OS SETE SEGREDOS DA

PREPARAÇÃO DO ROMANCE

Os Sete Segredos da Preparação do Romance

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 1. Redescubra as origens

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 2. Aprenda a ver

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 3. Estruture a sua
narrativa

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 4. Encontre o seu método
particular

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 5. Mate os seus queridos
Esta é uma citação de William Faulkner, que por sua vez foi citado por
Stephen King. O romance bom é o romance revisado. E uma revisão pode
parecer tão sanguinolenta quanto uma cena violenta no cinema: cortar,
cortar, transformar. Mudar de lugar. Não ter pudor com o que fez,
recortar mais uma vez. Irritar-se com aquilo que está e reconhecer isso.

O que faz um bom escritor é a superação do estágio psíquico do

“mamãe, olha que lindo”. Sim: todos temos isso. Queremos aplausos pelo
que fizemos. Mas um bom escritor não se contenta em fazer. Ele quer que
esteja bom. Ele quer que esteja muito bom. Ele quer ver quão bom ele é
capaz de ir naquele momento.

Para isso, é preciso retirar a própria ficção do pedestal, da esfera

intocável das coisas a serem contempladas. Você precisa escrever muito, e
pronto. Uma amiga, excelente teledramaturga se queixava de que os
alunos lhe apresentavam um roteiro para que ela avaliasse. Ela dizia: a
esta altura, você precisa ter dois, três, quatro roteiros em mãos! Como
quer aprender a escrever se não escrever muito?

Um escritor não para de trabalhar. Ele não está esperando aplausos.

Ele é muito mais ambicioso que isso. A revisão é a ferramenta que ele
tem para transformar uma primeira versão em uma obra acabada (ou
mais acabada).

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 6. Defina a constelação
bibliográfica
Sim: além da contextualização pessoal e subjetiva que a escrita irá
tornar evidente (toda contradição, todas as dores e incongruências deste
lugar social onde se enquadrada), você terá de escrever o suficiente para
reconhecer a sua constelação literária: o contexto literário de onde
escreve, o modo como dialoga com a tradição.

Em outras palavras, quais são os seus autores? O que te fascina?

Depois de ter escrito bastante, já sei que minha adolescência entre

mapas e bonequinhos de chumbo de Role Playing Game de algum modo
estimularam (e indicaram) um gosto pela fantasia e pelo universo da
ficção científica. Isso derivou para o domínio da viagem e da errância: sou
fascinado por geografias e línguas estrangeiras. Está aí o amor por Haruki
Murakami e Paul Auster. Também sou fã declarado de Machado de Assis:
o cara consegue falar de questões universais com humor e leveza, tem um
tom ensaístico que conduz a Michel de Montaigne e a Lawrence Sterne,
um tom satírico que nos leva ao teatro de Moliére. Ao longo dos anos, a
curiosidade pela memória, por dinâmicas subjetivas e pela era de chumbo
no Brasil orientou a minha escolha acadêmica: optei pela psicologia social
e a psicanálise, pelo documentário, pelas experiências de exílio. Vieram
Roberto Bolaño, Imre Kertész, a autoficção como testemunho de uma era.

Você vê? É possível desenhar um mapa dos gostos e desgostos

literários. O que você gosta de escrever? O que isso tem a ver com a sua
história? Como isso irá orientar o seu próximo romance?

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 7. Amplie o seu repertório
Com disciplina para o método, atenção investigativa, desapego para
revisar, disposição para a arquitetura do romance e consciência das
origens sociais e literárias, você terá de ler muito. Você sabe o que gosta.
Não perca tempo com o que não gosta. Mas tampouco se entregue a uma
experiência apenas passiva com relação aos livros que lê.

Um escritor lê como um escritor. Sua curiosidade para o mundo se

volta para as obras que escolhe como suas. Ele relê, por exemplo,
passagens que lhe fascinaram, carregado com a pergunta do como. Como
esse cara fez isso? Essa pergunta nem sempre será respondida, mas se
você conseguir mapear a estrutura e os achados dos bons romances que
gosta, estará ampliando o seu repertório e apropriando-se de inúmeras e
inomináveis ferramentas narrativas.

Gosta de Borges? Vá atrás. Leia tudo do cara. Conheça a sua história,

entenda as suas referências. Um Borges poderá conduzi-lo a Macedônio
Fernandez e a Bioy Casares, por exemplo. E por parentesco regional, a
Roberto Arlt, Rodolfo Walsh e quem sabe a Felisberto Hernandez e a Juan
Carlos Onetti. Pelos comentadores de Borges, você verá outros. Com isso,
você vai fazendo paralelos. Desenvolvendo repertórios simbólicos e
linguísticos.

Um escritor que lê não corre o risco de inventar a roda quadrada. Digo:

não há como não dialogar com o que já foi feito. E você vai querer ler o
que já foi feito para ir além, para fazer outra coisa. A leitura de diversas
obras também te incutirá um conhecimento do percurso de um autor. Um
autor está sempre em transformação. Seu estilo é marcado pelas coisas

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que vive. Ao mesmo tempo, a variedade de posturas em relação à escrita

autorizará você a ser como quer ser, sem deixar de admirar outros autores
pelas escolhas que fizeram.

Para conhecer o seu próprio universo ficcional, será preciso

compreender e explorar as admirações literárias.

Como é possível imaginar, há muito mais a falar sobre o tema da

preparação do romance. Muitos escritores o fizeram: a jornada é contínua
e circular. Seguimos em contato!

Abraços,

Tiago Novaes

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