordestina de Produção Animal; Embrapa Tabuleiros Costeiros, Aracaju, SE. 13 p. 1 CD-ROM. 2008.
17. BÖRNER, J. Serviços ambientais e adoção de sistemas agroflorestais na Amazônia: elementos metodológicos para análises econô-
micas integradas. In: PORRO, R. (Ed.) Alternativa agroflorestal na Amazônia em transformação. Brasília-DF: Embrapa Informação e
Tecnologia, p. 411-433. 2009.
18. BRASIL, E. L.; PIRES, V. P.; CUNHA, J. R. da; LEAL, L. A. P.; LEITE, L. F. C. Diversidade da Macrofauna Edáfica em Sistemas Agroflorestais
na Região Norte do Piauí. XXXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo. Anais. Uberlândia, MG. 2010.
19. BRASIL. Decreto 7.830, de 17 de outubro de 2012. Dispõe sobre o Sistema de Cadastro Ambiental Rural, o Cadastro Ambiental Rural,
estabelece normas de caráter geral aos Programas de Regularização Ambiental. 2012.
20. BRASIL. Instrução Normativa n.º 2 de 6 de maio de 2014 do Ministério do Meio Ambiente. Dispõe sobre os procedimentos para a
integração, execução e compatibilização do Sistema de Cadastro Ambiental Rural-SICAR e define os procedimentos gerais do Cadastro
Ambiental Rural-CAR. Brasília, DF. 2014.
21. BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa. Brasília, DF. 2012.
22. BREMAN, H.; KESSLER, J. J. The potential benefits of agroforestry in the Sahel and other semi-arid regions. European Journal of Agron-
omy, v.7, p. 25-33, 1997
23. SILVA JÚNIOR, M. C.; PEREIRA, B. A. DA S. + 100 árvores do Cerrado Mata de Galeria: Guia de Campo. Ed. Rede de Sementes do Cer-
rado. Brasília, DF. 288 p., 2009.
24. CAMARGOS, N. M. de S.; MOURA, S. da S.; MIRANDA, S. do C. de. Análise dos Sistemas Agroflorestais Implantados em Propriedades
Rurais no Município de Itapuranga, GO. Revista Sapiência: sociedade, saberes e práticas educacionais, v. 2, n. 1, p. 20–33, 2013.
25. CAMPOS FILHO, E. M.; COSTA, J. N. M. N. da; SOUSA, O. L. de; JUNQUEIRA, R. G. P. Mechanized Direct-Seeding of Native Forests in
Xingu, Central Brazil. Journal of Sustainable Forestry, v. 32, p. 702-727, 2013.
26. CANUTO, J. C.; RAMOS FILHO, L. O.; CAMARGO, R. C. R.; SILVA, F. F. da; JUNQUEIRA, A. da C.; SILVA, J. P. da; GALVÃO, A. C. Quintais agro-
florestais como estratégia de sustentabilidade ecológica e econômica. Encontro da Rede de Estudos Rurais. Anais. Campinas, SP. 2014.
27. CARVALHO, P. E. R. Mutamba Guazuma ulmifolia. Circular Técnica 141. Embrapa. Colombo, Paraná. Disponível em: http://ainfo.cnptia.
embrapa.br/digital/bitstream/CNPF-2009-09/42548/1/Circular141.pdf. Acesso em 13 dez. 2015.
28. CERRATINGA. Cajá. Disponível em: http://www.cerratinga.org.br/caja/. Acesso em: 15 dez. 2015.

261
Referências citadas – Para Saber Mais

29. CHABARIBERY, D.; SILVA, J. R. da; TAVARES, L. F. de J.; LOLI, M. V. B.; SILVA, M. R da; MONTEIRO, A. V. V. M. Recuperação de matas ciliares:
sistemas de formação de floresta nativa em propriedades familiares. Informações Econômicas, São Paulo, SP, v. 38, n. 6, p. 07 - 20, 2008.
30. CURY, R. T. S.; CARVALHO JR, O. Manual para restauração florestal: florestas de transição. Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
- IPAM. Canarana, MT, Série boas práticas, v. 5, 78 p. 2011.
31. DEVIDE, A. C. P. Adubos verdes para sistemas agroflorestais com Guanandi cultivado em várzea e terraço fluvial. Universidade Fe-
deral Rural do Rio de Janeiro, Curso de Pós-Graduação em Fitotecnia, Revisão de literatura. 2013. Disponível em: http://orgprints.
org/24817/1/ADUBACAO_VERDE_CALOPHYLLUM_SAF.pdf. Acesso em: 17 dez. 2015.
32. DEWI, S. EKADINATA, A.; INDIARTO, D.; NUGRAHA, A. Land-Use Planning For Multiple Environmental Services (Lumens). World Agro-
forestry Centre - ICRAF. Bogor, Indonesia. 2015.
33. DFID – Department for International Development. Sustainable Livelihoods Guidance Sheets. Disponível em: http://www.eldis.org/
vfile/upload/1/document/0901/section2.pdf. Acesso em: 20 fev. 2016.
34. DRUMOND, M. A.; RIBASKI, J. Leucena (Leucaena leucocephala): leguminosa de uso múltiplo para o semiárido brasileiro. Embrapa,
Colombo, PR. Petrolina, PE, Comunicado técnico 262 e 142. 2010.
35. DRUMOND, M. A. Leucena - uma arbórea de uso múltiplo, para a região semi-árida do Nordeste brasileiro. Embrapa Semiárido. Pe-
trolina, PE. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPATSA/9060/1/OPB633.pdf. Acesso em 13 dez. 2015.
36. DUBOC, E. Sistemas Agroflorestais e o Cerrado. In: FALEIRO, F. G.; FARIAS NETO, A. L. DE (Eds.) Savanas: desafios e estratégias para o
equilíbrio entre sociedade, agronegócio e recursos naturais. Embrapa Cerrados. Brasília, DF. 1ª. ed. p. 964 – 985, 2008.
37. DUBOIS, J. C. L. Sistemas Agroflorestais na Amazônia: avaliação dos principais avanços e dificuldades em uma trajetória de duas dé-
cadas. In: PORRO, R. (Ed.). Alternativa Agroflorestal na Amazônia em Transformação. Embrapa Informação e Tecnologia. Brasília, DF,
p. 171 – 217. 2009.
38. DUQUE, G. O Nordeste e as lavouras Xerófilas. Banco do Nordeste do Brasil – BNB, Fortaleza, CE. 4ª ed., 330 p. 2004.
39. FLORENTINO, A. T. N.; ARAÚJO, E. D. L.; ALBUQUERQUE, U. P. de. Contribuição de quintais agroflorestais na conservação de plantas da
Caatinga, Município de Caruaru, PE, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 21, n. 1, p. 37–47, 2006.
40. FONINI, R. Agrofloresta: mudanças nas práticas produtivas e hábitos alimentares. Agriculturas, v. 11, n. 04, p. 20–24, dez. 2014.
41. FRANCO, F. S.; COUTO, L.; CARVALHO, A. F, de; JUCKSCH, I.; FERNANDES FILHO, E. I.; SILVA, E.; MEIRA NETO, J. A. Quantificação da
erosão em sistemas agroflorestais e convencionais na zona da mata de Minas Gerais. Revista Árvore, v. 26, p. 751-760, 2002.
42. GAMA, M de M. B. Análise Técnica e Econômica de Sistemas Agroflorestais em Machadinho D’oeste, Rondônia. Universidade Federal
de Viçosa – UFV, Minas Gerais. (Tese de Doutorado). 112 p. 2003.
43. GAMA-RODRIGUES, A. C. Soil organic matter, nutrient cycling and biological dinitrogen-fixation in agroforestry systems. Agroforestry
Systems, v. 81, n. 3, p. 191–193, 2011.
44. SILVA JÚNIOR, M. C. 100 árvores do Cerrado: Guia de Campo. Ed. Rede de Sementes do Cerrado. Brasília, DF. 278 p. 2005.
45. GONDIM, T. M. de S.; SOUZA, L. C. de. Caracterização de Frutos e Sementes de Sisal. Embrapa. Campina Grande, PB. Circular Técnica
127, nov., 2009.
46. GOTSCH, E. Natural Succession of Species in Agroforestry and in Soil Recovery. Pirai do Norte, Bahia, 1992.
47. GUERRA, S. C. S. O Novo Código Florestal Brasileiro e os Sistemas Agroflorestais: Implicações e Considerações sobre as Áreas de Pre-
servação Permanente e Reservas Legais. II Congresso Brasileiro de Reflorestamento Ambiental. Anais. Guarapari, ES. 2012.
48. HOFFMANN, M. R. M.; PUPE, R. C.; PEREIRA, J. J. F.; CARNEIRO, R. G.; NENEVÊ, P. H. C. Agrofloresta pra todo lado. Embrapa; Emater-DF.
Projeto Biodiversidade e Transição Agroecológica de Agricultores Familiares. 1ª ed. Brasília, DF. 44 p., 2011.
49. HOFFMANN, M. R. M. Restauração florestal mecanizada. Semeadura direta sobre palhada. Instituto Centro Vida – ICV. Alta Floresta,
MT. 27 p., 2015.
50. HOFFMANN, M. R. M. Sistemas Agroflorestais para Agricultura Familiar: Análise Econômica. Brasília: Universidade de Brasília, UNB.
(Dissertação de Mestrado). 133 p, 2013.
51. IIS – Instituto Internacional para Sustentabilidade. Análise preliminar de viabilidade econômica de modelos de restauração florestal
como alternativa de renda para proprietários rurais na Mata Atlântica. Relatório interno. 84 p. 2013.
52. IPEF - Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais. Indicações para escolha de espécies de Eucalyptus. 2005. Disponível em: http://
www.ipef.br/identificacao/eucalyptus/indicacoes.asp. Acesso em: 10 fev 2016.
53. CAMPOS FILHO, E. M. (Org.). Plante as árvores do Xingu e Araguaia. Instituto Socioambiental – ISA. Ed. rev. e ampl. São Paulo, 254 p. 2012.
54. ISPN - Instituto Sociedade População e Natureza. Caatinga. Disponível em: <http://www.cerratinga.org.br/caatinga/>. Acesso em: 25 set. 2015.
55. ISPN - Instituto Sociedade População e Natureza. Cerrado. Disponível em: <http://www.cerratinga.org.br/cerrado/>. Acesso em: 25 set. 2015.
56. JACOBI, J.; SCHNEIDER, M.; BOTTAZZI, P.; PILLCO, M.; CALIZAYA, P.; RIST, S. Agroecosystem resilience and farmer’s perceptions of cli-
mate change impacts on cocoa farms in Alto Beni, Bolivia. Renewable Agriculture and Food Systems, v. 30, n. 2, p. 170–183, 2013. 23
57. JOSE, S. Agroforestry for conserving and enhancing biodiversity. Agroforestry Systems, v. 85, n. 1, p. 1–8, 2012.
58. JOSE, S. Agroforestry for ecosystem services and environmental benefits: An overview. Agroforestry Systems, v. 76, p. 1 – 10, 2009.
59. LASCO, R. D.; DELFINO, R. J. P.; ESPALDON, M. L. O. Agroforestry systems: helping smallholders adapt to climate risks while mitigating
climate change. Wiley Interdisciplinary Reviews: Climate Change, v. 5, p. 825–833, 2014.
60. LAURA, V. A.; ALVES, F. V.; ALMEIDA, R. G. DE. Sistemas Agroflorestais: a agropecuária sustentável. Brasília, DF: Embrapa. 208 p., 2015.
61. LEITE, T. V. P. Sistemas Agroflorestais na restauração de espaços protegidos por lei (APP e Reserva Legal ): estudo de caso do sítio
Geranium, DF. Universidade de Brasília (Tese de Doutorado). 117 p., 2014.
62. LIRA, D. F. S.; MARANGON, L. C.; FERREIRA, R. L. C.; MARANGON, G. P.; SILVA, E. A. Comparação entre custos de implantação de dois
modelos de restauração florestal em Pernambuco. Scientia Plena, v. 9, n. 44, p. 1-5, 2012.

262
Referências citadas – Para Saber Mais

63. LOPES, O. M. N.; ALVES, R. N. B. Adubação Verde e Plantio Direto: Alternativas de Manejo Agroecológico para a Produção Agrícola
Familiar Sustentável. Embrapa. Belém, PA. Documentos 212, março, 2005.
64. MAIA, S. M. F.; XAVIER, F. A. D. S.; OLIVEIRA, T. S. de; MENDONÇA, E. D. S.; ARAÚJO FILHO, J. A. de. Impactos de sistemas agroflorestais
e convencional sobre a qualidade do solo no semi-árido cearense. Revista Árvore, v. 30, n. 5, p. 837–848, 2006.
65. MARTINS, S. T., MELO, B. SPONDIAS (Cajá e outras). Disponível em: http://www.fruticultura.iciag.ufu.br/caja.html. Acesso em: 13
dez 2015.
66. MARTINS, T. P. Sistemas agroflorestais como alternativa para recomposição e uso sustentável das reservas legais. Universidade de São
Paulo – USP (Dissertação Mestrado). 154 p., 2013.
67. MATHIAS, J. Cajá. Globo Rural. Disponível em: http://revistagloborural.globo.com/GloboRural/0,6993,EEC1679915-4529,00.html.
Acesso em: 13 dez. 2015.
68. CAMPOS FILHO, E. M. (Org.). Coleção Plante as árvores do Xingu e Araguaia: Volume II, Guia de Identificação. Instituto Socioambiental
– ISA. São Paulo. 299 p. 2009.
69. MENDES, M. F.; CALAÇA, M.; NEVES, S. M. A. da S.; CAIONI, C.; DASSOLER, T. F.; NEVES, R. J. Agricultura familiar sustentável e siste-
mas agroflorestais : a experiência do Centro de Tecnologia Alternativa (CTA) no Vale do Guaporé. Agroecol 2014. Anais. Cadernos de
Agroecologia Dourados, MS. 2014.
70. MENESES, R. S.; BAKKE, O. A.; BAKKE, I. A. Potencialidades para a implantação de sistemas agrosilvipastoris na região Semiárida. I
SIAMPAS – Simpósio em Sistemas Agrosilvipastoris no Semiárido. Anais. 2008.
71. MENEZES, M. O. T.; ARAÚJO, R. C. P. Manejo sustentável da caatinga para produção econômica de biomassa vegetal. XLVI Congresso
da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Anais. Fortaleza, CE. 2008.
72. MMA - Ministério do Meio Ambiente. Caatinga. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas/caatinga>. Acesso em: 23 set 2015.
73. MMA - Ministério do Meio Ambiente. Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa - PLANAVEG. 76 p. Brasília, 2014.
74. MMA - Ministério do Meio Ambiente. Monitoramento do Desmatamento por Satélite do Bioma Caatinga 2008-2009. 2011.
75. MMA - Ministério do Meio Ambiente. O Bioma Cerrado. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas/cerrado>. Acesso em: 24
set 2015.
76. MMA - Ministério do Meio Ambiente. PPCerrado – Plano de Ação para prevenção e controle do desmatamento e das queimadas no
Cerrado: 2ª fase (2014-2015). 132 p. Brasília, 2014.
77. MMA; REBRAF. Políticas Públicas e Financiamento para o Desenvolvimento Agroflorestal no Brasil. Ministério do Meio Ambiente –
MMA. Brasília, DF. 30 p., 2005.
78. MONTAGNINI, F.; NAIR, P. K. R. Carbon sequestration: An underexploited envionmental benefit of agroforestry systems. Agroforestry
Systems, v. 61, p. 281–295, 2004.
79. MONTEIRO, H. C. de F. Estratégias de Manejo do Capim Elefante c.v. Napier Sob Pastejo Rotativo. Universidade Federal de Viçosa –
UFV (Tese Doutorado). 133 p. 2011. Disponível em: http://alexandria.cpd.ufv.br:8000/teses/zootecnia/2011/241398f.pdf. Acesso em:
14 dez. 2015.
80. MORESSI, M.; PADOVAN, M. P.; PEREIRA, Z. V. Banco de sementes como indicador de restauração em sistemas agroflorestais multies-
tratificados no Sudoeste de Mato Grosso do Sul, Brasil. Revista Árvore, v. 38, n. 6, p. 1073–1083, 2014.
81. MOURA, M. R. H.; PENEREIRO, F. M.; WATANABE, M. Pesquisa participativa em Sistemas Agroflorestais Sucessionais com hortaliças:
o desenvolvimento das culturas, a viabilidade econômica e o potencial para reflorestamento. VII Congresso Brasileiro de Sistemas
Agroflorestais. Anais. Embrapa, Brasília, DF. 2009.
82. NAIR, P. K. R. An Introduction to Agroforestry. Kluwer Academic Publishers, Florida, USA. 1993.
83. NAIR, P. K. R.; NAIR, V. D.; MOHAN KUMAR, B.; SHOWALTER, J. M. Carbon sequestration in agroforestry systems. In: Advances in
Agronomy. Chapter 5, p. 237–307, 2010.
84. NAIR, P. K. R. Tropical agroforestry systems and practices. In: FURTADO, J.I. AND RUDDLE, K.(Eds) Tropical Resource Ecology and Devel-
opment. John Wiley, Chichester, England, 1984.
85. OLIVEIRA, T. C. de. Caracterização, índices técnicos e indicadores de viabilidade financeira de consórcios agroflorestais. Universidade
Federal do Acre – UFAC (Dissertação de mestrado). 84 p., 2009.
86. PENEIREIRO, F. M.; RODRIGUES, F. Q.; BRILHANTE, M. de O.; LUDEWINGS, T. Apostila do Educador Agroflorestal: Introdução aos Siste-
mas Agroflorestais, um Guia Técnico. Universidade Federal do Acre, UFAC. Arboreto. 76 p., 2002.
87. PENEIREIRO, F. M.; RODRIGUES. F. Q.; BRILHANTE, M. O.; BRILHANTE, N. A.; QUEIROZ, J. B. N.; ROSÁRIO, A. A. S.; LUDEWIGS, T.; SILVA,
T. M.; LIMA, C. M.; MENEZES, M. A. O. Avaliação da sustentabilidade de sistemas agroflorestais no estado do Acre. In: OLIVEIRA, M. A.;
ALECHANDRE, A.; ESTEVES, B. M. G.; BROWN, F.; PICOOLI, J. C.; SILVEIRA, M.; VIEIRA, L. J. S.; LOPES, M. R. M.; REIS, V. L.; ALBUQUER-
QUE, G. R. (Eds.). Pesquisa sociobioparticipativa na Amazônia Ocidental: aventuras e desventuras. Universidade Federal do Acre, Ed.
EDUFAC, Rio Branco, Acre, Brasil. 1ª ed. p. 77 – 127. 2005.
88. PENEIREIRO, F. M. Sistemas Agroflorestais Dirigidos pela Sucessão Natural: um Estudo de Caso. Universidade de São Paulo, Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Dissertação de Mestrado). 138 p., 1999.
89. PEREIRA, J. O feijão guandu: uma opção para a agropecuária brasileira. Embrapa, CPAC, Ministério da Agricultura. Circular Técnica n.
20. Planaltina, DF. 1985.
90. PEREIRA, M. DE S. Manual técnico Conhecendo e produzindo sementes e mudas da caatinga. Associação Caatinga. Fortaleza, CE. 2011.
91. PORRO, R. et al. Iniciativas promissoras e fatores limitantes para desenvolvimento de sistemas agroflorestais na Amazônia. Iniciativa
Amazônica. Belém e Tomé-Açu, Pará, Brasil. 75 p. 2006.
92. PORRO, R. Expectativas e desafios para a adoção da alternativa agroflorestal na Amazônia em transformação. In: PORRO, R. (Ed.)
Alternativa agroflorestal na Amazônia em transformação. Embrapa Informação e Tecnologia, Brasília, DF. p. 33 – 51. 2009.

263
Referências citadas – Para Saber Mais

93. PORRO, R.; MICCOLIS, A. (Eds.). Políticas Públicas para o Desenvolvimento Agroflorestal no Brasil. World Agroforestry Centre – ICRAF,
Belém, PA. 80 p., 2011.
94. POSSETTE, R. F. DA S.; RODRIGUES, W. A. O gênero Inga Mill. (Leguminosae – Mimosoideae) no estado do Paraná, Brasil. Acta Botânica
Brasilica. v. 24, n. 2, p. 354-368, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abb/v24n2/a06v24n2.pdf. Acesso em 13 dez. 2015.
95. PYE-SMITH C. Trees for Life. Creating a more prosperous future through agroforestry. World Agroforestry Centre – ICRAF, Nairobi.
2014.
96. RANGEL, J. H. A.; MUNIZ, E. N.; SÁ, C. O. de; SÁ, J. L. de. Implantação e manejo de legumineira com gliricídia (Gliricidia sepium). Em-
brapa, Aracaju, SE. Circular Técnica 63, 2011.
97. REDE CERRADO. O Cerrado. Disponível em: <http://www.redecerrado.org.br/index.php/o-cerrado>. Acesso em: 25 set. 2015.
98. RIBASKI, J.; DRUMOND, M. A.; OLIVEIRA, V. R. de; NASCIMENTO, C. E. de S. Algaroba (Prosopis juliflora): Árvore de Uso Múltiplo para
a Região Semiárida Brasileira. Embrapa Colombo, PR. Comunicado Técnico 240, out, 2009.
99. RIBASKI, J. Sistemas Agroflorestais no Semiárido Brasileiro. 2° Encontro Brasileiro de Economia e Planejamento Florestal. Anais. Em-
brapa Colombo, PR, 1991.
100. RIBASKI, J.; LIMA, P. C. F.; OLIVEIRA, V. R. de; DRUMOND, M. A. Sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia) Árvore de Múltiplo uso no Brasil.
Embrapa Colombo, PR. Comunicado técnico 104, 2003.
101. RODRIGUES. R. R.; BRANCALION, P. H. S.; ISERNHAGEN, I. (Org.). Pacto pela restauração da Mata Atlântica: referencial dos conceitos
e ações de restauração florestal. São Paulo: LERF/ESALQ, Instituto BioAtlântica, 2009.
102. SÁ, C. P. de; OLIVEIRA, T. K. de; BAYMA, M. M. A.; OLIVEIRA, L. C. de. Análise Financeira e institucional dos três principais sistemas
agroflorestais adotados pelos produtores do RECA. Embrapa Acre, Rio Branco, AC. Circular Técnica, 33, 12 p. 2000.
103. SAMPAIO, A. B.; VIEIRA, D. L. M.; CORDEIRO, A. O. de O.; AQUINO, F. de G.; SOUSA, A. de P.; ALBUQUERQUE, L. B. de; SCHMIDT, I.
B.; RIBEIRO, J. F.; PELLIZZARO, K. F.; SOUSA, F. S. de; MOREIRA, A. G.; SANTOS, A. B. P. dos; REZENDE, G. M.; SILVA, R. R. P.; ALVES,
M.; MOTTA, C. P.; OLIVEIRA, M. C.; CORTES, C. de A.; OGATA, R. Guia de Restauração do Cerrado, Volume 1. Semeadura direta de
sementes. Universidade de Brasília - UNB, Rede de Sementes do Cerrado, 40 p. 2015. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.
br/digital/bitstream/item/141879/1/Restauracao-semeadura-direta-cerrado-PDF-WEB.pdf. Acesso em: 16 fev 2016.
104. SANGUINO, A. C. Avaliação econômica da produção em sistemas agroflorestais na Amazônia: estudo de caso em Tomé-Açu. UFRA/
EMBRAPA (Tese de Doutorado), Belém, PA. 299 p. 2004.
105. SANTOS, A. C. dos. O papel dos sistemas agroflorestais para usos sustentáveis da terra e políticas relacionadas - Indicadores de
Funcionalidade Econômica e Ecológica de SAFs em Redes Sociais da Amazônia e Mata Atlântica, Brasil. PDA/Ministério do Meio
Ambiente – MMA, Brasília, DF. 2010.
106. SANTOS, D. C. dos.; FARIAS, I.; LIRA, M. de A.; SANTOS, M. V. F. dos.; ARRUDA, G. P. de.; COELHO, R. S. B.; DIAS, F. M.; MELO, J. N.
de. Manejo e utilização da palma forrageira (Opuntia e Nopalea) em Pernambuco. IPA – Embrapa. Recife, PE. Documentos, n.30,
48p., 2006.
107. SANTOS, L. C. R. dos. Caatinga Cerrado Comunidades Eco-Produtivas: Conceitos e Princípios. Instituto Sociedade População e Natu-
reza - ISPN, Brasília, DF. 2008.
108. SAWYER, Donald. Políticas públicas e impactos socioambientais no Cerrado. In: GALINKIN, A. L.; PONDAAG, M. C. M. (Org.). Capaci-
tação de lideranças do Cerrado. Brasília, DF. TechnoPolitik. 2009.
109. SCHOENEBERGER, M. M. Woody Plant Selection for Riparian Agroforestry. Northeastern and Intermountain Forest and Conserva-
tion Nursery Association Meeting. Anais. St. Louis, Missouri, USA: 1993.
110. SEIFFERT, N. F.; THIAGO. L. R L. S. Legumineira - Cultura Forrageira para Produção de Proteína. Embrapa, Centro Nacional de Pesquisa
de Gado de Corte-CNPGC Campo Grande, MS. Circular técnica n. 13. nov, 1983. Disponível em: https://docsagencia.cnptia.embrapa.
br/bovinodecorte/ct/ct13/ct13.pdf. Acesso em 14 dez. 2015.
111. SILVA, G. C. da. Viabilidade de Andropogon Gayanus no Cerrado Brasileiro. Universidade Federal de Goiás Campus Jataí. Disponível
em: https://zootecnia.jatai.ufg.br/up/186/o/Gl%C3%AAnio_Campos_da_Silva_-Viabilidade_de_Andropogon_gayanus_no_Cerra-
do_Brasileiro.pdf. Acesso em: 13 dez. 2015.
112. SOLLBERG, I.; SCHIAVETTI, A.; MORAES, M. E. B. Manejo Agrícola no Refúgio de Vida Silvestre de Una: Agroflorestas como uma
perspectiva de conservação. Revista Árvore, v. 38, n. 2, p. 241–250, 2014.
113. SOUSA, F. B. Leucena: Produção e Manejo no Nordeste Brasileiro. Embrapa, Sobral, CE. Circular Técnica n. 13. 2005. Disponível
em: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/CTE+18+CNPC_000fcujr58602wx5eo0a2ndxyyudaay8.pdf. Acesso em:
14 dez. 2015.
114. SOUZA JUNIOR, O. F. de. Influência do espaçamento e da época de corte na produção de biomassa e valor nutricional de Tithonia
diversifolia (HEMSL.) Gray. Universidade de Marília (Dissertação de Mestrado). 43 p., 2007. Disponível em: http://www.unimar.br/
pos/trabalhos/arquivos/16FBB42941C786FA4ACAB44672B0A3F9.pdf. Acesso em: 14 dez. 2015.
115. SOUZA, L. A. G. de. Leguminosas para Adubação Verde na Terra Firme e na Várzea da Amazônia Central: Um estudo em pequenas
propriedades rurais em Manacapuru. Editora INPA. Manaus, AM. 40 p. 2012. Disponível em: https://www.inpa.gov.br/arquivos/
Leguminosas_Adubaca_Terra_Firme_Varzea.pdf. Acesso em: 13 dez. 2015.
116. SOUZA, M. DE; PIÑA-RODRIGUES, F. Desenvolvimento de espécies arbóreas em Sistemas Agroflorestais para Restauração de Áreas
Degradadas na Floresta Ombrófila Densa, Paraty, RJ. Revista Árvore, v. 37, n. 1, p. 89–98, 2013.
117. STEENBOCK, W.; SILVA, L. da C. e; SILVA, R. O. da; RODRIGUES, A. S.; PEREZ-CASSARINO, J.; FONINI, R. Agrofloresta, Ecologia e Socie-
dade. Kairós. Curitiba, PR. 422 p., 2013.
118. FAGG, C. W.; MUNHOZ, C. B. R.; SOUSA-SILVA, J. C. (Org.). Conservação de áreas de Preservação Permanente do Cerrado: Carac-
terização, Educação Ambiental e Manejo. Centro de Referência em Conservação da Natureza e Recuperação de Áreas Degradadas

264
Referências citadas – Para Saber Mais

– CRAD. Universidade de Brasília. Brasília, DF. 324 p. 2011.


119. UDAWATTA, R. P.; GARRETT, H. E. Agroforestry buffers for non point source pollution reductions from agricultural watersheds. Jour-
nal of environmental quality, v. 40, n. 3, p. 800 – 806, 2011.
120. UNESP – Universidade Estadual de São Paulo. Panicum maximum: Estudos das principais gramíneas forrageiras. (apresentação de
slide). 2013. Disponível em: http://www.fcav.unesp.br/Home/departamentos/zootecnia/ANACLAUDIARUGGIERI/apresenta...pdf.
Acesso em: 15 dez. 2015
121. UICN; WRI. Guia sobre a Metodologia de Avaliação de Oportunidades de Restauração (ROAM): Avaliação de oportunidades de
restauração de paisagens florestais em nível subnacional ou nacional. Documento de trabalho (Edição-teste). União Internacional
para Conservação da Natureza. Gland, Suíça. 125 p. 2014. Disponível em: https://portals.iucn.org/library/sites/library/files/docu-
ments/2014-030-Pt.pdf. Acesso em: 18 fev. 2016.
122. RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P. T. G.; ALVAREZ V. V. H. (Eds.). Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais
- 5ª Aproximação. Universidade Federal de Viçosa - UFV, Minas Gerais, 359p. 1999.
123. VAGEN, T-G. WINOWIECKI, L. A.; TAMENE, D. L.; TONDOH, J. E. The Land degradation Surveillance Framework (LDSF) - Field Guide.
World Agroforestry Centre – ICRAF, Nairobi, Kenya. 4ª ed. v. 4. 2013.
124. VAN NOORDWIJK, M.; LUSIANA, B.; LEIMONA, B.; DEWI, S.; WULANDARI, D. (Eds.). Negotiation-support toolkit for learning land-
scapes. World Agroforestry Centre – ICRAF, Bogor, Indonesia. Southeast Asia Regional Program. 2013.
125. VIEIRA, D. L. M.; HOLL, K. D.; PENEIREIRO, F. M. Agro-successional restoration as a strategy to facilitate tropical forest recovery.
Restoration Ecology, v. 17, n. 4, p. 451–459, 2009.
126. VILELA, H. Exigências e Aptidões das Plantas Forrageiras. Artigos Portal Agronomia. Disponível em: http://www.agronomia.com.br/
conteudo/artigos/artigos_plantas_forrageiras.htm. Acesso em: 14 dez. 2015.
127. VIRA, B.; WILDBURGER, C.; MANSOURIAN, S. Forests, Trees and Landscapes for Food Security and Nutrition. A Global Assessment
Report. International Union of Forest Research Organizations – IUFRO, Vienna. v. 33. 172 p., 2015.
128. WORLD BANK. Sustainable Land Management Sourcebook. The International Bank for Reconstruction and Development / The
World Bank. 196 p. 2008.
129. WWF-BRASIL. Cerrado. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/cerrado/>. Acesso em: 21
ago. 2015.
130. FREITAS, F. L. M. DE; SPAROVEK, G.; MATSUMOTO, M. H. A adicionalidade do mecanismo de Compensação de Reserva Legal da Lei n°
12.651/2012: uma análise da oferta e demanda de Cotas de Reserva Ambiental. In: SILVA, A. P. M. DA; MARQUES, H. R.; SAMBUICHI,
R. H. R. (Org.). Mudanças no Código Florestal Brasileiro: desafios para a implementação da nova lei. Ipea - Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, Rio de Janeiro. p. 125 – 158. 2016.
131. MMA - Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa MMA n° 04 de setembro de 2009. Dispõe sobre procedimentos técnicos
para a utilização da vegetação da Reserva Legal sob regime de manejo florestal sustentável. 2009.
132. CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução CONAMA n° 429 de fevereiro de 2011. Dispõe sobre a metodologia de
recuperação das Áreas de Preservação Permanente - APPs. 2011.
133. BRASIL. Decreto n° 7.830 de outubro de 2012. Dispõe sobre o Sistema de Cadastro Ambiental Rural, o Cadastro Ambiental Rural,
estabelece normas de caráter geral aos Programas de Regularização Ambiental. 2012.
134. SERI - Sociedade Internacional para a Restauração Ecológica. Princípios da SER International sobre a restauração ecológica. Grupo
de Trabalho sobre Ciência e Política (Versão 2). Traduzido, português. 2004.
135. BRANCALION, P. H. S.; GANDOLFI, S; RODRIGUES, R. R. Uma visão ecossistêmica do processo de restauração ecológica. in RODRI-
GUES. R. R.; BRANCALION, P. H. S.; ISERNHAGEN, I. (Org.). Pacto pela restauração da Mata Atlântica: referencial dos conceitos e
ações de restauração florestal. LERF/ESALQ, Instituto BioAtlântica, São Paulo, SP. p. 78. 2009.
136. MMA - Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: http://www.mma.gov.br/comunicacao/item/8705-recupera%C3%A7%-
C3%A3o-de-%C3%A1reas-degradadas. Acesso em: 12 jul 2015.
137. RIETBERGEN-MCCRACKEN, J.; MAGINNIS, S.; SARRE, A. (Eds.). The Forest Landscape Restoration Handbook. Earthscan/ITTO, Lon-
don, United Kingdon. p. 01, 2007.
138. ERA - Ecological Restoration Alliance of Botanic Gardens. What is Ecological Restoration. Disponível em: http://www.erabg.org/
what-is-ecological-restoration. Acesso em: 20 jul 2015.
139. BRASIL. Lei n° 9.985 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), estabelece
critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. 2000.
140. UPRETY, Y.; ASSELIN, H.; BERGERON, Y.; DOYON, F.; BOUCHER, J.-F. Contribution of traditional knowledge to ecological restoration:
Practices and applications. Ecoscience, v. 19, n. 3, p. 225–237, 2012.
141. REY BENAYAS, J. M.; BULLOCK, J. M. Restoration of Biodiversity and Ecosystem Services on Agricultural Land. Ecosystems, v. 15, n.
6, p. 883–899, 2012.
142. BLINN, C. E.; BROWDER, J. O.; PEDLOWSKI, M. A.; WYNNE, R. H. Rebuilding the Brazilian rainforest: Agroforestry strategies for sec-
ondary forest succession. Applied Geography, v. 43, p. 171–181, 2013.
143. CARVALHO, W. R. de; VASCONCELOS, S. S.; KATO, O. R.; CAPELA, C. J. B.; CASTELLANI, D. C. Short-term changes in the soil carbon
stocks of young oil palm-based agroforestry systems in the eastern Amazon. Agroforestry Systems, v. 88, n. 2, p. 357–368, 2014.
144. NOORDWIJK, M. VAN; FARIDA; SAIPOTHONG, P.; AGUS, F.; HAIRIAH, K.; SUPRAYOGO, D.; VERBIST, B; Watershed functions in produc-
tive agricultural landscapes with trees. In: GARRITY, D.; OKONO, A.; GRAYSON, M.; PARROTT, S. (Ed.). World Agroforestry into the
Future. Nairobi: World Agroforesty Centre, ICRAF, p. 103 – 112, 2006.

265
Referências citadas – Para Saber Mais

145. VIEIRA, D. L. M.; DOURADO, B. F.; MOREIRA, N. dos S.; FIGUEIREDO, I. B.; PEREIRA, A. V. B.; OLIVEIRA, E. L. de. (Org.). Agricultores
que cultivam árvores no Cerrado. WWF Brasil, Brasília. 163 p., 2014.
146. MICCOLIS, A.; PENEIREIRO, F. M.; VIEIRA, D. L. M.; MARQUES, H. R.; HOFFMANN, M. R. M. Restoration through Agroforestry: options
for reconciling livelihoods with conservation in Brazil. Experimental Agriculture, (Submitted), 2015.
147. CHAMBERS, R.; CONWAY, G. Sustainable rural livelihoods: practical concepts for the 21st century. Institute of Development Studies
Discussion, Brighton, UK. n. 296, 1992.
148. ARCO-VERDE, M. F.; AMARO, G. C. Metodologia para análise da viabilidade financeira e valoração de serviços ambientais em siste-
mas agroflorestais. In: PARRON, L. M.; GARCIA, J. R.; OLIVEIRA, E. B. de; BROWN, G. G.; PRADO, R. B. (Eds.). Serviços ambientais em
sistemas agrícolas e florestais do Bioma Mata Atlântica. Embrapa, Brasília, DF. capítulo 30, p. 335-346. 2015.
149. MENDES, F. A. T. Avaliação de modelos de SAFs em pequenas propriedades selecionadas no município de Tomé-Açú, Estado do Pará.
In: IV Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais, 2002, Ilhéus, Bahia. Anais. CEPLAC. 3 p.
150. SILVA, I. C. Viabilidade agroeconômica do cultivo do cacaueiro (Theobroma cacao L.) com açaizeiro (Euterpe oleraceae Mart.) e
com pupunheira (Bactris gasipaes Kunth) em sistema agroflorestal na Amazônia. Universidade Federal do Paraná (Tese Doutorado),
Curitiba, PR.143 p. 2000.
151. BORGES, A. L.; SOUZA, L. da S. Exigências Edafoclimáticas. In: O Cultivo da Bananeira. BORGES, A. L.; SOUZA, L. da S. (Eds.). Cruz das
Almas, Bahia, Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2004. Capítulo 1, p. 15-22. Disponível em: http://www.agencia.cnptia.embrapa.
br/recursos/Livro_Banana_Cap_1ID-TNHDNBfwuu.pdf. Acesso em: 15 dez 2015.
152. FERREIRA, M. Escolha de Espécies de Eucalipto. Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais – IPEF, Circular técnica n. 47, p. 17, 1979.
153. ESALQ - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Botânica de Eucalyptus spp. Disponível em: http://www.tume.esalq.usp.
br/botanica.htm. Acesso em: 15 dez 2015.
154. ALMG – Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O cultivo do Eucalipto no Brasil: histórico e perspectivas. In: Assembleia de Minas
Gerais. Ciclo de Debates. O Eucalipto. Minas Gerais, p. 7 – 8. 2004. Disponível em: http://www.almg.gov.br/export/sites/default/
consulte/publicacoes_assembleia/cartilhas_manuais/arquivos/pdfs/o_eucalipto/cultivoeucalipto.pdf. Acesso em: 15 dez 2015.
155. OLIVEIRA, M. C.; OGATA, R. S.; ANDRADE, G. A. de; SANTOS, D. da S.; SOUZA, R. M.; GUIMARAES, T. G.; SILVA JÚNIOR, M. C. da;
PEREIRA, D. J. de S.; RIBEIRO, J. F. et al. Manual de viveiro e produção de mudas: espécies arbóreas nativas do Cerrado. Brasília, DF:
Universidade de Brasília: Rede de Sementes do Cerrado, 1. ed. rev. e ampl. 124 p. 2016.
156. PEREIRA, M. de S. Manual técnico Conhecendo e produzindo sementes e mudas da Caatinga. Associação Caatinga. Fortaleza, Ceará.
60 p. 2011.
157. SAMBUICHI, R. H. R.; MIELKE, M. S.; PEREIRA, C. E. (Org.). Nossas árvores : conservação, uso e manejo de árvores nativas no sul da
Bahia. Ed. Editus, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Ilhéus, Bahia. 1ª. ed. 296 p. 2009.
158. MAIA-SILVA, C. SILVA, C. I. da; HRNCIR, M.; QUEIROZ, R. T. de; IMPERATRIZ-FONSECA, V. L. Guia de plantas : visitadas por abelhas na
Caatinga. Ed. Fundação Brasil Cidadão.. Fortaleza, Ceará. 1ª ed. 195 p. 2012.
159. LIMA, R. A. F. de; PINHEIRO, I. G.; AGUIRRE, A. G.; CALIARI, C. P. Guia de Árvores para a restauração do Oeste da Bahia. Instituto
Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA. Brasil. 205 p. 2013.
160. GARIGLIO, M. A.; SAMPAIO, E. V. de S. B.; CESTARO, L. A.; KAGEYAMA, P. Y. (Org.). Uso sustentável e conservação dos recursos flores-
tais da Caatinga. Serviço Florestal Brasileiro - SFB. Ministério do Meio Ambiente – MMA. Brasília. 368 p. 2010.
161. DRUMOND, M. A.; KIILL, L. H. P.; RIBASKI, J.; AIDAR, S. de T. Caracterização e usos das espécies da Caatinga: subsídio para programas
de restauração florestal nas Unidades de Conservação da Caatinga (UCCAs). Embrapa Semiárido. Petrolina, Pernambuco. 37 p. 2016.
162. CAMPOS FILHO, E. M.; SARTORELLI, P. A. R. Guia de árvores com Valor Econômico. Agroicone, Iniciativa INPUT/2015. São Paulo, 139 p. 2015.
163. MORAES, L. F. D.; CAMPELLO, E. F. C.; FRANCO, A. A. Restauração Florestal: do diagnóstico de degradação ao uso de Indicadores
Ecológicos para o Monitoramento das Ações. Oecologia Australis, v. 14, n. 02, p. 437–451, 30 jun. 2010.

266
Restauração ecológica com
Sistemas Agroflorestais
No contexto agropecuário, é fundamental uma abordagem de restauração
ecológica que inclua o agricultor ou proprietário rural, tanto no seu
planejamento, como na sua implantação e manejo. Os sistemas agroflorestais
podem viabilizar a restauração, ao restabelecerem processos ecológicos,
estrutura e função do ecossistema a um nível desejado, ao mesmo tempo
permitindo um retorno econômico, manutenção dos meios de vida, bem como do
conhecimento e da cultura locais. Neste caso, as pessoas são vistas como parte
integrante da natureza e protagonistas nos processos de restauração. Esta é
a visão que utilizamos para o desenvolvimento dos argumentos e sugestões de
práticas para restauração com SAFs neste livro.

ISBN 978-856328818-9

9 788563 288189

Você também pode gostar