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7 Temores Mortais

Ministério Fiel

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© 2016 Ministério Fiel


Sumário

Nota
Temor dos Homens
Temor de Si Mesmo
Temor do Fracasso
Temor de Desemprego
Temor da Perda
Temor da Morte e Doença
Temor do Futuro
Apêndice A: O Temor e a Soberania de Deus
Apêndice B: O Temor do Senhor
Nota
“A beleza da Bíblia é que ela nunca nos deixa pensar que estamos sozinhos em
nossos temores.” - Kris Lundgaard

Este pequeno e-book é uma coletanêa de artigos traduzidos e disponíbilizados pelo


Ministério Fiel em parceria com o Ministério Ligonier. Faça parte da nossa
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Temor dos Homens

Nicholas Batzig
Parecia que quase toda manhã eu acordava e me encontrava olhando para uma cópia de
Fear of God (Temor a Deus)1, de John Bunyan. Eu a carregara comigo por todos os
meus anos de rebelião e incredulidade. Meu pai me deu aquela cópia quando eu era
ainda menino. Acho que a guardei pelo valor sentimental. Após eu ter me convertido, eu
a coloquei em uma pequena prateleira no meu quarto. Esse livro, há tanto tempo
esquecido que até mesmo George Whitefield deixou de incluir em uma compilação das
obras de Bunyan, chegou às minhas mãos pela boa providência de Deus. Eu o peguei e
li. Não conseguia deixar de ler. Eu sentava com a minha Bíblia aberta ao lado desse
livro. Conferia quase todas as referências bíblicas e pedia que Deus me ensinasse o que
significava temê-lo. Foi assim que um livro há muito esquecido se tornou uma das
maiores influências de formação espiritual para mim como recém-convertido. Eu liguei
para casa e disse aos meus pais: “Finalmente sei o que significa temer o Senhor!”
Nunca esquecerei da resposta da minha mãe: “É isso que seu pai e eu temos pedido a
Deus por todos esses anos”. Assim, muitos anos depois, continuo a revisitar esse livro
e a Bíblia, e cada vez mais reconheço o quanto preciso dessa preciosa graça.

Ao meditarmos pelas Escrituras, repedidas vezes nos deparamos com a importância do


temor do Senhor e aprendemos que ela “é a sabedoria” (Jó 28.28); “o princípio do
saber” (Pv 1.7); “aborrecer o mal” (8.13); “fonte de vida” (14.27); e “o dever de todo
homem” (Ec 12.13). Isaías o chamou de o “tesouro” da igreja (Is 33.6). O temor do
Senhor é incontestavelmente um dos ensinamentos mais importantes da Escritura. Ainda
assim, é um dos menos compreendidos.

Nós não chegamos a uma percepção experimental do temor de Deus a menos que
primeiro vejamos a nossa predisposição àquilo que a Bíblia chama de o temor do
homem. As Escrituras destilam a totalidade da nossa experiência espiritual em uma
série de contrastes facilmente compreendidos: luz e trevas, sabedoria e loucura, velho e
novo, vida e morte, fé e incredulidade, etc. Um contraste importante é entre o temor do
Senhor e o temor dos homens. O nosso Senhor Jesus ressaltou esse contraste quando
disse: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes,
aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10.28).
O temor dos homens não é simplesmente o temor do mal que homens podem causar a
nós. Certamente o temor do mal induz, em parte, o nosso desejo de ser aprovado pelos
homens. Contudo, mais apropriadamente, o temor dos homens é, como Bunyan disse: “o
temor de perder dos homens o favor, o amor, a boa vontade, a ajuda e a amizade”. Em
outras palavras, é “um ídolo da aprovação”. Nós buscamos evitar perseguição por
causa dos ídolos da aprovação, do conforto ou do prazer. Tais ídolos nos levam a
comprometer nossa posição a fim de ganhar aprovação — deixar ser levado pela
perversidade a fim de ganhar aceitação e paz. Eles nos colocam em um ciclo vicioso de
idolatria. Por mais miserável que seja, o temor dos homens é a configuração padrão da
alma.

O temor dos homens é algo que ilude apenas alguns? O apóstolo Paulo diz que, por
natureza, não há temor diante dos olhos dos homens que estão fora de Cristo (Rm 3.18).
Entretanto, até mesmo o santo mais piedoso ainda possui remanescentes desse temor
dos homens em sua alma. Às vezes, até mesmo crentes escolhem se aquecer na fogueira
da aceitação, como Pedro fez no pátio ao lado de fora de onde o seu Senhor sofria. O
temor dos homens silencia o nosso testemunho de Cristo e nos impede de viver para a
sua glória. Ele nos impede de dizer e fazer o que agrada a Cristo, pois preferimos
agradar a homens.

Então, o que devemos fazer? Como lançamos fora o temor dos homens e agarramos o
temor do Senhor?

O profeta Isaías nos dá o remédio do evangelho: “Do tronco de Jessé sairá um rebento,
e das suas raízes, um renovo. Repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o Espírito
de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de
conhecimento e de temor do SENHOR” (11.1-2). A vida de Jesus foi marcada pelo
temor do Senhor. Ele nunca se preocupava com o que as pessoas pensavam dele. Seu
único objetivo era honrar o seu Pai celestial. Ele nunca comprometeu sua posição por
lucro. Ele tomou o caminho árduo da cruz para suportar a ira que nós merecemos pelo
pecado de temermos a homens. O coração de Jesus estava tão cheio do temor do Senhor
que ele foi “desprezado e o mais rejeitado entre os homens”. Quando olhamos para ele
pela fé, recebemos o perdão do nosso pecado e o Espírito Santo do qual ele era cheio.
Quando confiamos em Cristo através da fé somente, o Espírito Santo começa a produzir
em nós “o temor que nos constrange à adoração e ao amor […] [que] consiste em
deslumbre, reverência, honra e adoração […], que é o reflexo da nossa consciência da
majestade transcendente e da santidade de Deus” (John Murray).

Tradução: Alan Cristie


Revisão: Vinícius Musselman Pimentel

1. Domínio Público. Não disponível em português.↩


Temor de Si Mesmo

Kris Lundgaard
Eu mesma, arquitraidora de mim mesma; / Minha mais insincera amiga, minha mais
mortal amiga, / Meu obstáculo em qualquer estrada que eu vá.

Christina Rossetti, em seu poema Who shall deliver me?,1 se contorce em sua
imaginação à medida que busca algum meio de salvar-se do seu pior inimigo: ela
mesma. Ela suplica a Deus que lhe dê força para suportar o seu “inalienável peso de
preocupação”: ela mesma. Ela corre para o seu quarto e fecha a porta, para impedir a
entrada de todos os outros com sua tagarelice tediosa, mas não pode escapar de quem
mais detesta: ela mesma. Ela deseja ansiosamente recomeçar a vida com uma lousa
limpa. Ela roga a Deus que a robusteça contra sua própria “voz patética”.

Talvez com menos drama – contudo, talvez, às vezes, com ainda mais –, cada um de nós
se sente traído por si mesmo. “O nosso coração nos condena” (1 João 3.20) e parece
não haver jeito de proteger nossos ouvidos da voz de autoacusação. Esse acusador
interno insulta a qualidade da nossa fé: “Seu tolo. Você pensa que Deus se
impressionará com o seu tipo de religião?”. Ele cataloga minuciosamente os nossos
pecados, desde a infância até esta semana, e indaga: “Pode semelhante fé salvá-lo?”.
Ou ele cava até o mais fundo e mais delicado ponto de nossa consciência, encontra o
pecado do qual temos mais vergonha e sustenta que aquilo é imperdoável e que estamos
além do alcance da misericórdia de Deus.

A beleza da Bíblia é que ela nunca nos deixa pensar que estamos sozinhos em nossos
temores. Rossetti sabia disso: o título do seu terrivelmente íntimo poema vem
diretamente dos lábios de Paulo em Romanos 7.24. Ali ele considera a loucura do seu
próprio pecado e a sua inabilidade de amar a Deus do modo que deseja – e das
profundezas ele exclama: “Quem me livrará?”. Ela estava seguindo as pegadas de
Paulo pelo vale da sombra da morte.

Paulo encontra o caminho para sair daquele lugar sombrio: imediatamente após o seu
clamor desesperado, ele prega a si mesmo. Ele proclama, em resposta à sua própria
pergunta: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!” (v. 25) e “Portanto, agora já
não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (8.1). Nós precisamos aprender
este padrão: o movimento da autoacusação e da autocondenação para a
autoproclamação das boas novas de Jesus Cristo.

Paulo provavelmente aprendeu isso pelo hábito de orar os salmos, pois Davi
frequentemente pregava a si mesmo. Os filhos de Corá também apresentam um claro
modelo disso nos Salmos 42 e 43, possivelmente uma única composição de três
lamentos. No primeiro lamento (42.1-4), o salmista tem sede de Deus e anela por estar
com ele, mas se sente distante e até mesmo separada dele. No segundo (vv. 6-10), ele
se sente esquecido por Deus e oprimido pelos seus inimigos, sobrecarregado e
afundado em ondas de tribulação – ao ponto de ele experimentar o seu medo e angústia
como uma ferida mortal em seus ossos. No terceiro (43.1-4), ele se sente rejeitado por
Deus.

Cada lamento é seguido por um breve, mas potente, sermão evangélico – o mesmo
sermão, repetido como um refrão:

Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera
em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu. (Salmo 42.5, 11, 43.5)

Observe a mudança de si mesmo (“ó minha alma”) para Deus (“espera em Deus”). A
esperança ressuscita quando o coração volta o olhar para Deus. Paulo fez o mesmo,
voltando-se do “miserável homem” que ele era em Romanos 7.14-24 para Deus, por
meio de Jesus Cristo, no versículo 25. À medida que o coração sonda interiormente –
somando pecados passados, rememorando fracassos passados, lamentando sofrimentos
–, ele apenas encontrará razões para a dúvida de si mesmo, o desencorajamento e o
temor.

Devemos pregar o evangelho a nós mesmos. Isso exige que mantenhamos nosso rosto na
Bíblia, ouvindo a voz de Deus, encontrando a nossa confiança nele e em suas
promessas, e não em nós mesmos. O que nós descobriremos na Palavra é que, “se o
nosso coração nos acusar, certamente, Deus é maior do que o nosso coração e conhece
todas as coisas” (1 João 3.20). Isso é verdadeiro – ele sonda o nosso coração de modo
mais penetrante do que a nossa consciência pode fazer e sabe que nós somos de fato
piores do que jamais imaginamos.

Mas, a despeito disso, “Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores”
(Romanos 5.8, NVI). Quando Paulo reflete sobre isso em Romanos 8.31-39, ele
percebe o impensável: Deus está do nosso lado – mesmo contra o nosso coração. Paulo
se aquece sob a revigorante luz dessa notícia até que não haja mais ninguém para acusá-
lo. De fato, o pensamento de que Deus iria voltar-se contra nós, depois de entregar o
seu Filho por nós, ou de que o Filho iria nos abandonar, quando foi ele mesmo que
morreu por nós e que vive a interceder por nós – bem, esse pensamento é absolutamente
impossível.

Como Paulo, Rossetti ao final volta-se de si mesma e descobre que

Contudo, há Alguém que pode refrear a mim mesma, / Que pode tirar de mim o fardo
sufocante / Quebrar o jugo e me pôr em liberdade.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel

Revisão: Vinícius Musselman Pimentel

1. N.T.: Nos Estados Unidos, após a II Guerra Mundial, o temor espalhado pela
população de uma atuação comunista infliltrada na sociedade ou no governo.↩
Temor do Fracasso

Richard Pratt Jr.


Um amigo certa vez me disse: “Meu temor do fracasso tem causado um grande
problema entre meus familiares e eu. Eu não passo muito tempo com eles durante a
semana. Eu receio tanto fracassar profissionalmente que isso me faz trabalhar dia e
noite. Mas também acabo não passando muito tempo com eles nos finais de semana. O
temor de fracassar em algo que não estou habituado a fazer absolutamente me paralisa”.

Mesmo se não formos a extremos como o do meu amigo, a possibilidade do fracasso


não é algo de que gostamos. Todos nós deixamos de fazer aquilo que devemos fazer.
Falhamos em nosso casamento, em criar nossos filhos, em nossas amizades, na escola,
em nossas carreiras, na nossa vida de igreja – e, muitas vezes, com consequências
devastadoras. Não surpreende, pois, que uma vez ou outra todos nós tenhamos um temor
de fracassar.

As Escrituras apresentam uma série de perspectivas cruciais que nos ajudam a lidar
com esse desafio. Abordaremos duas facetas do que elas ensinam: por que tememos o
fracasso e como o fracasso pode ser uma oportunidade positiva para a esperança.

Por que tememos o fracasso?

Todos nós temos nossas razões pessoais para termos medo do fracasso, mas a Bíblia
nos conduz à raiz do problema. Nós temos medo do fracasso porque não fomos criados
para ele. Deus sempre está no controle soberano de todos os nossos defeitos, contudo,
desde o princípio, Deus não nos criou para fracassar, mas para sermos bem-sucedidos
em nosso serviço a ele.

Os capítulos iniciais de Gênesis claramente ensinam essa perspectiva. Em Gênesis


1.26, Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.
E o que isso significa? Nos versículos 28-31, descobrimos que fomos criados para ser
bem-sucedidos em uma missão muito importante: “E Deus os abençoou e lhes disse:
Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai […]”. O restante da
Escritura elabora o objetivo dessa missão. Estamos nos preparando para o dia em que
Deus encherá a terra da sua glória e receberá louvores sem fim de toda criatura. Fomos
feitos para sermos bem-sucedidos nessa missão, não para fracassar.
Por que, então, falhamos tantas vezes? Gênesis 3.17-19 indica que a frequente
futilidade dos nossos esforços na vida é a consequência do pecado. A nossa prisão ao
fracasso não ocorreu na criação, mas resultou do julgamento de Deus contra nós.
Assim, é de todo correto anelarmos por sermos redimidos de todo fracasso e de todo
temor que ele traz.

Como o fracasso pode se tornar esperança?

As Escrituras não nos deixam anelando por redenção do fracasso e do temor. Elas nos
dizem que Cristo veio em carne e cumpriu cada mandamento de Deus para reverter os
efeitos do pecado de Adão. Cristo até mesmo se entregou na cruz como um pagamento
pelos pecados do seu povo e ressuscitou em novidade de vida por nossa causa. Era isso
que Paulo tinha em mente ao escrever: “Visto que a morte veio por um homem, também
por um homem veio a ressurreição dos mortos” (1 Coríntios 15.21). Como a sua justa
recompensa, o Pai ressuscitou Cristo e o fez assentar à sua mão direita. De lá, ele
continua a cumprir a tarefa que Deus deu à humanidade no princípio. E, quando ele
retornar em glória, ele fará novas todas as coisas. Naquele tempo, Deus encherá a
criação da sua glória de tal maneira que “ao nome de Jesus se dobr[ará] todo joelho,
nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confess[ará] que Jesus Cristo é
Senhor, para glória de Deus Pai” (Filipenses 2.10-11).

De que maneira tudo o que Cristo fez pode nos ajudar a tornar os nossos fracassos em
esperança? Por um lado, a sua vitória nos livra de toda falsa esperança que tínhamos.
Pode parecer estranho, mas o sucesso na verdade cria grandes problemas para as
pessoas ao longo da Bíblia. Ele dá à luz as mentiras de que alcançamos a vitória por
nós mesmos e de que o sucesso nas coisas desta vida é o que mais importa. Contudo,
essas mentiras nunca nos satisfazem por muito tempo. À medida que o tempo passa, elas
nos levam a mais terríveis fracassos.

Por outro lado, quando reconhecemos que apenas Cristo foi bem-sucedido em cumprir
plenamente o serviço humano a Deus, recebemos a firme esperança de que, um dia,
triunfaremos sobre todos os nossos fracassos. A vida, morte, ressurreição e ascensão de
Cristo provam que ele derrotou a tirania do pecado e a consequência do fracasso, bem
como – e aqui está a grande maravilha – que ele compartilha o seu sucesso com todos
aqueles que nele confiam e o seguem. Com essa firme confiança em Cristo, sabemos
que todo sucesso nesta vida resulta da sua obra em nós, e não dos nossos próprios
esforços. Mais do que isso, mesmo os nossos fracassos nesta vida mantêm os nossos
olhos fixos naquilo que mais importa para nós. Em vez de colocar as nossas esperanças
nesta vida, depositamos as nossas esperanças no mundo por vir. Lá partilharemos
plenamente da vitória de Cristo e nunca mais teremos qualquer temor de fracassar
novamente.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel

Revisão: Vinícius Musselman Pimentel


Temor de Desemprego

Jonathan Leeman
Às vezes me preocupo com perder meu emprego. Quer dizer, eu trabalho duro, mas
nunca se sabe, não é mesmo? Talvez nossa organização não consiga recursos o
suficiente. Ou talvez as necessidades da organização venham a mudar.

Ou até mesmo — e fico até envergonhado de admitir — enfrentemos um colapso social,


como naqueles filmes apocalípticos em que aquele projeto de herói tem que defender a
si mesmo e seus dois preciosos filhos com nada mais do que sua perspicácia e uma
espingarda, enquanto saqueadores patrulham as ruas incendiadas em picapes cheias de
arruaceiros na caçamba. Não, não é uma grande preocupação, mas às vezes me passa
pela cabeça.

De maneira mais realista, os governos internacionais poderiam cobrar as nossas


dívidas, enfraquecendo o dólar e ruindo a economia. Depois um enorme desastre
natural poderia acontecer. Você acha que isso jamais aconteceria?

Não é difícil se preocupar com a perda do emprego quando você está lutando para
esticar o contracheque até o fim do mês ou vendo os azulejos do seu banheiro velho
caírem um a um. Será que devíamos reformar o banheiro ou economizar o dinheiro?
Pergunto-me se ouro é o investimento mais seguro. Mas espera aí, o ouro perdeu valor
recentemente. Talvez eu devesse investir em proteção pessoal.

Nossa, que bom que eu vou à igreja, porque a minha mente às vezes voa em direções
absurdas. Todo domingo meu pastor abre o Bom Livro e me ajuda a ter pensamentos
melhores.

Deixe-me mostrar. Nos últimos meses, meu pastor tem pregado no evangelho de João.
Eu faço algumas boas anotações. Sabe o que tem me encorajado quando penso na perda
do emprego?

Jesus veio para nos salvar do pecado

Ao ensinar em João 4, meu pastor nos disse que Jesus veio para nos salvar do pecado.
Assim como a mulher samaritana que queria água, nós também temos necessidades
físicas que devem ser satisfeitas. Jesus se preocupa com essas necessidades, mas o
objetivo dele é que todos os sintomas da queda — incluindo sede, doença e até mesmo
perda de emprego — nos aponte para a verdadeira doença: o pecado.

Deus permite que coisas ruins aconteçam aos seus filhos – alguém perdendo o emprego,
por exemplo. A Bíblia não promete que nunca perderemos nossos empregos. Nós
podemos perder. Mas se somos cristãos, sabemos que as coisas que realmente nos
devem causar temor — o pecado e a punição de Deus — já foram resolvidas. Nosso
futuro está garantido.

Deus demonstra a sua glória através das provações

Quando chegamos a João 9, meu pastor nos ajudou a pensar mais sobre os momentos
difíceis na vida. “Coloque-se no lugar dos pais do homem cego”, ele disse. “Imagine
viver naquela época e ter um bebê que nasceu cego. Você poderia se perguntar se ele
seria capaz de prover por si mesmo, se experimentaria a pobreza, se seria socialmente
excluído”.

Como foi reconfortante, então, ouvir as palavras de Jesus: “Nem ele pecou, nem seus
pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (v. 3).

Assim como com o homem cego, a Bíblia não promete que não enfrentaremos
provações. Mas ela promete sim que Deus manifestará a sua glória através das
provações dos seus santos.

Jesus nos preservará

Meu pastor, então, nos levou a uma grande promessa em João 10: ninguém pode tomar
das mãos de Jesus as suas ovelhas. Depois ele disse algo interessante: “A Escritura nos
apresenta como ovelhas necessitadas. Você pensa em si mesmo como uma ovelha
necessitada? Ou você vive de acordo com a fórmula ‘saúde + riqueza = felicidade’?”
Essa equação é uma mentira, ele exclamou.

Vou repetir: nós podemos perder nossos empregos. O cristianismo não nos promete o
melhor da vida agora, então abandone a falsa religião. Ao invés disso, confie que Jesus
nos preservará para si mesmo e pela eternidade.

Tempo e amor perfeitos

Logo na semana seguinte, meu pastor nos ensinou a partir de João 11 que o amor de
Deus nem sempre se parece como esperamos que se pareça. Lembra quando Jesus
descobriu que Lázaro estava doente? João nos diz: “Jesus amava a Marta, e a sua irmã,
e a Lázaro. Assim, quando soube que Lázaro estava doente, ainda se demorou dois dias
no lugar onde estava”. Como é? Jesus o amava, então o deixou morrer? Bom, pense
naquilo que Jesus orou antes de ressuscitar Lázaro; ele fez tudo isso para que as
pessoas cressem.

“Veja”, disse meu pastor, “coisas ruins vão acontecer. E quando acontecerem, não tente
forçar uma explicação. Reconheça que a vida pode ser difícil, mas depois se levante.
Lembre a si mesmo o que você conhece de Deus, e confie que o tempo e o amor dele
são perfeitos”.

Tradução: Alan Cristie

Revisão: Vinícius Musselman Pimentel


Temor da Perda

Thomas Schreiner
Em 17 de agosto de 2012, minha esposa sofreu um acidente de bicicleta quase fatal.
Nos primeiros dias, não sabíamos se ela sobreviveri, e, nas semanas subsequentes, não
sabíamos quais seriam suas futuras capacidades mentais. Felizmente, o Senhor a
restaurou quase completamente ao que ela era antes do acidente.

Esse acidente personalizou para mim um medo real que todos nós experimentamos, a
saber, o medo de perder nosso cônjuge ou nossos filhos para a morte. Como viveremos
sem eles? Os pais cristãos, em particular, temem que seus filhos nunca cheguem à fé.
Eles mal podem suportar a ideia de seus filhos sofrerem no inferno para sempre.

Que antídotos temos contra o medo da perda? Gostaria de sugerir três:

Mergulhe no amor de Deus

Devemos começar por lembrar do evangelho. Nós merecemos a ira de Deus, porque
adoramos a nós mesmos em vez de nosso criador e nos recusamos a dar-lhe graças e
glória (Rm 1.18-25). Somos “por natureza, filhos da ira” e, em Adão, entregamo-nos
aos desejos da carne, aos prazeres deste mundo e a Satanás, como o príncipe da
potestade do ar (Ef 2.1-3). Mas como fomos amados! Nosso Deus é rico em
misericórdia e derramou seu amor em nós, vivificando-nos quando estávamos mortos
em nossos delitos e pecados (2.4-5). Ele não enviou seu filho para nos condenar, mas
para nos salvar (Jo 3.16-18). Tampouco essa é uma palavra abstrata ou impessoal:
“[Ele] me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).

Se Deus nos ama tanto, se ele nos perdoou de nossos pecados e rebelião, se ele nos
purificou de toda injustiça (1Jo 1.9), então não temos nada a temer. Como o Apóstolo
Paulo explica, não há nenhuma perda neste mundo que se compare à alegria de ganhar
Cristo (Fp 3.7-9). Todo sofrimento e dor que enfrentamos podem ser suportados porque
sabemos que Deus nos ama com um amor inextinguível em todas as circunstâncias.

Esteja enraizado na soberania de Deus


Não é apenas o caso de Deus nos amar. Ele também reina e governa sobre todas as
coisas. O Senhor declara o fim desde o princípio, e seus propósitos e conselhos
permanecerão de pé (Is 46.9-10). Nada pode entrar em nossas vidas à parte de sua
vontade soberana, pois ele governa até sobre onde as sortes são lançadas (Pv 16.33).
Isso significa que, em última análise, não há acasos. Nenhum governante ou autoridade
pode nos prejudicar, porque o Senhor inclina o coração dos reis do jeito que quer
(21.1). “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada “(Sl 115.3). Ele “frustra
os desígnios das nações e anula os intentos dos povos”(33.10).

Jesus ensina que nem mesmo um pardal cai em terra à parte da vontade de Deus (Mt
10.29). Se ele cuida de pardais, então também cuida dos cabelos da nossa cabeça (v.
30). Eu recebi grande conforto com esses versículos, porque se pardais não caem em
terra à parte de Deus, então isso também não acontece com ciclistas. Minha esposa
estava nas mãos de Deus quando sua cabeça bateu na calçada. Não estou dizendo que
enfrentar a situação foi fácil, e eu desejaria, a partir de uma perspectiva humana, que
isso nunca tivesse acontecido. Mas eu tive esse grande conforto por saber que minha
esposa estava nas mãos amorosas e fortes de Deus. Ele a ama muito mais do que eu a
amo ou amarei.

Confie nas promessas de Deus

Devemos confiar nas promessas de Deus, mas devemos atentar para quais são essas
promessas. Deus não promete que tudo vai sair do jeito que gostaríamos na vida.
Mesmo que Deus não nos prometa uma vida confortável, suas promessas são
incrivelmente confortadoras. Reconhecemos que as tristezas e preocupações da vida
pode nos atingir como um furacão. Em um momento estamos calmos e em paz e, de
repente, os ventos da preocupação estão soprando. Quando Satanás ataca, devemos nos
lembrar das promessas de Deus. Romanos 8.32 diz: “Aquele que não poupou seu
próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente
com ele todas as coisas?” Deus fez a coisa mais difícil que se possa imaginar. Ele
entregou seu Filho quando éramos seus inimigos, para que possamos passar da morte
para a vida. Podemos ter certeza, então, que Deus nos dará tudo o que precisamos,

Quando tememos a perda, somos como Davi, que temia que as trevas iriam encobri-lo
(Sl 139.11). As trevas podem vir, mas Deus acende a luz nas trevas, pois “até as
próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa” (v. 12). O
Senhor é a nossa luz nas trevas. Como o Salmo 27.1 diz: “O SENHOR é a fortaleza da
minha vida; a quem temerei?” Não temos nada a temer, pois a morte não é a realidade
final. Nós servimos a um Deus que ressuscitou Jesus dentre os mortos. Temos garantida
uma eternidade de amanhãs felizes. “Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem
pela manhã” (Sl 30.5).

Tradução: Alan Cristie

Revisão: Vinícius Musselman Pimentel


Temor da Morte e Doença

Robert Rothwell
“Eu vejo uma mancha que precisamos investigar”. Câncer. Não era o diagnóstico que
eu esperava receber enquanto um jovem prestes a começar uma família. Imediatamente,
minha mente se encheu de perguntas: Como irei contar à minha esposa? Como ela ficará
se eu morrer? Quanto custará o tratamento? Eu estou pronto para morrer?

Nos dias que se seguiram, não havia palavras. Ajudou-me o fato do câncer
diagnosticado ter uma taxa de cura de 95 por cento, mas eu estaria mentindo se dissesse
que isso eliminou minhas preocupações. Uma taxa de cura de 95 por cento não é uma
taxa de cura de 100 por cento. Será que eu estaria entre os poucos “azarados”? Como
seria possível manter o semblante franco e dizer à minha esposa que “tudo vai ficar
bem”, quando eu não tinha nenhum controle sobre isso? Às vezes, as coisas não ficam
“tudo bem” – pelo menos no curto prazo.

Pessoas morrem todos os dias. Bebês, adolescentes, jovens mães, pais de meia idade,
os mais velhos – a morte não respeita as pessoas. Não é exatamente verdade que as
únicas certezas da vida são a morte e os impostos. Você pode fugir dos impostos. Se
estiver disposto a passar um tempo na cadeia, você não precisa pagar ao coletor de
impostos. A morte, por outro lado, é certa. À exceção daqueles que estiverem vivos
quando o Salvador retornar para consumar o seu reino, ninguém sai desse mundo vivo.

Por que tememos tanto a morte? Para os não cristãos, a resposta é fácil. Não importa o
quanto eles suprimam a verdade pela injustiça, seja pelo ateísmo, o agnosticismo ou a
falsa religião, eles não podem escapar da consciência dada por Deus de que eles
quebraram a lei divina e merecem o inferno.

Os cristãos também temem a morte e a doença. Certamente, nós sabemos que não
deveríamos fazê-lo e nunca dizemos a ninguém que nutrimos tais temores. Obviamente,
nós sabemos todas as coisas certas a dizer acerca da morte. Deus é soberano. Ele tem
um bom propósito na minha dor. O Senhor pode ensinar e santificar a minha família, os
meus amigos e a mim mesmo pelo processo do sofrimento e da morte. Com frequência,
porém, dizemos essas coisas porque “temos que dizer”, e não por estarmos plenamente
convencidos. Eu fui culpado disso. De fato, todos nós somos culpados disso.
Os cristãos não temem a morte e a doença pelas mesmas razões dos não cristãos,
porque sabemos que Cristo tem um lar para nós nos céus (João 14.1-3). Em vez disso,
nós tememos perder o controle. Fazemos seguros contra a perda de nossos bens.
Organizamos nossa rotina para sermos mais produtivos. Em geral, nós desfrutamos de
relacionamentos felizes e realizadores ao ouvirmos os outros e nos doarmos. Mas, a
despeito de nossos melhores esforços, não podemos fugir da morte e da doença.

Nós também tememos o sofrimento. Ninguém deseja uma doença terminal. Ninguém
deseja dor crônica. Ninguém deseja perder suas faculdades mentais.

De muitas maneiras, é correto temer a morte e o sofrimento. Uma vez que Deus fez o
universo “muito bom” (Gênesis 1.1–2.4), a morte e a doença são intrusas. Elas estão
aqui por causa do pecado, e terão desaparecido nos novos céus e na nova terra. Até lá,
contudo, nós precisamos viver com o nosso temor da morte e da doença. Como
podemos glorificar a Deus desse modo?

Eu não tenho todas as respostas, mas espero oferecer alguma ajuda. Primeiro, devemos
saber por que tememos a morte e a doença. Se você teme a morte porque não está
reconciliado com Deus, então você deve se reconciliar hoje pondo sua confiança em
Cristo somente. Ao confiar nele, você se apresentará ao Juiz de todos revestido da
perfeita justiça de Cristo e ele o receberá em seu reino. Ele prometeu dar vida eterna a
todos os que creem em Jesus.

Segundo, admita os seus temores para Deus e para os outros. Eu não compreendo todas
as razões pelas quais o Senhor nos permite sofrer. Eu sei que ele usa a nossa dor para
nos conformar a Cristo. Confessar os nossos temores dá às pessoas a oportunidade de
orar por nós e nos encorajar a mantermos os olhos em Jesus, não na nossa doença.
Permite-nos levar os fardos uns dos outros e cumprir a lei de Cristo (Gálatas 6.2).

Terceiro, ajude a fazer da sua igreja um lugar onde as pessoas possam admitir os seus
temores honestamente. Fale com seus líderes sobre o que você pode fazer para criar
uma cultura de igreja na qual as pessoas possam encontrar ajuda se elas ou alguém que
elas amem esteja encarando a sombra da morte e da doença. Envolva-se em grupos de
apoio a pessoas enlutadas, convide famílias em sofrimento para uma refeição – não há
limites para o que pode ser feito.

Quarto, confie na soberania de Deus. A morte e a doença não o surpreendem. Ele


escreveu todos os nossos dias (Salmo 139.16), então ele está sempre cumprindo os seus
bons propósitos por nós.
Por fim, medite nas promessas de Deus até que elas se tornem parte da sua própria
alma. “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum,
porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam” (Salmo 23.4).
“Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser
comparados com a glória a ser revelada em nós” (Romanos 8.18). “Porque a nossa leve
e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda
comparação” (2 Coríntios 4.17). Essas palavras de vida nos confortam nos dias
escuros.

Quatro anos e dois filhos depois, eu estou livre do câncer. Mas a morte ainda jaz
adiante de mim e de todos nós. Que enfrentemos o temor da morte com a coragem que é
própria a nós, filhos de Deus.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel

Revisão: Vinícius Musselman Pimentel


Temor do Futuro

Edward Welch
Todos os medos são profecias sobre o futuro. Eles começam pequenos – um ladrão
pode roubar sua bicicleta, o bicho-papão vai comê-lo antes que a noite acabe – e
crescem a partir daí. Esses medos, no entanto, precisam de ajuda para se tornarem
globais e apocalípticos.

Eu cresci em uma época que forneceu essa ajuda. Eu estava na escola primária durante
o auge da “Ameaça Vermelha”1. “The Late Great Planet Earth” 2 era um best-seller e os
meios de comunicação informavam o pior dos assuntos globais. Com tal solo fértil,
nenhum cristão precisava de imaginação para vislumbrar o Exército Vermelho usando
dispositivos demoníacos para detectar que você era um cristão, ansioso por submetê-lo
à pior tortura até que renunciasse a Jesus ou morresse. Aquela era, pensava eu, a pior
das épocas.

Então eu cresci e percebi que cada época é, de fato, o pior dos tempos. A verdade é que
sempre temos ajuda para tornar nossos medos globais. Há sempre uma nova ameaça.

Aqui estão alguns medos comuns, de uma lista que pode ser interminável:

O medo do colapso moral completo da cultura ao redor;


O medo do colapso econômico e do caos;
Medo de extremistas islâmicos;
Medo de vírus resistentes, pragas, produtos químicos perigosos, e assim por
diante.

Duas linhas de defesa populares

Como podemos repelir esses medos? Uma linha de defesa é ser racional, fazer com que
dados e fatos amenizem os temores. Considere, por exemplo, os extremistas islâmicos.
Como a maioria das religiões crescem por meio de pais que passam a fé a seus filhos,
as estatísticas sugerem que não haverá uma maioria islâmica num futuro próximo,
porque há simplesmente mais cristãos que muçulmanos agora, e até mesmo um súbito
aumento no tamanho médio das famílias islâmicas não fará muita diferença nesse
período. Medo aliviado.
Uma segunda defesa contra esses medos é imaginar o pior e se preparar. Alerte os
outros, construa um abrigo, ou simplesmente continue imaginando o pior, como se isso
fosse um talismã para quando o pior acontecer.

Essas defesas, é claro, são apenas confortos temporários. Não podemos confiar em
dados, nas chances estarem a nosso favor ou na nossa preparação pessoal. Nós
confiamos em uma Pessoa. Qualquer resposta a temores distantes que enfatize a
informação e preparação acima da confiança é ímpia em seu âmago. Informação e
educação não estão erradas, mas não são a nossa primeira resposta. O povo de Deus se
volta para ele em primeiro lugar: “não sabemos nós o que fazer; porém os nossos olhos
estão postos em ti” (2Cr 20.12).

Receberemos graça

Quando nos voltamos para o Senhor, consideramos em primeiro lugar a maior promessa
de todas: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13.5).
Nossos pecados são o que nos separam de nosso Deus, mas agora o perfeito Sumo
Sacerdote fez o sacrifício perfeito e, tendo feito expiação de pecados, assentou-se. O
sacrifício pelo pecado está feito. A nós é garantida a sua presença. Não enfrentaremos
nossos medos sozinhos.

Nesta promessa está incluído que ele nos dará a graça diária de que precisamos. A
imagem do Antigo Testamento por trás disso é o dom do maná. Era o suficiente para um
dia, mas não devia ser estocado para o dia seguinte, para que não confiássemos em
nossos estoques. Amanhã encontraremos novas misericórdias, maná fresco e abundante
graça.

Essa graça nos capacitará a descansar em Deus e permanecer firme diante de qualquer
sofrimento ou tentação que o mundo pode reunir, diante de qualquer medo que se
concretize (1Co 10.13). Sua presença nos assegura de “recebermos misericórdia e
acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.16). Tudo o que temos a fazer
é pedir.

A graça prometida torna nossas previsões terríveis obsoletas. Mesmo se estivermos


certos em nossas previsões, e geralmente não estamos, não podemos prever a graça que
será derramada sobre nós naquele dia futuro. Em vez disso, nós vislumbramos o futuro
com a graça que temos para as dificuldades de hoje, e essa graça é suficiente apenas
para hoje, não para amanhã. O amanhã surgirá com um novo estoque de graça.

Recontar a história
Com essa graça futura em vista, nós recontamos a história de nossas vidas e a história
da história. Considere o Salmo 23, por exemplo, como um modelo. Tornamo-nos, pela
fé, as ovelhas do Senhor. Alegria e descanso são a ordem do dia. Mas ovelhas têm que
se movimentar, e essa jornada irá incluir problemas, como testemunhamos quando o
Cordeiro de Deus se submeteu ao seu Pastor no mesmo caminho. O problema pode ser
intenso. Pode incluir Assíria, Roma e outras ameaças que podem nos matar. Mas a
história não termina aí. Nossos inimigos vão assistir à distância enquanto nos
assentamos à mesa do banquete de Deus. Eles serão envergonhados; nós seremos uma
família com o Honrado. À medida que caminhamos para a casa do Senhor, sem temer
mal algum, oramos para que sua vontade seja feita na terra como no céu (Mt 6.10). E a
peregrinação leva-nos para a casa de Deus, onde a sua vontade é feita continuamente. A
história da Escritura sempre termina bem.

De fato, a vida e a história terminam gloriosamente para o povo de Deus, e enquanto


nós olhamos para esse fim, podemos prever isto: a graça de Deus nos seguirá de tal
forma que temeremos o mal cada vez menos.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel

Revisão: Vinícius Musselman Pimentel

1. N.T.: Nos Estados Unidos, após a II Guerra Mundial, o temor espalhado pela
população de uma atuação comunista infliltrada na sociedade ou no governo.↩
2. N.T.: Livro de Hal Lindsey de grande sucesso, que associava acontecimentos
contemporâneos a profecias apocalípticas.↩
Apêndice A: O Temor e a Soberania de Deus

Kim Riddlebarger
“Deus está no controle”. Estas palavras podem ser um conforto maravilhoso para
pessoas que lutam contra fobias, medos naturais comuns ou mesmo terrores profundos.
O lembrete de que Deus está no controle muitas vezes traz grande alívio.

Mas há momentos em que as palavras “Deus está no controle” podem piorar a situação.
Um cristão aterrorizado pode já ter lutado com o fato de que Deus é soberano e
chegado à conclusão equivocada de que Deus o está punindo, ou pior, que Deus o
abandonou. Na raiz de tanto medo e ansiedade não está tanto a questão de saber se Deus
está no controle (uma doutrina que a maioria dos cristãos aceita prontamente), mas de
por que Deus permitiria que os cristãos sintam incerteza e temor. A consciência da
soberania de Deus pode não ser uma fonte de alívio em todo caso, mas somente outra
fonte de dúvida, frustração e medo. O medo pode fazer isso com as pessoas, até mesmo
com cristãos.

Há dois pontos a considerar sobre confrontar nossos medos à luz da soberania de Deus.
O primeiro é considerar aquelas passagens bíblicas (há muitas) que nos dizem o que
significa Deus estar “no controle”. Quando temos uma boa (ou melhor) compreensão do
controle de Deus sobre todas as coisas, descobrimos que nada que venha a acontecer é
aleatório ou fora da vontade de Deus. O salmista nos lembra: “Com efeito, eu sei que o
Senhor é grande e que o nosso Deus está acima de todos os deuses. Tudo quanto
aprouve ao Senhor, ele o fez, nos céus e na terra” (Sl 135.5-6). Em Provérbios, lemos
que a soberania de Deus se estende até mesmo a coisas aparentemente acidentais: “A
sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda decisão” (Pv 16.33). Esta
informação é dada para nos lembrar que nada fora da vontade de Deus pode nos
acontecer.

Deus sabe quando um pardal cai do céu, e se ele se importa com eles, quanto mais ele
se importa conosco? (Mt 6.26). Paulo nos diz que “todas as coisas cooperam para o
bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8.28), e Tiago diz: “ninguém, ao ser tentado,
diga: sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a
ninguém tenta” (Tg 1.13). Tiago acrescenta: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são
lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de
mudança” (1.17). Deus não nos tenta (ou nos faz ter medo), ele nos dá todas as coisas
boas, e promete tornar tudo (até mesmo os nossos medos) para o nosso bem.

Esta breve lista de passagens bíblicas nos lembra que qualquer medo que estivermos
enfrentando pode trazer glória a Deus, ser transformado por Deus para nosso bem maior
e conceder-nos a necessária segurança quando estamos com medo. A Escritura acalma
nossos medos lembrando-nos que Deus é nosso Pai Celestial que nos ama e cuida de
nós, mesmo quando o tememos, ou receamos seus propósitos soberanos. Ele ainda nos
ama, mesmo quando tememos que não.

A segunda coisa a considerar é que, se alguém acreditava na soberania absoluta de


Deus, esse alguém era Jesus. Os Evangelhos revelam que, apesar de Jesus saber o
propósito de Deus com antecedência, e que o resultado de seu sofrimento seria um
triunfo glorioso sobre a morte e a sepultura, ainda assim sentiu tanto temor como
ansiedade antes da provação da cruz. Na resolução do temor e ansiedade de Jesus
podemos encontrar grande alívio para os nossos temores e ansiedades.

Em Mateus 26.36-38, lemos: “Foi Jesus… a um lugar chamado Getsêmani e disse a


seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar; e, levando consigo a
Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e angustiar-se. Então, lhes
disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo”.
Jesus também disse: “o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca”. Então
ele orou: “Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba,
faça-se a tua vontade” (v. 41-42). No relato de Lucas, a dimensão do medo de Jesus é
revelada: “E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor
se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lc 22.44).

Temor e ansiedade não são necessariamente pecado; que Jesus estava ansioso antes de
seu sofrimento na cruz é a prova disso. O medo da dor ou do perigo é bastante natural.
No entanto, em meio à ansiedade de Jesus no Getsêmani, ele ainda assim confiou que
seu Pai o faria suportar a terrível provação por vir. Jesus pode suar gotas de sangue,
mas bebe o cálice da ira para nos salvar dos nossos pecados. Notavelmente, Jesus é um
exemplo para nós quando estamos com medo, e seu sofrimento e morte removem
qualquer culpa que podemos ter por duvidar das promessas de Deus ou por temer sua
abordagem ou propósitos. Jesus morreu por nossos pecados todos, incluindo todo o
medo pecaminoso.

Melhor ainda, nós temos um grande sumo sacerdote, que nunca dorme nem cochila, e
que sabe como é para nós experimentar temor e ansiedade. É a Jesus que oramos
quando estamos com medo, e é Jesus que intercede por nós, ainda enquanto oramos a
ele (Hb 4.14-16). É isso que significa dizermos que “Deus está no controle”.

Tradução: João Paulo Aragão da Guia Oliveira

Revisão: Vinicius Musselman Pimentel


Apêndice B: O Temor do Senhor

Raymond C. Ortlund
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9.10). Se isto é verdade (e é),
então o temor do Senhor nunca é algo a ser temido. Este temor não é uma barreira ao
crescimento, mas um caminho para o crescimento e a realização eterna. Mas a palavra
“temor” precisa de esclarecimentos, não é? Afinal de contas, a Bíblia não diz “O
perfeito amor lança fora o medo” (1Jo 4.18)? Sim. Então, deve haver dois tipos de
temor.

Um tipo de temor é aquele que foge do Senhor com pavor, que se esconde e se afasta
dele com terror, como se ele fosse nosso problema. Esse tipo de medo é pagão, não
cristão. Não tem nada a ver com glorificar e desfrutar de Deus. É desconfiança e
ressentimento para com Deus. O evangelho não cria esse temor em nossos corações. O
evangelho nos mostra a glória da graça de Deus em Cristo e nos ergue, seguros e
destemidos, para enfrentar a vida corajosamente como homens e mulheres com destinos
eternos.

Se você não está em Cristo, você teme o Senhor de todas as formas erradas, e não o
teme o suficiente. A Bíblia diz que você enfrenta uma “expectação horrível de juízo e
fogo vingador prestes a consumir os adversários” (Hb 10.27). Se você não está em
Cristo, você é adversário de Deus e está indo para o julgamento eterno – e você
realmente merece isso. Mas ele está livremente lhe oferecendo Cristo como seu abrigo.

Você precisa de abrigo por muitas razões. Aqui vai apenas uma: sem Cristo, você é
tudo que você tem. Arthur Allen Leff, da Escola de Direito de Yale, um incrédulo
brilhante, declara sem rodeios: “Parece que nós somos tudo que nós temos. Dado o que
sabemos sobre nós mesmos e sobre os outros, esta é uma perspectiva extremamente
desgostosa; olhando ao redor do mundo, parece que, se todos os homens são irmãos, o
modelo dominante é Caim e Abel. Nem a razão, nem o amor e nem mesmo o terror
parecem ter servido para nos tornar “bons”, e pior do que isso, não há razão nenhuma
por que qualquer coisa deva nos tornar assim”. Se você não está em Cristo, você é tudo
que você tem. Isso é algo a temer. Mas Cristo é um abrigo para as pessoas que estão
com mais problemas do que elas mesmas imaginam. Volte-se para Ele. Volte-se para
Ele agora. Ele vai recebê-lo.
Aqui está outro tipo de temor: “O temor do Senhor [como] o princípio da sabedoria”
(Pv 9.10). Esta é uma nova atitude de abertura a Deus, criada pelo Seu amor. Se você
está em Cristo, o perfeito amor dEle está lançando fora o seu medo de julgamento. A
Bíblia diz: “o medo implica castigo, e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor.
Nós amamos porque ele nos amou primeiro.” (1Jo 4.18-19, A21). O castigo caiu sobre
nosso Substituto na cruz. Nós O recebemos com as mãos vazias da fé. Estamos sob o
amor de Deus agora. O evangelho nos liberta do temor de que Deus irá, no final, nos
condenar de qualquer forma. Nada jamais nos separará do amor de Deus em Cristo
Jesus, nosso Senhor.

Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados,
nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a
profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que
está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.38-39). Nós cremos nisso, e O amamos.

Então, tememos ao Senhor de uma nova maneira. Tememos que venhamos a entristecer
aquele que nos ama tanto. Este temor sadio é uma humildade ensinável, diz a Bíblia
(Pv. 15.33). É total abertura para fazer a vontade de Deus (Gn 22.12). É
arrependimento, afastamento do mal (Jó 28.28). Ele se traduz em obediência simples e
prática à Palavra de Deus.

De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos;
porque isto é o dever de todo homem (Ec 12.13).

O temor do Senhor é uma outra maneira de descrever a confiança no Senhor. Mas a


palavra “temor” acrescenta conotações de reverência, respeito e admiração. O temor
do Senhor é o oposto de uma superficialidade lisonjeira. Esta humildade não se importa
de depender totalmente do Senhor. Na verdade, o temor do Senhor é psicologicamente
compatível com “o conforto do Espírito Santo” (At 9.31). É um novo senso de
realidade com o Deus vivo (At 2.43; 5.11; 19.17), que nos resgata de uma fé meramente
teórica. Este temor é doce, e nos mantém perto do Senhor.

O temor do Senhor ganha em apelo quando concordamos com C. S. Lewis que “em
Deus você está diante de algo que é, em todos os aspectos, incomensuravelmente
superior a si mesmo.” Se pensamos que podemos viver um só dia de nossas vidas sem
nos submetermos ao Senhor, cedendo à Sua sabedoria superior e baseando-nos em Sua
infinita provisão a cada momento, enganamos a nós mesmos, não importa o quão
brilhante possamos ser.

Mas assim que aceitamos que não somos a medida, mas somos medidos; que não somos
os doadores, mas os recebedores, e que Jesus Cristo é o maior especialista do universo
em todas as coisas humanas, nós embarcamos em uma maravilhosa nova jornada.
Somos livres para crescer e mudar.

O temor do Senhor é o princípio dessa sabedoria.

Tradução: João Paulo Aragão da Guia Oliveira

Revisão: Vinícius Musselman Pimentel

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