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IGBA ORI

O ori é o nosso orixá pessoal. É ele que determina tudo em nossa vida, é ele que nos dá
prosperidade, que abre nossos caminhos e que nos proteje do mal e da feitiçaria.
Existem diversos odù e mito que falam disso e o principal é que ori está à frente de
qualquer orixá.

Eu sempre digo que para um abian, um não iniciado, o seu orixá é ori, e fim. Não tem
essa de um não iniciado estar preocupado em qual é o seu orixá se dizendo de oya,
oxun, xango, etc... Isso não tem propósito, é um mico. Se você não é um sacerdote ou
aspirante a sacerdote pode passar a sua vida toda cultuando apenas o seu ori, o seu orixá
pessoal.

Quando precisar de alguma coisa e recorrer a um oráculo, um odù ou um orixá, por


intermédio de seu ori irá se colocar para ajudá-lo, o que não significa que aquele é o odù
da sua vida ou que o orixá que respondeu é o seu orixá. Naquele momento aquela foi a
ajuda que recebeu, isso é o que é importante.

Mas certamente isso não interessa a nenhum pai-de-santo ou santeiro, quanto mais orixá
e exu ele colocar para voc~e mais ele vai cobrar.

O seu ori é composto de 2 partes. A primeira é a sua individualidade. A segunda e uma


parte da matéria que faz parte da sua ancestralidade e a terceira é o seu orixá. Cada um
tem no seu ori a matéria do seu orixá e esse conjunto de coisas determina o seu axé, sua
força e suas interdições.
Existem pessoas que reconhecem que além disso você tem ainda um odù que é colocado
e tanto o seu odù como o seu orixá são os elementos que vão ajudá-lo a cumprir a sua
missão no aiye ou seu objetivo nessa vida já que missão pode trazer aquela ideía idiota
de Carma e não temos Carma na nossa religião.

A questão do orixá que faz parte do ori é interessante porque eu vejo 2 correntes. Uma
acredita que o orixá que você tem no ori é parte de sua ancestralidade, você recebe
porque seu pai e mãe tem o seu e isso seria uma herança, com possíveis variações. Outra
corrente acredita que a escolha de orixá não tem relação com isso, e você poderia ter
qualquer um que for o mais adequado para o seu objetivo de vida. Ainda não tenho
nenhuma indicação de qual a visão correta, as 2 são coerentes.

Assim essa composição do ori explica o que ocorre de verdade com a gente aqui na terra
e a forma como somos tratados pelas liturgias. O mais importante eu volto a afirmar é
que nada ocorre na nossa vida que que ori permita e ele é o orixá mais importante.

Existe a necessidade de repormos axé. O axé é perdido por nossa atividade, quando
ajudamos outros e pela ação dos outros contra a gente. É claro que ele se repõe mas as
liturgias de ori são destinadas a acelerarmos isso trazendo assim prosperidade e saúde
para nós. Todos sabem que para determinados problemas de saúde a melhor indicação é
um bori com resultados impressionantes, eu já vi coisas incríveis.

O igba ori não é obrigatório como resultado de um bori. Ele existe durante mas não
necessariamente depois. É claro que é um hábito tê-lo.
O sentido de ter um igba ori está ligado ao próprio sentido de um igba, e nesse caso
Lenny, tem que se entender o que é um igba, conforme é feito no Candomblé, porque é
no candomblé que nasce o igba ori.

o Igba é o elemento de ligação entre o orun e o aiye. É um local de concentração de


energia e ele leva a sua assinatura pessoal. A chave de um igba é o otá e não existe igba
sem otá. Sem otá vira um assentamento qualquer.
infelizmente não posso explicar mais sobre o otá, mas é ele o que importa no igba, o
resto é decoração.

Nesse ponto existe uma divergência entre candomblé e santeria e até mesmo entre
algumas tradições de candomblé como o ketu, o nago e o jeje. A forma como é
preparada o igba é diferente e isso traz consequencias para a vida posterior dos
iniciados, mas, não importa aqui.

No caso do igba ori ele é o nosso elemento de ligação entre o nosso ori na terra e o ori
no orun, o nosso duplo. É um elemento de concentração de energia assim ele facilita a
troca e reposição de axé. Com um iga ori de uma pessoa, mesmo que ela não esteja
presente pode-se fazer liturgias para ajudá-la e transmitir axé para ela. Essa é a força e
fraqueza do igba ori alias como de qualque igba, mas do igba ori principalmente. Ter
um igba ou igbas significa cuidar deles porque eles estão diretamente ligados a você.

O igba ori dessa maneira não é o seu ori e sim a ligação entre orun e aiye.

Uma iyalorixa me explicou que devemos pelo menos 1 vez por mes deitar com nosso
iga ori, na mesma esteira. Devemos semanalmente sentar na frente dele e conversar com
ele. Devemos toda vez que precisarmos de ajuda ou de tomar uma decisão deitar com
ele mas antes pedir que ori nos oriente na melhor decisão. Isso funciona 100%.

Em função disso eu não vejo sentido de iga ori guardados em ile axé ou de qualquer
outro. Igba ori só tem sentido quando mantido junto com o seu dono.
seim com a iniciação um iyawo é considerado um igba vivo, mas não prescinde dos
igba do orixá. Mas como eu disse qualquer igba facilita e acelera é a ligação orun aiye,
torna as coisas mais simples, rápidas e efetivas. É por isso que todo mundo tem e se
muda de casa e perde eles tem que refazer.

Nosso ori é nosso e o igba é igba.

Como eu citei nem todos os igba tem otá que é a maior força de uma igba. Nem todo
mundo dá isso para a pessoa. O dos africanos não tem, geralmente só tem uns búzios.
Tem muita gente aqui que em lugar do igba ori dá a penas uma quartinha com o
material usado no bori.

Em Ifa desconheço o igba ori. Você vai ter os bori, porque como eu disse a religião é a
mesma e mesmo variando a liturgia não se pode inventar o que não existe. A solução de
nossos problemas passa por ori.

Mas, mesmo no candomblé, dar um bori ou um orogbo é alimentar um ori. Tudo passa
por perguntar o que aquele ori quer.
Motivos econômicos podem estar forçando os babalorixá a sempre fazer bori completo
nos "crientes" mas nem sempre isso é necessário. Contudo, as vezes, ele nem aprendeu
como se faz diferente.
No caso do Candomblé que existem as cerimonias mais elaboradas você tem 2 tipos, o
bori d'agua, como alguns chamam onde só entra o obi e o bori ejé que é o principal e o
que todo mundo gosta de fazer e receber.

O bori ejé é uma cerimonia linda, a mais bonita do candomblé, mas é feita com anos de
intervalo. Ela só é feita quando o ori pede. Se a pessoa é um sacerdote e trabalha muito
para os outros pode querer receber com mais frequencia, mas uma pessoa normal vai
fazer alguns ao longo de sua vida.

Não existe no Candomblé essa coisa de se auto-fazer um bori, é sempre outra pessoa
que o faz e normalmente alguém mais antigo de santo que você. Essa é a tradição.
Normalmente somente o seu babalorixá é que vai lher dar os bori mas nada impediria
que outra pessoa o fizesse uma vez que ele não gera ligação.

Essa coisa de não gerar ligação é interessante porque todo mundo sabe disso, mas faz
questão de não comentar e criar a tal ligação. Outra forma de criar essa ligação é incluir
orixá no bori, fazendo um assentamento ou uma oferenda com ejé para o orixá. Sou
contra isso e acho que é uma falta de ética.

Existe ainda o costume de se mastigar o obi quer vai no ori e nos pontos de axé o que
criaria o vinculo de transmissão de axé, o próprio atim que vai na massinha que se faz
com a saliva e o ejé aumentaria essa ligação, assim, não se pode negar que se está
criando um vínculo. Mas tudo poderia ser feito sem isso. Assim um bori feito para uma
iniciação poderia ter esses elementos mas um bori feito para uma pessoa que é abian ou
apenas "criente" da casa poderia omitir esses elementos. Como eu disse tudo uma
questão de ética.

Já em Ifá é diferente o bori é uma coisa muito mais simples, similar ao bori d'agua, mas
até mais simples. De fato existe o habito salutar da própria pessoa fazer em si a
cerimonia, mas ela tem que ser iniciada, tem que ter essa mão. Existem signos que
requerem que a pessoa faça isso de 3 em 3 meses por exemplo.
Como eu disse ori é ori, mas cada tradição tem suas liturgias com seus formatos e
elementos.

Mas indo ao núcleo da sua pergunta, não, não necessariamente deve haver essa
transmissão de axé da casa ou do babalorixá no bori. Isso pode ser feito sem problemas
mas a pessoa deveria poder optar por isso ou não.

Bori não deve gerar vinculo com o babalorixá e com a casa. Mas todo mundo faz o
possível para criar isso. Até mesmos os obaoriate cubano que aprenderam a fazer bori
aqui para ganhar dinheiro dos gringos lá estão inventando essa coisa de padrinho de
bori, que não existe.

Mas aqui como lá, vai se fazer o possível para gerar esse vinculo.

Nesse ponto que acho corretíssimos os babalawo que na hora do bori de colocam para
mastigar o seu obi e você mesmo colocar na sua cabeça.
Mas veja, se for um caso de doença e a pessoa estiver percisando receber esse axé ai
pode ser adequado e necessário essa transimissão de axé.

as coisas não são padronizadas. Da mesma forma que se tem que perguntar ao ori o que
ele quer receber, cada caso indica uma forma, etc....

E como o assunto é Ori, gostaria de saber se aquilo que se chama de Amaci em


Umbanda é um tipo de ritual a Ori... e mesmo se o Amaci substitue de alguma forma o
Bori?

Lenny,

Sim, o amaci faz as funções de bori. Mas isso tem sutilezas. Já houve boris que antes de
fazer abrindo o obi para definir de fato o que ia naquele ori, muitos responderam apenas
com o banho de ervas e as folhas, não aceitando nem obi, nem orogbo e nem acaça. Isso
tem haver com o tipo de trabalho que aquela pessoa fará no futuro ou mesmo o seu
envolvimento com a espiritualidade, assim, apesar de um bori poder ser dado a qualquer
pessoa isso vai trazer ligação com um lado da espiritualidade enquanto que as folhas
comente com outro.

Se adotada a pratica de perguntar imediatamente antes o que vai ser o resultado poder
ser bem melhor do que a pessoa ligar o piloto automático. A gente tem que respeitar
cada Ori.

Mas além do amaci que em princípio abre os caminhos espirituais e da quartinha de


anjo da guarda, a umbanda ainda tem a "deitada" que é um ritual muito similar ao Bori,
iniciando com o amaci e a pessoa deita rodeada com a comida e/ou folha de todos os
orixás que fazem a sua coroa.

Veja são similares mas não iguais, acredito que esses rituais de umbanda melhoram a
espiritualidade, mas não substituem de fato um Bori quando ele se faz necessário. Uma
cabeça de oxalá tavez vá mais para o lado do ori do que o amaci.

Rogerio

Luiz,

Realmente a questão do Otá no ibá ori é polêmica. A propósito, o que não é polênico na
nossa relaigião?!

Bem, eu acredito ser importante o Otá no assentamento de Ibá Orí.

Sei de casos que só colocam o otá, em outros casos só idés e búzios sem otá e etc. São
várias combinações que fazem utilizando esses materiais.

Além disso, sei de casos que o otá do orí da pessoa está dentro do ibá do orixá. Neste
caso eu discordo!
Quanto as definições que você está me pedindo, na verdade você já as definiu no seu
post anterior. Simplesmente peguei carona na sua linha de raciocínio.

Marcos

Luiz,

essa coisa da origem é interessante. Quisera que a coisa pudesse ser tão simples assim.

Existem muitas liturgias que se perderam lá, na origem. A Nigéria é o maior pais
mulsumano na Africa, segundo ouvi.

Muitos dos que hoje estão fazendo cerimonias lá estão usando o que esta escrito em
livro de antropólogo. O Verger, que você gosta tanto foi um dos que no século passado
participou de um processo na universidade de Lagos, junto com o Abimbolá para
reconstituir textos e conhecimento. Isso antes do Abimbolá sacanear ele e expulsar ele e
os outros estrangeiros de lá, da Nigéria, quando ele, Abimbola achava que não precisava
mas do pessoal de fora.

Existem cultos de orixá que só tem aqui, assim não dá para querer usar a fonte.

Em relação a ori, conheço uma iyalorixá brasileira que morou 10 anos nos Eua e o que
ela mais fez foi Bori em babalawo Africano e Cubano. Os Cubanos não tem a menor
idéia de ori e os que estão fazendo isso é porque vieram aqui e já fizeram uns 3 para
poder decorar e repetir tudo. Os Nigerianos pediam por favor para ela dar bori neles e
fazer um igba ori, com ota e tudo o mais.
O ile Ori não é desprovido de ota.

De fato os ile ori comum não o tinham. Os dos Oba sempre tinham ota.

Todo igba é mais do que uma respresentação, é um elemento de concentração de


energia e um elemento de canalização de ligação do orun com o aiye. Quando uma
pessoa é feita ela se transforma em um igba vivo do orixá mas nem por isso ela deixa de
ter igba e esse igba ter okuta.

Quando uma pessoa vai embora uma casa, a abandona, ela as vezes deixa para trás o seu
igba, com tudo dentro ou recolhe o seu igba mas o PDS retira o okuta. Isso não retira
orixá dessa pessoa, o orixá não esta no okuta do igba.

Mas no okuta nós acreditamos repousa o axé que foi dado a aquela pessoa e contém
principalmente sua identidade ou assinatura espiritual. O okuta é uma "bateria" para o
axé ou um portal para o orun e de todos os elementos é nele em que colocamos todo o
oro, toda a liturgia.

Apesar de toda a louça receber o éjé é o okuta que recebe a essência da pessoa, o éjé
vivo passa pelo ori e vai ao okuta criando o vinculo e a relação. Ele não é a pessoa e
nem o seu orixá e pode ser dispensado, perdido ou refeito, mas sempre será o elemento
de ligação com essa pessoa.
Quando uma pessoa tem problema ou precisa de ajuda, é através do seu igba ou melhor
do seu igba ori que podemos remotamente, sem a presença desta fazer qualquer tipo de
liturgia. Igualmente pode-se prejudicar alguém usando o seu igba ori. A casa branca, se
nãome engano, monta o igba ori para o bori mas o despacha no fim porque antigamente
as FDS usavam os igba ori para prejudicar outras FDS.

O ori é parte da gente, nunca se separa, mas o orixá também. Ele está presente no Ori e
assim nunca estamos sem ele. Não precisamos de nada para eternizá-lo, mas, o okuta e o
igba são os instrumentos que os iniciados tem para maximizar o que fazem e o que
recebem.

Quando por consequencia de uma jogo fazemos algo para alguém no caminho de um
orixá ou do ori, fazemos isso independente da pessoa ter assentamentos.
mas se uma pessoa tem assentamentos, igba, é nele que vamos fazer, isso é um
privilégio de iniciados.

Assim eu não vejo o okuta como algo dispensável de um igba e também não vejo
distinção de um igba de orixá ter okuta e o do ori não ter. Quando fazemos um
assentamento de orixá para alguém, não igba, não precisamos colocar um okuta.

O sentido do okuta no igba ori é o mesmo de em qualquer igba. Nós temos ori assim
como também temos orixá.

Tudo no igba pode ser dispensado, menos o okuta, mantê-lo é preservar a identidade e
vinculo que foram cuidadosamente elaborados. Da mesma forma como no igba de
orunmila, o que você precisa guardar e carregar são os ikins, no igba é o okuta.

É claro que se pode fazer louça sem okuta, na umbanda se faz isso e muito. A louça
passa a ser o elemento de ligação, a quartinha de anjo da guarda não deixa de ser uma
igba ori, justamente um sem okuta....
Ori & orunmila conhecem o nosso destino, de fato mas são divindades com atribuições
diferentes.

A definição completa de Ori passa por mais palavras que em breve vou postar (ainda
não acabei a pesquisa), mas, é nossa divindade pessoal. Nada ocorre em nossa vida sem
que ele permita e nenhum orixá esta acima de ori.

Assim quando se consulta ori através de um Obi por exemplo estamos tratando de fato
do nosso objetivo de vida, das coisas que são melhores para nós. Além disso é ele que
nos protege do mal e do infortúnio.

Mas sua atuação é entre nós e ele.

Orunmilá é uma divindade com um escopo amplo de atuação. Ele conhece o nosso
destino e assim representa Olodumare em nossa vida e destino.

Quando consultamos Orunmila sobre nossa vida através de Ifá e de um babalawo,


estamos estabelecendo um processo mais amplo. Nós recorremos a Orunmila quando
temos uma dificuldade que não conseguimos remover ou uma situação que não
encontramos solução.

Orunmila como elerin ipin ira nos responder através de um Odù, e um Odù é uma
resposta de Olodumare ao nosso problema. Odù não é apenas um símbolo com um
significado é também um "container" de axé, uma "cabaça" de axé que recebemos, uma
energia primária que imediatamente já ira influenciar nossa vida.

Cabe ao babalawo manipular a resposta de orunmila, através dos orixá e de suas rezas e
ebó para que essa energia se movimente positivamente na nossa vida.

Assim uma consulta a Ifá já coloca em ação as forças divinas que vão nos socorrer. Ao
sentar de frente a um babalawo você já terá através da consulta o início da solução dos
seus problemas. O Odù é axé e é por isso que dizemos que não se deve invocar um odù
sem saber o que se esta fazendo e sem ter a capacidade de conduzi-lo para a obtenção de
um resultado positivo
A gente e Ifa não inventa mito e o nosso cuidado com Odù e com uma consulta pe
devido a isso.

Então eu vejo assim coisas distintas. Com Ori & Orunmila tratamos de nosso destino e
do que é melhor para nossa vida mas somente Orunmila tem a capacidade de
materializar a resposta de Olodumare através do Odù.

Assim consultar nosso ori com um obi é uma atividade que podemos fazer diariamente
sem nenhuma consequencia maior.

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