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UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

CÂMPUS DE MARÍLIA
Faculdade de Filosofia e Ciências

Ciências Sociais
SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO
Professor: Luís Antônio F. Souza (2019)

OBJETIVOS

Abordar a história, importância, contradições e objeções, principais autores e teorias, bem como os
elementos constitutivos da sociologia do conhecimento.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. Apresentação da disciplina; discussão do texto “O que é o conhecimento”; visão geral sobre


o problema do conhecimento segundo Karl Mannheim (22/03);
2. Jorge Luís Borges. “O Imortal” Pp. 109-122; Franz Kafka. “Na Colônia Penal.” Pp. 29-92.
(29/03);
3. E. E. Evans-Pritchard. “Introdução”; “O oráculo de veneno na vida diária” Pp. 7-35 e 165-
193. (05/04);
4. Claude Lévi-Strauss. “A ciência do concreto” Pp. 11-50. (12/04);
5. Artemidoro. “Livro I: Considerações gerais” Pp. 9-34; Jorge Luís Borges “La pesadilla”
Pp. 33-54; Platão. “Livro X” Pp. 249-260. (26/04);
6. Sigmund Freud. “O método de interpretação dos sonhos”; “O sonho é a realização de um
desejo” Pp 112-145. (03/05);
7. Michel Foucault. “A prosa do mundo”; “Nietzsche, Freud e Marx” Pp. 11-29; 40-55.
(10/05);
8. Michel Foucault. “Conferências 1 e 2”. Pp. 7-51. (17/05);
9. Paolo Rossi. “O nascimento da ciência moderna” Pp. 09-44. (24/05);
10. Norbert Elias. “Introdução” Pp. 7-33. (31/05);
11. Norbert Elias. “Sobre o tempo” Pp. 34-158. (07/06);
12. Pierre Bourdieu. “O campo científico” Pp. 122-155. (14/06);
13. David Bloor. “O programa forte na sociologia do conhecimento” Pp. 15-44. (28/06);
14. Karl Popper. “Introdução à lógica científica” Pp. 27-60. (05/07);
15. Thomas Kuhn. “Prefácio e Introdução” Pp. 9-28; “O progresso através das revoluções”
Pp.201-257. (12/07).

Avaliação:

Relatório de leitura de texto selecionado (em duplas): 24/05.


Ensaio final (individual): 12/07.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

BORGES, Jorge Luís. Nova antologia pessoal. São Paulo: Difel, 1986.
BORGES, Jorge Luis. Siete noches. México: Fondo de Cultura Econóomica, 1995.
BLOOR, David. Conhecimento e imaginário social. São Paulo: Editora da Unesp, 2009.
BOURDIEU, Pierre. Sociologia. Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1983.
ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
EVANS-PRITCHARD, E. E. Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Zahar,
1978.
FREUD, Sigmund. A Interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau/PUC, 2002.
FOUCAULT, Michel. Ditos e Escritos. Vol. II: Arqueologia das Ciências e história dos sistemas de
pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
KAFKA, Franz. O Veredito e na Colônia Penal. São Paulo: Brasiliense, 1986. Tradução de Modesto
Carone.
KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2001.
LEVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. São Paulo: Papirus, 2005.
LIMA BARRETO, Afonso Henrique de. Clara dos Anjos e Outras Histórias. São Paulo: Mérito,
1948.
MANNHEIM, Karl. Ideologia e utopia. Uma introdução à sociologia do conhecimento. Rio de
Janeiro. Zahar. 1972.
PLATÃO. Diálogos. A República. Tradução de J. Guinsburg. Apresentação e notas de Robert
Baccou. São Paulo: Difel, 1965. II Volume.
POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cúltrix, 2003.
ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa. Bauru: Edusc, 2001.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ADORNO, Theodor. Introdução à controvérsia sobre o positivismo na sociologia Alemã. In Os


pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
ADORNO, Theodor. Sobre a lógica das Ciências Sociais in Sociologia. São Paulo: Ática, 1986
(Coleção Grandes Cientistas Sociais, volume 54).
ADORNO, Theodor. A consciência da sociologia do conhecimento in Prismas. Crítica cultural e
sociedade. São Paulo, Ática, 1997.
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Rio de Janeiro e São Paulo: Forense Universitária, 1989.
BACHELARD, Gaston. A epistemologia. Lisboa: Edições 70, 2001.
BACHELARD, Gaston. A Formação do espírito científico. Rio de Janeiro: Contraponto, 2002.
BACHELARD, Gaston. “Conhecimento comum e conhecimento científico.” Tempo Brasileiro São
Paulo, n. 28, p. 47-56, jan-mar 1972.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas III: Charles Baudelaire. Um lírico no auge do capitalismo.
São Paulo: Brasiliense, 1989.
BERGER, Peter & Thomas Luckmann. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes. 1987.
BOURDIEU, Pierre. A profissão do sociólogo. Preliminares epistemológicas. Petrópolis: Vozes,
1999.
BURKE, Peter. Uma história social do conhecimento. De Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro:
Zahar. 2003.
CASINI, Paolo. Newton e a consciência europeia. São Paulo, Editora da Unesp. 1995.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática. 2001.
CRESPI, Franco & Fabrizio Fornari, Introdução à sociologia do conhecimento. Bauru: Edusc. 2000.
ELIAS, Norbert. Envolvimento e distanciamento: estudos sobre sociologia do conhecimento. Lisboa:
Don Quixote, 1997.
FREITAS, Renan Springer de. Sociologia do conhecimento. Pragmatismo e pensamento evolutivo.
Bauru: Edusc/Anpocs, 2002.
FEYERABEND, Paul. Diálogos sobre o conhecimento. São Paulo: Perspectiva, 2001.
FEYERABEND, Paul. Contra o método. São Paulo: Editora da Unesp, 2007.
FEYERABEND, Paul. A ciência em uma sociedade livre. São Paulo: Editora da Unesp, 2011.
FREUD, Sigmund. O mal-estar na Civilização. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago. 1974.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. Uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo:
Martins Fontes. 1987.
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar. 1984.
GIDDENS, Anthony. Novas Regras do Método Sociológico. Lisboa: Gradiva, 1996.
GRANGER, Gilles-Gaston. A ciência e as ciências. São Paulo: Editora da Unesp, 1994.
GURVITH, Georges. Os quadros sociais do conhecimento. Lisboa: Moraes Editores, 1969.
HABERMAS, Jürgen. Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
HABERMAS, Jürgen. Técnica e ciência como ideologia. Lisboa: Edições 70, 1997.
HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
HELLAN, Hall. Grandes debates da ciência: dez das maiores contendas de todos os tempos. São
Paulo: Editora da Unesp, 2003.
HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. In Os Pensadores. São Paulo: Nova
Cultural, 1999.
KOYRÉ, Alexandre. Estudos de história do pensamento científico. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1982.
KUHN, Thomas S. A tensão essencial. Estudos selecionados sobre tradição e mudança científica.
São Paulo: Editora da Unesp, 2011.
LE GOFF, Jacques. Os intelectuais na Idade Média. São Paulo: Brasiliense. 1988.
LEVI-STRAUSS, Claude. Mitológicas I: O cru e o cozido. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
MACHADO, Roberto. Ciência e saber: a trajetória da arqueologia de Michel Foucault. Rio de
Janeiro: Graal. 1981.
MANNHEIM, Karl. O problema do intelectual. In Sociologia. São Paulo: Ática, 1982 (Grandes
Cientistas Sociais, volume 25).
MERTON, Robert. Os imperativos institucionais da ciência. In Merton et all. A crítica da ciência.
Sociologia e ideologia da ciência. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral. Uma polêmica. São Paulo: Cia. das Letras. 1998.
O’HEAR, Anthony (org) Karl Popper. Filosofia e problemas. São Paulo: Editora da Unesp e
Cambridge University Press, 1997.
OMNÈS, Roland. Filosofia da ciência contemporânea. São Paulo: Editora da Unesp, 1996.
PAULA, Sergio Góes de & Richard Keynes. Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do Beagle.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
PLATÃO. Diálogos: Parmênides. Tradução, apresentação e notas de Maura Iglesias e Fernando
Rodrigues. Eio de Janeiro: Editora da PUC e Loyola, 2005. (Edição bilíngüe).
PLATÃO, Diálogos: Teeteto, Crátilo. Tradução do grego de Carlos Alberto Nunes. Coordenação de
Benedito Nunes. Belém: Editora da UFPA, 2001.
PLATÃO. Diálogos. A República. Tradução de J. Guinsburg. Apresentação e notas de Robert
Baccou. São Paulo: Difel, 1965. 2 Volumes.
ROBSON, Andrew. Einstein. Os cem anos da teoria da relatividade. Rio de Janeiro: Campus, 2005.
RODRIGUES JR. Leo. Karl Mannheim e os problemas epistemológicos da sociologia do
conhecimento: é possível uma solução construtivista? Episteme, 14, 2002.
RORTY, Richard. A filosofia e o espelho da natureza. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
ROSSI, Paolo. A ciência e a filosofia dos modernos. São Paulo: Editora da Unesp, 1992.
RUSSEL, Bertrand. História do pensamento ocidental. A aventura das idéias dos pré-socráticos a
Wittgenstein. Rio de Janeiro: Ediouro. 2001.
SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo. São Paulo: Duas Cidades, 1990.
SMITH, Bárbara Herrnstein. Crença e resistência: a dinâmica da controvérsia intelectual
contemporânea. São Paulo: Editora da Unesp, 2002.
STEFOFF, Rebecca & Laura Teixeira Motta. Charles Darwin. A revolução da evolução. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
VERGER, Jacques. Homens de saber na Idade Média. Bauru: Edusc, 1999.
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os Gregos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
VERNANT, Jean-Pierre e Pierre Vidal-Naquet. Mito e tragédia na Grécia Antiga I. São Paulo:
Brasiliense, 1988.
WEBER, Max. Sociologia. São Paulo: Ática, 1997.
WELLER, Wivian. A contribuição de Karl Mannheim para a pesquisa qualitativa: aspectos teóricos
e metodológicos. Sociologia, 7 (13), 2005.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. In Os Pensadores: São Paulo: Nova Cultural,
1999.
WRIGHT MILLS, Charles. A imaginação sociológica. Rio e Janeiro: Zahar, 1982.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

Relatório de leitura de texto selecionado (Dupla).


1) Definir tema de pesquisa em sociologia do conhecimento; 2) Elaboração um breve resumo crítico,
articulando com um dos textos obrigatórios; 3) Discussão em sala de aula.

Ensaio final (individual): Escolher uma das seguintes opções: 1) Fazer uma reflexão sobre o
conhecimento (temas, recortes, pressupostos ou produtores da pesquisa científica ou do
conhecimento; 2) Fazer uma discussão de sociologia do conhecimento a partir da leitura de obras
fundamentais ou clássicas de quaisquer áreas do conhecimento; 3) Expor uma dessas obras a partir
da ideia de que toda obra é uma enciclopédia do conhecimento de sua época e toda obra é lida de
forma significativa ou histórica; 4) Explorar alguma grande controvérsia científica em sua área de
interesse de pesquisa.

EMENTA

A Sociologia do Conhecimento é campo fundamental das Ciências Sociais, porque toma o próprio
pensamento como objeto de estudos e de análise crítica: trata-se de ressaltar as bases sociais do
conhecimento. Em outros termos, a Sociologia do Conhecimento parte da premissa que é possível, e
necessário para nossa auto-compreensão, conhecer o conhecimento. Segundo Franco Crespi e
Fabrizio Fornari (2000), a sociologia do conhecimento “quer estudar a gênese social do saber,
analisando as relações que há entre as estruturas da sociedade e as formas do conhecimento, como
também tentar mostrar o modo como tais formas se influenciam mutuamente” pg.09. Ou, na
linguagem de Karl Mannheim (1972), a tese principal da sociologia do conhecimento afirma que os
modos de pensamento “não podem ser compreendidos adequadamente enquanto se mantiverem
obscuras suas origens sociais” pg. 30. Ou seja, a tarefa da Sociologia do Conhecimento é jogar luz
sobre os irracionalismos da razão, desvelando sua alçada política, social e valorativa. Conhecimento
está condicionado socialmente e reflete um jogo de interesses ocultados.
Mas é preciso ter cuidado, pois a proposta da Sociologia do Conhecimento não é entender a
sociedade como um lugar “fora” do conhecimento. Mas tentar recolocar (ou reconhecer) o social
“no” conhecimento, posto que o social e o histórico foram expulsos da república da razão; ou seja, a
razão científica quer se colocar em posição de autonomia em relação ao contexto e às lutas políticas.
Como Diz Jean-Pierre Vernant (1988): “o contexto... não se situa ao lado das obras... está não tanto
justaposto ao texto quanto subjacente a ele. Mais que um contexto, constitui um subtexto subjacente
a ele.” Pg. 21. Ou como refere Roberto Schwarz (1990) sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas, de
Machado de Assis: “O dispositivo literário capta e dramatiza a estrutura do país, transformada em
regra de escrita” pg. 11.

Assim, diferentemente da Teoria do Conhecimento e da Epistemologia, a Sociologia do


Conhecimento propõe que o pensamento não é autônomo em relação à sociedade (e vice-versa) e que
deve ser entendido em razão do contexto social das crenças, da estrutura social e das práticas dos
grupos e atores sociais, particularmente dos intelectuais (e dos sistemas de pensamento, segundo
Michel Foucault, ou paradigmas, segundo Thomas Khun).

Em outros termos, a Teoria do conhecimento e a Epistemologia propõem a discussão sobre a


natureza lógica e epistemológica do conhecimento. De Platão a Kant, passando por Aristóteles, o
conhecimento deve ser Crença Verdadeira Justificada (CVJ ou Epistème) e o problema é garantir que
uma crença passe pelo crivo de proposições verdadeiras, objetivas e racionais, baseadas em provas,
evidências e em inferências argumentativas (dedução, indução e abdução).

A Sociologia do Conhecimento propõe a discussão sobre a natureza social e causal do conhecimento


O conhecimento é toda que qualquer crença, verdadeira ou falsa. Conhecimento não é
necessariamente proposicional. A justificação racional é apenas uma parte de um sistema maior, e
socialmente situado, para usar uma expressão de Max Weber tomada por Karl Mannheim, de
confirmação de crenças. Uma verdade enganosa, subjetiva e irracional é parte integrante de qualquer
investigação. As crenças podem desconsiderar as provas, as evidências e não seguir as regras da
argumentação. As causas (ou sistema sociocultural) são importantes para o conhecimento tanto
quanto as justificações racionais.

Por todas essas razões:

A Sociologia do Conhecimento faz distinções entre verdade, conhecimento, ideias, crenças e


pensamento não em termos de seu valor heurístico, mas sim em termos da adesão de grupos e
indivíduos às verdades que julgam eficazes. O contexto social (coletivo) em que são produzidas,
suportadas e acreditadas precisa ser colocado no “teorema”.
Uma sociologia do conhecimento, knowledge ou Denken, é também uma sociologia das formas de
conhecimento, das instituições do conhecimento, dos sistemas de organização do conhecimento, das
relações de poder, dos grupos e dos sujeitos que conhecem.
A sociologia do conhecimento é também estudo da verdade, truth, das ideias, ideas; crenças, beliefs;
pensamentos, thinking, saber, savoir, ciência, science, senso-comum, common sense, sonhos,
dreams, e mitos, myths... Sendo assim, é preciso fazer as distinções, afim de não criar confusões com
o sentido dos conceitos, tomados no quadro geral das explicações filosóficas e científicas.

A sociologia do conhecimento comporta um paradoxo fundamental, expresso por Friedrich


Nietzsche, segundo o qual, só podemos conhecer aquilo que é conhecido e, portanto, em grande
parte, somos “homens do desconhecimento” (1998, pg. 08). O que não elide o problema de que,
mesmo tendo uma origem particular, social e histórica, o conhecimento (um teorema) comporta
“verdades” que podem ser verificadas e que produzem efeitos práticos.

O presente curso procurará perseguir de forma não exaustiva o tema central da disciplina, em face de
quatro eixos da reflexão científica sobre o tema.

O primeiro eixo aborda o tema a partir de uma história social do conhecimento. Ou seja, o curso
lembrará que a formação da ciência e do pensamento ocidentais tem bases históricas. O curso
procurará fundamentar que há relação entre conhecimento e os eventos significativos da história. A
organização das instituições, os produtores, os atores e as racionalidades têm implicação no
conhecimento, bem como na recepção cultural de suas principais descobertas.

O segundo explora as conexões e contradições encontradas a partir da reflexão racional da ciência.


Tradicionalmente, o debate é colocado na perspectiva de que o conhecimento científico é parte de
um processo mais amplo de racionalização do mundo. Neste sentido, os sonhos, a magia, o mito, as
narrativas tradicionais, a literatura e a fala da loucura são colocados do lado do pensamento
irracional e metafísico, que deve ser superado pelo pensamento filosófico e abstrato.

O terceiro aborda o núcleo central da reflexão da sociologia do conhecimento tanto na forma de que
o mundo social condiciona as ideias, as crenças e as instituições, quanto na forma de uma sociologia
das concepções fundamentais do pensamento sociológico. A sociologia do conhecimento já estava
presente nas obras dos clássicos da disciplina, em Karl Marx, que estabeleceu os nexos entre as
ideias e a base material da sociedade capitalista; em Émile Dürkheim, na base social e/ou coletiva de
toda representação ou construção humana; em Max Weber, nos vínculos causais perceptíveis entre o
ethos de um grupo e a direção da ação, bem como o sentido dos valores. Em outros termos, a
Sociologia já nasce como sociologia do conhecimento e aos poucos este aspecto se torna
autoconsciente e se destaca para formar uma especialidade no interior do pensamento sociológico. É
a partir da obra de Karl Mannheim, com forte influência da sociologia compreensiva do começo do
século XX, que a sociologia do conhecimento consolida-se nas Ciências Sociais.

O quarto aborda o problema a partir da perspectiva de uma Filosofia da Ciência ou de uma meta-
teoria. É possível uma história da ciência e do conhecimento que seja parte integrante destes? Como
fazer a distinção entre ciência e conhecimento, entre ciência e senso-comum? Há uma lógica
subjacente ao progresso do conhecimento científico? Como garantir a universalidade do
conhecimento científico face à pluralidade histórico-social do pensamento e da cultura? Como
enfrentar o debate em torno da verificação, da refutação e da falseabilidade do conhecimento? O
curso vai retomar esta discussão tendo como base a especificidade das Ciências Humanas.

Por fim, o programa apresenta uma bibliografia complementar para quem pretende seguir as linhas
mais amplas das discussões propostas.

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