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CARDIOVASCULARES
JEFFERSON PETTO
▪ INTRODUÇÃO
No Brasil, os dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)1 mostram que, em
2016, ocorreram cerca de 350 mil mortes por doenças cardiovasculares (DCVs). Isso
representa 9% de todas as mortes no País, onde as DCVs matam duas vezes mais do
que todos os tipos de câncer, 2,5 vezes mais do que todos os acidentes e mortes por
violência e seis vezes mais do que as infecções, incluídas as mortes pelo vírus da
imunodeficiência humana (HIV).
A principal causa das mortes por DCVs, representando mais de 60%, é
o infarto do miocárdio, cuja principal causa é a doença arterial coronariana (DAC).
Segundo a V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, os quatro
fatores desencadeantes da doença aterosclerótica são:
Apesar de, na maioria das vezes, apresentarem efeitos redutores sobre o perfil lipídico
maiores do que o exercício e a dieta, as estatinas podem, em longo prazo, provocar o
diabetes melito tipo 2 em cerca de 46% dos usuários.2
O que normalmente ocorre é uma prescrição generalizada do exercício físico sem
considerar a especificidade e a periodicidade do treinamento e, mais ainda, sem levar em
consideração as características clínicas e funcionais do paciente. Tem se avolumado o
número de pessoas que iniciam programas de exercício físico sem a correta orientação ou
supervisão, as quais, muitas vezes, não obtêm os resultados desejados. Isso ocorre, na
maioria das vezes, por falta de conhecimento dos profissionais que atuam nessa área.
Para uma prescrição correta do exercício, é necessário que o profissional que se dispõe a
atender o paciente domine conceitos fundamentais. Para tanto, é necessário ter
conhecimento sobre as seguintes questões:
▪ metabolismo lipídico;
▪ implicações cardiovasculares dos distúrbios lipídicos (dislipidemias);
▪ variáveis do perfil lipídico no processo saúde-doença (quais são e como
agem);
▪ fisiopatologia da doença aterosclerótica.
Além do domínio dos conceitos fundamentais, é impreterível que o profissional entenda
a fisiologia do exercício, especialmente no que diz respeito à bioenergética, para,
assim, dominar os efeitos e os mecanismos fisiológicos que o exercício promove em
pacientes que apresentam dislipidemia, de forma isolada ou associada a outras
comorbidades.
▪ OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
▪ ESQUEMA CONCEITUAL
▪ CLASSIFICAÇÃO DOS LIPÍDIOS
O termo lipídio vem do grego lipos, que significa “gordura”. Os lipídios, assim como os
carboidratos, são moléculas orgânicas, ou seja, têm sua base formada por íons de carbono
e de hidrogênio.3,5
A diferença estanque entre os lipídios e os carboidratos é a relação absoluta entre o
oxigênio e o hidrogênio que estão ligados às moléculas de carbono. Nos carboidratos, a
relação entre eles é constante, ou seja, 2:1 (para cada duas moléculas de hidrogênio existe
uma de oxigênio). Nos lipídios, no entanto, essa relação pode variar. Por exemplo, a
estearina é um lipídio comum que apresenta relação de, aproximadamente, 18:1.3,5
Os lipídios são naturalmente hidrofóbicos, ou seja, não se dissolvem em água e formam
um grupo composto por óleos, gorduras e ceras. Em temperatura (T)
ambiente (25ºC) os óleos são líquidos (passam ao estado sólido com T em torno de -
50°C) e as gorduras mantêm o estado sólido (passam ao estado líquido com T em torno
de 28°C), assim como as ceras mantêm o estado sólido (passam ao estado líquido com T
em torno de 40ºC).3,5
Neste artigo, os termos óleos, gorduras ou ceras serão utilizados como referência aos
pontos de fusão dos lipídios.
Os lipídios podem ser divididos em três classes, que serão apresentadas a seguir.
LIPÍDIOS SIMPLES
Os lipídios simples, também chamados de triacilgliceróis ou triglicerídeos ( TGs), são
compostos neutros, ou seja, não possuem elétrons livres em sua órbita, e são formados
por uma molécula de glicerol ligada a três moléculas de ácidos graxos.
O glicerol não é caracterizado como um lipídio, e sim como um carboidrato, uma vez que
apresenta alta solubilidade na água.
Os ácidos graxos, também chamados de ésteres, recebem esse nome porque a
molécula de ácido orgânico (COOH) forma parte de sua estrutura. São formados por 4 a
24 átomos de carbono. Eles podem ser de cadeias:
LEMBRAR
Os TGs são o principal substrato para a formação da adenosina trifosfato (ATP) em
repouso, e o único entre as classes de lipídios que são utilizados para gerar energia.
LEMBRAR
Ao contrário do que se diz de modo popular, os ácidos graxos trans não são formados
apenas industrialmente, são também encontrados na natureza em pequenas quantidades.
Os lipídios trans produzidos de forma industrial são formados a partir da
hidrogenação de ácidos graxos cis poli-insaturados, e se comportam como ceras.
A partir desse ponto do texto, o termo “trans” faz referência aos ácidos graxos poli-
insaturados fabricados pela indústria alimentícia.
Na molécula cis, os dois hidrogênios se encontram do mesmo lado na dupla ligação de
carbonos; nos ácidos graxos trans, os átomos de hidrogênio se encontram em lados
opostos, como ilustrado na Figura 2.
Figura 2 — Ácidos graxos cis e trans.
Fonte: Lima (2016).7
Enquanto o ácido oleico forma um ângulo na dupla ligação de carbono, o ácido
elaídico (versão trans do ácido oleico) mantém a configuração retilínea da cadeia de
carbonos. Isso modifica, na prática, o ponto de fusão desses lipídios. Enquanto
a trioleína (ácido graxo insaturado cis) apresenta ponto de fusão a 4,6ºC, em sua versão
trans esse ponto passa para 42ºC.
Na versão cis, a trioleína estaria em estado líquido em T ambiente (óleo) e na versão trans
em estado sólido (cera). Por isso, as indústrias utilizam em torno de 10% de lipídios trans
na fabricação das margarinas para dar mais consistência a elas.
LIPÍDIOS COMPOSTOS
Os lipídios compostos são formados por TGs ligados a outras moléculas não lipídicas.
Um exemplo de lipídio composto é o fosfolipídio (composto pela associação entre TGs
e fósforo), que compõe a membrana plasmática da maioria das células do corpo humano.
Outro exemplo importante de lipídios compostos são as lipoproteínas plasmáticas.
Essas são moléculas de TGs ligadas a proteínas que representam a principal forma de
transporte de TGs e de colesterol para os tecidos.
LIPÍDIOS DERIVADOS
Os lipídios derivados são formados a partir dos lipídios simples ou compostos. Possuem
como característica a ausência de ácido graxo em sua composição.
Os lipídios derivados compartilham características químicas e físicas com as outras duas
classes de lipídios, como o fato de serem hidrofóbicos. O exemplo mais icônico dessa
classe de lipídios é o colesterol, uma molécula formada por 27 carbonos, fundamental
para a formação dos hormônios esteroides e das membranas plasmáticas, inclusive dos
neurônios.
A maior fonte de colesterol é a produção endógena, que responde por 60–70%
de todo o colesterol plasmático. Os demais 30–40% são provenientes das fontes dietéticas.
▪ VLDL;
▪ lipoproteína de densidade intermediária (IDL — do inglês intermediate density
lipoprotein);
▪ LDL.
Os ácidos graxos trans reduzem mais especificamente a HDL tipo 2, principal
subfração antiaterogênica da HDL.10 Além disso, essas ceras
Metabolismo é uma designação que se refere à rede integrada de reações químicas que ocorrem
em células, tecidos ou organismos. Essa rede integrada de reações químicas tem como propósito
final o anabolismo ou o catabolismo de moléculas ou substâncias. As reações anabólicas são
denominadas “síntese” (formação) e as catabólicas, “degradação” (quebra).5
Os ácidos graxos poli-insaturados cis compõem diferentes séries. São chamados
de séries porque a formação de um ácido depende, necessariamente, da formação
do outro. A mais conhecida, por seus benefícios à saúde do sistema cardiovascular,
é a série ω, subdividida em ω-3, ω-6 e ω-9.
A série ω-6 consiste em ácidos graxos poli-insaturados (óleos) de cadeia longa,
cujas primeiras duplas ligações entre carbonos se encontram respectivamente no
carbono 6 após o terminal metila (CH3). Essa série é formada principalmente pelos
seguintes ácidos:
Na ingestão dietética do ácido linoleico, o seu uso acima dos valores recomendados pode
aumentar os níveis da LDL oxidada, o que, potencialmente, favorece a aterogênese.
A série ω-3 consiste em uma série de ácidos graxos poli-insaturados (óleos) de
cadeia longa, cuja primeira ligação dupla dista três carbonos do terminal metila.
Essa série é formada principalmente pelos seguintes ácidos:
O ponto de fusão de um ácido graxo trans está em torno de 42ºC, característica que manifesta a
drástica diferença entre esses lipídios, refletida nos seus efeitos antagônicos.
Os ω-3 diminuem:
▪ as arritmias cardíacas;
▪ os níveis de TGs séricos;
▪ o risco de trombos arteriais e venosos;
▪ os valores de pressão arterial (PA);
▪ a mortalidade por DCV.
LEMBRAR
Os ω-3 não apresentam efeitos positivos sobre os valores plasmáticos da HDL e da LDL.
O ácido α-linoleico da família dos ω-3 e o ácido linoleico da família dos ω-6 são
ácidos graxos essenciais, ou seja, não são produzidos pelo organismo humano. O
organismo não é capaz de formar as séries ω-3 e ω-6 porque não tem as enzimas
que são essenciais para a formação desses ácidos graxos: as dessaturases.
As dessaturases são enzimas responsáveis pela dessaturação, ou seja, pela adição de ligações
duplas entre carbonos dos ácidos graxos de configuração cis.
As dessaturases diminuem o número de hidrogênios na cadeia de carbono, daí o nome
dessaturação.
O ser humano tem dessaturases para os carbonos 4, 5, 6 e 9, mas não para os
carbonos 12 e 15, que são necessárias para a formação dos ácidos α-linoleico e
estearidônico. Por isso, ao contrário das plantas, não consegue formar esses óleos
endogenamente.
Em conjunto, esses óleos são potentes redutores da lipogênese hepática, pois
bloqueiam genes envolvidos na utilização da glicose para a síntese de ácidos
graxos. Dessa forma, favorecem a lipólise mitocondrial, tanto nos músculos como
no tecido hepático.19 Esses óleos também exercem as seguintes funções:4
▪ aumentam a expressão e a atividade dos receptores da LDL no fígado,
favorecendo a remoção e o metabolismo catabólico da LDL e a menor formação da
VLDL;
▪ diminuem a transferência de TGs da HDL para as outras lipoproteínas e,
consequentemente, aumentam o transporte reverso de colesterol e TGs para o fígado;
▪ induzem a formação da LDL com menor teor de colesterol esterificado, o que
modifica a estrutura e a qualidade da LDL (menor formação de LDL pequena e
densa).
LEMBRAR
Os estudos não mostram efeitos positivos desses óleos sobre a HDL; a ingestão de ω-6, inclusive,
provoca queda da concentração de HDL.
Em comparação com outros ácidos da série ω, pouco se fala dos efeitos do graxo
monoinsaturado oleico 18:1 (9), da série ω-9. No entanto, vários estudos clínicos
e epidemiológicos demonstram melhora do perfil lipídico plasmático com a
ingestão dietética desse óleo.19
Dietas ricas em óleos monoinsaturados diminuem a incidência de DCV.19
Apesar dos efeitos positivos do ácido oleico, Miller20 afirma que esse óleo
promove elevação do fator VII da cascata de coagulação sanguínea e do inibidor
ativado do plasminogênio-1 (PAI-1) — efeitos que favorecem a trombogênese.
No entanto, os estudos recentes têm cada vez mais se dedicado ao valor qualitativo dessas
moléculas,23,25 apontando que, possivelmente, a concentração qualitativa desses lipídios seja
mais importante do que a quantidade plasmática. O estudo MESA, por exemplo, evidenciou a
importância da quantidade qualitativa da HDL como fator cardioprotetor.23 Da mesma forma, a
qualidade dos TGs tem influência direta no processo aterosclerótico.
Como dito anteriormente, os TGs (lipídios simples) são formados por uma
molécula de glicerol (carboidrato) ligada a três moléculas de ácidos graxos. Se os
ácidos graxos que compõem os TGs forem principalmente insaturados (mono ou
poli-insaturados cis), eles formarão moléculas de VLDL, IDL e LDL menos densas
e menos propensas à oxidação, ou seja, menos aterogênicas. Isso porque os
ácidos graxos mono ou poli-insaturados cis possuem conformação espacial
diferente dos ácidos graxos saturados ou poli-insaturados trans.
Como os óleos possuem sua cadeia de carbono com conformação não retilínea
(ver Figura 1), eles preenchem as moléculas de LDL, por exemplo, com menor
quantidade de ácidos graxos. Por outro lado, as gorduras e ceras (ácidos graxos
saturados ou poli-insaturados trans) preenchem essas mesmas lipoproteínas com
uma quantidade maior de ácidos graxos.
LEMBRAR
As LDLs preenchidas com ácidos graxos saturados ou poli-insaturados trans são mais densas e
mais propensas à oxidação dos radicais livres, o que favorece a formação da placa de
ateroma.16 Por isso, entre os pesquisadores, tem crescido a ideia de que o ponto central do perfil
lipídico, para controle do processo aterosclerótico, seja principalmente a quantidade e a qualidade
dos TGs, e não da LDL.24
As técnicas laboratoriais estão cada vez mais aprimoradas para identificar a
qualidade dos lipídios,25 e, embora ainda hoje poucos laboratórios em âmbito
nacional realizem esse tipo de análise,26 acredita-se que no futuro próximo a
solicitação de exames que avaliem a qualidade do perfil lipídico será prática
rotineira da avaliação clínica.
As LDLs menores e mais densas são chamadas de LDLs tipo B, e as maiores e menos densas,
de LDLs tipo A.
▪ colesterol;
▪ ésteres de colesterol;
▪ fosfolipídios;
▪ ácidos graxos livres (não esterificados).
Digestão é o conjunto de processos implicados na conversão de alimentos em substâncias
adequadas à absorção e à assimilação.
A digestão dos lipídios começa na cavidade bucal e continua no estômago, com
a ação das lipases lingual e gástrica. Elas são produzidas, respectivamente, pelas
glândulas sublinguais e pelas células da mucosa do estômago. Essas lipases
degradam os TGs, separando os ácidos graxos do glicerol, principalmente os TGs
formados por ácidos graxos de cadeias curta e média. Após a ação dessas lipases,
os ácidos graxos livres sofrem ação dos sais biliares e das seguintes substâncias
produzidas no pâncreas: 4,5,19
▪ lipase pancreática;
▪ colesterol-esterase;
▪ fosfolipase;
▪ bicarbonato.
Os sais biliares produzidos pelas células hepáticas e armazenados na vesícula biliar são
substâncias à base de colesterol (lipídio derivado), que têm por função emulsificar os
lipídios. 4,5,19
Emulsificar significa misturar o que não se mistura naturalmente, como água e óleo.
Em vias finais, a emulsificação dos lipídios é o processo que torna as moléculas lipídicas (que
normalmente se agregam formando grandes moléculas) em gotículas, para que a lipase
pancreática possa agir de forma mais efetiva.4,5,19
A lipase pancreática tem a mesma função das lipases lingual e gástrica, com a
diferença de agir também sobre TGs formados por ácidos graxos de cadeia longa,
além de ser mais eficiente na catálise dos lipídios. O colesterol proveniente da
dieta é diretamente absorvido em sua forma livre pelos enterócitos. No entanto,
os ésteres de colesterol, que representam cerca de 15% do colesterol dietético,
são hidrolisados pela colesterol-esterase, que cliva os ésteres de colesterol em
ácidos graxos, mais colesterol livre. Já os fosfolipídios são absorvidos
principalmente pela ação da fosfolipase A2.
Na sequência, os ácidos graxos livres de cadeia curta e média são diretamente absorvidos pelos
enterócitos da mucosa intestinal e são liberados na corrente sanguínea venosa. Eles são, então,
transportados pela albumina até o fígado, pela circulação porta-hepática ou até os tecidos
periféricos, nos quais são diretamente absorvidos e utilizados como substrato energético.
Por sua vez, os ácidos graxos livres de cadeira longa, o colesterol não esterificado,
os fosfolipídios, os sais biliares e as vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) formam as
micelas.
Micelas são partículas hidrofílicas que facilitam o transporte dos lipídios e das vitaminas
lipossolúveis (A, D, E e K) através da membrana dos enterócitos.
Após atravessarem a mucosa intestinal, os compostos das micelas, juntamente
com a Apo B-48, irão formar a lipoproteína primogênita (quilomicra ou
quilomícrons). Nesse ponto, novamente os ácidos graxos são ressintetizados
em TGs e o colesterol livre é esterificado.
LEMBRAR
As quilomicras transportam principalmente TGs e colesterol esterificado e não ácidos graxos e
colesterol livres.
A Figura 3 resume de forma esquemática a primeira parte do metabolismo lipídico.
Figura 3 — Metabolismo lipídico: ingestão dietética, absorção das gorduras e
formação das quilomicras.
Fonte: Harvey e Ferrier (2012).5
ETAPAS DA LIPÓLISE
Etapa/desi Descrição
gnação
Primeira: A primeira etapa do metabolismo dos TGs ocorre no sangue. Nela, os TGs presentes nas quilomicras são clivados pela lipase lipoproteica.
clivagem Nesse processo, os ácidos graxos são liberados do glicerol e transportados até o sarcolema (membrana plasmática da
dos TGs. célula muscular) pela albumina.
No sarcolema, proteínas específicas realizam o transporte dos ácidos graxos para o interior da célula muscular. Ao entrarem na célula, ocorre a
segunda etapa, a β-oxidação.
Segunda: β- Nessa etapa, os ácidos graxos são transformados em moléculas de Acetil-Coenzima A (AcetilCoA). Esse processo ocorre na matriz mitocondrial,
oxidação dos após a passagem desses ácidos graxos pelas membranas externa e interna da mitocôndria. Em média, cada ácido graxo é capaz de formar oito
ácidos moléculas de AcetilCoA.
graxos.
No interior da mitocôndria, a AcetilCoA se liga ao oxaloacetato e forma o citrato, dando início à terceira etapa do catabolismo dos TGs, o ciclo do
ácido cítrico.
É importante lembrar que as principais enzimas que medeiam a β-oxidação são as tiocinases.
Os ácidos graxos de cadeia curta e média passam livremente pelas membranas mitocondriais (externa e interna), no entanto, os ácidos graxos de
cadeia longa (mais comuns na alimentação) necessitam da carnitina para serem transportados através da membra interna das mitocôndrias.
Terceira: ciclo Também conhecida como ciclo de Krebs, essa etapa compreende 11 reações anaeróbicas, ou seja, reações que não necessitam do oxigênio para
do ácido ocorrer.
cítrico. O ciclo do ácido cítrico libera íons de hidrogênio que são captados por transportadores específicos, denominados NAD e FAD.
Esses transportadores levam esses íons de hidrogênio até as cristas mitocondriais, local em que ocorre a última etapa do catabolismo dos TGs.
Quarta: Essa etapa é necessariamente aeróbica, ou seja, depende da presença suficiente de oxigênio para ocorrer. É nessa fase que a maior parte
cadeia da ATP é formada.
transportador No final dessa etapa, além da ATP, são formados H2O e CO2.
a de elétrons.
Quadro 2
AcetilCoA: acetilcoenzima A; NAD: nicotinamida-adenina-dinucleotídeo; FAD:
flavina-adenina-dinucleotídeo.
LEMBRAR
Diferentemente da via anaeróbica, na via aeróbica não ocorre acúmulo de íons de hidrogênio, o
que, portanto, não provoca acidose metabólica.
Em repouso, o organismo utiliza, prioritariamente, lipídios para produzir energia.
Em média, 60 a 70% da energia de repouso total necessária provém do
catabolismo lipídico. Isso se deve, principalmente, ao fato de que o organismo é
uma “máquina” extremamente econômica.
Um grama de lipídio, em média, produz 9kcal de energia e 1g de carboidrato ou proteína produz,
em média, 4kcal, o que mostra o motivo de o corpo humano preferir utilizar, principalmente, lipídios
para a produção de energia, pois é muito mais rentável.
O homem possui uma reserva ilimitada de lipídios, enquanto que a sua reserva
de carboidratos é limitada. Ou seja, estocados no tecido adiposo e nos músculos,
os lipídios representam uma reserva de mais de 200.000kcal, enquanto que no
fígado e no tecido muscular a reserva de carboidratos normalmente não ultrapassa
2.200kcal. Isso se deve ao fato de o armazenamento de carboidratos ser muito
dispendioso devido à necessidade de água. Já os lipídios, por serem hidrofóbicos,
não precisam de água para seu armazenamento, o que possibilita maior acúmulo
com menos peso molecular.3 E por que não utilizar principalmente as proteínas?
Porque a principal função das proteínas é o anabolismo, e não o fornecimento de
energia.
Caso não exista oxigênio suficiente na mitocôndria, a célula muscular diminui sua produção
energética aeróbica e aumenta a produção anaeróbica. Por isso, a oferta de oxigênio é um
importante mediador dos metabolismos aeróbico e anaeróbico.
Uma vez que a via aeróbica produz muito mais energia do que a anaeróbica, não
gera acidose metabólica e, ainda, consegue utilizar tanto os carboidratos quanto
os lipídios. Assim, quase a totalidade das células do corpo humano possui
metabolismo basicamente aeróbico; a única exceção são as hemácias, que não
possuem mitocôndria, portanto, não produzem energia de forma aeróbica e não
utilizam lipídios para a produção de energia, somente carboidratos.
Além das hemácias, o tecido nervoso central, embora possua mitocôndrias,
basicamente utiliza carboidratos para a produção de energia (principalmente
aeróbica). O mecanismo que explica o motivo para os neurônios do sistema
nervoso central não utilizarem lipídios ainda não está claro. No entanto, sabe-se
que os ácidos graxos não conseguem atravessar com facilidade a barreira
hematoencefálica por estarem ligados à albumina.
▪ o acetoacetato;
▪ o hidroxibutirato;
▪ a acetona (produto não metabolizável).
A mitocôndria hepática tem a capacidade de converter a AcetilCoA, proveniente
da β-oxidação dos ácidos graxos, em corpos cetônicos. Esses, com exceção da
acetona, são transportados aos tecidos periféricos que possuem mitocôndria
(especialmente músculos esquelético e cardíaco e córtex renal) e podem ali se
converter novamente em AcetilCoA e dar origem ao ciclo do ácido cítrico.
Em condições de jejum prolongado (2 a 3 semanas) — quando o fígado aumenta
consideravelmente a produção dessas substâncias em decorrência da necessidade
de economia de glicose e proteína — o encéfalo passa a usar, também, essas
substâncias na produção de energia, poupando, assim, glicose e proteínas.
LEMBRAR
Poupar glicose é fundamental, pois sua quantidade é limitada no organismo. Além disso, os
carboidratos são combustíveis quase que exclusivos do sistema nervoso central.
Por que o encéfalo não utiliza TGs? Porque, como também já mencionado, ele não
tem a capacidade de metabolizar esse substrato. Daí a importância dos corpos
cetônicos como fonte de energia para o encéfalo em situações nas quais a taxa de
glicose no organismo está baixa. No entanto, quando a velocidade de formação
dos corpos cetônicos é maior do que seu catabolismo, seus valores no sangue e
na urina aumentam, causando, respectivamente, cetonemia e cetonúria.
Tais condições são frequentemente identificadas em indivíduos com diabetes
melito tipo 1 não controlado. Em indivíduos sadios, a concentração desses
compostos no sangue é menor do que 3mg/dL, que pode atingir 90mg/dL nos
diabéticos. Uma vez que cada corpo cetônico libera um íon de hidrogênio ao ser
carreado no sangue, esse quadro de cetonemia leva à acidose metabólica
(cetoacidose). A cetoacidose, especialmente a provocada pelo acúmulo de
acetonas, causa toxicidade, fraqueza muscular, disfunção de órgãos e morte (em
casos crônicos mais graves).
LEMBRAR
O fígado, embora seja o produtor de corpos cetônicos, não tem a capacidade de utilizá-los para a
produção de energia, pois não possui a tioforase, enzima necessária para metabolizar esses
compostos.
▪ as quilomicras;
▪ as VLDLs;
▪ as IDLs;
▪ as LDLs;
▪ as HDLs;
▪ a lipoproteína (a).
Essas lipoproteínas diferem na composição lipídica e proteica, no tamanho e na
densidade, conforme mostra a Figura 4.
LEMBRAR
A relação entre as Apo C-II (ativadora) e C-III (inibidora) determina a magnitude do efeito da lipase
lipoproteica sobre a quilomicra.
As quilomicras são então transportadas aos tecidos periféricos, para os quais são
liberados, principalmente, ácidos graxos para a produção de energia. Para que
sejam liberados, esses ácidos graxos devem ser clivados do glicerol. A enzima que
cliva os triglicerídeos provenientes das quilomicras e posteriormente das VLDLs é
a lipase lipoproteica, produzida principalmente no tecido muscular cardíaco,
esquelético e adiposo.
A lipase lipoproteica se fixa à parede do endotélio desses tecidos e realiza a quebra
dos triglicerídeos em glicerol e ácidos graxos. A lipase lipoproteica é ativada pela
presença da Apo C-II, que está presente nas moléculas de quilomicras e nas
VLDLs. Os ácidos graxos livres são então absorvidos pelo tecido adiposo ou
muscular, ou então, transportados pela albumina até outros tecidos.
A albumina é uma proteína produzida no fígado e tem outras funções além do transporte de
gorduras. Ela transporta hormônios, como, por exemplo, os hormônios tireoideanos, aumentando
sua meia vida.
A lipase lipoproteica, como dita ao longo deste texto, tem papel fundamental no metabolismo
lipídico. Por isso, é importante o entendimento dos mecanismos que estimulam e inibem sua
produção e ativação. Ela é estimulada pela insulina é, ou seja, no estado pós-prandial a expressão
e atividade dessas lipase estão aumentadas nos principais tecidos que a produzem (muscular
esquelético e cardíaco e adiposo). Além disso, a própria concentração das lipoproteínas ricas em
triglicerídeos (quilomicra e VLDL) estimula também a lipase lipoproteica.
A Apo C-II também é outro fator importante para o estímulo da atividade da lipase liporoteica. Ao
contrário, o jejum prolongado, a diminuição na concentração de insulina e das lipoproteínas ricas
em triglicerídeos e a Apo C-III inibem a produção e atividade da lipase
lipoproteica. Alterações genéticas que provocam aumento da concentração da Apo C-III em
relação a Apo C-II induzem ao aumento da concentração das lipoproteínas ricas em triglicerídeos
e também da LDL.29
O único tecido que age de forma diferente em relação à lipase lipoproteica é o cardíaco.
No músculo cardíaco, a atividade e a produção da lipase lipoproteica permanecem elevadas quase
que de forma independente da concentração plasmática das lipoproteínas (quilomicra e VLDL) e
insulina. Isso demonstra a importância dos ácidos graxos como substrato energético para o
músculo cardíaco, uma vez que, cerca de 70% da energia necessária ao coração é proveniente
dos ácidos graxos.
Como a lipase lipoproteica tem ação também na formação da HDL, transferindo fosfolipídeos a
essas moléculas, nos indivíduos diabéticos observa-se também redução da concentração
plasmática da HDL.29
O tecido hepático somente produz a lipase lipoproteica na vida intrauterina. Portanto, quem
assume a função de hidrolisar as moléculas de triglicerídeos e fosfolipídeos no tecido hepático,
após o nascimento, é a lipase hepática. De forma ainda não bem explicada, a elevação da
concentração da lipase diminui a produção da HDL e aumenta o risco de aterosclerose. Isso ocorre
em razão de a elevação estar associada também a maior concentração de LDL pequenas e
densas, que são mais susceptíveis à oxidação, o que consequentemente favorece a formação da
placa aterosclerótica.30
O exercício físico é capaz de aumentar a atividade da lipase lipoproteica em
indivíduos com resistência insulínica.
As quilomicras remanescentes, que são moléculas com densidade maior do que as
quilomicras nascentes, pois perderam cerca de 90% da sua composição lipídica,
são, então, captadas por receptores específicos do fígado. Os componentes
remanescentes das quilomicras no fígado formam outra molécula com grande
quantidade de triglicerídeos, mas com menor tamanho e densidade que as
quilomicras – as VLDLs (lipoproteínas de muito baixa densidade).
As VLDLs, ao cederem lipídios aos tecidos, diminuem seu tamanho e peso
molecular, transformando-se em VLDLs remanescentes. Elas são também
chamadas de moléculas de densidade intermediária (IDL), e podem seguir dois
caminhos: ou são captadas pelo fígado ou se transformam em moléculas de baixa
densidade (LDL), ao transferirem novamente as Apo C e E para a HDL.
As LDLs são ricas em colesterol e têm por função transportar esse colesterol para tecidos extra-
hepáticos. No tecido hepático, a lipase hepática é responsável pela quebra dos triglicerídeos das
lipoproteínas ricas em triglicerídeos.
A lipase hepática tem importante papel na transformação da HDL2 em HDL3,
pois ela retira colesterol esterificado da HDL2. Esta lipase também atua na atração
das remanescentes de quilomicras e de VLDLs plasmáticas ao fígado. Como a
insulina inibe sua atividade, em indivíduos com diabetes melito tipo 1 e 2 existe
maior atividade dessa lipase, favorecendo a diminuição da produção de HDL2
(antiaterogênico) e aumentando a formação do HDL3 (pró-aterogênico).
As LDLs são compostas pela Apo B-100, por triglicerídeos em pequena
quantidade e principalmente por colesterol esterificado. Nos tecidos extra-
hepáticos, as LDLs se ligam a receptores que reconhecem a Apo B-100 e finalizam
seu ciclo pela endocitose e consequente liberação de colesterol para esses
tecidos. O aumento da concentração de colesterol nesses tecidos inibe a
expressão de receptores para a LDL e cria uma retroalimentação negativa, a
endocitose da LDL. A Figura 6 resume o metabolismo das VLDLs e LDLs.
Figura 6 — Metabolismo das lipoproteínas de muito baixa e baixa densidade.
Fonte: Adaptada de Anderson (2014).31
As HDLs são lipoproteínas formadas principalmente por apolipoproteínas A-I e A-
II produzidas no fígado e intestino e secretadas no sangue. Essas Apo A se ligam
a lipídios plasmáticos (fosfolipídeos, triglicerídeos, colesterol livre e esterificado)
formando as HDLs.
As lipoproteínas desempenham duas funções importantes: servir de reservatórios
de Apo para transferência delas às outras lipoproteínas, como explicado
anteriormente, e realizar o transporte reverso do colesterol.
As HDLs controlam a quantidade de LDL e o crescimento das placas ateroscleróticas, podendo,
inclusive, diminuí-las.32
A HDL pode exercer efeitos pleiotrópicos que vão além do transporte reverso do
colesterol e controle dos níveis da LDL. Estudos têm apontado que a HDL possui
propriedades anti-inflamatórias, antioxidativas, antiagregantes, anticoagulantes,
vasodilatadoras (estímulo a produção de óxido nítrico) e pró-
fibrinolíticas.33,34 Em conjunto, essas propriedades diminuem o risco de
desenvolvimento das doenças cardiovasculares.
Vários estudos, dentre eles o MIRACL 2005,35 mostram associação inversa entre
os níveis de HDL e a formação das placas ateroscleróticas e o contrário em relação
a LDL. Existe também relação inversa entre valores de triglicerídeos e HDL, uma
vez que a elevação dos triglicerídeos favorece a formação da LDL.
Essas evidências científicas, ao longo de muitos anos, desde o estudo Framingham
em 1977,36 imprimiram a ideia popular do “bom” e “mau” colesterol. No entanto,
é sabido que ambos têm sua função no organismo, e que a LDL baixa (embora não
exista concenso sobre qual valor seria considerado baixo, mas possivelmente
abaixo de 100mg/dL) também pode provocar diversas disfunções. Dentre essas
disfunções, destacam-se o mau funcionamento dos neurônios, demências,
neoplasias e deficiência na produção de hormônios essenciais, como estrogênio e
testosterona.37 A Figura 7 mostra a diferença estrutural entre a LDL e HDL.
Quadro 4
AÇÃO, LOCAIS DE SÍNTESE E MECANISMOS ESTIMULADORES E INIBIDORES DAS
PRINCIPAIS LIPASES RELACIONADAS AO METABOLISMO LIPÍDICO
A quantificação dos lipídios é feita principalmente pelo método enzimático, após coleta de sangue
em jejum de 12h. Para a dosagem do colesterol total e dos triglicerídeos, utiliza-se o método
enzimático de Trinder, enquanto que para a HDL utiliza-se o enzimático
colorimétrico.46 Interessantemente, na maioria das vezes, a LDL e a VLDL não são dosadas,
mas calculadas a partir dos valores do colesterol total, triglicerídeos e HDL.
A equação utilizada para o cálculo da LDL e VLDL foi desenvolvida por Friedewald e
colaboradores,47 na qual o colesterol total = HDL + LDL + VLDL (triglicerídeos÷5).
Portanto, na maioria das vezes, os valores de LDL e VLDL encontrados nos resultados
laboratoriais são calculados e não obtidos de forma direta. Essa equação só não pode ser utilizada
quando o valor dos triglicerídeos for igual ou maior do que 400mg/dL, pois o resultado do valor
calculado de LDL não será fidedigno.
É interessante notar que para formar uma molécula de VLDL são necessárias, em média, cinco
moléculas de TGs, e que a LDL é formada a partir de moléculas de VLDL. Assim, embora de
maneira não linear, existe uma correlação positiva entre a quantidade de triglicerídeos e de LDL.
Como dito anteriormente, o mais importante é a qualidade do perfil lipídico. Com base nesse
conceito, uma razão pode ser utilizada para medir a proporção de LDL tipo B, ou seja,
as LDL pequenas e densas. Essa proporção é obtida pela razão triglicerídeos/HDL. Quanto maior
for essa relação maior será a porcentagem de LDL tipo B no sangue.48
Em resumo, quanto maior for o valor dos triglicerídeos e menor o valor da HDL, maior será a
quantidade circulante de LDL tipo B, que são mais propensas à oxidação e, consequentemente,
mais aterogênicas.
Fase Descrição
Inicial A fase inicial da lipemia pós-prandial, até o ponto de pico, é medida basicamente pela elevação
dos TGs, uma vez que não se observam variações nas concentrações plasmáticas das
lipoproteínas nessa primeira fase. Tem duração de 3 a 4 horas
Platô O platô representa a fase em que os lipídios permanecem com os valores estáveis após
atingirem o pico. Tem duração de 1 a 2 horas.
Final A fase final representa o descenso dos lipídios até que atinjam os valores basais (de jejum). Tem
duração de 2 a 3 horas.
Fonte: Adaptado de Petto e colaboradores (2013).50
A lipemia pós-prandial, em adultos saudáveis, tem duração média de 6 a 8 horas,
atinge seu pico (magnitude) na 3ª ou 4ª hora e completa seu ciclo (amplitude) entre
a 6ª e a 8ª hora.50
Vários são os fatores que interferem diretamente na lipemia pós-prandial, e sua
magnitude e amplitude estão aumentadas em42 tabagistas, obesos, dislipidêmicos
e diabéticos. São fatores que provocam aumento da magnitude da lipemia pós-
prandial:51
▪ idade;
▪ sexo masculino;
▪ uso de contraceptivo oral combinado por mulheres em idade reprodutiva.
O exercício físico exerce redução efetiva da lipemia pós-prandial aguda ou crônica.52,53 Existem
evidências de que uma única sessão de exercício físico aeróbico é capaz de reduzir a lipemia pós-
prandial, principalmente entre 18 e 24 horas após a sessão.52
A V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, publicada
pela SBC,26 não considera a lipemia pós-prandial como fator de risco
convencional para o desenvolvimento de DCVs. No entanto, desde a década de
1990, os estudos vêm apontando que a lipemia pós-prandial é considerada um
preditor de risco cardiovascular melhor do que os fatores
convencionais,54,55 mesmo em indivíduos saudáveis.56
A lipemia pós-prandial foi descrita, pela primeira vez, por Zilversmit, em
1979.57 O autor relatou existir forte relação da lipemia pós-prandial com o
processo aterosclerótico. Atualmente, essa relação é bem estabelecida, sendo a
doença aterosclerótica definida como um evento pós-prandial.58 A diminuição
do clearance dos lipídios leva à exposição aumentada das células endoteliais às
lipoproteínas esterificadas, e essa exposição causa alterações na reatividade
vascular, fortemente associada à progressão da aterosclerose e a eventos
cardiovasculares, como infarto do miocárdio e acidente vascular encefálico
(AVE).59
No estado pós-prandial, a maior elevação dos TGs pode causar, além da disfunção endotelial,
menor disponibilidade de óxido nítrico e aumento do estresse oxidativo, alterações fortemente
envolvidas na gênese da aterosclerose.59 Nesse sentido, deve-se destacar um ponto relevante
sobre o metabolismo lipídico que tem sido pouco discutido: a importância da lipemia pós-prandial
no surgimento de DCVs.
▪ CONCLUSÃO
Diante do que foi apresentado e discutido, fica clara a influência do perfil lipídico
no surgimento das DCVs. Além disso, é cada vez mais evidente que não somente
a quantidade, mas também (e principalmente) a qualidade do perfil lipídico
influencia o desenvolvimento das DCVs. Isso tem sido estudado e discutido pelos
cientistas, evidenciando que, no futuro, a análise da qualidade do perfil lipídico
será mais importante na prática clínica do que a análise da quantidade.
Os profissionais de fisioterapia, especialmente os que militam nessa área,
precisam estar atentos a essa mudança, e também necessitam dominar os
mecanismos fisiológicos e fisiopatológicos que regulam o metabolismo lipídico.
Somente assim esses profissionais poderão prescrever o tratamento para
indivíduos com dislipidemias de forma eficiente: com o mínimo de risco de
intercorrências e o máximo de benefício.