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Economia apresenta

Afetiva
aprendizado
para o futuro

Trama Afetiva 2018


conteúdo colaborativo
organizado por
Jackson Araujo
Luca Predabon
Nós
ilustração Oliv Barros
Jackson Araujo e Luca Predabon

Economia
Afetiva
aprendizado
para o
futuro

1a Edição
São Paulo
Jackson Araujo
2018
A trama Refletir,
e o afeto ressignificar
e criar
Por Amélia Malheiros Por Evelin Wanke
Gestora da FHH Gerente de vendas da Epson do Brasil

Dos muitos significados da sonhos construímos novas A indústria têxtil vive um momento de refor-
palavra TRAMA resolvi esco- possibilidades de ação e mulação de sua estratégia de desenvolvimento
lher Troca – Teia – Textura não só de reação. e percepção diante dos consumidores. Dife-
e Astúcia. Quando se junta Astúcia afetiva – pensar rentes segmentos do setor e empresas dos
a palavra afeto a qualquer pra além do óbvio (sem mais variados portes passaram a repensar sua
desses significados já desconsiderá-lo) cocriar linha de produção e aumentaram o foco em
construímos uma primeira levando em conta a vo- sustentabilidade. Um estudo divulgado em 2017,
pista dessa experiência tão cação primeira. Astúcia encomendado pela Unilever e realizado pela
forte e transformadora que é basicamente pensar Europanel, mostrou que 33% dos consumidores
vivenciamos. novas soluções para velhos preferem marcas que gerem impactos positivos
Troca Afetiva – desde problemas. O resultado da na sociedade ou meio ambiente.
o começo quando tudo nossa trama fala por si. Analisando este cenário, a Epson viu no
ainda era uma ideia vinda Falando em nome do apoio ao “Trama Afetiva” a possibilidade de
de um incômodo, as trocas time da Fundação Hermann ampliar e consolidar a conexão da marca com
e percepções nortearam Hering, posso expressar causas ambientais. Ao participar do projeto
e construíram cada etapa, nosso sentimento de disponibilizando equipamentos como impres-
sem sobreposição de pertencimento a esse sora de algodão (SureColor F2100), projetor e
visão. A lateralidade que movimento que mostra scanner fotográfico, buscamos evidenciar que
buscamos ao participar de novas formas pra lidar com há um novo caminho a ser seguido, usando a
movimentos sociais e cul- os valiosos recursos do tecnologia para otimizar a produção têxtil e
turais foi sempre um ponto planeta. Falamos hoje tanto evitar desperdícios.
de destaque. Tudo dito, em curadoria de moda, Na Epson, temos o compromisso de criar
transparente e claramente aqui quero trazer uma “produtos melhores para um futuro melhor”.
dito. Da iniciativa de expor provocação: e se fizésse- Levamos em consideração o impacto ambiental
nosso projeto até a cora- mos uma CUIDADORIA de em todas as fases do ciclo de vida do produto,
gem para buscar recursos nós mesmos pra reaprender desde a concepção até a reutilização. Temos
foi uma boa jornada. Vivida a viver no planeta? práticas como a certificação ISO 14001 em todas
intensamente e agregando Pensar a #modaprono- as fábricas no mundo, e a coleta de equipamen-
mais pessoas com intenção vomundo é sim valorizar o tos obsoletos e reciclagem de suprimentos.
e atitude. Só atraímos gente passado, viver com autor- A Hering, assim como o Trama Afetiva,
do bem! responsabilidade o pre- aposta no conceito de “moda para o novo
Teia Afetiva – daí come- sente pra merecer o futuro. mundo”. E sabemos que o novo mundo, o futuro,
çamos a tecer literalmente, Um mega agradeci- requer um sólido compromisso com o meio am-
buscando atrair e conectar mento aos Trameiros e meu biente. A Epson está cada vez mais concentrada
pontos. Com a intenção infinito afeto ao Jackson na criação de produtos inovadores e, ao mesmo
primeira de ressignificar Araujo, à Luca Predabon e tempo, confiáveis, recicláveis e que consumam
sobras têxteis, nossa a todos que tornaram essa energia de forma eficiente.
trama buscou ir além. A trama possível. Parabenizamos a Hering e os idealizadores
diversidade que trouxemos do Trama Afetiva pelo projeto. Foi uma oportu-
com amor, acolhimento e nidade de aprofundarmos nosso conhecimento
respeito foi linda! Por fim sobre algumas dificuldades da indústria têxtil.
construímos um processo Agora, seguimos com nosso compromisso de
que já não tinha fim (sem desenvolver novas tecnologias para contribuir
ponto final nessa frase...) com o desenvolvimento de um trabalho susten-
Textura Afetiva – textura tável no setor têxtil.
fala sem palavras, só pelo
toque, aguça outros sen-
tidos. Ao aproximar a Fun-
dação Hermann Hering de
um universo tão diverso e
rico de sentimentos, nosso

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propósito se fortaleceu. Ao
abrir portas e potencializar
A inovação O avanço do
centrada no ecossistema
ser humano cultural
Por Elis Chitero Por Rogério Zé
Gerente de Educação e Produtor cultural
Desenvolvimento Cia. Hering

Quando olhamos com apreciação para a história O Trama Afetiva foi viabilizado por uma lei de
da Cia. Hering conseguimos ver desde os primei- incentivo à cultura, no caso o ProaC ICMS da
ros anos de sua fundação a preocupação com a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. A
responsabilidade social e com o meio ambiente. escolha deste caminho se deu após um debate
A Fundação Hermann Hering nasceu com o entre idealizadores: por um lado, o projeto
intuito de organizar as ações de responsabili- estimula um novo fazer, norteado pelo afeto.
dade social corporativa muito antes que outras Por outro, os benefícios deste novo fazer têm
empresas no Brasil pensassem em oferecer tais a potência de permear vários entes da econo-
benefícios para seus funcionários. E ao longo mia criativa. Seria necessário aproveitar essa
dos anos, foi se consolidando como vanguardista potência ao máximo, para a também máxima
no desenvolvimento do pensamento empreen- distribuição de benefícios.
dedor, inovador e responsável. A sociedade entendeu que os fazeres cultu-
O Trama Afetiva é a materialização deste rais merecem, além de liberdade e respeito, de
pensamento. O que vi na edição de 2018 foi respaldo financeiro republicano. A preservação
realmente a aplicação prática da nova forma de de identidades, a criação de novas visões e
se produzir inovação: mais colaborativa, ágil, variadas formas de expressão não devem estar
centrada no humano. Um processo de criação sujeitas à lógica econômico-financeira da
que educa, não só para a construção de pro- viabilização apenas pelo consumo; a diversidade
dutos com design diferenciado e esteticamente do ecossistema cultural é condição fundamen-
belos, mas também para uma nova forma de tal para o avanço das sociedades, e por isso
interação entre seres humanos, onde respeito, Estados e entes governamentais elaboraram
empatia, complementariedade e diversidade mecanismos de financiamento.
passam a ser elementos de base na produção de O Trama vê-se parte dessa trama.
resultados excepcionais. O Trama pôde alcançar mais pessoas através
O resultado do Trama Afetiva 2018 se mate- da publicação de oficinas e atividades em
rializou em uma coleção linda e rica em atribu- redes sociais, sofisticar a cadeia de produção e
tos de sustentabilidade. Mas o que entregamos ampliar a gama de possíveis patrocinadores-par-
de valor nesta edição foi muito além de uma ceiros. A sociedade recebe os objetos criados,
coleção a partir de resíduos têxteis. Produzimos novos laços de trabalho e, mais importante,
a expressão concreta dos novos modelos de ferramentas de aprendizagem para uma outra
trabalho e da inovação centrada no ser humano. forma de criar e produzir na cadeia da economia
Um legado que nos mantém na vanguarda e nos criativa. E isso está longe de ser pouco para a
coloca protagonistas de um novo momento do época em que vivemos.
mundo!

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Um futuro que clama
por acontecer já!
Por Kátia P. Lamarca
Coordenadora da Graduação em
Design de Moda do IED

Em 2018 completo 15 anos de estudo mil peças isso seria um lucro con- Como se não bastasse a felicidade
e trabalho, na moda, e 10 anos de siderável. E como educadora, não de trazer um conteúdo como esse ao
docência, nesta mesma área. Datas quero formar novos profissionais com universo dos jovens, ainda tivemos
recheadas de significado e reflexões. o sonho do desfile deslumbrante, re- o prazer de ter um desses jovens
Neste tempo todo estive perto das cheado de mãos imigrantes por trás. selecionados para viver o Trama em
indústrias, das produções em escalas E nesse momento da minha sua maior potencialidade. Neste mo-
grandiosas, da compra de tecidos e relação com a moda, conhecer o mento, o orgulho tomou conta, e pude
aviamentos desenfreada, das nego- Trama Afetiva me trouxe esperança, perceber que além das reflexões,
ciações com oficinas pautadas em garra, vontade, alegria e fé em uma teríamos o exemplo ‘em casa’.
centavos, isso sem falar do desenvol- formação melhor. Alegria e gratidão por esse
vimento de 250 a 300 novos modelos Como coordenadora da Gra- projeto.
por coleção. duação em Design de Moda do IED, E assim, por mais um dia, em
Cansei de ler e discutir sobre receber este evento não vem apenas mais uma ocasião, eu pude acreditar
formas, cores, looks, texturas e como ao encontro de um desejo individual, na união da missão profissional de
vendê-los mais, custando menos. mas sim à possibilidade de apresentar moda com a missão profissional da
Hoje, não vejo mais em mim espaço o futuro eminente a esses jovens educação. E se não for assim, não há
para debates com esse teor. designers. sentido.
Sem querer, me pego observando A metodologia educacional do IED Meu desejo de vida longa a ações
novos produtores, peças feitas à mão, se pauta no “saber” e “saber fazer”, como essa que possam promover a
formatos de negócios diferenciados e mas a excelência não está na teoria ou reflexão, o questionamento, o debate
discursos que falam com meu coração prática puras, está na análise crítica desse formato ultrapassado e insus-
e me mostram, na prática, esse valor e no uso para o bem social que se faz tentável de consumo, que a sociedade
afetivo. Será que sou só eu? desses conhecimentos. E assim eu contemporânea vive. E que seja um
Estou certa que não. quero que os nossos alunos aprendam debate de conteúdo, de ideias, de
Esse anseio é maior e reflete uma e interajam com o mercado, compar- exercícios, de ouvir e falar, de contes-
necessidade real de falarmos sobre tilhando, cuidando, abrindo espaço tar, de voltar atrás, assumir erros, mas
o consumo de moda, sem vendar os para o do-it-together. acima de tudo, que seja um debate
olhos e nem medir as palavras. A discussão do Trama Afetiva AFETIVO. Pois sem afeto, não haverá
Eu, como profissional, não quero aborda resíduos, sustentabilidade, união, e sem união, nós já estamos
mais encostar rolos de tecido, apenas processos, mão de obra, consumo, vendo, há décadas, para onde essa
porque o Pantone da moda é outro. negócios, mas aborda especialmente cadeia produtiva vai.
Nem quero brigar por R$ 0,05, FUTURO. E o que são esses alunos
imaginando que numa produção de senão os designers do futuro? Um
futuro que clama por acontecer já!

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um aprendizado
para o futuro
Por Jackson Araujo e Luca Predabon
Direção criativa e de conteúdo do
Trama Afetiva

Tendo como linha mestra de


condução a Economia Afetiva – uma
perspectiva de mercado que po-
tencializa a importância do ganho
coletivo – queremos dar voz a temas
urgentes que se fortalecem como Essa compilação de pensamen-
aprendizados. Quando amplificamos tos aqui apresentados em textos e
as relações iniciais do Trama Afetiva imagens diz respeito há um mês de
Na construção do “Trama para além do têxtil e da moda estamos intensa vivência. Seu legado é a cons-
Afetiva – Uma experiência convocando a indústria, o varejo e a trução de uma rede sólida de pessoas
em upcycling”, o ponto de sociedade como um todo a se apro- que se conectam a partir da desco-
partida é criar uma ação ximar das novas relações de criação, berta de projetos bem-sucedidos e
estruturante como suporte produção, educação e consumo, diálogos com processos produtivos
a novos aprendizados sobre criando zonas permeáveis com outras circulares e relações de consumo
um futuro preocupante que áreas do conhecimento em suas abor- mais conscientes, no intuito de gerar
já chegou, evidenciando dagens mais profundas sobre o design abundância de recursos e impacto
questionamentos sobre a partir da escassez, das necessidades positivo, experimentando muitas pos-
como estamos lidando com vitais, das relações com o desperdício, sibilidades e polinizando novas ideias.
questões fundamentais do respeito e inclusão de “pessoas e Inspiradxs por Marcelo
sobre a sustentabilidade corpos ainda não contemplados em Rosenbaum em sua metodologia
e seus reflexos dentro da cargos de liderança”, como colocado Design Essencial, queremos dessa pu-
indústria da moda. Estamos por Claudio Bueno em seus irretocá- blicação “uma ponte que liga conhe-
todos aqui aprendendo veis questionamentos feitos durante o cimentos ancestrais e conhecimento
sobre novas formas de seminário de abertura do projeto, em cientifico, tradição e inovação, impac-
interação pautadas pelo agosto de 2018. tando positivamente no processo de
respeito, empatia, comple- Nosso principal desafio é a educação e cidadania”. Valorizamos
mentariedade e diversidade. construção de relações sólidas e a análise crítica, o conhecimento e a
Partindo desse prin- transformadoras para a construção aprendizagem coletiva para co-criar,
cípio, percebemos que de um mundo mais humano, buscando produzir e transformar novas relações
não poderíamos abordar o engajamento das pessoas na causa de consumo em novas formas de viver.
somente linhas de pen- da sustentabilidade a partir do (auto) “E isso está longe de ser pouco para a
samento que tratassem a conhecimento. É como diz Dani Leite época em que vivemos”, como reflete
moda pelo viés das roupas, em sua fala no painel “Lixo ou Desper- Rogério Zé, nosso produtor cultural.
mas pelo caminho do com- dício?”: “Entender o lixo é compre- Por fim, queremos fazer valer os
portamento, trazendo para ender o homem. O que descartamos ensinamentos do mestre Paulo Freire
as discussões aqui apresen- revela quem somos.” E ainda, como sobre a consciência de nossas ações.
tadas e vivenciadas – por na fala do músico e artista visual Peri Quando fazemos certas escolhas,
esse time plural de visões Pane: “É o momento de repensar os precisamos adequar discurso e
bastante complementares, paradigmas da nossa sociedade em prática, dando a devida atenção aos
trameiros, palestrantes, que ter é melhor do que ser”. fenômenos que nos cercam, às novas
designers tutores e espe- relações que se estabelecem e à
cialistas –, uma gama de responsabilidade que passamos a ter
temas convergentes quando com a divulgação do conhecimento
se quer buscar soluções adquirido. Que possamos ser, aqui em

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inovadoras para os desafios formato de publicação, uma ferra-
complexos que nos cercam. menta de aprendizado para o futuro.
Vendendo Por Marina Colerato
Editora do site Modefica e

Sustentabilidade:
co-fundadora da agência
Futuramoda

uma missão nem provavelmente não enten-

tão simples
dem sobre a organização
laboral vigente entre os
elos do setor e não fazem
ideia dos impactos sociais
e ambientais do funciona-
mento desses processos.
É trabalho da comu-
nicação de marca não
só dizer o quanto seus
processos são mais sus-
tentáveis, mas explicar de
forma didática, simples
e direta o porquê esses
“Se a pessoa não entendeu, prova- processos sustentáveis são capazes de garantir aos
velmente é porque você não soube mais bacanas do que os usuários outros valores que
comunicar”. Esse é um entendimento não-sustentáveis. É impos- se relacionam com eles de
básico da comunicação o qual muitas sível engajar pessoas numa forma muito mais pessoal e
marcas de moda parecem esquecer, causa que elas desconhe- dinâmica do que a com-
principalmente aquelas abordando o cem e que não diz nada plexa sustentabilidade.
tema da sustentabilidade. Nesses 4 para elas. A única forma
anos comunicando a pauta para um das pessoas valorizarem NIVELAR O CAMPO
público bastante diverso, estudando sustentabilidade é enten-
e pesquisando muito não só sobre o dendo porquê é importante Diferente da lógica das
tema, mas sobre as melhores formas e faz a diferença. marcas entendidas como
de falar sobre ele, trabalhando com não-sustentáveis, as
marcas grandes e pequenas, aprendi CAIR NA REAL marcas com apelo susten-
que comunicar novas lógicas de tável normalmente dedicam
criação e produção de moda é uma Porém, sejamos francos. grande parte do seu tempo
missão mais difícil do que parece, mas Nós não compramos em produção e processos,
é possível. Aprendi também que não produtos de moda (ou mas não se dedicam com o
tem regra ou fórmula; experimenta- qualquer outro produto) mesmo afinco ao marketing
ção faz parte do processo. só porque eles são sus- e à comunicação. Grandes
tentáveis. Nós compramos empresas não investem
ACESSIBILIZAR produtos de moda porque mais dinheiro em marketing
eles são bonitos e capazes e comunicação do que na
Antes de falar sobre moda sustentável, de nos fazer enxergar produção de seus produtos
precisamos falar sobre moda. Nesse outros valores — funcionais, por acaso e essa é uma li-
sentido, a comunicação precisa partir emocionais ou sociais; uma ção que as marcas precisam
do entendimento básico de que as bolsa de luxo pode ser aprender: nivelar o campo.
pessoas desconhecem as etapas bonita e, ao mesmo tempo, A fase de produção e
de produção de uma roupa, elas capaz de mostrar que eu processo precisa de uma
pertenço a um seleto grupo grande atenção e investi-
de pessoas que têm acesso mento, sem dúvidas, mas
a ela, por exemplo. a hora da venda requer a
A sustentabilidade mesma atenção. É ingênuo
pode, e deve ser um desses confiar que um produto vai
valores, mas ela é incapaz ser encontrado e vendido
de fazer a venda por si por si só, principalmente
só. Por isso, junto com a na era do excesso – de
acessibilização (de proces- informação, de marcas, de
sos e discursos), as marcas velocidade. O seu produto
podem ganhar relevância pode ser maravilhoso aos
quando seus produtos são seus olhos de criador, mas
quem souber comunicar
melhor vai conquistar aten-
ção e fidelidade, criando
conexões com os clientes.

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A moeda da revoltas, o mundo top-
down dirigido por forma-

dissidência
dores de opinião, elites,
editores e celebridades
está dando lugar à base,
de baixo para cima e a
influência forte de amigos.
de interesse público, Isso significa que você tem
precisamos ir além de nos que lidar com as questões
relacionarmos e respon- mais relevantes para o seu
dermos. Precisamos definir público, especialmente
Por Andrea Bisker a agenda, ou seja, ir além se você quiser alcançar
Head da Stylus.com de apenas responder Millenials e a Gen Z, que
às questões. Significa ignoram as marcas tradi-
Com as pessoas lutando liderar a conversa. Este é cionais e querem se alinhar marcas se comunicarem
para dar sentido a um o movimento mais van- com marcas de movimento com as pessoas é que elas
mundo cada vez mais volátil, guardista de comunicação cultural. estão se misturando cada
há uma grande oportu- de marca, num mercado Nestes tempos agi- vez mais. Diferenças de
nidade para as marcas onde as palavras-chave são: tados, as pessoas estão gênero e cultura ficam
desempenharem um papel deslealdade, controvérsia e se tornando muito mais completamente borradas,
mais significativo em suas rebelião. pragmáticas - e isso está e muitas pessoas estão
vidas. Mas o que significa ir Então, o que está por colocando uma grande pulando entre identidades
além do propósito? Significa trás da ascensão deste ameaça à monogamia da e coletivos. As marcas tem
você, como marca, assumir consumidor, que chama- marca. Nos EUA, 79% da que ser ainda mais ágeis e
causas controversas. mos de dissidente? Uma Gen Z não se importa se um inclusivas.
O mundo hoje pode realidade superconfusa, produto é de uma marca Esta é a primeira
ser descrito como VUCA. onde a mudança é a única nacional, desde que seja geração que não precisa
Um termo que descreve constante e a desconfiança de boa qualidade. 81% da permissão de gerações
nosso clima cada vez mais é profunda. A incerteza e dos Gen Z estão dispostos mais velhas e estabeleci-
instável: Volátil, Incerto, o desconforto trazem um a abandonar sua marca das para acessar a mídia,
Complexo e Ambíguo. Tudo sentimento de ansiedade favorita se encontrarem um publicar ou até obter um
é caótico e imprevisível. que está presente em toda produto similar com maior empréstimo bancário. Eles
Em todo o mundo, parte. qualidade. podem arrecadar fundos,
vemos uma ampla falta A Edelman realiza um No Brasil 35% dos con- obter atenção global e
de confiança – da política pesquisa anual para medir sumidores ainda são fiéis construir força em números
preocupante e escândalos a confiança do consumidor, às suas marcas preferidas, sem ajuda. Os ativistas da
de empresas de altíssimo a Trust Barometer. Segundo mas agora prestam muito próxima geração estão to-
nível à segurança de dados a pesquisa, a confiança em mais atenção ao preço, mando uma abordagem fur-
e evasão fiscal. E tudo isto instituições, em figuras de preferindo comprar menos tiva para fazer campanhas.
é alimentado pelo acesso autoridade e até na mídia ou esperar uma liquidação, Ao invés de se esforçar
e democratização da está afundando. A pesquisa segundo recente pesquisa para ser visto executando
informação. revelou também que a da Mckinsey & Co. desafios de caridade, eles
Em nossas pesquisas, confiança no governo, em Acrescente a tudo isso estão usando canais online
descobrimos que pessoas empresas privadas e em- o entendimento da gera- para promover uma agenda
desejam que marcas – ao presas de bem social estão ção Z sobre consumismo de conscientização. Mar-
invés do governo – desem- mais baixas do que nunca e sustentabilidade. Só a cas que estão indo nessa
penhem um papel maior na e a falta de credibilidade novidade já não é satisfató- direção, de enraizar um
mudança. As pessoas que- atinge as marcas também. ria. 71% da Gen Z sente que propósito no seu trabalho,
rem que as marcas sejam Somente 7% dos ter novas coisas é superes- estão fazendo isso porque
os porta-vozes e tomem consumidores no Reino timado quando o que eles tem prova clara que os con-
posição sobre as questões Unido, França, Alemanha já têm é bom o suficiente. sumidores querem que elas
culturais mais difíceis de e Espanha descrevem as Quando se trata de drivers participem dessa conversa
hoje. Este é, inegavelmente, marcas como “abertas e de compra, o que real- cultural.
um território complicado honestas”. Os brasileiros mente importa para a Gen Z
para marcas. Como assumir estão abaixo da média é se o produto vai ajuda-los
causas controversas sem global de confiança que é a atingir uma meta. Isso é
prejudicar a sua reputação? de 22%. Só 19% dos nossos duas vezes tão importante
Estamos acompa- consumidores acreditam para eles como o quão legal
nhando um novo movi- que as marcas são honestas. o produto é.
mento onde marcas vão Como se ajustar nesta Além da desconfiança,
além do propósito, que realidade? Nesta era de outra dificuldade para as
chamamos de “A moeda
da dissidência”. Numa
realidade onde os consu-
midores não permitirão às

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empresas não terem uma
opinião sobre questões
O que o No ano de 1984, a multiartista Tina
Turner, alguns anos após o término
físicos, pobres e todas as suas
intersecções, subalternizadas pelas

afeto tem
de um casamento opressor com seu marcas que carregam, produzidas
então marido Ike, lançou o álbum pelo patriarcado branco, rico, he-
“Private Dancer”, que tinha como uma terossexual e cisgênero, possam

a ver com
das faixas principais “What’s Love Got dissolver essas marcas de opressão,
to do with It?” (“O que o amor tem a “redistribuindo a violência” (termo
ver com isso?”)*. utilizado pela artista Jota Mombaça),

isso?
Produzir uma reflexão no contexto perpetuada sobre os mesmos cor-
desta publicação e dessa imersão, pos, desde a “fundação” desse lugar
que se inscreve no campo da indústria chamado Brasil. Ao ocuparem todos
têxtil, da moda e do design, sob o os lugares, poderão assim, expandir e
título principal de Trama Afetiva, nos afetar, com saberes e sensibilidades
leva, invariavelmente, a perguntar: O outras, não baseadas na hegemonia
que o afeto tem a ver com isso? vigente, o que hoje entendemos
O que o afeto tem a ver com como design, moda, economia, arte e
uma das indústrias que mais polui o modos de existência.
planeta? O que o afeto tem a ver com
dois irmãos alemães que fundaram a
Cia. Hering no Brasil? Qual a capaci-
dade dessa indústria em ser afetada
pelos saberes promovidos por sua
Fundação Hermann Hering, frente ao
grupo de participantes selecionados
em sua última edição [disponível
nesse livro]? De que maneira essa in-
dústria e essa economia nos afetam?
Tais perguntas, incitadas pela
energia e pensamento de uma mulher
negra e artista como Tina Turner, nos
Por Cláudio Bueno coloca em posição de insubmissão a
(1983, Vila Nova York, São uma ideia de docilidade e apazigua-
Paulo). É bixa branca, mento de conflitos e contradições,
filho de metalúrgico com que expressões como: cuidado, inti-
costureira, criado na zona midade, amor, afeto, devoção, desejo
leste de São Paulo. É artista – poderiam, como numa espécie de
multimídia, pesquisador armadilha, nos sugerir.
e agenciador de projetos Convocar “a indústria e o varejo
culturais. Correaliza as a se aproximar das novas relações
plataformas Intervalo- de criação, produção, educação e
Escola, com Tainá Azeredo consumo”, como propõem os ideali-
<http://intervaloescola. zadores desse projeto, é solicitar, ao
org>; e Explode!, com mesmo tempo, que essa indústria
João Simões <http:// abra espaço em seus cargos de
explode.life>. Integra o liderança para pessoas e corpos ainda
grupo de prática artística não contemplados dentro delas.
O grupo inteiro. Recebeu Dessa maneira, mulheres, LGBT-
premiações, participou de QIA+, imigrantes, indígenas, pessoas
residências, exposições negras, quilombolas, deficientes
e falas públicas em
instituições nacionais e
internacionais, como: * ”What’s Love Got to do with It?”: Em
Hessel Museum/ CCS Bard tempos políticos e sociais tão com-
(EUA); Delfina Foundation plexos, Tina Turner e sua potência de
e Whitechapel Gallery criação visceral através do Rock, tem
(Inglaterra); Humboldt- inspirado títulos de exposições como:
Universität (Alemanha); Bienal de Berlim (2018), intitulada
Itaú Cultural, Videobrasil, “We don’t need another hero”; ou o
Tomie Ohtake (Brasil), livro “What’s love (or Care, intimacy,
dentre outras. Atualmente Warmth, Affection) Got to Do with it?”
pesquisa as noções de (2017, e-flux, Inc., Sternberg Press).
infraestrutura tecnológica
global e suas implicações
com a terra, o corpo e os
modos de vida. É doutor em

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Artes Visuais pela ECA-USP.
Design
Para
Um
Mundo
Melhor

11
#ModaProNovoMundo ressignificação do consu-
mismo fomentam a criação
de uma “prosperidade
compartilhada”; a cocria-
Por Jackson Araujo ção inspira novas maneiras
de pensar sobre o papel
do indivíduo nas agendas
da sustentabilidade.
É fundamental a
coragem para investir no
cooperativismo como
forma de compartilhar
ganhos e ratear perdas,
sempre ressaltando que o
A atual conjuntura global confirma credibilidade e questionar saldo sempre será positivo
um futuro de incertezas em que o quais são os verdadeiros na planilha que valoriza a
presente se estabelece como canal valores contemporâneos; aprendizagem e o exercício
estratégico de colaboração para o quais vínculos se quer gerar de valores éticos como sua
desenho do novo mundo pautado e com quem. principal moeda.
pelas micropolíticas e seu potencial Essa prática econômica Assim, complementar
transformador. A moda é apenas visa conectar marcas, ao seu papel de apontar
uma delas. criativos e consumidores caminhos e desbravar
A Moda  —  narradora dos tem- promovendo novas in- territórios, ao adotar como
pos  —  encontra-se numa encruzilhada terseções entre seus propósito #ModaProNo-
em que se torna evidente, urgente e realizadores e a sociedade, vomundo, a Fundação
imprescindível a ressignificação de servindo para colaborar, Hermann Hering exerce
posturas socioambientais em seus compreender, reverberar ainda a promoção de
processos de produção. A valorização e articular movimentos de valores humanos (sociais,
da transparência, da criatividade e da inovação, gerando valores afetivos e simbólicos)
participação horizontal convergem éticos e sociais, mostrando fortalecidos pela confiança
para a construção de um novo mundo. que, mediante a circulação e ética, que por sua vez
E é exatamente nesse cenário de de conhecimento especia- potencializam o tecido
profundas reflexões em contraponto lizado, pode-se gerar um social — ou a Trama Afetiva,
a rápidas tomadas de decisão que se sentimento compartilhado em seu papel de conexão
constrói a tal #ModaProNovoMundo, e mútuo entre os partici- de diferentes perspectivas
propósito adotado pela Fundação pantes dessa rede, com e realidades — , promovendo
Hermann Hering. Sob a gestão de reflexos em diferentes a coesão de criatividade
Amélia Malheiros, a FHH pesquisa, valores humanos, como e produção em busca
incentiva e constrói ações que a empatia, a amizade, a da prosperidade.
enxergam nas lacunas existentes entre confiança. Afetos, portanto. Nesse mundo — cons-
os aprendizados formais das escolas As trocas estabelecidas ciente, compartilhado, em
de moda e a realidade do mercado pelos afetos pressupõem rede, que quer construir
um território fértil de incentivo para a reciprocidade, impul- marcas com propósitos
formação de profissionais mais aptos sionando a circularidade transformadores — , novas
a enfrentar as adversidades já postas dos processos. O que se oportunidades só serão
e vivenciadas pela indústria de roupas, defende é a importância aproveitadas por indivíduos
calçados e acessórios. da valorização de um que compartilham, que
Na agenda dessas microrrevolu- sistema em que as relações comunicam sua visão e suas
ções cotidianas, uma potente forma de troca estabelecidas intenções e que acreditam
de economia se fortalece como um “modificam a visão mercantil em fazer esforços para um
novo patamar dentro do conceito de de lastros econômicos para bem maior.
economia criativa, por vezes banali- atos recíprocos e afetivos”.
zado em pautas de um empreendedo- Fortalece-se assim a
rismo autossuficiente e nem sempre ideia de uma economia de
conectado com o bem exponencial. troca e compartilhamento
É a Economia Afetiva, que parte da como meio fundamental
premissa de que vivemos uma nova para a criação de novos
era movimentada pelo senso de res- valores em prol do coletivo,
ponsabilidade coletiva e por um novo sendo a moda um excelente
poder regido pelo desafio de organizar vetor de comunicação e
o todo — vida social, política, econô- ambiente propício para a
mica, cultural — , a partir da criação experimentação de práticas
de uma rede em que cada indivíduo inovadoras, em que: a troca
se sinta parte de um movimento de de informação é fundamen-
transformação socioambiental. tal para a compreensão do
Assim, se faz necessário re- ambiente e do contexto a
pensar os vínculos de confiança e ser estudado; as práticas de
O design
por
restrição

Por Agustina Comas


Designer de moda e
fundadora da marca Comas

Quando conversamos sobre o formato Restrição”. Neste processo criativo


que utilizaríamos na oficina “A Ressur- empírico baseado no ensaio e erro,
reição das Roupas” no Trama Afetiva, a proposta é utilizar peças de exce-
comentei que costumamos fazer este dente de estoque, com defeitos ou
workshop de criação em pelo menos simplesmente em desuso, como ma-
seis horas, idealmente em dois dias, terial para criação de novas tipologias,
para poder induzir os participantes usos, formas e texturas. Restringimos
a entrarem no processo criativo de os recursos de criação a uma peça
desconstrução e terem tempo de (tesouras proibidas!) e o corpo dos
construir suas peças. Neste caso, tí- participantes. À partir destes ele-
nhamos duas horas e meia disponíveis mentos, propusemos experimentar a
e Jackson Araujo falou: “O tempo não maior quantidade de possibilidades
vai ser problema, essa turma é boa de vestir o corpo com a peça para
e eles estão abertos, pode adaptar gerar o maior repertório possível de
para o tempo que temos e fazer uma ideias. Uma espécie de brainstorming
versão ninja, pode levar eles aos seus corporal com muitas mãos e corpos,
limites, vai ser bom para o começo do gerando uma verdadeira ressureição
trabalho, um injeção de energia.” das roupas.
Nos dias anteriores à oficina, O ambiente carinhoso, inspirador
fiquei imaginando que para dar certo e alto-astral da Trama nos tomou a
e eles entrarem na onda eu ia ter todos. Esta oficina inaugurou para
que colocar muita energia. Ficava mim uma nova era de oficinas extre-
me imaginando numa oficina mega- mamente criativas e MUITO tranquilas.
frenética, eu bem louca indo de um Comecei a ministrar oficinas de
grupo ao outro para colocar pilha sem upcycling em 2009 e, provavelmente
parar… Fiquei até meio estressada só pelo meu jeito meio agitado, nestes
de pensar. anos todos minhas oficinas tenham
No dia, cheguei bem tranquila, fiz sido muito empolgantes, mas cansati-
uma apresentação de 20 minutos para vas ao mesmo tempo. Foi maravilhoso
embasar o trabalho prático e fomos perceber que colocando a energia de
para o salão de trabalho para começar forma e tamanho precisos ela volta,
a pôr as mãos (e o corpo) na massa. circula e aumenta.
Para minha surpresa (fiquei orgulhosa)
a oficina foi zen puro. Em vez de sair
exausta como costumava ir embora
das minhas oficinas, sai cheia de ener-
gia. Fluiu de uma forma fascinante,
com cada grupo se amarrando na sua
pesquisa com concentração e dedica-
ção. Foi lindo ver essa turma talentosa
e aberta à instigação criando.
Como tínhamos pouco tempo
me concentrei em induzi-los a
experimentar ao máximo o trabalho

13
de criar a partir da limitação, do que
na Comas chamamos de “Design por
O ecossistema do
design vital

Por Revoada | Adriana


Tubino e Itiana Pasetti
Sócias-fundadoras

A Revoada ao longo de sua existência COLETA E COMPRA DE RESÍDUOS e transparente entre a Revoada e seus
foi movida por muitas perguntas. As clientes, que podem acompanhar e
perguntas nos geraram movimento e Compramos as câmaras de pneus e entender o passo a passo de todo
curiosidade, o que nos levava ao pró- tecidos de guarda-chuva direto dos o processo produtivo resgatando a
ximo passo. Quando começamos em borracheiros e dos catadores de lixo história das coisas, de onde vem, pra
2013 nossa principal pergunta era: por em uma operação fair-trade. Também onde vão e qual o seu real valor.
que colocar mais produtos no mundo, fazemos parcerias com fabricantes Nossa experiência nos mostra
se o mundo já está cheio de excessos? de câmaras e guarda-chuvas, reutili- que é possível criar ecoprodutos
E estava aí mesmo a resposta: vamos zando o que não passa no seu con- desmontáveis ou biodegradáveis com
trabalhar com os excessos! E assim, a trole de qualidade e seria descartado. design, criar processos produtivos
jornada da Revoada começou como Geramos renda para diversas famílias circulares e relações de consumo
uma marca que cria acessórios de que passam a ser nossos parceiros e mais conscientes. Podemos mudar de
moda usando resíduos como principal fornecedores. um modelo linear de produção, que
matéria-prima, especialmente câ- tem causado muitos danos ao planeta,
maras de pneus e tecidos de guarda- Higienização dos resíduos para um modelo circular de produção
chuvas descartados. Higienizamos os resíduos em uma capaz de gerar abundância de recur-
Logo encontramos o nosso lavanderia industrial que possui cap- sos e impacto positivo. Podemos olhar
próximo desafio: criar um processo tação de água da chuva e tratamento para a sustentabilidade a partir de
produtivo diferente, que pudesse correto da água. uma visão 4D, plantando e colhendo
incluir a cadeia de resíduos e gerar resultados nas dimensões culturais,
impacto positivo para as pessoas Produção ambientais, sociais e financeiras.
e todo ecossistema envolvido, do Produzimos em pequenos ateliês de Podemos reinventar!
começo ao fim, ou melhor, do começo costura e em cooperativas de cos- Levamos o Design Vital pra dentro
ao recomeço. A partir desse desafio a tureiras, incentivando o seu cresci- do Trama Afetiva 2018 e deixamos
Revoada experimentou novos forma- mento e profissionalização. que ele circulasse vivo e livre para
tos para a criação de produtos, de somar com a sabedoria de uma turma
processos produtivos e das relações Logística Reversa de trameiros com múltiplos talentos.
de consumo, utilizando como inspi- Fazemos produtos para serem durá- Juntos trocamos experiências e
ração um híbrido de diversas ferra- veis. Ao final da sua vida útil, pedimos insights ajudando a preparar um solo
mentas como a Economia Circular, o que os nossos clientes, os Vuelistas, fértil para as criações que iriam sair
Cradle to Cradle, o Design Thinking e entrem em contato com a Revoada. dali. Que belo projeto o Trama Afetiva!
a Fluxonomia 4D. E é essa exploração Assim, podemos cuidar da logística Desejamos que os afetos dessa trama
prática e híbrida que batizamos de reversa e reaproveitamento dos ma- vital que tecemos juntos voe alto!
Design Vital. Um processo vivo, criado teriais como novas matérias-primas,
para aguçar a inteligência sustentável reiniciando o ciclo novamente.
dentro e fora da Revoada.
Design: a possibilidade de projetar, Venda
desenvolver coisas ou processos. Vi- Nossa venda é feita por meio de
tal: o que afeta de maneira essencial, Lotes Especiais. Funciona como uma
o que é necessário para a manutenção pop-up store online com os produtos
da vida. Esse é o norte do nosso vôo. E disponíveis sob encomenda. Uma
como fazemos isso? venda sob medida, sem excessos,
proporcionando uma relação próxima
A transformação pelo
design essencial

O Brasil e a América O Design Essencial é “a


Latina são cenários perfei- capacidade de olhar para
tos para esse processo, têm uma cultura, descobrir,
ainda em grande parte de despertar e potencializar
seu território um contexto seus valores essenciais,
de miséria que cobre traduzindo-os em con-
um universo de riquezas ceitos que, por meio da
culturais e criativas. Um ferramenta de beleza e Em nossa fala sobre
grande cenário onde quem estética universal chamada “Artesão Urbano – Identi-
não vê beleza em tudo está Design, tornam-se agentes dade e Manufatura”, aos
cego, e onde desvendá-la a de transformação do participantes do Trama
partir da aparente escassez, mundo”. Essencial, é aquilo Afetiva 2018, mostramos
transforma tudo. Olhando que não é acessório, ou o como o Design Essencial
para comunidades apa- que for melhor, mais útil e foi aplicado em um projeto
rentemente carentes e em mais abrangente para mais que, a convite do SEBRAE
cenários aparentemente indivíduos. Aquilo que inclui PE, reuniu 30 artesãos e
escassos, aprendemos ao mais existências. artesãs da região metropo-
Por Marcelo Rosenbaum longo do desenvolvimento A partir da experiência litana de Recife.
Designer e fundador do A Gente Transforma que e aplicação do Design Es- Esse é um exemplo
do Instituto A Gente o design é ferramenta para sencial criamos o Instituto que conecta a identidade
Transforma que essas comunidades A Gente Transforma, que cultural ao mundo con-
reencontrem sua própria promove transformação temporâneo e desenha
A confiança de que todo identidade, autoestima e social disruptiva por meio novos caminhos para a
o ser humano tem seus autonomia. da integração de saberes cultura do artesanato no
potenciais e talentos, e A beleza que o Design ancestrais com os saberes Brasil. Juntos, atualizamos
que eles servem para Essencial vê, está, portanto, da ciência de hoje, para forças criativas e saberes
despertar em si e nos no potencial intrínseco desenvolver produtos, manuais para a produção
outros o espírito criativo, é aos saberes e expressões tecnologias e serviços de peças de artesanato e
o princípio motivador do culturais ainda encobertos sustentáveis, ampliados design, usando ferramentas
Design Essencial. e onde matérias-primas, por meio de negócios de colaborativas num processo
Como precursor dessa técnicas e talentos ainda impacto e de subsídios. de mentoria em sintonia
metodologia, em algum são peças desencaixadas de A metodologia do com os aspectos mais
momento ao longo dos 20 um todo. Design Essencial é aplicada relevantes da cultura e do
anos de minha carreira O Design Essencial é para fazer um movimento mercado contemporâneo.
como designer, depositei a ferramenta de conexão de reconhecimento da cul- Enxergamos nessas
confiança no meu talento dessas peças. Uma me- tura local como um impor- conexões realizadas por
para revelar por meio todologia que redesenha tante aspecto de inclusão meio do Design Essencial
das memórias, saberes e as relações entre peças e criação de identidade. É uma grande sinergia com as
sentimentos das pessoas, a dentro do que o mundo como uma ponte que liga forças criativas que movem
beleza que via em todas as conhece como economia conhecimentos ancestrais o Trama Afetiva, um espaço
coisas. O design tornou-se criativa, para gerar um fluxo e o conhecimento cienti- potente de reflexões sobre
então a ferramenta para de abundância e prospe- fico, tradição e inovação, arte, artesanato, design,
alcançar e materializar ridade para as pessoas. impactando positivamente moda, identidade cultural,
propósitos. Disso nasceu, Pois seus potenciais são o processo de educação e excessos e desperdícios, se
há sete anos, o A Gente compartilháveis e por essa cidadania. formatando a cada edição
Transforma, intuitivamente via, tudo é interdependente. como um movimento
como uma ação que revelou Da origem ao mercado, da onde estamos todxs juntxs
por meio das pessoas essência à releitura sobre prototipando novas formas
e da confiança em seus nossos valores. de viver.
potenciais, um processo
de validação e valorização

15
das comunidades do Brasil
profundo.
Raiz-tronco,
afeto
Por Patricia Sayuri Minha fala no Trama Afetiva
Artista visual e têxtil foi sobre a potência da
ancestralidade e dos afetos
na construção de uma
pesquisa artística. Essa foi a
história que contei.
Escolhi o Shibori e
o índigo japonês como
caminho para conhecer
melhor as minhas raízes
japonesas. Plantação, tingi-
mento, amarras, costuras,
tecidos. Engraçado como as
coisas estão sincronizadas bem, mas que para ele não me diziam diretamente
e, de alguma forma, elas parecia nunca estar bom. mas ainda sim faziam parte
respondem conforme me “Vô, por que é que você de minha história e iden-
movo. É uma dança em faz tantos, mas desmancha tidade, é muito doloroso.
par. E esse movimento me tudo depois?”. Ele me olhou Cicatrizes, né?
trouxe um mundo. de canto, enquanto esco- Mas hoje vejo que
Venho de uma família lhia qual seria o próximo a formei um tecido rico em
que tem uma conexão ser sacrificado, e disse “Eu detalhes. Cheio de furos,
especial com os fazeres não achei ainda o som de rasgos, bordados, cor. E
manuais. Minha família é Okinawa. Não tá ficando como ele cresceu! Remen-
imigrante japonesa, e nunca igual. Eu quero o som que dei ele de Botucatu até
foi de contar sobre o pas- tem na minha cabeça, do Okinawa, num processo de
sado, nem sobre o processo meu sanshin que quebrou. auto-conhecimento e res-
de vinda para o Brasil. Mas Mas um dia eu vou conse- gate. Desenterrei uma nova
eu cresci vendo meu avô, guir achar esse som, cê vai ramificação da nossa árvore
que aprendeu o ofício de ver.” genealógica e isso me fez
marceneiro quando jovem, Naquele momento, fui compreender os ciclos
declarar o amor pelas suas arrebatada pela potência ancestrais. Revelou que
origens na sua produção de seu desejo em resgatar cada um de nós carregamos
de sanshin, instrumento uma memória perdida pelo um pedaço do que foram
de cordas típico do Japão, tempo através de uma nossos antepassados.
muito parecido com um produção artesanal. Me dei Através do fazer com
banjo. conta de tamanho afeto que as mãos eu sigo, ao lado
Ele produz este instru- um objeto carrega, histó- do meu avô, buscando
mento incessantemente há rias de uma vida inteira, a compreender a nossa
pelo menos 15 anos. Cons- trilha sonora de tempos de identidade, para que pos-
trói, testa o som, desman- celebrações e momentos samos preservar as nossas
cha e refaz, num ciclo sem solitários. Vi ali que as mes- histórias.
fim. Minha curiosidade era mas mãos que tocavam as
imensa, queria entender o cordas no passado, estavam
porquê de tantos instru- trabalhando sem parar
mentos desmanchados, que para preservar aqueles
aos meus ouvidos soavam instantes.
Esta história contagiou
meu caminho dentro das
artes manuais. Além de
me tornar artista-artesã,
encontrei nas artes têxteis
japonesas a minha própria
maneira de compreender as
minhas raízes. E nem tudo
foi calmaria. Adentrar em
segredos que foram guar-
dados por tanto tempo, que

16
O lixo que Hoje, eu diria que está nas mãos de quem
cria as roupas a responsabilidade por alguns –

não é lixo
grandes – problemas de aceitação de peças e
produtos. Atingir a meta de entregas de uma co-
leção é algo realmente estressante onde não ter
tempo implica em decidir muito rápido. O deta-
lhe passa despercebido em meio à 3, 4 coleções
diferentes e simultâneas, a aprovação de peças
Por Daniel Philipi Knop é no ritmo “pá-pum”. Tempos depois da proto-
Comunicação e eventos da tipagem o problema vai aparecer lá na frente,
Fundação Hermann Hering quando rodar a produção ou quando os pedidos
não chegarem para determinados artigos.
A gente só vai produzir menos lixo se errar
menos, se comprar menos por impulso. Se ouvir
mais as pessoas. Porque realmente sobra! Sobra
muita coisa e é mais trabalhoso fazer/criar algo
com esse tipo de material porque não há um
padrão, não há quantidade estabelecida para
sobrar. Quanto menos sobrar, melhor. E aí as
opções de produzir algo a partir disso começam
A minha relação com o valor do dinheiro, com o a enfrentar desafios. Acaba sendo mais fácil dar
ato de zelar/manter/cuidar e por consequência, um fim do que encarar o estoque.
com o descarte, é profunda: desde criança em Se já é complicado lidar com rolos de tecido,
minha casa evita-se o desnecessário. Evitamos o que dizer do ‘resíduo têxtil? Esse sim é mais
gastar com coisas sem sentido, economizamos difícil de lidar, pois é o material que foi para o
luz, consertamos o que quebra. Dinheiro não é a processo, foi talhado (virou retalho). É a miu-
solução imediata para tudo, há algo afetivo que deza. Que se mistura, fragmenta, amassa e fica
emana quando a gente cuida de algum objeto, de mais próxima do que consideramos lixo.
alguma roupa que amamos, de um móvel, uma Esse sim exige uma criatividade e vontade
lembrança, uma pessoa. maior ainda, porque o afeto começa na sepa-
Acho que isso tem a ver com uma consciên- ração. Botar a mão na massa e sair de lá com
cia de tentar dar mais uma chance a coisas que, as mãos azuis de índigo. É um tipo de esforço e
por muito menos, as pessoas já descartam. Lá trabalho que no momento não cabe na indústria.
em casa a gente já produz muito menos lixo do Não há quem faça.
que outras famílias e procura consumir coisas Graças aos criativos/investigadores/desig-
que fazem sentido para nossa vida. ners/incomodados em unir processo manual
Olhando assim, talvez haja uma coerência com tecnologia é que encaramos a nova matéria
nisso – manter, cuidar, dar valor pode ser inter- -prima por meio do upcycling.
pretado na versão da indústria como planejar,
usar o que já tem, reforçar o propósito, gerar
valor. Isso tem a ver não só com inteligência no
processo, mas com aproximar uma marca de seu
consumidor, para assim estabelecer uma relação
– comercial – mas que tem verdade por trás.
Para entender melhor o que é descarte nas
indústrias – especialmente a têxtil - é preciso
elucidar que ‘resíduo’ é muito diferente de
‘sobra’. Sobra – como o nome já diz – é o que
sobrou. É o tecido ou malha que deixou de ser
usado mas está lá, inteiro, novo... pode ser
um finalzinho de rolo, ou um fardo inteiro que
acabou perdendo a vez porque algum pedido foi
cancelado ou algum artigo não gerou o sucesso
esperado de vendas. Ou foi tirado da coleção. É
aí que está o ponto: tanta sobra é fruto de pla-
nejamentos que seguiram outros caminhos ou
mudanças de ideias. “Não consegui encaixar o
suede na coleção” ou “meia tonelada foi tingida
no tom errado”... Sobra é alguma conta que foi
além do que devia.
Essa sobra poderia ser vendida? Claro
que sim – muitas vezes é, mas é vendida por
um preço muito mais baixo do que seu valor
comercial no início da história toda. A estampa
já “ficou antiga”, o moletom é muito pesado na

17
primavera...
Lixo ou
Desperdício?

naquele momento de explosão criativa.


Dessa vez, estaríamos no seminário de aber-
tura “Design Para Um Mundo Melhor””, no painel
“Lixo ou Desperdício?” e poderíamos propor
uma experiência aos novos trameiros. Iniciamos
o encontro declamando o nosso manifesto,
que explica a razão de ser da Comida Invisível,

Entrelaçados
uma empresa social que atua com educação e
conscientização no combate ao desperdício:

de afeto
Na produção, frutas que caem no chão
No transporte, grãos são soprados ao vento
No mercado, legumes que apodrecem
Na geladeira, estragou, vai para o lixo
Quando recebemos o convite para E assim, o que era belo, real
participar novamente do Trama Vai dando espaço ao invisível
Afetiva o sorriso saiu espontâneo,
Por Dani Leite alegria quase infantil e “claroooo que Esse invisível surgiu na minha vida numa tarde
Advogada e vamos” foi a única expressão possível de sexta-feira quando eu e meu filho Pedro
criadora da naquele instante. Nessa trama se resolvemos fazer geléia. Precisávamos de frutas
plataforma entrelaçam pessoas, texturas, afetos, mais maduras e o destino nos levou ao Ceagesp
Comida Invisível e um emaranhado de possibilidades, (o mercado).
saberes, encontros. A experiência proposta aos trameiros de
No primeiro Trama”, em 2016, esti- 2018 não poderia ser outra senão um passeio no
vemos com uma experiência sensorial, local que mudou o rumo da minha história. E foi
realizando o almoço dos trameiros e assim que tudo começou.
um bate papo sobre o desperdício de Fazia um tempo que não passava por lá, um
alimento, o distanciamento do homem mundo de frutas, legumes, verduras, caminhões,
com a natureza e as infinitas possi- carretas, gritos e correria. Ao passar pelos
bilidades que temos quando verda- pavilhões me deparei com um enorme desper-
deiramente nos conectamos com os dício. Não podia acreditar no que meus olhos
insumos que o planeta nos oferece. avistavam. Frutas perfeitas jogadas no chão,
Foi lindo poder compreender ali sujeira por todos os lados.
que seriamos uma inspiração para a Fotografei um pouco do que via, recebendo
expiração que eles estavam sorvendo olhares críticos e ameaçadores dos responsáveis

18
cidades, não poderia dos distribuidores, não problemas e dificuldades
conviver com esse desper- serve para os supermerca- que fizeram daquele um
dício! Mas é justamente a dos e consumidores que ali local que funciona de ma-
falta de cultura, do senso buscam as frutas e verduras neira caótica porém bela,
coletivo, da ausência do perfeitas para alimentar encontrei pessoas também
compartilhar, que nos faz suas famílias, mas que dispostas em melhorar o
estar onde estamos. fariam a alegria de tantas sistema, acertar os proble-
Entendo a desigualdade outras famílias que en- mas, buscar soluções.
do mundo e procuro fazer contram-se à margem dos Analisava tudo aquilo,
o que posso para minimi- supermercados e feiras. perplexa com a grandio-
zar esse abismo. Procuro Após alguns dias pen- sidade daquela operação,
entender as causas e sando sobre o tema, escrevi com as formas, cores,
viabilizar soluções ao invés para os responsáveis pelo palavras, gestos típicos
de buscar culpados e acu- Mercado descrevendo daquele local onde prosti-
sações vazias, que em nada o que vira e solicitando tutas e pastores evangélicos
contribuirão para resolver uma reunião para tratar caminhavam lado a lado
o problema. do assunto. Mencionei a em busca de seguidores.
Ao ver tudo aquilo, eles que podíamos em Local de gente simples e
pelo caos ali instalado. minha alma gritava. Um conjunto, unindo forças, também de poderosos.
Um mar de frutas atiradas passeio no mercado com somando esforços, elaborar Via os interesses e as boas
ao vento. Comecei a ver meu filho para comprar fru- um projeto efetivo contra intenções também. Cada
os rostos estampados das tas para fazer geléia podia o desperdício, em prol do dia, uma luta.
crianças famintas, dos causar tamanha mudança reaproveitamento. Frutas, legumes e ver-
catadores de lixo, dos em minha vida? Por que Podíamos transformar duras num frenético ir e vir.
moradores de rua nas pilhas ao sair de lá minha alma o Mercado em um centro Negócios, operações milio-
de mamão, abacaxi, melão, ainda permanecia naquela de referência em economia nárias por todos os lados.
melancia que surgiam na situação, naquelas cenas? criativa, no correto uso de Passei a frequentar o
minha frente. Tentei esquecer o seus insumos em prol de mercado, explorar e conhe-
Quanta barriga vazia que vi, mas o desperdício um desperdício zero. Sabia cer as infinitas possibilida-
clamando por um pouco rondava a minha mente. Me que isso era possível e que des que ali se desnudavam
daquilo tudo?! Via pessoas deparava com mendigos, poderíamos tornar viável, aos meus olhos. Seu ritmo e
e seus olhares fundos, cujo famintos e revivia a cena bastava agirmos com cons- sua desajeitada harmonia.
alimento demora a chegar. do Mercado. Seguia para os cientização, informação e Aos trameiros de 2018,
Vi as leis que aprisionam compromissos diários e as comunicação. Poderíamos ofereci meu olhar, para que
e não contribuem para a conversas sempre traziam implementar pontos de vivessem um pouco do que
solução de problemas reais, para mim as infinitas coleta do descarte e cadas- vivi, sentissem um pouco do
que por tanto controle possibilidades de mudar trar entidades interessadas que senti e despertassem
e responsabilidades, invia- aquela história. nesse alimento. para a beleza daquele lugar.
bilizam as doações, incen- Já não tinha como Mencionei que gostaria Entender o lixo é
tivam atitudes desumanas. seguir em frente sem de atuar em conjunto com compreender o homem.
Vi burocratas que negam tentar entender a razão do eles e ter permissão para O que descartamos revela
permissões, sem ao menos desperdício. Porque jogar recolher esse alimento quem somos.
andarem pelos caminhos no chão frutas e verduras descartado e realizar uma Sei que eles puderam
que os ajudariam a compre- perfeitas? Somente um destinação mais digna, com perceber a beleza e a
ender a situação na prática. coração muito ressequido o apoio de entidades não brutalidade daquele lugar,
Passando por aqueles poderia assim proceder. governamentais e pessoas onde não há certo, errado,
caminhões e depósitos Seria possível transformar da sociedade civil dispostas bonito, feio, próprio ou
me dei conta do tamanho tudo aquilo? a fazer desse um mundo impróprio. Onde a escassez
desperdício que ocorre A cabeça fervia, o melhor para todos nós. convive com a abundância.
nesse trajeto do alimento coração pulsava. O Mer- E foi assim que descobri O meu amor e respeito
do campo até a nossa mesa. cado explodia em minha o Mercado e todas as suas a todos e a cada um que
Quantas pessoas poderiam alma, invadia meu ser. Um entranhas. Fui chamada faz isso ser possível, que
ser alimentadas com as mundo de cores e sentidos. para uma reunião, conheci promove o transbordar,
frutas e legumes deixadas Mamão, abacate, uva, os problemas daquele lugar, o despertar.
no chão? Um país com ta- banana, limão. visitei o local com seus E assim, mergulhamos
manha desigualdade social, Pensei que seria possí- responsáveis que, a medida na trama.
em que favelas pipocam vel dar um destino correto a em que caminhávamos,
pelas paisagens das grandes esse alimento que, na visão iam relatando todos os
Diário refluxo
Por Peri Pane
Músico, artista visual e performer

Em 2003, recebi um papel da Os desdobramentos dessa


prefeitura da cidade de São Paulo intervenção fluíram e fluem até hoje.
anunciando o início da coleta seletiva A ação se repetiu ao longo desses 15
no bairro em que eu morava. Foi a anos. Em Barcelona (2006), ao lado de
primeira vez que comecei a separar o Renata Caos, em Nápoles (2009), no
lixo reciclável em casa. Rio de Janeiro (2011), durante a Rio
Logo me dei conta de que quando +20, e novamente em São Paulo (2011),
eu estava fora de casa, andando pela na virada sustentável, com mais seis
rua, era muito difícil encontrar lixeiras mulheres e homens refluxos.
apropriadas para o descarte seletivo Ao passar desses anos também
e que os materiais recicláveis acaba- vi nascer a vocação educativa dessa
vam misturados com todos os outros performance. Talvez por abordar esse
tipos de resíduos nas lixeiras comuns. assunto tão importante (e ao mesmo
Como sempre. tempo menosprezado e esquecido)
Esse comportamento dúbio me de uma forma direta, simples e lúdica:
incomodou. Então comecei a imaginar quanto lixo uma pessoa produz em
uma roupa com compartimentos sete dias? Quanto você produziria? O
para guardar toda a minha produção que o seu lixo diz a respeito de quem
pessoal de lixo para usar quando eu você é, de qual o seu lugar na socie-
estivesse fora de casa. dade, de quais são as suas escolhas?
A partir dessa ideia surgiu o mote Uma vez, durante uma perfor-
de uma intervenção urbana poética mance, um morador de rua me disse:
que chamei de Diário Refluxo: durante “onde se tem lixo se come”. A frase e
uma semana uma pessoa comum suas várias interpretações possíveis
guarda todo o seu lixo pessoal em ainda ressoam na minha cabeça: o lixo
uma capa com bolsos transparentes. como indicativo de riqueza; a riqueza
Essa pessoa se transforma no homem atrelada ao desperdício; o desperdí-
refluxo. A capa seria chamada de cio como fonte de subsistência para
parangolixoluxo. uma população pobre.
Com a palavra refluxo queria É o momento de repensar os pa-
sinalizar um movimento oposto ao radigmas da nossa sociedade em que
fluxo intermitente de descarte/esque- ter é melhor do que ser, ou ainda, ter
cimento que move a cultura consu- é condição para ser. Em que riqueza
mista. Também brincava com o nome virou, pervertidamente, sinônimo de
do grupo Fluxus, que surgiu nos anos acúmulo e não de diversidade.
1960 com performances que extrapo-
lavam o lugar convencional da arte.
O nome parangolixoluxo era uma
referência ao mesmo tempo aos
parangolés do artista Helio Oiticica
e ao desfile da Beija-Flor de 1988,
em que o censurado cristo mendigo
criado pelo carnavalesco Joãosinho
Trinta, desfilou coberto com sacos
plásticos de lixo.
Convidei a artista Marina Reis para
confeccionar a capa. A performance
foi registrada num diário manuscrito e
ilustrado por polaroides e colagens; e
também em um vídeo-diário, gravado
e editado por José Luiz Sampaio e
Daniel Seda. Nasceu assim, cheia de
pretensões artísticas, a performance
Diário Refluxo.

20
Novas perspectivas para
o processo produtivo

Por Flavia Aranha


Estilista engajada com o
desenvolvimento sustentável da moda
e do meio em que está inserida

Compartilhar com os Trameiros 2018 é sobre


aprender, trocar e construir novas reflexões
sobre o meu próprio ofício. É um grupo plural,
que traz identidades e contextos diversos e que
conectam a experiência do fazer, do processo
muito além da técnica.
Uma conexão de alma e um convite para o
olhar atento sobre nossas escolhas, nossa tra-
jetória e o impacto destes caminhos em nossas
vidas, na nossa comunidade e no mundo.
Imergimos em pesquisas de corantes
naturais com a proposta de olharmos profun-
damente para materiais disponíveis em nosso
cotidiano. Materiais que usualmente descar-
tamos, e, por meio das técnicas de tingimento
natural, podemos incorporá-los para criar novos
produtos e cores, utilizando um olhar de design
circular.
Muitas vezes esses materiais estão disponí-
veis no nosso dia a dia em pequena e também
grande escala. Pensando em rede, podemos
articular grandes processos conectados e gerar
novas perspectivas para o processo produtivo.
Se incorporarmos a borra de café como cor
em uma linha criativa, poderemos nos conectar
com uma abundância de parceiros e pequenos
produtores que vendem café todos os dias em
nosso bairro. A questão é ter um olhar amplo
e aberto para alinhavar essa nova cadeia de
fornecimento ao nosso redor, gerando valor
para todos os elos.
O que é lixo para um vira insumo para
outro. Esse material pode ter nova vida antes
de ser descartado, e ainda assim, ser inserido
em processos de impacto ambiental positivo.
Todo mundo ganha: marca, fornecedores, e
sociedade.

21
Processo
Criativo

Reflexões sobre uma


experiência vivida Por Zina Leal
Artista plástica e mestranda em
Design de Moda e Tecnologia do
Vestuário

Participar do Trama Afetiva foi para senti solitária nessa busca, mas com trabalho é ferramenta de transforma-
mim um presente. A palavra “Afetiva” vontade de saber mais sobre essas ção política e social. Quase todos os
foi uma das motivações para eu práticas e de conhecer empresas em palestrantes falaram sobre desejos e
ter me inscrito para participar da que a sustentabilidade faça parte esperança de termos um mundo com
seleção do projeto. Vibrei ao saber do seu propósito. Com esse senti- menos desigualdade social e com
que fui selecionada, em função da mento, cheguei no primeiro dia de mais responsabilidade com o meio em
possibilidade de participar de uma Trama Afetiva. que vivemos.
imersão em moda sustentável, tendo Ainda sem saber em que “territó- Aquele dia parecia um dia de festa,
como ferramentas de transformação, rio” estava chegando escolhi um lugar onde velhos conhecidos, que há muito
criatividade e troca de afetos. para sentar. Seria um longo dia de pa- não se viam, se encontraram para
Com experiência de mais de vinte lestras e apresentações. Inicialmente, falar da vida e contar um pouco das
anos no segmento de moda, comecei, temi que o tempo fosse mais longo coisas que estão fazendo. Sendo que
há dois anos, a refletir sobre o lixo do que a hora marcada pelo relógio. para grande surpresa, falaram com
que produzimos e passei a desenvol- Como é de costume, após me sentar, o “coração”, contando histórias que
ver roupas com tecidos que estão em olhei em volta e comecei, cuidado- emocionam e que me fizeram acredi-
desuso e a fazer objetos de pano com samente, a observar as pessoas que tar, que há sim, um grupo de pessoas
as sobras. Praticar a sustentabilidade estavam ao meu redor, na expectativa comprometidas com uma nova forma
e trabalhar de forma responsável com de obter pistas sobre o que poderia de agir, acreditando que é possível
o meio ambiente se tornou um desafio de fato ser o Trama Afetiva. se praticar uma Economia Afetiva,
e uma meta a ser alcançada de forma Começaram as palestras e aos valorizando o outro, seus desejos
integrada com o trabalho e a vida. poucos aquele sentimento de estar e suas escolhas e entendendo, que
Mudar hábitos cotidianos, esco- num lugar estranho foi se modificando para fazermos diferente, é preciso o
lher caminhos mais difíceis e des- num misto de alegria e esperança. coletivo no trançar de uma rede com
conhecidos são alguns dos desafios Ouvimos vários relatos em que o diversidade e respeito.
que encontramos quando desejamos trabalho é mais do que a possibilidade As primeiras semanas foram
ser sustentáveis. Muitas vezes, me de ter um salário ou fazer dinheiro. O muito preciosas. Tivemos contato
com novas formas de produção em imersão; na nossa Trama Afetiva, que Tivemos quatro semanas para
áreas diversas. Todas embasadas no aos poucos ia tecendo várias tramas exercitar, aprender, ouvir e propor
conceito da Economia Criativa, pois subjetivas juntas. soluções para uma série de malhas
se organizam dentro dos seus quatro Visitamos o ateliê de Flávia de algodão paradas em estoque e
princípios norteadores: diversidade Aranha, que fabrica roupas com que foram doadas pela Cia. Hering via
cultural, inovação, inclusão social e tecido orgânico e tingimento natural. Fundação Hermann Hering. Perguntei-
sustentabilidade. Cada imersão era Ali escutamos sobre o seu processo me se não seriam muitos dias. Não, o
mais um dia de satisfação e alegria de criação, o quanto suas memórias tempo passou rapidamente, um dois,
por fazer parte do Trama Afetiva. afetivas são importantes, como a três e de repente, quatro semanas já
Fizemos uma visita ao Ceagesp – valorização das tradições culturais tinham se passado. Cada dia foi de
uma das principais empresas estatais e os saberes por meio da produção aprendizado e troca de saberes.
brasileiras de abastecimento, terceiro artesanal. Vivenciamos o processo Ao final do projeto, vários objetos
maior centro atacadista de alimentos de tingimento natural, enquanto e roupas foram desenvolvidos. Criei
do mundo e o primeiro do Brasil e ouvíamos a história da marca. Entre uma almofada gigante, a “Almofa-
da América Latina. O mundo inteiro panelas, cascas de cebola, borra de lange”. A ideia surgiu ao pesquisar no
desperdiça por ano 1.3 bilhão de café e outros materiais orgânicos dicionário o significado da palavra
toneladas de alimentos. Isso equivale descartados, o espaço da sala ao NÓS, que é o conceito da coleção
ao Produto Interno Bruto - PIB da quintal foi tomado por uma alegria cocriado pelo time de participantes.
Suíça, um dos dez países mais ricos do contagiante, permitindo sentir um Nós também tem como significado as
mundo, enquanto pessoas morrem de gosto de infância enquanto os tecidos articulações das falanges dos dedos. A
fome. Observar quanto de alimento cozinhavam. Cada pessoa ali presente “Almofalange” é um desejo represen-
é desperdiçado por dia e que ainda ganhava a possibilidade de entrelaçar tado de que possamos por meio das
estão perfeitos para o consumo e suas memórias com as cores que aos nossas mãos e do entrelaçamento da
que são descartados diariamente, me poucos surgiam nos tecidos. diversidade, construir uma narrativa
fez refletir... Saber que estávamos ali E o que contar sobre a visita à de luta e de transformação.
sendo guiadxs por uma pessoa que YouGreen, uma cooperativa de cata- O Trama Afetiva me faz reacreditar
mudou sua vida, inventou a plata- dores que realiza o trabalho de Coleta e ressignificar alguns conceitos e
forma Comida Invisível e que agora Seletiva, Triagem, Conscientização, entender que para fazermos diferente
trabalha em busca por um mundo Diagnóstico e Logística Reversa de re- é preciso a força do coletivo: NÓS.
melhor… síduos recicláveis, tendo como missão A imersão terminou, mas a Trama
Uma inquietação tomou conta de elevar a qualidade de vida e renda dos Afetiva permanece com os “NÓS”
mim! Mas, a imersão não era sobre trabalhadores? Ter a oportunidade de bem atados e com muitas pontas
moda? Sim! A moda é muito conhe- visitar um lugar que trabalha com o soltas para que possamos continuar
cida como um campo reservado aos lixo me fez repensar muitas coisas do “tramando” e assim, aumentando
costumes e adornos, ao que coloca- meu dia-a-dia. É impactante chegar a rede, valorizando o outro, seus
mos sobre o corpo, sendo associada num imenso galpão e ver como um desejos, suas escolhas e crenças, com
às tendências ditadas pelos desfiles. grupo de pessoas executa de forma respeito e diversidade.
Mas, ela vai muito mais além do que tão linda uma atividade que, a princí- Só assim poderemos alcançar
a roupa e os acessórios que usamos. pio, é desqualificada pela sociedade. um mundo com menos desigualdade
É um sistema social, baseado no Percebi, o quanto preciso aprender social e mais responsabilidade com o
comportamento humano e que serve sobre o meu lixo e o quanto preciso meio em que vivemos.
como meio de comunicação e intera- mudar alguns dos meus hábitos
ção entre as pessoas. E por meio dela cotidianos.
podemos contar uma história e nos Além de imersões criativas,
colocarmos como sujeitos ativos no tivemos palestras com pessoas de
meio em que vivemos. trabalhos diferentes, mas comprome-
tidos com a sustentabilidade. Como
A indústria da moda envolve muito é o caso do trabalho de Itiana Pasetti
mais que produção e comercia- e Adriana Tubino, que na sua marca
lização de roupas e acessórios: Revoada produzem acessórios e
envolve toda a mídia de massa, roupas com tecido de sombrinhas e
agências de propaganda, agên- câmeras de pneu.
cias de modelos, consultorias
empresariais e especializadas.
“Em termos de Brasil, a moda é
igualmente responsável por um
significativo número de empre-
gos diretos – na indústria e no
comércio – e indiretos, como é o
caso, por exemplo, das agências
de publicidade, assessorias de im-
prensa, consultorias e da própria
imprensa” (JOFFILY, 1991, p.10).

Dessa forma, por meio de visitas guia-

23
das e conversas entre os participantes
do projeto, fomos seguindo na nossa
Afetar e nos deixarmos
afetar, com afeto
Escrevendo assim, parece fácil.
Não foi. Foi desafiador, transformador
e uma das experiências mais valiosas
e emocionantes que já vivi. Criamos
texto e poema e executamos 28 produtos em pouco
Por Eduardo Borém mais de duas semanas num arre-
gaçar de mangas muito suado. Mas
Imerso no Trama Afetiva, Itiana Pasetti, da marca Revoada; no dar forma às ideias e transformar a
foram 30 dias de muito workshop de tingimento natural com matéria-prima foi apenas um pequeno
aprendizado, troca de a estilista Flávia Aranha; no bate-papo aspecto do potente resultado que
experiências, num processo com a artista plástica Patricia Sayuri alcançamos.
colaborativo entre pessoas sobre seu trabalho com shibori; no Nossos trabalhos começaram no
bastante diversas que não bate-papo com Patrícia e Felipe San- início do processo, com cada um se
se conheciam. chez, da Epson Brasil sobre tecnologia apresentando, contando histórias de
Selecionados por Jackson de impressão têxtil e indústria 4.0; no vida e mostrando objetos que nos
Araujo e Luca Predabon, seminário com talks de Cláudio Bueno, representassem como indivíduos e
éramos dez criativos: eu, da Plataforma Explode!; Andrea como profissionais, para compartilhar
Alexandre Heberte, Ana Bisker, da consultoria de tendência e montar uma espécie de altar-por-
Giza, Carmen Manzano, Stylus; Mariana Colerato editora do tfólio dos trabalhos e das habilidades
Jorge Feitosa, Kiri Miyazaki, site Modefica e Peri Pane, artista da do grupo. Levei um pente, um Pentz,
Mayra Sallie, Oliv Barros, performance “Homem Refluxo”. uma escaleta, uma foto da série “Caco
Rodrigo Evangelista e Com tanta informação, muitas Abismo”, o disco “De Lá Até Aqui”, do
Zina Leal, com o desafio ideias surgiram e foram trabalhadas. Móveis Coloniais de Acaju, o cabideiro
de prototipar ideias e Usamos rolos de malha, moletom, “Manuh” e um pião.
produtos, tendo como linhas e retalhos para fazer almofadas Naquele momento percebi que
matéria-prima malha de e máscaras, poltronas, casacos e tudo aquilo seria muito diferente.
algodão da Cia Hering, camisas, bolsas, camisetas e calças. Éramos pessoas em toda a nossa
para desenvolvermos uma E fizemos muito bem! completude. Com nossas forças e
coleção que refletisse os fragilidades; inseguranças e conhe-
valores vividos e abordados COLEÇÃO NÓS cimento; experiências e vivências.
ali. Valores e conceitos de Estivemos por inteiro naquele galpão
sustentabilidade, ressigni- Colaborei diretamente em alguns e fomos cúmplices em nossa criação e
ficação, upcycling e reuso, dos projetos executados: a poltrona em nossos processos de mudança.
economia circular, respeito “Colete”, formada por uma série de Ao ressignificar pontos de vista
e valorização do próximo, colchonetes enroláveis e conectáveis e convicções, exercitei o acolhi-
numa cadeia de afeto uns aos outros, e que seriam vestidos mento – muitas vezes de algo que não
e num círculo virtuoso por Ana Giselle em uma performance; concordava ou de algo que sequer
criativo. as almofadas “Paisagem”, na qual o compreendia –, sendo inundado
Foi um mergulho Rodrigo Evangelista sugeriu usarmos por conhecimento e dados de como
profundo onde me inundei a mesma ideia da minha série de estamos usando nocivamente este
de informações e conheci- objetos “Caco Abismo” para fazermos planeta e sobre as iniciativas que já
mentos: no bate-papo com um cenário abstrato costurando os existem para mudar esta realidade do
Amelia Malheiros, gestora retalhos que nós próprios produzía- nosso conviver.
da Fundação Hermann mos, sem alterá-los; o cesto “Tear”, Ser sustentável está relacionado
Hering; na visita ao Ceagesp criado numa conversa com Alexandre com melhorar a qualidade deste
e Banco de Alimentos Heberte sobre a possibilidade de habitar e de como nos relacionamos
guiada por Dani Leite, da fazer seu trabalho de tecelagem com com o meio, com os outros e com nós
Comida Invisível; na visita à tiras de malha numa estrutura rígida mesmos. Significa garantir e respeitar
cooperativa de catadores côncava, como se fosse o próprio tear. a voz, a presença, o corpo, o direito
de lixo YouGreen e bate Indiretamente, todos estávamos en- à liberdade de todos, por mais difícil
-papo com seu criador e volvidos em todo o processo de troca, que isso posa ser.
diretor Roger Koeppl e com de criação, de confecção e montagem Aprendemos que Upcycling pode
Jonas Lessa, da Retalhar, dos produtos, fortalecendo a ideia de ser aplicado a este constante exercí-
empresa de logística criações coletivas. cio de olhar com generosidade para
reversa de uniformes; no os descartes e suas potencialidades.
workshop de upcycling com Pois se não existe fora, não pode
a Agustina Comas, da marca existir lixo para ser jogado.
Comas SP; no workshop de

24
design thinking e processos
em economia circular
com a Adriana Tubino e
Nós

somados
uns aos outros
somos mais
atados
por afetos
neste ato
ligamos
nossos pontos
unimos
nossa trama
tramamos
o futuro
transformado
laçados
pelos sonhos
e ideais
cingidos
por singela
sintonia
ligamos
semelhanças
unimos
diferenças
criamos
com costura
nossa guia
seguros
no urdume
coletivo
tecemos
e bordamos
nossa voz
ligamos
o passado
unimos
o presente
reconhecemos
confiantes:
nós somos nós
Uma experiência plena

Por Alexandre Heberte


Tecelão de destinos e artista têxtil

Cipriano Carlos Luckesi, em seu texto mas com a mente em outro lugar impressoras de alta-resolução para
de 1998, chamado de “Desenvolvi- e, então, nossa atividade não será tecidos estão aí transformando o
mento dos estados de consciência e plena e, por isso mesmo, não será setor de estamparia, como a da Epson
ludicidade”, definia assim o lúdico: lúdica.” que experimentamos durante o Trama
Afetiva, quando vimos uma foto de ce-
“Tomando por base os escritos, as Isto é, precisamos estar inteiros lular virar estampa instantaneamente.
falas e os debates, que tem se em nossas experiências. Sejam elas Chegou a hora de reunir esses
desenvolvido em torno do que é durante nossa vida profissional ou dois universos: manual e tecnológico.
lúdico, tenho tido a tendência em durante tempo de ócio e lazer. A Se a mecanização quase exterminou
definir a atividade lúdica como pergunta que nos cabe é: o quanto tecelões e teares manuais, por
aquela que propicia a ‘plenitude estamos inteiros nos processos exemplo, esse é o momento de a
da experiência’. Comumente se diários? O quanto temos consciência indústria brasileira resgatar processos
pensa que uma atividade lúdica é de nossas ações e o quanto nos e caminhos artesanais. Um caminho
uma atividade divertida. Poderá responsabilizamos por elas? possível é a descentralização das
sê-la ou não. O que mais caracte- grandes produções, oferecendo aos
riza a ludicidade é a experiência O PRESENTE-FUTURO-IMEDIATO pequenos produtores e artesãos
de plenitude que ela possibilita a legitimar função e utilidade de suas
quem a vivencia em seus atos.” Depois da Revolução Industrial no séc. criações.
17, a tecelagem manual nunca mais
O que Luckesi propõe é tratar a foi a mesma, os tecidos se tornaram CONHECIMENTO É PODER
“ludicidade e das atividades lúdicas de mecanizados. Até a revolução, quatro
um ponto de vista interno e integral”. tipos de fibras reinaram absolutas Em menos de dois séculos transfor-
Em seu artigo “Educação, ludicidade (algodão, linho, seda e lã), a partir do mamos o mundo para melhor e para
e prevenção de neuroses futuras: uma séc. 19 e principalmente depois da pior. Os impactos de tantos avanços
proposta pedagógica a partir da Bios- metade do séc. 20, fios e linhas sinté- ainda estão sendo assimilados pelo
síntese” para a coletânea “Educação e ticos conquistaram o mundo. Teares homem e pela indústria, que só lenta-
Ludicidade “ (2000), ele reflete: mecanizados e tecidos sintéticos mente assumem as responsabilidades
produziram uma verdadeira transfor- com o descarte de seus resíduos ou
“O que a ludicidade traz de novo mação na indústria da moda. as consequências dessa tecnologia
é o fato de que o ser humano, Sobre o séc. 21, no Trama Afetiva e produção desenfreada. Empresas
quando age ludicamente, vivencia aprendemos sobre “Revolução 4.0” e profissionais estão estudando
uma experiência plena. Com isso, e “Internet das Coisas”, resultados todas as problemáticas envolvidas,
queremos dizer que, na vivência e soma de avançadas tecnologias buscando soluções que diminuam os
de uma atividade lúdica, cada um e pesquisa científicas que já estão resíduos gerados pela produção em
de nós estamos plenos, inteiros sendo testadas e aplicadas nesse larga escala. Trama Afetiva propõe
nesse momento; nos utilizamos presente-futuro-imediato. Depois dos esse desafio: de que maneira artistas,
da atenção plena, como definem robôs e da automação industrial, a In- designers e artesãos, podem contri-
as tradições sagradas orientais. dústria 4.0 é a soma de vários avanços buir para dar nova vida útil à sobra de
Enquanto estamos participando tecnológicos, em que computadores matéria-prima têxtil?
verdadeiramente de uma ati- calculam, analisam e revelam dados O educador e filósofo Paulo Freire
vidade lúdica, não há lugar, na de grande parte da população do chama atenção sobre a consciência
nossa experiência, para qualquer planeta em menor tempo. de nossas ações. Para ele, corremos
outra coisa além dessa própria Já a Internet das Coisas trata dos sempre o perigo de fazermos as
atividade. Não há divisão. Estamos novos sensores que nos conectam coisas sem saber porque fazemos
inteiros, plenos, flexíveis, alegres, com portas, armários de mantimentos, certas escolhas. Andamos na rua e
saudáveis. Poderá ocorrer, eviden- carros, geladeiras, entre outros. Por não prestamos atenção ao redor, aos
temente, de estarmos no meio de meio da inteligência artificial, seu fenômenos que nos cercam, às rela-
uma atividade lúdica e, ao mesmo armário conectado à rede saberá ções que se estabelecem e como se
tempo, estarmos divididos com quando o papel higiênico acabar e estabelecem. Segundo Freire, não nos
outra coisa, mas aí, com certeza, solicitará o produto a ser entregue damos conta do nosso conhecimento
não estaremos verdadeiramente possivelmente ainda no mesmo dia. e não nos responsabilizamos por ele.
participando dessa atividade. Es- A industrial têxtil já se benefi- No livro “A Teoria do Conheci-
taremos com o corpo aí presente, cia de todas essas tecnologias. As mento: Uma Introdução Temática”
(Paul Moser, J. D. Trout,
Dwayne H. Mulder), os
autores citam a “importân-
somos, das pessoas que nos
cercam, das responsabili-
dades que temos em casa
De alma nua
cia da experiência sensorial e no entorno, ou quando
para aquisição do conheci- sabemos porque fazemos
mento”. O Trama Afetiva nos algo assim e não assado,
levou ao Ceagesp cicero- estamos de alguma maneira
neadxs por Dani Leite, do dentro de uma prática Por Carmen Manzano
Comida Invisível, para uma reflexiva. Refletir é reunir o Designer de moda e artista têxtil
vivência de observação, maior número de informa-
sobre dar tempo ao tempo ções sobre as crenças que
e reparar na beleza das se tornaram conhecimento
coisas e em suas mazelas. de um povo, de um grupo.
Cheiros, cores, frutas, ver- As crenças ditas verdadei-
duras, caminhões, um lugar ras são aquelas que tem O que me atraiu no edital do Trama Afetiva foi o
enorme, com circulação o aval da maior diversi- interesse em discutir artesanato como forma de
diária de aproximadamente dade de opiniões ou das ressignificação – conceitos que estão intrínse-
30 mil pessoas, majorita- comprovações científicas. cos no meu trabalho de bordado. Mandei meu
riamente homens, onde Depois da imersão portfólio sem criar muitas expectativas – afinal,
chama atenção o desper- criativa no Ceagesp, perce- eu estava recém-demitida de um trabalho que
dício de frutas e legumes bemos que onde há fartura, odiava e ainda me acostumando à vida em São
que vão parar no lixo. São o descarte acontece com Paulo depois de morar longe muito tempo.
alimentos que perdem valor mais facilidade. Onde Mal sabia eu que estava entrando em uma
de mercado, mesmo que há escassez, as relações lagoa sem saber que era, na verdade, o mar.
perfeitos para consumo. estabelecidas priorizam um Durante a imersão coletiva, saí da minha
Vão parar no lixo porque consumo consciente. zona de conforto profissional e pessoal. Tive
estão maduros demais ou Ana Mae Barbosa, experiências que nunca ousaria imaginar ter –
divergem do padrão esté- Doutora em Arte-educação, visitamos uma cooperativa horizontal de cata-
tico de melhor alimento fala que a percepção “é dores de lixo e conversei a fundo com mentores
para comprar. Vimos uma função do pensamento. que antes só havia admirado de longe. Passamos
melancia linda na caçamba Perceber a realidade por palestras e workshops das mais variadas
de lixo, o problema dela é pensar acerca dessa vivências e existências. Aprendi e absorvi
era um pequeno arranhão mesma realidade e adquirir tudo o que podia.
na casca. Quando vamos condições para propor uma Nenhuma experiência se compara às pessoas
nos dar conta de que na nova realidade”. E talvez a com quem trabalhei. Inspiradoras. Todo o time
natureza nada é igual? resposta aos questiona- Trama Afetiva é cativante, com pessoas apai-
Essa vivência serviu mentos do Trama Afetiva xonadas pelo que fazem e ainda mais entusias-
para termos consciência – que parte da ideia de madas com a ideia de um mundo melhor. Um
das ações e usarmos os ressignificação de resíduo contraste com todos os espaços de moda que
sentidos para perceber têxtil para nos fazer pensar havia conhecido até aquele momento.
melhor o mundo e a nós sobre como podemos Os ambientes tradicionalmente associados
mesmos dentro desse desenhar um mundo melhor à moda são os da criatividade automática, das
contexto. Se começamos – esteja no lúdico: vivenciar roupas produzidas em massa ou, no outro ex-
a responder sobre como uma experiência plena. tremo, o elitizado mundo de rostos brilhando em
as coisas acontecem ao páginas de revista. O Trama Afetiva existe além
nosso redor, estaremos desses paralelos, num futuro não tão distante,
dando devida atenção a onde todo mundo traz no olhar o brilho de
elas. O exercício de ver o um potencial a ser realizado. A mesma intensa
novo desperta a mente energia de todo esse coletivo, que troca e toca e
para a curiosidade de estar propõe e revida um mundo melhor.
sempre redescobrindo o Meu maior desafio foi parar de fazer tudo
mundo e ajuda a solucionar sozinha. Quebrar o hábito do artista solitário
melhor nossas problemá- em seu ateliê. Ressignificar a própria artista em
ticas, com mais processos mim. Ver meu fraco se tornar a força do outro
criativos e sinapses. quando estávamos todos juntos. E olha que deu
Ali aprendemos que a medo chegar nessa conclusão. Dá medo pra
problemática do desper- qualquer um porque a gente tem que despir a
dício é cultural e a solução alma e ela odeia ficar nua.
está na educação e no Olhando para trás, agora entendo que me
comprometimento respon- inscrevi no Trama Afetiva buscando um lugar de
sável do indivíduo consigo e pertencimento. Achei.
com o mundo que o cerca.
De que educação estamos
falando? Simples: da educa-
ção afetiva e amorosa. Com

27
todos e para todos. Quando
nos damos conta de quem
Ajuntamento
Por Jorge Feitosa
Costureiro e professor

Eu tinha muita curiosidade com o pro-


cesso do Trama Afetiva e ao mesmo
tempo imaginava que participar desse
grupo poderia me proporcionar
estimulo e mecanismos para o desen-
volvimento de alguma atividade ligada
ao que faço com outros grupos de
estudo. Sou professor e me alimento
de conhecimento das mais diversas
áreas criativas.
Mas aconteceu muito mais
que isso.
Entendi que todo tipo de produ-

Na rota
ção, do que quer que seja, deve partir
do conceito da Sustentabilidade.
Percebi também que essa palavra não

do amor
pode continuar sendo considerada
um acessório ou apenas veículo de
marketing usado para mostrar que
uma marca é “legal”. Não adianta ser
sustentável só no tag ou etiqueta,
a prática tem que ser sustentável
desde a concepção do que quer que
venhamos a produzir. Por Kiri Miyazaki
Nesse processo intenso e muito Artista têxtil e designer
dinâmico, me chamou a atenção como
se deram as conexões e interações
para o desenvolvimento das peças. Em tempos de tanto excesso, poder
A colaboração e o ajuntamento de nos proporcionar pausas para refletir
todos os envolvidos em cada proposta sobre a vida é enriquecedor.
de produto aconteceu de forma muito Pensar maneiras de trazer à vida
orgânica. Naturalmente, cada um aquilo que aparentemente não serve
colaborava com suas especialidades mais para nada, nos mostrou que nada
técnicas atento às habilidades e pode ser descartado tão facilmente.
experiências dos outros. E ainda que viver em comunidade,
Depois de uma imersão num mo- como foi este um mês de Trama Afe-
vimento tão pulsante e urgente, fica tiva, é o caminho mais certeiro para
impossível se colocar como agente que possamos trilhar neste mundo,
dentro de um processo criativo rotas mais verdes, amorosas e justas.
utilizando velhas fórmulas. Velho no
Trama Afetiva é só o amor, a peça-
chave do projeto e de suas conexões
com o intuito do bem comum.
Que este livro e nossos relatos
possam plantar a semente do Trama
Afetiva em terras alheias.

28
O exercício
coletivo da
empatia
Por Rodrigo Evangelista
Estudante de moda no
Istituto Europeo de Design - IED SP

Laços União, diversidade e troca foram os


pilares da experiência vivenciada por
nós no Trama Afetiva, uma espécie de
residência artística onde tive a opor-
Por Ana Giselle | Transalien tunidade de conviver com pessoas
Multiartista, produtora cultural que, como eu, também são inquietas
e articuladora dos direitos da e se preocupam em transformar a
população T no Brasil indústria da moda num lugar melhor e
mais humano.
Conheci o projeto em 2016,
quando ainda nem havia decidido me
mudar para São Paulo (sou de Cam-
pina Grande, na Paraíba) e sempre
Quando aterrizei na terra admirei a iniciativa, pois além de
me disseram que a união era o que fazia a força trabalhar a economia criativa/afetiva,
depois cresci é uma ótima oportunidade para
amadureci que novos designers mostrem seu
troquei trabalho, suas habilidades, troquem
aprendi conhecimentos e aprendam, por meio
e descobri de imersões criativas, a trabalhar
que o que faz a força como um coletivo.
na verdade A experiência teve duração de um
de verdade mês e foi surpreendente. Ali, nos de-
é o encontro dicamos a investigar e construir ma-
e junção neiras de dar nova vida útil a materiais
da união que estavam parados, experimen-
com o afeto e a compreensão verdadeira tando na prática o que é o upcycling,
e sensível evitando ao máximo o desperdício e,
de si sobretudo, exercitando a empatia.
e do outro Já acreditava que seria ótimo,
de nós mas não fazia ideia do tanto que
por nós iria aprender e das amizades que
para nós faria ali. Mais do que artistas unidos
pelo nós em um ateliê para criar produtos,
através do desatar construímos uma família extre-
dos nós mamente diversa e unida por uma
pra reatar causa, um propósito: o de criar um
os laços mundo melhor.
com nós. Em todas as peças criadas existe
um pedacinho de cada um de nós.
Gosto de pensar que o resultado
final do trabalho possa construir um
caminho de inspiração para as futuras
gerações. E que mais pessoas – e
estudantes como eu – queiram fazer
a diferença, buscando sua identi-
dade e personalidade na lutar por
um lugar melhor.
Nada se constrói sozinho. Nunca
tive tanta certeza disso como agora.

29
A potência que
o resíduo tem

Me chamo Mayra Sallie tenho 26 Por Mayra Sallie


anos, nascida e criada no Rio de Empreendedora em
Janeiro, Zona Oeste. Sou artista e upcycling e artista
empreendedora em upcycle desde
2015 quando fundei a minha empresa
MIG Jeans, hoje um hub de projetos e
experiências criativas com o objetivo
de impactar o mercado da moda por
meio da sustentabilidade. Já parti-
cipei de diversos editais, conquistei
junto com minhas sócias prêmios na
área e viajamos pelo Brasil para mos- Foi uma potência muito grande e um
trar a importância do não-consumir impacto muito forte, pois cheguei
tanto e sim ter um novo olhar para o acreditando no significado do reuso
que já existe. Além da MIG, recente- e saí ressignificada por essa trama
mente desenvolvi um projeto pessoal de afetos pela moda que o projeto
chamado Cadernei, em que ressigni- resgata. É incrível a potência que o
fico livros vintage com encadernação resíduo tem!
manual e resgate de folhas de papel e O resultado de tudo isso foi
papelões. surpreendente. No final de três
Quando li sobre o edital do Trama semanas de cocriação, vi materiali-
Afetiva, encontrei ali a oportunidade zadas as minhas propostas que foram
de buscar me ressignificar literal- realizadas com a colaboração dos
mente em todos os sentidos, inclusive outros trameiros e do Cardume de
me reinventar para fortalecer tudo o Mães: a regata Bag, uma regata básica
que acredito na moda. Esses três anos com zíper na barra para fechar e se
buscando soluções para resíduos de transformar em uma ecobag evitando
jeans no meu negócio, fizeram com o uso de sacolas plásticas; o caderno
que eu me encontrasse no mercado MIGxs, feito a partir dos papelões de
mais humana, afetiva, colaborativa, caixas e folhas de malha estampadas
justa e transformadora. Então, embar- na impressora de alta-tecnologia
car nesse desafio que o Trama Afetiva Epson – incrível de manusear e ver ao
propõe junto a Fundação Hermann vivo funcionando – costurados com
Hering me pareceu uma oportunidade a minha técnica de encadernação
única de compartilhar com o grupo manual; e a meia Rua, para ser usada
de Trameiros meus aprendizados e de em diversos contextos do dia-a-dia,
aprender também com eles. Isso fez com solado de resíduo de câmara de
meus olhos brilharem muito. pneu cedido pela Revoada, marca da
Quando soube da minha apro- designer tutora Itiana Pasetti e de sua
vação no projeto, fiquei muito emo- sócia Adriana Tubino.
cionada, porque me vi fazendo parte Durante o processo surgiu a frase
de um momento muito especial onde que vou levar pra sempre comigo: Nós
um time de profissionais renomados sem N é só. Agora valorizo muito mais
estava unido para fazer – por meio do o trabalho em grupo, acredito que
upcycling de malhas de algodão – de- não existe mais o faça-você-mesmo e
sign, moda e arte e sustentabilidade sim com-os-outros e para-os-outros
com propriedade. e que uma moda humanizada só pode
Me encontrei desafiada por traba- ser gerada por meio dessa tecelagem
lhar com um tecido que foge da minha conjunta. Juntxs é o novo básico e
zona de conforto, mas muito realizada transformar é a essência!
em saber que juntamente comigo
outros empreendedores e pessoas
incríveis de diversas áreas entendem
a importância desse tipo de ação.

30
Casaco do lixo
Proposição e realização
Jorge Feitosa
resultado
Criativo

1
2 3

4 5
Nós é sobre diferentes c

Nós é sobre recosturar

Nós é sobre hackear pro

Nós é sobre roupas e obje

Nós é uma porta aberta p

Nós é sobre quantos de n

Nós é mãe, é pai, é amigx e

Nós é sobre n pessoas, n

Nós sem n é só.

34
corpos, proposições e realidades.

laços e resgatar origens.

ocessos, estruturas e experiências.

jetos e um lugar de memórias inventadas.

para cuidar do planeta e do outro.

nós estamos em você e na sua casa.

e novas famílias.

corpos, n histórias e n afetos.

Texto criado coletivamente

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para a exposição de
encerramento da
Oficina Trama Afetiva
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Trameiros 2018 Chefe de ateliê Resultado criativo | legendas
Alexandre Heberte, Ana Leandro Castro
capa Macacão 10 Novo básico |
Giselle, Carmen Manzano,
e máscara relevo Maximoletom
Eduardo Borém, Jorge Feitosa, Cenografia Proposição Proposição
Kiri Myiazake, Mayra Sallie, Oliv Estúdio Xingu Rodrigo Evangelista Carmen Manzano
Barros, Rodrigo Evangelista e Colaboração Colaboração
Zina Leal Produção-executiva Rosinha Matos Jorge Feitosa
Mariana Piza, Zé Rogério e Leandro Castro
Direção criativa e de conteúdo Marcia Oliani 11 Novo básico | Regata e
Jackson Araujo e Luca 1 Macacão relevo bermuda
Proposição Proposição
Predabon Comunicação Digital
Rodrigo Evangelista Carmen Manzano (Bermuda)
Livia Salomoni e Manú Colaboração Mayra Sallie (Regata)
Designers tutores Fernandes Rosinha Matos Colaboração
Alexandre Herchcovitch, Itiana Leandro Castro Jorge Feitosa
Pasetti e Marcelo Rosenbaum Assessoria de imprensa Leandro Castro
Namídia 2 Novo básico |
Cardume de Mães Maxiregatom 12 Regata bolsa
Herculânia Reis, Eliane Design gráfico Proposição Proposição
Carmen Manzano Mayra Sallie
Marques, Francisca Laura e Estúdio Permitido:
Colaboração Colaboração
Rosinha Matos Vitor Cesar Jorge Feitosa Carmen Manzano
Julia Pinto (assistente) Leandro Castro
3 Bolsa coisa Zina Leal
Proposição Oliv Barros (Estampa)
Ana Giselle
Colaboração 13 Bolsa relevo
Francisca laura Proposição
Rodrigo Evangelista
4 Almofada paisagem Colaboração
Proposição e realização Carmen Manzano
69132 Rodrigo Evangelista Eliane Marques
Colaboração Rosinha Matos
Araujo, Jackson e Predabon, Luca Eduardo Borém
Trama Afetiva: aprendizado para o futuro / orga- Eliane Marques 14 Quimono rua
nização e coordenação editorial Jackson Araujo Proposição
e Luca Predabon – 1a edição – São Paulo: 2018 5 Novo básico | Calça Kiri Myiazake
alfaiataria em moletom Colaboração
Proposição Carmen Manzano
ISBN: 978-85-69132-01-1 Carmen Manzano Jorge Feitosa
Colaboração Leandro Castro
1. Moda. 2. Design. 3. Economia Afetiva I. Jorge Feitosa Zina Leal
Araujo, Jackson, Predabon, Luca (organizador,
coordenador). II - Fundação Hermann Hering; 6 Capuz coisa 15 Poltrona colete
Governo do Estado de São Paulo; ProaC Proposição Proposição
(apresentação, realização) Ana Giselle Eduardo Borém
Colaboração Colaboração
Francisca laura Herculânia Reis

7 Novo básico | Maxicamisa 16 Almofalange


Proposição e realização Proposição
Carmen Manzano Zina Leal
Leandro Castro Colaboração
Herculânia Reais
8 A coisa Oliv Barros
Proposição
Ana Giselle 17 Cesto tear
Colaboração Proposição e realização
Carmen Manzano Alexandre Hebert
Jorge Feitosa Colaboração
Oliv Barros Eduardo Borém

apresentação patrocínio 9 Vestido trama 18 Caderno migxs


Proposição e realização Proposição
Alexandre Hebert Mayra Sallie
Colaboração
Nós todxs
apoio

realização
Jackson Araujo Luca Predabon

Comunicólogo especializado em análise de comportamento Comunicólogx, redatorx e a pensar o Brasil numa


e tendências de consumo de moda, mídia e comunicação, analista de comportamento perspectiva global sobre
atua como consultor criativo e de conteúdo, prestando de consumo e conteúdo o viés do Design, Retail,
consultoria para empresas e grupos desses segmentos. de inovação, atua como Comunicação, Web e
É pesquisador e estudioso da Economia Afetiva, termo diretorx de conteúdo do Comportamento.
que cunhou em 2014 sobre a nova perspectiva de mercado projeto Trama Afetiva No bureau de tendên-
pautada na valorização e desenvolvimento do coletivo, – movimento transdis- cias Box1824, atuou na
para soluções inovadoras. Faz palestras, workshops e ciplinar que conecta gestão do núcleo de desk
dirige projetos sobre o tema. Desde o início de 2018, é do pessoas a um novo tecido research, na curadoria e
time de palestrantes da plataforma TEDx Blumenau. de transformação social, redação de conteúdo e
Como diretor criativo do projeto Trama Afetiva: profissional e ambiental Trends Design, atendendo
Experiência colaborativa em upcycling, patrocinado pela por meio do design e dos clientes como Unilever
Fundação Hermann Hering, orienta grupos multidisciplina- saberes coletivos. Global, Itaú, Fiat, Pepsico e
res para a construção de soluções inovadoras com foco em Também na consultoria Nokia Trends.
sustentabilidade para a indústria têxtil e de moda. de conteúdo criativo e de Atualmente, colabora
Em 2017, faz a curadoria da exposição Trama Afetiva, inovação, cocriou com na curadoria de conteúdo
lançada no MADE – Mercado, Arte, Design, no Pavilhão da Jackson Araujo a plataforma do Museu do Pão, premiado
Bienal (SP), e posteriormente mostrada no Youtube Space de conteúdo Retrato Bra- projeto arquitetônico
Rio e no festival MECAInhotim. sília, para o Jornal Correio e cultural localizado no
Na plataforma de educação profissional Senai Brasil Braziliense e CCBB, que interior do RS, e desenvolve
Fashion, é consultor criativo e faz interlocução entre durante um ano mapeou projetos de mapeamento
diferentes profissionais da cadeia de moda e design, para os movimentos culturais, e resgate da cultura local
a construção de valores sólidos na evolução da indústria. criativos e empreendedores e preservação do patri-
Compartilha seu aprendizado como jornalista, editor, emergentes do DF. Em Santa mônio histórico material
critico, escritor, mentor e curador de projetos que poten- Catarina, foram cinco anos e imaterial.
cializam a educação para diminuir a lacuna entre o ensino atuando no Santa Catarina Na área de redação,
formal de moda e design e a realidade do mercado. Moda e Cultura (SCMC), atuou por 10 anos em nú-
Entre 2014/15, dirigiu o projeto “Retrato Brasília – Car- iniciativa que reúne indús- cleos criativos de agências
tografia cultural e estética”, criando vínculos entre CCBB, tria e academia na constru- de comunicação do RS e
Correio Braziliense e os novos criativos da cidade. ção de uma identidade do na revista Vida Simples, da
Colaborou com o SCMC – Santa Catarina Moda e Cul- design da moda local. Editora Abril.
tura (2010/14) para a construção da identidade do design Na Mindset, em SP,
da moda local, depois de atuar como gestor do núcleo de desenvolveu conteúdo de
análise de tendências da agência Box 1824. inovação e tendências para
Recebeu o Prêmio Abit Fashion 2002 de melhor clientes como WGSN, Coca
jornalista de moda e logo depois escreveu a biografia Cola e Leroy Merlin, além
de Lino Villaventura para a coleção Moda Brasileira de integrar o FLUX WGSN/
(CosacNaify,2007). Mindset, grupo dedicado
Detalhe do vestido Trama
por Alexandre Heberte

ISBN 978-85-69132-01-1

Projeto realizado com o apoio do Governo do


Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura –
Programa de Ação Cultural 2018

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