Proibe-se despedir-se da mulher, exceto em caso de fornicação.
Depois, diz-se que se
deve odiar ao pai, à mãe, ao filho, etc. O motivo disso é não odiar o filho em si mesmo, mas abster-se dos laços temporais em excesso, pois, conforme em Gálatas, não haverá grego nem escravo, nem homem nem mulher, e todos serão um só em Cristo. Por isso, devemos amar sem distinções e sem nos prender aos laços temporais. Cristo é tudo em todos. Devemos amar na nossa mulher a qualidade de humano, e não de esposa. Quando estivermos no céu, não faz mais sentido falar em pai, mãe nem esposa. Todos somos irmãos. É dito para que não juremos. Na verdade, não se pode é PERJURAR. É recomendado que não se jure por nada porque, ao fazer isso, fazemos de Deus testemunha de nossas obras, e se falharmos, haverá perjúrio. Diz-se: “nem pela própria vida” porque os judeus costumavam julgar assim para que pudessem, eventualmente, descumprir. Mas aconselha-se que todo juramento é equivalente, logo, preferencialmente, que não se jure por nada. O olho por olho estabelece a lei de talião, em que a reação não ultrapassa o grau da ofensa. É um “mínimo de vingança”. Mais perfeito que isso é não se vingar. Mas, não só isso: é não se vingar e, ainda, estar preparado para receber mais agressões injustas. O mesmo raciocínio pode ser aplicado à túnica e à vese, mas estes se dão num sentido temporal, logo, menos importantes ainda em termos de valor. Claro, não é querer ser maltratado ou apanhar. Em verdade, faz-se isso para mostrar ao outro como se deve agir, para perdoá-lo, mostrar misericórdia. Toda a maldade é, afinal, um sinal de fraqueza do espírito. Até mesmo ter que andar duas milhas deve ser um esforço suportado com paciência. Mas o que te adianta, entretanto, devolver golpe por golpe? Curaste com isso o ferimento feito em teu corpo? Certamente não. Entretanto, uma alma cheia de orgulho procura tais consolos, ao passo que um espírito sadio e forte não encontra nisso prazer algum. Muito ao contrário, julga dever suportar com misericórdia a fraqueza do próximo, em vez de mitigar a sua própria, com o castigo alheio. Aliás, esse auxílio é inexistente. Sim, é possível castigar os filhos, mas sempre com a finalidade de fazer com que eles se tornem pessoas melhores, e nunca para apenas satisfazer uma pretensão irracional. É um castigo de amor, isto é, para tornar melhor. Não se pode confundir esse amor de correção fraterna, como agiu Elias ao fazer o fogo descer dos céus, com o ódio da vingança. Muitos morreram a fim de que seu espírito fosse salvo. O problema é que muitas vezes esses castigos feitos para salvar são confundidos com a simples vingança. Diz-se: “dá o que te pedem”, mas é importante compreender que isso não significa DAR TUDO. Afinal, só se pode dar aquilo que é justo e de honra. Que não se volte as costas a quem pede emprestado. E que não se dê em vista de recompensa divina. O simples ato de dar, com o coração limpo, já faz com que Deus devolva com coisas muito mais valiosas. Neste sentido que se fala em EMPRÉSTIMO, afinal, Deus sempre devolve aquilo que damos a quem necessita. Devolve, é claro, de maneira melhor. Devemos ser, portanto, perfeitos como Deus. Ser no sentido de querer-ser. Devemos amar até nossos inimigos. E isso pode sim parecer contraditório, já que, em diversos momentos, a “ira de Deus recai sobre os povos”. Na verdade, Deus não tem ira. O que se diz através de tais metáforas não é um desejo maldoso de Deus, mas uma PREVISÃO DIVINA de um mal que está para acontecer devido às más ações dos homens. Creio que é neste sentido que o profeta disse que o filho de Davi certamente iria morrer. Não se tratava de um desejo do profeta, mas de uma previsão que Deus fez. No entanto, é costume dos profetas predizer o futuro sob forma de imprecação. Quando vemos que uma alma não possui chance de salvação, é melhor nem rezar para ela, pois não queremos que o Juiz rejeite nosso pedido se já sabemos que a oração é, por si só, inútil. É certo que todos somos filhos de Deus, mas quando se fala em “tornar-se filhos de Deus”, fala-se no sentido de ficarmos mais parecidos com ele, pois o filho assemelha-se ao Pai, e não no sentido de “sermos” a criação de Deus, pois já somos. Quando Jesus se refere ao sol, fala-se sobre um sol no sentido da “luz eterna de Deus”, e não ao astro. Essa luz, no caso, não foi tirada de nenhum outro elemento, como sabemos bem em Gênesis. É um sol, no entanto, que se levanta para os bons. Para os maus, ele aparece como forma de lamentação. Claro: ele aparece para ambos, mas desperta sensações respectivas. Retomando o tema: não se trata de apanhar de graça. DEUS NÃO QUER O SACRIFÍCIO, MAS A MISERICÓRDIA. Trata-se de primar pela salvação do fraco. A misericórdia é, deste modo, o escopo. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso! E se vocês saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês". Mateus 5:46-48 Aqui, como se nota, diz-se que não se pode imitar a Deus em apenas um aspecto, mas todos, pois se assim não o for, não iremos nos diferenciar dos demais. Livro 2 – Mateus 6 e 7
Enquanto o escopo de Mateus 6 é falar sobre a misericórdia, o escopo aqui é tratar da
pureza de coração. Não devemos fazer boas obras para conseguir elogios dos homens, e nem devemos elogiar a conduta dos homens que fazem boas obras para glorificar os homens. Por isso, não importa tanto “fazer para serdes vistos”, pois isto impede o recebimento do galardão. Devemos ser bons e retos apenas por sermos bons e retos, e não para transparecer algo aos outros. Hora, isso não impede de fazer em público, afinal, se somos a luz do mundo, devemos iluminar a todos. No entanto, fazemos isso não com a finalidade de sermos vistos, mas para que se glorifique a Deus. E por isso, não devemos elogiar as pessoas por suas condutas, mas glorificar a Deus por meio de seus atos, afinal, é Deus que merece toda a glória, e não o homem. Ajudar o próximo para ver o bem do próximo é sim proveitoso, mas com a especial finalidade de sentirmos mais de perto a dita caridade, já que esta é uma virtude que queremos para nossa salvação. A mão direita representa a reta vontade de estar em conformidade com os desejos divinos, e a esquerda, de obter louvores temporais. Neste sentido, que o divino não se misture com o temporal. 110