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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO PIAUÍ

EXMO. SR. JUIZ FEDERAL DA 5 ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO


PIAUÍ

PROCESSO: 1000203-12.2017.4.01.4000
IMPETRANTE: AUDI CENTER TERESINA LTDA
IMPETRADO:DELEGADO DA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL
EM TERESINA

Trata-se de Mandado de Segurança, com pedido de liminar, impetrado por AUDI


CENTER TERESINA Ltda contra ato supostamente ilegal atribuído ao Delegado da
Receita Federal em Teresina/PI, objetivando a exclusão do ICMS da base de cálculo do
recolhimento do PIS e da COFINS.
O autor sustenta, em breve síntese, que é pessoa jurídica de direito privado e que
desenvolve atividades no ramo de curtimento e outras preparações de couro,
condicionando-se, dessa maneira, ao recolhimento das contribuições sociais para o PIS e
para a COFINS.
Em consonância com o aduzido, sustenta que o legislador, nos termos da Lei nº
9.718/98, ao incluir na base de cálculo das exações em comento os valores pagos a título
de ICMS, violou dispositivo constitucional, haja vista a desconsideração dos conceitos de
receita e faturamento fincados no art. 195, I, b, da Constituição Federal.
Posto isto, requer o direito de recolher o PIS e a COFINS com exclusão, nas suas
bases de cálculo, da parcela relativa ao ICMS, além de restituição dos valores indevidos
cobrados nos últimos cinco anos.

O MM. Juiz indeferiu o pedido liminar.

É o breve relatório.

Tendo em vista o fato acima exposto, o Ministério Público Federal deixa de se


manifestar a respeito do mérito do presente mandamus, por ausência de interesse
público a justificar a sua intervenção. Saliente-se que o Parquet fundamenta-se no artigo
127 da Constituição Federal para delimitar sua esfera de atribuição e este dispõe que, ao
Ministério Público, cabe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
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interesses sociais e individuais indisponíveis, sendo estes os reais parâmetros para o
limite da atuação desta Instituição, tanto no âmbito extrajudicial quanto no judicial.
Assim, na esfera cível, o Ministério Público terá legitimidade ativa ad causam nas
hipóteses expressamente elencadas na lei e compatíveis com o regramento
constitucional, bem como na tutela dos interesses difusos, coletivos e individuais
homogêneos e como fiscal da lei, nos casos do artigo 178 do CPC, ou seja, quando há
interesse público, evidenciado pela qualidade da parte ou natureza da lide.
O art. 12 da Lei n. 12.016/09 prevê a oitiva do órgão ministerial nas ações de
mandado de segurança, o que não deve ser interpretado de forma absoluta. Mesmo
tendo esse Remédio, em sua vocação inata, indício de presença de interesse público
primário a ser protegido, o caso em tese deverá ser analisado para averiguar a
necessidade de intervenção ministerial. Na Carta Magna de 1988, ao Ministério Público
não é incumbida a função de parecerista em ações cujas partes são capazes e bem
representadas e cujo objeto trata de interesse individual.
Nem mesmo nos casos em que a lide na ação mandamental envolva, pura e
simplesmente, interesse da Administração, a intervenção ministerial se justifica, já que
nesse caso se faz presente apenas o interesse público secundário, o qual não se confunde
com o interesse público propriamente dito ou primário, que enseja a única hipótese
capaz de atrair o pronunciamento do Ministério Público.
Bastante elucidativa a lição de HUGO NIGRO MAZZILLI (Regime Jurídico do
Ministério Público, 3ª ed., SP, Saraiva, 1996, págs. 72/73) acerca das diferenças desses
interesses:
"Destina o Ministério Público à defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis: em última análise, trata-se do zelo do interesse
público.(...)
A contraposição mais usual do interesse público (de que é titular o Estado) ao
Interesse privado (de que é titular o cidadão), na verdade, exprime apenas uma faceta do
que seja o interesse público. Entretanto, se usado em sentido lato, a expressão mais
abrangente ainda é a do interesse público, que no dizer de Renato Alessi, compreende o
interesse público primário e o secundário: não há confundir o interesse do bem geral
(interesse público primário) com o interesse da Administração (interesse público
secundário.).
(...)É pelo primeiro deles que deve sempre zelar o Ministério
Público, só defendendo o segundo quando efetivamente
coincida com o primeiro. Nesse sentido, o interesse público
primário (bem geral) pode ser identificado com o interesse
social, o interesse da sociedade ou da coletividade, e mesmo
com os mais autênticos interesses difusos (o exemplo, por
excelência, do meio ambiente em geral)"
Importante ressaltar que as funções do Ministério Público, atualmente, são
diversas das que exercia antes da promulgação da Constituição Federal de 1988. A
Instituição passou a atuar como efetiva defensora dos interesses da sociedade, deixando
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de lado as funções de defesa dos entes públicos.
É por esse motivo que o Ministério Público Federal não mais atua em defesa da
União, como fazia até a criação da Advocacia-Geral da União.
Esse perfil de defensor dos interesses da Administração Pública está superado.
Atualmente, a intervenção do Parquet ocorrerá somente nas hipóteses em que o
interesse público ressair patente.
É certo que o art. 10 da LMS determina, e disso não se pode olvidar, a audiência
do Ministério Público nas ações mandamentais, entretanto, é silente quanto à efetiva
manifestação sobre o tema de fundo da causa.
Diante de tais considerações, é de se reconhecer a imprescindibilidade da
intimação do Órgão Ministerial, para que examine a necessidade de intervenção acerca
do mérito da ação mandamental, mas não é obrigatória a juntada de parecer de mérito
quando não existirem as hipóteses elencadas acima, principalmente quando os direitos
discutidos forem individuais disponíveis e estiverem as partes – notadamente a União e
demais pessoas de direito público ou privado – devidamente representadas por
procuradores aptos a patrocinarem a defesa dos seus interesses, como é o caso da
empresa autora.
Em vista do exposto, ciente do teor do presente mandamus, e tendo por não
caracterizado o interesse público que justifique a intervenção do Ministério Público, na
qualidade de custos legis, retorno os autos sem pronunciamento acerca do conflito de
interesses que constitui o objeto desta ação, opinando pelo prosseguimento do feito.

Teresina, 10 de agosto de 2017.

PATRÍCIO NOÉ DA FONSECA


Procurador da República

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