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DA NUTRIÇÃO
autora
MANOELA PESSANHA DA PENHA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2016
Conselho editorial sergio augusto cabral, roberto paes e paola gil de almeida
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.
isbn: 978-85-5548-304-2
Prefácio 7
Bons estudos!
7
1
Introdução
à Disciplina
de Exercício
Profissional em
Nutrição
1. Introdução à Disciplina de Exercício
Profissional em Nutrição
OBJETIVOS
• Apresentar os principais conceitos em nutrição, destacando as leis da alimentação e a
importância da alimentação para a saúde;
• Definir os grupos de alimentos (energéticos, construtores e reguladores) e apresentar suas
fontes na alimentação humana;
• Definir o que é nutriente (carboidrato, proteína, lipídeos, vitaminas e minerais);
• Apresentar os conceitos de dieta e escolhas alimentares;
• Introduzir o aluno à leitura do Guia Alimentar para a População Brasileira;
• Entender a importância das disciplinas que fazem parte do curso de graduação em Nutri-
ção contempladas pelas áreas exigidas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais na prática do
nutricionista no país.
10 • capítulo 1
1.1 Conceitos básicos da ciência da Nutrição
Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010), a saúde pode ser definida
como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas ausên-
cia de doença ou enfermidade”.
capítulo 1 • 11
PERSPECTIVAS PRINCIPAIS COMPONENTES
12 • capítulo 1
POSTULADOS
SAIBA MAIS
LIMA, E. S. Quantidade, qualidade, harmonia e adequação: princípios-guia da sociedade
sem fome em Josué de Castro. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p.
171-194, mar. 2009. O artigo compila outras obras de mesmo cunho informativo e social de
Pedro Escudero, buscando uma discussão sobre os aspectos biológicos e sociais que leva-
ram à formação da nutrição.
capítulo 1 • 13
1.3 Alimentos
14 • capítulo 1
de origem animal, vegetal ou mineral, sem sofrer qualquer tipo de processa-
mento), processados (alimentos que tenham sofrido algum processo tecnoló-
gico para sua conservação, como sucos de frutas, embutidos, produtos enlata-
dos) e ultraprocessados (alimentos que tenham sido totalmente modificados
por meio de processos tecnológicos como biscoitos tipo snacks, sucos em pó).
Podemos ainda classificar os alimentos conforme a sua forma de atuação
no nosso organismo, levando em consideração os nutrientes presentes em sua
composição. Assim, os alimentos classificam-se em energéticos, construtores
e reguladores (veja tabela 1.3).
ALIMENTOS
ENERGÉTICOS
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capítulo 1 • 15
Fornecem substratos para construção dos tecidos e órgão
do nosso corpo (pele e músculos). São ricos em proteínas,
como as carnes (de boi, porco, aves, peixes), os ovos, leites
e derivados, as leguminosas (feijões, lentilha, ervilha).
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ALIMENTOS
CONSTRUTORES
ALIMENTOS
REGULADORES
De uma forma geral, os alimentos são classificados de acordo com sua ori-
gem, suas propriedades físicas e químicas, em consonância com o seu proces-
samento até chegar ao consumidor e conforme sua ação no nosso organismo.
16 • capítulo 1
1.4 Nutrientes
Figura 1.1 – Variação do percentual de água corporal de acordo com o avanço da idade.
capítulo 1 • 17
Ainda que possamos reconhecer rapidamente nossa necessidade biológica
em beber água, há uma tendência em ignorar a presença de quantidades sig-
nificativas de água nos alimentos. A água corresponde a cerca de 70 a 95% da
composição de alguns alimentos vegetais como alface, tomate, repolho, bróco-
lis, cenoura, maça, melancia, entre outros.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, devemos beber de 2 a 3 litros de
água por dia. Indiretamente, os alimentos contribuem para cerca de 40% das
nossas necessidades de água no organismo, enquanto o restante deve ser obti-
do diretamente da ingestão da água.
1.4.1 Carboidratos
Glicose
Já os açúcares complexos ou carboidratos complexos compreendem basica-
mente o amido, o glicogênio e as fibras.
18 • capítulo 1
Amido é a molécula de reserva de energia dos tubérculos, raízes, cereais, legumino-
sas, sendo formado por moléculas de amilose e amilopectina, ambas compostas pela
junção de moléculas de glicose.
HO HO HO
H O H H O H H O H
H H H
OH H OH H OH H
OH O O OH
H OH H OH H OH
n
Amilose
HO
H O H
H
OH H
O
O
HO H OH HO
H O H H O H H O H
H H H
OH H OH H OH H
O O O O
H OH H OH H OH
Amilopectina
1.4.2 Proteínas
capítulo 1 • 19
Aminoácidos são moléculas fundamentais que dão origem às proteínas. Os aminoá-
cidos se unem por meio de uma ligação química chamada ligação peptídica, formando
as diferentes proteínas com diversas funções que temos na natureza.
A proteína da nossa dieta fornece aminoácidos por meio dos quais o corpo
produz suas próprias proteínas (COULATE, 2004). O nosso organismo é forma-
do por 12 a 15% de proteínas, sendo que a maior parte se encontra no tecido
muscular (músculos). As proteínas constituem a parte estruturante do corpo
humano, sendo responsáveis pela formação dos tecidos e órgãos, mas também
apresentam funções importantes como formação de hormônios, enzimas e
componentes de mecanismo de defesa (anticorpos).
Enzimas são proteínas com função de acelerar as reações bioquímicas que ocor-
rem no nosso organismo. São então consideradas catalisadores biológicos e são de
extrema importância para os processos de digestão dos alimentos. Amilase, pepsina e
lipase são exemplos de enzimas que auxiliam na digestão dos carboidratos, proteínas
e lipídeos, respectivamente.
Aminoácidos essenciais são aqueles aminoácidos que precisam ser adquiridos por
meio da ingestão de alimentos. Os alimentos de origem animal possuem todos os
aminoácidos essenciais, em quantidades adequadas às nossas necessidades. Com
relação aos alimentos de origem vegetal, as leguminosas são deficientes em metioni-
na, enquanto os cereais são deficientes em lisina.
20 • capítulo 1
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SAIBA MAIS
A combinação entre leguminosas e cereais permite a formação de uma proteína com todos
os aminoácidos essenciais, o que valoriza a nossa combinação brasileiríssima do arroz com
feijão, em suas diferentes formas pelo país (arroz com feijão, baião de dois, arroz com lentilha).
1.4.3 Lipídeos
capítulo 1 • 21
forma de triglicerídeos. Além dos triglicerídeos, temos ainda o colesterol e os
fosfolipideos como constituintes dos lipídeos dos alimentos e do nosso corpo.
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Os triglicerídeos são formados por três ácidos graxos unidos por uma molécula de
glicerol. Eles correspondem a cerca de 90% dos lipídeos da nossa ingestão alimentar.
22 • capítulo 1
temperatura ambiente, apresentam-se em forma sólida, o que caracteriza as
gorduras presentes nos alimentos de origem animal (carnes, leites, ovos, ba-
nha de porco) e no óleo de coco.
No nosso organismo, os lipídeos encontram-se associados às membranas
celulares na forma de fosfolipídeos, armazenados nos adipócitos (células de
gordura) do tecido adiposo ou circulantes na corrente sanguínea, na forma de
ácidos graxos livres ou como lipoproteínas (como o HDL – lipoproteína de alta
densidade e o LDL – lipoproteína de baixa densidade).
1.4.4 Vitaminas
capítulo 1 • 23
VITAMINAS ALIMENTOS FONTES
Carnes; ovos; leites e derivados; hortaliças verde
Vitamina A -escuras; hortaliças amarelo-alaranjadas como
abóbora, cenoura, laranja; oleaginosas
1.4.5 Minerais
24 • capítulo 1
Esses elementos possuem funções orgânicas essenciais, atuando como
constituintes de enzimas, hormônios, secreções e proteínas do tecido orgânico.
Da mesma forma que as vitaminas, suas deficiências no consumo podem aca-
bar levando a síndromes específicas como, por exemplo, a anemia ferropriva.
capítulo 1 • 25
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26 • capítulo 1
Assim, não só carboidratos e lipídeos, mas também as proteínas apresen-
tam uma quantidade de calorias referente à sua queima no nosso organismo. A
tabela 1.5 apresenta esses valores.
PROTEÍNAS 4,0
LIPÍDIOS 9,0
Tabela 1.5 – Energia dos nutrientes dos alimentos aproveitada pelo nosso organismo.
Esse valor energético exposto para cada nutriente está relacionado à energia
contida no nutriente que o organismo consegue utilizar para as suas funções
vitais. Dessa forma podemos ter uma ideia, por meio do cálculo, de quanto cada
alimento pode fornecer de energia e qual nutriente contribui mais ou menos
para a sua densidade calórica.
Para esse cálculo, temos tabelas de composição de alimentos, que apresen-
tam valores em gramatura desses nutrientes para diferentes tipos de alimentos
analisados.
CONEXÃO
A tabela TACO (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos) pode ser obtida pelo link:
<http://www.unicamp.br/nepa/taco/tabela.php?ativo=tabela>. Nessa tabela, temos os va-
lores de vários nutrientes por 100 g de alimentos nacionais e regionais.
capítulo 1 • 27
1.5 Dieta
Por definição podemos entender como dieta tudo aquilo que nos alimenta du-
rante um dia, desde o momento em que acordamos até irmos dormir. A die-
ta é diferenciada para cada indivíduo e determinada pelas suas necessidades
pessoais, hábitos alimentares, estilo de vida e preferências, bem como estado
fisiológico e estado geral de saúde ou doença.
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Segundo Palermo (2008), para que uma dieta seja considerada nutritiva,
ela deve:
• Fornecer o suficiente de cada nutriente (carboidrato, proteína, lipídio);
• Respeitar o balanço entre todos os nutrientes;
• Disponibilizar energia suficiente para manter o peso apropriado
do indivíduo;
• Ser composta de alimentos que não sejam fonte excessiva de sal, açúcares
e gorduras;
• Conter alimentos diferentes o mais variado possível a cada dia.
28 • capítulo 1
1.6 Escolhas alimentares
CONEXÃO
O guia está disponível pelo link: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimen-
tar_populacao_brasileira_2008.pdf>.
capítulo 1 • 29
Segundo o guia, muitos fatores de natureza física, econômica, política e
cultural podem influenciar positiva ou negativamente o padrão de alimenta-
ção das pessoas. Por exemplo, morar em locais onde há feiras e mercados que
comercializam frutas, verduras e legumes com boa qualidade torna mais fácil
a adoção de padrões saudáveis de alimentação. No entanto, outros fatores po-
dem dificultar a adoção desses padrões, como o custo mais elevado dos alimen-
tos naturais diante dos industrializados, a necessidade de fazer refeições em
locais onde não são oferecidas opções saudáveis de alimentação e a exposição
intensa à publicidade de alimentos não saudáveis.
30 • capítulo 1
ÁREAS E CONTEÚDOS DISCIPLINAS
capítulo 1 • 31
Espera-se que os conteúdos, contemplados durante toda a graduação em
nutrição, associados às atividades complementares como estágios, atividades
de pesquisa e extensão e monitoria, previstas nas Diretrizes Curriculares dos
Cursos de Graduação em Nutrição possam orientar a formação de um profis-
sional com visão generalista, humanista e crítica; capacitado a atuar em todas
as áreas do conhecimento em que alimentação e nutrição se apresentem fun-
damentais para a promoção, manutenção e recuperação da saúde e para a pre-
venção de doenças, pautado em princípios éticos, sempre levando em conside-
ração a realidade econômica, política, social e cultural de indivíduos ou grupos
populacionais (BRASIL, 2001).
RESUMO COMENTADO
A ciência da nutrição é o estudo das relações entre os alimentos e o indivíduo, do ponto de
vista fisiológico e bioquímico e dos fatores que podem influenciar as escolhas alimentares.
Para tanto, durante o curso de graduação em Nutrição, conceitos relacionados aos nutrientes
e grupos de alimentos são de extrema importância para o entendimento dos objetivos da for-
mação do profissional nutricionista. As leis da quantidade, qualidade, harmonia e adequação
norteiam a nossa alimentação, buscando a ingestão de alimentos em quantidade suficiente
e com qualidade, de forma harmoniosa, adequados às nossas necessidades para a manu-
tenção da saúde e bem-estar. Os nutrientes são componentes dos alimentos, responsáveis
por nutrir o nosso organismo e por diversas funções específicas. Carboidratos, proteínas,
lipídeos, vitaminas e minerais, além da água, fazem parte desses nutrientes que estudaremos
durante todo o curso de nutrição. Os alimentos energéticos são fonte de carboidratos e lipí-
deos, enquanto os alimentos construtores são fonte de proteínas e os reguladores, fonte de
vitaminas e minerais. Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira, devemos priori-
zar o consumo dos alimentos naturais (in natura) em detrimento aos alimentos processados e
ultraprocessados. No entanto, não é somente o valor nutricional que define o que comemos,
mas também o caráter afetivo, social, cultural e econômico dos alimentos. Esses fatores são
determinantes para as nossas escolhas alimentares e o nutricionista é o profissional melhor
qualificado para dar orientações e discutir alimentação e nutrição, uma vez que as discipli-
nas do curso de graduação em nutrição permitem a integração dos aspectos fisiológicos
e bioquímicos sobre nutrientes e alimentos aos aspectos socioculturais e econômicos que
influenciam os hábitos alimentares de indivíduos e coletividades.
32 • capítulo 1
REFLEXÃO
Converse com seus colegas de sala e discuta sobre o que influencia suas escolhas alimenta-
res. O quanto a mídia influencia a escolha de seus alimentos? E a sua família? Vamos refletir!
LEITURA
BALDISSERA, G.; SILVA, S.; ZANETI, I.; HAGEN, M.; MAGALHÃES, C. Práticas e hábitos
alimentares de crianças e adolescentes: a relação entre os aspectos socioculturais e mi-
diáticos. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 12, n. 1, p. 289-300, 2015. Disponível em: <
http://ac.els-cdn.com/S0870902515000085/1-s2.0-S0870902515000085-main.
pdf?_tid=273b3d32-e8b3-11e5-a1b0-00000aab0f01&acdnat=1457829366_05d9ccff-
243c05294d6e0a2bb86b7b65>.
Assista à série “Cooked”, disponível no Netflix. O trailer pode ser visto pelo link: <https://
youtu.be/epMAq5WYJk4>. A série é inspirada no livro Cozinhar, Uma História Natural da
Transformação, de Michael Pollan e resgata a importância da comida de verdade e o que
influencia nossas escolhas alimentares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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balanceada. International Journal of Nutrology, v.4, n.3, p.53-59, 2011.
BALDISSERA, G.; SILVA, S.; ZANETI, I.; HAGEN, M.; MAGALHÃES, C. Práticas e hábitos
alimentares de crianças e adolescentes: a relação entre os aspectos socioculturais e midiáticos.
Caderno Pedagógico, Lajeado, v. 12, n. 1, p. 289-300, 2015.
BEZERRA, J. A. B. Educação alimentar e a constituição de trabalhadores fortes, robustos
e produtivos: análise da produção científica em nutrição no Brasil, 1934-1941. História, Ciências,
Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.19, n.1, p.157-179, 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Institui diretrizes curriculares
nacionais do curso de graduação em nutrição. Resolução CNE/CES 5, de 7 de novembro de
2001. Diário Oficial da União. 2001; nov 9, Seção 1, p.39.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde,
Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
capítulo 1 • 33
CARDOSO, S.; SANTOS, O.; NUNES, C.; LOUREIRO, I. Escolhas e hábitos alimentares em
adolescentes: associação com padrões alimentares do agregado familiar. Revista Portuguesa de
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COULATE, T. P. Alimentos: a química de seus componentes. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
COZZOLINO, S. M. F. Biodisponibilidade de nutrientes. 2. ed. Barueri: Manole, 2007.
DAMODARAN, S. Química de alimentos de Fennema. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
LIMA, E. S. Quantidade, qualidade, harmonia e adequação: princípios-guia da sociedade sem fome
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LIMA, F. E. L.; MENEZES, T. N.; TAVARES, M. P.; SZARFARC, S. C.; FISBERG, R. M. Ácidos graxos e
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MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S. Krause, Alimentos, nutrição e dietoterapia. Rio de Janeiro:
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PALERMO, J. R. Bioquímica da nutrição. São Paulo: Atheneu, 2008.
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Unicamp – Universidade Estadual de Campinas. Tabela brasileira de composição de alimentos, 4.
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WHO. WORDL HEALTH ORGANIZATION. Definition of Health. WHO 2010. Disponível em:
<http://www.who.int/about/definition/en/pri nt.html>.
34 • capítulo 1
2
Análise histórica
do Processo
de Emergência
e Evolução da
Profissão de
Nutricionista no
Brasil
2. Análise histórica do Processo de
Emergência e Evolução da Profissão de
Nutricionista no Brasil
Para que possamos compreender a ciência da nutrição e o papel do nutricionis-
ta na nossa sociedade, é importante que saibamos como essa profissão surgiu
dentro do conjunto das profissões da área da saúde, bem como a relevância
desse profissional ao longo dos anos.
Por isso, nesse capítulo abordaremos o histórico da profissão nutricionista
no Brasil, buscando entender os processos de emergência e evolução da profis-
são dentro do cenário sociocultural e econômico do país e o papel desse profis-
sional para a promoção de saúde na nossa sociedade.
OBJETIVOS
• Compreender a história da alimentação e o surgimento da ciência da Nutrição;
• Conhecer a história da ciência da Nutrição no Brasil;
• Entender o cenário mundial que impulsionou a constituição do campo científico da Nutrição;
• Analisar historicamente o processo de emergência e evolução da profissão de nutricionista
no Brasil, incluindo a expansão dos cursos profissionalizantes.
36 • capítulo 2
A história da ciência da Nutrição pode ser contada entendendo-se um pou-
co da história da alimentação, de como o homem passou a utilizar os alimentos
para a sua nutrição. Não se sabe ao certo em que momento o homem começou
a ter essa percepção, mas sabe-se que o consumo de alimentos e a sua evolução
dentro da sociedade estão intimamente ligados.
No período Paleolítico (500.000 a.C. a 1.000 a.C.), o homem ainda não conhecia
a agricultura e a domesticação de animais e a subsistência era garantida com a
coleta de frutos e raízes, além da pesca e da caça bastante diversificada de ani-
mais. Para isso, empregavam-se instrumentos rudimentares, feitos de ossos,
madeira ou lascas de pedra (BRASIL, 2001a).
Nesse período, a escassez de alimentos e a hostilidade do meio ambiente
obrigavam os grupos humanos a viver como nômades. A migração de animais e
seres humanos também foi estimulada pelas profundas mudanças climáticas
e ambientais que aconteceram naquele período (BRASIL, 2001a). Assim, os ho-
mens primitivos foram ocupando as diversas regiões do globo.
capítulo 2 • 37
Conforme Terlato (2012), o estudo da alimentação durante o Paleolítico
é importante para compreender as técnicas de subsistência, o uso do territó-
rio, a caça, a organização social e os variados comportamentos de grupos de
caçadores pré-históricos. Os homens do período Paleolítico passaram a se or-
ganizar socialmente, chegando a constituir vilas. Há então a formação de gru-
pos sociais.
Durante a evolução, o homem começou a construir moradias fixas perto de
rios para que houvesse facilidade no cultivo de alimentos que poderiam garan-
tir sua subsistência, deixando de ser nômade e passando a utilizar fortemente a
agricultura e a criação de animais. Segundo Montanari (2008), a atividade agrí-
cola significou um momento de ruptura, separando o homem da natureza, do
“mundo selvagem”.
A abundância de cereais em algumas regiões, especialmente de aveia, trigo
e cevada iniciou o processo de desenvolvimento agrícola pelos povos antigos.
A caça já era de animais menores, característicos da fauna atual: javalis, le-
bres, pássaros, além da criação de bovinos, ovinos, caprinos e suínos (BRASIL,
2001a). Nesse momento, o homem passou a produzir peças e utensílios, surgin-
do então o comércio e formas de armazenamento dos alimentos.
No final desse período, chamado de Idade dos Metais, a ação do homem
sobre a natureza tornou-se mais intensa, explorando mais os recursos naturais
para a sua alimentação. As colheitas mais abundantes favoreceram o aumento
da população. Assim, formaram-se as tribos, caracterizadas por grupos familia-
res maiores.
É nessa época que se iniciou a base de nossa alimentação tradicional, que
é a cultura de cereais e principalmente de trigo e centeio, usados na fabricação
de pães. Também começam a ser produzidas bebidas e alimentos líquidos com
o emprego de cereais, raízes, caules, grãos, vagens, brotos, cozidos, ensopados
e condimentos (BRASIL, 2001a).
No Antigo Egito, os níveis mais ricos da sociedade tinham uma alimentação
farta e variada. Não se têm dados conclusivos sobre a alimentação do homem
comum dessa época, no entanto as fontes escritas e figurativas do Egito Antigo
apontam a agricultura, criação de animais, caça e pesca como modalidades de
produção alimentar.
38 • capítulo 2
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Havia uma associação entre saúde e longevidade, que dependia dos praze-
res à mesa. A inapetência (falta de apetite) era considerada sinal de doença. Os
egípcios eram grandes conhecedores da farmacopeia e das ervas medicinais e
já associavam a alimentação à cura de doenças (BRASIL, 2001a).
Na Antiguidade (século V a X d.C.) já se conheciam os efeitos preventivos e
terapêuticos da alimentação. Textos de Hipócrates, médico da Grécia Antiga,
revelam alguns produtos alimentícios consumidos pelos gregos e também a as-
sociação entre alimentos e o combate a doenças. São citados o cultivo de cerais
e leguminosas; a criação de bovinos, suínos, ovinos e de cães (para consumo);
a caça de javalis, lebres, raposas e aves; a pesca de peixes e moluscos; destacan-
do-se o consumo de queijos, frutas secas e frescas, hortaliças e condimentos. A
principal bebida era o vinho (ABREU et al, 2001; BRASIL, 2001a).
A alimentação na Roma Antiga era bastante parecida com a alimentação na
Grécia. Na Idade Média (século X a XV d.C.), três fatores da alimentação se des-
tacaram: o sabor forte (especiarias), a utilização do açúcar (doce) e os sabores
ácidos (vinho e vinagre). Havia uma preocupação com a aparência dos pratos
que eram consumidos (BRASIL, 2001a).
Já na Idade Moderna (século XV a XVIII), a agricultura passou a ter fins co-
merciais e não mais somente para a subsistência. Nessa época, alimentos como
tomate, batata, milho e arroz tornaram-se importantes na alimentação ociden-
tal e as crises na produção de cereais tiveram um impacto direto sobre a mor-
talidade da sociedade. As expedições marítimas foram de grande importância
para a descoberta de novos alimentos e especiarias (ABREU et al, 2001).
Na Idade Contemporânea (século XIX a XX), a agricultura para fins comer-
ciais continuou a se desenvolver, havendo aumento na variedade e no consumo
capítulo 2 • 39
de frutas e hortaliças. O consumo de açúcar passou a fazer parte do hábito de
todos os estratos da sociedade, antes restrito às elites. Observa-se um aumen-
to do consumo de ovos e de gorduras, tanto de origem vegetal quanto animal
(BRASIL, 2001a).
Hoje o homem tem uma grande variedade de produtos alimentícios, prin-
cipalmente por conta do processo de industrialização. Melhoramentos gené-
ticos, modificações e processos sofisticados de cultivo e produção criaram
alternativas para o setor de alimentos, sempre buscando atender às neces-
sidades da população. Alguns exemplos são os alimentos congelados e pré-
cozidos, enlatados, conservas, drive-thru, fast-food, delivery e self-service,
entre outros.
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40 • capítulo 2
2.3 A Nutrição como ciência
Figura 2.1 – Gravura representando Lavoisier, por Louis Jean Desire Delaistre, baseado em
desenho de Julien Leopold Boilly.
Até o século XIX, o estudo da nutrição havia sido orientado para a determi-
nação do valor calórico dos alimentos, não dando ênfase às fontes alimentares
de poucas calorias como as frutas e hortaliças. Avanços na endocrinologia, en-
tre a segunda metade do século XIX e o início do século XX trouxeram mudan-
ças nessa concepção e os estudos se aprofundaram nas relações entre alguns
micronutrientes como ferro, iodo, cálcio e vitamina D e os hormônios (ACUÑA;
CRUZ, 2003).
capítulo 2 • 41
Foi somente no século XX que a Nutrição começou a se estabelecer como
ciência, por meio da demonstração de que a deficiência de nutrientes ocasio-
nava doenças. Os primeiros estudos sobre nutrição pesquisaram as principais
doenças carenciais, como o escorbuto, beribéri, pelagra e raquitismo. Nos anos
30 do século XX, quase todas as vitaminas tinham sido descobertas e mostra-
ram ter ação terapêutica.
42 • capítulo 2
Pelagra – doença causada pela deficiência severa de niacina (vitamina B3). Os
sintomas de deficiência dessa vitamina incluem fraqueza muscular, anorexia, indiges-
tão e erupções cutâneas. A pelagra caracteriza-se por dermatite, demência, diarreia,
tremores e língua sensível.
capítulo 2 • 43
Na década de 1920, por influência do médico argentino Pedro Escudero
(1877-1963), ocorreu a emergência da ciência da Nutrição na América Latina.
Pedro Escudero foi o criador do Instituto Nacional de Nutrição, da Escola
Nacional de Dietistas e do Curso de Médicos Dietólogos da Universidade de
Buenos Aires. Suas concepções sobre a ciência da Nutrição, bem como sobre
as características do processo de formação e atuação dos especialistas em
Nutrição, foram difundidas em toda a América Latina (VASCONCELOS, 2002).
De acordo com Vasconcelos (2010), no processo de consolidação da socie-
dade capitalista-urbano-industrial, a ciência da Nutrição emergiu no Brasil,
nas décadas de 1930 e 1940. Nos primeiros anos da década de 1930, a ciência da
Nutrição se configurou sob duas perspectivas, como apresentadas no quadro a
seguir (tabela 2.1). Por meio dessas perspectivas, mais tarde estruturaram-se as
disciplinas que formam os cursos de ensino superior em Nutrição.
PERSPECTIVAS CARACTERÍSTICAS
44 • capítulo 2
Em 1932, por exemplo, influenciado por Escudero, José de Castro iniciou a
pesquisa: “As Condições de Vida das Classes Operárias no Recife”, que foi con-
siderada o primeiro inquérito dietético-nutricional do Brasil. A partir da segun-
da metade dos anos 1930, foram formuladas as primeiras medidas de Política
Social de Alimentação e Nutrição.
O processo de formação do nutricionista no Brasil teve início na década de
1940, idealizado pela primeira geração de médicos nutrólogos, quando foram
criados os quatro primeiros cursos do país. O profissional surgiu tanto den-
tro do setor saúde, tendo como objeto de trabalho a alimentação do homem
no seu plano individual ou coletivo, como no setor de administração de servi-
ços de alimentação do trabalhador (nos restaurantes populares do Serviço de
Alimentação da Previdência Social – SAPS).
O termo nutricionista era utilizado no Brasil desde 1939, conforme decreto
de criação do Curso do Instituto de Higiene de São Paulo e documentos dos
Cursos de Nutricionistas do SAPS e do Instituto de Nutrição da Universidade
do Brasil. O nutricionista era formado dentro de curso técnico de nível médio e
chamado de dietista, a exemplo do que se verificava nos países da Europa, EUA
e Canadá.
Observa-se que a emergência da Nutrição no Brasil localizava-se na área
das ciências da vida, caracterizando-se como uma ciência de natureza biológi-
ca. Considerando as concepções iniciais de Pedro Escudero e dada a comple-
xidade que permeava o estudo das relações entre homens-natureza-alimento
na sociedade, a Nutrição brasileira assumiu outras dimensões de natureza
sóciocultural e ambiental, caracterizando-se como um campo de conhecimen-
to multidisciplinar.
Na década de 1960, o Brasil já contava com sete cursos profissionalizantes
no campo da Nutrição e começava a se consolidar a área de Nutrição em saúde
pública na América Latina (CRISTOFOLLI; BONATO; RAVAZZANI, 2014). Nas
décadas de 1970 e 1980, com a intensificação do desenvolvimento científico-
tecnológico da indústria de alimentos, o campo da nutrição brasileiro passou a
manter interface com a Tecnologia e a Engenharia de Alimentos.
Nas duas últimas décadas do século XX, observou-se uma mudança no perfil
epidemiológico nutricional do país, que caracterizou um processo de transição
nutricional, no qual a sociedade que estava exposta às doenças carenciais (des-
nutrição energético-proteica, deficiência de vitamina A, pelagra, anemia ferro-
priva, deficiência de iodo etc.), convivia também com as doenças nutricionais
capítulo 2 • 45
crônicas não transmissíveis (obesidade, diabetes, dislipidemias, hipertensão,
certos tipos de câncer etc.) e, nesse contexto, vemos a necessidade de constru-
ção de novos enfoques explicativos e intervencionais (VASCONCELOS, 2002;
VASCONCELOS, 2007), de modo que o profissional nutricionista consiga lidar
com esse paradigma do estado de saúde da sociedade brasileira.
46 • capítulo 2
intervenções nas questões de alimentação e nutrição, uma vez que pessoas mal
alimentadas e com saúde deficiente produzem e consomem pouco e isso pode
ter um impacto negativo na economia de um país (PRADO, 1993).
Segundo diversos autores que analisaram o processo histórico de criação
da ciência da Nutrição e sua consolidação, o SAPS constitui-se como o primei-
ro órgão de política de alimentação e nutrição. Criado no contexto de política
populista do Estado Novo, destinava-se aos trabalhadores dos grandes centros
urbanos, promovendo a instalação e funcionamento de restaurantes nas indús-
trias, voltado para o abastecimento de gêneros alimentícios para os trabalhado-
res, de modo a garantir sua força de trabalho (VASCONCELOS; CALADO, 2011).
Conforme Prado (1993), além desse apoio para garantir a manutenção das
condições gerais de reprodução de capital, por meio da reposição da força de
trabalho, o SAPS levava educação alimentar às famílias dos trabalhadores, por
meio de visitas realizadas por pessoal especializado. Também eram feitas di-
vulgações de alimentação equilibrada e sobre o valor nutricional dos alimen-
tos, por meio de folhetos e cartazes, durante a realização das refeições nos res-
taurantes do SAPS.
O SAPS foi reorganizado em 1941 e em 1942, sendo extinto em dezembro de
1967. Em 1944, surgiu o Instituto Técnico de Alimentação (ITA), subordinado
à Coordenação de Mobilização Econômica, que em 1946 foi transformado em
Instituto Nacional de Nutrição da então Universidade do Brasil. Em 1945, foi
criada a Comissão Nacional de Alimentação (CNA). Essa comissão tinha como
objetivo estudar e propor normas para a política nacional de alimentação.
Em 1952, estabeleceu-se o Plano Nacional de Alimentação que tinha como
objetivos de trabalho a atenção à nutrição materno-infantil, a criação do progra-
ma da Merenda Escolar e a assistência ao trabalhador (LEMOS; MOREIRA, 2013).
A CNA foi extinta em 1972, mesmo ano em que foi criado o Instituto
Nacional de Alimentação e Nutrição (Inan), cuja função era auxiliar o governo a
formular a Política Nacional de Alimentação e a elaborar o Programa Nacional
de Alimentação e Nutrição (Pronan) (ARRUDA e ARRUDA, 2007).
O conjunto de ações planejadas pelo INAN, de modo geral, contribuiu para
o avanço das políticas de alimentação e nutrição no Brasil, mas a falta de com-
prometimento político com as causas sociais, dentre outros fatores, levou a
uma série de cortes de recursos financeiros para o programa, o que impossibi-
litou sua continuidade (PESSANHA, 2002).
capítulo 2 • 47
Em 1990, a criação do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional
(Sisvan), teve como objetivo a produção de informações que permitissem a de-
tecção, descrição e análise dos problemas alimentares e nutricionais, de modo
a subsidiar políticas e medidas de prevenção e correção desses problemas. No
período de 1990 a 1992, houve uma grande desestruturação dos programas de
alimentação e nutrição do país, sendo quase todos extintos.
De 1993 a 1996, o governo comprometeu-se a combater a fome, publican-
do o Mapa da Fome, o que auxiliou na elaboração inicial de uma Política de
Segurança Alimentar.
O movimento “ação da cidadania contra a fome, a miséria e pela vida”, liderado pelo
sociólogo Herbert de souza, o Betinho, teve grande importância no que se refere aos
movimentos organizados pela sociedade civil no sentido da segurança alimentar.
Em 1997 o Inan foi extinto, sendo que as ações na área de alimentação e nu-
trição por ele desenvolvidas foram redistribuídas no Ministério da Saúde. No ano
seguinte a extinção do Inan, o Sisvan foi adotado como um dos pré-requisitos
para a adesão ao Programa de “Incentivo ao Combate às Carências Nutricionais”.
48 • capítulo 2
Após a extinção da Inan, foi criada uma área específica para a alimentação
e nutrição no Ministério da Saúde, hoje chamada de Coordenação Geral de
Políticas de Alimentação e Nutrição – CGPAN, que abrange todos os programas
e políticas públicas de alimentação e nutrição.
A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) foi elaborada sob
coordenação da CGPAN e foi aprovada no ano de 1999, firmando o compromis-
so do Ministério da Saúde no combate aos males relacionados à escassez ali-
mentar e à pobreza, assim como aos causados pela alimentação inadequada e
pelos excessos, como o sobrepeso e a obesidade.
A PNAN é apresentada com o propósito de melhorar as condições de ali-
mentação, nutrição e saúde, em busca da garantia da Segurança Alimentar e
Nutricional da população brasileira (BRASIL, 2012).
CONEXÃO
Para conhecer mais sobre a pnan visite: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politi-
ca_nacional_alimentacao_nutricao.pdf>.
capítulo 2 • 49
A tabela 2.2 mostra os programas que estão inseridos no Fome Zero.
PROGRAMAS AÇÕES
50 • capítulo 2
PROGRAMAS AÇÕES
Tabela 2.2 – Programas que fazem parte do Fome Zero e suas respectivas ações.
Fonte: BRASIL (2007).
capítulo 2 • 51
Os primeiros cursos da região Nordeste surgiram na década de 1950, sendo
um na Universidade Federal da Bahia (1956) e um na Universidade Federal de
Pernambuco (1957). Em 1970, registrou-se a criação de 21 novos cursos, com
maior concentração de cursos na região Sudeste (7 cursos), seguida pela região
Sul (5 cursos), sendo que, destes, o primeiro foi ofertado pela Instituição de
Ensino Superior (IES) privada.
Esse crescimento do número de cursos de Nutrição se justificou pelo
grande crescimento de vagas no ensino superior no país, a partir da Reforma
Universitária em 1968, e devido à criação do Inan, em 1972, que tinha como
objetivo o incentivo à formação de recursos humanos para o desenvolvimento
dos seus programas e projetos, promovendo e apoiando a formação de cursos
de Nutrição no Brasil (VELOSO, SOUZA e SILVA, 2011).
O curso de Nutrição foi reconhecido como de nível superior pelo Conselho
Federal de Educação – CFE em 1962. Até 1964 os Cursos de Nutrição tinham a
duração de 1 ano, em tempo integral. A partir de 1964, o Ministério da Educação
e Cultura (MEC) fixou o primeiro currículo mínimo de matérias e determinou a
duração mínima de 3 anos para todos os cursos do país.
Em 2001, foram instituídas as diretrizes curriculares nacionais do curso de
graduação em Nutrição, onde se estabeleceu a carga horária mínima de quatro
mil horas como requisito essencial para a formação do nutricionista, para que
ele adquirisse os conhecimentos técnicos e científicos necessários ao desenvol-
vimento da assistência nutricional à população (BRASIL, 2001b).
Até 1996, ano em que foi criada a Lei de Diretrizes e Bases, o número de
Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil era de 43 escolas. A tabela 2.3
mostra o quantitativo de cursos de graduação em Nutrição no setor público e
privado no Brasil, de 1996 a 2013 (Inep, 2014).
IES TOTAL DE CURSOS
ANO
PÚBLICA PRIVADA
1996 20 23 43
2000 28 71 99
2003 31 114 145
2005 39 198 237
2008 51 260 311
2009 60 265 325
2011 72 284 356
2013 80 295 375
52 • capítulo 2
Segundo Calado e Vasconcelos (2011), as vagas nos cursos de Nutrição eram
3.643 em 1996. Em 2013 passaram para 53 016 vagas, com aumento expressivo
das vagas no setor privado, conforme mostra o gráfico gerado pelo Sistema de
Indicadores de Graduação em Saúde (Inep, 2014).
Evolução de Vagas de Nutrição no Brasil segundo a natureza jurídica no período de 1991 a 2013
0
0
0
0
0 Privado
0 Público
0
0
0
0
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Fonte: <http://obsnetims1.tempsite.ws/sigras/>.
6% 5%
12% Norte
27% Nordeste
Sudeste
Sul
50% Centro-Oeste
capítulo 2 • 53
RESUMO COMENTADO
A ciência da Nutrição surgiu alinhada aos avanços científicos na área da química e da fisio-
logia, que serviram de embasamento técnico-científico para a formação da profissão. Aliado
a esses aspectos, todo o contexto histórico-cultural fez com que a ciência da Nutrição se
estabelecesse no Brasil como uma profissão em 1939, indispensável para a melhoria das
condições de saúde da população. Dada a importância das ações de alimentação e nutrição
para o desenvolvimento econômico e social do país, o governo investiu esforços para a cria-
ção de políticas públicas de alimentação e nutrição, que trouxeram avanços no que tange ao
processo evolutivo da profissão no país. Observamos um expressivo aumento na quantidade
de cursos e de profissionais no Brasil, principalmente após a instituição da LDB, em 1996,
que permitiu a expansão dos cursos e de nutricionistas, que têm sua formação pautada sobre
perspectivas biológicas e sociais, levando em considerações aspectos clínicos e nutricionais,
bem como aspectos socioeconômicos, de acesso e distribuição de alimentos para indivíduos
e coletividades.
ATIVIDADE
01. Faça uma pesquisa verificando se há na sua cidade ou município alguma associação de
agricultores locais. Caso haja, verifique com o(a) nutricionista ou coordenador(a) da alimenta-
ção escolar se esses agricultores produzem alimentos que podem ser usados na alimentação
escolar. Vamos propagar essa ideia!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, E. S.; VIANA, I. C.; MORENO, R. B.; TORRES, E. A. F. S. Alimentação mundial: uma reflexão
sobre a história. Saúde e Sociedade, v. 10, n. 2, p. 3-14, 2001.
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alimentação no Brasil. Revista Baiana de Saúde Pública, v.27, p.114-123, 2003.
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alimentação e nutrição no Brasil. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife, v. 7, n.3, p.319-
326, 2007.
BARROS, M. S. C.; TARTAGLIA, J. C. Alimentação e nutrição, Araraquara, v.14, p. 109-121, 2003.
54 • capítulo 2
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Política de Saúde. Alimentação e Cultura. Brasília:
Universidade de Brasília, 2001a.
______. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Institui diretrizes curriculares
nacionais do curso de graduação em nutrição. Resolução CNE/CES 5, de 7 de novembro de
2001. Diário Oficial da União. 2001b; nov 9, Seção 1, p.39.
______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Módulo 10: Alimentação e nutrição
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Saúde, 2012.
CALADO, C.L.A. A expansão dos cursos de Nutrição no Brasil e a nova Lei de Diretrizes e
Bases-LDB, 2004. Disponível: www.cfn.org.br/variavel/ destaque/expansão.doc.
CRISTOFOLLI, C.; BONATO, L.; RAVAZZANI, E. D. Análise histórica da profissão de nutricionista.
Cadernos da Escola de Saúde. UniBrasil, Curitiba, v.6, n.2, 2014.
INEP. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Ministério da
Educação. In: Sistema de Indicadores das graduações em Saúde (SIGRAS) / ObservaRH – IMS/
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LEMOS, J. M. O.; MOREIRA, P. V. L. Políticas e programas de alimentação e nutrição: Um Passeio
pela História. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, v. 17, n. 4, p. 377-386, 2013.
MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S. Krause. Alimentos, nutrição e dietoterapia. Rio de Janeiro:
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MONTANARI, M. Comida como cultura. São Paulo: SENAC, 2008. 207p.
PESSANHA, L. D. R. A Experiência brasileira em políticas públicas para a garantia do direito
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Pesquisa, 2002. p. 67.
PRADO, M. S. A trajetória da política de alimentação no Brasil: de 1889 a 1945. Revista Baiana
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TERLATO, G. Alimentação humana durante o Paleolítico médio e superior na Europa. Revista
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TOLOZA, D. C. Nutricionista: um histórico da profissão até os dias atuais. 57f. Monografia
(Especialização). Universidade de Brasília. Centro de Excelência em Turismo – Brasília, 2003.
VASCONCELOS, F. A. G. O nutricionista no Brasil: uma análise histórica. Revista de Nutrição, v. 15,
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capítulo 2 • 55
VASCONCELOS, F. A. G. Tendências históricas dos estudos dietéticos no Brasil. História de
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VASCONCELOS, F. A. G. A ciência da Nutrição em trânsito: da nutrição e dietética à nutrigenômica.
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análise do censo da educação superior e os resultados do Enade. Educação e Fronteiras On-Line,
Dourados/MS, v.1, n.1, p. 92-106, 2011.
56 • capítulo 2
3
Regulação
da Profissão
Nutricionista
3. Regulação da Profissão Nutricionista
No capítulo anterior vimos como a profissão Nutricionista foi se moldando
ao longo dos anos para, de fato, tornar-se uma profissão da área de saúde,
com olhar crítico e de caráter social. No entanto, somente após sua afirmação
como ciência imprescindível para melhoria da saúde, bem como para o de-
senvolvimento socioeconômico do país, a Nutrição foi então regulamentada
como profissão.
Este capítulo aborda os principais pontos associados ao processo de regula-
mentação da profissão Nutricionista, como a criação das entidades da catego-
ria, como os conselhos, sindicatos e associações. Além disso, falaremos sobre a
importância do Código de Ética profissional e suas recentes mudanças.
Cabe aqui também apontar as principais leis, decretos e resoluções que
norteiam a profissão Nutricionista e o mercado de trabalho desse profissional,
apontando o que temos de mais recente e que espera o aluno ao final da sua
jornada acadêmica.
OBJETIVOS
• Entender a importância dos Conselhos Federal e Regional de Nutricionistas, sindicatos
e associações;
• Conhecer as determinações do Código de Ética Profissional;
• Reconhecer a importância das principais leis e outras normatizações ministeriais que dire-
cionam a profissão;
• Perceber a realidade da profissão no mercado de trabalho.
58 • capítulo 3
Por meio da regulamentação da profissão, foi possível a determinação das
atividades privativas do nutricionista e a criação dos Conselhos Federal (CFN) e
Regionais (CRN) de Nutricionistas, em 1978.
O Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) foi criado pela Lei nº. 6.583, de 20
de outubro de 1978, e regulamentado pelo Decreto nº. 84.444, de 30 de janeiro
de 1980. O CFN é uma autarquia federal sem fins lucrativos, de interesse públi-
co, com poder delegado pela União para normatizar, orientar, disciplinar e fis-
calizar o exercício e as atividades da profissão de nutricionista em todo o terri-
tório nacional, em defesa da sociedade. É o órgão central do Sistema CFN/CRN.
O CFN foi criado pela mobilização de profissionais, estudantes e entidades
de nutrição, que defendiam a necessidade da categoria ter um órgão regula-
mentador próprio, pois, até então, eram fiscalizados por órgãos regionais de
fiscalização da Medicina, pela Lei nº. 5.276 de 24 de abril de 1967.
Compete ao CFN criar resoluções e outros atos que disciplinem a atuação
dos Conselhos Regionais de Nutricionistas, dos profissionais inscritos e das
pessoas jurídicas registradas e cadastradas. Com isto, é estabelecida uma uni-
dade de procedimentos que caracterizam a profissão, respeitando as particula-
ridades das diversas regiões.
A organização do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) está definida no
Decreto Regulamentar nº 84.444/80, apresentando a seguinte estrutura:
• Plenário (órgão deliberativo);
• Diretoria (órgão executivo);
• Presidência (órgão de coordenação e gestão);
• Comissões Permanentes: Tomada de Contas, Ética, Fiscalização,
Formação Profissional, Comunicação e Licitação (órgãos de orientação, disci-
plina, apoio e assessoramento);
• Comissões especiais, transitórias e grupos de trabalhos; e
• Câmaras Técnicas.
capítulo 3 • 59
A missão do CFN é contribuir para a garantia do direito humano à alimen-
tação adequada, fiscalizando, normatizando e disciplinando o exercício profis-
sional do nutricionista e do técnico em nutrição e dietética, para uma prática
pautada na ética e comprometida com a segurança alimentar e nutricional, em
benefício da sociedade.
O CFN tem sede no Distrito Federal e jurisdição em todo o país. Os dez
Conselhos Regionais de Nutricionistas (CRN) atuam nos respectivos estados,
conforme tabela a seguir:
CRN – 8 PR Curitiba – PR
CRN – 10 SC Florianópolis - SC
Os CRN são responsáveis por cumprir e fazer cumprir as normas que regem
a profissão e realizar as atividades de fiscalização e orientação ético-profissional
em suas respectivas jurisdições. Entende-se que o papel dos conselhos consis-
te em defender a sociedade, impedindo o indevido exercício profissional, não
somente por parte dos leigos sem a necessária habilitação, como também dos
profissionais não habilitados que atuam fora dos princípios técnicos e éticos.
CONEXÃO
Assista ao vídeo institucional: <http://www.Cfn.Org.Br/index.Php/video-institucional-do-
sistema-cfncrn/>.
60 • capítulo 3
3.2.1 Inscrição no Conselho
Ao cursar uma faculdade de Nutrição, você obtém habilitação técnica para exer-
cer a profissão. Após a colação de grau, você precisará ter a habilitação legal
para atuar como nutricionista. Isto se dá por meio da inscrição no Conselho de
sua região.
O cadastro atualizado dos profissionais inscritos é um instrumento funda-
mental para os conselhos regionais. Através dele é possível saber quantos nu-
tricionistas se formaram, onde e em que áreas estão atuando, quantos estão
afastados temporariamente ou definitivamente da profissão. Portanto, fazer a
sua inscrição e manter seus dados atualizados no Conselho é uma forma de
contribuir para o crescimento de sua profissão.
Para estar habilitado para o exercício profissional, de acordo com a lei que
regulamenta a profissão, o nutricionista precisa efetuar sua inscrição no CRN
de sua jurisdição, ou seja, na região em que pretende trabalhar. Ao assinar os
trabalhos, deve ser mencionado o título nutricionista, seguido da sigla do CRN
da região em que estiver inscrito e do número de sua inscrição.
capítulo 3 • 61
A criação da FNN foi pautada pelos princípios de liberdade e autonomia
sindical, sendo formada pelos sindicatos dos nutricionistas. Os sindicatos fun-
dadores foram os sindicatos dos nutricionistas dos estados de Pernambuco,
Distrito Federal, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Alagoas.
Para mais informações, na tabela a seguir apresenta os contatos dos respec-
tivos sindicatos de nutricionistas de seu Estado.
ESTADO CONTATO
ALAGOAS Telefone: (82) 99954-9522
Telefone:(92) 9440-1270
AMAZONAS E-mail:sindinutriam@life.com
FanPage:https://www.facebook.com/sindinutriam
Telefone:(96) 32126124
E-mail: vaniaborralho@bol.com.br
AMAPÁ FanPage: https://www.facebook.com/pages/Sindicato-Dos-Nutricionistas
-Estado-Do-Amap%C3%A1/1061645230531266?fref=photo
Telefone:(71) 3022-3830
BAHIA E-mail: contato@sindnutba.org.br
Site: http://www.sindnutba.org.br/
Telefone:(85) 8878-7411
CEARÁ E-mail: sindnuce@gmail.com
Site: http://www.sindnuce.org.br
Telefone:(61) 3574-3308
DISTRITO FEDERAL E-mail: sindinutridf@hotmail.com
Site: http://www.sindnutridf.org.br/index.html
Telefone:(28) 3521-8071/ (28) 9 9275-3422
ESPÍRITO SANTO E-mail: sindinutri-es@sindinutri-es.org.br
Site: http://www.sindinutri-es.org.br/index.html
Telefone:(62) 3282-4195
E-mail: sineg@sineg.org
GOIÁS Site: http://www.sineg.org/site/
FanPage: https://www.facebook.com/sineg.goias?fref=ts
Telefone:(98)8823-2064
E-mail: jr-mendes2008@bol.com.br
MARANHÃO FanPage: https://www.facebook.com/pages/Sindicato-Dos-Nutricionis-
tas-Estado-do-Maranh%C3%A3o/979651698722688?fref=ts
Telefone:(31) 7342-0485
E-mail: sindnutrimg@gmail.com
MINAS GERAIS FanPage: https://www.facebook.com/pages/Sindicato-Dos-Nutricionis-
tas-Estado-de-Minas-Gerais/1407610649562469?fref=ts
Telefone:(66) 9994-3256
E-mail: cookconsultoria@hotmail.com
MATO GROSSO FanPage: https://www.facebook.com/pages/Sindicato-Dos-Nutricionis-
tas-Estado-de-Mato-Grosso/958201247578041?fref=ts
62 • capítulo 3
ESTADO CONTATO
Telefone:(83) 30455692 / (83)88201913
PARAÍBA E-mail: sindnutripb@hotmail.com
Site: http://www.sindnutripb.com.br/
Telefone:(86) 3223-9719
E-mail: sinupi@hotmail.com
PIAUÍ FanPage: https://www.facebook.com/pages/Sindicato-Dos-Nutricionistas
-Estado-do-Piau%C3%AD/446135138895694?fref=ts
E-mail: sinpar2013@yahoogrupos.com.br
Site: http://blogdosinpar.blogspot.com.br/
PARANÁ FanPage: https://www.facebook.com/pages/Sinpar-Sindicato-dos-
Nutricionistas-do-Paran%C3%A1/305926762867597?fref=ts
e-mail: sinerj@hotmail.com
RIO DE JANEIRO Site: http://www.sinerj.org.br/
Telefone:(84) 9118-0935
E-mail: sinurnnutricao@gmail.com
RIO GRANDE DO NORTE Site: http://sinurn.blogspot.com.br/
FanPage: https://www.facebook.com/uniaosinurn?fref=ts
Telefone:(95) 8125-3858
RORAIMA E-mail: lbmalmeida@hotmail.com
Telefone:(51) 3225.3141
E-mail: sinurgsrs@gmail.com
RIO GRANDE DO SUL Site: http://www.sinurgs.org.br
FanPage: https://www.facebook.com/sinurgs?fref=ts
Telefone:(48) 3039-1230/ (48) 3039-1036
SANTA CATARINA E-mail: sinusc@hotmail.com
Site: http://www.sinusc.org.br/
SÃO PAULO Site: http://www.sindicatoNutricionistas.com.br
Tabela 3.2 – Contatos dos sindicatos dos nutricionistas dos estados do Brasil.
capítulo 3 • 63
3.4 Associações de nutricionistas
CONEXÃO
Entre e conheça um pouco mais sobre algumas associações de nutricionistas dos estados
de Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.
http://www.Agan.Com.Br/
http://aneesnutricao.Blogspot.Com.Br/
http://www.Anerj-nutricao.Com.Br/
http://www.Apanutri.Com.Br/
64 • capítulo 3
3.5 O Código de Ética Profissional
Ao longo dos tempos, os princípios morais têm servido como norteadores das
ações e relações humanas. A ética se ocupa da moralidade e estuda os princí-
pios fundamentais e sistemas morais, legitimados pela sociedade. É a parte da
filosofia que considera os atos humanos enquanto atos bons e maus. Uma ação
é boa ou má porque assim foi socialmente convencionado, assim como a reli-
gião determina se um comportamento é virtuoso ou pecaminoso, e o direito, se
um ato é legal ou ilegal. São todos estes aspectos essenciais do contrato social
(GAUDENZI, 2004).
De acordo com Florentino, Oliveira e Viana (2011), a ética se propõe a com-
preender os critérios e os valores que orientam o julgamento da ação humana
em suas múltiplas atividades, principalmente aquelas que dizem respeito ao
trabalho e à vida humana associada.
Todos os profissionais contam com um Código de Ética, que estabelece os
direitos e deveres de cada um perante a corporação profissional e a sociedade
(FLORENTINO, OLIVIERA e VIANA, 2011). O Código de Ética Profissional apre-
senta um conjunto de comportamentos esperados em circunstâncias diversas
da profissão, possibilitando uma reflexão antecipada para julgamento e distin-
ção do certo e do errado.
O profissional nutricionista desempenha um papel de destaque na socieda-
de pela sua responsabilidade com o bem-estar biopsicossocial da população.
A partir do entendimento e das relações estabelecidas entre o profissional da
saúde e a sociedade é que se identificará este profissional como alguém com-
prometido com a saúde.
Espera-se também que, nas relações entre os profissionais, o compromisso
com a profissão, com a categoria e a ciência deva nortear as relações e a prá-
tica. Todas as pessoas têm a liberdade de agir segundo o seu entendimento.
Entretanto, no relacionamento humano, em todos os grupos da sociedade, a
liberdade individual esbarra sempre no direito de outrem.
Portanto, o Código de Ética existe para orientar a conduta dos profissionais
e para garantir que estes se mantenham dentro dos níveis de exigência de seu
juramento.
capítulo 3 • 65
Juramento do nutricionista
Prometo que, ao exercer a profissão de nutricionista, o farei com dignidade e eficiên-
cia, valendo-me da ciência da nutrição, em benefício da saúde da pessoa, sem discri-
minação de qualquer natureza. Prometo, ainda, que serei fiel aos princípios da moral e
da ética. Ao cumprir este juramento com dedicação, desejo ser merecedor dos louros
que a profissão proporciona. (Instituído pela resolução do cfn nº 126/92 e alterado
pela resolução cfn nº 382/2006)
66 • capítulo 3
o texto do Código de Ética dos Nutricionistas. As alterações estão descritas na
tabela 3.3, seguido de alguns comentários sobre elas.
capítulo 3 • 67
CAPÍTULOS ARTIGOS COMENTÁRIOS
Art. 15º: No contexto da relação com alu- Todo estagiário e/ou
nos e estagiários é dever do nutricionista: aluno deve ter suas ativi-
I - quando na função de docente, orientador dades acompanhadas por
ou supervisor de estágios, garantir ao esta- um nutricionista docente
giário supervisão frequente e sistemática, responsável, que deverá
de forma ética e tecnicamente compatível orientar suas condutas
com a área do estágio, orientando sobre segundo o código de
a importância em observar os princípios e ética da profissão.
normas contidas neste Código.
Art. 16º: No contexto da relação com Qualquer local de estágio
VIII – DA RELAÇÃO COM alunos e estagiários, ressalvado o disposto deve ter um nutricionista
ALUNOS E ESTAGIÁRIOS no parágrafo único, é vedado ao nutricio- encarregado de super-
nista: I - quando na função de diretor de visionar as atividades do
escolas de Nutrição, coordenador de cursos estagiário, não sendo
ou coordenador/orientador de estágios, permitida a alocação de
aceitar, como campo de estágio institui- estagiário em local sem
ções e empresas que não disponham no nutricionista para essa
seu quadro de pessoal de nutricionista função.
encarregado da supervisão das atividades
do estagiário ou quando não possa ser
garantida a presença e acompanhamento
de Nutricionista docente.
Art. 19. Relativamente aos trabalhos cientí- As pesquisas e trabalhos
ficos e de pesquisa é dever do nutricionista: científicos devem ser
XI – DA PESQUISA E DOS I - respeitar a legislação pertinente quando realizados de acordo com
TRABALHOS CIENTÍFICOS realizar pesquisa envolvendo seres huma- as legislações pertinentes
nos ou animais. à bioética.
Art. 21. Relativamente à publicidade, é O nutricionista deve ser
dever do nutricionista, por ocasião de responsável pelas infor-
entrevistas, comunicações, publicações mações prestadas em
de artigos e informações ao público sobre meios de comunicação,
alimentação, nutrição e saúde, preservar o baseando-se em pesqui-
decoro profissional, basear suas informa- sas e informações técni-
ções em conteúdo referendado em pesqui- co-científicas com grau
sas realizadas com rigor técnico-científico relevante de evidência.
e assumir inteira responsabilidade pelas
XII – DA PUBLICIDADE informações prestadas.
Parágrafo único. Para fins do inciso III deste O nutricionista, quan-
artigo, quando da orientação ou prescrição do necessário, deve
dietética, havendo necessidade de mencio- indicar várias alternativas
nar marcas, o nutricionista deverá indicar possíveis de marcas
várias alternativas oferecidas pelo mercado. para o seu paciente e/
ou cliente, o qual deve ter
o livre arbítrio para fazer
suas escolhas dentre as
opções oferecidas.
68 • capítulo 3
Logo, o Código de Ética deve ser consultado constantemente pelos profis-
sionais da categoria. Na dúvida, o nutricionista deve contatar o conselho regio-
nal de seu estado.
CONEXÃO
O Código de Ética do nutricionista pode ser consultado atraves do site: <http://www.
Cfn.Org.Br/wp-content/uploads/2015/05/resol-cfn-334-codigo-etica-nutricionista
-retificada-3.Pdf>.
ESTUDO DE CASO
Leia atentamente o caso a seguir e responda aos questionamentos, com base no Código de
Ética dos nutricionistas.
Pesquisa confirma confiança de nutricionistas em iogurte x.
Estudo aponta que nove em cada dez profissionais recomendam o iogurte funcional da
empresa x. A pesquisa realizada confirmou a credibilidade na eficácia do alimento funcional
da empresa x, principalmente entre os nutricionistas. Os números da pesquisa mostram que
9 entre 10 nutricionistas indicam atualmente o consumo regular do produto para quem pre-
capítulo 3 • 69
cisa regular o trânsito intestinal. A pesquisa quantitativa, executada em dezembro de 2008,
contou com 108 nutricionistas, nas cidades de São Paulo, Recife, Salvador e Fortaleza. O
iogurte x reúne em sua composição linhagens de bactérias tradicionais de iogurte comum a
uma cultura específica de probióticos: o bifidobacterium animalis, conhecido como xregularis.
Exclusivo da empresa x, o bacilo xregularis resiste à passagem pelo trato gastrointestinal,
alcançando o intestino de forma ativa. A eficácia do microrganismo é também comprovada
por dezenas de estudos científicos realizados pelo x research, centro de pesquisa e desen-
volvimento do grupo x. As análises revelam ainda uma relação dose-efeito, ou seja, o efeito do
iogurte x é comprovado pelo consumo regular do produto. Isso porque os bacilos xregularis
não colonizam o intestino. Daí a importância do consumo regular do iogurte x que, a cada
dia, auxilia a regular o trânsito intestinal. A alta demanda por informações sobre alimentação
balanceada e hábitos de vida saudáveis por parte dos consumidores inspirou a empresa x a
colocar no portal do desafio x, na internet, nos meses de março e abril, uma página especial
para os consumidores tirarem suas dúvidas por meio do atendimento online de nutricionistas.
As dúvidas mais frequentes respondidas no site do desafio x giravam em torno de como
manter o bom funcionamento do intestino e também dicas para uma dieta balanceada. A
nutricionista G.M.C., atendeu em média 300 pessoas por dia pelo site, esclarecendo dúvidas
sobre alimentação saudável e auxiliando pessoas na busca pelo bem-estar.
Fonte: texto original retirado parcialmente do site: <http://www.
maxpress.com.br/noticia.asp?Tipo=pa&sqinf=376283>.
Data da publicação: 19 de maio de 2009.
O nome da empresa foi preservado.
Recomendo a leitura dos artigos a seguir. Reflita sob a luz da ética profissional.
Rosaneli, c. F.; Ribeiro, a. L. C.; Assis, l.; Silva, t. M.; Siqueira, j. E. A fragilidade humana
diante da pobreza e da fome. Revista de bioética, 23 (1), 89-97, 2015.
Villas-bôas, m. E. O direito-dever de sigilo na proteção ao paciente. Revista de bioética,
23 (1), 89-97, 2015.
70 • capítulo 3
3.6 Principais leis, decretos e resoluções que regulam a profissão
nutricionista
Nessa parte do capítulo, separamos algumas das principais leis, decretos e re-
soluções (tabela 3.4), todas relacionadas ao exercício da profissão nutricionis-
ta, conforme atualizado pelo Conselho Federal de Nutricionistas. Todas essas
legislações estão relacionadas ao exercício legal da profissão, sempre pautadas
na ética e bem-estar da sociedade.
DECRETOS
Decreto 84.444, de 30 de janeiro de 1980 – Regulamenta a lei nº 6583, que cria os conselhos,
regula o seu funcionamento e dá outras providências
LEIS
Lei no 6.583, de 20 de outubro de 1978 – Cria o Conselho Federal e os Regionais de Nutricionista,
regula seu funcionamento e dá outras providências
RESOLUÇÕES
CFN no 321, de 2 de dezembro de 2003 – Institui código de processamento disciplinar para o nutri-
cionista e o técnico da área de alimentação e nutrição e dá outras providências.
CFN no 334 de 10 de maio de 2004 – Dispõe sobre o Código de Ética do nutricionista e dá outras
providências.
CFN no 380, de 28 de dezembro de 2005 – Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do
Nutricionista e suas atribuições, estabelece parâmetros numéricos de referência por área de atuação
e dá outras providências.
CFN no 385, de 23 de junho de 2006 – Dispõe sobre as sspecialidades reconhecidas pelo Conselho
Federal de Nutricionistas para efeito de registro nos Conselhos Regionais de Nutricionistas.
CFN no 416, de 29 de janeiro de 2008 – Institui o registro no âmbito do Sistema CFN/CRN do título
de especialista conferido pela Asbran e dá outras providências.
CFN no 445, de 29 de abril de 2009 – Dispõe sobre a inscrição nos Conselhos Regionais de Nutri-
cionistas e sobre o exercício profissional por estrangeiros portadores de diploma de graduação em
nutrição e dá outras providências.
CFN no 466, de 17 de novembro de 2010 – Dispõe sobre a inscrição de nutricionista nos Conselhos
Regionais de Nutricionistas e dá outras providências.
capítulo 3 • 71
CFN no 485, de 03 de março de 2011 – Altera as características dos documentos de identidade dos
nutricionista e do técnico em nutrição e dietética e dá outras providências.
CFN no 466, de 17 de novembro de 2011 – Dispõe sobre a inscrição de nutricionista nos Conselhos
Regionais de Nutricionistas, e dá outras providências.
CFN no 527, de 26 de setembro de 2013 – Dispõe sobre a Política Nacional de Fiscalização (PNF) e
sobre a estrutura, o funcionamento e as atribuições dos setores de fiscalização no âmbito do Sistema
CFN/CRN e dá outras providências.
CFN no 541, de 19 de maio de 2014 – Altera o Código de Ética do Nutricionista, aprovado pela
Resolução CFN nº 334, de 2004, e dá outras providências.
CONEXÃO
Mais dessas resoluções podem ser encontradas no site do cfn: <http://www.Cfn.Org.Br/
index.Php/legislacao/lista-de-resolucoes/>.
72 • capítulo 3
• Assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial e a nível de consultó-
rios de nutrição e dietética, prescrevendo, planejando, analisando, supervisio-
nando e avaliando dietas para enfermos.
capítulo 3 • 73
Em pesquisa realizada pelo CFN e publicada em 2006, acerca da inserção
do nutricionista no mercado de trabalho, observou-se que a maioria dos profis-
sionais se concentrava na área clínica, seguida da área de alimentação coletiva,
docência, saúde coletiva e nutrição esportiva.
No entanto, observa-se que dentro de cada uma dessas grandes áreas de
atuação profissional está ocorrendo um amplo processo de divisão/especializa-
ção dos seus objetos específicos de estudo e trabalho.
Na área de nutrição clínica, que segundo Vasconcelos e Calado (2011) à épo-
ca de sua pesquisa concentrava a maior densidade de nutricionista, observam-
se subáreas de atuação por patologias, grupos etários ou outras especializações,
tais como a atuação do nutricionista em oncologia, nefrologia, cardiologia, dia-
betes, transtornos alimentares, obesidade, pediatria, geriatria, personal diet,
consultórios e clínicas, hospitalização domiciliar etc.
Na área de alimentação coletiva, observa-se a expansão da atuação para se-
tores específicos como restaurantes comerciais, fast-food e similares, assesso-
ria em supermercados e padarias, hotelaria, SPA, controle de qualidade e vigi-
lância sanitária.
Já na nutrição em saúde coletiva, por sua vez, consolida e amplia a área
de atuação desse profissional no campo das políticas públicas, tais como
no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), no Programa de
Alimentação do Trabalhador (PAT), no Programa Bolsa Família, na Estratégia
Saúde da Família, a partir da criação dos Núcleos de Atenção à Saúde da Família
(NASF).
A atuação do nutricionista na área de nutrição esportiva teve um aumento
nos últimos anos, principalmente devido aos eventos esportivos de grande por-
te como a Copa Mundial de 2014, sediada no Brasil e os Jogos Olímpicos em
2016. Os campos que o nutricionista esportivo ocupa são os espaços das aca-
demias e das distintas modalidades esportivas no país (futebol, vôlei, natação,
atletismo etc.). O suporte às diferentes modalidades de lutas (judô, lutas livres,
boxe, MMA, Muay Thai) também tem sido um campo ascendente de atuação do
nutricionista esportivo.
Segundo Vasconcelos e Calado (2011), em relação às áreas de atuação pro-
fissional, nas últimas décadas, têm sido observadas intensas diversificação e
ampliação, fato que pode estar associado ao processo de grande elevação do
número de cursos e profissionais no Brasil.
74 • capítulo 3
RESUMO COMENTADO
A profissão nutricionista teve seu reconhecimento obtido a com a regulamentação nos anos
1960, após esforços da Asbran, criada em 1949. Em 1978, foram criados os conselhos
federais e regionais de nutrição, com o objetivo de orientar e fiscalizar o exercício da profis-
são e as atividades do nutricionista, pautados na ética e comprometidos com a segurança
alimentar e nutricional em benefício da sociedade. Hoje temos 10 regiões cobertas pelos
conselhos regionais, que trabalham levando em consideração as particularidades de cada
realidade do profissional nutricionista em sua região. Além dos conselhos, como entidades
da categoria temos os sindicatos e associação de nutricionistas, como a Asbran, que teve
papel fundamental para a regulamentação da profissão. Os sindicatos representam a luta de
classes, que buscam melhorias na profissão com relação ao mercado de trabalho, remune-
ração e valorização do nutricionista. O código de ética do nutricionista tem como objetivo a
orientação da conduta profissional de acordo com o juramento da profissão. Recentemente
o nosso código de ética teve o seu texto alterado, tendo como base as relações e o papel do
profissional nutricionista perante as mudanças ocorridas na sociedade. É importante ressal-
tar que todas as práticas e condutas do profissional estão respaldadas por leis, decretos e
resoluções, que direcionam o nutricionista para o exercício ético e legal da profissão, além do
caráter técnico-científico da ciência da nutrição. O mercado de trabalho se divide em diferen-
tes áreas de atuação do nutricionista. Ainda hoje, a área clínica é a área de maior concentra-
ção da categoria, seguida dos profissionais da área de alimentação coletiva. No entanto, nos
últimos anos, a área de nutrição esportiva tem crescido bastante, além do número de cursos
e universidades de nutrição, o que tem ampliado as áreas de atuação profissional, bem como
suas relações com áreas correlatas da nutrição.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Asbran – Associação Brasileira De Nutrição. Disponível em: <http://www.ASBRAN.org.br/>.
BRASIL. Lei nº 8.234, de 17 de setembro de 1991. Regulamenta a profissão de Nutricionista e
determina outras providências. Diário Oficial da União. Seção 1. 18/09/1991. p. 19909.
CFN. Conselho Federal de Nutricionistas. Disponível em: <http://www.cfn.org.br/index.php/sobre-nos/>.
CFN. Conselho Federal de Nutricionista. Resolução CFN nº 334/2004, alterada pela Resolução CFN
Nº 541/2014. Dispõe sobre o Código de Ética do Nutricionista e dá outras providências. –
Brasília, DF, 2004.
capítulo 3 • 75
CFN. Conselho Federal de Nutricionista. Resolução CFN nº 380/2005. Dispõe sobre a definição
das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, estabelece parâmetros numéricos
de referência, por área de atuação, e dá outras providências. – Brasília, DF, 2005.
CFN. Conselho Federal de Nutricionistas. Perfil da atuação profissional do nutricionista no Brasil
/ Conselho Federal de Nutricionistas. – Brasília, DF, 2006.
CFN. Conselho Federal de Nutricionistas. O nutricionista e o conselho: informações para uma maior
integração. Sistema CFN/CRN, Brasília – DF, 2010.
CRN-4. Conselho Regional de Nutricionistas – 4ª região. O papel de cada entidade representativa
do nutricionista. Ano X, n. 26, 2016.
FEDERAÇÃO NACIONAL DE NUTRICIONISTAS. Disponível em: <http://www.fnn.org.br/quem.php>.
FERREIRA, S. R. G. Nutrição não sai de moda. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia,
São Paulo, v. 53, n. 5, p. 483-484, 2009.
FLORENTINO, A. M.; OLIVEIRA, C. S.; VIANA, M. R. O espaço (acadêmico) da reflexão ética na
construção do agir profissional. Revista Ceres, v. 6, n. 2, p. 75-84, 2011.
GAUDENZI, E. N. Ética e atualidade: algumas reflexões com enfoque nos profissionais de saúde.
Revista de Ciência Médica e Biológica, Salvador, v. 3, n. 1, p. 139-144, 2004.
ROSANELI, C. F.; RIBEIRO, A. L. C.; ASSIS, L.; SILVA, T. M.; SIQUEIRA, J. E. A fragilidade humana
diante da pobreza e da fome. Revista de Bioética, 23 (1), 89-97, 2015.
VASCONCELOS, F. A. G.; CALADO, C. L. A. Profissão nutricionista: 70 anos de história no Brasil.
Revista de Nutrição, Campinas, v. 24, p. 605-617, 2011.
VILLAS-BÔAS, M. E. O direito-dever de sigilo na proteção ao paciente. Revista de bioética, 23 (1),
89-97, 2015.
76 • capítulo 3
4
Áreas de Atuação
do Nutricionista e
suas Atribuições
4. Áreas de Atuação do Nutricionista e suas
Atribuições
OBJETIVOS
Reconhecer as atividades desenvolvidas pelo nutricionista nas diferentes áreas de atuação;
• Conhecer os locais onde o nutricionista pode exercer as suas atividades;
• Entender que o nutricionista pode prestar assistência dietética e promover ações de edu-
cação nutricional nos diferentes locais de atuação;
• Reconhecer a importância da atuação do profissional nutricionista na promoção, manuten-
ção e recuperação da saúde.
78 • capítulo 4
Dentre as diferentes áreas, segundo a justificativa para a criação da resolu-
ção CFN nº 380/2005, cabe ressaltar que compete ao nutricionista, enquanto
profissional de saúde, conforme a Lei nº 8.234, de 17 de setembro de 1991, ze-
lar pela preservação, promoção e recuperação da saúde. Além disso, recai sobre
o nutricionista a responsabilidade de impedir e evitar infrações à legislação
sanitária; o compromisso profissional e legal do nutricionista, no exercício da
responsabilidade técnica.
É importante frisar que, para o efetivo desempenho das atividades defini-
das pela Lei nº 8.234, impõe-se a quantificação de nutricionista, com base em
critérios técnicos e considerando as normas de conduta para o exercício da pro-
fissão de nutricionista constantes no Código de Ética Profissional. Essa quan-
tificação também foi definida para cada área de atuação, conforme a resolução
aqui descrita.
capítulo 4 • 79
Compete ao nutricionista, no exercício de suas atribuições em UANs e na ali-
mentação escolar, planejar, organizar, dirigir, supervisionar e avaliar os serviços
de alimentação e nutrição. Realizar assistência e educação nutricional à coletivi-
dade ou indivíduos sadios ou enfermos em instituições públicas e privadas.
As atividades do Nutricionista na rede pública de ensino ficam a cargo
das competências definidas pelo PNAE (Programa Nacional de Alimentação
Escolar), observada a Resolução CFN 358/2005. As atribuições definidas pela
resolução CFN nº 380/2005 são pertinentes ao nutricionista atuando na rede
privada de ensino.
80 • capítulo 4
ATRIBUIÇÕES ATIVIDADES
• Planejar e supervisionar a execução da adequação de
instalações físicas, equipamentos e utensílios, o dimensiona-
mento, a seleção, a compra e a manutenção de equipamentos
e utensílios.
• Planejar, elaborar e avaliar os cardápios, adequando-os
ao perfil epidemiológico da clientela atendida, respeitando
os hábitos alimentares, de acordo com as necessidades de
sua clientela.
• Planejar, coordenar e supervisionar as atividades de se-
leção de fornecedores, procedência dos alimentos, bem como
sua compra, recebimento e armazenamento de alimentos.
• Coordenar e executar os cálculos de valor nutritivo, rendi-
OBRIGATÓRIAS
mento e custo das refeições/preparações culinárias.
• Planejar, implantar, coordenar e supervisionar as ativida-
des de pré-preparo, preparo, distribuição e transporte de refei-
ções e/ou preparações culinárias.
• Estabelecer e implantar Procedimentos Operacionais
Padronizados (POP) e métodos de controle de qualidade de
alimentos, em conformidade com a legislação vigente.
• Coordenar e supervisionar métodos de controle das qua-
lidades organolépticas das refeições e/ou preparações, por
meio de testes de análise sensorial de alimentos.
• Elaborar e implantar o Manual de Boas Práticas, ava-
liando e atualizando os POPs sempre que necessário.
• Implantar e supervisionar o controle periódico das sobras,
do resto-ingestão e analise de desperdícios, promovendo a
consciência social, ecológica e ambiental.
• Participar da definição do perfil, do recrutamento, da sele-
COMPLEMENTARES ção e avaliação de desempenho de colaboradores.
• Planejar, supervisionar e/ou executar as atividades refe-
rentes a informações nutricionais e técnicas de atendimento
direto aos clientes/pacientes.
• Organizar a visitação de clientes às áreas da UAN.
Tabela 4.1 – Atribuições obrigatórias e complementares do nutricionista em UANs.
capítulo 4 • 81
Procedimentos Operacionais Padronizados – procedimentos escritos de forma
objetiva que estabelecem instruções seqüenciais para a realização de operações roti-
neiras e específicas na produção, armazenamento e transporte de alimentos e prepa-
rações, podendo ser parte integrante, ou não, do manual de boas práticas do serviço.
ATRIBUIÇÕES ATIVIDADES
• Programar, elaborar e avaliar os cardápios, adequando-os
às faixas etárias e perfil epidemiológico da população atendida,
respeitando os hábitos alimentares.
• Planejar, orientar e supervisionar as atividades de seleção,
compra, armazenamento, produção e distribuição dos alimen-
OBRIGATÓRIAS
tos, zelando pela qualidade dos produtos, observadas as boas
práticas higiênicas e sanitárias.
• Identificar crianças portadoras de patologias e deficiên-
cias associadas à nutrição, para o atendimento nutricional
adequado.
• Desenvolver projetos de educação alimentar e nutricional
para a comunidade escolar, inclusive promovendo a consciên-
cia social, ecológica e ambiental.
• Coordenar o desenvolvimento de receituários e respec-
tivas fichas técnicas, avaliando periodicamente as prepara-
OBRIGATÓRIAS ções culinárias.
• Planejar, implantar, coordenar e supervisionar as ativida-
des de pré-preparo, preparo, distribuição e transporte de refei-
ções/preparações culinárias.
• Colaborar e/ou participar das ações relativas ao diagnós-
tico, avaliação e monitoramento nutricional do escolar.
82 • capítulo 4
ATRIBUIÇÕES ATIVIDADES
• Coordenar, supervisionar e executar programas de educa-
ção permanente em alimentação e nutrição para a comunida-
de escolar.
COMPLEMENTARES
• Articular-se com a direção e com a coordenação pedagó-
gica da escola para o planejamento de atividades lúdicas com
o conteúdo de alimentação e nutrição.
Tabela 4.2 – Atribuições do nutricionista na alimentação escolar (rede privada).
ATRIBUIÇÕES ATIVIDADES
• Cumprir e fazer cumprir a legislação do PAT, em especial os itens
relativos à educação nutricional e aos referenciais de valores nutricionais.
• Coordenar as equipes de informação ao usuário final.
• Sugerir o descredenciamento dos estabelecimentos em condi-
ções higiênico-sanitárias inadequadas e/ou que descumpram as reco-
mendações nutricionais do PAT, encaminhando a informação aos ór-
gãos competentes.
• Integrar equipes de controle de qualidade em estabelecimentos co-
OBRIGATÓRIAS
merciais credenciados.
• Promover e participar de programas de educação alimentar para
clientes/pacientes.
• Estimular a identificação de trabalhadores portadores de patolo-
gias e deficiências associadas à nutrição, para o atendimento nutricio-
nal adequado.
• Participar da seleção e do credenciamento de fornecedores de
alimentos.
capítulo 4 • 83
ATRIBUIÇÕES ATIVIDADES
• Coordenar a adequação da composição da cesta de alimentos às
necessidades nutricionais da clientela.
• Coordenar e/ou executar testes de análise sensorial dos produtos
alimentícios que compõem a cesta.
OBRIGATÓRIAS
• Coordenar as atividades de controle de qualidade dos alimentos que
compõem a cesta de alimentos.
• Supervisionar o armazenamento e destino dos gêneros cujas emba-
lagens apresentam avarias.
• Integrar a equipe responsável pelo cadastro de empre-
sas contratantes.
• Planejar e participar de eventos, visando à conscientização dos
COMPLEMENTARES
empresários da área e de representantes de instituições quanto à res-
ponsabilidade dos mesmos na saúde coletiva e divulgando o papel do
Nutricionista.
Tabela 4.3 – Atribuições do nutricionista na alimentação do trabalhador – Refeição convê-
nio e empresas fornecedoras de cesta básica.
84 • capítulo 4
NO DE
TIPOS DE REFEIÇÕES
REFEIÇÕES/DIA
01 GRANDE REFEIÇÃO* 02 GRANDES REFEIÇÕES OU MAIS
NO DE CARGA HORÁRIA NO DE CARGA HORÁRIA
NUTRICIONISTAS SEMANAL NUTRICIONISTAS SEMANAL
ATÉ 100 01 10h 01 10h
DE 101 A 200 01 15h 01 15h
DE 201 A 300 01 20h 01 20h
DE 301 A 500 01 30h 01 30h
DE 501 A 1000 01 40h 02 40h
DE 1001 A 1500 02 40h 02 40h
DE 1501 A 2500 02 40h 03 40h
ACIMA DE 2500 Estudo individualizado
PERÍODO INTEGRAL
CARGA HORÁRIA
MODALIDADE DE ENSINO NO DE ALUNOS NO DE NUTRICIONISTAS
SEMANAL
Até 500 01 20h
De 501 a 1 000 02 30h
CRECHE E PRÉ-ESCOLA
01 + 01 a cada 1 000
Acima de 1 000 30h
alunos ou frações
Até 3 000 01 20h
De 3 001 a 5 000 01 30h
FUNDAMENTAL E MÉDIO De 5 001 a 10 000 01 40h
01 + 01 a cada 1 000
Acima de 10 000 40h
alunos ou frações
capítulo 4 • 85
PERÍODO PARCIAL
CARGA HORÁRIA
MODALIDADE DE ENSINO NO DE ALUNOS NO DE NUTRICIONISTAS
SEMANAL
Até 500 01 20h
De 501 a 1 000 02 20h
CRECHE E PRÉ-ESCOLA
01 + 01 a cada 1 000
Acima de 1 000 30h
alunos ou frações
Até 500 01 20h
De 501 a 1 000 01 30h
FUNDAMENTAL E MÉDIO
01 + 01 a cada 1 000
Acima de 1 000 30h
alunos ou frações
86 • capítulo 4
4.3 Área de atuação: nutrição clínica
LEITURA
Pedroso, C. G. T.; Sousa, A. A.; Salles, R. K. Cuidado nutricional hospitalar: percepção de
nutricionistas para atendimento humanizado. Ciência e saúde coletiva, Rio de Janeiro, V. 16,
SUPL. 1, P. 1155-1162, 2011.
capítulo 4 • 87
Prescrição dietética – atividade privativa do nutricionista que compõe a assistência
prestada ao cliente ou paciente em ambiente hospitalar, ambulatorial, consultório ou
em domicílio, que envolve o planejamento dietético, devendo ser elaborada com base
nas diretrizes estabelecidas no diagnóstico nutricional, procedimento este que deve
ser acompanhado de assinatura e número da inscrição no crn do nutricionista respon-
sável pela prescrição.
ATRIBUIÇÕES ATIVIDADES
• Definir, planejar, organizar, supervisionar e avaliar as ati-
vidades de assistência nutricional aos clientes/pacientes, se-
gundo níveis de atendimento em nutrição.
• Elaborar o diagnóstico nutricional, com base nos dados
clínicos, bioquímicos, antropométricos e dietéticos.
• Registrar, em prontuário do cliente/paciente, a prescrição
dietética e a evolução nutricional, de acordo com protocolos
preestabelecidos pelo Serviço e aprovado pela Instituição.
• Promover educação alimentar e nutricional para clientes/
pacientes, familiares ou responsáveis.
OBRIGATÓRIAS
• Orientar e supervisionar a distribuição e administração de
dietas.
• Encaminhar aos profissionais habilitados os clientes/pa-
cientes sob sua responsabilidade profissional, quando identifi-
car que as atividades demandadas para a respectiva assistên-
cia fujam às suas atribuições técnicas.
• Integrar a EMTN (Equipe Multiprofissional de Terapia Nu-
tricional), conforme legislação em vigor.
• Participar da campanha de incentivo a doação de leite
humano.
88 • capítulo 4
ATRIBUIÇÕES ATIVIDADES
• Elaborar o Manual de Boas Práticas do Banco de Lei-
te Humano.
OBRIGATÓRIAS • Supervisionar as etapas de controle de qualidade do lei-
te e produção de fórmulas em lactários, desde a coleta até a
distribuição.
• Solicitar exames laboratoriais necessários à avaliação
nutricional, à prescrição dietética e à evolução nutricional do
cliente/paciente.
• Prescrever suplementos nutricionais, bem como alimentos
COMPLEMENTARES para fins especiais, em conformidade com a legislação vigente,
quando necessários à complementação da dieta.
• Interagir com a equipe multiprofissional, definindo com es-
tes, sempre que pertinente, os procedimentos complementares
à prescrição dietética.
Tabela 4.7 – Algumas atribuições obrigatórias e complementares do nutricionista na área
de nutrição clínica nos diferentes campos de atuação.
capítulo 4 • 89
de fórmulas produzidas/dia (infantis/enterais); o número de idosos residentes
por grau de dependência, dentre outros.
A tabela 4.8 apresenta o quantitativo preconizado pela resolução
CFN nº 380/2005 para o campo de atuação de nutricionistas na área de nutrição
clínica, em hospitais e clínicas em geral. em spas e no atendimento domiciliar,
recomenda-se um nutricionista para até 50 pacientes e/ou cliente, com carga
horária semanal de 20 horas. para mais de 50 pacientes e/ou clientes, determi-
na-se um nutricionista mais um profissional para mais 50 ou fração, com carga
horária de 30 horas semanais.
Até 15 01
TERCIÁRIO Mais de 15 ou fração 01 + 01 a cada 15 ou fração
90 • capítulo 4
GRAU DE DEPENDÊNCIA II
ATÉ 30 01 30
DE 31 A 100 01 40
DE 101 A 150 02 30
GRAU DE DEPENDÊNCIA III
ATÉ 30 01 40
DE 31 A 100 02 30
DE 101 A 150 03 30
DE 151 A 200 03 40
capítulo 4 • 91
Como atividades obrigatórias no campo das políticas e programas institu-
cionais, o nutricionista deve participar de equipes multiprofissionais e interse-
toriais, criadas por entidades públicas ou privadas, destinadas a planejar, coor-
denar, supervisionar, implementar, executar e avaliar políticas, programas,
cursos nos diversos níveis, pesquisas ou eventos de qualquer natureza, direta
ou indiretamente relacionadas com alimentação e nutrição.
Cabe ao nutricionista participar da elaboração e revisão da legislação e có-
digos próprios da área de saúde coletiva, além de coordenar e supervisionar a
implantação e a implementação do módulo de vigilância alimentar e nutricio-
nal do Sistema de Informação de Atenção Básica-SIAB.
Em saúde coletiva, o profissional nutricionista é responsável por consoli-
dar, analisar e avaliar dados de Vigilância Alimentar e Nutricional, coletados
em nível local, propondo ações de resolutividade para situações de risco nutri-
cional e, com base nas informações obtidas, promover ações de educação ali-
mentar e nutricional.
No âmbito da promoção e da assistência à saúde, o nutricionista tem como
atividade obrigatória identificar grupos populacionais de risco nutricional
para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), visando ao planejamento de
ações específicas e, atuando na assistência à saúde, prestar atendimento nu-
tricional individual, em ambulatório ou em domicilio, elaborando o diagnós-
tico nutricional, com base nos dados clínicos, bioquímicos, antropométricos
e dietéticos.
92 • capítulo 4
própria da área; cumprir e fazer cumprir a legislação de Vigilância em Saúde e
promover e participar de programas de ações educativas, na área de Vigilância
em Saúde (atividades obrigatórias); podendo integrar comissões técnicas de re-
gulamentação e procedimentos relativos a alimentos, produtos e serviços de
interesse à saúde, inclusive à saúde do trabalhador (atividade complementar).
Para a determinação do quantitativo de profissionais na área de Saúde
Coletiva, a resolução CFN nº 380/2005 tem como critérios gerais e específicos o
número de habitantes do município; a área de abrangência e acesso à política
e/ou ao programa; a existência de equipe(s) multiprofissional(ais); a população
-alvo da política e/ou do programa; a área de abrangência da unidade de saúde;
a existência de equipe(s) de Programa Saúde da Família; o nível de requerimen-
tos nutricionais por grupo populacional; os tipos de atendimentos prestados
pela unidade (consultas, visitas domiciliares, trabalhos de grupos, suplemen-
tação alimentar, etc.) e o perfil epidemiológico da população local.
Na área de Saúde Coletiva, preconiza-se um nutricionista para atender a
cada 02 (duas) equipes do Programa de Saúde da Família, com carga horária
de 40 horas semanais. Caso o município conte com apenas uma equipe, deve
contar com 01 (um) nutricionista com carga horária de 20 horas semanais.
Compondo a equipe multidisciplinar da área de vigilância sanitária, determi-
na-se um nutricionista por equipe, com carga horária semanal de 30 horas.
As tabelas 4.10, 4.11 e 4.12 apresentam a quantidade de nutricionista por
campo de atuação do profissional no âmbito da Saúde Coletiva.
capítulo 4 • 93
NO DE HABITANTES NO DE NUTRICIONISTAS CARGA HORÁRIA SEMANAL (H)
ATÉ 100 000 01
DE 100 000 A 500 000 03 30 a 40
DE 500 001 A 1 000 000 05
A cada 250 000 habitantes, ou fração, mais um nutricionista, com
ACIMA DE 1 000 000 30 a 40 horas semanais
LEITURA
Borelli, M.; Domene, S. M. A.; Mais, L. A.; Pavan, J.; Taddei, J. A. A. C. A Inserção do nutricio-
nista na atenção básica: uma proposta para o matriciamento da atenção nutricional. Ciência
& Saúde Coletiva, V. 20, N.9, P. 2765-2778, 2015.
94 • capítulo 4
• Registrar as ocorrências técnicas e disciplinares com o objetivo de garan-
tir a qualidade no desenvolvimento das atividades;
• Avaliar as atividades dos alunos, informando-os periodicamente sobre o
seu desempenho, estimulando permanentemente no aluno uma postura ética,
por ações e/ou exemplos;
• Colaborar com as autoridades de fiscalização profissional
b) No âmbito da coordenação
• Construir o projeto pedagógico com a participação do corpo docente da
instituição;
• Coordenar e/ou participar dos trabalhos interdisciplinares;
• Submeter o projeto pedagógico às instâncias acadêmicas administrativas
competentes;
• Coordenar e/ou participar de eventos de Nutrição, do curso ou
departamento;
• Planejar os recursos físicos e materiais necessários ao desenvolvimento
das atividades acadêmicas;
• Planejar recursos humanos com qualificação desejável à efetivação do
projeto pedagógico;
• Promover ações que facilitem a integração de ensino, pesquisa e extensão;
• Orientar, analisar e avaliar as atividades acadêmicas dos docentes;
• Promover reuniões periódicas com os docentes e o colegiado de
curso para avaliação do processo de ensino e aprendizagem, bem como
seu direcionamento.
capítulo 4 • 95
FUNÇÃO/ ATIVIDADES NO DE NUTRICIONISTAS
Direção/Coordenação de cursos de
01 docente por campus com 40 horas semanais
graduação
01 docente para cada turma de 50 alunos para
Docência de disciplina com conteúdos priva-
disciplinas teóricas e 01 docente para cada 20
tivos nos Cursos de Graduação em Nutrição
alunos para disciplinas práticas de docência
Docência de disciplinas de Nutrição e Ali-
mentação nos cursos para a área de saúde e 01 docente para cada disciplina
outras afins
01 docente com 20 horas semanais para acom-
Supervisão de estágio
panhamento de 10 alunos
96 • capítulo 4
O principal campo de atuação do nutricionistas na área da indústria de ali-
mentos é o desenvolvimento de produtos. Para realizar as atribuições defini-
das, o nutricionistas deverá desenvolver as seguintes atividades obrigatórias,
conforme resolução CFN nº 380/2005, descritas na tabela a seguir:
ATRIBUIÇÕES ATIVIDADES
• Participar da equipe multiprofissional responsável pelo
desenvolvimento de produtos, avaliando o desempenho e a
qualidade do produto, consequentes à aplicação de técnicas
OBRIGATÓRIAS dietéticas, garantindo a manutenção de suas propriedades or-
ganolépticas e nutricionais;
• Participar da elaboração do Manual de Boas Práticas de
Fabricação;
• Elaborar informações nutricionais e participar do processo
de rotulagem, atendendo à legislação vigente;
• Pesquisar novas matérias-primas e suas aplicações;
• Elaborar e testar receituário para avaliar o produto perante
OBRIGATÓRIAS as suas possibilidades culinárias;
• Colaborar na formação de profissionais da área de saúde,
participando de programas de treinamento e capacitação, pre-
vistos em protocolos do setor, elaborados com a participação
do nutricionistas.
• Participar do processo de controle de qualidade do pro-
duto, acompanhando a coleta de amostras e as análises físico-
químicas e microbiológicas;
COMPLEMENTARES
• Participar da elaboração de planilha de custos e estudos
comparativos dos produtos em desenvolvimento com os simi-
lares existentes no mercado.
Tabela 4.14 – Atribuições obrigatórias do nutricionistas para desenvolvimento de produtos
na indústria de alimentos.
capítulo 4 • 97
4.7 Área de atuação: marketing na área de alimentação e nutrição
98 • capítulo 4
4.8 Área de atuação: nutrição em esportes
Uma das áreas em grande expansão no país, a nutrição esportiva teve sua ascen-
são com o Brasil sediando algumas das principais competições internacionais,
como a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. O nutricionis-
ta, no exercício de suas atribuições na área de nutrição em esportes tem como
competências prestar assistência e educação nutricional a coletividades ou in-
divíduos, sadios ou enfermos, em instituições públicas e privadas e em consul-
tório de nutrição e dietética, prestar assistência e treinamento especializado
em alimentação e nutrição, prescrever suplementos nutricionais necessários à
complementação da dieta e solicitar exames laboratoriais necessários ao acom-
panhamento dietético.
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capítulo 4 • 99
• Estabelecer o plano alimentar do cliente, adequando-o à modalidade es-
portiva ou atividade física desenvolvida, considerando as diversas fases (manu-
tenção, competição e recuperação);
• Manter registro individualizado de prescrições dietéticas e evolução nu-
tricional da clientela atendida;
• Promover a educação e orientação nutricional ao cliente e, quando perti-
nente, aos familiares/responsáveis;
• Interagir com a equipe multiprofissional, responsável pelo treinamento/
acompanhamento do desportista/atleta;
• Coordenar e supervisionar as atividades da UAN responsável pelo prepa-
ro/fornecimento de refeições aos desportistas.
RESUMO COMENTADO
O nutricionista é capacitado para desenvolver atividades em diversas áreas. Seu campo de
atuação é abrangente, diversificado e está em plena expansão, o que exige desses pro-
fissionais uma melhor capacitação. Dentre as áreas de atuação do nutricionista, podemos
citar: alimentação coletiva, nutrição clínica, saúde coletiva, docência, indústria de alimentos,
marketing na área de alimentação e nutrição e nutrição em esportes. A resolução cfn no 380
de 2005 nos fornece informações importantes acerca das atividades privativas do nutricio-
nista, em acordo com o Código de Ética, bem como sobre o quantitativo mínimo de nutricio-
nistas que deve atuar nas diferentes áreas. Cabe ressaltar que essas determinações visam
100 • capítulo 4
ao cumprimento da atuação do nutricionista como profissional responsável pela prevenção
de doenças e promoção de saúde da sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORELLI, M.; DOMENE, S. M. A.; MAIS, L. A.; PAVAN, J.; TADDEI, J. A. A. C. A inserção do
nutricionista na atenção básica: uma proposta para o matriciamento da atenção nutricional. Ciência
& Saúde Coletiva, v. 20, n. 9, p. 2765-2778, 2015.
CFN. Conselho Federal de Nutricionista. Resolução CFN no 380/2005. Dispõe sobre a definição
das áreas de atuação do Nutricionista e suas atribuições, estabelece parâmetros numéricos
de referência, por área de atuação, e dá outras providências. – Brasília, DF, 2005.
CHAVES, L. G.; SANTANA, T. C. M.; GABRIEL, C. G.; VASCONCELOS, F. A. G. Reflexões sobre a
atuação do Nutricionista no Programa Nacional de Alimentação Escolar no Brasil. Ciência e
Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.18, n. 4, p. 917-926, 2013.
PEDROSO, C. G. T.; SOUSA, A. A.; SALLES, R. K. Cuidado nutricional hospitalar: percepção de
Nutricionistas para atendimento humanizado. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.16, supl. 1, p.
1155-1162, 2011.
capítulo 4 • 101
102 • capítulo 4
5
Interdisciplinaridade
em Nutrição
5. Interdisciplinaridade em Nutrição
A ciência da Nutrição é uma ciência interdisciplinar, que abrange diversos co-
nhecimentos do campo do saber, desde os conceitos técnicos-científicos da
ciência dos alimentos e nutrição, passando pelos conceitos bioquímicos e fi-
siológicos, até os aspectos socioeconômicos e culturais da alimentação, indi-
vidual e coletiva.
O conhecimento sobre a alimentação e os conceitos de alimentação saudá-
vel são importantes para o entendimento do papel do profissional nutricionista
na sociedade. Sabemos que os hábitos alimentares podem estar intimamente
relacionados ao aparecimento de doenças, como as doenças crônicas não trans-
missíveis e são necessárias medidas em conjunto para reverter esse quadro.
A adoção de hábitos alimentares saudáveis por meio das diretrizes deter-
minadas pelo Guia Alimentar da População Brasileira, na sua última publica-
ção em 2014, pode permitir a mudança no perfil epidemiológico e nutricional
da nossa população, que hoje se apresenta susceptível ao aparecimento das
DCNT, com crescente prevalência de sobrepeso e obesidade, principalmente
entre crianças e adolescentes.
Sabemos que o nutricionista tem papel importante no controle dos proces-
sos de saúde-doença, mas sua atuação deve ocorrer em conjunto com outros
profissionais da saúde, objetivando melhor assistência aos pacientes/clientes.
Os conceitos de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade devem passar
para o âmbito dos serviços de saúde, como princípios da integralidade e uni-
versalidade do SUS (Sistema Único de Saúde).
Portanto, neste capítulo final, apresentaremos alguns ideais sobre as dire-
trizes da alimentação saudável, visando ao entendimento da influência dos há-
bitos alimentares no desenvolvimento e controle das DCNT, bem como o papel
do nutricionista na prática clínica e saúde coletiva e a relação do profissional
de Nutrição com outros profissionais da saúde, das ciências humanas e sociais.
OBJETIVOS
• Reconhecer os princípios nutricionais e conhecer as diretrizes nutricionais;
• Descrever a importância da alimentação saudável baseada nos princípios nutricionais;
• Compreender a influência das escolhas alimentares no desenvolvimento das doen-
ças crônicas;
104 • capítulo 5
• Entender que o nutricionista precisa interagir com a equipe multidisciplinar no cuidado do
paciente/cliente.
capítulo 5 • 105
Para além da perspectiva da prevenção de agravos à saúde relacionados a fa-
tores dietéticos, a alimentação saudável é reconhecida como um elemento es-
sencial para promoção da saúde e do bem-estar. No Brasil, assim como a saúde,
a alimentação saudável é assegurada no art. 6º da Constituição Federal entre
os direitos sociais individuais e coletivos (International Food Policy Research
Institute, 2014; Contreras; Gracia, 2011; BRASIL, 1988).
O Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde, cuja
versão atualizada foi publicada em 2014, recomenda, de acordo com a alimen-
tação saudável, o consumo preferencial de alimentos in natura ou minima-
mente processados, em vez de produtos alimentícios ultraprocessados. Pelo
adequado perfil de nutrientes, baixa densidade energética e pela forma em que
se inserem na dieta em combinação com outros alimentos compondo prepara-
ções culinárias e refeições adequadas e saudáveis, alguns grupos de alimentos,
tais como frutas e hortaliças, feijões e peixe, são reconhecidos como marcado-
res de um padrão saudável de alimentação (JAIME et al, 2015).
Para prevenção de doenças cardiovasculares, a Who (2003) recomenda o
consumo diário de 400 g/dia de frutas e hortaliças e o consumo de peixe na fre-
quência de uma a duas vezes por semana. Sabemos que as frutas e hortaliças
também são benéficas na prevenção e no tratamento do excesso de peso.
O consumo regular de feijão também tem sido associado a um padrão sau-
dável de alimentação por melhorar o aporte de nutrientes na dieta, bem como
à redução da pressão arterial e ao controle do peso corporal, além de ser um
alimento tradicional da culinária brasileira e, combinado ao arroz, compõe a
base das refeições almoço e jantar (JAIME et al, 2015).
Dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POFs) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos anos 2008-2009, sinalizavam
que o padrão alimentar do brasileiro se caracterizava pela persistência de al-
guns hábitos alimentares tradicionais, como o consumo de frutas e hortaliças
e do feijão. Observou-se também uma crescente e preocupante participação de
produtos ultraprocessados na dieta.
Segundo Jaime et al (2015), os processos de transição epidemiológica e nu-
tricional vivenciados pela população brasileira nas últimas décadas, a atuali-
zação das informações sobre o consumo alimentar e outros comportamentos
faz-se necessária para orientar o delineamento e a avaliação de intervenções
voltadas à promoção de modos de vida saudáveis que devem levar em conta a
tendência e os padrões mais atuais de alimentação da população.
106 • capítulo 5
5.2 Alimentação saudável
capítulo 5 • 107
• A garantia de acesso, sabor e custo acessível. Ao contrário do que tem sido
construído socialmente (principalmente pela mídia) uma alimentação saudá-
vel não é cara, pois se baseia em alimentos in natura e produzidos regionalmen-
te. O apoio e o fomento à agricultores familiares e cooperativas para a produção
e a comercialização de produtos saudáveis como legumes, verduras e frutas é
uma importante alternativa para que, além da melhoria da qualidade da ali-
mentação, estimule geração de renda para comunidades. A ausência de sabor
é outro tabu a ser desmistificado, pois uma alimentação saudável é, e precisa
pragmaticamente ser, saborosa. O resgate do sabor como um atributo funda-
mental é um investimento necessário à promoção da alimentação saudável.
• Variada: fomentar o consumo de vários tipos de alimentos que forneçam
os diferentes nutrientes necessários para o organismo, evitando a monotonia
alimentar que limita o acesso de todos os nutrientes necessários a uma alimen-
tação adequada.
• Colorida: como forma de garantir a variedade principalmente em termos
de vitaminas e minerais e também a apresentação atrativa das refeições, desta-
cando o fomento ao aumento do consumo de alimentos saudáveis como legu-
mes, verduras e frutas e tubérculos em geral.
• Harmoniosa: em termos de quantidade e qualidade dos alimentos con-
sumidos para o alcance de uma nutrição adequada considerando os aspectos
culturais, afetivos e comportamentais.
• Segura: do ponto de vista de contaminação físico-química e biológica e
dos possíveis riscos à saúde. Destacada a necessidade de garantia do alimento
seguro para consumo populacional.
108 • capítulo 5
Conforme Barreto et al (2005), as DCNT são de etiologia multifatorial e com-
partilham vários fatores de riscos modificáveis, como o tabagismo, a inatividade
física, a alimentação inadequada, a obesidade e a dislipidemia. Projeções para
as próximas décadas indicam um crescimento epidêmico das DCNT na maioria
dos países em desenvolvimento, particularmente das doenças cardiovasculares e
diabetes tipo 2. Os principais determinantes desse crescimento são:
• Aumento na intensidade e frequência da exposição aos principais fatores
de risco para essas doenças;
• Mudança na pirâmide demográfica, com número maior de pessoas alcan-
çando idades onde essas doenças se manifestam com mais frequência;
• Aumento da longevidade, com períodos mais longos de exposição aos
fatores de risco e maior probabilidade de manifestação clínica das doenças
cardiovasculares.
capítulo 5 • 109
(aumento na disponibilidade de calorias per capita e aumento da participação
de alimentos de origem animal na alimentação) e desfavorável no que se refere
à obesidade e às demais DCNT (aumento da participação na ingestão de gordu-
ras em geral, gorduras de origem animal e açúcar; e diminuição no consumo de
cereais, leguminosas e frutas, verduras e legumes).
A Organização Mundial da Saúde elaborou estratégias para alimentação,
atividade física e saúde, entendendo que o crescimento da incidência de DCNT
observado nas últimas décadas relaciona-se, em grande parte, com os hábitos
de vida adquiridos.
Segundo Barreto et al (2005), dois problemas atuais precisam ser enfrenta-
dos diretamente: o aumento do consumo de alimentos industrializados, nor-
malmente ricos em gorduras hidrogenadas e carboidratos simples e pobres em
carboidratos complexos; e o declínio do gasto energético associado ao trans-
porte motorizado, à mecanização do trabalho e a outros aspectos do desenvol-
vimento tecnológico.
Logo, as estratégias no campo da alimentação visam à redução do consu-
mo de alimentos de alta densidade calórica, como alimentos ricos em gordu-
ras, carboidratos simples ou amido que são, em geral, altamente processados
e pobres em micronutrientes. Em oposição a eles, estão os alimentos de baixa
densidade calórica, ricos em água, como frutas, verduras e legumes, que deve-
rão ter seu consumo incentivado. E pelo novo Guia Alimentar para a População
Brasileira (BRASIL, 2014) esse conceito tem sido explorado, no sentido de se
estimular o consumo de alimentos in natura e processados, em detrimento
dos ultraprocessados.
©© MMUTLU | SHUTTERSTOCK.COM
110 • capítulo 5
O compartilhamento de fatores de risco, somado à urgência em deter o cres-
cimento das DCNT no país, justifica a adoção de estratégias integradas e sus-
tentáveis de prevenção e controle dessas doenças assentadas nos seus princi-
pais fatores de risco modificáveis – tabagismo, inatividade física e alimentação
inadequada (BARRETO et al, 2005). Portanto, a adoção de hábitos alimentares
saudáveis pode contribuir significativamente para a mudança do perfil epide-
miológico das doenças crônicas não transmissíveis no país.
capítulo 5 • 111
as posturas corporais e um discurso que incorporem a ética por meio de uma
relação mais equidistante entre aquele que cuida e quem é cuidado. Assim, no
sentido de redirecionar o papel da clínica, cabe também ressaltar a valorização
e a modificação da narrativa dos profissionais de saúde, de modo que ela pos-
sibilite a exposição, de modo mais claro e concreto, do sujeito em suas necessi-
dades além de suas demandas (FAVORETO, 2008).
O campo da saúde abrange diferentes áreas de formação tanto nas áreas huma-
nas, como psicologia, serviço social, quantos os cursos de saúde, como enfer-
magem, fisioterapia, terapia ocupacional, nutrição, entre outras. As demandas
e problemáticas exigem uma leitura dos fenômenos ligados as práticas dentro
do campo da saúde e apontam as diferenças entre as equipes de profissionais,
isso acontece não só no hospital, mas nas unidades básicas de saúde, entre ou-
tros locais de saúde (TAVARES et al, 2012).
Os serviços de saúde vêm perdendo, com muita intensidade, a dimensão
humana do cuidado, em especial nas instituições hospitalares que historica-
mente foram marcados pelas ações reducionistas, as quais são centradas no
biológico, nos procedimentos técnicos e orientadas pelo modelo clínico hege-
mônico que valoriza a doença em detrimento do usuário, distanciando-se da
determinação social do processo saúde/doença (GUEDES; CASTRO, 2009).
Novos temas têm emergido no campo da saúde, tais como o enfoque bio-
-psicossocial, a interdisciplinaridade, o respeito à diversidade cultural, as novas
tecnologias em saúde, a releitura da bioética e o impacto das novas tendências
econômicas nas políticas de saúde. Entende-se o processo de humanização da
nutrição como a capacidade de oferecer cuidado nutricional de forma integral
e qualificado, valorizando o diálogo e a escuta em suficiência na relação pro-
fissional-usuário e articulando o conhecimento técnico-científico das áreas
de alimentação, nutrição e saúde com princípios ético-humanísticos, com
aspectos psicossocioculturais do ser humano, acolhimento, melhoria do am-
biente de cuidado nutricional e das condições de trabalho dos nutricionistas
(DEMETRIO et al, 2011).
Na busca pela melhoria da qualidade de vida da população, a partir do prin-
cípio da integralidade, as ações de alimentação e nutrição, como componentes
112 • capítulo 5
do trabalho interdisciplinar, são indispensáveis. Além disso, para um cuidado
nutricional efetivo, os profissionais de saúde precisam estar qualificados e o
serviço de saúde deve estar organizado de forma a permitir um processo cons-
tante de formação (RICARDI e SOUSA, 2015).
Tendo em vista a complexidade da abordagem em nutrição clínica e saúde,
os serviços de saúde estão sendo direcionados no sentido de considerar não
apenas a patologia, mas também as preferências, hábitos e aversões do indiví-
duo no atendimento nutricional. Entretanto, reconhecem que ainda há muito
que avançar nesse sentido, sobretudo no que diz respeito à formação e práti-
ca clínica do nutricionista, pautadas na humanização e interdisciplinaridade
(DEMÉTRIO et al, 2011).
A partir do século XX, especialmente na década de 1970, quando emergiram
movimentos sociais que tornaram visíveis os limites do modelo econômico e do
desenvolvimento científico com base na racionalidade positivista, voltou-se a en-
fatizar a necessidade da interdisciplinaridade em todos os campos científicos, am-
pliando-se sua noção para além das tentativas multidisciplinares de produção de
conhecimentos justapostos. A interdisciplinaridade é ao mesmo tempo uma ques-
tão de saber e poder, que implica uma consciência dos limites e das potencialida-
des de cada campo de saber para que possa haver uma abertura em direção de um
fazer coletivo, ou seja, de uma visão interdisciplinar (GARCIA et al, 2006).
SAIBA MAIS
Quando falamos de interdisciplinaridade, podemos destacar o caráter inter, que por si só já
marca a presença de uma ação recíproca de um elemento sobre o outro e vice-versa. Em
uma equipe interdisciplinar há possibilidade de troca de instrumentos, técnicas, metodologia
e esquemas conceituais entre as disciplinas. Assim, trata-se de um diálogo que leva ao enri-
quecimento e transformação das disciplinas envolvidas (GALVAN, 2007).
capítulo 5 • 113
disponibilidade, num movimento de reconhecimento de dificuldades insolú-
veis e de posições diferentes em relação a um mesmo objeto (TRIBARRY, 2003).
Sabemos que o profissional nutricionista participa hoje de equipes inter-
disciplinares, que consideram o cliente/paciente em todo o campo do saber,
seja do ponto de vista técnico-científico da ciência da Nutrição, seja conside-
rando aspectos socioculturais, psicossociais, ambientais e sustentáveis. Por
isso, profissionais como psicólogos, antropólogos, assistentes sociais, enfer-
meiros, médicos, bem como biomédicos, biólogos, químicos, engenheiros de
alimentos e outros podem e devem estar dentro do campo de interação com o
nutricionista, para o enfrentamento do processo saúde-doença.
Observamos que, segundo Carvalho, Luz e Prado (2011), apesar da ten-
dência à especialização disciplinar, há um movimento de aproximação entre
os diversos campos disciplinares na busca pela integralidade e pela interdis-
ciplinaridade. A cooperação entre distintos e especializados campos de saber
científico tem sido fundamental no enfrentamento de temas complexos como
os da “alimentação”. As transformações que, na realidade, vêm ocorrendo na
alimentação, desejadas ou indesejadas, contam com padrões que representam
tanto uma mudança de regras, de preferências alimentares, como de novas
combinações associadas a novas técnicas de preparo, capazes de identificar e
de dar sentido de pertencimento aos comensais.
©© KURHAN | SHUTTERSTOCK.COM
114 • capítulo 5
• Nutrição Clínica (terapêutica do conjunto das patologias no âmbi-
to individual);
• Nutrição Básica e Experimental (bioquímica, fisiologia, genética, en-
tre outras);
• Ciência e Tecnologia de Alimentos Aplicadas à Saúde (composição quími-
ca e desenvolvimento de alimentos);
• Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva (epidemiologia, políticas, pla-
nejamento e gestão em saúde, entre outras);
• Ciências Humanas e Sociais em Alimentação e Nutrição (sociologia, an-
tropologia, epistemologia, alimentação de coletividades, entre outras).
SAIBA MAIS
Considera-se que os países devam ser soberanos para garantir a segurança alimentar e
nutricional de seus povos (soberania alimentar), respeitando suas múltiplas características
culturais, manifestadas no ato de se alimentar. O conceito de soberania alimentar defende
capítulo 5 • 115
que cada nação tem o direito de definir políticas que garantam a segurança alimentar e nutri-
cional de seus povos, incluindo aí o direito à preservação de práticas de produção e alimenta-
res tradicionais de cada cultura. Além disso, reconhece-se que este processo deva se dar em
bases sustentáveis, do ponto de vista ambiental, econômico e social (BURITY et al, 2010).
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de cada categoria, promovendo certo distanciamento entre os projetos terapêu-
ticos e o trabalho em equipe. Isso acarreta uma fragmentação dos saberes e das
práticas que compromete o cuidado fundamentado nas diretrizes do Sistema
Único de Saúde (SUS) (FERREIRA et al, 2015).
RESUMO
O nutricionista tem papel fundamental no controle e desenvolvimento das doenças crônicas
não transmissíveis, uma vez que a alimentação inadequada associada a outros fatores como
tabagismo e inatividade física está intimamente relacionada ao aparecimento das DCNT. Sa-
bemos que o cuidado com a saúde do indivíduo requer interdisciplinaridade dos diferentes
campos do saber, nos quais o nutricionista pode interagir e integrar equipes de saúde, tendo
um olhar abrangente sobre todo o processo saúde-doença do indivíduo e sobre a sociedade.
Esses diferentes campos do saber dentro dos conceitos de alimentação e nutrição estão liga-
dos ao surgimento da profissão nutricionista, que é generalista, humanista e, além dos aspectos
técnico-científico dos alimentos, leva em consideração aspectos socieconômicos e culturais da
população. É importante dizer que, no âmbito da alimentação e nutrição, nutricionista é o pro-
fissional habilitado e competente para tomar decisões, mas a contribuição e o relacionamento
com outros profissionais da área das ciências da saúde, sociais ou humanas tem importância
significativa na melhoria e manutenção da saúde da nossa população.
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