ALIMENTOS
autora
MANOELA PESSANHA DA PENHA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.
isbn: 978-85-5548-520-6
Grupos de alimentos 11
Alimentos funcionais 13
2. Macronutrientes 29
Proteínas 30
Química das proteínas 31
Recomendações e fontes alimentares 35
Importância biológica 36
Enzimas 36
Carboidratos 38
Química dos carboidratos 38
Recomendações e fontes alimentares 47
Importância biológica 48
Fibras: características, fontes alimentares e efeitos sobre a saúde 48
Alternativas aos açúcares 52
Lipídeos 56
Química dos lipídeos 56
Recomendações e fontes alimentares 60
Importância biológica 60
3. Micronutrientes 65
Vitaminas 67
Vitaminas hidrossolúveis 67
Vitaminas lipossolúveis 76
Minerais 83
Funções no organismo 83
Deficiências e toxicidade 85
Recomendações e fontes alimentares 86
4. Biodisponibilidade de nutrientes 91
Biodisponibilidade de nutrientes 92
Aplicabilidade 94
Recomendações de nutrientes 94
Recomendações atuais 95
Definições das DRIs 95
Limite superior tolerável de ingestão 96
Hortaliças 126
Laticínios 132
Prezados(as) alunos(as),
7
alimentos, abordados no capítulo 5, e sobre como podemos aproveitar esses nu-
trientes para melhora e/ou manutenção da saúde do organismo humano.
Bons estudos!
1
Introdução
ao estudo da
Composição dos
Alimentos
Introdução ao estudo da Composição dos
Alimentos
OBJETIVOS
• Identificar as leis da alimentação;
• Conhecer os grupos de alimentos (energéticos, construtores e reguladores) e suas fontes
na alimentação humana;
• Conhecer a versão atualizada do Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014);
• Entender os conceitos sobre alimentos funcionais e a importância desses alimentos na
saúde humana;
• Classificar os alimentos conforme suas propriedades físico-químicas, estado físico
e natureza.
Leis da alimentação
capítulo 1 • 10
Escudeiro, em 1934, em que alimentação e nutrição foram associadas entre si
por meio de suas relações com fatores econômicos e sociais (BEZERRA, 2012).
Mesmo com o passar dos anos, as leis da alimentação ainda se apresentam como
referências atuais em relação às orientações para a nossa alimentação. As leis da
alimentação e seus postulados estão descritos na tabela a seguir.
POSTULADOS
LEI DA A quantidade de alimentos ingerida deve ser suficiente para suprir
QUANTIDADE as necessidades energéticas do organismo.
Com base nos postulados das leis da alimentação descritos pelo argentino
Pedro Escudero, entendemos que a alimentação deve ser quantitativamente sufi-
ciente, qualitativamente completa, além de harmoniosa em seus componentes e
adequada à sua finalidade e ao organismo a que se destina, contribuindo para o
estado geral de saúde do indivíduo.
Grupos de alimentos
capítulo 1 • 11
Os alimentos energéticos fornecem energia aos indivíduos. São ricos em carboi-
dratos (cereais – arroz, milho, trigo; pães; massas; bolos; tubérculos – batata, inhame,
cará; açúcares, mel, melado) e em lipídeos (óleos vegetais, margarinas, banha de porco).
©© WICHY | SHUTTERSTOCK.COM
Os alimentos construtores
fornecem substratos para constru-
ção dos tecidos e órgãos do nosso
corpo (pele e músculos). São ricos
em proteínas, como as carnes (de
boi, porco, aves, peixes), os ovos,
leites e derivados, as leguminosas
(feijões, lentilha, ervilha).
Figura 1.3 – Alimentos ricos em proteínas.
©© MONTICELLO | SHUTTERSTOCK.COM
Já os reguladores fornecem
substâncias essenciais ao bom fun-
cionamento do corpo, auxiliando
no crescimento e desenvolvimen-
to do organismo, bem como na
prevenção e redução do risco de
doenças. São ricos em vitaminas e
minerais como as frutas e hortaliças
(legumes e verduras). Figura 1.4 – Alimentos ricos em vitaminas e
minerais.
capítulo 1 • 12
Ao longo da disciplina de Composição de Alimentos, o aluno terá maior apro-
fundamento sobre as características químicas e físico-químicas dos alimentos, que
passarão a ser agrupados separadamente de acordo com o nutriente majoritário
em sua composição, bem como características de sua origem. Ao final do livro
didático, os alimentos serão reagrupados em seis grandes grupos, a saber:
• Açúcares e frutas; • Carnes e ovos;
• Cereais e leguminosas; • Laticínios;
• Hortaliças; • Óleos e gorduras.
Alimentos funcionais
capítulo 1 • 13
para esse grupo de alimentos. Os alimentos funcionais podem ser entendidos
como aqueles que, além das propriedades nutricionais básicas, apresentam pro-
priedades benéficas, auxiliando na redução do risco das DCNT.
Segundo Dolinsky (2009), os alimentos funcionais se caracterizam por ofe-
recer vários benefícios à saúde de quem os consome com regularidade, além do
valor nutritivo inerente à sua composição química básica. Esses alimentos podem
ser classificados quanto à sua origem (animal ou vegetal) ou quanto aos benefícios
que podem oferecer ao nosso organismo.
Os alimentos funcionais e os nutracêuticos comumente têm sido conside-
rados sinônimos, no entanto, os alimentos funcionais devem estar na forma de
alimento comum, serem consumidos como parte da dieta e produzir benefícios
específicos à saúde, tais como a redução do risco de diversas doenças e a manuten-
ção do bem-estar físico e mental.
Alimentos funcionais podem ser definidos como alimentos semelhantes em
aparência ao alimento convencional, consumido como parte da dieta usual, ca-
paz de produzir efeitos metabólicos ou fisiológicos demonstráveis, úteis na ma-
nutenção de uma boa saúde física e mental, podendo auxiliar na redução do risco
de doenças crônicas não transmissíveis, além de suas funções nutricionais básicas
(COZZOLINO, 2012).
Nutracêuticos são produtos que têm constituintes bioativos, extraídos de ali-
mentos, porém comercializados na forma de
produtos farmacêuticos,
como cápsulas, soluções,
géis, pós e granulados.
Essa variedade de pro-
dutos não pode ser
verdadeiramente clas-
sificada como alimen-
tos, então um termo
híbrido de “nutrientes”
e “farmacêuticos” foi cria-
© ROMARIOIEN | SHUTTERSTOCK.COM
capítulo 1 • 14
Nutracêuticos são produtos que têm constituintes bioativos, extraídos de
alimentos, porém comercializados na forma de produtos farmacêuticos, como
cápsulas, soluções, géis, pós e granulados. Essa variedade de produtos não
pode ser verdadeiramente classificada como alimentos, então um termo híbri-
do de “nutrientes” e “farmacêuticos” foi criado pela Foundation for Innovation
in Medicine dos Estados
© MONTICELLO | SHUTTERSTOCK.COM
Unidos em 1989/90. Essa
variedade de produtos não
pode ser verdadeiramente
classificada como alimentos,
então um termo híbrido de
“nutrientes” e “farmacêuticos”
foi criado pela Foundation for
Innovation in Medicine dos
Estados Unidos em 1989/90.
GRUPOS DE
CARACTERÍSTICAS
ALIMENTOS
Probióticos: micro-organismos que contribuem para o controle da mi-
crobiota intestinal, o que traz benefícios imunológicos, melhoria nos
níveis plasmáticos de lipídeos, dentre outros. Geralmente os iogurtes
e leites fermentados são os alimentos mais comuns a serem suplemen-
tados com probióticos.
PROBIÓTICOS, Prebióticos: oligossacarídeos não digeríveis, porém fermentáveis, cuja
PREBIÓTICOS E função é mudar a atividade e a composição da microbiota intestinal,
com a perspectiva de promover a saúde do hospedeiro. A inulina e os
SIMBIÓTICOS FOS (fruto-oligossacarídeos) são exemplos de fibras que atuam dessa
forma, estando presente em alimentos como a chicória, alhos, banana,
alcachofra, dentre outros.
Simbióticos: produtos que têm a combinação de probióticos e
prebióticos.
capítulo 1 • 15
GRUPOS DE
CARACTERÍSTICAS
ALIMENTOS
São carboidratos não digeríveis pelas nossas enzimas. Podem ser
classificadas em fibras solúveis e insolúveis, de acordo com a
sua capacidade de absorção e dissolução em meio aquoso. As
fibras solúveis, como a pectina e as gomas tendem a formar géis
quando em contato com água, o que favorece a saciedade, além
de auxiliar na redução dos níveis de triglicerídeos, glicose e coles-
terol. Além disso, as fibras solúveis parecem ter ação na redução
da absorção de ácidos biliares, exercendo atividade hipocoleste-
FIBRAS rolêmica. Essas fibras, por serem fermentáveis, serão utilizadas
DIETÉTICAS pelas bactérias intestinais e consequentemente, acabam aumen-
tando a produção de gases. Já as fibras insolúveis permanecem
intactas em todo o trato gastrointestinal. São fibras insolúveis:
lignina, celulose e hemicelulose. Elas incrementam o bolo fecal,
estimulam a peristalse e contribuem para o aumento da excreção
dos ácidos biliares, o que também tem efeito hipocolesterolêmico.
As fibras dietéticas estão presentes em alimentos de origem ve-
getal, como leguminosas, frutas, verduras e legumes, assim como
cereais integrais.
São fibras solúveis e fermentáveis, as quais não sofrem ação das
nossas enzimas digestivas. No entanto, chegam ao nosso intes-
tino grosso e atuam como substrato para geração de energia
pelas bactérias colônicas. A fermentação realizada por bactérias
anaeróbicas do cólon, leva à formação de gases, ácido lático e
INULINAS E FOS ácidos graxos de cadeia curta, o que reduz o pH do lúmen e es-
timula a proliferação das células epiteliais do cólon, que passam
sempre por uma renovação. A inulina e o FOS (fruto-oligossaca-
rídeos) estão presentes em vegetais, como a chicória, alcachofra,
aspargos, banana-verde, dentre outros.
Compostos orgânicos usados na proteção contra a carcinogêne-
COMPOSTOS se e mutagênese, sendo ativadores de enzimas na detoxificação
SULFURADOS E do fígado. Estão presentes em frutas e hortaliças como os ve-
getais crucíferos, a saber: repolho, brócolis, rabanete, palmito e
NÃO SULFURADOS alcaparras.
São fitoquímicos, vitaminas e minerais que atuam atrasando ou
inibindo o início ou a propagação das reações de oxidação em
cadeia, as quais levam ao dano celular. Também presentes em
ANTIOXIDANTES frutas, verduras e legumes. Destacam-se alguns minerais (cobre,
manganês, zinco, selênio e ferro), vitaminas (A, E e C), carote-
noides (betacarotenos, licopeno, luteína), flavonoides (quercetina,
genisteína) e taninos (catequinas).
capítulo 1 • 16
GRUPOS DE
CARACTERÍSTICAS
ALIMENTOS
São inúmeras substâncias, com diferentes níveis de comple-
xidade, sendo classificados em diferentes grupos. Englobam
alguns pigmentos como as antocianinas e antoxantinas, as iso-
COMPOSTOS flavonas e outras substâncias de efeito antioxidante de efeito
FENÓLICOS sistêmico. Presentes em alimentos dos mais variados, de prefe-
rência frescos, como frutas, verduras e legumes, e em produtos
à base de soja (isoflavonas).
capítulo 1 • 17
Leia mais em: LIRA, C. R. G.; ZUCCO, F; NEGRÃO, A. N.; SILVA,
M. A. S.; MURAKAMI, F. S. Nutracêuticos: Aspectos sobre Segurança,
Controle de Qualidade e Legislação. Revista Brasileira de Farmácia, Rio de Janeiro,
v. 90, n. 1, p. 45-49, 2009. Disponível em: <http://www.rbfarma.org.br/files/
pag_45a49_180_nutraceuticos.pdf>.
Leia mais em: FOOD INGREDIENTS BRASIL. Probióticos, prebióticos
e simbióticos. Revista FI. n. 17, 2011. Disponível em: <http://www.revista-fi.
com/materias/177.pdf>.
capítulo 1 • 18
são controladas por características químicas desses grupos, localização no tecido
(animal ou vegetal) e condições do meio, como temperatura, pH, força iônica e
tipos de íons, atividade água, potencial de oxidação/redução e viscosidade dos
fluidos (DAMODARAN; PARKIN; FENNEMA, 2010).
Todos os fatores citados anteriormente sofrem alterações durante o período
de pré-colheita ou pós-abate, bem como durante a estocagem das matérias-primas
e como consequência do processamento. As interações físicas entre os diferentes
constituintes dos alimentos costumam ocasionar mudanças em seus atributos físi-
cos e sensoriais (DAMODARAN; PARKIN; FENNEMA, 2010).
As interações físico-químicas entre os componentes dos alimentos são res-
ponsáveis pela formação de dispersões, como as emulsões e espumas, e pelas
propriedades de diversos produtos. Elas afetam a qualidade sensorial de atri-
butos de processamento dos alimentos, como propriedades de fluxo e resistên-
cia ao corte.
Portanto, percebe-se a necessidade de se compreender as interações químicas
e físico-químicas entre os componentes dos alimentos, uma vez que elas exercem
papel fundamental no desenvolvimento das propriedades sensoriais e nutricionais
desejáveis e indesejáveis nos alimentos sob diferentes condições de processamento
e/ou armazenamento.
Higroscopicidade
capítulo 1 • 19
que os açúcares puros. Isso acontece por que as impurezas dificultam as reações
entre as moléculas de açúcar, disponibilizando as hidroxilas para interagir com as
moléculas de água (ORDÓÑEZ, 2005).
A higroscopicidade dos carboidratos pode ser desejável ou indesejável em ali-
mentos. A manutenção da umidade de produtos de confeitaria e panificação pode
ser atribuída à presença de carboidratos, que formam uma camada superficial li-
mitando a perda de água e, portanto, causando um efeito desejável nesse tipo de
produto. Produtos granulados e em pó podem formar aglomerados devido à inte-
ração com a água, limitando a posterior solubilidade dos açúcares, o que se torna
indesejável (ORDÓÑEZ, 2005).
Estado vítreo
Cristalização
capítulo 1 • 20
Observa-se que quanto mais lento é o resfriamento, maior é o tamanho dos
cristais. Isso é interessante para alguns alimentos como o leite condensado. Esse
produto pode ter a formação de cristais de lactose, o que confere textura arenosa
que não é desejável do ponto de vista sensorial.
Poder edulcorante
capítulo 1 • 21
PROPRIEDADE FUNCIONAL ALIMENTOS
Solubilidade, viscosidade Bebidas
Tabela 1.3 – Propriedade funcional das proteínas que influem em diferentes siste-
mas alimentícios.
Propriedades hidrodinâmicas
São aquelas que dependem da interação das proteínas com a água. Podemos
citar a absorção e retenção de água, inchamento, adesão, dispersividade, solubi-
lidade e viscosidade, geleificação, precipitação e formação de diferentes estrutu-
ras como fibras e massas proteicas. Essas características serão estudadas com mais
detalhes no capítulo 2.
capítulo 1 • 22
Propriedades ligadas à característica de superfície
Todas essas propriedades dos lipídeos contribuem para suas funções nos ali-
mentos, como emulsificantes, estabilizantes, flavorizantes, texturizantes, umectan-
tes, transmissão de calor a altas temperaturas, entre outros.
A maioria dos alimentos são sistemas dispersos. Alguns são soluções homo-
gêneas, como óleos vegetais e alguns são bebidas. Mas mesmo algumas bebidas,
como a cerveja, na forma como é consumida, tem uma camada de espuma.
As propriedades de um sistema disperso não podem ser completamente
derivadas de sua composição química, pois elas também dependem da sua
estrutura física. Observamos que os alimentos, de um modo geral, naturais,
capítulo 1 • 23
processados e ultraprocessados, podem apresentar estruturas um pouco mais
simples: a espuma da cerveja é uma solução que contém bolhas de gás; o
leite é uma solução que contém agregados de gorduras e de proteínas (mice-
las de caseína); as gorduras plásticas apresentam ácidos graxos e triglicerídeos
agregados; os molhos podem ser simples emulsões e os géis consistem em
redes de polissacarídeos que imobilizam soluções (DAMODARAN; PARKIN;
FENNEMA, 2010).
Moléculas anfipáticas são moléculas que interagem tanto com a água quanto com
os lipídeos. As proteínas e os fosfolipídeos são exemplos clássicos de moléculas anfi-
páticas ou também chamadas de anfifílicas.
capítulo 1 • 24
Coalescência pode ser entendida como uma larga distribuição de tamanho das go-
tículas dispersas, resultando na separação de fases de forma visível ao olho nu. Logo,
num estado de coalescência, as fases se misturam, solubilizando as gotículas no meio
(FRANGE; GARCIA, 2009).
capítulo 1 • 25
Natureza dos alimentos
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capítulo 1 • 26
como elemento fundamental no nosso metabolismo, participando ativamente das
nossas reações químicas, como meio reacional, bem como contribuindo para o
equilíbrio osmótico, ácido-base do organismo e sendo componente principal dos
mecanismos de termorregulação do nosso corpo.
RESUMO
Os nutrientes são componentes dos alimentos, responsáveis por nutrir o nosso organis-
mo e por diversas funções específicas. Carboidratos, proteínas, lipídeos, vitaminas e minerais,
além da água, são os macro e micronutrientes que compõem os alimentos. Os alimentos
energéticos são fonte de carboidratos e lipídeos, enquanto que os construtores são fonte
de proteínas e os reguladores, fonte de vitaminas e minerais. Segundo o Guia Alimentar
para a População Brasileira, devemos priorizar o consumo dos alimentos naturais (in natura)
em detrimento aos alimentos processados e ultraprocessados. Dentro dessas classificações,
reconhecemos que os alimentos podem ser ainda agrupados de acordo com sua origem
em origem animal, origem vegetal e mineral. Cada grupo apresenta suas particularidades, e
conhecer a composição dos alimentos torna-se extremamente importante para podermos
orientar a alimentação de indivíduos e coletividades, bem como transformar física e quimi-
camente esses alimentos para melhor aproveitamento dos nutrientes que eles oferecem,
buscando-se atingir as recomendações necessárias para se ter uma vida saudável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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e produtivos: análise da produção científica em nutrição no Brasil, 1934-1941. História, Ciências,
Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 157-179, 2012.
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1999. Aprova o Regulamento Técnico que estabelece as diretrizes básicas para análise
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alimentos, constante do anexo desta portaria. Brasília/DF, 1999.
BRASIL. Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Guia para Comprovação da Segurança
de Alimentos e Ingredientes. Gerência de Produtos Especiais. Gerência Geral de Alimentos.
Brasília/DF, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Guia Alimentar para a População Brasileira/Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde,
Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
capítulo 1 • 27
COZZOLINO, S. M. F. Nutracêuticos: o que significa? Abeso – Associação Brasileira para o Estudo da
Obesidade, fevereiro 2012.
DAMODARAN, S; PARKIN, K. L.; FENNEMA, O; R. Química de alimentos de Fennema. 4. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2010.
DOLINSKY, M. Nutrição Funcional. São Paulo: Roca, 2008.
FIGUEREDO, R. C. R; RIBEIRO, F. A. L.; SABADINI, E. Science offoams – application in fire-
fighting. Quim. Nova; v. 22, n.1, p.126-130, 1999.
FRANGE, R. C. C.; GARCIA, M. T. J. Desenvolvimento de emulsões óleo de oliva/água: avaliação da
estabilidade física. Rev. Ciênc. Farm. Básica Apl.; v. 30,n. 3, p. 263-271, 2009.
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MORAES, F. P.; COLLA, L. M. Functional foods and nutraceuticals: definition, legislation and health
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ORDÓÑEZ, J. A Tecnologia de Alimentos. Componentes dos alimentos e processos. v. 1. Porto
Alegre: Artmed, 2005.
capítulo 1 • 28
2
Macronutrientes
Macronutrientes
Os macronutrientes compreendem os componentes essenciais dos alimen-
tos. São as proteínas, carboidratos e lipídeos que participam da composição dos
alimentos in natura, processados e ultraprocessados, cujas funções são diversas,
tanto no aspecto físico-químico e sensorial dos alimentos, bem como na saúde
humana. São os macronutrientes que nos fornecem a energia necessária para o
bom funcionamento do organismo, por meio das calorias liberadas durante a
sua metabolização.
Neste capítulo serão abordadas as definições e a classificação dos macronu-
trientes, a saber: proteínas, carboidratos e lipídeos. Serão exploradas as característi-
cas químicas desses componentes dos alimentos; sua importância biológica; reco-
mendações nutricionais e fontes alimentares, bem como algumas particularidades
inerentes a cada um desses macronutrientes.
OBJETIVOS
• Reconhecer as estruturas químicas das proteínas, dos carboidratos e lipídeos;
• Identificar suas fontes alimentares e recomendações de ingestão dos macronutrientes;
• Relacionar as funções biológicas dos macronutrientes ao metabolismo.
Proteínas
capítulo 2 • 30
do sistema imune (anticorpos), hormônios (insulina, hormônio do crescimento)
etc. Cabe ressaltar que essa diversidade de função está intimamente ligada à sua
composição química.
Aminoácidos
H O
H2N C C
carbono α OH
R
Figura 2.1 – Estrutura básica de um aminoácido.
capítulo 2 • 31
AMINOÁCIDOS
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capítulo 2 • 32
Além dessa classificação, uma forma usual de classificar os aminoácidos diz
respeito à sua síntese no nosso organismo. Classificamos os aminoácidos em
essenciais e não essenciais. Os aminoácidos essenciais são aqueles que o nosso
corpo não sintetiza e, portanto, sendo necessários à ingestão por meio da alimen-
tação. Já os não essenciais podem ser sintetizados pelo organismo.
Essa classificação permite classificar as proteínas em proteínas de alto ou bai-
xo valor biológico, sendo as de alto valor biológico aquelas que apresentam to-
dos aminoácidos essenciais e as de baixo valor biológico aquelas que apresentam
algum aminoácido limitante, ou seja, ausente ou em concentrações abaixo dos
nossos requerimentos. A tabela a seguir apresenta a classificação dos aminoácidos
quanto à sua síntese no organismo e à necessidade de obtenção por meio da dieta.
Histidina Asparagina
Isoleucina Aspartato
Leucina Cisteína
Lisina Glutamato
Metionina Glutamina
Fenilalanina Glicina
Treonina Prolina
Triptofano Serina
Valina Tirosina
capítulo 2 • 33
de qualquer aminoácido não essencial que se apresente em quantidade reduzida
(COULATE, 2004).
H H O H H H O H
O O
HN C C + H NH C C HN C C NH C C + H 2O
OH OH OH
H H H H
ligação peptídica
capítulo 2 • 34
hidrogênio. Essas interações ocorrem entre vários grupos na proteína. São exem-
plos de proteínas de estrutura terciária a faseolina (do feijão) e a lactoalbumina
(do leite).
Já a estrutura quaternária refere-se ao rearranjo espacial de uma proteína
quando ela contém mais de uma cadeia polipeptídica. Ou seja, ocorre a agregação
de várias subunidades de estruturas terciárias. Como exemplos de estruturas qua-
ternárias, temos as proteínas: hemoglobina, glicinina.
Cabe ressaltar que o processo de dobramento de uma cadeia de proteína alea-
tória, para a formação de uma estrutura tridimensional, é bastante complexo. A
base para a conformação biológica nativa da proteína está codificada na sequência
de aminoácidos que a formam (DAMODARAN; PARKIN; FENNEMA, 2010).
capítulo 2 • 35
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2007), a reco-
mendação de proteínas é de 0,8 g de proteínas por kg de peso corpóreo. É ne-
cessário ressaltar que, de modo geral, as necessidades de proteínas representam
quantidades específicas para a manutenção da saúde em indivíduos normais. Para
praticantes de atividade física, esses valores podem aumentar para até 1,4 g/kg/dia.
No entanto, sabe-se que a média de consumo do brasileiro é bem superior ao re-
comendado. Considerando o gasto energético e valor energético total (VET) para
cada indivíduo, recomenda-se a ingestão de 10% a 15% do VET em proteínas.
Importância biológica
Enzimas
As enzimas são proteínas com ação catalítica, ou seja, elas participam de rea-
ções químicas, acelerando a velocidade dessas reações. Quase todas as reações que
acontecem no nosso metabolismo são mediadas por enzimas, poupando o gasto
de energia e acelerando todos os processos metabólicos. Nesses processos, as enzi-
mas não sofrem alterações, permanecendo intactas ao final da reação.
capítulo 2 • 36
As enzimas apresentam algumas propriedades importantes que definem sua atua-
ção nos processos metabólicos. Durante a formação das enzimas, estruturalmente
ocorre a formação do que chamamos de sítio ativo ou sítio catalítico, que tem afini-
dade química pelos substratos, aos quais as enzimas se ligam para promover as reações.
Sítio ativo ou sítio catalítico é a região específica em forma de fenda ou
bolso, em que as cadeias laterais de aminoácidos estão disponíveis, criando uma
superfície tridimensional complementar ao substrato. Ao se ligar ao substrato, a
enzima forma o complexo enzima-substrato.
As reações catalisadas por enzimas são altamente eficientes, ou seja, elas são
cerca de 103 a 108 vezes mais rápidas que as reações não catalisadas. Cada molé-
cula de enzima é capaz de transformar de 100 a 1000 moléculas de substrato em
produto/segundo. As enzimas são altamente específicas, interagindo com um ou
alguns poucos substratos e catalisando apenas um tipo de reação química. Isso
ocorre por que as enzimas têm os sítios ativos, em que as cadeias laterais dos
aminoácidos estão disponíveis para reagir com o substrato e formar o complexo
enzima-substrato (CHAMPE; HARVEY; FERRIER, 2009).
MODELO CHAVE-FECHADURA
(degradação)
Produtos
Substrato
(sacarose) Frutose
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Centro ativo
Complexo
Enzima Enzima/Produto
Enzima
Figura 2.4 –
capítulo 2 • 37
Além dessa ação interessante em técnica dietética, as enzimas em alimentos
podem participar de reações químicas que modificam características sensoriais dos
alimentos onde elas se encontram. As polifenoloxidases são enzimas presentes em
frutas e hortaliças que participam dos processos de amadurecimento desses alimen-
tos. Elas participam das reações de oxidação dos compostos fenólicos presentes em
frutas e hortaliças, provendo a formação de compostos de coloração amarronzada, as
melanoidinas, o que pode causar a rejeição do produto, do ponto de vista sensorial.
Na indústria de alimentos, as enzimas podem atuar como coadjuvantes de
tecnologia, a fim de modificar a composição dos alimentos, sem no entanto, con-
tribuir para o valor nutricional do mesmo ou continuar no produto final. Um
exemplo de enzimas de uso na indústria de alimentos é a lactase, utilizada na ob-
tenção de produtos com teor reduzido de lactose e a invertase, usada na fabricação
de açúcar invertido a partir da hidrólise da sacarose.
Carboidratos
capítulo 2 • 38
CH2OH CH2OH CH2OH
O H O OH O OH
H HO
H H
OH H HO CH2OH OH H
HO OH H H
H OH OH H OH
Glucose Fructose Galactose
Figura 2.5 – Estrutura química dos monossacarídeos.
Maltose Celobiose
Trealose
capítulo 2 • 39
Os polissacarídeos são moléculas mais complexas, formadas por mais de
10 moléculas de monossacarídeos. Os exemplos mais conhecidos de polissaca-
rídeos são o amido, o glicogênio, a celulose e a quitina. Os polissacarídeos têm
como funções principais a capacidade de armazenar energia e de participar da
estruturação de tecidos.
O amido, presente na batata, no trigo, no arroz, no milho e em outros ali-
mentos de origem vegetal constitui-se como a molécula de reserva energética dos
tecidos vegetais. Já o glicogênio é o polissacarídeo de reserva energética de células
animais, presente principalmente no tecido muscular e no tecido hepático. Na
maioria das vezes, essas moléculas estruturais não são digeríveis pelas nossas enzi-
mas digestivas e passam intactas pelo trato gastrointestinal dos humanos.
capítulo 2 • 40
interconvertidos, processo esse chamado de mutarrotação (CHAMPE; HARVEY;
FERRIER, 2009).
capítulo 2 • 41
PROPRIEDADES DESCRIÇÃO
A sacarose é definida como o açúcar padrão de poder edulco-
PODER rante 100. Açúcar invertido e frutose têm poder edulcorante su-
EDULCORANTE perior a sacarose, enquanto glicose, lactose, galactose, maltose
e xilose apresentam baixo poder edulcorante.
capítulo 2 • 42
HO O Açúcares
OH
DNA OH OH
Ribose
CH2OH
H O H
H Reação de Maillard Novos
OH H (alta temperatura) sabores
HO OH
H OH
Glicose Cor marrom
Proteína
R O
H2N C C OH
Grupo H Grupo ácido
amina carboxílico Aminoácidos
Caramelização
capítulo 2 • 43
Portanto, o caramelo produzido comercialmente pode ser utilizado tanto como
corante quanto como aromatizante. Na reação de caramelização, o carboidrato é
aquecido isoladamente ou na presença de uma base, um ácido ou um sal, todos de
grau alimentício. O carboidrato mais utilizado é a sacarose, mas também podem ser
utilizados nesse processo os melados, xaropes de glicose, açúcar invertido e dextroses.
CARAMELIZAÇÃO
Meio ácido
HC O HCOH
HCOH COH
H
HOCH HOCH
HCOH HCOH
HCOH HCOH
CH2OH CH2OH
Glicose 1,2, enol
1ª Etapa
HC O HC O HC O HC O
ou H H
COH C O C O C C C
CH H
– H2O CH CH2 – H2O CH – H 2O
O HOH2C C C C
HCOH HCOH HC HC O O
C 5 - hidroximetil
HCOH HCOH HCOH
2 - furaldeído
CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH hidroxi metil - furfural
( HMF )
2ª Etapa
capítulo 2 • 44
fermentar esses oligossacarídeos, produzindo grandes quantidades de hidrogênio
e gás carbônico (CO2), o que contribui para o aparecimento de desconforto gas-
trointestinal como a flatulência (COULATE, 2004).
OH
O CH2
OH
O CH2OH O OH
OH
O
OH CH2OH
CH2OH O
rafinose OH
OH OH
OH
O
CH2OH
OH
CH2 estaquiose
O OH O CH2OH O OH
OH O
OH CH2 OH CH2OH
O O
OH
OH OH OH
capítulo 2 • 45
O amido é a molécula de polissacarídeo que tem função de reserva energética
em tecidos vegetais. Essa molécula é formada por dois polímeros de glicose: ami-
lose, essencialmente linear e a amilopectina, de estrutura ramificada.
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Amilose
Amilopectina
capítulo 2 • 46
Ao contrário do que ocorre na gelatinização, com o passar do tempo, as molé-
culas de amilose se associam e cristalizam eficazmente, fenômeno esse conhecido
como retrogradação. A retrogradação faz as soluções diluídas de amido perderem
a viscosidade e pastas concentradas e géis tornam-se “borrachentas” e exsudam
água. Esse fenômeno ocorre durante o armazenamento de uma série de produtos
alimentícios. O amido é usado frequentemente como agente espessante de molhos
e recheios de tortas. Quando essas tortas são congeladas, a amilose sofrerá retro-
gradação rapidamente, havendo a formação de fase aquosa e desagregação do gel
anteriormente formado.
Em produtos de panificação e outros produtos assados, o amido tem papel
importante na formação das massas. Parte do amido pode ser hidrolisado por en-
zimas naturalmente presente em farinhas, promovendo a liberação de moléculas
mais simples, como maltose e glicose, que poderão ser utilizadas pelas leveduras
para a formação de gás carbônico e consequente crescimento da massa. Uma vez
no forno, os grânulos de amido se gelatinizam e dão a forma do produto.
Leia mais em: PARAGINSKI, R. T.; ZIEGLER, V.; TALHAMENTO,
A.; ELIAS, M. C.; DE OLIVEIRA, M. Propriedades tecnológicas e de coc-
ção em grãos de arroz condicionados em diferentes temperaturas antes da par-
boilização. Brazilian Journal of Food Technology; Campinas, 17 (2): 146-153,
2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1981-67232014000200007&lng=pt&nrm=iso&tlng=en>.
capítulo 2 • 47
são alimentos ricos em açúcares simples, como glicose e frutose. A sacarose, co-
nhecida como o açúcar simples, de mesa é basicamente derivada da cana-de-açú-
car e da beterraba e tem seu uso bem fundamentado nos produtos de confeitaria e
panificação, como caldas, doces em pasta, compotas, geleias, pães, bolos e tortas.
A lactose, principal carboidrato do leite e derivados apresenta-se nesses produ-
tos e possui papel importante na obtenção de texturas diferenciadas em produtos
como leite condensado e doce de leite, uma vez que possui amplo poder de cris-
talização e, dependendo do seu aquecimento, pode levar a formação de texturas
“arenosas” nesse tipo de produto.
Importância biológica
capítulo 2 • 48
dietéticas. A característica comum a essas moléculas é que elas não são digeridas
pelas nossas enzimas digestivas e, portanto, definidas assim como fibras alimen-
tares. Nesse grupo também se incluem não só polímeros de carboidratos, mas
também os oligossacarídeos como a rafinose e a estaquiose.
Os carboidratos que não são digeridos pelas nossas enzimas digestivas poderão ser
metabolizados pelos micro-organismos que compõem a microbiota intestinal, princi-
palmente no intestino grosso, produzindo ácidos graxos de cadeia curta, os quais são
absorvidos pelos colonócitos e utilizados como fonte de energia e renovação celular.
Os componentes da fibra alimentar dividem-se nos grupos: polissacarídeos não
amido, oligossacarídeos, carboidratos análogos (amido resistente e maltodextrinas re-
sistentes), lignina, compostos associados à fibra alimentar (compostos fenólicos, pro-
teína de parede celular, oxalatos, fitatos, ceras, cutina e suberina) e fibras de origem
animal (quitina, quitosana, colágeno e condroitina) (TUNGLAND; MEYER, 2002).
Didaticamente, as fibras são classificadas como fibras solúveis ou facilmen-
te fermentáveis no cólon, como a pectina, ou como fibras insolúveis como a
celulose, que tem ação no aumento de volume do bolo fecal, mas com limitada
fermentação no cólon. Uma parcela da fermentação dos componentes da fibra
alimentar ocorre no intestino grosso, o que produz impacto sobre a velocidade do
trânsito intestinal, sobre o pH do cólon e sobre a produção de subprodutos com
importante função fisiológica (BERNAUD; RODRIGUES, 2013).
As fibras solúveis são assim chamadas por absorver água, formando géis viscosos.
Não são digeridas no intestino delgado e são facilmente fermentadas pela microflora
do intestino grosso. São solúveis as pectinas, as gomas, a inulina e algumas hemice-
luloses. Entretanto, as fibras insolúveis não são solúveis em água, não formam géis e
sua fermentação é limitada. São insolúveis a lignina, celulose e algumas hemicelulo-
ses. A maioria dos alimentos que contêm fibras é constituída de um terço de fibras
solúveis e dois terços de insolúveis (BERNAUD; RODRIGUES, 2013).
As diferenças quanto à capacidade de retenção de água, à viscosidade, à fer-
mentação, à adsorção, entre outras são responsáveis por implicações metabólicas
(efeitos sistêmicos), bem como no trato gastrointestinal (efeitos locais) que as fi-
bras dietéticas exercem no organismo humano (BUTTRISS; STOKES, 2008).
Os principais grupos de fibras que chegam ao intestino grosso são os polissa-
carídeos não amiláceos, os amidos resistentes e os oligossacarídeos que são parcial
ou totalmente fermentados e utilizados como fonte energética pela microflora no
cólon, convertidos em gases (hidrogênio, metano e dióxido de carbono) e ácidos
graxos de cadeia curta (AGCC), principalmente acetato, propionato e butirato
(ELIA; CUMMINGS, 2007).
capítulo 2 • 49
O incremento na produção de AGCC provoca diminuição do pH intracelular
e colônico. O meio mais ácido inibe a proliferação de organismos patogênicos
bem como a formação de produtos de degradação tóxicos, reduz a solubilidade
dos ácidos biliares e facilita a absorção de cálcio, interferindo no metabolismo
lipídico e no metabolismo ósseo (SCOTT; DUNCAN; FLINT, 2008).
As recomendações atuais de ingestão de fibra alimentar na dieta variam de
acordo com a idade, o sexo e o consumo energético. A tabela a seguir apresenta as
principais fibras dietéticas, seus grupos, efeitos e suas fontes alimentares, conforme
descrito por Bernaud e Rodrigues (2013).
FONTES
TIPOS GRUPOS COMPONENTES
ALIMENTARES
Celulose (25% da fi-
Vegetais (parede
bra de grãos e frutas
Celulose celular das plan-
e 30% em vegetais
tas), farelos
e oleaginosas)
Frutas, hortaliças,
Pectinas Pectina batatas, açúcar
de beterraba
Chicória, cebola,
Inulina e frutoligos-
OLIGOSSACARÍDEOS Frutanos
sacarídeos (FOS)
yacón, alho, ba-
nana, tupinambo
capítulo 2 • 50
FONTES
TIPOS GRUPOS COMPONENTES
ALIMENTARES
Leguminosas,
Amido + produtos
sementes, batata
Amido da degradação de
CARBOIDRATOS crua e cozida,
resistente e mal- amido não absor-
ANÁLOGOS todextrinaresistentes vidos no intestino
banana verde,
grãos integrais,
humano saudável
polidextrose
Ligada à hemicelulo-
se na paredecelular.
Única fibra estrutu- Camada externa
LIGNINA Lignina ral não de grãos de
polissacarídeo – polí- cereais e aipo
mero de
fenilpropano
Componentes asso-
SUBSTÂNCIAS Compostos fenólicos,
ciados à fibra
proteína de parede
ASSOCIADAS AOS celular, oxalatos,
alimentar que confe- Cereais integrais,
POLISSACARÍDEOS fitatos, ceras,cutina,
rem ação frutas, hortaliças
NÃO AMIDO antioxidante a esta
suberina
fração
Cogumelos,
FIBRAS DE Quitina, quitosa- leveduras, casca
Fungos, leveduras e
ORIGEM NÃO na, colágeno e
invertebrados
de camarão,
VEGETAL condroitina frutos do mar,
invertebrados
capítulo 2 • 51
different regions of the globe. Millenium, 2(2), 61-71, 2017. Disponível em:
<http://revistas.rcaap.pt/millenium/article/view/10142/7734>.
capítulo 2 • 52
Já os edulcorantes nutritivos podem fornecem quantidades variadas de ener-
gia, porém contribuem para a redução do valor energético dos alimentos, como
é o caso do aspartame, formado por dois aminoácidos (fenilalanina e o ácido
aspártico). Embora seu valor calórico seja igual ao da sacarose (4 kcal/g) é utili-
zado em quantidades mínimas, devido à sua intensa doçura (cerca de 180 vezes
a da sacarose), o que proporciona diminuição no teor calórico. Pode ser con-
sumido por diabéticos, mas não por portadores de fenilcetonúria (BENASSI et
al., 2001). A figura a seguir apresenta as estruturas de compostos químicos com
atividade edulcorante.
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Sucralose (E955)
capítulo 2 • 53
carboidrato de reserva de plantas como a alcachofra e chicória, utilizado para ex-
tração de um xarope de frutose e frutose livre.
©© LEONID ANDRONOV | SHUTTERSTOCK.COM
capítulo 2 • 54
©© CHROMATOS | SHUTTERSTOCK.COM
Isomalte (E963)
capítulo 2 • 55
Lipídeos
capítulo 2 • 56
As baixas temperaturas de fusão que caracterizam os óleos estão associadas
tanto com uma alta proporção de ácidos graxos insaturados, como nos óleos ve-
getais; quanto com uma maior quantidade de ácidos graxos de cadeia curta, como
na gordura do leite e do coco.
Os lipídeos podem ser divididos em dois grandes grupos: apolares e polares.
Os lipídeos apolares são ésteres de ácidos graxos com álcoois, como os glicerídeos,
ceras, carotenoides, terpenoides e esteroides. Já os lipídeos polares são substâncias
que, além da ligação éster da união do ácido graxo e do álcool, têm outras funções
químicas e nesse grupo estão os fosfolipídeos, cerebrosídeos e os esfingolipídeos.
A figura 2.14 apresenta a estrutura química de algumas moléculas lipídicas de
interesse em alimentos.
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capítulo 2 • 57
Os lipídeos em alimentos apresentam majoritariamente ácidos graxos de ca-
deia linear e número par de átomos de carbono, sendo comumente divididos em
ácidos graxos saturados e insaturados. Outra divisão refere-se ao comprimento da
cadeia em curta (4 a 10 carbonos), média (12 a 14 carbonos) ou longa (mais de
16 carbonos).
Os ácidos graxos saturados mais frequentes são o láurico (C12:0), o mirístico
(C14:0), o palmítico (C16:0) e o esteárico (C18:0). A figura 2.15 apresenta essas
e mais algumas estruturas químicas dos ácidos graxos saturados.
©© CHROMATOS | SHUTTERSTOCK.COM
capítulo 2 • 58
presente no óleo de linhaça e peixes de água fria e araquidônico (C20:4, n-6),
componente de membrana celular e tecido nervoso. Suas estruturas podem ser ob-
servadas na figura a seguir. Por serem do grupo dos ácidos graxos essenciais, esses
ácidos graxos não são produzidos pelo nosso organismo e, portanto, precisamos
adquiri-los na dieta.
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Os ácidos graxos trans são isômeros geométricos dos ácidos graxos insatura-
dos, produzidos a partir da fermentação de bactérias em ruminantes, encontrados
em quantidades insignificantes na carne e no leite. A produção desses ácidos graxos
também ocorre por meio da hidrogenação parcial de óleos vegetais, sendo o mais
comum o ácido elaídico (C18:1,9t). Tal processo se aplica aos óleos vegetais líquidos
à temperatura ambiente, com o objetivo de conferir consistência de semissólida a
sólida a essas gorduras, como ocorre na fabricação de margarinas; presente em di-
versos produtos industrializados que utilizam esse tipo de gordura, exemplos mais
frequentes os biscoitos — incluindo de maizena e de polvilho —, sorvetes cremo-
sos e tortas. Podem ser encontrados também em diversos produtos de panificação,
como pão francês, folhados, pão de batata e pão de queijo (SANTOS et al., 2013).
capítulo 2 • 59
Na configuração trans, os dois átomos de hidrogênio ligados ao carbono na
dupla ligação estão localizados em lados opostos, formando uma molécula mais
rígida e com configuração retilínea, assemelhando-se, assim, ao ácido graxo satu-
rado (SANTOS et al., 2013).
H H H
C=C C=C
H
CIS TRANS
Figura 2.17 – Configuração química das estruturas cis e trans dos lipídeos.
Importância biológica
capítulo 2 • 60
para o corpo, fornecendo 9 kcal/g. Os lipídeos formam uma barreira hidrofóbica
que permite a partição dos conteúdos aquosos das células e estruturas subcelulares.
Algumas vitaminas, como as lipossolúveis dependem da presença dos lipídeos
para serem absorvidas. Essas vitaminas têm estrutura química semelhante aos lipí-
deos, atuando como coenzimas ou exercendo funções regulatórias no metabolis-
mo de macro e micronutrientes. Por sua vez, prostaglandinas e hormônios esteróis
exercem papel fundamental na manutenção do equilíbrio do corpo humano e são
moléculas oriundas de moléculas lipídicas.
Portanto, além de fornecer energia para o nosso corpo, os lipídeos exercem
importantes funções biológicas como constituintes da estrutura celular (fosfolipí-
deos), isolante térmico e mecânico (triglicerídeos do tecido adiposo), isolante elé-
trico (componente da bainha de mielina – esfingolipídeos), precursores de hormô-
nios (aldosterona, progesterona, estrogênio, testosterona), cofatores enzimáticos e
veículos de vitaminas (vitaminas lipossolúveis), agentes emulsificantes (ésteres de
colesterol e sais biliares) e ação impermeabilizante (cerídeos), dentre outros.
A deficiência de lipídeos pode levar a alterações biológicas significativas, como
desordens no metabolismo lipídico, esterilidade, susceptibilidade às infecções, le-
sões cutâneas, dificuldades no ganho de peso, anemias e outros. Por isso, os lipí-
deos precisam ser consumidos adequadamente pela nossa dieta.
RESUMO
Os macronutrientes englobam carboidratos, proteínas e lipídeos. Cada uma dessas mo-
léculas orgânicas é formada por monômeros específicos e que determinam suas característi-
cas físico-químicas em alimentos. Essas propriedades físico-químicas estabelecem relações
com as características funcionais dos alimentos-fonte desses alimentos nas preparações,
aos quais eles fazem parte. As proteínas são compostos orgânicos que têm diversas funções
no organismo humano, formadas basicamente pela ligação peptídica entre os aminoácidos,
por meio do grupamento amino de um aminoácido com o grupamento carboxílico de outro.
As proteínas apresentam diferentes estruturas químicas, as quais podem sofrer modificações
por meio da ação de agentes desnaturantes como a temperatura elevada, agitação, o pH
(ácido, básico ou neutro), solventes orgânicos (éter, clorofórmio) e agitação mecânica. Den-
tre as diversas funções das proteínas, a função catalítica (enzimas) é de extrema importância
para que ocorram todas as reações metabólicas, que são mediadas por enzimas. Essas enzi-
mas podem estar naturalmente presentes em alimentos, como é o caso da bromelina, ficina
e papaína, que têm ação proteolítica. Os carboidratos são formados por monossacarídeos
unidos por ligações glicosídicas e são inicialmente classificados de acordo com o número de
capítulo 2 • 61
monômeros que os formam. Com isso, temos os monossacarídeos, dissacarídeos, oligossa-
carídeos e polissacarídeos. Cada um apresenta características físico-químicas específicas.
No entanto, de modo geral, os carboidratos são moléculas com poder edulcorante, capazes
de formar géis e, portanto, contribuem para o aspecto sensorial dos alimentos, no que tange
sabor, aroma, textura e cor. A glicose, frutose e galactose são os monossacarídeos de maior
interesse em alimentos, formando os demais carboidratos, como os dissacarídeos (lacto-
se, maltose e sacarose); oligossacarídeos (rafinose e estaquiose) e polissacarídeos (amido,
celulose, glicogênio e quitina). Entre os carboidratos, merecem destaque aqueles que não
são metabolizados pelas nossas enzimas digestivas e formam o grupo das fibras alimenta-
res ou dietéticas (celulose, hemicelulose, lignina, pectina), que exercem papel fundamental
para manutenção da integridade das funções do trato gastrointestinal, além de auxiliarem
na redução do risco de dislipidemias, diabetes e certos tipos de câncer. Moléculas sintéticas
e naturais, como os polióis podem ser usadas como substitutos dos açúcares em alimen-
tos, principalmente devido ao efeito edulcorante e sob o controle da viscosidade e textura
dos alimentos. Já os lipídeos são um conjunto de moléculas orgânicas heterogêneas que
participam do nosso metabolismo com diferentes funções, essas moléculas atuam como
isolante elétrico, mecânico e térmico; precursoras de vitaminas e hormônios etc. Os ácidos
graxos são as unidades básicas formadoras dos lipídeos, sendo a molécula de triacilglicerol
(três ácidos graxos e uma molécula de glicerol) a mais abundante em alimentos. Os ácidos
graxos se classificam não só pelo tamanho da cadeia e ponto de fusão, mas também por sua
capacidade de sofrer isomerização, formando compostos de configuração cis e trans. Logo,
percebe-se que esses macronutrientes apresentam diferentes funções biológicas, além do
fornecimento de energia. Funções mais específicas serão aproveitadas por cada indivíduo,
uma vez que nosso organismo dispõe de uma demanda e precisa se organizar para atender
a essa demanda, que não é só energética. Além disso, observa-se que esses macronutrien-
tes têm características funcionais importantes, que contribuem para o comportamento de
alimentos frente às condições de armazenamento, ao preparo e às suas variáveis; o que está
diretamente relacionado às propriedades sensoriais do alimento.
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capítulo 2 • 63
capítulo 2 • 64
3
Micronutrientes
Micronutrientes
Os micronutrientes compreendem os nutrientes requeridos pelo nosso orga-
nismo em pequenas concentrações. Embora sejam requeridos em menores quan-
tidades, os micronutrientes exercem funções importantes no nosso organismo,
participando ativamente do metabolismo. Nesse grupo de micronutrientes encon-
tram-se as vitaminas (hidrossolúveis e lipossolúveis) e os minerais.
Os micronutrientes (vitaminas e minerais) são essenciais para a manutenção
da saúde em todos os estágios fisiológicos. O organismo precisa dos micronu-
trientes para se desenvolver adequadamente, realizar suas funções fisiológicas,
preservar a saúde e prevenir doenças. As vitaminas e os minerais podem ser ob-
tidos por meio de dieta equilibrada, consumo de suplementos vitamínicos ou de
alimentos fortificados (FOOD INGREDIENTS BRAZIL, 2014).
Entretanto, a deficiência crônica de micronutrientes (chamada de fome ocul-
ta) afeta cerca de um terço da população mundial e está relacionada ao ferro, iodo
e à vitamina A. No entanto, a vitamina D, o zinco e ácido fólico passaram a ter
destaque também em nível de saúde pública. O estado carencial entre as crianças
resulta em retardo do crescimento, subdesenvolvimento físico e mental e aumen-
to da mortalidade. Em adultos causa letargia, diminuição da capacidade física e
reprodutiva, declínio da função cognitiva e debilidade imunológica (MAHAN;
ESCOTT-STUMP, 2010).
Neste capítulo iremos estudar as funções desses micronutrientes no orga-
nismo, o que levam à sua deficiência e excessos, além de suas recomendações
e fontes alimentares.
OBJETIVOS
• Conhecer as vitaminas hidrossolúveis e lipossolúveis e os minerais encontrados
nos alimentos;
• Estudar as funções dessas vitaminas e desses minerais no organismo humano;
• Conhecer os casos de hipovitaminose, deficiências de minerais e toxicidade des-
ses micronutrientes;
• Estudar as recomendações e fontes alimentares de vitaminas e minerais.
capítulo 3 • 66
Vitaminas
Vitaminas hidrossolúveis
Segundo Champe, Harvey e Ferrier (2009) temos nove vitaminas (ácido fóli-
co, cobalamina, ácido ascórbico, piridoxina, tiamina, niacina, riboflavina, biotina
e ácido pantotênico) classificadas como hidrossolúveis. A tabela a seguir apresenta
as estruturas químicas dessas vitaminas.
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ÁCIDO
ASCÓRBICO
Vitamina C
capítulo 3 • 67
© LYRICSAIMA | SHUTTERSTOCK.COM
VITAMINAS ESTRUTURA QUÍMICA
TIAMINA
Vitamina B1
RIBOFLAVINA
Riboflavina
NIACINA
ÁCIDO
PANTOTÊNICO
Ácido pantotênico
capítulo 3 • 68
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VITAMINAS ESTRUTURA QUÍMICA
PIRIDOXINA
(B6)
Piridoxina
BIOTINA
Biotina
ÁCIDO FÓLICO
(B9)
Ácido fólico
capítulo 3 • 69
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VITAMINAS ESTRUTURA QUÍMICA
COBALAMINA
(B12)
Hidroxocobalamina
Tabela 3.1 – Estrutura química das vitaminas hidrossolúveis.
Funções no organismo
capítulo 3 • 70
VITAMINAS FUNÇÕES
Agente redutor nas hidroxilações na biossíntese do colágeno e carni-
tina e no metabolismo de drogas e esteroides
ÁCIDO Formação de colágeno: conversão de prolina em hidroxiprolina
ASCÓRBICO Ácido ascórbico e ácido deidroascórbico formam sistema reversível de
óxido-redução.
capítulo 3 • 71
Um dos papéis bem documentados da vitamina C é o seu papel na hidroxilação
de resíduos prolil e lisil do colágeno, sendo, portanto, vitamina necessária na ma-
nutenção do tecido conectivo. Outra ação dessa vitamina é a sua participação na
promoção da absorção de ferro no intestino delgado, por sua ação redutora, levan-
do à conversão de espécimes de ferro férrico em ferro ferroso.
Hipovitaminoses e toxicidade
capítulo 3 • 72
mostrar sinais clínicos de deficiência de riboflavina, evidenciando as interrelações
metabólicas dessas vitaminas. Atinge principalmente alcoolistas crônicos (MAHAN;
ESCOTT-STUMP, 2010). Leia mais em: FILGUEIRAS, F. M.; STOLARCZUK,
D.A,; GRIPP, A. C.; SUCCI, I. C. B. Lipomatose simétrica benigna e pelagra, asso-
ciadas ao alcoolismo. AnBras Dermatol.; 86(6):1189-92, 2011.
capítulo 3 • 73
As recomendações da ingestão diária dessas vitaminas estão reunidas na tabela
a seguir. Essas recomendações estão de acordo com o preconizado pela FAO/OMS
(2001).
LACTENTES CRIANÇAS
GESTANTES
LACTANTES
VITAMINAS
ADULTOS
0A6 7 A 11 1A3 4A6 7 A 10
MESES MESES ANOS ANOS ANOS
ÁCIDO
ASCÓRBICO 25 30 30 30 35 45 55 70
(MG/DIA)
ÁCIDO
PANTOTÊNICO 1,7 1,8 2 3 4 5 6 7
(MG/DIA)
BIOTINA 5 6 8 12 20 25 30 35
(MCG/DIA)
capítulo 3 • 74
A tabela 3.4 ilustra as vitaminas do complexo B e vitamina C e suas respectivas
fontes alimentares.
capítulo 3 • 75
A tabela 3.5 apresenta alguns fatores que podem influenciar na estabilidade
das vitaminas hidrossolúveis em alimentos.
PERDA
MEIO NEUTRO
MEIO ÁCIDO
ALCALINO
OXIGÊNIO
MÁXIMA NA
CALOR
AR OU
MEIO
LUZ
VITAMINA
COCÇÃO
(%)
ACIDO I E E I I I 100
ASCÓRBICO
TIAMINA I E I I E I 80
RIBOFLAVINA E E I E I I 75
NIACINA E E E E E E 75
ÁCIDO E I I E E I 50
PANTOTÊNICO
PIRIDOXINA E E E E I I 40
BIOTINA E E E E E I 60
COBALAMINA E E E I I E 10
I – Instável (destruição significativa);
E – Estável (não há destruição importante)
Vitaminas lipossolúveis
capítulo 3 • 76
apresentam características químicas semelhantes aos ácidos graxos, componen-
tes estruturais das moléculas lipídicas estudadas no capítulo anterior.
Esse grupo de vitaminas tende a ser absorvido passivamente pelo nosso
organismo e são transportados com os lipídeos dietéticos, por meio de lipo-
proteínas. Elas normalmente são encontradas nas porções lipídicas da célula
como membranas e gotículas de lipídeos. Por serem relativamente apolares, es-
sas vitaminas dependem de solubilização micelar para sua absorção a partir do
ambiente aquoso do lúmen intestinal. A absorção, portanto, é dependente de
todos os componentes lipídicos envolvidos na formação da micela e, ainda, do
estímulo das funções pancreáticas e biliares promovidas pela ingestão do ali-
mento (MOURÃO et al., 2005). A tabela 3.6 apresenta a estrutura química das
vitaminas classificadas como lipossolúveis, a saber: A (retinol), D (calciferol), E
(tocoferol) e K (filoquinona).
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VITAMINAS ESTRUTURA QUÍMICA
A (RETINOL)
Vitamina A
D (CALCIFEROL)
capítulo 3 • 77
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VITAMINAS ESTRUTURA QUÍMICA
E (TOCOFEROL)
Vitamina E
K (FILOQUINONA)
Vitamina K1
Tabela 3.6 – Estrutura química das vitaminas lipossolúveis.
Funções no organismo
capítulo 3 • 78
A vitamina K corresponde ao grupo de moléculas produzidas em vegetais (fi-
loquinonas) e por micro-organismos (menaquinonas) responsáveis pela carboxila-
ção de resíduos de glutamato necessária para a conversão da protrombina inativa
em trombina (enzima proteolítica ativa) (COULATE, 2004).
Hipovitaminoses e toxicidade
capítulo 3 • 79
A deficiência de vitamina D manifesta-se como raquitismo em crianças e
osteomalácia em adultos (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2010). O raquitismo
pode ser causado por baixos níveis séricos de vitamina D e/ou por ingestão dietéti-
ca de cálcio insuficiente; e, menos comumente, por distúrbios no metabolismo de
fosfato. É importante diferenciar essas causas, já que a suplementação de vitamina
D de forma isolada não cura o raquitismo, a menos que essa deficiência seja a cau-
sa única ou principal da doença (WINZENBERG; JONES, 2016).
capítulo 3 • 80
Recomendações e fontes alimentares
LACTENTES CRIANÇAS
GESTANTES
LACTANTES
VITAMINAS
ADULTOS
7A
0A6 7 A 11 1A3 4A6
10
MESES MESES ANOS ANOS
ANOS
D 5 5 5 5 5 5 5 5
(MCG/DIA)
E 2,7 2,7 5 5 7 10 10 10
(MG/DIA)
K 5 10 15 20 25 65 55 55
(MCG/DIA)
Tabela 3.7 – Recomendações da ingestão diária de vitaminas lipossolúvel.
capítulo 3 • 81
A filoquinona (vitamina K1) é um composto de origem vegetal, que ocor-
re em quantidades elevadas nas folhas de vegetais como espinafre, couve, cou-
ve-flor, tomate e alguns óleos vegetais. Já as menaquinonas (vitamina K2) são
produtos da síntese bacteriana, principalmente da nossa microbiota intestinal
(DAMODARAN; PARKIN; FENNEMA, 2010).
A tabela 3.8 apresenta alguns fatores que podem influenciar na estabilidade
das vitaminas lipossolúveis em alimentos.
MEIO ÁCIDO
PERDA
ALCALINO
OXIGÊNIO
VITAMINA
NEUTRO
CALOR
AR OU
MEIO
MEIO
LUZ
MÁXIMA NA
COCÇÃO (%)
A E I E I I I 40
D E E I I I I 40
E E E E I I I 55
K E I I E I E 5
capítulo 3 • 82
perdida, que é bastante estável ao calor mas pode sofrer degradação fotoquímica
(DAMODARAN; PARKIN; FENNEMA, 2010).
Leia mais em: CORREIA, L. F. M.; FARAONI, A. S.; SANT’ANA, H. M. P.
Efeitos do processamento industrial de alimentos sobre a estabilidade de vitami-
nas. Alim. Nutr., Araraquara v. 19, n. 1, p. 83-95, 2008. Disponível em: <http://
serv-bib.fcfar.unesp.br/seer/index.php/alimentos/article/viewFile/204/209>.
Minerais
Funções no organismo
capítulo 3 • 83
ELEMENTO FUNÇÕES
Estrutura de ossos e dentes. O cálcio iônico nos fluidos corpóreos é essencial
CÁLCIO para o transporte de ferro por meio das membranas celulares. O cálcio pode
também se ligar às proteínas, citrato ou ácidos inorgânicos.
Presente também nos ossos e nas células corporais, com uma pequena par-
MAGNÉSIO cela nos fluidos extracelular. Participa da formação da clorofila.
capítulo 3 • 84
Deficiências e toxicidade
capítulo 3 • 85
A iodização do sal de mesa torna-se necessária para o controle do bócio endê-
mico. O bócio é uma doença carencial, que se caracteriza pelo crescimento anor-
mal da glândula tireoide, pela falta da regularização dos hormônios da tireoide
(MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2010).
A deficiência de zinco acarreta retardo no crescimento e maturação sexual, alo-
pecia, cicatrização de ferimentos demorada, lesões cutâneas, apetite e paladar preju-
dicados, além de deficiências imunológicas e distúrbios comportamentais. Essa defi-
ciência ocorre pelo consumo de alimentos ricos em fibras e fitatos, que dificultam a
absorção do zinco. A toxicidade pode ser observada em pacientes com insuficiência
renal submetidos à hemodiálise (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2010).
capítulo 3 • 86
ELEMENTO FONTES ALIMENTARES
CÁLCIO Leite e derivados, sardinha, moluscos, brócolis, gergelim
FLÚOR Água potável, chás, café, arroz, espinafre, gelatina, cebola, alface
capítulo 3 • 87
RESUMO
Os micronutrientes compreendem o grupo de vitaminas e minerais. Ambos nutrientes
são importantes para a manutenção do equilíbrio metabólico. As vitaminas didaticamente são
classificadas de acordo com a sua solubilidade em água. Logo, as vitaminas hidrossolúveis
compreendem as vitaminas do complexo B e a vitamina C (ácido ascórbico), enquanto as
vitaminas lipossolúveis compreendem as vitaminas A, D, E e K. As vitaminas hidrossolúveis
são sensíveis ao calor e podem ser perdidas em processos de lixiviação. Já as vitaminas
lipossolúveis, de estrutura química semelhante aos lipídeos, tendem a sofrer processos de
oxidação, sendo sensíveis à luz e a temperaturas mais elevadas. Casos de hipovitamino-
ses podem ser observados em populações nas quais não há o consumo adequado de fon-
tes alimentares desse grupo de micronutrientes. Por serem hidrossolúveis, as vitaminas do
complexo B e o ácido ascórbico parecem ser menos suscetíveis ao acúmulo no organismo,
apresentando baixa toxicidade. No entanto, as vitaminas lipossolúveis são transportadas e
acumuladas em nível celular, associadas aos componentes lipídicos do organismo, o que
pode gerar certa toxicidade quando consumida em excesso. No entanto, a literatura aponta
para os excessos advindos da suplementação ou correlacionados a distúrbios secundários.
Os minerais compreendem elementos inorgânicos que devemos adquirir na nossa dieta,
assim como as vitaminas, em pequenas quantidades, mas que participam ativamente dos
processos regulatórios do nosso metabolismo. Dentre os minerais mencionados nesse ca-
pitulo, o cálcio merece destaque, por ser o mineral mais abundante no corpo humano. O
ferro também se destaca por ter importante papel no transporte de oxigênio pelas hemá-
cias, por fazer parte da constituição da hemoglobina. Os outros minerais são extremamente
importantes para a manutenção da homeostasia, e a deficiência desses elementos pode
levar ao desenvolvimento de sinais e sintomas clínicos, observados desde a infância até a
vida adulta. Exemplos clássicos são observados pela anemia ferropriva e osteoporose. Pou-
cos são os relatos na literatura de casos de toxicidade por meio do consumo de minerais.
De modo geral, as vitaminas e minerais estão amplamente distribuídos entre os alimentos
in natura e processados.
capítulo 3 • 88
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADITIVOS & INGREDIENTES. A importância dos minerais na alimentação. n. 256, 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Unicef. Cadernos de Atenção Básica: Carências de Micronutrientes/
Ministério da Saúde, Unicef; Bethsáida de Abreu Soares Schmitz. 60 p. (Série A. Normas e Manuais
Técnicos). Brasília: Ministério da Saúde, 2007.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica ilustrada. 4. ed. Porto Alegre: Artmed,
2009.
COULATE, T. P. Alimentos: a química de seus componentes. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
DAMODARAN, S; PARKIN, K. L.; FENNEMA, O; R. Química de alimentos de Fennema. 4. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2010.
FAO/OMS. Human Vitamin and Mineral Requirements. In: Report 7th Joint FAO/OMS Expert
Consultation. Bangkok, Thailand, 2001.
FOOD INGREDIENTS BRAZIL. Dossiê Vitaminas, n. 29, 2014.
MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S. Krause, alimentos, nutrição e dietoterapia. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2010.
MOURAO, D. M. et al. Biodisponibilidade de vitaminas lipossolúveis. Revista de Nutrição, Campinas, v.
18, n. 4, p. 529-539, 2005.
PEYTAVIN, J. L. Atualidades da vitamina C e dos antioxidantes. Nutrição Brasil; v. 16, n. 1, 2017.
SILVA, M. A.; CARVALHO, C. A.; FONSÊCA, P. C. A.; VIEIRA, S. A.; RIBEIRO, A. Q.; PRIORE, S. E.;
FRANCESCHINI, S. C. C. Prevalência e fatores associados à anemia ferropriva e hipovitaminose
A em crianças menores de um ano. Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 4, p. 362-
367, 2015.
WINZENBERG, T.; JONES, G. Em tempo: deficiência da Vitamina D: quem precisa de suplementação?
Revista Paulista de Pediatria, v. 34, n. 1, p. 3-4, 2016.
capítulo 3 • 89
capítulo 3 • 90
4
Biodisponibilidade
de nutrientes
Biodisponibilidade de nutrientes
OBJETIVOS
• Conhecer os conceitos de biodisponibilidade de nutrientes;
• Identificar os elementos que interferem na biodisponibilidade de macronutrientes
e micronutrientes;
• Conhecer as técnicas que podem aumentar a biodisponibilidade de nutrientes.
capítulo 4 • 92
Biodisponibilidade pode ser definida como a proporção do nutriente nos alimentos
que é absorvida e utilizada, por meio de processos de transporte, assimilação e con-
versão para a forma biologicamente ativa. Entendemos a biodisponibilidade de um
determinado nutriente quando a fração de qualquer nutriente for ingerida e conseguir
ter o efeito para o qual ele se destina.
capítulo 4 • 93
Muitos nutrientes e compostos bioativos são componentes dos alimentos, mas
não estão em sua forma ativa. Para tanto, precisam ser convertidos em formas ati-
vas para sua efetiva atuação no organismo. No entanto, uma vez que estão na sua
forma ativa, os nutrientes precisam ser absorvidos até que se atinja o tecido-alvo.
Logo, a biodisponibilidade dos nutrientes depende desses fatores citados, que são
determinantes para o melhor aproveitamento desses compostos e efetiva atuação
no metabolismo humano.
Aplicabilidade
Recomendações de nutrientes
capítulo 4 • 94
utilizadas no planejamento e na avaliação de dietas de indivíduos e populações sau-
dáveis, visando substituir as RDA publicadas anteriormente (CUPPARI, 2005).
Recomendações atuais
capítulo 4 • 95
NÍVEIS DE REFERÊNCIA DEFINIÇÕES
Deriva do EAR e deve atender às necessidades de um nutriente
RECOMMENDED DIETARY para 97% a 98% dos indivíduos saudáveis do mesmo sexo e es-
ALLOWANCES (RDA) tágio de vida.
Tabela 4.2 – : Conceitos de referência para consumo de nutrientes e determinação das DRI.
(CUPPARI, 2005 e PADOVANI et al., 2006).
capítulo 4 • 96
Portanto, o UL não é um nível de ingestão recomendado, uma vez que se ques-
tionam os benefícios do consumo de nutrientes acima dos valores de RDA ou AI. Os
riscos de inadequação ou excesso se aproximam de zero quando o nível de ingestão
se situa entre RDA e o nível máximo de ingestão tolerável. Quanto mais o consumo
passar os valores de UL, maior será o risco de efeitos adversos (CUPPARI, 2005).
Proteínas
capítulo 4 • 97
A conformação estrutural de uma proteína influencia sua hidrólise pelas pro-
teases. Logo, a importância da estrutura de uma proteína na biodisponibilidade
de aminoácidos para o organismo está relacionada ao acesso das proteases à cadeia
polipeptídica. Quanto menos complexa é a estrutura da proteína, mais fácil tor-
na-se a ação das enzimas sobre a clivagem das ligações peptídicas, facilitando a
liberação dos aminoácidos para absorção (COZZOLINO, 2007).
Um dos fatores que podem modificar a conformação estrutural é o proces-
so de desnaturação, no qual diferentes agentes desnaturantes (temperatura, pH,
solventes orgânicos, irradiação, agitação mecânica) rompem as estruturas das in-
terações que mantêm as estruturas mais complexas que envolvem as cadeias de
proteínas, promovendo o “desenovelamento” da estrutura polipeptídica. Logo,
segundo Cozzolino (2007), a desnaturação sob condições controladas facilita o
acesso das enzimas proteolíticas à cadeia polipeptídica, resultando no aumento de
sua digestibilidade e na melhor utilização dos aminoácidos pelo nosso organismo.
Leia mais em: MIRANDA, T. M.; VIANA, E. S. M. Avaliação da qualidade pro-
teica da ervilha. Gl. SciTechnol, Rio Verde, v. 10, n. 1, p. 69-77, 2017. Disponível
em: <http://rv.ifgoiano.edu.br/periodicos/index.php/gst/article/view/857/536>.
capítulo 4 • 98
outras macromoléculas como o amido, causando dessa maneira a redução no valor
nutricional dos alimentos (BENEVIDES et al, 2011).
As proteínas podem sofrer alterações químicas significativas, envolvendo
seus resíduos de aminoácidos, principalmente quando expostas a altas tempe-
raturas e pH alcalino. Reações como a reação de Maillard (reação de escureci-
mento não enzimático) podem levar à diminuição da digestibilidade de ami-
noácidos como a lisina, que reage com açúcares redutores na presença do calor,
apresentando um dos maiores impactos sensoriais e nutricionais em produtos
de panificação e/ou cárneos. O escurecimento não enzimático não causa apenas
as maiores perdas de lisina, mas também provoca a oxidação de vários outros
aminoácidos essenciais, especialmente metionina, tirosina, histidina e triptofa-
no (COZZOLINO, 2007).
Carboidratos
capítulo 4 • 99
tecnologia e também por diferentes métodos de cozimento aplicados a produtos
de cereais, o que resulta em vários graus da digestão do amido, caso do amido di-
gerido rapidamente dos cereais extrusados. Amidos lentamente digeríveis podem
ser selecionados em função de uma proporção mais alta da amilose e em relação
à amilopectina e/ou usando processos que preservem melhor a estrutura botânica
do grão e a estrutura cristalina do amido (p.ex., limitando a gelatinização e/ou
favorecendo a retrogradação).
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Lipídeos
capítulo 4 • 100
lipólise, é efetuada pelas lipases pancreáticas, que atuam sobre os triacilgliceróis,
liberando ácidos graxos livres e monoacilglicerol. Fosfolipídeos e ésteres de coles-
terol são hidrolisados por enzimas específicas, como a fosfolipase A2 e a colesterol
esterase (COZZOLINO, 2007).
A absorção de lipídeos depende da formação de micelas, que ocorrem no in-
testino delgado, em que sais e ácidos biliares, junto com os movimentos peristálti-
cos, formam micelas com esses ácidos graxos livres e produtos da ação de enzimas
específicas sobre os ésteres de colesterol e fosfolipídeos, permitindo que essas subs-
tâncias passem pela membrana celular e sejam absorvidas.
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capítulo 4 • 101
Biodisponibilidade dos micronutrientes
Biodisponibilidade de minerais
capítulo 4 • 102
do pH ácido para solubilização dos minerais. Doenças também podem modifi-
car a utilização dos nutrientes, assim como os medicamentos, que podem inte-
ragir com os minerais, na maioria das vezes diminuindo sua biodisponibilidade
(COZZOLINO, 1997).
No entanto, observa-se que a matriz do alimento pode interferir consideravel-
mente na absorção de minerais. Isso ocorre por que nos alimentos outros nutrien-
tes e compostos bioativos podem interagir com os minerais, favorecendo ou não a
sua biodisponibilidade e por isso, é importante que conheçamos essas interações.
Como exemplos, temos o ferro na gema do ovo, que se encontra ligado à fosvitina,
que tem alta capacidade ligante; no espinafre, o alto conteúdo de oxalato se liga ao
ferro e ao cálcio diminuindo a biodisponibilidade desses nutrientes. Nos cereais,
o fitato presente pode se ligar ao ferro, zinco, cálcio e magnésio diminuindo tam-
bém a absorção (COZZOLINO, 1997).
capítulo 4 • 103
Biodisponibilidade de vitaminas
capítulo 4 • 104
têm altos teores de fitatos e polifenóis. O efeito é menor em refeições que contêm
carnes. A oxidação da vitamina, provocada por preparação de alimentos a altas
temperaturas, ocasiona em perdas dessas propriedades. A vitamina C mantém o Fe
na forma solúvel (se complexa ao Fe formando um quelado) biodisponível quando
o pH do intestino aumenta.
No entanto, o excesso de vitamina C pode prejudicar a absorção de cobre,
havendo relatos de que isso ocorre pela redução de Cu2+ para Cu+, forma menos
biodisponível (COZZOLINO, 1997).
Tem sido observada uma correlação direta entre retinol sérico e níveis de he-
moglobina. Os estudos sugerem que a deficiência de vitamina A prejudica a mo-
bilização de Fe das reservas e também a produção de células vermelhas, porém
tem pouca influência na absorção de Fe (LYNCH, 1997). Mais um mineral que
interage com a vitamina A é o zinco. A proteína transportadora de vitamina A do
fígado para os tecidos-alvo é dependente do zinco. Logo, a deficiência de zinco
prejudica o transporte de vitamina A pelo organismo.
O selênio tem sido bastante estudado por ser componente estrutural de enzimas
responsáveis pelos processos antioxidantes do nosso organismo, como a glutationa
peroxidase. A vitamina E age minimizando o dano na membrana provocado pelos
radicais livres; o selênio, por meio da glutationa peroxidase, age prevenindo o acú-
mulo de peróxido, que é fonte de radicais livres. Radicais hidroxila podem causar
danos às membranas das células, bem como a outros componentes celulares. Assim,
a necessidade de vitamina E é diminuída na presença de selênio (BRODY, 1994).
Quando se fala em vitaminas, as vitaminas lipossolúveis merecem destaque
em relação à biodisponibilidade. As vitaminas lipossolúveis são moléculas relati-
vamente apolares e dependem de solubilização micelar para sua absorção a partir
do ambiente aquoso do lúmen intestinal. A absorção, portanto, é dependente de
todos os componentes lipídicos envolvidos na formação da micela e, ainda, do
estímulo das funções pancreáticas e biliares promovidas pela ingestão do alimento.
Dependendo da composição da dieta, certos lipídeos (e outros ingredientes) po-
dem interferir negativamente na absorção de vitaminas (MOURÃO et al., 2005).
Leia mais em: ZANCUl, M. S. Food fortification with iron and vitamin A.
Medicina Ribeirão Preto, 37: p. 45-50, 2004. Disponível em: <http://www.revis-
tas.usp.br/rmrp/article/view/469/468>.
capítulo 4 • 105
consumida na refeição, a matriz na qual o carotenoide está incorporado e fatores
de absorção e bioconversão, entre outros.
A literatura é escassa em trabalhos envolvendo biodisponibilidade de vitamina
D. Estima-se que a biodisponibilidade relativa da vitamina D2 em carnes, compa-
rada com a de suplementos, foi 60% menor. O leite ingerido conjuntamente com
fontes naturais de vitamina D pode elevar de três a dez vezes sua absorção. Alguns
autores explicam esse fato pela presença da lactoalbumina como um fator estimu-
lante da absorção. Ácidos graxos de cadeia longa provenientes do óleo de amendoim
facilitaram a absorção de vitamina D presente, quando comparada a doses farmaco-
lógicas dessa vitamina. Já a ingestão de etanol e a de fibras leva à diminuição da bio-
disponibilidade de vitamina D, pois promove a perda biliar da sua forma absorvível
e a eliminação rápida dos metabólitos do corpo (MOURÃO et al., 2005).
Alguns fatores dietéticos têm sido apontados como redutores da biodisponi-
bilidade da vitamina E, como os ácidos graxos polinsaturados, alto consumo de
vitamina A e as fibras. Um aumento na ingestão de lipídeos polinsaturados acelera
a depleção e aumenta os requerimentos de vitamina E devido ao fato de os ácidos
graxos polinsaturados estarem concentrados, preferencialmente, nas membranas
celulares, nas quais eles têm capacidade de sequestrar certa quantidade de vitamina
E para manter sua estabilidade oxidativa (MOURÃO et al., 2005).
A eficiência de absorção da vitamina K pode ser muito variada, dependendo
do vitâmero que se encontra no alimento. A absorção de vitamina K1 tem sido
menos eficiente quando encontrada em folhas verdes, nas quais a vitamina está in-
timamente ligada às membranas dos tilacoides nos cloroplastos, e sendo mais efi-
ciente nos alimentos processados, como no caso dos óleos, margarina e produtos
lácteos. A presença de gordura contribuiu para maior taxa de absorção da vitamina
K nesse experimento, possivelmente pelo estímulo à secreção biliar e formação
de micelas. Existe uma produção de vitamina K pela microbiota intestinal, mas
dados na literatura não confirmam se a menaquinona, sintetizada pela microflora
intestinal, é diretamente absorvida no cólon (MOURÃO et al., 2005).
Leia mais em: CALLOU, K. R. A.; SILVA, M. C. F. Biodisponibilidade de
Micronutrientes e Compostos Bioativos: Aspectos Atuais. Revista Eletrônica de
Recife, Recife: Estácio, 2016. Disponível em: <https://reer.emnuvens.com.br/
reer/article/download/79/27>.
capítulo 4 • 106
RESUMO
A biodisponibilidade de nutrientes é um conceito extremamente importante para se en-
tender como podemos aproveitar melhor o conteúdo de nutrientes dos alimentos. As DRI
nos norteiam sobre a ingestão mais adequada de nutrientes para cada faixa etária. Dados
sobre o quanto devemos ingerir, as recomendações e a disponibilidade biológica dos nu-
trientes nos trazem subsídios para adoção de práticas de orientação nutricional, prescrição
dietética individual e para grupos, desenvolvimento de produtos e fortificação de alimentos.
A presença de nutrientes nos alimentos não garante o aproveitamento dos mesmos pelo
nosso organismo, pois fatores podem interferir na absorção e consequente ação biológica
desses nutrientes. A biodisponibilidade de um determinado nutriente pode sofrer influên-
cias de fatores como a origem do alimento, interações entre outros nutrientes, formas de
processamento do alimento e condições fisiológicas e metabólicas do indivíduo. Dentre os
macronutrientes, a proteína é o nutriente que mais sofre influências de fatores que podem
afetar sua disponibilidade biológica. Compostos bioativos, fibras e reações de escurecimento
não enzimático podem levar à redução da biodisponibilidade de aminoácidos importantes que
fazem parte da estrutura proteica. Já os micronutrientes, principalmente minerais e vitaminas
lipossolúveis apresentam grandes considerações com relação à disponibilidade nos alimen-
tos e no organismo humano. Pode-se observar que a interação dos minerais entre si, bem
como as interações de vitaminas e minerais levam a um vasto espectro de informações que
nos permite escolher as melhores combinações de alimentos e de práticas que estimulem o
aproveitamento dos nutrientes em momentos oportunos, sem o prejuízo da não absorção ou
da menor biodisponibilidade dos mesmos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENEVIDES, C. M. J.; SOUZA, M. V.; SOUZA, R. D. B.; LOPES, M. V. Fatores antinutricionais em
alimentos: revisão. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, v. 18, n. 2, p. 67-79, 2011.
BRODY, T. Nutritional biochemistry. Academic Press, 660p, 1994.
COZZOLINO, S. M. F. Biodisponibilidade de minerais. 2. ed. Barueri: Manole, 2007.
__________. Biodisponibilidade de minerais. Rev. Nutr., Campinas, v. 10, n. 2, p. 87-98, 1997.
LYNCH, S. R. Interaction of iron with other nutrients. Nutrition Reviews, New York, v. 55, n. 4, p.
102-110, 1997.
capítulo 4 • 107
KÖNIG, D.; GIUNTINI, E. N.; LAJOLO, F. M.; MENEZES, E. W.; SARDÁ, F. A. H.; NAZARE, J. A.; BAHIA,
L. R. Carboidratos, glicemia e saúde. São Paulo: Internacional Life Sciences Institute do Brasil. Série
de publicações ILSI Brasil: funções plenamente reconhecidas de nutrientes; v. 7, 2016.
MOURAO, Denise Machado et al. Biodisponibilidade de vitaminas lipossolúveis. Rev. Nutr., Campinas, v.
18, n. 4, p. 529-539, 2005.
PADOVANI, R. M.; AMAYA-FARFAN, J.; COLUGNATI, F. A. B.; DOMENE, S. M. A. Dietary references
intakes: aplicabilidade das tabelas em estados nutricionais. Revista de Nutrição. Pontifícia
Universidade Católica de Campinas, v. 19, n. 6, p. 741-760, 2006.
SGARBIERI, V. C. Proteínas em alimentos proteicos: propriedades, degradações, modificações. São
Paulo: Livraria Varela, 1996.
capítulo 4 • 108
5
Composição dos
alimentos nos
grupos de alimentos
Composição dos alimentos nos grupos de
alimentos
OBJETIVOS
• Conhecer a composição dos representantes dos grupos de alimentos, seu valor nutricional
e suas principais fontes alimentares existentes na natureza;
• Identificar componentes funcionais, compostos bioativos presentes nesses grupos alimen-
tares, sua utilização e benefícios à saúde;
• Conhecer as propriedades funcionais desses grupos de alimentos;
• Identificar sua importância à saúde e utilização nas dietas específicas.
Açúcares e frutas
capítulo 5 • 110
O açúcar mais empregado na nossa alimentação é a sacarose, dissacarídeo for-
mado por uma molécula de glicose e uma de frutose. A sacarose é extraída da cana-
de-açúcar, da polpa da beterraba, mas também está presente em frutas, vegetais e
no mel (PHILIPPI, 2014).
Os açúcares são fontes de energia, fornecendo 4 kcal/g de alimento.
Alguns alimentos ricos em açúcares são diversos, sendo os açucarados:
• Açúcar propriamente dito;
• Mel;
• Alimentos elaborados com açúcares e mel: xaropes, caldas, caramelos, balas,
bombons;
• Alimentos mistos, como massas (açúcares e farinhas), geleias, sucos concen-
trados, doces em pasta e em calda, frutas cristalizadas e glaceadas, picolés (açúcares
e frutas) e sorvete em creme, vitaminas, cremes, mousses, pudins etc. (açúcares
e leite).
capítulo 5 • 111
indiretamente em produtos de panificação e confeitaria. Esse açúcar pode ser en-
contrado das mais diversas formas, conforme tabela a seguir.
TIPOS DE CARACTERÍSTICAS
AÇÚCARES
Obtido pelas primeiras extrações da cana-de-açúcar, contendo
AÇÚCAR MASCAVO sacarose, frutose, glicose, além de minerais como cálcio, fósforo
E RAPADURA e ferro da matéria-prima.
capítulo 5 • 112
Normalmente são utilizados em produtos de panificação, na produção de geleias,
para impedir a cristalização da sacarose; em produtos de confeitaria etc.
Historicamente, o consumo de açúcar se acentuou a partir de sua produção
industrial e seu consequente uso como ingrediente pelo consumidor e indústria de
alimentos em vários produtos, como bolos, bebidas, biscoitos, molhos, produtos
lácteos etc. É considerado um ingrediente “natural”, não é um aditivo, porém
seu consumo excessivo está cada vez mais associado à obesidade, a doenças car-
diovasculares e diabetes, além de favorecer a formação de cáries. Com a ingestão
de açúcar em excesso, o pâncreas, órgão responsável pela produção de insulina,
hormônio envolvido no metabolismo de açúcar, fica sobrecarregado e sua função
pode ficar comprometida, o que colabora para a ocorrência do diabetes (FOOD
INGREDIENTS BRAZIL, 2013).
A Organização Mundial de Saúde sugere que o açúcar ingerido não deve ul-
trapassar 10% do consumo de calorias diárias. Exemplificando, se considerarmos
a recomendação da Anvisa:
capítulo 5 • 113
IDA
EDULCORANTES CARACTERÍSTICAS
(MG/KG)
Substância natural extraída da planta Stevia rebaudiana.
Esteviosídeo Estável sob altas temperaturas e meio ácido. Poder edul- 5,5
corante: 180
Sorbitol
relativo: 60 estabelecido
Ciclamato 11
te solúvel em água. Poder edulcorante relativo: 30
Leia mais em: MELO, S. S.; CECHINEL, C.C.; GERN, B. H. Efeitos dos
diferentes tipos de adoçantes dietéticos isolados nos parâmetros nutricionais e bio-
químicos de ratos. Nutrire, v. 40, n. 2, p. 153-161, 2015. Disponível em: <http://
sban.cloudpainel.com.br/files/revistas_publicacoes/461.pdf>.
capítulo 5 • 114
©© MYTHING | SHUTTERSTOCK.COM
capítulo 5 • 115
Nos últimos anos, maior atenção tem sido dada a esses alimentos, uma vez que
evidências epidemiológicas têm demonstrado que o consumo regular de vegetais
está associado à redução da mortalidade e morbidade por algumas doenças crô-
nicas não transmissíveis. O efeito protetor exercido por esses alimentos tem sido
atribuído à presença de fitoquímicos com ação antioxidante, dentre os quais se
destacam os polifenóis (MELO et al., 2008).
Este diversificado grupo de compostos encontra-se dividido em várias clas-
ses, segundo o esqueleto carbônico dos fitoquímicos, dentre os quais se destacam
os ácidos fenólicos e os flavonoides. A capacidade antioxidante dos polifenóis é
devida, principalmente, às suas propriedades redutoras, cuja intensidade da ação
antioxidante exibida por estes fitoquímicos é diferenciada, uma vez que depende,
fundamentalmente, do número e da posição de hidroxilas presentes na molécula
(MELO et al., 2008).
As frutas são as principais fontes dietéticas de polifenóis, em função de fatores in-
trínsecos (cultivo, variedade, estado de maturação) e extrínsecos (condições climáticas
e edáficas) e apresentam, em termos quantitativos e qualitativos, composição variada
desses constituintes. Por sua vez, a eficácia da ação antioxidante depende da estrutura
química e da concentração desses fitoquímicos no alimento (MELO et al., 2008).
Leia mais em: MELO, A. E. I.; MACIEL, M. I. S.; LIMA, V. L. A. G.;
NASCIMENTO, R. J. Capacidade antioxidante de frutas. Brazilian Journal of
Pharmaceutical Sciences, v. 44, n. 2, 2008.
Cereais e leguminosas
capítulo 5 • 116
feijões, lentilhas, grão de bico, ervilha, soja, fava e amendoim. Este último se
destaca pelo elevado conteúdo lipídico.
Tanto os cereais quanto as leguminosas são utilizados na alimentação de forma
bastante diversificada. Ambos os grupos de alimentos são ricos em carboidratos,
fibras e considerável teor de proteínas. No entanto, apresentam aminoácidos limi-
tantes e por isso podem ser consumidos juntos, para complementação do perfil de
aminoácidos da dieta. As leguminosas têm a metionina como aminoácido limi-
tante, enquanto que a lisina é o aminoácido limitante dos cereais. A combinação
tradicional típica da mesa dos brasileiros representa bem essa complementarieda-
de: arroz com feijão.
Um fato a se destacar é que nos grãos das leguminosas verifica-se a ocorrência
natural de fatores antinutricionais, como inibidores de enzimas proteolíticas e fita-
tos. A ação desses inibidores no trato gastrintestinal leva à redução da disponibili-
dade dos aminoácidos. Nutricionalmente, a presença de fitato é desfavorável, pois
ocasiona a formação de complexos insolúveis com minerais e proteínas, reduzindo
a biodisponibilidade desses nutrientes nesses alimentos. No entanto, algumas des-
sas substâncias antinutricionais apresentam pequeno impacto, pois são termolá-
beis e geralmente são destruídas nas condições normais de preparo, doméstico ou
industrial, dos alimentos (BENEVIDES et al., 2011).
A seguir são apresentadas algumas características de consumo, produção e in-
formações nutricionais de alguns dos cereais e leguminosas mais consumidos no
país e sua importância na alimentação humana.
capítulo 5 • 117
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capítulo 5 • 118
atividade antioxidante é observada nos grãos integrais e naqueles com pericarpo
vermelho e preto, devido à maior concentração de polifenóis (NAM et al., 2005).
Cereal mais colhido no mundo, crescendo na maior parte das regiões do pla-
neta. Cerca de 33% da produção mundial dos cereais se deve ao trigo, seguido de
26% de milho e arroz e 13% de cevada. Seu diferencial nutricional e funcional
encontra-se no conteúdo proteico, pela composição de proteínas que formam o
complexo do glúten. A farinha de trigo é o principal subproduto do processamento
do trigo, em que o amido perfaz aproximadamente 75% da composição nutricio-
nal da mesma. Os minerais são perdidos durante o processamento de obtenção das
farinhas, assim como o teor lipídico (ADITIVOS & INGREDIENTES, 2008).
Os diferentes tipos de farinha contêm quantidades variáveis de proteínas
formadoras do glúten. Embora o amido seja o componente predominante nas
farinhas de trigo, é a proteína que confere características funcionais desse alimen-
to, como a capacidade de formação da rede do glúten. As proteínas insolúveis
conferem elasticidade (gliadina) e
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capítulo 5 • 119
constituindo-se a única fonte diária de energia da dieta de populações do México
e do Nordeste do Brasil (PAES, 2006).
No Brasil, cerca de 4% do total da produção do milho, representando apro-
ximadamente 1,6 milhão de toneladas, tem sido utilizada diretamente como ali-
mento humano e cerca de 10% da produção destinada às indústrias alimentícias,
que transformam os grãos em diversos produtos, tais como amido, farinhas, canjica
(mungunzá), flocos de milho e xaropes, entre outros. Em todas as regiões brasileiras
consumidoras de milho, as principais formas de aquisição domiciliar ainda são: o
milho em grão, o milho em espiga ou enlatado, o creme de milho (fubá mimoso), os
flocos de milho, o fubá (farinha de milho) e o pão de milho (PAES, 2006).
Esse cereal tem predominantemente carboidratos (amido) e lipídeos (óleo)
em sua composição, segundo Paes (2006). A proteína tem qualidade inferior à
de outras fontes vegetais e animais, exceto a proteína do milho especial de alta
qualidade proteica ou QPM (qua-
capítulo 5 • 120
Com relação ao conteúdo mineral encontrado no milho, Paes (2006) cita o
fósforo como o mineral mais abundante, presente na forma de fitatos de potás-
sio e magnésio. Enxofre ocorre no grão em quantidades significantes, embora na
forma orgânica, como parte dos aminoácidos sulfurados. Outros minerais estão
também presentes no milho em quantidades menores, sendo os mais importantes:
cloro, cálcio, sódio, iodo, ferro, zinco, manganês, cobre, selênio, crômio, cobalto
e cádmio.
Outro cereal bastante consumido pelo seu valor nutricional é a aveia. Ela
destaca-se entre os cereais por conter em sua composição química aminoácidos,
ácidos graxos, vitaminas e sais minerais indispensáveis ao organismo humano e,
principalmente, pela composição de fibras alimentares (9% a 11%). Apresenta
teor proteico variando de 12,4% a 24,5% no grão descascado e teor de lipídeos
entre 3,1% a 10,9%, distribuídos pelo grão composto, predominantemente, de
ácidos graxos insaturados (BORGES et al., 2006).
O consumo de farinha e farelo de aveia é benéfico para a saúde humana em
razão da elevada concentração de fibras. A fibra alimentar pode ser classificada
em solúvel e insolúvel em água. A fibra solúvel da aveia compõe-se de pectinas,
b-glucanas, mucilagens, algumas
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hemiceluloses e amido resis-
tente. As evidências indicam
que o consumo de 3-15 g/dia de
diversas fibras solúveis, incluindo
guar, pectina, farelo de aveia e fi-
bra de soja reduzem os níveis de
colesterol e glicose no sangue em
torno de 5 a 15% (BORGES et
al., 2006).
capítulo 5 • 121
componentes lipídicos em razão de suas propriedades antioxidantes (BORGES et
al., 2006).
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capítulo 5 • 123
Variações ocorrem em algumas variedades de feijão em relação à composição
centesimal, de minerais, lignina, polifenóis, atividade da peroxidase, atividade da
polifenol oxidase, digestibilidade da proteína in vitro e capacidade de absorção
de água. Os fatores antinutricionais que fazem parte do alimento são de natureza
variada (MECHI; CANIATTI-BRAZACA; ARTHUR, 2005).
Os feijões também apresentam baixa digestibilidade, quando comparados às
proteínas de origem animal (SGARBIERI, 1996). Um dos fatores a interferir na
baixa digestibilidade das proteínas do feijão cru é a presença dos inibidores de
proteases. Embora estes pareçam ser geralmente inativados durante o cozimento,
há relatos na literatura de atividade residual após o processamento dessa legumi-
nosa e também um outro fator seria a composição de suas proteínas (TOLEDO;
CANNIATTI-BRAZACA, 2008).
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capítulo 5 • 124
Os fitoquímicos da soja têm chamado a atenção dos pesquisadores, principal-
mente os flavonoides, que tendo sido associados à redução dos riscos de doenças
crônicas não transmissíveis como as doenças cardiovasculares, alguns tipos de cân-
ceres e osteoporose. Apesar da alta produtividade e de suas propriedades nutricio-
nais e funcionais, a soja é ainda pouco usada na dieta do brasileiro, devido ao seu
sabor e odor desagradável por causa da presença de diversos compostos orgânicos
nas sementes, à indução de flatulência gerada por oligossacarídeos (estaquiose,
rafinose e verbascose), e aos seus componentes antinutricionais, como inibidores
de proteases (SILVA et al., 2006).
A soja tem sido bastante utilizada como substituto da proteína animal, en-
riquecendo produtos processados, substituindo produtos cárneos, o que reduz o
valor calórico desses alimentos, sem, no entanto, alterar a qualidade proteica do
mesmo. Segundo Silva et al. (2006), a adição apropriada de derivados de soja re-
sulta em produtos alimentícios menos calóricos; com teor de lipídeos reduzido e
com elevado conteúdo de proteína adequada às necessidades nutricionais de indi-
víduos adultos; mais baratos; além de preservar as características físicas e sensoriais
do produto tradicional.
A princípio, a ervilha era cultivada tanto para forragem quanto como ali-
mento. Na alimentação, pode ser consumida na forma de grãos secos, moídos ou
inteiros, ou na forma de grãos verdes. Com o desenvolvimento da indústria de
capítulo 5 • 125
alimentos, foram colocadas em prática formas alternativas de conservação da er-
vilha. Atualmente, é comercializada de várias formas, como: enlatada, congelada,
na forma de farinhas, preparações ou frescas (CANNIATTI-BRAZACA, 2006).
Hortaliças
capítulo 5 • 126
etc.), frutos (abóbora, berinjela, chuchu, pepino, jiló, moranga, pimenta, maxixe,
pimentão, abobrinha, tomate etc.) e caules (acelga, aipo, aspargo etc.).
Com relação ao teor de carboidratos, as hortaliças são classificadas em grupo
A, com até 5% de carboidratos (abobrinha, acelga, agrião, alface, almeirão, as-
pargos, berinjela, brócolis, cebolinha, couve, couve-flor, espinafre, jiló, mostarda,
pimentão, rabanete, repolho, tomate, palmito, pepino); grupo B, com até 10%
(abóbora, beterraba, chuchu, cenoura, nabo, quiabo, vagem) e grupo C, com até
20% (batata-inglesa, batata-doce, batata-baroa, cará, cogumelo, inhame, mandio-
ca, milho-verde, pinhão, semente de gergelim, araruta).
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capítulo 5 • 127
Ricas em vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes, todas as hortaliças (com
exceção de tubérculos e raízes) são compostas majoritariamente por água. Por isso,
além de fornecer compostos úteis para a realização de uma série de reações orgâ-
nicas, elas também auxiliam na hidratação do corpo, que é constituído aproxima-
damente por 70% de água. Devido aos nutrientes que têm, o consumo diário de
hortaliças é extremamente benéfico para a saúde. A única vitamina que as horta-
liças não apresentam é a B12, que está presente somente em alimentos de origem
animal como carne, leite e derivados.
A recomendação mínima de consumo de frutas e hortaliças é de 400 g/dia,
o que corresponde no Brasil de 6% a 7% das calorias totais de uma dieta de
2.300 kcal diárias (FAO/WHO/ONU, 2004). O baixo consumo de frutas e hor-
taliças tem sido associado ao risco de ocorrência de certos tipos de câncer e doen-
ças cardiovasculares (MELO et al., 2016).
Evidências epidemiológicas têm demonstrado que existe forte correlação in-
versa entre o consumo regular de frutas e hortaliças e a prevalência de algumas
doenças degenerativas. O efeito protetor exercido por estes alimentos tem sido
atribuído à presença de compostos antioxidantes, dentre os quais se destacam os
compostos fenólicos, além dos bem conhecidos b-caroteno, vitamina C e vitami-
na E. Os compostos fenólicos, constituintes de um amplo e complexo grupo de
fitoquímicos, são produtos secundários do metabolismo vegetal. O teor desses
fitoquímicos em vegetais é amplamente influenciado por fatores genéticos, con-
dições ambientais, além do grau de maturação e variedade da planta, entre outros
(MELO et al., 2006).
Leia mais em: VIANA, M. M. S. et al. Composição fitoquímica e potencial
antioxidante de hortaliças não convencionais. Hortic. Bras., Vitoria da Conquista,
v. 33, n. 4, p. 504-509, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-05362015000400504&lng=en&nrm=iso>.
Carnes e ovos
capítulo 5 • 128
Estruturalmente as carnes são formadas pelo tecido muscular propriamente
dito, tecido conjuntivo e tecido gorduroso. O tecido muscular é basicamente for-
mado por feixes de fibras musculares, microscópicas, de forma tubular, formados a
partir do empacotamento dessas fibras recobertas por tecido conjuntivo. As proteí-
nas que compõem o tecido muscular são as proteínas miofibrilares (actina, miosina,
actomisina). O tecido conjuntivo, formado basicamente por colágeno e elastina,
permite a estruturação dos feixes de fibra do tecido muscular, bem como faz parte da
composição dos tendões e ligamentos que fixam a musculatura no esqueleto ósseo.
A quantidade de tecido conjuntivo varia nos diferentes músculos e está dire-
tamente ligada à maciez das carnes após a cocção. O colágeno é a proteína que se
desnatura e absorve água durante o cozimento, formando um gel, o que garante
maciez a elas após o preparo utilizando calor úmido. Já a elastina não se abranda
após a cocção, sendo muito flexível, porém rígida após o tratamento térmico.
O tecido gorduroso das carnes está localizado entre as células do tecido con-
juntivo e os principais depósitos estão localizados no tecido adiposo que recobre
os órgãos internos, entre os músculos e envolta deles. A gordura confere maciez e
sabor as carnes, reduz o tempo de cocção e diminui as perdas dos sucos por eva-
poração (PHILIPPI, 2014).
Os valores nutricionais das carnes se concentram no conteúdo de proteínas de
alto valor biológico (10% a 20%), gorduras (5% a 30%), vitaminas do complexo
B, vitamina A e minerais como o ferro, fósforo, zinco, magnésio, sódio, potássio
e cálcio). O ferro se destaca dentre os minerais presentes nas carnes, pois é o ferro
heme, ligado à hemoglobina e mioglobina, correspondendo ao ferro de melhor
biodisponibilidade na alimentação humana, com absorção em torno de 15% a
35% (PHILIPPI, 2014).
capítulo 5 • 129
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capítulo 5 • 130
demais alimentos, apresentando casca (composta de carbonato de cálcio, com po-
roso para troca de gases, coberta por uma película que impede a saída de água e
entrada de micro-organismos), clara (espessa mistura de proteínas e água) e gema
(dispersão de fosfolipídeos e lipoproteínas em uma solução de proteínas globula-
res) (PHILIPPI, 2014).
Os ovos são fontes de proteínas, assim como as carnes, proteínas de alto valor
biológico, ácidos graxos essenciais, além de vitaminas A, D e vitaminas do com-
plexo B. A gema é composta majoritariamente de gorduras, com cerca de 5% de
moléculas de colesterol. Já a clara é composta por cerca de 10% de proteínas e
90% de água. Minerais como o ferro é o mais prevalente na composição dos ovos,
variando de acordo com a alimentação da ave, assim como o teor de carotenoides
que se concentram na gema (PHILIPPI, 2014).
A proteína do ovo pode ser considerada padrão quando se compara às outras
fontes proteicas com 93,7% em valor biológico, a mais alta entre as fontes de
proteína disponíveis na natureza, sendo que em 100 g de ovo cozido encontra-
se em média 13 g de proteína. Essas proteínas são completas, porque contêm os
oito aminoácidos essenciais da dieta humana: lisina, metionina, triptofano, vali-
na, histidina, fenilalanina, leucina, isoleucina e treonina. Esses aminoácidos estão
distribuídos em todos os componentes do ovo, sendo a maioria, encontrados na
clara e em menor proporção na gema (KOVACSNOLAN, 2005; USDA, 2012).
capítulo 5 • 131
espessamento da clara e, por isso, contribui para o espessamento de preparações
nas quais a clara é adicionada.
Laticínios
capítulo 5 • 132
fermentos adicionados e os processos de maturação (PHILIPPI, 2014). O queijo e
todos os outros produtos derivados do leite podem ser obtidos do leite de diversos
animais mamíferos, como vaca, cabra, ovelha e búfala, sendo esses os mais comuns
disponíveis no mercado.
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Óleos e gorduras
capítulo 5 • 133
Com relação à composição química de óleos e gorduras, esse grupo de ali-
mentos é basicamente formado por lipídeos, sendo importante fonte energética
na nossa alimentação, fornecendo cerca de 9 kcal/g. Além de contribuírem para
o aporte de calorias do alimento, os óleos e as gorduras conferem maciez e palata-
bilidade às preparações, são veículos de ácidos graxos essenciais como o linoleico,
linolênico e araquidônico (ácidos graxos polinsaturados), moléculas de colesterol
e veículos de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), contribuindo para o aumento
da biodisponibilidade desses micronutrientes.
Todos os ácidos graxos polinsaturados desempenham papel importante no
metabolismo e transporte das gorduras, na função imune e de manutenção da
função e integridade das membranas celulares. Os ácidos graxos formados a par-
tir dos ácidos graxos essenciais: araquidônico, eicosapentaenoico (EPA) e doco-
saexaenoico (DHA) servem como substrato para a biossíntese das prostaglandinas,
leucotrienos e tromboxanos. Os eicosanoides derivados do ácido araquidônico
são potentes pró-inflamatórios e pró-agregatórios, opostos em comparação aos
eicosanoides derivados do EPA, protetores contra doenças coronarianas, hiperten-
são e doenças inflamatórias, assim como: a artrite reumatoide, a psoríase e a colite
ulcerativa (SANIBAL; MANCINI-FILHO, 2002).
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capítulo 5 • 134
gorduras do tecido adiposo de animais, a banha, toucinho, manteiga e bacon.
A figura a seguir apresenta uma comparação do conteúdo dos ácidos graxos nos
óleos e gorduras.
Óleo de canola 7 21 11 61
Óleo de cártamo 8 14 1 77
Óleo de linhaça 9 16 57 18
Óleo de girassol 12 71 1 16
Óleo de milho 13 57 1 29
Azeite de oliva 15 9 1 75
Óleo de soja 15 54 8 23
Óleo de amendoim 19 33 * 48
Óleo de algodão 27 54 * 19
Banha de porco 43 9 1 47
Óleo de palma 51 10 * 39
Manteiga 68 3 1 28
Óleo de coco 91 2 7
capítulo 5 • 135
em três tipos diferentes de reações: os óleos e gorduras podem hidrolisar para
formar ácidos graxos livres, monoacilglicerol e diacilglicerol, e/ou podem oxidar
para formar peróxidos, hidroperóxidos, dienos conjugados, epóxidos, hidróxidos
e cetonas e/ou podem se decompor em pequenos fragmentos ou permanecer na
molécula do triacilglicerol e se associarem, conduzindo a triacilgliceróis diméricos
e poliméricos (SANIBAL; MANCINI-FILHO, 2002).
Sob condições de aquecimento excessivo, óleos e gorduras são levados à for-
mação de inúmeros isômeros geométricos trans dos ácidos graxos oleico, linoleico
e a-linolênico. Há evidências de que a modesta ingestão de ácidos graxos trans
pode afetar o perfil das lipoproteínas, aumentando a lipoproteína de baixa densi-
dade (LDL) e diminuindo a lipoproteína de alta densidade (HDL) (SANIBAL;
MANCINI-FILHO, 2002).
O consumo de altas quantidades de gorduras está relacionado com o aumento
do risco da obesidade e de alguns tipos de câncer, sendo que a ingestão de ácidos
graxos saturados e de ácidos graxos trans está associada ao aumento do colesterol
sanguíneo e às doenças coronarianas (PINHEIRO; PENNA, 2004).
Leia mais em: PINTO, A. L. D. et al. Determinação e verificação de como a
gordura trans é notificada nos rótulos de alimentos, em especial naqueles expressos
“0% gordura trans”. Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 19, 2016. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-67232016
000100402&lng=en&nrm=iso>.
RESUMO
Os alimentos podem ser divididos em grupos, de acordo com características nutricionais
e químicas que os categorizam em alimentos ricos em macro e micronutrientes específicos.
Além das características nutricionais, é importante conhecer também sua composição quí-
mica no que diz respeito à sua ação funcional no alimento, ao que chamamos de proprie-
dades funcionais. O grupo de açúcares e frutas compreende os alimentos ricos em mono e
dissacarídeos, de sabor adocicado e com destaque para a presença de compostos bioativos
presente nas frutas e no grupo das hortaliças, que além desses compostos têm fibras alimen-
tares em sua composição. Cabe ressaltar que as frutas e hortaliças poderiam ser agrupadas
no sentido de serem os alimentos mais ricos em compostos bioativos, os chamados de fito-
químicos, e devido fato de que o seu consumo regular está associado à redução do risco de
doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, câncer e obesidade. Os cereais e legu-
minosas, ricos em carboidratos, fibras alimentares e valor considerável de proteína compõem
capítulo 5 • 136
o outro grupo de alimentos. O teor de proteínas desse grupo se complementa, visto que se
observa a presença de aminoácidos limitantes em ambos os grupos e o consumo desses
alimentos na mesma refeição pode complementar o perfil de aminoácidos da porção proteica
do prato, como exemplificado diariamente pelos brasileiros por meio do famoso arroz com
feijão. Carnes e ovos se destacam por ser o grupo de alimentos ricos em proteínas de alto
valor biológico, ou seja, com todos os aminoácidos essenciais em quantidades e proporções
adequadas às necessidades humanas. Além disso, o ferro aparece como o micronutrien-
te de interesse desse grupo, cuja biodisponibilidade é superior ao ferro de origem vegetal.
O ovo, pelo seu perfil peculiar de proteínas com diferentes aspectos funcionais, pode ser
utilizado como ingredientes de várias preparações, conferindo textura e consistências dife-
renciadas. Já os laticínios se destacam pelo conteúdo considerável do mineral cálcio e seu
consumo está associado à manutenção da saúde do tecido ósseo em todas as faixas etárias
da população. Além de cálcio, os laticínios são ricos em proteínas e gorduras, importantes
industrialmente para elaboração de subprodutos, como manteiga, creme de leite e queijos.
Por fim, o último grupo de alimentos aqui abordados foram os óleos e gorduras. Ricos em
lipídeos, ácidos graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis, os óleos e gorduras contribuem
significativamente par ao valor calórico das preparações e são bastante utilizados na indús-
tria de alimentos devido às suas capacidades funcionais como palatabilidade, maciez, textura,
conservação e durabilidade dos produtos, além de contribuírem para o transporte de vitami-
nas A, D, E e K. Portanto, observa-se que é de extrema importância conhecer e estudar a
composição dos mais variados grupos de alimentos, a fim de ter subsídios para a prescrição
dietética, a orientação nutricional e permitir escolhas e trocas inteligentes no que tange à
utilização dos macro e micronutrientes e compostos bioativos a favor da promoção da nossa
saúde e redução dos riscos de doenças, sejam carenciais, sejam crônicas mão transmissíveis.
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