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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS,


TECNOLÓGICA E HUMANAS – CAMPUS ANGICOS
BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

VALCIANO CAMILO GURGEL

APLICAÇÃO DE TÉCNICAS WAVELETS EM ANÁLISE DE


SÉRIES TEMPORAIS PARA DETECÇÃO DE CORRELAÇÕES

ANGICOS-RN
2013
VALCIANO CAMILO GURGEL

APLICAÇÃO DE TÉCNICAS WAVELETS EM ANÁLISE DE


SÉRIES TEMPORAIS PARA DETECÇÃO DE CORRELAÇÕES

Monografia apresentada a Universidade


Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA,
Campus Angicos para a obtenção do título de
Bacharel em Ciência e Tecnologia.

Orientador: Profº Dr. Francisco Edcarlos


Alves Leite – UFERSA.

ANGICOS-RN
2013
VALCIANO CAMILO GURGEL

APLICAÇÃO DE TÉCNICAS WAVELETS EM ANÁLISE DE


SÉRIES TEMPORAIS PARA DETECÇÃO DE CORRELAÇÕES

Monografia apresentada no Campus Angicos para a


obtenção do título de Bacharel em Ciência e
Tecnologia.

APROVADO EM:_11 /09 /_2013


DEDICATÓRIA

A todos que durante este processo me ouviram dizendo que conseguiria. Em especial aos que
acreditaram.

A minha valente família biológica;

A minha esperançosa família do coração;

A minha acolhedora família cristã.

Nasci e cresci no seio da primeira,

Deus me acolheu na segunda e

Instruiu-me na terceira.

Ele sempre esteve e sempre estará com todas


as três.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Luzia Camilo Gurgel: mãe; inspiração de onde retiro forças; a quem quero
retribuir todo amor; em quem acredito e junto a quem tenho esperança de um mundo melhor.

Aos meus irmãos: Valcélio Camilo Gurgel, Vandeilson Camilo Gurgel e Valdinéia Camilo
Gurgel. Matheus, sobrinho, presente de Deus que trouxe renovação de espírito ao nosso lar.

Aos amigos que entenderam as minhas escolhas e me apoiaram no objetivo de ingressar em


um curso superior, desculpem-me pela ausência em todo esse tempo. Em especial ao
Adenildo (Dê), Anderson (Andrinho), Vandelson, Valdinei (Dinei), Elivelton (Gordo), David
(Dede), Fernando (Féda), Anderson (Bola), Edson (Edinho), Roberto, Ivan, José Cosme,
Daniel (Dani), Dryelli, Marisa Duarte, Isis Oliveira, Tainá Barbosa, Robson (Robinho),
Thiago (Thiboy), Everton (Ver), Wellington (Ton), “Zinho”, Maicon, e muitos outros
“muleques” com os quais compartilhei sonhos impulsivos. A todos vocês meu
reconhecimento eterno, sempre contarei nossas histórias: infinitas; grandes e verdadeiras
aventuras. Um grande abraço carinhoso ao seu Zé Alemão, que já não é tão jovem, mas, é
ainda um menino, age e sonha como tal.

Em memória homenageio: minha mãe-madrinha, Maria de Socorro; minha mãe fraternal,


Dona Tereza; Eder, o meu melhor amigo da infância que aos dezessete anos foi morar com
Deus (lembrar-me do seu jeito de viver sempre me faz repensar minha postura e minhas
metas); Carlos (Nenenzinho, homem em corpo de criança); Rogério (Rogerinho cuja
inocência contagia lá do céu); Raul (Deus o quis em sua guarda real) e Raul Riguetto (faltava
animo no céu e então o convocaram).

Em Angicos conheci muitas pessoas, igualmente especiais, de vários estados e cidades


brasileiras: Agradeço a Thamis Palhares em nome de toda a família Palhares; Os gêmeos,
Eduardo e Edgar em nome do bairro Alto da Alegria; Luis Paulo e Thúlio Rafael, dois “cabra”
homem, e aos demais da República Inferno Colorido daquele tempo; O casal Marta e Profº
Alcêu, junto com sua filha Esther. Agradecimentos ao casal de pastores, João Maria de
Albuquerque e Marília Dantas de Albuquerque, da Missão Evangélica Pentecostal do Brasil.
Agradeço aos irmãos na fé que foram solidários comigo durante este período, especialmente a
Beatriz Helena pela incomparável fraternidade e Thais Russiely pela serenidade. Agradeço
aos funcionários terceirizados da UFERSA por me atenderem nos fim de semana.

Aos meninos que moraram comigo desejo prosperidade: Fellipe Fonseca Bastos, Matheus
Fonseca Bastos e Achilles Pinheiro Bastos Júnior (Vermelho); e Josinaldo Rocha.

Agradeço a todos os docentes, porém, destaco alguns cujo contato foi fundamental para o
amadurecimento de minha postura: Francisco Edcarlos Alves Leite e Marcos Vinícius
Cândido Henriques, orientadores de iniciação cientifica e desta monografia; ao Matheus
Menezes, também por valiosas orientações, trocas de experiências e incentivo à pesquisa.

É injusto ter somente uma folha para agradecer. Tanto quanto, é tentar lembrar-se de todos os
nomes e fatos marcantes. Por isso, busco ser grato a todo tempo pelas coisas boas que me
acontecem e pelas pessoas que fazem parte delas.

Obrigado Criador por cada detalhe.


“- A ciência - disse ele à Sua Majestade - é o
meu emprego único”
O Alienista, Machado de Assis.

“(...) Tudo é feito mentalmente”.


Breve História do Tempo, Stephen Hawking.

Mas como o homem se torna sábio? Em


primeiro lugar temendo o SENHOR, pois ele é
quem dá a sabedoria; de sua boca vem a
compreensão e o discernimento.
Holy Bible in Provérbios 1:7 e 2:6.
RESUMO

O presente trabalho aborda a teoria das wavelets aplicada no processamento de sinais e séries
temporais para análise em tempo-escala, também demonstra uma aplicação da técnica da
Coerência Wavelet na detecção de correlação e semelhança entre duas séries temporais
meteorológicas. Em contraste com os métodos clássicos de processamento de sinais, um sinal
representado no espaço das wavelets tem suas estruturas e características representadas em
frequências localizadas temporalmente. As grandezas de interesse foram selecionadas dentre
várias a disposição; as séries meteorológicas temporais em questão são o módulo da
velocidade do vento e a direção do vento. A pesquisa demonstra a importância do estudo de
sinais para a ciência e tecnologia, denotando suas vastas aplicações e assim, a importância de
se ter a disposição técnicas eficientes de análise. Para a nossa análise selecionamos dados
meteorológicos de quatro estações de coleta de dados situadas em diferentes localidades e
mantidas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) do Brasil. Aplicamos a
transformada Wavelet a esses dados para obter seus coeficientes wavelets. Com essa
transformação, os dados meteorológicos são representados em um espaço dual caracterizado
por dois parâmetros: tempo e escala. Em seguida aplicamos a técnica da Coerência Wavelet
para obter a relação de coerência entre as duas séries. Os resultados podem ser visualizados
por meio de um mapa de cores (ou escalograma) no qual se denotam a ocorrência de
coincidência no tempo e escala; como também a fase entre os sinais.

Palavras-chave: Séries temporais meteorológicas. Transformada de Fourier. Wavelets.


Análise de correlações.
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE SINAL EM TEMPO DISCRETO E CONTÍNUO .................... 16


FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE TRÊS SÉRIES TEMPORAIS METEOROLÓGICAS ............ . 18
FIGURA 3 – TRANSFORMAÇÃO DE FOURIER DE UM SINAL PARA NO DOMÍNIO DE FREQUÊNCIA .. . 22
FIGURA 4 – JEAN BAPTISTE JOSEPH FOURIER (1768-1830), FRANCÊS.............................................. . 22
FIGURA 5 – EXEMPLO GRÁFICO DE UM SINAL PÉRIODICO .................................................................... . 24
FIGURA 6 – COMPONETES DE FREQUÊNCIA DA SÉRIE DE FOURIER DE UMA FUNÇÃO PERIÓDICA . 28
FIGURA 7 – SINTETIZAÇÃO DE UMA FUNÇÃO DADA PELA SOMA DAS COMPONETES SENOIDAIS . . 28
FIGURA 8 – GRÁFICO DE UMA FUNÇÃO EXPONENCIAL .......................................................................... . 30
FIGURA 9 – DIAGRAMA DO MÓDULO DA TRANSFORMADA DE FOURIER DE UM SINAL .................. . 32
FIGURA 10 – SIMULAÇAO DE UM SINAL NO DOMÍNIO TEMPORAL COM TRÊS FREQUÊNCIAS ......... .32
FIGURA 11 – ESPECTRO DE FOURIER DO SINAL SIMULADO ................................................................... .32
FIGURA 12 – SINAIS SEPARADOS DE FREQUÊNCIAS 200 HZ, 350 HZ E 500 HZ. .............................. . 33
FIGURA 13 – A TRANSFORMADA JANELA DE FOURIER - GABOR .......................................................... . 35
FIGURA 14 – GRÁFICOS DE SÉRIES TEMPORAIS DE FREQUÊNCIAS DISTINTAS .................................. . 35
FIGURA 15 – ESPECTRO DE FOURIER DE UM SINAL COM VÁRIAS FREQUÊNCIAS ............................. . 36
FIGURA 16 – TRANSFORMADA DE FOURIER - GABOR DE UM SINAL COM VARIAS FREQUÊNCIAS . 37
FIGURA 17 – TRANSFORMADA WAVELET: TAMANHOS DE JANELAS VARIÁVEIS ............................. . 38
FIGURA 18 – ILUSTRAÇÃO DE DILATAÇÃO E TRANSLAÇÃO DE UMA FUNÇÃO WAVELET .............. . 41
FIGURA 19 – APLICAÇÃO DA TRANSFORMADA WAVELET CONTÍNUA PARA UM SINAL ................. . 42
FIGURA 20 – DOIS SINAIS E SUAS TRANSFORMADA WAVELET EM MAPA DE CORES ....................... . 45
FIGURA 21 – DOIS SINAISCOM SEUS ESPECTROS WAVELET CRUZADO EM MAPA DE CORES ......... . 46
FIGURA 22 – COERÊNCIA WAVELET PARA DOIS SINAIS EM MAPA DE CORES ................................... . 47
FIGURA 23 – DOIS SINAIS COM RUÍDO GAUSSIANO E SEUS ESPECTROS WAVELET CRUZADO ........ .48
FIGURA 24 – COERÊNCIA WAVELET DE DOIS SINAIS COM RUÍDO GAUSSIANO ................................. . 49
FIGURA 25 – PARTE REAL DA WAVELET DE MORLET ............................................................................ . 50
FIGURA 26 – DISPOSIÇÃO GEOGRÁFICA DAS ESTAÇÕES ONDE OS DADOS FORAM RECOLHIDOS . . 51
FIGURA 27 – INTENSIDADE DA VELOCIDADE E DIREÇÃO DO VENTO NA ESTAÇÃO DE NATAL
JUNTAMENTE COM A COERÊNCIA WAVELET EM MAPA DE CORES ...................................................... . 56

FIGURA 28 – INTENSIDADE DA VELOCIDADE E DIREÇÃO DO VENTO NA ESTAÇÃO DE JOÃO PESSOA


JUNTAMENTE COM A COERÊNCIA WAVELET EM MAPA DE CORES ...................................................... . 57
FIGURA 29 – INTENSIDADE DA VELOCIDADE E DIREÇÃO DO VENTO NA ESTAÇÃO DE CRUZETA
JUNTAMENTE COM A COERÊNCIA WAVELET EM MAPA DE CORES ...................................................... . 58

FIGURA 30 – INTENSIDADE DA VELOCIDADE E DIREÇÃO DO VENTO NA ESTAÇÃO DE PATOS


JUNTAMENTE COM A COERÊNCIA WAVELET EM MAPA DE CORES ...................................................... . 59
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 12

1.1 JUSTIFICATIVA ......................................................................................................................................... 13


1.2 OBJETIVOS ................................................................................................................................................. 13
1.2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................................... 13
1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................................... 14

1 REVISÃO DA LITERATURA........................................................................................................................ 15

2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................................................................ 15


2.2 SÉRIES TEMPORAIS ................................................................................................................................. 16
2.3 PROCESSAMENTO DE SINAIS ................................................................................................................ 20
2.4 TÉCNICAS DE PROCESSAMENTO DE SINAIS ...................................................................................... 21
2.4.1 ANÁLISES DE FOURIER ....................................................................................................................... 22
2.4.2 REPRESENTAÇÕES DE FOURIER ......................................................................................................... 23
2.4.3 SÉRIES DE FOURIER ............................................................................................................................ 25
2.5 TRANSFORMADA DE FOURIER ............................................................................................................. 29
2.6 TRANSFORMADA DE FOURIER-GABOR ............................................................................................. 34
2.7 ANÁLISE WAVELET ................................................................................................................................. 37
2.7.1 TRANSFORMADA WAVELET............................................................................................................... 39
2.8 TRANSFORMADA WAVELET CONTÍNUA ........................................................................................... 40
2.8.1 TRANSFORMADA WAVELET INVERSA ................................................................................................ 43
2.9 COERÊNCIA WAVELET ........................................................................................................................... 43

3 METODOLOGIA ............................................................................................................................................ 49

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................................................... 52

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................... 577

6 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................... 62
12

1. INTRODUÇÃO

Em todo o momento e em diversas áreas da ciência estamos nos deparando com sinais
ou séries temporais. A definição específica de um sinal tem relação direta com a área ou
aplicação prática no contexto da pergunta. Podemos encontrar em Haykin e Veen (2001, p.22)
que “há sempre um sistema associado à geração de cada sinal, e outro associado à extração da
informação do sinal”. Para Oppenheim e Willsky (2010, p.22), “os conceitos de sinais e
sistemas surgem em diversos campos, e as ideias e técnicas associadas a esses conceitos
desempenham um papel importante em áreas diversificadas da ciência e tecnologia, como
comunicações, aeronáutica e astronáutica, projeto de circuitos, acústica, sismologia,
engenharia biomédica, sistemas de geração e distribuição de energia, controle de processos
químicos e processamento de voz”.
Uma série temporal é uma classe de sinal colhida sequencialmente no tempo de
maneira discreta. A ordem temporal dos coeficientes é de fundamental importância para o
estudo da série. Ao se analisar uma série temporal, geralmente, estamos interessados em
investigar de maneira gráfica e, ou, numérica a ocorrência de eventos passados com o objetivo
de prever eventos futuros, assim como correlacionar estes eventos com outros, podendo
assim, identificar, descrever, explicar e até mesmo controlar processos envolvidos na geração
deste sinal. Para o estudo de sinais temporais tem-se a disposição métodos paramétricos
(determinísticos) e métodos não paramétricos, como é o caso da transformada de Fourier e da
transformada Wavelet.
No processamento de sinais busca-se extrair informações que descrevam a grandeza
em questão. Informações sobre a(s) frequência(s) de um sinal e a localização dessas estruturas
frequências é de fundamental importância. Em termos de análise no domínio de frequência a
ferramenta mais difundida entre os profissionais que trabalham com sinais é a transformada
de Fourier, porém, quando se trata de sinais não estacionários, ou seja, quando as
componentes frequências de um sinal sofrem variações em seu comportamento ao longo no
tempo, esta ferramenta tão difundida torna-se ineficaz. A maioria dos processos da natureza,
modelados em termos de um sinal, e das aplicações tecnológicas envolvendo sinais, são de
natureza não estacionaria ou transitória. Daí a necessidade de se chegar a um método capaz de
preservar a informação temporal dos sinais. Para esta finalidade desenvolveu-se as Wavelets.
O inicio de seu surgimento data de 1910, dos estudos de Alfred Haar e vem sendo formalizada
e aplicada por profissionais de áreas diversificadas.
13

1.1. JUSTIFICATIVA

Os sinais nada mais são que funções de uma ou duas variáveis que irão conter
informações sobre o comportamento ou natureza de algum fenômeno. Associado à geração,
tanto quanto à recepção, de um sinal teremos um sistema correspondente capaz de produzir
outro sinal ou um comportamento desejado. As Wavelets apresentam um método inovador de
descrição de sinais em tempo-escala (onde as escalas estão relacionadas com as frequências
presentes no sinal). Inúmeros trabalhos recentes podem ser encontrados com aplicações
wavelets em áreas diversas. A Coerência Wavelet é uma técnica baseada na Transformada
Wavelet Contínua e permite detectar semelhanças e correlações entre duas grandezas em
termos de tempo - escala, ou seja, dadas duas grandezas é possível analisar por meio desta
técnica como suas respectivas ocorrências estão correlacionadas (neste trabalho utiliza-se a
visualização gráfica por meio do mapa de cores). Em meteorologia é de extrema importância
obter informações que correlacionem grandezas meteorológicas para a predição de estados
futuros, uma vez que se têm muitas variáveis envolvidas na ocorrência de um único evento.
Um bom exemplo é a previsão climática onde esta técnica apresenta-se como ferramenta de
grande potencial para as análises.

1.2. OBJETIVOS

1.1.1. Objetivo Geral

Esta pesquisa visa apresentar aspectos práticos e teóricos dos sinais e séries temporais
das análises de Fourier, tais como a série de Fourier e a transformada de Fourier; aspectos
práticos e teóricos da análise em Wavelet, tais como a transformada Contínua e a Coerência
Wavelet em busca de correlações de dados temporais. Busca-se sempre que necessário, incluir
exemplos analíticos e computacionais das técnicas mencionadas. Será demonstrado que a
transformada em Wavelet é um método de análise capaz de bem processar dados
estacionários, não estacionários e transitórios, ela se consolidou como ferramenta inovadora
no contexto atual do processamento de sinais com a sua representação em tempo-frequência.
O objetivo principal é aplicar a Coerência Wavelet, para analise e detecção de correlação e
semelhança em tempo-escalas, entre duas grandezas, a velocidade e a direção do vento para
quatro diferentes localizações do nordeste brasileiro. Discutem-se os resultados obtidos
14

utilizando mapas de cores nos quais é possível visualizar a intensidade da energia contida nas
correlações e compará-las.

1.2.2. Objetivos específicos

Demonstra-se a transformada de Fourier, uma técnica clássica e a mais bem difundida


na área de processamento de sinais no domínio de frequência. A pesquisa contempla uma
ferramenta cuja abordagem é inovadora no processamento de sinais e imagens, trata-se das
Wavelets. Elas são capazes de obter informações no domínio tempo-escala para sinais
estacionários e não estacionários, localizando, temporalmente e simultaneamente, altas e
baixas frequências. Também se apresenta uma técnica wavelet de correlação de dados, a
Coerência Wavelet. Por fim, faz-se uma aplicação da técnica de Coerência Wavelet em séries
temporais meteorológicas das grandezas: velocidade do vento e direção do vento em alguns
pontos fixos de estados nordestinos, a fim de investigar e caracterizar alguma correlação entre
as grandezas em um período de tempo de dois anos (2009 e 2010).
15

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO

Em linhas gerais, um sinal é uma grandeza física variável no tempo que contém algum
tipo de informação mensurável relevante sobre o estado ou comportamento adicional de um
sistema físico.
Formalmente falando, um sinal pode ser representado matematicamente através de
uma função e esta notação, no entanto, pode ser com uma ou mais de uma variável.
Quando o sinal reflete dependência em uma única variável, diz-se que o sinal é
unidimensional.
A fala é um exemplo de sinal unidimensional cuja amplitude varia com o tempo em
dependência da palavra falada e de quem fala. Quando o sinal depende de duas ou mais
variáveis diz-se que ele é multidimensional. Uma imagem é um exemplo de sinal
multidimensional onde as coordenadas, horizontal e vertical da imagem representam as duas
dimensões.
A variável em uma função pode ser contínua ou discreta. Chama-se de sinal
contínuo no tempo quando a variável em questão está definida para um intervalo contínuo de
tempo. O sinal é discreto no tempo quando o seu domínio está definido por uma sequência de
números inteiros , ou seja, são observações feitas sequencialmente, onde cada valor de
correspondente constitui uma observação do fenômeno. O formalismo matemático para um
sinal discreto geralmente se utiliza , com (conjunto dos números inteiros).
Os processos físicos podem ou não possuírem características relacionadas diretamente
com o tempo, em termos de sua estacionaridade. Um determinado processo pode ser de
natureza estacionaria, isto é, se certas propriedades estatísticas não apresentarem variação no
tempo considerando um intervalo finito, caso contrário ele é dito não estacionário, ou ainda,
ele pode ter natureza transiente. Segundo Morettin (1981, p.6), “uma das suposições mais
frequentes que se faz a respeito de uma série temporal é a de que ela é estacionaria,ou seja, ela
se desenvolve no tempo aleatoriamente ao redor de uma média constante, refletindo alguma
forma de equilíbrio estável.
Um sinal em tempo discreto pode representar um fenômeno para o qual a variável
independente é inerentemente discreta como também podem decorrer de amostragem de
sinais de tempo contínuo, constituindo amostras sucessivas do fenômeno observado. As
representações gráficas dos dois tipos de sinais podem ser vistas na Figura 1.
16

Figura 1 - Representações gráficas de um (a) sinal de tempo contínuo e de um (b)


sinal de tempo discreto

Fonte: Autoria própria

Em termos de aplicações na engenharia elétrica, os sinais são de grande importância


nas áreas de processamento de sinais, sistemas de comunicações, sistemas de controle e
automação.

2.2. SÉRIES TEMPORAIS

Uma serie temporal é qualquer conjunto de observações ordenadas sequencialmente ao


longo do tempo e que está presente em vários campos de nossas atividades rotineiras como
economia (preços diários de ações, taxa mensal de desemprego, produção industrial),
medicina (eletrocardiograma, eletroencefalograma), epidemiologia (numero mensal de novos
casos de meningite), meteorologia, (precipitação, pluviométrica, temperatura diária,
velocidade do vento), Ehlers (2003, p.1).
Em modelos de regressão a ordem das observações é irrelevante para a análise uma
vez que a ordem dos dados é fundamental nas análises de séries temporais. Entendendo uma
série temporal como um sinal e, como tal, ela poder ser uma série discreta no tempo, uma
série contínua no tempo ou ainda uma série discreta obtida através da amostragem de uma
série contínua em intervalos de tempo iguais. É importante saber que a variável tempo pode
ser relacionada ou entendida como outra variável: espaço, profundidade, volume, ou outro
parâmetro físico.
17

Os seguintes aspectos são comumente considerados na literatura como interessantes e


importantes quando relacionados com o estudo de séries temporais:

 Caracterizar os fenômenos que dão origem as séries analisadas;

 Descrever propriedades da série temporal, tendências, ciclos, variações

sazonais, alterações estruturais, etc;

 Identificar periodicidades que sejam relevantes;

 Explicar a variação de uma série com base na variação de outra série;

 Correlacionar variáveis para explicar um fenômeno com base nesta interação;

 Predizer ocorrências futuras com base em valores históricos contido em um

banco de dados;

 Controlar processos, criar mecanismos de controle;

 Investigar causas e efeitos advindos do mecanismo ou sistema gerador da série

temporal.

Ao se analisar séries temporais as representações gráficas dos dados ao longo do


tempo é fundamental. O gráfico já pode revelar padrões de comportamentos importantes do
fenômeno que está sendo estudado.
Na Figura encontram-se exemplos de séries temporais meteorológicas (dados
meteorológicos) de três estações localizadas em locais distintos do litoral nordestino: Natal
(RN), Fortaleza (CE) e João Pessoa (PB), respectivamente. Os dados foram colhidos para o
mesmo instante de tempo e a grandeza medida em questão é a velocidade do vento em
(metros por segundo). Esses dados são de acesso livre e estão disponíveis em um banco de
dados que é mantido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). As leituras foram
realizadas em oito e oito horas, resultando em três medições por dia, no período do dia de
janeiro de ao dia de dezembro de . Durantes estes dois anos foram colhidas
amostras de cada estação meteorológica.
18

Figura 2 – Séries temporais da velocidade do vento (m/s) nos anos de 2009 e 2010 em
(a) Natal, (b) Fortaleza e (c) João Pessoa.

Fonte: Autoria própria

Nos gráficos acima, observa-se que as representações dos sinais são semelhantes,
porém não são iguais. Se aumentarmos a quantidade de localizações onde são feitas
observações da mesma grandeza no mesmo período teremos sempre curvas parecidas, mas
todas elas terão aspectos diferentes entre si. O mesmo ocorrerá se a analise for estendida para
anos anteriores a 2009 ou posteriores a 2010, dificilmente teremos a mesma curva.
Portanto, cada série temporal é uma trajetória, ou parte de uma trajetória dentre várias
possíveis, de um mesmo processo físico, Morettin (1981). Estes processos são estudados por
meio de modelos governados por leis probabilísticas, isto é, as variáveis são definidas em um
espaço de probabilidades. Esses processos são denominados de Processos Estocásticos.
Introduzida a noção de processo estocástico pode agora ser dito que uma série
temporal é um sinal aleatório, , de um processo estocástico. Observa-se então que sendo
o sinal uma variável aleatória, a sua modelagem matemática é probabilística, não-
determinística como ocorre no caso de sinais analisados por funções pré-determinadas (na
literatura chamados de sinais determinísticos).
Encontra-se em Cataldo (2012, v.68, p.13) a seguinte afirmação sobre a abrangência
de processos estocásticos, “existem inúmeras aplicações de tais modelos nas mais diferentes
áreas de conhecimento. Nas comunicações via telefone celular, no processamento digital de
sinais (voz, imagem, vídeo,...), nos sistemas de radar, nos investimentos na bolsa de valores,
19

em sistemas biológicos, na dinâmica de sistemas mecânicos,... Há, ainda, aplicações em


Geometria Diferencial e Sistemas Dinâmicos”.
Quando sinais são colhidos sob as mesmas condições e os seus resultados variam
define-se o processo possui componentes aleatório. Os modelos probabilísticos são capazes de
prever possíveis resultados ou faixa de resultados para os sistemas em que os resultados são
aleatórios; isto é, embora as entradas sejam as mesmas, as saídas desses sistemas são
diferentes.
Conclui-se que, apesar da natureza aleatória, este tipo de processo pode ser estudado
satisfatoriamente por meio de regularidades estatísticas entre sinais ou séries temporais
observadas do mesmo processo.
A seguir apresenta-se a definição formal de processo estocástico, segundo Morettin
(1999, p.27):

Definição 2.1 Seja um conjunto arbitrário. Um processo estocástico é uma família


, tal que, para cada , é uma variável aleatória. O conjunto de
todas as trajetórias é chamado de ensemble do processo.

De acordo com a Definição 2.1, o que se tem apresentado na Figura 2 são três
trajetórias de um mesmo processo estocástico.
Para mais informações sobre processos estocásticos recomendam-se as obras de
Morettin (1999), Morettin e Toloi (1981), as notas em matemática aplicada de Sampaio,
Ferreira e Brandão (2012), referenciadas na presente pesquisa.
Existem modelos de processos estocásticos de variáveis contínuas e discretas. Neste
trabalho serão analisadas séries temporais de dados meteorológicos reais em tempo discreto
com a finalidade de investigar a ocorrência de correlação, semelhança e regularidades entre as
séries temporais da velocidade e da direção do vento no período de tempo e na mesma
localidade.
20

2.3. PROCESSAMENTO DE SINAIS

Em síntese o processamento de sinais consiste na análise e modificação de sinais de


forma a extrair informações adicionais importantes que não estavam disponíveis no formato
original, e ainda, torná-los mais apropriados para alguma aplicação específica.
Em se tratando de sinais e de seus respectivos sistemas, muitas vezes é interessante
caracterizá-los em detalhes com objetivo de explorar e entender seus comportamentos sobre
diversas condições. Nos sistemas elétricos de potência, por exemplo, é interessante classificar
os sinais visando identificar anomalias no processo de transmissão e distribuição de energia
elétrica.
No entanto, é necessário o amplo desenvolvimento de metodologias e ferramentas que
possibilitem processar sinais de maneiras particulares ao invés de somente analisar os
sistemas existentes, como acrescenta Oppenheim e Willsky (2010, p.20), “um contexto muito
comum em que esses problemas surgem é no projeto de sistemas para melhorar ou restaurar
sinais que foram degradados de alguma maneira”. Em geofísica, por exemplo, na exploração
de petróleo, os sismogramas oferecem uma imagem adequada da estrutura geológica do
subsolo, porém, estas imagens contêm ruídos indesejáveis conhecidos na literatura como
ground roll (rolamento superficial). Neste caso, é conveniente se obter métodos que permitam
um bom tratamento de remoção (ou atenuação) máxima do ruído indesejável sem causar
descaracterização da informação de interesse dos sismogramas.
Sobre remover ruídos e explorar sistemas por ângulos não disponíveis na amostragem
no domínio real acrescenta Leite (2007, p.13), “Contudo, quando se deseja obter informações
adicionais às quais não estão disponíveis em seu formato original (domínio temporal) é
necessário realizar uma transformação matemática sobre ”. Entende-se por analogia que
esta afirmação engloba os sinais discretos no tempo.
A análise espectral de um sinal é feita decompondo-o numa base matemática formada
por funções de análise conhecidas cujas componentes são funções elementares exponenciais
complexas. As componentes do sinal na base de exponenciais descreve o espectro do sinal, ou
seja, sua composição na frequência (Sampaio; Ferreira; Brandão, 2012, v.21, p.9). Portanto,
informações adicionais podem ser estudadas em outros domínios a partir de novas
representações obtidas por meio de técnicas e transformações matemáticas. Nisto se define o
processamento de sinais.
Ainda, o processamento de sinais pode ser realizado de duas maneiras: a analógica e a
digital, sendo que o processamento de sinais analógicos trata com dados contínuos no tempo e
21

o processamento de sinais digitais com dados discretos no tempo. Para o tratamento de ambos
os tipos existem diferentes técnicas matemáticas de transformação de sinais.
Hoje em dia existem diversos dispositivos que podem ser usados no processamento
digital de sinais. Por exemplo, têm-se os rápidos e versáteis DSPs (Digital Signal Processor)
que são microprocessadores especializados em processamento digital de sinal e usados para
processar sinais de áudio, vídeo, etc, em tempo real ou em off-line, eles são capazes de
calcular rapidamente a Transformada Rápida Fourier; têm-se os microcontroladores que se
trata de um microprocessador contendo processador, memória e periféricos, podendo ser
programado para funções específicas contrastando com outros microprocessadores de
propósito gerais; e os FPGAs (Field Programmable Gate Array) dispositivos que podem ser
programados de acordo com as aplicações dos usuários, largamente utilizado para o
processamento de informações digitais. Têm-se alguns softwares que possuem rotinas prontas
e permite a construção facilitada de algoritmos para o processamento de dados em um PC.

2.4. TÉCNICAS DE PROCESSAMENTO DE SINAIS

Diversas técnicas são usadas no processamento de sinais e séries temporais. Em toda


transformação aplicada sobre um sinal, as funções de base utilizadas pelo método em questão
determinam o tipo de informação adicional que poderá ser extraída do processo em análise.
No domínio de frequência (análise espectral) a ferramenta matemática mais difundida entre os
profissionais para processamento de sinais é a Transformada de Fourier que faz o uso de
funções harmônicas (senos e cossenos) como funções de base. Vale ressaltar que este tipo de
abordagem constitui um método não paramétrico (em contraste aos métodos que utilizam um
número finito de parâmetros bem definidos) de análise de processos estocásticos, cuja
descrição obtida para o sinal se dá pela caracterização do seu conteúdo na frequência e
nenhuma informação temporal.
Segundo Hanselman e Littlefield (2003, p.251), “ferramentas de domínio de
frequência, tais como as Séries de Fourier, as Transformadas de Fourier e suas variantes
discretas constituem uma das pedras angulares do processamento de sinais. Essas
transformadas decompõem um sinal em uma sequência ou contínuo de componentes senoidais
que identificam o conteúdo de domínio de frequência do sinal”. A Figura 3 é uma
representação da Transformada de Fourier onde um sinal temporal passa a ser representado
em termos das frequências presentes no mesmo, e com as suas respectivas amplitudes.
22

Figura 3 – Transformação de Fourier de um sinal para o domínio de frequência

Fonte: Misiti (2003)

A informação obtida quando se aplica a Transformada de Fourier em um sinal é


completamente caracterizada pelo seu conteúdo na frequência, inclusiva não é possível
localizar o tempo em que as frequências ocorrem.

2.4.1. Análises de Fourier

A análise de Fourier é um dos mais antigos assuntos em análise matemática e é de


grande importância para matemáticos e engenheiros. O estudo de sinais e sistemas realizando
decomposição de funções periódicas em séries trigonométricas convergentes é denominado
análise de Fourier em homenagem a Jean Baptistes Joseph Fourier (1768 - 1830) por sua
contribuição à teoria de representação de funções como superposições ponderadas de senóides
aplicada nos seus revolucionários estudos da propagação de ondas de calor.

Figura 4 – Jean Baptiste Joseph Fourier (1768-1830), francês.

Fonte: Souza (2010)


23

Fourier ficou órfão de pai e mãe aos nove anos de idade, quando foi internado no
colégio militar beneditino de Auxerre (uma comuna francesa na região administrativa da
Borgonha, no departamento Yonne), onde nasceu. Bem cedo já era considerado um menino
prodígio, demonstrando sua vocação para a ciência foi convidado a lecionar com apenas
dezesseis anos. Em 1789 aderiu à causa da Revolução Francesa. O ativismo político o fez
passar por muitas turbulências, porém o jovem era apaixonado pelas ideias de igualdade. Sua
produção intelectual vai além das famosas e difundidas análises de Fourier. Geralmente ele é
creditado também pela formalização de uma teoria do efeito estufa; ele mostrou que o efeito
de aquecimento do ar dentro das estufas de vidro, utilizadas para manter plantas
de climas mais quentes no clima mais frio da Europa, se repetiria na atmosfera terrestre.
Durante sua vida Fourier teve como professores Joseph Louis de Lagrange, Pierre Simon
Laplace e Gaspard Monge, os maiores físico-matemáticos da época, com quem manteve
excelentes contatos por intermédio da Écòle Polytechnique, onde lecionou em 1794. Em 1822
escreveu sua obra “Theorie Analytique de La Chaleur" (Teoria Analítica do Calor) realizando
um marco na física-matemática. Seu trabalho contribuiu com os fundamentos da
termodinâmica e constituiu uma melhoria ainda hoje muito importante para a modelagem
matemática de fenômenos físicos. Em seguida outros cientistas e matemáticos deram suas
contribuições formalizando a demonstração da tão utilizada Transformada de Fourier.

2.4.2. Representações de Fourier

Quatro representações distintas de Fourier são bem conhecidas na literatura, cada uma
delas é apropriada a uma classe diferente de sinais e são definidas pelas suas propriedades
temporais. Os sinais periódicos tem representação pela série de Fourier: a série de Fourier
(SF) se aplica a sinais periódicos de tempo contínuo; e a série de Fourier de tempo discreto
(SFTD) se aplica a sinais periódicos de tempo discreto. Sinais não periódicos tem
representação pela transformada de Fourier: se o sinal for não periódico de tempo contínuo
sua representação se denomina de transformada de Fourier (TF); se o sinal for não periódico
de tempo discreto sua representação se dá pela transformada de Fourier de tempo discreto
(TFTD). A Tabela 1 faz uma relação entre as características do sinal e sua respectiva
representação pela análise de Fourier.
24

Tabela 1: Propriedade temporal do sinal e sua respectiva representação em analise de


Fourier.
Propriedade de Periódica Não periódica
tempo
Série de Fourier Transformada de Fourier

Contínuo (SF) (TF)

Série de Fourier de tempo Transformada de Fourier de


discreto tempo discreto
Discreto
(SFTD) (TFTD)

Fonte: autoria própria

Portanto, se as séries de Fourier só se aplicam a sinais periódicos, sinais que não


possuem periodicidade são devidamente representados pela transformada de Fourier que por
sua vez engloba uma classe mais ampla de sinais.

Definição 2.2 Diz-se que uma função tem período ou que é periódica com período
, se, para todo t, ,e , é uma constante positiva. O menor valor
de é chamado período mínimo de .

Figura 5 – Exemplo gráfico de um Sinal periódico

Fonte: Autoria própria


25

Observa-se que uma função periódica, conforme a Definição 1.2, admite a notação de
iteração da seguinte maneira: , onde para denotar a
periodicidade.

2.4.3. Séries de Fourier

A seguir procura-se realizar uma abordagem breve, mas suficiente, sobre a série e a
transformada de Fourier, tal que possibilite uma compreensão genericamente introdutória da
análise de Fourier, e de suas variantes, como ferramentas poderosas de representação
frequêncial, portanto, suficiente para análise de sinais estacionários.
Por intermédio da série de Fourier, qualquer função periódica, por mais complicada
que seja, tem sua representação equivalente como uma soma de componentes senoidais de
frequências distintas.
Sabemos que a frequência é definida como o número de ocorrência de um
determinado evento durante o tempo de um período unitário. Em outras palavras, ela é dada
pelo inverso do período, , e se este for medido em segundo a frequência será dada em Hz,
conforme a seguinte equação:

(1)

Outro tipo de frequência utilizado no estudo de fenômenos ondulatórios é a frequência


angular unitária denotada por , que significa a taxa de variação temporal de uma
determinada angulação. A frequência angular é definida por:

(2)

Seja a função temporal periódica com período , que obedece às condições de


Dirichlet, Spiegel (1976, p. 30). Em todo ponto de continuidade esta função possui
representação equivalente pela série de Fourier, , dada pela seguinte equação na forma
trigonométrica:
26

∑ * ( ) ( )+ (3)

Onde os coeficientes , e são calculados pelas respectivas fórmulas:

∫ (4)

∫ ( ) (5)

∫ ( ) (6)

Observa-se que conhecido , dado pela equação (3), e os coeficientes dados pelas
equações (4), (5) e (6), pode ser reconstruída temporalmente.

A seguir temos o seguinte exemplo. Calcule analiticamente a série de Fourier da


função cujo período é igual a dois:

(7)

Conhecendo o período , calculam-se os coeficientes dados pelas equações de (4)


a (6) onde é o índice do somatório da equação (3) e corresponde ao número de períodos
completos. Portanto ele é uma constante dentro das respectivas integrais:

∫ ( ) ∫ (8)
27

Tem-se então, uma integral por partes. É possível separar o produto da equação (8) em
duas funções, chamá-las de e e assim aplicar o método da “integração por
tabulação” que é um método simplificado de solucionar integrais deste tipo com agilidade,
Thomas (2002):

Obtemos:

[( ) ( ) ]

Análogo ao que feito com temos o seguinte para :

∫ ( ) ∫

[( ) ( ) ]

Assim, a função mostrada pela equação (7) tem sua representação pela série de Fourier
dada pela seguinte equação:

∑ * + (9)

Então, para cada índice n a equação (9) irá gerar uma componente de onda. A soma de
todas as ondas, ou seja, , sintetiza o gráfico da função (7).
28

A Figura 6 ilustra quatro componentes de frequências (para de 1 até 4) da série de


Fourier representada pela equação (9),para a função dada pela equação (7).

Figura 6 – Componentes de frequência da série de Fourier da equação (9) da função


mostrada na equação (7) para de até .

Fonte: Autoria própria

A reconstituição gráfica para a função da equação (7) no domínio temporal é dada pela
soma das componentes de frequência. Uma aproximação para de até é apresentada na
Figura 7.

Figura 7 – Reintegração da função por meio da soma das componentes da série


de Fourier para de até

Fonte: Autoria própria


29

A Figura 7 mostra cinco períodos completos da onda conhecida na literatura como


dente de serra, em que a amplitude de descida é igual a zero.

2.5. TRANSFORMADA DE FOURIER

Como demonstrado na Tabela 1, a série de Fourier se aplica somente a sinais


periódicos. Quando um sinal não apresenta periodicidade sua representação na frequência é
dada em termos da transformada de Fourier. Assim, a equação (3) pode ser escrita na forma
exponencial da seguinte maneira:

∑ (10)

Fazendo , temos que:

∫ (11)

A equação (10) fornece os coeficientes complexos da série de Fourier, descritos por


uma magnitude e uma fase.
Um sinal aperiódico pode ser visto como um sinal periódico com um período
infinito,
Fazemos o período tendendo ao infinito:

Essa nova função é uma função periódica e pode ser representada por uma série de
Fourier.
Sabemos que se o período tende a ser infinito, tende a ser , de modo que a série de
Fourier que representa também representará .
30

Em outras palavras, quando o sinal não apresenta periodicidade, ele pode ser expresso
por uma soma contínua, ou seja, uma integral, de sinais exponenciais, generalizando a série de
Fourier na forma exponencial:

∫ (12)

A equação (13) é a Transformada de Fourier analítica, que fornece a representação em


termos de frequência de . A equação (12) é a Transformada inversa de Fourier de .

∫ (13)

Como exemplo considere o seguinte sinal e calcule a sua Transformada de Fourier


analiticamente:

(14)

A representação gráfica para a função da equação (14 ) pode ser vista na Figura 8 a
seguir.

Figura 8 – Representação gráfica de para

Fonte: Souza (2010)


31

Como a função só está definida para , temos que o período do sinal é .


Usando a equação (13) temos:

[ ]

Então a expressão da Transformada de Fourier analítica para a função representada na


equação (14) é:

(15)

Vemos que a expressão (15) é uma função de números complexos. Para visualizar o
seu gráfico é necessário decompor o sinal em módulo e fase.
Facilmente verificamos que o módulo da equação (15) é dado pela seguinte expressão:

| |

O módulo da Transformada de Fourier, de acordo com a equação (14) é ilustrado na


Figura abaixo.
32

Figura 9 – Diagrama do módulo da transformada de Fourier de .

Fonte: Souza (2010)

Exemplificamos a visualização do espectro de Fourier de um sinal sintético, ,


composto por três sinais de frequências distintas. A Figura 10, seguinte, mostra um sinal no
domínio do tempo sobre o qual não é possível fazer afirmações, ou sequer visualizar
informações, no domínio de frequência.

Figura 10 – Representação simulada de um sinal no domínio temporal.

Fonte: Autoria própria


33

Realizando a transformada de Fourier desse sinal e obtendo o diagrama do espectro de


frequência podemos visualizar sua composição frequêncial, conforme o gráfico seguinte.

Figura 11 – Espectro de Fourier do sinal sintético .

Fonte: Autoria própria

Vemos que o sinal apresenta três amplitudes de frequências distintas se


destacando: 200 Hz, 350 Hz e 500 Hz. Este resultado é coerente. Podemos ver através da
figura 12 que o sinal nada mais é do uma soma de três sinais senoidais com frequências
diferentes, sintetizados em computador apenas para estudo.

Figura 12 – Sinais componentes de frequências 200 Hz, 350 Hz e 500 Hz, que
compõem .

Fonte: Autoria própria


34

Portanto, vimos que ao se olhar para as análises de Fourier de um sinal, temos


informações sobre a frequência global do sinal. No entanto, não é possível realizar nenhuma
análise minuciosa em pequenos trechos do sinal, nem localizar mudanças rápidas de
frequências e, ainda, nenhuma informação pode ser retirada acerca da localização temporal
das frequências detectadas.
Quando um sinal não apresenta alterações no tempo de suas propriedades estatísticas
isso é irrelevante. Porém, uma classe extensa de sinais apresenta características não
estacionarias ou de natureza transiente, para os quais a localização temporal é indispensável.
Para estudar tais sinais é necessário se ter à disposição uma transformada que seja
capaz de obter o conteúdo de frequência de um sinal localmente no tempo (ou espaço), e que
forneça um tratamento detalhado desse sinal. Essa impossibilidade encontrada na
transformada de Fourier possibilitou a criação de métodos de análise em tempo-frequência,
tais como, a transformada de Fourier-Gabor (Short Time Fourier Transform) e a transformada
Wavelet.

2.6. TRANSFORMADA DE FOURIER-GABOR

O método de “Janelamento” é uma proposta inicial para efetuar análises em sinais não
estacionários feita pelo engenheiro elétrico Denis Gabor, em 1946, para cobrir a deficiência
na transformada de Fourier. Ele adaptou a transformada de Fourier adicionando uma janela,
ou seja, uma função de análise auxiliar no integrando da transformada de Fourier capaz de
analisar o sinal dividindo-o em seções de tamanhos iguais. Essa função é conhecida como
“átomo de Gabor” e o método como Transformada de Fourier-Gabor, Leite (2007). Este
método é apropriado para identificar aspectos temporais de uma determinada região do sinal.
Neste esquema, o sinal ou serie temporal é dividido em intervalos iguais e a transformada de
Fourier é aplicada em cada um destes trechos por uma janela de tamanho fixo e constante por
todo o sinal. Vale ressaltar que o fato de a análise de sinal ser completamente feita por uma
janela invariável impede que sejam descritas as altas e as baixas frequências simultaneamente.
A Figura 13 representa a transformada de Fourier – Gabor que proporciona
informações sobre as localizações temporais das estruturas de frequências de acordo com o
tamanho da janela definida para efetuar a análise por todo o sinal. Percebe-se que os tamanhos
de janelas, uma vez escolhido um tamanho, eles são iguais por todo o tempo do sinal.
35

Figura 13 – A transformada janelada de Fourier fornece uma representação em tempo


frequência.

Fonte: Misiti (2003)

Considere o seguinte exemplo gráfico ilustrativo, encontrado em Barbosa (2008). São


apresentadas três séries temporais com 16 segundos de duração. Cada uma contendo
frequências e amplitudes distintas: 1 Hz, 5Hz e 10 Hz, conforme ilustradas na Figura 14(a). A
Figura 14(b) mostra a resultante da soma das três frequências durantes os 8 segundos iniciais
da série, e a soma das frequências de 1 Hz e 10 Hz para os 8 segundos restantes.

Figura 14 – Em (a) tem-se a séries temporais de frequências distintas e em (b) tem-se a


série resultante da soma de três e duas frequências, simultaneamente.

Fonte: Bolzan (2006)


36

A seguir, na Figura 15, tem-se a Transformada de Fourier efetuada sobre a série


temporal mostrada na Figura 14(b).

Figura 15 – Espectro de fourier para o sinal mostrado na figura 14(b).

Fonte: Bolzan (2006)

A seguir é exemplificada a técnica desenvolvida por Gabor. O sinal representado no


gráfico da figura 14(b) é novamente apresentado para ser analisado, a fim de obter-se a
localização temporal das estruturas de frequências durante o tempo de decorrência do sinal,
também apresentado anteriormente. Para efetuar a análise usando a transformada de Fourier-
Gabor, a série temporal foi dividida em cinco seguimentos com intervalos de tempos iguais,
três segundos cada uma. Em cada trecho de três segundos será aplicada uma “janela” de
mesmo tamanho, fixo para todo o sinal, definida pelos coeficientes determinados na função
“átomo de Gabor” no inicio do procedimento. Em seguida, aplica-se a Transformada de
Fourier separadamente em cada trecho.
A Figura 16(b) mostra o gráfico das Transformada de Fourier (juntados) para cada
janela temporal no intervalo citado. A técnica percorreu todo o sinal, porém, analisou janela
por janela. Diferentemente da transformada de Fourier clássica, agora temos informações
temporais e podemos dizer com certa precisão em quais tempos, ou intervalo de tempo, estão
localizadas as estruturas de frequências.
37

Figura 16 – Em (a) tem-se a série temporal resultante e em (b) a Transformada de


Fourier aplicada separadamente aos segmentos (janelas) da série.

Fonte: Bolzan (2006)

Podemos visualizar como as três frequências presentes no sinal estão espalhadas


temporalmente. Vemos que as três frequências estão presentes nos dois primeiros segmentos
de fato, e que somente duas frequências (1 Hz e 10 Hz) estão presentes na outra metade do
sinal. Como já era esperado, porem não podia ser visto.
A representação obtida pela Transformada de Fourier fornece alguma informação no
tempo, porém, torna-se claro que a sua limitação é dada pelo tamanho da janela que é definida
no início do processamento. Uma vez definida o seu tamanho ela irá percorrer todo o sinal
sem a possibilidade de ser ajustada aos trechos particulares da função. As wavelets surgiram
para suprir tal necessidade.

2.7. ANÁLISE WAVELETS

Da necessidade de ser obter localização temporal das estruturas de frequências, foram


desenvolvidas as funções wavelets para atuarem como funções de base na decomposição de
funções , onde é o espaço das funções de quadrados integráveis, do
domínio temporal para o domínio dual tempo-escala. Aqui a escala está relacionada
diretamente com a frequência. Assim, a transformada wavelet foi introduzida como uma
38

potencial e eficiente ferramenta matemática para se obter representações mais adequadas de


funções (sinais) em um domínio dual de parâmetros. Agora, dependendo da informação na
frequência que se queira analisar, as funções de base (wavelets) são “ajustadas” por dois
parâmetros: temporal e escala .
Em contraste com os outros métodos de processamento de sinais tratados aqui, com a
transformada wavelet é permitido que os seus parâmetros de analise sofram variações de
acordo com as características de cada trecho do sinal com que se trabalha. Assim a área de
processamento de sinais tem a sua disposição uma ferramenta capaz de capturar informações
globais e locais de um processo. A Figura 17 mostra que os tamanhos de janelas para
localização de frequências são ajustáveis a cada trecho do sinal de forma que ela consegue
localizar altas e baixas frequências, simultaneamente, em um mesmo trecho temporal.

Figura 17 – Transformada wavelet: decomposição em tempo escala com tamanhos de


janelas variáveis.

Fonte: Misiti (2013)

A teoria Wavelet apresenta uma visão inovadora de conceitos relacionados a


representação em tempo-frequência na análise de funções não estacionárias. A teoria
matemática das wavelets para análise e interpretações de sinais é encontrada na literatura com
diversas nomenclaturas, todas elas remetem ao significado de pequenas ondas. Em português,
o mais usual tem sido o termo ondaletas (uma tradução do inglês para o português do termo
wavelets). Segundo Protázio (2002), “foi no início do século passado, em 1910, que o físico
Alfred Haar introduziu um sistema completo de funções ortogonais com muitas propriedades
e características que fazem das wavelets, atualmente, ferramentas matemáticas com vasto
campo de aplicações nas ciências mais diversas”. A formalização da teoria das wavelets, tal
como a vemos hoje, é algo desenvolvido recentemente, baseado na generalização de conceitos
oriundos de diversos campos da ciência. Inicialmente o uso das wavelets se deu na área de
geofísica, mas o fato de seu desenvolvimento ter se dado de forma interdisciplinar tem
levado-a a atingir um vasto campo de aplicações, Leite (2007).
39

Formalmente, uma wavelet, usualmente denotada pela letra , deve apresentar as


seguintes condições:

I. A condição de admissibilidade:

∫ (16)

II. A função wavelet deve ter energia unitária:

∫ | | (17)

As condições apresentadas acima garante que a função wavelet é de quadrado


integrável e que pertence ao espaço . A primeira condição sugere que a função wavelet
apresenta características oscilatórias ao longo do eixo temporal e que possui média nula.
A condição de Admissibilidade também garante a existência da transformada wavelet inversa,
que é a reconstrução da função em sua formatação original. A segunda condição está
relacionada com a localização da energia (concentrada) da função wavelet em um certa região
finita do espaço. Esta condição de energia concentrada é a principal característica que
diferencia as análise de sinais utilizando as funções wavelets e análise de funções utilizando
as funções harmônicas (Análise de Fourier).

2.7.1. Transformada wavelet

A transformada Wavelet é uma transformação linear com capacidade de analisar


processos não estacionários para extrair informações sobre variações de frequências e detectar
suas estruturas temporalmente (ou espacialmente) localizadas. Do ponto de vista histórico,
primeiro surgiu a transformada wavelet contínua, depois a análise multirresolução e a
transformada discreta.
40

2.8. TRANSFORMADA WAVELET CONTÍNUA

A Transformada Wavelet Contínua da função é formalizada pela


decomposição da função em uma base formada por funções wavelets Em sua
formulação matemática, a transformada wavelet contínua é dada pela integral:

∫ (18)

Onde,

( ). (19)

A equação (19) representa uma “família” de funções wavelets usada para a


transformação e que, na literatura é denominada de “wavelet-mãe”. O parâmetro está
relacionado com a “dilatação/contração” da função e refere-se à escala usada. O parâmetro
está relacionado com a “translação” ou localização da função “wavelet-mãe”. O termo | |
corresponde a um fator de normalização para a energia da wavelet Isto implica em
manter a energia da wavelet principal localizada em dada região do espaço. Isto significa
dizer que as amplitudes da função são apreciáveis apenas nesta região localizada. Nesse
sentido, a equação (18) mede as flutuações da função (ou sinal) na vizinhança
de , cujo tamanho é proporcional ao parâmetro de escala
A equação (18) fornece os coeficientes da transformada wavelet continua de uma
função (ou sinal) . Esses coeficientes representam uma correlação em um espaço dual
entre a função e a base formada pelas wavelets. A variação dos parâmetros e está
relacionada, respectivamente, com a dilatação (ou contração) e a translação temporal da
função analisadora ao longo do sinal. Para o parâmetro a dilatação acontece se ,a
contração ocorre se .
As afirmações descritas acima para os parâmetros e podem ser melhores
entendidas com os exemplos mostrados na Figura 18. Na Figura 18(a), tem-se a ilustração de
uma família de wavelet contínua para alguns valores do parâmetro de translação e para o
parâmetro de dilatação . A wavelet mostrada é a derivada segunda da função gaussiana. Na
41

literatura é conhecida como “Chapéu Mexicano” devido a sue formato visual. Na Figura 18(a)
é ilustrada a wavelet para os valores de e O parâmetro significa que a
wavelet está centrada em isto é, na origem. A wavelet é gerada pela contração no

parâmetro e pela translação (para a direita) do parâmetro Percebe-se que a

análise temporal da wavelet é diminuída quando compara com a wavelet devido à


contração no parâmetro de escala . Semelhante, a wavelet é gerada, a partir de , por
contração no parâmetro e dilatação (para a esquerda) do parâmetro Percebe-

se que a análise temporal da wavelet é diminuída quando compara com as wavelets e


devido à contração mais acentuada no parâmetro de escala .

Figura 18 – (a) Ilustração de dilatação e translação de uma função wavelet para valores
dos parâmetros e . (b) Transformada de Fourier (espectro na frequência) para as wavelets
ilustradas em (a).

Fonte: Leite (2007)

O espectro de Fourier é mostrado na Figura 18(b) para as wavelets , e . Nesta


figura, observa-se que quanto maior é a análise temporal menor é a análise na frequência para
a wavelet. Na ilustração acima, a wavelet que possui suporte maior no tempo é a wavelet
42

(mais “espalhada”). Portanto, o seu espectro de frequência é localizado para frequências


menores.
Cada tipo de “wavelet-mãe” possui uma melhor ou pior localização nos domínio da
frequência e/ou tempo. É necessária a escolha de uma wavelet para a base de maneira
conveniente, de forma que o sinal seja adequadamente caracterizado e se evite distorções no
resultado. Em linhas gerais, Protázio (2002) comenta que as seguintes características podem
ser observadas na escolha de uma “wavelet mãe” para obter representação em tempo-escala:
ortogonalidade e não ortogonalidade; complexa ou real; suporte compacto; formato da
wavelet e do sinal.

Agora considere o gráfico da série temporal mostrada na Figura 19(a). Esta série é a
mesma analisada com a Transformada de Fourier-Gabor para extrair informações temporais
das localizações das três diferentes componentes de frequência (Figura 16). A Figura 19(b)
apresenta a decomposição em tempo-escala deste mesmo sinal utilizando a Transformada
Wavelet Contínua e seus coeficientes são mostrados em mapa de cores. Percebe-se a
localização com maior precisão e visibilidade das ocorrências destas frequências durante o
tempo do sinal.

Figura 19 – Em (a) tem-se a série temporal e em (b) a Transformada Wavelet


Contínua para esta série.

Fonte: Bolzan (2006)


43

É possível visualizar no eixo vertical do escalograma da transformada wavelet (parte


inferior da figura) uma listra clara na escala 1 e uma outra na escala 10, um pouco mais
acinzentada. Elas estão presentes durante todo o tempo do sinal. Vemos em 5 uma outra listra
bem presente, esta vai somente até a metade do tempo do sinal, exatamente como estipulamos
no Exemplo 1.4. Além disso, outra informação é apresentada por meio da transformada
wavelet relacionada à energia. Podemos identificar na cor acinzentada da frequência 10, que
ela contêm maior energia associada em relação as frequências mais baixa. Normalmente em
pacotes computacionais ou toolbox de wavelets tem-se a disposição uma escala de cor que
permite realizar esta visualização dos níveis de energia.

2.8.1. Transformada Wavelet Inversa

A Transformada Wavelet Contínua satisfaz a propriedade ser uma transformada


matemática inversível. Portanto, a recuperação da função (sinal) é possível pela
definição da Transformada Wavelet Inversa.
A Transformada Wavelet Inversa é dada por;

∫ ∫

A Transformada Inversa é a reconstrução da função original somando as funções


da base, que são ponderadas em amplitudes pelos coeficientes da transformada
direta. Para que a função original possa ser reconstruída sem perdas de informação é
necessário que a wavelet obedeça as condições de Adminissibilidade e Energia finita
apresentadas anteriormente neste trabalho.

2.9. COERÊNCIA WAVELET

Em muitos processo da natureza é interessante saber detalhes de sua ocorrência em


termos de sua intensidade, bem como a correlação entre as grandezas que deram origem ao
processo. Em meteorologia, por exemplo, muitas variáveis estão envolvidas,
44

simultaneamente, na origem de fenômenos climáticos. A coerência wavelet é uma ferramenta


matemática advinda do desenvolvimento da teoria das wavelets e que possibilita detectar a
correlação e a semelhança entre eventos temporais, em termos de tempo-escala, frequência e
energia. Antes de definir matematicamente coerência wavelet é necessário falar sobre o
espectro wavelet cruzada.
Para examinar a relação e a semelhança entre dois sinais foi criado o Espectro Wavelet
Cruzada, caracterizada pelo módulo e pela fase da transformada wavelet contínua obtida
usando valores complexos, Varanis e Pederiva (2011). A fim de se obter uma visualização da
correlação e semelhança entre dois sinais ou séries temporais, define-se o Espectro Wavelet
Cruzada entre dois sinais e como sendo, Torrence (1998):

onde e são os coeficientes das transformadas wavelet contínua individual


(conforme a equação (18)) para cada sinal e , respectivamente. O sobrescrito “ ”
simboliza o complexo conjugado. Dessa forma, o termo da equação (20) expressa
o produto dos coeficientes da transformada wavelet em uma dada escala , na vizinhança
temporal Nesse sentido, os coeficientes do Espectro Wavelet Cruzada
revela quando existe um grau elevado de correlação entre e , para intervalos
diferentes (especificados pela escala) na vizinhança de
Uma forma de enfatizar a correlação local dos sinais e é através da
Coerência Wavelet que é introduzida por, Torrence (1999):

| ( )|
( | | ) ( | | )

Na equação (22) o fator é introduzido para normalizar a densidade de energia e


representa um operador de suavização em tempo e escala para a wavelet usada. A equação
(22) possibilita representar a correlação entre os dois sinais por meio de um diagrama (mapa
de cores ou escalograma) em função do tempo-frequência no qual é possível a visualização de
eventos coincidentes sobre as escala e frequências, em cada instante de tempo dos sinais.
45

A Coerência Wavelet apresenta valores entre 0(zero) e 1(um). Para valores de


próximos de 1(um) a correlação é alta. Para valores de próximos de
0(zero) a correlação é baixa.

Figura 20 – Em (a) e (b) tem-se dois sinais temporais senoidais (c) e (d) suas
respectivas transformada wavelet em mapa de cores.

Fonte: Torrence e Webster (1999)

Para o entendimento do procedimento realizado neste trabalho para as séries temporais


meteorológicas vamos mostrar, graficamente, exemplos demonstrativos do Espectro Wavelet
Cruzada e Coerência Wavelet. Na Figura 20(a) e 20(b) acima são mostrados dois sinais
temporais senoidais e de mesma frequência e mesma amplitude. O eixo horizontal
diz respeito ao domínio temporal e o eixo vertical representa as amplitudes do sinal. Na
Figura 20(c) e 20(d) acima se apresenta os escalogramas resultantes das Transformadas
Wavelet Contínua de cada sinal. O eixo horizontal representa o domínio temporal (eixo das
translações wavelet) e o eixo vertical as escalas para a wavelet usada. A “wavelet-mãe” de
Morlet foi utilizada para o cálculo da Transformada Wavelet Contínua. O cálculo da
46

Transformada Wavelet Contínua foi realizado conforme a equação (18). Dessa análise
percebe-se que a os coeficientes da Transformada Wavelet Contínua possuem valores
significativos para cada sinal próximo (em volta) a escala 105. Portanto, são necessárias
poucas escalas para descrever os sinais e no espaço das wavelets.

Figura 21 – Em (a) tem-se os dois sinais (superpostos, pois são iguais) temporais senoidais
iguais e (b) o espectro wavelet cruzada, para os dois sinais, em mapa de cores.

Fonte: Torrence e Webster (1999)

Na Figura 21(a) acima se apresenta a superposição para os mesmos dois sinais


temporais senoidais e e em (b) os coeficientes do Espectro Wavelet Cruzada em
mapa de cores (escalograma). Os eixos vertical e horizontal da Figura 21(a) representam as
amplitudes e o domínio temporal, respectivamente, e na Figura 21(b) representam as escalas e
o tempo, respectivamente, para os coeficientes do Espectro Wavelet Cruzada.
Esses coeficientes revelam que existe um grau elevado de correlação entre os dois sinais
próximo da escala 105 em todo o domínio temporal. Essa correlação diminui para as
escalas adjacentes.
47

Figura 22 – Coerência wavelet, para os dois sinais, em mapa de cores.

Fonte: Torrence e Webster (1999)

A Figura 22 acima apresenta a Coerência Wavelet . Os coeficientes da


Coerência Wavelet são mostrados em um mapa de cores (escalograma) para os dois sinais
senoidais. O eixo horizontal representa o domínio temporal e o vertical as escalas utilizadas
para realizar o cálculo da Coerência Wavelet. Como já mencionado anteriormente, os sinais
possuem as mesmas frequências e mesmas amplitudes, isto é, os sinais são iguais. Dessa
forma, o grau de correlação entre os sinais é alto. Como se pode observar nesta figura, os
coeficientes de correlação são máximos, constante e iguais a 1(um) para todas as escalas e
todo o domínio temporal.
Considerando-se que neste trabalho pretende-se fazer aferições sobre séries temporais
meteorológicas é conveniente apresentar uma demonstração para séries temporais onde o grau
de correlação não se apresente tão elevado. Para isso, introduz-se um ruído gaussiano, no qual
existe uma correlação temporal, aos sinais temporais e , os quais ainda possuem as
mesmas amplitudes e frequência fundamental. A superposição dos sinais e
acrescidos do ruído gaussiano são ilustrados na Figura 23(a) e seu Espectro Wavelet Cruzada
é mostrado na Figura 23(b). Os coeficientes do Espectro Wavelet Cruzada ilustrados em mapa
de cores na Figura 23(b) revelam que existe um grau elevado de correlação entre os dois
sinais próximo da escala 105 em todo o domínio temporal. Essa correlação diminui para
as escalas adjacentes. Percebe-se que o grau de coerência é menor que o grau de coerência
48

mostrado no exemplo anterior. Essa percepção é notável devido a intensidade dos


coeficientes, isto é, os coeficientes possuem menores intensidades no mapa de cores.

Figura 23 – Em (a) tem-se os dois sinais (superpostos, pois são iguais) temporais
senoidais adicionados de ruído gaussiano e em (b) o Espectro Wavelet Cruzada, para os dois
sinais, em mapa de cores.

Fonte: Torrence e Webster (1999)

A Figura 24 abaixo apresenta a Coerência Wavelet para os sinais temporais senoidais


acrescido de um ruído gaussiano. Os coeficientes da Coerência Wavelet são
mostrados em um mapa de cores (escalograma), conforme ilustra a figura. Como já
mencionado antes, quanto mais próximo de 1(um) maior é a correlação wavelet. Dessa
análise, percebe-se que o grau de correlação entre os sinais é alto em todo o domínio temporal
para escalas menores que 200. Para escalas maiores que 200 é possível verificar existência de
Correção Wavelet, em grau menor, para o domínio temporal entre 0 e 300 segundos e também
entre 1700 e 2500, aproximadamente. Para o intervalo temporal 400 e 1700 segundos e, acima
da escala 250, a correlação começa a diminuir e tem sua menor coleção centrada no tempo em
torno do tempo 900 segundo e na escala 415.
49

Figura 24 – Coerência Wavelet, para os dois sinais acrescidos do ruído gaussiano, em mapa
de cores.

Fonte: Torrence e Webster (1999)

3. METODOLOGIA

Os resultados obtidos nesta pesquisa foram processados no software proprietário


MATLAB (Matrix Laboratory), versão R2012a, da empresa Mathworks. Trata-se de um
ambiente de programação técnica, computação numérica, simulação e visualização gráfica.
Neste software foi utilizada a Wavelet Toolbox, na qual se apresenta uma coleção de funções
construídas e fornecidas para a análise e síntese de sinais e imagens. As ferramentas são
oferecidas por meio de linha de comando ou interface gráfica interativa.
Agora, passa-se a discutir a Coerência Wavelet como a principal técnica de análise
apresentada neste Trabalho de Conclusão. A Coerência Wavelet foi aplicada a duas séries
temporais meteorológicas para a detecção de semelhança (ou correlação). Utilizou-se como
função de base a wavelet de Morlet, por haver na literatura um consenso sobre sua eficiência
em caracterizar sinais geofísicos. As wavelets contínuas são comumente utilizadas para
visualizar, através do mapa de cores citado anteriormente, a relação existente entre as
componentes de diferentes frequências em função da escala temporal da série. As grandezas
em questão neste trabalho possuem relações não lineares.
50

Figuras 25 – Parte real da wavelet de Morlet

Fonte: Bolzan (2006)

As séries temporais são de acesso livre e foram obtidas do banco de dados do Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET), no qual se encontram disponíveis séries temporais
meteorológicas com medições diárias desde o ano de 1961 aos dias atuais. Os dados
disponíveis são referentes a 291 localidades do território brasileiro, INMET (2013). Para
analisar os dados foram escolhidas cinco estações meteorológicas localizadas na região do
nordeste para aferir suas grandezas físicas. Os dados aqui analisados têm suas medidas
realizadas diariamente, em estações meteorológicas em análise estão localizadas nas seguintes
cidades: Natal-RN, João Pessoa-PB, Cruzeta-RN e Patos-PB. O período analisado refere-se a
todo o ano de 2009 e de 2010. As medições foram efetuadas a partir das zero horas, sendo três
medições por dia em intervalos de oito horas.

A Tabela 2 mostra as localizações nas coordenadas geográficas (latitude, norte-sul e


longitude, leste-oeste) e altitudes relativas das cidades (verticalmente) para estas estações
meteorológicas.

Cidade Estação Latitude (°) Longitude (°) Altitude (m)


Natal-RN 82598 -5.91 -35.20 48,60
João Pessoa-PB 82798 -7.10 -34.86 7,43
Cruzeta-RN 82693 -6.43 -36.58 226,46
Patos-PB 82791 -7.01 -37.26 249,09

Fonte: Autoria própria


51

A Figura 26, abaixo, mostra a disposição geográfica para as localizações das estações
meteorológicas.

Figura 26 – Disposição geográfica para as quatro estações meteorológicas onde os


dados foram colhidos.

Fonte: INMET (2013)

A meteorologia é uma ciência que se ocupa de estudar as propriedades físicas da


atmosfera, a fim de compreender processos que explicam a sua evolução e possibilita prevêr
estados futuros. Grandezas que caracterizam o sistema climático, sobretudo as variáveis com
maior impacto sobre as atividades, tais como temperatura, vento, precipitação, umidade
atmosférica, agitação marítima, dentre outras, são de interesses diretos para as previsões
climáticas.
Quando o ar esta em deslocamento horizontal pode-se dizer que ele esta submetido a
valores diferentes de temperatura e de pressão de um ponto para outro. Este movimento,
caracterizado por uma direção e uma velocidade chama-se vento. É Chamada direção
predominante do vento a direção em que o mesmo ocorre com maior frequência, sendo que o
relevo da região influi diretamente nesta direção. A direção do vento é bastante variável no
tempo e no espaço, em função da situação geográfica do local, da rugosidade da superfície, do
relevo, da vegetação, do clima e da época do ano.
52

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Discutem-se agora os resultados obtidos através da aplicação da técnica da Coerência


Wavelet aos dados meteorológicos (séries temporais) da Intensidade da Velocidade do Vento
e da Direção do Vento. O cálculo para a Coerência Wavelet, é feito conforme
mostrado na equação (22). Como foi visto anteriormente, com esta ferramenta de análise, é
possível medir em inspeção visual, em certo grau, as correlações entre as duas séries
representativas de grandezas físicas em cada escala e localização (temporal ou espacial)
específicas. Assim as séries são comparadas duas a duas para cada estação meteorológica e
sempre entre a intensidade da velocidade do vento e a direção do vento.
As Figuras 27(a), 28(a), 29(a) e 30(a) mostram as dados meteorológicos (séries
temporais) para a intensidade da velocidade do vento e a direção do vento para as seguintes
localizações das estações: Natal-RN, João Pessoa-PB, Cruzeta-RN e Patos-PB. Nestas figuras,
os eixos horizontais representam o domínio temporal e os eixos verticais representam as
amplitudes. No caso das séries temporais relativas à direção do vento, o eixo vertical
representa coeficientes de direção definidos de acordo as pontas da rosa dos ventos, girando
no sentido anti-horário. O gráfico em cor vermelha (cor da linha) representa a intensidade da
velocidade do vento enquanto o gráfico em cor azul (cor da linha) representa a direção do
vento para o mesmo instante de tempo. Trata-se de grandezas diferentes e, portanto, vale
ressaltar que configuram dimensões diferentes. A intenção de os dados serem colocados
sobrepostos numa mesma janela gráfica é simplesmente para visualização das suas oscilações
em todo o domínio temporal, tal com a fase entre os sinais.
Os resultados obtidos com a técnica da Coerência Wavelet conforme a equação (22)
encontram-se expressos nas Figuras 27(b), 28(b), 29(b) e 30(b), nos quais a visualização é
através de códigos de cores (mapa de cores ou ainda escalogramas), isto é, os coeficientes da
Coerência Wavelet são quantificados por cores. A cor vermelha (vermelho escuro) indica
valores de coeficientes altos para a Coerência Wavelet, a cor azul (azul escuro) indica valores
de coeficientes baixos para a Coerência Wavelet. No entanto, uma região onde predomina a
cor vermelha intensa indica alto índice de coerência (alto grau de correlação) entre os sinais
nas escalas e localizações temporais correspondentes, enquanto as regiões em cor com azul
escuro indicam baixa coerência (baixo grau de correlação).
Nestes mesmos gráficos, as setas indicam a diferença de fase entre os sinais. Setas
para a direita indicam que não existe uma diferença de fase entre os sinais nas respectivas
53

escalas e localizações (ou seja, o crescimento de um sinal é correlacionado com o crescimento


de outro, o mesmo para o decrescimento), enquanto que setas para a esquerda indicam
diferença de fase de 180° (cento e oitenta graus) entre os sinais, acusando uma anti-correlação
(ou seja, o crescimento de um sinal é correlacionado com o decrescimento de outro, e vice-
versa).
Aproveitaremos os resultados para uma discussão acerca do significado das escalas
usadas para a Transformada Wavelet e, consequentemente, para a Coerência Wavelet. As
escalas estão relacionadas, como já sabemos, ao suporte da wavelet usada. O suporte garante
que a wavelet só exercerá influência na operação com o sinal, no procedimento de
transformação para o espaço das wavelets, em uma faixa localizada de tamanho específico.
Assim, como a Coerência Wavelet fornece o resultado de uma operação matemática entre os
dois sinais no espaço das wavelets, as escalas nos fornecem informações acerca do tamanho
da faixa temporal em que esta comparação foi realizada. Assim, para os sinais de dados
meteorológicos aqui analisados, coerências em escalas mais finas (escalas menores)
significam que os dois sinais são correlacionados em escalas de tempo menores (intervalos de
tempo em horas a dias), enquanto que coerência em escalas mais “grosseiras” (escalas
maiores) indica correlação em escalas de tempo maiores (intervalos de tempo em semanas,
meses ou até anos).
Os dados meteorológicos analisados e representados na Figura 27(a) foram coletados
da estação meteorológica localizada na cidade de Natal-RN e na Figura 27(b) temos os
coeficientes da Coerência Wavelet em mapa de cores. O que podemos verificar,
na figura 27(b), visualmente, (cor vermelha intensa) é a existência de uma grande correlação
compreendida para as escalas maiores que 910 (aproximadamente) e em todo o domínio
temporal. Portanto, é conveniente afirmarmos que pode haver uma correlação entre a
intensidade da velocidade e a direção do vento quando consideramos, na análise, intervalos de
tempo maiores (semanas ou meses). Nesta mesma região, percebemos que as setas indicam
que não existe diferença de fase entre os sinais em suas respectivas escalas e localizações
temporais. Portanto, entre os sinais da intensidade da velocidade do vento e a direção do vento
existe uma correlação positiva. E ainda dessa correlação destaca-se que existe uma
predominância de direção do vento que corresponde a um determinado módulo de velocidade
do mesmo naquela região. Em outras palavras, podemos afirmar que a velocidade média e a
direção média do vento não variam (em média) para intervalos de tempo longos.
Para as escalas menores (menores que 910) percebemos, em uma região central da
figura 27(b), que não existe correlação entre os sinais analisados. Nesta mesma região, as
54

setas estão orientadas para a esquerda indicando uma diferença de fase de 180°. Isto indica
uma anti-correlação entre os sinais.
Percebemos também, uma localização temporal mais localizada de onde a correlação
entre as séries merece destaque. É a localização temporal de 1800 até 2190 e para todas as
escalas que existe um grau considerável na correlação para intervalos de tempo longos
(escalas maiores) e curtos (escalas menores).
As Figuras 28(a) e 28(b) mostram, respectivamente, os dados meteorológicos e os
coeficientes da Coerência Wavelet em mapa de cores. Esses dados analisados
foram coletados da estação meteorológica localizada na cidade de João Pessoa-PB. O que
podemos verificar, na figura 28(b), visualmente, (cor vermelha intensa) é a existência de uma
grande correlação compreendida para as escalas maiores que 890 (aproximadamente) e em
todo o domínio temporal (semelhante ao ocorrido em natal para escalas maiores 910).
Portanto, é conveniente afirmarmos que pode existir uma correlação entre a intensidade da
velocidade e a direção do vento quando consideramos, na análise, intervalos de tempo
maiores (semanas ou meses). Nesta mesma região, percebemos que as setas indicam que não
existe diferença de fase entre os sinais em suas respectivas escalas e localizações temporais.
Portanto, entre os sinais da intensidade da velocidade do vento e a direção do vento existe
uma correlação e ela é denotada pela faixa de escalas, isto é, existe a predominância de uma
direção do vento correlacionada com um determinado módulo de velocidade ocorrendo
durante todo o tempo do sinal. Analogamente ao que se constata em Natal, podemos afirmar
que a velocidade média e a direção média do vento não variam (em média) para intervalos de
tempo longos.
Para as escalas menores (abaixo de 890) percebemos, em uma região bem centrada na
figura 28(b), que a correlação começa a deixar de existir e passa a existir uma diferença de
fase entre os sinais analisados (cor amarela para a cor azul). Nesta mesma região, as setas
estão orientadas para a esquerda indicando uma diferença de fase de 180°. Isto indica uma
anti-correlação entre os sinais, porém, ainda não caracteriza uma correlação negativa e sim
uma imprecisão da técnica para este trecho. Começamos a constatar que a relação entre as
grandezas em estudo têm descrições (análises) semelhantes embora pertençam a localidades
geográficas diferentes.
Agora, vamos analisar os dados meteorológicos representados nas Figuras 29(a) e
30(a). Estes dados foram coletados da estação meteorológica localizadas nas cidades de
Cruzeta-RN e Patos-PB, respectivamente. Diferentemente das estações para as cidades de
Natal-RN e João Pessoa-PB, as estações de Cruzeta e Patos estão a uma altitude superior a
55

226 metros, como mostra a Tabela 02. Nas Figuras 29(b) e 30(b) temos os coeficientes da
Coerência Wavelet em mapa de cores para as respectivas séries, analogamente
aos outros dados discutidos até aqui.
Podemos observar, na figura 29(b), visualmente, (cor vermelha intensa) a existência de
uma grande correlação em um intervalo pequeno nas escalas compreendidas entre 1045 a
1351 (aproximadamente) e em todo o domínio temporal, sem diferença de fase. Para as
escalas fora desse intervalo percebemos que os coeficientes da Coerência Wavelets são
pequenos (cor em azul) e desconsideráveis em comparação a faixa de correlação bem
caracterizada nas escalas superiores.
Já para a Figura 30(b), as correlações predominantes, em todo o domínio temporal,
aparecem para dois intervalos de escalas. O primeiro compreende o intervalo da escala 610 a
escala 1051 e o segundo para escalas maiores que 1201. Percebemos que as correlações destes
sinais aparecem com uma intercalação de anti-correlação no decorrer do tempo para as escalas
(abaixo de 650 aproximadamente). Esta mesma intercalação pode ser percebida na estação de
Cruzeta, porém, nas escalas de 901.
56

Figura 27 – Em (a) tem-se a série temporal da intensidade da velocidade do vento


(vermelho) e a direção do vento (azul) para a estação de Natal. Em (b) tem-se os coeficiente
da Coerência Wavelet em mapa de cores.

Fonte: Autoria própria.


57

Figura 28 – Em (a) tem-se a série temporal da intensidade da velocidade do vento


(vermelho) e a direção do vento (azul) para a estação de João Pessoa. Em (b) tem-se os
coeficiente da Coerência Wavelet em mapa de cores.

Fonte: Autoria própria.


58

Figura 29 – Em (a) tem-se a série temporal da intensidade da velocidade do vento


(vermelho) e a direção do vento (azul) para a estação Cruzeta. Em (b) tem-se os coeficiente da
Coerência Wavelet em mapa de cores.

Fonte: Autoria própria.


59

Figura 30 – Em (a) tem-se a série temporal da intensidade da velocidade do vento


(vermelho) e a direção do vento (azul) Patos. Em (b) tem-se os coeficiente da Coerência
Wavelet em mapa de cores.

Fonte: Autoria própria.


60

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora tenham surgidas da necessidade de adaptação dos métodos clássicos no


processamento de dados geofísicos, as wavelets se desenvolveram de maneira multidisciplinar
e atualmente encontram inúmeras aplicações, algumas foram citadas anteriormente neste
trabalho. A análise em tempo- escala, onde a escala está relacionada com a frequência,
constitui um método investigativo de séries temporais não determinísticas uma vez que
podemos encontrar altas e baixas frequências simultaneamente em todo o tempo do sinal, e
destacar as frequências dominantes. A Coerência Wavelet adiciona mais uma característica
investigativa que é a possibilidade de correlacionar ocorrências entre grandezas, geralmente
geradas no mesmo instante de tempo.
De fato, a grande maioria das observações de processos não lineares na natureza é
registrada a partir de uma série temporal. Séries obtidas por meio de dados oriundos de
observações de variáveis atmosféricas, como é o caso do vento, são exemplos clássicos de
grandezas que apresentam complexa variabilidade e características de regimes não-lineares
(regimes aleatórios, extremamente dependentes, e sensíveis a pequenas alterações em seus
estados anteriores).
Definitivamente, as análises clássicas de Fourier, não são viáveis para descrever sinais
onde aspectos temporais são importantes. Tem-se, pois, que uma ampla classe de sinais possui
momentos estatísticos, como médias e variâncias, estatisticamente distintas para intervalos de
períodos constantes, onde se conclui que a informação temporal é indispensável.
A adaptação de Gabor na transformada de Fourier é uma mudança de paradigma na
área de processamento de sinal, porém, essa técnica possui limitações grosseiras nas suas
representações devido ao tamanho da janela que é invariável para os trechos do sinal,
comprometendo a precisão da análise. As Wavelets surgem para suprir esta deficiência.
As análises Wavelets consistem em métodos de análise que preservam a informação
temporal, localizando altas e baixas frequências, simultaneamente, ao percorrer um sinal. A
Coerência Wavelet é uma variante da transformada Wavelet Contínua que correlaciona os
coeficientes wavelets de duas grandezas no espaço das wavelets, caracterizados em tempo-
escalas. As características temporais das wavelets evidência sua vantagem sobre as outras
técnicas porque ela oferece uma descrição mais completa.
O uso das técnicas wavelets na área de análise de sinais cresceu exponencialmente nas
ultimas décadas, pois elas representam uma síntese das técnicas clássicas aliada a resultados
61

recentes como, por exemplo, eficientes algoritmos computacionais de interesse de uma ampla
gama de profissionais, pesquisadores e fácil acessibilidade por meio de rotinas prontas, sendo
necessário apenas um PC.
Destaca-se também, que a escolha da wavelet-mãe, ou função geradora, é de
fundamental importância para o bom desempenho da análise wavelet algumas funções
geradoras mais conhecidas são: Haar, a primeira função a surgir com as características que
hoje definem as wavelet; função de Daubechies; Mexican Hat (ou chapéu mexicano); Meyer e
a de Morlet, utilizada neste trabalho. Critérios como suporte e formato das wavelets são
considerados na escolha da função geradora. Conclui-se que a utilidade primordial da análise
em Wavelet está na sua possibilidade atuar como função base para a decomposição de outras
funções pertencentes ao espaço das funções de quadrados integráveis. As funções wavelets
cobrem e descrevem completamente este espaço de uma forma mais sofisticada que as bases
senoidais dos métodos de Fourier.
62

6. REFERÊNCIAS

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Ensino de Física, Vol. 28, n° 04, pp. 563-567, 2006.

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Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo – IAG/USP,
São Paulo. Disponível em
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Disponível em http://www.est.ufpr.br/~ ehlers/notas. Acesso em: 12 julho de 2005.

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63

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Dissertação (Mestrado em Ciências e Engenharia de Petróleo) - Universidade Estadual de
Campinas, Campinas.

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