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SOUZA
Resumo:A partir de pesquisa empírica, o presente artigo busca discutir a prática da psicologia
jurídica aplicada no judiciário, compreendendo a diferença entre a intervenção psicológica e a
intervenção judicial. Através do estudo de leis e doutrinas, procura-se esclarecer a lógica das
provas e da perícia, observando o contexto, os princípios jurídicos e as teorias psicológicas. A
psicologia jurídica, na atualidade, é considerada como prática da profissão de psicologia para
questões legais. O estudo descreve a realidade jurídica e psicossocial, a partir da perspectiva
pessoal dos magistrados e dos psicólogos inseridos no judiciário. Tem como objetivo orientar a
atuação do Psicólogo para a prática profissional da psicologia jurídica, confrontando as
posições dos magistrados e dos psicólogos diante da realidade probatória e investigativa do
sistema judiciário, compreendendo a demanda do psicólogo perito e os elementos subjetivos
da investigação. Os participantes foram selecionados por conveniência: 12 juízes e 12
psicólogos, em exercício no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios-TJDFT. A partir
da elaboração de um questionário único e uniforme, utilizando princípios psicojurídicos. O
estudo se caracteriza como exploratório e o método de abordagem foi o hipotético-dedutivo.
Através da comparação foi possível deduzir elementos gerais e abstratos, e verificar as
semelhanças e divergências entre os participantes. Os resultados obtidos demostram a
existência de distorção conceitual e interpretativa da prática da psicologia jurídica por ambos,
psicólogos e magistrados.
1. INTRODUÇÃO
Afinal, o encontro prático das ciências humanas e jurídicas pode constituir um grande
problema. No âmbito do judiciário e diante da ótica de cada ciência, os conflitos humanos são
uma realidade que produz enormes e diferentes questionamentos. Onde a visão do todo pode
ficar comprometida, se camuflando por um discurso social e uma incompreensão semântica,
em que a verdade dos fatos, juridicamente relevantes, se perde. E assim, falando línguas
diferentes, erros inferenciais podem ser produzidos e a informação distorcida, acarretando
falhas interpretativas da qual ninguém se dá conta, a não ser, claro, a vítima, o autor e o grupo
social em que se inserem.
Para tanto é necessário discutir as questões entre o Direito e a Psicologia, compreendendo que
essas questões estão em seus fundamentos, princípios e matrizes teóricas, e para sua
aplicação prática é necessário compreender as diferenças. Um breve estudo axiológico permite
demonstrar a diferença do Direito finalista e da Psicologia causalista, um pertencendo ao
mundo do dever ser (mundo ideal), e a outra do ser (realidade social). Mundos aparentemente
estranhos, em que o homem é o ator principal.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Trindade (2009) sustenta que a Psicologia tem um longo passado e uma curta história. Afirma
que é muito jovem e que fala muitas línguas. Thá (2006) traduz o drama contemporâneo dos
profissionais da psicologia, que se inicia na academia quando se questionam sobre as diversas
teorias apresentadas. Como se identificar? Qual das teorias corresponde à descrição da
realidade profissional? Afinal, o que se espera é aprender uma profissão, exercê-la e, com esta,
se sustentar.
No Brasil, a profissão de Psicólogo foi regulamentada somente em 1962, pela lei 4.119.
Diferentemente do que era quando surgiu como ciência independente (final do século XIX), o
foco atual é compreender o sujeito biopsicossocial e sua rede complexa que envolve áreas
diferentes, transdisciplinares. Observa-se, então, o surgimento de “projetos que tomam a
própria prática do psicólogo como questão” (NASCIMENTO, MANZINI e BOCCO, 2006 p. 15).
Em 2001 a APA apresentou uma lista de 53 divisões da psicologia aplicada: Clinica,
Educacional, Saúde, Social, Hospitalar, Jurídica e outras (TRINDADE, 2009).
Autores como Sabaté (1980, apud Trindade, 2009), consideram que a psicologia jurídica na
prática é um campo a ser explorado e construído. Para Jesus (2010 p.52) a psicologia jurídica
constitui-se de um “campo especializado de investigação psicológica, que estuda o
comportamento dos atores jurídicos no âmbito do direito, da lei e da justiça.” Sabaté (1980,
apud Trindade, 2009 p. 24), estabelece três grandes caminhos para o que chamou de método
psicojurídico, são eles:
A psicologia do direito, cujo objetivo seria explicar a essência do fenômeno jurídico, isto é, a
fundamentação psicológica do direito uma vez que todo o direito está repleto de conteúdos
psicológicos. Essa tarefa de investigação psicológica do direito recebeu a denominação de
psicologismo jurídico. A psicologia no direito, que estudaria a estrutura das normas jurídicas
enquanto estímulos vetores das condutas humanas e nesse aspecto, a psicologia no direito é
uma disciplina aplicada e prática. A psicologia para o direito, a psicologia jurídica como ciência
auxiliar do direito, tal como a medicina legal, a engenharia legal, a economia, a contabilidade,
a antropologia, a sociologia e a filosofia, entre outras. (TRINDADE, 2009)
No dizer de J. Selosse apud Doron & Parot (2006, p.629) a atuação da Psicologia na justiça se
subdivide em três possiblidades:
Psicologia judiciária que trata dos atores dos processos: acusado, vitima, acusador,
testemunha; e pelos métodos de informação de instrução e confissão, e ainda busca entender
a lógica de atuação dos juízes e seus auxiliares. A psicologia criminal que se apropria da
investigação e análise do indivíduo delinquente, sua conduta e os processos criminógenos, e
por último a psicologia legal que, estuda as significações e conceitos jurídicos penais e civis nos
quais se baseiam os processos, compreendendo os princípios jurídicos que orientam a tomada
de decisão, como: responsabilidade, culpa, periculosidade, interesse das partes, autoridade
legal (DORON & PAROT, 2006)
A humildade e a modéstia epistemológicas têm sido a noção faltante na ciência jurídica, mas
também a psicologia, na sua adolescência científica, tem se ressentido da sabedoria histórica.
Nesse particular, a psicologia tem claudicado de forma persistente na medida em que não tem
calado onde é incapaz de falar ou, pelo menos, não tem calado quando ainda é incapaz de
falar, de outro lado, tem fraquejado toda vez que não apresenta a necessária profundidade e
consistência filosófica, sucumbindo ao universo da cultura, da reflexão, e, particularmente, do
pensamento crítico.
Considerando que somente no contexto do direito é que a psicologia jurídica se realiza, torna-
se necessário compreender esse contexto. Não isoladamente, mas conjuntamente com os
operadores do direito, intercambiando. Para tanto, é preciso conceituar o encontro da
Psicologia com o Direito. Encontro que na prática favorece o desafio da objetividade científica
e da realidade jurídica, capaz de afastar o olhar terapêutico e lançar um olhar investigativo
sobre o fato jurídico.
O homem é um ser que pensa, tem consciência e se move num contexto histórico-cultural. De
acordo com Longo (2004 p.25) “O homem constrói o mundo com sua inteligência, com seus
braços, com sua vontade determinante e com seu Deus”. Nesse contexto, interage com o
outro, inicialmente com sua família e posteriormente com os outros membros da sociedade da
qual faz parte. Este convívio com o grupo social proporciona a construção das identidades e
das regras. Onde quer que se encontre um agrupamento social, onde quer que o homem
esteja, por mais rudimentar que seja o fenômeno jurídico esta presente (MONTEIRO, 2003)
Pereira (2001, p.4) afirma que “há e sempre houve uma norma, uma regra de conduta,
pautando a atuação do indivíduo, nas suas relações com os outros indivíduos”. O autor
acrescenta que quando “um indivíduo sustenta suas faculdades e repele agressão, afirma ou
defende os seus poderes, diz que defende o seu direito. E, quando o juiz dirime os conflitos
invocando a norma, diz-se que ele aplica o direito”. Existindo o que se pode chamar de
realidade jurídica, reconhecível no comportamento humano. Monteiro (2003) corrobora
dizendo que existem outras normas de convivência impostas na sociedade, que a rigor não se
confundem com as jurídicas, regras morais. Ambas se constituem como normas de
comportamento.
Assim, de acordo com Pereira (2001), o anseio por justiça integra-se na consciência do
indivíduo, e o poder público o reveste de sanção possibilitando a convivência individual e
coletiva. Estabelece o comportamento social, sem o qual não haveria a possibilidade do
jurídico, pois para a vivência individual ninguém poderia exigir o seu direito sem limitar o
direito do outro, sendo, portanto, necessário suportar restrições à própria conduta. Pode-se,
então, afirmar que “o direito é o principio de adequação a vida social”, ou seja, somente no
meio social haverá o direito. (PEREIRA 2001. p. 5).
Friede, (2002 p.14), define o Direito como objeto da ciência do direito, não é produto de uma
vontade, é um produto do ser humano, um produto cultural. Resulta “da atuação de forças
sociais, ou de uma delas, com poder de dominação sobre as demais”. É correto afirmar que o
Direito se caracteriza como ciência autônoma, que se funda em princípios basilares, no qual
fato, valor e norma não são aspectos simples de uma realidade, e sim, elementos primordiais
dessa ciência (FRIEDE, 2002; REALE, 1981).
De acordo com Montoro (1981), axiologia é a ciência dos valores. Estes representam os
princípios que orientam a conduta do homem e da sociedade. Onde quer que se manifeste o
direito, encontra-se uma ação, ou seja, um fato da natureza que é ao mesmo tempo um fato
de vontade, sendo o direito, portanto, a expressão da vontade humana, da ação do homem.
Como o direito não funciona como um todo fechado, o conjunto das normas jurídicas é
denominado de ordenamento jurídico, sendo essa a expressão formal do direito. (MONTORO,
1981, REALE, 1981, FRIEDE, 2002).
É importante saber utilizar a linguagem adequada no momento adequado. A clareza das ideias
está relacionada com a clareza e precisão das palavras. Qualquer sistema jurídico para atingir
plenamente seus fins deve cuidar do valor “nocional” do seu vocabulário, e estabelecer
relações semântico-sintáticas harmônicas e seguras na organização do pensamento (NARDINI
& RAMOS).
A realidade jurídica: penal, civil e familiar, tem que partir de ações, e não das fontes
psicológicas. Pois as ações são o objeto de conflito, e não as resoluções. A tipicidade é o ponto
de partida e, devem ser traduzidas de forma coerente e concisa, dentro de um determinado
contexto jurídico. Etimologicamente, o termo contexto pode ser conceituado como “conjunto
de circunstâncias que acompanham um acontecimento, exemplo: julgar um fato em seu
contexto histórico”. O adjetivo jurídico é relativo ao direito, “que está de acordo com as
normas do direito: ato jurídico” (KOOGAN/HOUAISS, 1997).
De acordo com Friede (2002), é necessário considerar os dados subjetivos no campo dos
valores: sentimentos e opiniões que fogem a disciplina das leis, elevando o grau de
responsabilidade dos profissionais e diminuindo os riscos de injustiças e abstrações por parte
dos operadores do direito. Portanto, o conhecimento dos aspectos legais orientará o psicólogo
jurídico na compreensão da influência que seus relatórios, pareceres e laudos ocupam no
contexto jurídico. Pois os aspectos individuais observados e descritos tecnicamente serão
acolhidos a rigor como matéria probante, dirimindo as dúvidas judiciais existentes.
É importante perceber que em matéria penal, tanto na fase de execução como na fase
processual, as informações fornecidas terão sempre valor probante (Caires, 2003 e Trindade,
2006), servindo a critério do Juiz. E, dentro dos parâmetros legais, atenuar ou agravar a
situação do agressor (réu), revelar circunstâncias e possíveis consequências do crime.
Art. 59 do CP - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como
ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para a
reprovação e prevenção do crime.
Em casos que envolvem estupro, maus tratos e atentado violento ao pudor, contra
vulneráveis, a inserção do psicólogo torna-se cada vez mais importante. Nessa linha de
entendimento, pontífica a doutrina e a jurisprudência que as declarações da vítima constituem
um meio de prova. Em princípio, o conteúdo das declarações deve ser aceito com reservas. No
entanto, por se tratar de um delito às ocultas, é necessário que as declarações sejam seguras,
estáveis, coerentes, plausíveis, uniformes, perdendo sua credibilidade quando o depoimento
se revela reticente e contraditório a outros elementos probatórios.
As demandas judiciais das Varas de Família é outro domínio em que a psicologia se faz
presente e exerce forte influência na proteção judicial dos menores. Levando o magistrado a
buscar, junto à Psicologia, um trabalho técnico, seguro, capaz de embasar as decisões,
resguardando os direitos das crianças e adolescentes em questões de regulamentação de
visitas e guarda familiar (TRINDADE, 2002). Em matéria civil, a comprovação dos fatos alegados
é pressuposto da ação, e a partir dele é que se pode apurar responsabilidades, que no caso
independe de culpa. (artigo 333, 342, 348, 400 e seguintes)
Visando punir e prevenir a violência doméstica contra a mulher, surge a lei 11.340/06 (Lei
Maria da Penha). E, no mesmo ano, a Lei 11343/06, que prevê projetos educacionais para
redução do dano ao usuário de drogas ilícitas. Essas duas leis proporcionam um espaço
terapêutico ao psicólogo jurídico. Espaço que não afasta a especialização, nem o enfoque legal,
mas possibilita um espaço diferenciado de atuação no sistema judiciário.
Poderíamos discorrer sobre cada prática desenvolvida pelo psicólogo no âmbito do judiciário,
no entanto, o objetivo da pesquisa é a atuação do psicólogo na busca da prova. Pois a prova,
como observado, é comum a todo sistema jurídico. Acrescentando que o sistema inclui, de
acordo com Código de Processo Penal (CPP), o processo de investigação policial:
2.2.1 Provas
Manzano (2011 p. 1) diz que a finalidade da prova é convencer o julgador “sobre a exatidão
das afirmações formuladas pelas partes no processo”, possibilitando “a certeza suficiente à
formação do convencimento necessário de que foi atingida a verdade possível e de legitimar a
sentença”. Acrescenta que não se pode confundir a finalidade da prova com o fim do processo.
Esta seria a verdade objetiva, alcançável e sujeita a sanção.
Hungria (1959), afirma que “prova é a verificação de algo, com a finalidade de demonstrar a
exatidão ou a verdade real da alegação feita pela parte ao juiz. Diante desse olhar eleva-se o
direito do indivíduo em face da coletividade, pois, ao menor sinal de dúvida sobre o fato
delituoso, homenageia-se o princípio conhecido por ‘in dubio pro reo’”.
Notadamente a prova produzida quer oral, quer pericial, somente será suficiente para a
formação de um juízo de certeza se bem fundamentada. Pode ser utilizada em três sentidos: a)
ação de provar; b) meio ou instrumento para a demonstração da verdade; c) resultado da
ação. As espécies de provas são:
(...) tanto no processo penal quanto no processo civil se busca a verdade processual, concebida
como a melhor verdade, verdade aproximativa, verdade humana e eticamente possível de ser
atingida, sem atropelamento de direitos individuais, em busca da pacificação social, revelada
pela permanente preocupação com efetividade da jurisdição penal, para que se alcance o
desejado equilíbrio entre o garantismo e a eficiência.
Afirmar a verdade é possível deste de que se compreenda o que é verdade real. Quando se
fala em processo penal, a afirmação do princípio da verdade real é necessário. Distingue-se do
principio da verdade formal, que regula o processo civil onde a prova é trazida pelas partes ao
processo, e o juiz decide conforme as provas apresentadas. No penal, o magistrado tem o
dever de investigar como os fatos se passaram na realidade, não se conformando com a
verdade formal constante dos autos.
Para tanto, o art. 156, II, com a redação determinada pela Lei n. 11.690/2008, faculta ao juiz de
ofício determinar, no curso da instrução, ou antes, de proferir sentença, a realização de
diligências para ‘dirimir dúvida sobre ponto relevante’. Ao magistrado é facultado buscar a
verdade, persegui-la.
2.2.2 Perícia
Segundo Tornaghi apud Manzano (2011 p. 8): “Perícia nada mais é do que uma pesquisa que
exige conhecimentos técnicos científicos e artísticos”. Segundo o dicionário Aurélio, perícia é
habilidade, destreza, conhecimento, ciência, como também vistoria ou exame de caráter
técnico especializado. O termo deriva do latim, peritia, que significa destreza e habilidade ou
peritus, indivíduo erudito, capaz. (CAIRES, 2003.)
A perícia é uma prova técnica, realizada por um perito, que se utiliza da experiência para
auxiliar o juiz. Constatando, explicando, elucidando, revelando e assim apontando um
elemento de prova. Demanda a realização de um procedimento técnico, o qual se desdobra
em vários atos: preservação, coleta, remessa, armazenamento, guarda, adoção do princípio
cientifico, aplicação de técnica especifica, e outros. Importante é a confiabilidade de sua
análise e conclusão. (MANZANO, 2011, p. 235).
A lei 4112/62 estabelece em seu art. 4º, inciso 5, que: “Cabe ao Psicólogo realizar perícias e
emitir pareceres sobre a matéria de Psicologia”. Caires (2003) defende a diferença entre a
entrevista psicológica pericial, em que o indivíduo não tem uma queixa, e sim, um fato jurídico
e está sob o domínio legal, e entre a entrevista clínica. Justificando a diferenciação da técnica
de psicodiagnóstico, pois o psicólogo está a serviço da justiça, o individuo o vê como aquele
que investiga e julga como se fosse uma extensão do juiz.
Para tanto, a autora sugere procedimentos e técnicas baseados em sua experiência, como:
estudo psicológico do processo, mapeamento do caso, mapeamento do desenvolvimento
sócio afetivo, histórico médico, antecedentes pessoais e aplicação de testes. Na construção do
laudo ou parecer, deve-se utilizar uma linguagem concisa. Sabendo que o judiciário necessita
de respostas que embasem medidas legais, sem expor o sujeito além do necessário.
No Direito Brasileiro, existe a figura do perito oficial e do assistente técnico, podendo ser
chamados tanto na fase do inquérito policial como durante a instrução criminal. Em juízo, o
perito e o assistente podem ser ouvidos mediante o requerimento das partes ou de ofício pelo
Juiz para esclarecer os laudos e pareceres apresentados (art. 159 e seguintes do CPP). O perito
é um auxiliar do Juiz sujeito a impedimentos. O assistente técnico, indicado pela vítima e pelo
acusado, é perito não oficial (MANZANO, 2011).
Segundo Manzano (2011), a perícia realizada na fase do inquérito policial é investigativa, prova
antecipada, se justifica se tiver natureza cautelar e quando é realizada deve ter assegurado o
contraditório. A prova é colocada a prova, ressaltando que o juiz não está obrigado a aceitar o
laudo ou parecer do perito. No Brasil, o princípio do liberatório está, no CPP e no CPC e
defende o livre convencimento do juiz, sendo esse apenas mais um elemento de prova
(MANZANO, 2011).
3. METODOLOGIA
Para Lakatos e Marconi (2008, p.83), “o método é o conjunto das atividades sistemáticas e
racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo-conhecimento,
válido e verdadeiro, traçando o caminho a ser seguido e detectando erros”.
Minayo (2008) considera que a pesquisa qualitativa analisa as relações dinâmicas entre o
mundo real e o mundo do sujeito, sendo que essa relação não pode ser traduzida por
números. “Sendo a realidade social mais rica do que qualquer teoria, qualquer pensamento e
qualquer discurso que possa ser elaborado sobre ela” (Minayo, 2008, p.14).
3.1 Participantes
A pesquisa foi realizada sem cálculo amostral, os 24 colaboradores foram selecionados por
conveniência, sendo 12 Juízes e 12 Psicólogos Jurídicos, em exercício no Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Os Juízes variavam a idade entre 35 e 57 anos,
perfazendo a média de 44 anos, sendo 6 do sexo masculino e 6 do sexo feminino. Os
psicólogos tinham idade variando entre 28 e 52 anos, perfazendo a média de 43 anos, 2 eram
do sexo masculino e 10 do sexo feminino. Os participantes eram todos de nível superior.
Sendo que 4 juízes possuem doutorado, 2 mestrado e 2 especialização. O tempo de serviço
variava entre 8 e 20 anos, perfazendo a média de 15 anos de exercício, na magistratura.
Quanto aos psicólogos, 2 possuem doutorado, 2 mestrado e 1 especialização. O tempo de
exercício variava entre 3 e 27 anos, perfazendo a média de 16 anos de profissão.
A seleção não considerou a área de atuação do magistrado: criminal, civil, ou familiar. Por
princípio a aplicação do direito, como área de conhecimento é igual e, independente de
preferências não haveria influência na proposta de estudo. Quanto aos Psicólogos, devido à
diversidade de temas e leis aos quais sujeitam o seu trabalho no TJDFT, sua atuação ocorre na
área civil, criminal e familiar. Assim, o nível de informação dos profissionais seria igualado ao
máximo.
3.2 Instrumentos
Foi elaborado um questionário único, aplicado aos participantes via e-mail, composto de 14
questões, abertas, fechadas e de múltipla escolha, tendo como objetivo comparar as respostas
dos profissionais, investigando a relação entre eles.
A primeira questão estava relacionada com os dados sócio demográficos. As demais com a
relação existente, na prática, entre os Psicólogos Jurídicos e os Operadores do Direito. E,
também, entre o Direito e a Psicologia, distinguindo-as como ciências autônomas que se
encontram, considerando que a ‘verdade’ é o elemento de prova buscado no sistema
judiciário.
O questionário foi elaborado a partir dos ensinamentos de Lakatos e Marconi (2008). Levando
em conta a compreensão nocional das questões, e considerando as vantagens e desvantagens
da aplicação a duas áreas distintas do mesmo instrumento.
3.3 Procedimentos
A primeira etapa foi seleção dos sujeitos e a elaboração do instrumento de coleta de dados.
Realizou-se um pré-teste com 2 psicólogos do setor, visando a verificar a compreensão da
linguagem. O que gerou adaptações e a formulação do questionário definitivo.
Em outubro de 2011, foram enviados 20 questionários, via e-mail, primeiramente aos Juízes e
em seguida aos Psicólogos, acompanhados de um prefácio do trabalho com os seguintes
dizeres: “Este questionário busca comparar e correlacionar a Psicologia e o Direito na
perspectiva pessoal de seus profissionais. Como base, tomamos a inserção do psicólogo no
contexto jurídico e sua atuação diante da diversidade dos fatos e da complexidade das
situações trazidas à luz do Direito”.
Os questionários dos juízes levaram em média quatro semanas para serem devolvidos,
retornando 18 questionários respondidos, para não comprometer o estudo manteve-se a
amostra de 12, excluídos os últimos. Os psicólogos se detiveram por mais tempo sendo
devolvidos 12.
4. DISCUSSÃO E RESULTADO
(J7)
“Psicólogo jurídico parece ser aquele que, com formação em psicologia dedica-se ao estudo da
psicologia jurídica”
(J1)
(J3)
“Psicólogos jurídicos trabalham para o estado é um funcionário do judiciário, seu parecer deve
ser imparcial”
(P8)
“O psicólogo jurídico “é aquele que coloca o saber da psicologia ao melhor exercido do Direito
(...) abarca o assistente técnico e o perito”
Grafico1
Grafico2
O gráfico 3 demonstra que no Processo Cível 8 juízes veem o psicólogo como perito; 5 como
assistente, 7 como mediador e 1 como parceiro e assessor. Quanto aos psicólogos, 7 se
consideram peritos; 5 mediadores e assistentes, 3 parceiros e 10 psicólogos se consideram
assessores. A questão foi formulada a permitir a múltipla escolha.
Grafico3
Grafico4
A segunda categoria explorada está relacionada com a prova e a verdade, lembrando que
prova conceitualmente significa: “que demonstra a veracidade de uma proposição, ou
realidade de um fato” (MANZANO, 2011). E, que perícia é uma prova técnica, e que a lei
4112/62 estabelece em seu art. 4º, inciso 5, que: “Cabe ao Psicólogo realizar perícias e emitir
pareceres sobre a matéria de Psicologia”. Os resultados obtidos demonstraram que, tanto
juízes como psicólogos, destacam o papel da perícia como atividade da Psicologia Jurídica.
Surge, então, à necessidade de verificar e confrontar as posições dos magistrados e dos
psicólogos diante da questão, tendo a realidade probatória e investigativa como fundamento
do sistema jurídico.
Gráfico 5- Contribuições que o profissional da Psicologia tem para oferecer aos Operadores do
Direito
Grafico5
Fonte: Cristiana Jobim, 03 de fevereiro de 2012
J5
· Intervenção: Terapêutico-Social-Investigativo.
“O psicólogo não atua na busca da verdade. Esse papel se existe, é do juiz (...). O psicólogo em
regra não é imparcial, não é treinado para isso e, portanto não deve ter a função de buscar a
verdade.”
J1
· Intervenção: Terapêutico-Social- investigativo
J2
“As intervenções no âmbito do direito de família tendem ter cunho social, mas, muitas vezes
são de cunho terapêutico ou investigativo”.
J7
· Intervenção: Terapêutico-Social-Investigativo
J12
J11
· Intervenção: Terapêutico-Social-Investigativo
J4
· Intervenção: Terapêutico-Investigativo
J6
· Intervenção: Terapêutico
A busca pela verdade é afastada por todos, mesmo aqueles que consideram a intervenção
investigativa, com exceção de P7 que descreve a utilização de técnicas possíveis para seu
alcance, no entanto não se coloca como perito e sim assessor. P2 não qualifica sua
intervenção, mas se qualifica como assessor e mediador. P3, P5 e P12 descrevem aspectos
sociais que podem estar relacionados à intervenção social ou terapêutica.
P1
· Intervenção: Terapêutica
P2
“O psicólogo não pode buscar a verdade, pois se perderá no seu trabalho, já que cada qual tem
a sua verdade”.
P3
· Intervenção: Social
P5
P7
P8
P12
· Intervenção: Social
5. CONCLUSÃO
O estudo revela que o espaço construído entre a realidade jurídica e psicologia Jurídica como
área de atuação é confuso. Apesar de todo o reconhecimento dado aos psicólogos no contexto
estudado e diante da expansão da psicologia jurídica no Brasil e no mundo, as ações práticas
desenvolvidas e descritas pelos profissionais podem colocar em risco sua atuação como prática
jurídica.
Ao iniciar a pesquisa, a hipótese era de que faltava enfoque jurídico na aplicação prática da
psicologia, que poderiam acarretar distorções de cunho interpretativo. O que em parte se
confirma, no entanto, o estudo surpreende quanto à contradição trazida pelos profissionais
abordados, de cunho conceitual. Os psicólogos se colocam como peritos que não buscam
provas, não fazem terapia e, sim agentes sociais capazes de cuidar daqueles que passam pelo
sistema jurídico, avaliando riscos, e promovendo proteção e prevenção. Intitulam-se
assessores e parceiros, denominação reconhecida apenas por um magistrado, e cujo
significado parece ser traduzido como um auxiliar ou conselheiro que atua em contextos
alternativos do judiciário.
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Angher, 11. Ed. São Paulo: Rideel, 2010.
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Angher, 11. ed. São Paulo: Rideel, 2010.
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CARVALHO, Amilton Bueno; CARVALHO, Salo. Aplicação da Pena e Garantismo. Rio de Janeiro:
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*Servidora do TJDFT é bacharel em Direito e graduada em Psicologia.
Bacharel em Direito pelo Centro Universitário de Brasília- CEUB. Graduada em Psicologia pelo
Centro Universitário de Brasília - UNICEUB. Pós-Graduação Lato Sensu em Ciências Jurídicas,
especialização em Direito Civil e Processo Civil - Universidade Cândido Mendes - UCAM/RJ.
Pós-Graduação Lato Sensu Especialização em Psicologia Jurídica e de Investigação – Instituição
de Ensino Superior UNICLASS/IPOG.
Formação em Psicossomática pelo F.A.Cechin. Servidora do TJDFT desde 1982, onde atuou em:
Práticas Cartorárias Fazenda/Criminal; Assessora Jurídica na área Penal e Processual Penal;
Secretária Substituta Turma Cível; Secretária da Turma Criminal. Atua junto a Subsecretaria
Especializada em Drogas e Perícias
Criminais – SUAQ.