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SIMMEL, Georg. Filosofia da moda e outros escritos. Lisboa: Texto & Grafia, 2008.
Fernando Baptista Leite
I. SOBRE A OBRA
O livro é uma coletânea de três ensaios. O principal, “Filosofia da moda”, foi publicado
na revista Reihe Moderne Zeitfragen em 1905, ampliando e remodelando o artigo
intitulado “Sobre a psicologia da moda”, de 1895. “Psicologia do adorno” foi publicado
no Der Morgen em 1908 e “Psicologia da coqueteria” no Der Tag, em 1909.
Faz sentido a reunião desses ensaios em uma única obra. Em primeiro lugar, são temas
próximos, tratando de formas sociais relativas à distinção social, envolvendo processos
psíquicos de expressão e reconhecimento de valor, e à relação entre os sexos. Simmel
aplica o mesmo esquema teórico para abordá-los, e, além de explicitar a operação dos
mesmos princípios psíquicos, identifica a presença de um princípio ontológico comum.
Neste trabalho, de caráter provisório, iremos resumir e mapear os elementos principais
do ensaio “Filosofia da moda”. Sintetizaremos este ensaio juntamente com os demais no
trabalho de síntese, ao final do curso.
Simmel possui uma visão monista da realidade humana. Há um princípio uno gerador
no âmago do “espírito” humano, que marca e a partir do qual derivam todas as
manifestações humanas; dos sentimentos e pensamentos à ação individual e instituições
sociais. Acredito que, para Simmel, esse princípio monádico suja o dualismo. A
natureza humana é essencialmente dualista e tudo dela derivado segue tal princípio; do
funcionamento da mente aos processos mais básicos de atribuição de sentido e valor, até
o funcionamento de toda a “sociedade”.
“Filosofia da moda” é um ensaio dos mais importantes da obra simmeliana, segundo
Artur Morão (idem, p. 18), por explorar de modo formidável um tema específico
particularmente expressivo do dualismo humano. As dinâmicas da moda, do adorno e
da coqueteria, descritas e analisadas por Simmel, ressaltam com especial clareza aquele
princípio universal.
III. A MODA
“Existe sempre uma moda, e ela e, enquanto conceito genérico, enquanto factum
universal da moda, decerto imortal; e isto parece refletir-se de algum modo em
cada uma das suas configurações, embora a essência de cada uma consista
precisamente em não ser perecível. O fato da própria mudança não mudar confere
aqui a cada um dos objetos, em que ela se realiza, uma certa auréola de
perdurabilidade.” (ibidem; sem grifos no original).
A moda sempre muda; tal constância transfere sua “auréola” às modas efêmeras
particulares. Uma confusão psíquica derivada do caráter paradoxal da moda.
III.3. Síntese
“a moda é uma peculiar convergência das mais diversas dimensões da vida; que é
uma criação complexa onde, mais ou menos, todas as tendências antagônicas da
alma estão representadas. Torna-se assim compreensível que o ritmo geral com
que se movem os indivíduos e os grupos influirá também na sua relação com a
moda; que as distintas camadas de um grupo, independentemente dos seus
diferentes conteúdos vitais e possibilidades externas, se comportam de modo
diferente em relação à moda; que os seus conteúdos vitais se desdobram de uma
forma conservadora ou em rápida variabilidade.” (idem, p. 50).
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MORÃO, Artur. 2008. Introdução. In: SIMMEL, Georg. Filosofia da moda e outros
escritos. Lisboa: Texto & Grafia.