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Base de Dados de Artigos Científicos
Base de Dados de Artigos Científicos
Capítulo 1
Força muscular, adaptações neuromusculares e princípios do
treinamento de força. (Resumo)
A força muscular que em uma das suas definições é definida como a
superação de uma dada resistência pela contração muscular.
A força que é uma capacidade física pode ser manifestar em diversas
formas, são elas: força absoluta, força máxima, força hipertrófica, resistência de
força e força explosiva.
Como ocorre o aumento da força muscular?
O aumento da força muscular é decorrente de uma adaptação do
organismo devido a uma sobrecarga constante de treinamento. Há dois fatores
fisiológicos determinantes que são os fatores neurais e musculares.
Os ajuste do organismo devido a uma sobrecarga constante de
treinamento ocorre de forma a poder manter o ganho das qualidades físicas
obtidas, em conjunto ocorre adaptações nos sistemas nervoso e muscular que
são denominadas sistema neuromuscular.
Mesmo em indivíduos destreinados a hipertrofia pode ocorrer nas
primeiras semanas de treino (em menor grau), contribuindo com os ganhos de
força iniciais apesar de fatores neurais serem os maiores responsáveis pelo
desenvolvimento de força em indivíduos destreinados nas fases iniciais
(aproximadamente nas primeiras 12 semanas). Após esse período o ganho de
força é determinado por fatores musculares (hipertrofia).
Para se chegar a fase em que de forma primordial a hipertrofia seja o
responsável pelo incremento de força, o indivíduo precisar passar por
adaptações neurais tais como melhora da coordenação intramuscular
(melhorando a ativação do músculo agonista e inibição do órgão tendinoso de
Golgi ‘OTG’); melhora da coordenação intermuscular (melhora a coordenação
entre os músculos agonistas/sinergistas do movimento a ser realizado e inibe a
cocontração dos músculos antagonistas).
O treinamento provoca alterações neurais de modo a melhorar o enviar
de impulsos nervosos que são responsáveis pelo nossos comandos motores,
criando adaptações que melhoram a entrada e saída desses impulsos na medula
espinal e que chegam aos nossos músculos, gerando ganho de força e potência,
alterando a ativação de músculos individuais e aumentando o recrutamento dos
grupamentos musculares no movimento a ser realizado, gerando uma melhoria
na coordenação.
HIPERTROFIA MUSCULAR
A hipertrofia muscular começa a partir das adaptações decorrente do TF
que gera um estresse mecânico, tendo aumento das fibras e da área de secção
transversa muscular, isso ocorre pelo fato das proteínas sinalizadoras ao
receberem o estímulo ativam genes que provocam essas alterações musculares.
Esse aumento da área de secção transversa no músculo ocorre apenas
quando a taxa de síntese proteica é superior a degradação gerada pelo estresse
mecânico no movimento. A adaptação ao TF inclui o aumento da síntese proteica
pelo mecanismo de transcrição e tradução que aumenta o número de miofibrilas,
e consequentemente, o número de sarcômeros. Segundo Jones et al. a
hipertrofia além de aumento na síntese proteica, diminui o catabolismo muscular
gerando uma síntese proteica adicional.
Na literatura são utilizados os termos hipertrofia sarcoplasmática e
miofibrilar. A hipertrofia sarcoplasmática é decorrente de uma adaptação
muscular durante o exercício em que gera uma retenção de líquido no músculo
(edema), pois no momento do treinamento o fluxo sanguíneo é direcionado para
o músculo em contração (resposta aguda ao treinamento). Isto dura pouco
tempo, pois logo depois o líquido retorna ao sangue. A hipertrofia miofibrilar que
é gerada pelo TF a longo prazo e cargas relativamente maiores, além da
resposta aguda do treinamento gera adaptações crônicas estruturais no músculo
resultantes do aumento da secção transversa e aumento das fibras já existentes.
PRINCÍPIO DA CONSCIENTIZAÇÃO
Este princípio em resumo, se diz respeito a informação prestada ao aluno
por parte do profissional de Educação Física, de modo que o aluno saiba o
processo que está sendo aplicado e isso ajudaria num processo de adoção
(iniciar a atividade), modificação (mudanças de hábitos relacionados a saúde) e
a manutenção (manter um prática consistente da atividade) do TF.
PRINCÍPIO DA ADAPTAÇÃO
Este princípio refere-se a adaptação ocorrida no organismo que devido a
alteração do meio, busca adaptar-se as novas condições causadas pelo
treinamento em uma resposta aguda que gera adaptações crônicas gerando
uma melhora orgânica, quando realizado de forma sistêmica. Segundo
Zatsiorsky e Kraemer existem 5 tipos de respostas ao treinamento que são
conhecidas como efeitos do treinamento, são eles:
PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE
No TF, assim como em qualquer outro tipo de treinamento há um alto grau
de especificidade, ou seja, deve se treinar de forma específica para efeitos
específicos. No TF as adaptações fisiológicas são próprias dos grupos
musculares treinados, tipo de ação muscular (concêntrica, excêntrica e
isométrica), da velocidade e amplitude de movimento no exercício e a fonte
energética predominante.
PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIDADE
Através desse princípio se garante o treinamento individualizado,
considerando sempre os objetivos, necessidades específicas e habilidades do
indivíduo o qual foi elaborado o programa.
Este principio também parte do pressuposto que existe uma diferença
substancial entre as pessoas, logo, não é de se surpreender que as reações
geradas em determinado programa de treinamento não irão garantir os mesmos
efeitos em diferentes pessoas. Logo, com base nesse pensamento, em um
programa já elaborado e/ou aplicado pode-se pegar apenas a ideia geral do
programa e com base nesse modelo, cria-se adaptações específicas para a
realidade de cada indivíduo, criando um programa sólido e confiável.
Sabendo da complexidade do ser humano, não deve ser esquecido os
fatores individuais antes da elaboração do programa de treinamento. E esses
fatores a serem observados vão muito além de fatores biológicos, são de suma
importâncias fatores psicológicos, sociais, culturais, religiosos com a mesma
relevância. Mesmo que pareça inútil dentro de um programa de treinamento,
esses fatores são essenciais para o desenvolvimento de um trabalho.
PRINCÍPIO DA VARIABILIDADE
Esse princípio se fundamenta na teoria de que não importa quão bom seja o
programa de treinamento, ele só poderá ser aplicado por um curto período. Isso
pelo fato de que se o indivíduo mostrou adaptação a determinado estímulo, um
novo estímulo deverá ser dado ou sua evolução irá estagnar (acomodação: este
princípio consolida a periodização).
A variação, base da periodização, trata-se do processo sistemático de
alteração de uma ou mais variáveis dentro de um programa de treinamento. A
manipulação das variáveis dentro de um programa de treino é a mais eficaz em
planejamento de longo período (superior a 24 semanas).
Além de evitar a acomodação e potencializar os resultados, a manipulação
das variáveis é eficaz para evitar o tédio e a monotonia.
A seguir são listadas algumas das possíveis manipulações das variáveis de
treinamento, baseada em BOMPA e CORNACCHIA.
1. Variar o tipo e a ordem dos exercícios tão frequentemente quando
possível.
2. Variar o número de séries
3. Variar o sistema de treinamento
4. Variar a ênfase nos tipos de contração (concêntrica, excêntrica e
isométrica)
5. Variar a velocidade de contração quando possível (lenta, média, rápida)
6. Variar a forma de realização dos exercícios entre pesos livres e aparelhos
7. Variar o modelo de periodização
PRINCÍPIO DA MANUTENÇÃO
Quando o indivíduo consegue chegar a seu objetivo dentro do programa
de treinamento, ele deve utilizar este princípio. Este princípio baseia-se em
achados científicos que mostram que com a diminuição do volume (dias de
treino, quantidade de séries, tempo de execução de exercícios, etc.) associado
a manutenção da intensidade ajuda a manutenção dos resultados obtidos
relativos a variável em questão. No esporte esse período é interessante para se
agregar outros tipos de treinamento.
Dentro do TF, pode ser utilizada pelo instrutor ou personal trainer no
período em que o aluno possuir menos tempo para praticar TF.
PRINCÍPIO DA REVERSIBILIDADE
Este princípio baseia-se na diminuição ou interrupção da intensidade e/ou
volume abaixo do nível mínimo, gerando perda dos ganhos obtidos. A
reversibilidade é a capacidade do organismo de eliminar o que não está sendo
utilizado de modo que os recursos estruturais liberados possam ser aproveitados
por outro sistema do organismo.
CAPÍTULO 2
PRESCRIÇÃO DO TREINAMENTO DE FORÇA
Após a consideração do treinamento de força. O próximo passo é
identificar o nível de treinamento de força.
NÍVEL DE TREINAMENTO
Iniciante: Indivíduos que não tem experiência em TF ou que estão sem praticar
esta modalidade de exercício por um tempo suficiente para rever as adaptações
obtidas desde a última vez que praticou este treinamento.
Intermediário: Indivíduos que praticam TF por pelo menos 6 meses de forma
consistente.
Avançado: Indivíduos que treinam de maneira consistente e sistemática por
pelo menos 1 ano e tiveram adaptações significativas de ganhos de força e
hipertrofia muscular.
VOLUME DO TREINAMENTO
O volume de treinamento é expressado da seguinte maneira, volume =
séries x repetições x resistência (Kg), sendo assim possível a manipulação do
volume de treinamento alterando essas variáveis. A alteração destas variáveis
influenciam as respostas hormonais, moleculares, neurais e metabólicas ao TF.
Programas de treinamento com múltiplas séries geram maior liberação de GH e
da testosterona quando comparado a programas de apenas uma série.
O volume de treinamento depende da treinabilidade do indivíduo uma vez
que um iniciante pode ter ganhos significativos mesmo com séries simples, já
um praticante de TF com experiência precisam aplicar o princípio da sobrecarga
progressiva com o acréscimo de mais séries.
FREQUÊNCIA SEMANAL
A frequência semanal refere-se a quantidade de vezes que se treina o
músculo na semana. Para Zatsiorsky e Kramer, a frequência ideal depende de
algumas variáveis do treinamento, como:
Volume
Intensidade
Seleção dos exercícios
Nível de aptidão física
Capacidade de recuperação do grupamento muscular
FALHA CONCÊNTRICA
O treinamento utilizando a falha concêntrica era realizado para
recuperação de soldados após a segunda guerra mundial, Este tipo de
treinamento gera uma grande fadiga no músculo até que ele não consiga mais
realizar o movimento na fase concêntrica. Utilizar a falha concêntrica gera maior
recrutamento de unidades motoras, estresse mecânico, aumenta a expressão
gênica, dano muscular e maior processo de reparação do músculo. Em
contrapartida, durante uma sessão de treinamento prejudica os exercícios
subsequentes diminuindo a produção de força e velocidade de execução pelo
estresse mecânico causado.
Em estudos realizados com pessoas sem experiência no TF, utilizando
dos grupos utilizando o mesmo tipo de treinamento, diferindo apenas que um
utilizava a falha concêntrica (3 x 10RM) e o outro não utilizava (6 x 5 com carga
de 10RM), os resultados obtidos foram similares no ganho de força de 1RM no
supino reto, 1RM no agachamento. Na produção de potência de MMSS e MMII
e na resistência muscular que foi avaliada no agachamento com 75% de 1RM.
O grupo que utilizou a falha concêntrica diminui as concentrações de IGF-1,
enquanto o grupo que não utilizou teve aumento nas concentrações séricas de
testosterona em repouso e diminuiu ainda o cortisol.
Em outro estudo para avaliar a hipertrofia (flexão de cotovelo 3
vezes/semana com 85% de 1RM), com a utilização de falha concêntrica e a não
utilização e os ganhos hipertróficos foram similares nos dois grupos mesmo com
o grupo sem falha concêntrica com menor volume de treino.
Portanto, mesmo em treino sem falha concêntrica consegue resultados
similares a utilização da falha concêntrica em relação a força máxima, hipertrofia
e potência muscular, sendo a falha concêntrica tendo ganhos significativos em
resistência muscular para MMSS. A utilização ou não da falha concêntrica vai
depender do objetivo e treinabilidade do indivíduo, se for um indivíduo treinado
e/ou fisiculturista para ganhos de máxima a falha concêntrica pode se mostrar
benéfica.