09/11/2016 METRÔ LINHA 743 ­ Raul Seixas (Impressão)

Metrô Linha 743
Raul Seixas

Ele ia andando pela rua meio apressado Eu avalio o preço me baseando no nível
Ele sabia que tava sendo vigiado mental
Cheguei para ele e disse: Ei amigo, você Que você anda por aí usando
pode me ceder um cigarro? E aí eu lhe digo o preço que sua cabeça
Ele disse: Eu dou, mas vá fumar lá do outro agora está custando
lado Minha cabeça caída, solta no chão
Dois homens fumando juntos pode ser muito Eu vi meu corpo sem ela pela primeira e
arriscado! última vez
Disse: O prato mais caro do melhor Metrô linha 743
banquete é  
O que se come cabeça de gente que pensa Jogaram minha cabeça oca no lixo da
E os canibais de cabeça descobrem aqueles cozinha
que pensam E eu era agora um cérebro, um cérebro vivo
Porque quem pensa, pensa melhor parado. à vinagrete
Desculpe minha pressa, fingindo atrasado Meu cérebro logo pensou: que seja, mas
Trabalho em cartório mas sou escritor, nunca fui tiete
Perdi minha pena nem sei qual foi o mês Fui posto à mesa com mais dois
Metrô linha 743 E eram três pratos raros, e foi o maitre que
pôs
O homem apressado me deixou e saiu Senti horror ao ser comido com desejo por
voando um senhor alinhado
Aí eu me encostei num poste e fiquei Meu último pedaço, antes de ser engolido
fumando ainda pensou grilado:
Três outros chegaram com pistolas na mão, Quem será este desgraçado dono desta
Um gritou: Mão na cabeça malandro, se não zorra toda?
quiser levar chumbo quente nos cornos Já tá tudo armado, o jogo dos caçadores
Eu disse: Claro, pois não, mas o que é que canibais
eu fiz? Mas o negócio aqui tá muito bandeira
Se é documento eu tenho aqui... Dá bandeira demais meu Deus
Outro disse: Não interessa, pouco importa, Cuidado brother, cuidado sábio senhor
fique aí É um conselho sério pra vocês
Eu quero é saber o que você estava Eu morri e nem sei mesmo qual foi aquele
pensando mês
Ah! Metrô linha 743
 
Composição: Raul Seixas

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