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Faculdade de Letras e Ciências Sociais

Departamento de Linguística e Literatura


Secção de Literatura
III Ano – Pos-laboral
Disciplina: Literatura Geral Comparada I

Tema: Religiosidade e Morte emʺ O Regresso do Mortoʺ de Suleimane Cassamo eʺ O Segredo


da Mortaʺ de António de Assis Júnior

Discente: Leonor Berta Jonas Matola

Docente:Dr. Gilberto Matusse.

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Maputo, 28 de Junho de 2016

1. Introdução
O nosso trabalho tem como tema Religiosidade e Morte em O Regresso do Morto de
Suleiman Cassamo e em O Segredo da Morta de Antonio de Assis Junior e temos como

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objectivo perceber atraves do estudo comparado como e que a religiosidade das perssonagens
concorre para a consepcao do fenomeno Morte .

2.Enquadramento teórico

Nesse capitulo iremos apresentar o conseito de religiosidade, visto que esteconduz o nosso
trabalho e permitira a compreensão do mesmo.

2.1. Conceito de Religiosidade


Le Roy citado por Santos (1969:314), “Religiosidade é um conjunto de crenças, obrigações, e
práticas pelas quais o Homem reconhece o mundo sobrenatural, cumprem os seus preceitos e
pede os seus favores.”

2.2. Características da religião africana


Uma vez que as religiões têm as suas características, no nosso trabalho apresentaremos apenas
as característias da relegião africana, pois achamos que elas são pertinentes para a análise dos
textos.

Identificadas como primitivas as relegiões africanas são acompanhadas pela experiência do


sagrado e pela prática de: magia, animismo, toteísmo, naturalismo, monoteísmo e
sincrenismo.

3. Análise comparativa dos textos


Ambos os textos são africanos e de expressão portuguesa, por um lado, temos Suleiman
Cassamo (moçambicano) e por outro lado temos António de Assis Júnior (angolano), ambos
trazem para o mundo o momento histórico marcado pela opressão, dor,conquista, vitória e
independência. A obra de Suleiman Cassamo foi publicada em 1989 enquanto que a de
António Assis Júnior foi publicada em 1979. Para a nossa analise usaremos ( SM para
significar o Segredo da Mortae, RM para significar O Regresso do Morto).

3.1. A Magia no Contexto Literário


A magia é definida como a capacidade de influenciar os acontecimentos aliciando os seres
espirituais ou atirando forças naturais e ocultas. (CHAGAS, 2011).

Ximinha Calangalanga, mais conhecida por a Doida dos Caoios, constituía o objecto de
conversa que dominava aqueles grupos. (...). A mestra falecera havia já onze meses e Ximinha,

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endoidecera havia meio ano,depois de assistir de a doença e o passamento da Rosária, sua
condiscípula e amiga.

No princípio atribuiu-se a acção do jinvunji que aperceptora professava, segundo se dizia em


alto grau,como sendo a causa da doença; (...), para, por fim se acreditar na existência de uma
força diabólica que reduzia aquele corpo a situação em que se encontrava. (SM, pp.46-47)

Errara por terras e terras, bisbilhotava-se, havia cruzado o rio Maputo, tinha visto
xivimbatlelo,chegara a Mamanga, lá onde o mundo acaba e recomeça,. De volta, Malatana
trouxe nos bolsos rotos o feitiço que viraria o coração da Nyelete. (RM, p.29)

Em Segredo da Morta de António Assis Júnior e Regresso do Morto de Suleiman


Cassamoencontramos características que nos remetem à magia, por exemplo, em Segredo da
Morta o texto seleccionado é “Uma Sombra” e o que nos remete à magia é a presença da
palavra jivungi que significa ‘feitiço que faz encher a barriga”e O Regresso do Morto O texto
seleccionado é “Nyelete” e nele, temos uma personagem que deseja conquistar Nyelete,
porém por via de feitico consegue influenciar os acontecimentos e,”vira o coracao da
Nyelete“ os excertos seguintes ptovam o que acabamos de explicar:

3.2. A presença do animismo


Chama-se animismo a religião que tem por objecto os seres espirituais, os espíritos, almas,
gémeos, demónios, divinidades propriamente ditas, agentes animados e conscientes como o
homem, mas que se destinguem entrentanto dele pela natureza dos poderes que lhes sao
atribuidos e, nomeadamente pelo caracter particular que e o seu de nao efectuarem os sentidos
da mesma maneira: nomeadamente, nao sao perceptíveis por olhos humanos.
(DURKHEIM:2002-51)

( ...) nao acordei nem me sinto bem; cabeca pesada ... corpo mole ... e sobre tudo uma visao
muito caprichosa , agitada ...

(...), eu tambem tive um bastante movimentado , (...) ... mas conta lá (...)

- pois a Ximinha veio visitar-me esta noite ...veio contarme coisas...

- Apareceu-me em sonhos , como da outra vez, vestida de preto . (...). Um bando de passaros
grandes, pretos, semelhantes a corvos...(os corvos... – e acenava com a cabeça) esvoacavam
em todas as direcções tornando o espaço ainda mais turvo, mais escuro .” (SM, p.247)

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- Sonhou muinto malo, senhora.

Ela conta o pesadelo: Levava uma bacia na cabeca e gritava : Am-arhu-mboǃ... Ama-rhu-mboǃ Ama-
rhu-mboǃ...Ia a todo lado e ninguém comprava. Fechavam portas e janelas,fugiam dela . a bacia cresci
e pesava na cabeca , cansada , regressou . pos a bacia no chao . oh , o que ela nao viu ǃ

- em vêgi de tipa, um morto ,\. Senhora a rir-me com dentes assimǃ(RM, p.54)

A fala dos personagensVelha Chica e Elmira do vigesimo terceiro capitulo, corespondente ao


taxto o segredo da morta” e, de Elisa no texto Jose, Pobre Pai Natal da obra o RM é marcado
pela presenca do animismo ocorendo em forma de sonho. Pois como conceitode animismo
acima sitado este manifesta de foma implicita e nao sao pesepiveis a olhos Humanos.

3.3. Naturalismo
Endereca-se as coisas da natureza,quer as grandes forças cósmicas,como os ventos,os rios,os
astros,o céu, etc. quer aos objectos de toda especie que povoam a superficie da
terra,Plantas,animais,rochas,etc, e dá-sepor essa razão o nome de naturalismo.(Durkheim,
2002:51)

(...) E no foi sem lágrimas nos olhos que viu o vapor deslizar, levado pela corrente do rio,(...)
o vapor sumia no cotovelo que orio faz , la em baixo , e Elmira subia o suave declive que o rio
separa a sua igreja . Lá em cima, noalto companário e no espaço, bando de andorinhas
esvoacavam em todas as direcções, saindo dos ninhos umas, umas pousadas nas aspas da cruz
outras, soltando todas seus característico trimamados como quem saudando e festejando a
nova peregrina que via acoher-se a fe de Deus. (SM, p.213-214)

Ngilina acordou cedo. Pegou na corda e no machado. Parecia que ia na lenha. O sol
encontroa-a no caminho. Chegou no mato andando devagarinho . Subiou no canhueiro
amarrou corda no ramo e a outra na ponta do pescoço. Depoislargou-se no ar e ficou a
lengalengar.

Morrer e fácil. E mesmo bom. Ngilina dorme sono de xiluvano meio da selva. Ngilina e
chuluva que murchou.

No mato, os bichos lutam e amam. O choro da rola e choro de verdade mesmo e todos os
outros bichos do mato vão também chorar Ngilina. (RS, p. 15).

Nos trenchos o discurso do narrador apresenta-nos passagensque comprovam a


presença do elemento religioso do universo natural.
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3.4. Sincretismo
Segundo Guimarães (2009) sincretismo é a fusão de doutrinas de diversas origens, seja da
esfera das crenças religiosas quanto das filosóficas, na esfera das religiões osincretismo é uma
fusão de concepções religiosas diferentes ou influência exercida por uma religião nas práticas
de outra.

(...) Lá dentro, à entrada, via-se no meio da casa, uma mesa em forma de eça, coberta de pano
preto, sobre a qual pousava um caixão, aberto de dois lados.

O corpo que ele continha era de uma mulher, que o bico de uns sapatos pretos e os panos de
várias cores e qualidades denunciavam. O véu branco, orlado de galão doirado completava a
mortalha.

Enormes castiçais colocados nos cantos da mesa sustentavam erguidos quatro brandões
acesos. As paredes estavam de alto a baixo, coberto de fazenda preta e de lado, pousado sobre
uma pequena banca de pinho, também forrada de preto, um crucifixo de prata, que duas tochas
acesas guardavam.

O padre, benzendo o corpo proferia as últimas palavras do ritual. Findou a cerimónia. (SM,
pp.55-56)

Mas no nascer-morrer igual dos dias , ha o acontecer de massinguita : Malatala reapareceu .

(…) “Bebia-se sumo de melancia. Chegou como so chegam os fantasmas, de


madrugada,palito, dois pirilampos no lugar dos olhos e a barba grande de Jesus Cristo.”(SR,p.
28)

No segredo da morta podemos aontar o caso em que o narrador, relata factos que nos levam a
fusao de concepcoes religiosas. Ora vejamo: a roupa da falecida, com os seus “ sapatos
pretos” , : panos de varias cores e qualidades”, “o véubranco, orlado de galão doirado”,” o
padre, benzendo” indicam que os personagens eram critoes e denunciam a mistura de tracos
europeus e africanos. E amesma caracteristica e presente em regresso do morto ao mencionar
a chegada do personagem Milotana e comparando com a barba de Jesus Cristo.

4. Conclusão
Ao pretendermos estudar a religiosidade e morte em António de Assis Júnior e em
Suleiman Cassamo tivemos como dificuldade encontrar a definição do proprio
fenomeno religiosidade, devido a semelhanca imposta de religiosidade e religiao e as
diferentes propostas subjectivas. As quais pertencem a teorias diversas qeu discordam
de forma sistematica das ourtras.

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Destemodo, com base nas definicoes dos termos que caracterzam a religiao africana,
percebemos que a religiosidade e a morte estao patentes nas duas obras, mas, de forma
difernciada. No texto O Segredo da Mortaa personadem Ximinha reaparece em sonho
para desvendar o seu segredo, explicando o porquê das mortes dos personagens que
lhe “faltaram respeito ainda em vida” e, na obra O Regresso do Morto o sonho anuncia
a morte do personagem José marido da personagem Elisa. No mesmo texto o sonho,
nao so anuncia a morte mas tambem a chegsada de um novo ser humano, “ o nome
dela vai ser Velina”.
A religiosidade e marca apela aparicao em sonho de agentes animados conscientes
como humanose, nao sao perceptiveis a olho humano assumindo papel de vidente ou
profecta.

5. Referencias Bibliográficas
5.1. Bibliografia activa

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ASSIS JUNIOR, António de, O segredo da Morta,2a edição, Lisboa, 1979.

CASSAMO, Suleiman, O Regresso do Morto, Maputo, Associação dos Escritores


Moçambicanos,1989.

5.2. Bibliografia passiva

AGUIAR E SILVA,Victor Manuel de, Teoria da Literatura, 6a edição, Coimbra, Livraria


Almedina, 1984.

ADRIANE, Maurílio, Historia das Religiões, Lisboa, Edições -70, 1988.

AKSAKOF,Alexandre, Animismo e Espiritismo,s/l, s/d.

BALTAZAR, D.V. SILVA, Crenças Religiosas no contexto dos Projectos Terapêuticos em


Saúde Mental: Impasse ou Possibilidade? s/l, s/.

CARVALHAL, Tânia Franco, Literatura Comparada,4a edição, Atica, São Paulo, 2016.

DURKHEIM, Émile, As Formas Elementares Da Vida Religiosa, CEITA Editora, 2002.

DURKHEIM, Émile, As Formas Elementares Da Vida Religiosa, São Paulo, 2000.

OLIVEIRA, MárioAntónio Fernandes De, A formação da Literatura Angolana(1851-


1950) Revista ICALPE, Vol.10, 1987.

PETERSEN, Kirsten Hoist, Religion Development and African Identity, 1987.

SANTOS, Eduardo Dos, Religiões Angolanas, de Ultramar, Lisboa, 1969.

XAVIER, Marlon, Religiosidade e Espiritualidade, Universidade de Extremo Sul


Catarinense, 2006.

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